Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Faculdade São Francisco de Barreiras, Avenida São Desidério, 2440, Bairro Ribeirão,
CEP: 47.808-180, Barreiras-BA. Email: carlosandre@fasb.edu.br
RESUMO
Introdução: A violência doméstica caracteriza-se como uma violação dos direitos
humanos sendo um fenômeno multicausal e multifacetado, que é considerado como uma
atitude intencional da força física ou do poder, seja realmente executada ou por meio de
ameaça. Objetivo: O intuito do artigo é de promover uma reflexão e discutir sobre os
benefícios desta abordagem às vítimas deste tipo de violência, uma vez que a abordagem
cognitiva- comportamental atua na modificação de crenças e comportamentos
disfuncionais. Método: Consiste é uma revisão bibliográfica acerca da violência
doméstica, aliada à Terapia Cognitivo- Comportamental. Inicialmente, estabeleceram-se
as bases Scielo, Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) como fontes de coleta de
dados, utilizando as palavras-chaves: “Terapia Cognitiva e Paciente e Violência
doméstica”. Atribuiu-se aos critérios de seleção artigos publicados nos últimos dez anos,
completos e gratuitos. Contudo, notou-se carência de estudos relacionados ao tema
proposto, diante disso, optou-se por uma revisão bibliográfica. Conclusão: Conclui-se
que a abordagem terapêutica abordada neste estudo é uma das mais eficazes, possuído
97
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
técnicas primordiais que contribuem para a melhora da paciente. Por fim, é válido
salientar que há carência quanto aos estudos relacionados a essa temática, tornando-se
necessário, ainda, estudos que envolvem os agressores.
ABSTRACT
Introduction: Domestic violence is characterized as a violation of human rights being a
multifaceted phenomenon, which is considered as an intentional attitude of physical
force or power, whether actually performed or by threat. Objective: This article is a
bibliographical review about domestic violence, combined with Cognitive-Behavioral
Therapy, with the objective of promoting reflection and discussing the benefits of this
approach to victims of this type of violence, since cognitive-behavioral approach acts on
the modification of dysfunctional beliefs and behaviors. Method: It is a bibliographical
review about domestic violence, allied to Cognitive-Behavioral Therapy. Initially, the
databases Scielo, Pubmed and Virtual Health Library (VHL) were established as sources
of data collection, using the keywords: "Cognitive Therapy and Patient and Domestic
Violence". Articles published in the last ten years, complete and free, were assigned to
the selection criteria. However, there was a lack of studies related to the proposed
theme, and a bibliographical review was chosen. Conclusion: It is concluded that the
therapeutic approach addressed in this study is one of the most effective, possessing
primordial techniques that contribute to the improvement of the patient. Finally, it is
worth noting that there is a lack of studies related to this subject, and studies involving
the aggressors are still necessary.
INTRODUÇÃO
A violência é entendida como uma violação dos direitos humanos podendo estar
atrelada a diversas questões, sendo, portanto, um fenômeno multicausal e
multifacetado¹. De acordo com isso, a violência é tida como uma atitude intencional da
força física ou do poder, seja realmente executada ou apresentada por meio de ameaças,
podendo ser contra o próprio sujeito, contra outro indivíduo ou contra um grupo ou
uma comunidade podendo resultar em: lesão, morte, dano psicológico ou deficiência de
desenvolvimento².
A violência doméstica caracteriza-se por comumente ocorrer dentro do lar, e o/a
agressor/a, aquela pessoa que possui ou já possuiu alguma relação íntima com a vítima³.
Ressalta-se ainda que, este tipo de violência pode se manifestar tanto na violência física,
98
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
que deixa marcas notáveis no corpo, quanto a psicológica que na maioria das vezes traz
grandes danos à saúde emocional das vítimas³. No que diz respeito às consequências
desta violência para o contexto social da vítima, destaca-se o prejuízo no ambiente de
trabalho, nas relações interpessoais e especialmente na saúde física e psicológica4.
Vale abordar que a violência doméstica não acomete somente mulheres, mas
idosos, adolescentes, crianças, deficientes e todos/as aqueles/as que se encontram em
situações de vulnerabilidade física e/ou mental5. Nas crianças e adolescentes, as
consequências deste tipo de violência, podem durar a vida inteira causando prejuízos no
desenvolvimento saudável dos/as mesmos/as. Para Day et al.5,os/as idosos/as e pessoas
com deficiência também sofrem com maus-tratos, negligencia, abandono, abuso sexual e
tantas outras formas de violência, submetendo-se muitas vezes a estes atos por não
conseguirem se proteger. Além disso, permeados pela culpa, sentem-se muitas vezes
como “fardos” para os familiares.
Em contrapartida, é necessário abordar a necessidade de trabalhar também com
os agressores, sendo a aplicação de grupos terapêuticos uma das opções para o
desenvolvimento dos mesmos6. Além disso, uma das peculiaridades desse tipo de
programa é o fato de os grupos por vezes apresentarem maior eficácia do que o
aconselhamento individual por existir uma possível diminuição de vergonha, culpa e
isolamento na interação com os outros membros com as mesmas problemáticas6.
Dentro desse contexto, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), postulada por
Aaron Beck nos anos 60, é uma abordagem diretiva, estrutural, com foco no momento
presente e com objetivos delimitados, que busca modificar pensamentos e
comportamentos disfuncionais7. Além disso, é importante frisar que esta abordagem
tem se mostrado eficaz para a maioria dos transtornos, não somente para reduzir o
sofrimento, mas também para ajudar a/o paciente a lidar com suas dificuldades, tendo
melhor qualidade de vida7.
Assim, diante do exposto, o presente artigo consiste em uma revisão
bibliográfica acerca da violência doméstica, aliado à TCC, com o objetivo de promover
uma reflexão e discutir sobre os benefícios desta abordagem às vítimas deste tipo de
violência, uma vez que a abordagem Cognitivo-Comportamental atua na modificação de
crenças e comportamentos disfuncionais. Além disso, através deste estudo foi possível
perceber uma carência desta temática aliada a TCC, o que denota a necessidade de mais
pesquisas que discutam essas questões, tendo em vista a sua relevância.
99
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
MÉTODO DE ESTUDO
O presente artigo é proveniente de uma pesquisa bibliográfica do tipo
exploratória, por se tratar de uma pesquisa que segundo Gil8 “é desenvolvida com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”
(p.44). A princípio este estudo seria uma revisão sistemática, porém, não foi possível
realizar este tipo de pesquisa devido à falta de estudos sobre a aplicabilidade da TCC
para pacientes vítimas de violência doméstica.
Inicialmente, estabeleceram-se as bases Scielo, Pubmed e Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) como fontes de coleta de dados, utilizando as palavras-chaves: “Terapia
Cognitiva e Paciente e Violência doméstica”. A estratégia de busca foi limitada às
publicações desde 2000 até 2018. Instituído de critérios de inclusão e exclusão,
excluíram-se os artigos em quaisquer línguas que não o inglês ou português; estudos
não disponíveis gratuitamente; estudos anteriores ao ano de 2000. Os estudos
disponíveis nas bases de dados foram analisados quanto ao título e resumo, sendo
rejeitados aqueles que não atendiam aos critérios de inclusão. Na etapa seguinte, os
artigos relacionados à temática foram acessados na integra para avaliação. Na primeira
base de dados, encontrou duas publicações sobre o tema, porém não correlacionado com
o assunto em questão; no Pubmed localizou 79 artigos, mas no momento da eliminação
por títulos, resumos e conteúdo, não houve artigo algum sobre o assunto pesquisado;
por fim, na BVS com 321 artigos, mas, novamente, não se pôde utilizar nenhum artigo
para a análise de dados, devido à carência de estudos voltados à temática, optou-se,
então, por uma revisão bibliográfica, buscando o máximo de informações necessárias
para a compreensão do assunto. Haja vista que uma revisão sistemática utiliza de dados
já pesquisados a respeito do tema, sintetizando as informações selecionadas que diz
respeito ao assunto escolhido9.
DESENVOLVIMENTO
As terapias cognitivas foram desenvolvidas no final dos anos 60, em parte como
decorrência de um movimento de insatisfação com os modelos precisamente
comportamentais (S-R), que não aceitavam a importância dos processos cognitivos
mediando o comportamento. O surgimento das terapias cognitivas também foi devido ao
questionamento sobre a eficácia dos modelos psicodinâmicos10. A TCC surgiu
inicialmente com o foco direcionado para pacientes depressivos/a, em decorrência de
100
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
Violência Doméstica
101
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
A origem da palavra violência vem tanto do latim violentia, no qual denota abuso
de força, como também da palavra violare, cujo sentido é o desrespeito de normas. Para
o filósofo grego Aristóteles, a violência é tudo aquilo que vem do exterior e se contrapõe
ao movimento interior de uma natureza; no qual o mesmo refere-se à repressão física
em que o indivíduo é forçado a fazer algo contra a própria vontade 17.
A violência é um dos problemas mais presente na teoria social e da prática
política. Não há sociedade onde a violência não tenha estado presente, desse modo, a
violência é um complexo e dinâmico elemento biopsicossocial e seu espaço de
concepção e desenvolvimento é a vida em sociedade 18. Nesse sentido, a violência nos
tempos atuais tornou-se tão previsível e constante no dia-a-dia que deixamos de vê-la
como um acontecimento surpreendente. Influenciados por sua presença, pouco a pouco
temos sido levados a integrar a violência como um elemento pertencente à atualidade19.
A violência, em suas maneiras destrutivas, aponta o outro em prol de destruí-lo,
porém atinge a humanidade como um todo. Historicamente, este fenômeno é comum, a
todas as classes sociais, culturas e sociedades, assim sendo, é um fato inerente ao
processo civilizatório, constituindo-se enquanto elemento que participa da própria
organização das sociedades, manifestando-se de distintas formas 20.
A violência doméstica é considerada toda ação ou omissão que cause dano ou
prejuízo ao bem-estar, à integridade física, psicológica ou a liberdade, além do direito ao
integral desenvolvimento de um membro da família. Pode acontecer dentro e fora do lar
por qualquer indivíduo que esteja em relação de domínio com a pessoa agredida,
abrangendo aqueles que desempenham a função de pai ou mãe, mesmo sem laços de
sangue. Vale ressaltar que a maior parte dos casos de violência acontece em casa,
afetando, principalmente mulheres, crianças e idosos. Contudo, a violência doméstica
pode provocar danos sejam eles diretos ou indiretos a todas as pessoas da família, e está
presente nas várias fases de suas vidas 21.
Diante disso, a violência doméstica é permeada por agressões físicas, sexuais e
psicológicos, assim como a imposição econômica que adultos e adolescentes usam como
método de chantagear seus companheiros íntimos, o qual são praticados, especialmente,
por: maridos, pais, padrastos. Considerada até há pouco tempo um tabu, pois não se
falava a respeito e não se fazia nada para impedir. Entre as agressões estão presentes:
tapas, chutes, espancamentos, queimaduras de genitália e mamas, estrangulamento, e
102
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
ferimentos com armas, sendo os golpes direcionados para o rosto, braços e pernas das
vítimas 22.
A violência sexual também é vista como violência doméstica caso seja cometida
por companheiro íntimo. A Rede Nacional Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos
entende a violência sexual como um ato que obriga uma pessoa a manter contato sexual,
físico ou verbal, ou a de fazer parte de outras relações sexuais com o uso da força,
intimidação, coerção, ameaça, ou qualquer outro tipo de artifício que anule vontade
pessoal 22.
Nesta perspectiva, segundo Dantas- Berger e Giffin 23, há uma ordem social de
tradição patriarcal que por muitos anos viveu em um modelo de violência contra
mulheres, dirigindo ao homem o papel “ativo” na relação social e sexual entre os sexos,
do mesmo modo em que limitou a sexualidade feminina à passividade e à reprodução.
Com o modelo de controle econômico dos homens enquanto provedores, muitas
mulheres tornam-se dependentes financeiramente e assim se exige frequentemente a
aceitação de seus “deveres conjugais”, que incluíram o “serviço sexual”.
Dentre os outros tipos de violência doméstica estão: a física, a psicológica, e a
negligência. A violência física acontece quando alguém provoca ou tenta causar dano por
meio de força física ou com algum tipo de arma ou instrumento que possa ocasionar
lesões internas, externas ou ambas. A violência psicológica abrange toda ação ou
omissão que gera ou objetiva gerar prejuízos à autoestima, à identidade ou ao
desenvolvimento da pessoa. A negligência é a supressão de responsabilidade de um ou
mais membros da família em relação a outro indivíduo, principalmente àqueles que
precisam de auxílio por demandas de idade ou alguma condição física, constante ou
provisória 5.
Discussões sobre a violência doméstica vêm se expandindo, tendo lugar de
destaque na área da saúde e na área jurídica. No Brasil, a padronização para registrar
casos de violência familiar é fragmentada, o que causa danos para uma rotina clara e
eficaz, gerando carências nos procedimentos a serem adotados pelos profissionais e
instituições. Do mesmo modo, há deficiência de políticas públicas efetivas que viabilizem
a criação e, sobretudo, a manutenção de programas prevenção e de tratamento,
necessários para agenciar o aperfeiçoamento e evolução de técnicas eficientes no
enfrentamento dessa problemática24.
103
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
104
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
105
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
106
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
familiar. Há também a Lei Maria da Penha no qual assegura a toda mulher vítima de
violência doméstica e familiar à assistência da Defensoria Pública; Casas de abrigo;
Central de atendimento à mulher (ligue 180); Polícia militar (ligue 190); Juizado da
Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher; CRAM- Centro de Referência de
atendimento à mulher, dentre outros40. Podendo, assim, essas informações serem
integradas no cartão de enfrentamento.
CONCLUSÃO
107
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
REFERÊNCIAS
1. Pequeno MJP. Direitos Humanos e Violência. Rev Filos, 2007; 28(43): 135-146.
2. Zuma CE. Em busca de uma rede comunitária para prevenção da violência na família.
Anais do III Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Fortaleza, CE, Brasil. (2005,
setembro)
3. Fonseca PM, Lucas TNS. Violência doméstica contra a mulher e suas consequências
psicológicas. Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Psicologia da Escola
Baiana de Medicina e saúde Pública, Bahia, Brasil, 2006.
4. Fonseca DH, Ribeiro CG, Leal NSB. Violência doméstica contra a mulher: realidades e
representações sociais. Psicologia & Sociedade, 2012; 24 (2), 307-314.
5. Day VP et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. Rev. Psiquiatria,
2003; 25(supl. 1): 9-21.
6. Cortez MB, Padovani RC, Williams LCA. Terapia de grupo cognitivo- comportamental
com agressores conjugais. Estudos de Psicologia, 2005; 22(1): 13-21.
7. Beck JS. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed,
2013.
8. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
9. Sampaio, R. F., & Mancini, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese
criteriosa da evidência científica. Rev. bras. fisioter, 2007; 11(1): 83-89.
10. Rangé BP, Falcone EMO, Sardinha A. História e panorama atual das terapias
cognitivas no Brasil. Revista brasileira de terapias cognitivas, 2007; 3(3).
11. Rangé B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria.
Porto Alegre: Artmed, 2001.
12. Wright JH, Basco MR, Thase ME. Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental.
Porto Alegre: Artmed, 2008.
13. Souza ICW, Cândido CFG. Diagnóstico psicológico e terapia cognitiva: considerações
atuais. Rev. Brasileira Terapia Cognitiva, 2009; 5(2), 82-93.
108
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
109
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
110
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111
Oliveira et al
40. Barsted M, Romani A (orgs). Violência contra a mulher: um guia de defesa, orientação
e apoio. Rio de Janeiro: Cepia, 2018.
111
Revista das Ciências da Saúde do Oeste Baiano - Higia 2018; 3 (1):97-111