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A Crise do Conceito de Instituição e a Crítica Epistemológica em

Lourau.

SANTOS, Alan Ferreira dos [1]

SANTOS, Alan Ferreira dos. A Crise do Conceito de Instituição e a Crítica Epistemológica em Lourau.
Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 02, Ano 02, Vol. 01. pp 31-44, Maio de 2017.
ISSN:2448-0959

RESUMO.

O conceito de instituição transformou-se ao decorrer da história, sendo retomado por René Lourau (1933 – 2000),
que fez um empreendimento de análise dos teóricos e suas concepções sobre tal conceituação, em concomitância
à isso, em paralelo o autor produziu uma crítica epistemológica à ciências sociais (implicitamente), como uma
maneira de encontrar as dificuldades das noções de “Sociedade” e “Grupo”, fazendo emergir suas incoerências e
fragilidades e por conseguinte propondo a noção de “Instituição”. Método: Fez-se uma pesquisa bibliográfica de
cunho qualitativo. Objetivo: Identificar a crítica epistemológica em Lourau, a partir do conceito de Instituição.
Conclusão: Concluiu-se que o conceito abre espaço para a possibilidade de operar uma síntese nas ciências
sociais por meio da ideia de “Instituição”, as categorias ontológicas, como de liberdade e escolha, que pressupõe
consciência podem ser trabalhadas. Além disso, fornece também o horizonte de fazer uma síntese epistemológica,
a categoria de inconsciente não é abandonada, sendo essencial para que se possa apreender os fenômenos, é por
meio do inconsciente que se pode encontrar um outro lado da realidade institucional, em termos teóricos
percebeu-se a superação dialética.

Palavras Chaves: Crítica Epistemológica, Análise Institucional, Instituição.

INTRODUÇÃO.

Toda norma universal é considerada uma instituição, um exemplo é o trabalho, toda sociedade contém em seu
núcleo o intercambio entre homem e natureza, que é condição sine que non para sobrevivência e manutenção do
tecido social, e da própria espécie (SOUSA, 2013).

A realidade é constituída em movimento, sendo a temporalidade fator primordial para análise de qualquer objeto,
seja de um agregado de sólido de minérios (rocha), até a menor partícula subatômica do universo, ambos
elementos contém a mobilidade. Nesse sentido é necessário que haja uma estrutura psicológica que permita a
identificação do objeto que se move, para que nós possamos categoriza-los, nomeando-os, e por sua vez, os
identificando por meio de suas identidades. Tal processo psicológico é biologicamente necessário para a
continuidade do ser, sendo uma derivação da capacidade do pensamento de demarcação dos objetos, haja vista
que suas qualidades são imprescindíveis para o próprio fazer de ciência, com as suas noções classificatórias, que
nada mais é, do que uma definição, do objeto pesquisado (BERGSON, 1971). Num agregado de mineraloides, um
geólogo (petrólogo) irá compreender a composição química, a qualidade ou textura, e o modo pelo qual se
desenvolveu no tempo e no espaço o sólido. Já na partícula subatômica o físico irá compreender o movimento e as

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suas variadas posições, tratando o seu objeto dentro um espaço delimitado, podendo identificar sua localização.
Nos dois últimos exemplos, é possível encontrar os determinantes “movimento e tempo”, d’onde se concluí que
ambos componentes é uma propriedade da natureza, e, portanto, da pesquisa científica, já que esta estuda
àquela.

A instituição por sua vez, tem as mesmas características, havendo um movimento inerente a sua gênese e uma
temporalidade de início, meio e fim, isto se for numa pesquisa acadêmica onde pretende-se desvendar
determinada lei universal, pois em natureza, em si, a instituição apenas é, sendo uma mudança perpétua. O termo
instituição vem se apresentando desde da filosofia do direito, até os últimos avanços das ciências sociais (LOURAU,
1995).

Na filosofia do direito, a instituição irá comparecer, por meio da jurisprudência do que “pode ser feito e não feito”,
de como “deve-se comportar e não comportar”, sendo a lei um sistema regulatório das relações sociais e,
portanto, do comportamento humano. O filósofo Friedrich Hegel (1770 – 1831) irá dizer que o estado constituí a
base de todas as instituições, sendo instancia fundadora da sociedade (LOURAU, 1995). O estado é racional e
consequentemente universal, sendo conformação final e efetivação do espírito objetivo que se produz
dialeticamente em nível ideal desencarnado da matéria, dando origem e finalidade as instituições, tal noção é
metafísica, pois ao descartar dois momentos essenciais do conceito de instituição, o da singularidade (que atribuiu
à corporação – pequenos grupos sociais inativos, no sentido da ação) e o da particularidade que esvaziou da
atividade instituinte do indivíduo e da sociedade civil, percebeu no poder instituído do Estado a única ação social
legítima e total, de potencia transformadora (ARAUJO, 2013). O estado de Hegel é o demiurgo que tudo cria e
destrói, mobilidade sem matéria, sendo onipresença, onipotência e onisciência.

No capítulo sobre “Marxismo e as Instituições”, ao invés de contemplar o metafísico ou a legislação, trabalha-se a


instituição a nível concreto, a racionalidade que é produtora de linguagem tem como efeito produzir mobilizações
internas nos indivíduos, modulando o comportamento, portanto os ideias hegelianos é matéria em constante
processo de mutação e transformação do real. A concepção materialista, irá compreender a jurisprudência
extraindo sua conotação ideal, demonstrando que a lei, não apenas regula as relações sociais, como também dá
origem a mecanismos de manutenção da sociedade de mercado, sendo o direto uma ferramenta à favor do status
quo (LOURAU, 1995).

Já em “Conceito de Instituição em Sociologia” será descrito como a concepção foi pesquisada e percebida pelos
cientistas sociais (antropólogos e sociólogos) e a maneira pela qual, os teóricos se relacionaram com a mesma.
Diferente das duas primeiras partes, n’onde percebe-se a instituição a nível metafísico e concreto, compreende-se
nesta fase, ambas etapas simultaneamente, a instituição pode-se pesquisar não apenas por meio da legislação,
mas também por intermédio de uma sociedade indígena ou uma comunidade em condições socioeconomicamente
vulneráveis, em seus afazeres mais elementares. É importante ressaltar que se existe a possibilidade de estudar a
instituição empiricamente e se relacionar com suas diversas esferas, abre-se um novo horizonte de intervenções
práticas, uma vez que, não é um ideal distante e longínquo, tornando-se acessível (LOURAU, 1995).

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A CRISE DO CONCEITO DE INSTITUIÇÃO E A CRÍTICA EPISTEMOLÓGICA EM LOURAU.

O conceito de Instituição em Lourau, passou por diversas transformações, até se tornar o proposto pelo autor,
anterior a ele, alguns teóricos já o haviam discutido, como Florian Znaniecki (1882 – 1958), e outros de modo
implícito, como Robert Merton (1910 – 2003), Émile Durkheim (1858 – 1917), Bronislaw Malinowski (1884 – 1942),
Marcel Mauss (1872 – 1950), Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), Georges Gurvitch (1894 – 1965) e Talcott Parsons
(1902 – 1979).

Por meio da análise dos antropólogos e cientistas sociais, e de suas concepções teóricas, Lourau irá ter uma nova
compreensão do que é a Instituição, compreendendo sua dimensão e dinâmica, desse modo poderá ofertar a
sociologia contemporânea, uma ideia que possibilite uma possível síntese teórica do pensamento social já
constituído sobre o conceito de Instituição. Além disso elevará a sociologia ao status de ciência prática, por via da
d’onde o sociólogo poderá fazer intervenções institucionais, tendo como ferramenta de trabalho, o manuseio e o
manejo da palavra, fazendo com que a última circule pelo espaço.

No processo de constituição da conceituação, irá promover uma crítica a ciências sociais, uma crítica construtiva
que permite uma reflexão, sobre as categorias ontológicas e epistemológicas, e o modo pelo qual deixamos passar
despercebido fenômenos, que só seriam capturáveis a partir das colocações propostas pelo autor.

O conceito de instituição ao decorrer da história adquiri uma polissemia, Lourau concebe tal ideia, se apoiando em
Florian Znaniecki (1882 – 1958):

[…] Zaniecki fornece uma ideia da polissemia em que se afoga o conceito. Todas as ideologias, todos os sistemas
de referência filosóficos e políticos misturam-se na história de suas variações. A sociedade, a cultura, o indivíduo, o
instinto, o inconsciente, o grupo, a estrutura, a organização, o poder, etc, são postos em evidência cada qual por
sua vez (LOURAU, 1995, p. 118).

Znaniecki dirá que a categoria “Instituição” oferece uma possibilidade de operar uma síntese nas ciências sociais,
o que é plausível pois se coaduna com assertiva de que “O conceito de sociedade não pode mais servir de centro
ao redor do qual possa efetuar-se a integração conceitual das instituições” (LOURAU, 1995, p. 119). Nesse sentido
Lourau, se permite fazer uma crítica a sociologia contemporânea, que constantemente faz uso do termo
“sociedade” tomando este, como seu objeto de pesquisa:

[…] a “sociedade” como organismo ou “corpo”, que servia de sistema de referência ao objetivismo e ao
organicismo, não é mais considerada objeto de ciência. É um pouco como o “éter” dos alquimistas e dos primeiros
físicos, uma noção ideológica destinada a dissimular um vazio teórico (LOURAU, 1995, p. 119).

O teórico ao mesmo tempo que faz uma crítica a sociologia contemporânea, faz implicitamente uma crítica
epistemológica a ciências sociais:

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A influência do behaviorismo é sensível em Allport. Depois deste último ficaremos menos espantados ao ver as
instituições assimiladas a padrões de conduta, a modelos culturais de comportamento. Esta concepção, retomada
parcialmente por Parsons e seus discípulos americanos e franceses, mostra que os sociólogos atuais contentam-se
frequentemente com uma “psicologia” muito discutível, a saber, a falta de correspondência epistemológica devida
à fragmentação da ciência em múltiplas sínteses reduzidas, que se confundem ou se recobrem mutuamente
(LOURAU, 1995, p. 118).

Algumas características podem ser destacadas neste parágrafo. A primeira de que os sociólogos se utilizam de
uma psicologia “discutível” em relação ao sujeito, é importante ressaltar que os irmãos Allport, viviam nos Estados
Unidos, país de tradição pragmática que tende a dissolução do sujeito/subjetividade em prol do desenvolvimento
econômico, sendo a ciência a favor da economia e não à mesma a favor do cidadão. A segunda, que a incoerência
epistêmica se deve ao fato da fragmentação da ciência em sínteses reduzidas, disseminando a polarização do
saber e auto reprodução de conhecimentos “que se confundem ou se recobrem mutuamente” (LOURAU, 1995, p.
118).

Existe uma certa sutileza, no sentido de que, ao fazer uma crítica, oferta uma proposição “Será o conceito de
instituição mais adequado?” e “As concepções empíricas parecem permitir esta substituição do conceito realista
de instituição ao conceito nominalista e cego de sociedade” (LOURAU, 1995, p. 119).

Nos parece que há um movimento decrescente crítico, primeira fez-se do termo “sociedade” em seguida do de
“grupo”. Lourau propõe sua tese do conceito de “Instituição”, mas para isto, tem de demonstrar suas qualidades e
deficiências de seus concorrentes “Para isto seria preciso que o conceito de grupo não oferecesse as mesmas
facilidades que seu concorrente, o conceito de instituição” (LOURAU, 1995, p. 120).

Se apropriando das críticas de grupo de Robert Merton (1910 – 2003) “O termo grupo é mau, indica Merton, por
que se aplica não somente a grupos, mas também a indivíduos e a categorias” (LOURAU, 1995, p. 121). Fornece
ainda o exemplo do clube esportivo e da Educação Nacional, pois no primeiro o agrupamento é estável, os
indivíduos se conhecem e relacionam-se. No segundo, o grupo é constituído por pessoas que são remunerados por
uma instituição, mas o termo grupo por ser aplicado a diversas categorias, acaba sendo incoerente, pois tanto o
porteiro como o catedrático, pertencem “ao grupo dos educadores sem se conhecerem” (LOURAU, 1995, p. 121).

O teórico dá uma relativa importância ao conceito de pluralismo “O que se pode aproveitar de Merton é a
relevância dada ao pluralismo que rege a sociedade”, mas logo em seguida, diz que o termo de segmentaridade
cunhado por Durkheim (1858 – 1917), é mais preferível “porque sugere menos a ideia de uma soma inumerável de
participações, referências, critérios, normas, opiniões, projeções e interiorização”, nesse sentido, emerge um
trecho que nos dá um norte sobre a crítica das ciências sociais, no sentido de que, por conta da concepção de
“pluralismo”, “relativismo”, “fenomenologismo” da realidade, acaba-se produzindo-se inúmeras pesquisas sobre o
mesmo objeto, mas de uma ótica, ou se quiser de uma perspectiva diferente “soma inumerável que conduz a
psicologia social a multiplicar as pesquisas microscópicas e a sociologia a tomar de empréstimo muitas noções

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pseudopsicológicas, pseudopsicanalíticas à psicologia social” (LOURAU, 1995, p. 123).

Lourau prossegue sofisticando o conceito de “Instituição”, mas para isto, terá de buscar o que significa
“Instituição” em outros autores. Tomando de Malinowski (1884 – 1942) este:

[…] descreve as funções e a estrutura da instituição em geral, apelando para a distinção entre necessidades
primárias, isto é, biológicas e necessidades derivadas, isto é, culturais. A função ou finalidade da instituição
significa, portanto, a satisfação de uma necessidade primária ou derivada […] As necessidades primárias exigem
instituições onde o aparelho material, a infra-estrutura tecnológica, sejam muito desenvolvidos (LOURAU, 1995, p.
125).

Nesse sentido o grau de desenvolvimento da instituição é equivalente a intensidade da necessidade dos seres
humanos. Um exemplo pode ser as igrejas, que por serem monumentais e existirem no mundo inteiro, são na
verdade, um reflexo da intensidade da necessidade do sentimento religioso, que é inerente ao psiquismo humano.
Por sua vez, o estado poderia ser a manifestação, da necessidade humana de estar em grupo, de compartilhar
bens comuns e ter o senso de identidade com relação ao outro. Uma explicação do por que, ocorre essas grandes
manifestações materiais “É por que a maioria das instituições com função de produção, de regulação e de domínio
possuem um substrato material importante e se apropriam de grandes partes do espaço ou dos meios de
produção (máquinas)” (LOURAU, 1995, p. 125). Este movimento de transformação de uma necessidade primária
em instituição, é denominado por Malinowski de “o substrato material”.

O segundo elemento é a estrutura da instituição, que seria em “oposição ao substrato material, a lei orgânica, que
designa o conteúdo ideológico da instituição” (LOURAU, 1995, p. 125) no caso poderia ser as representações que
determinada população tem sobre um objeto. O terceiro elemento, é composto por duas substâncias. (1) O
sistema de normas: as leis, os princípios éticos e a moralidade. (2) Sistema de funções: As hierarquias, que
cumprem uma função organizadora.Existe uma analogia que será feita, o conceito de lei orgânica (representações
dadas à uma instituição por uma comunidade) terá sua negatividade que será o substrato material, “isto é, a
negatividade atuante nas instituições” (LOURAU, 1995, p. 126).

Nessa via Malinowski tendo uma concepção naturalista e culturalista sobre uma unidade imaginária (instituição),
deixa de perceber a relação que há entre essas duas noções. Apesar de reconhecer o papel simbólico da
instituição, havia a necessidade de legitimação da antropologia (novo ramo em surgimento da ciência), aderindo
assim ao causalismo em detrimento da última. Portanto, a instituição é um reflexo da necessidade humana, ao
invés de ser também uma dimensão simbólica. A crítica do funcionalismo, ocorrerá a partir da revelação da
dimensão simbólica da instituição (LOURAU, 1995).

Sobrinho de Durkheim, Marcel Mauss (1872 – 1950) irá compreender a instituição por meio da linguagem e as
noções de classificação, fazendo homologias entre as representações mentais e as coletivas “Mauss postula que a
estrutura social forneceu quadros prontos para formação da estrutura do pensamento” (LOURAU, 1995, p. 128). No

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entanto concebe a realidade social, como anteriormente estabelecida, a questão colocada por Lourau é: Se a
estrutura social fornece quadros para a estrutura do pensamento, quem fornece as categorizações para a
estrutura social? A instancia que é colocada é a do inconsciente, mas existe uma redução da realidade social em
concomitância com a sua temporalidade, pelo fato de que o autor excluí a história, ciência esta, que reconstituí os
fatos de modo justaposto, nos dando uma impressão de movimento, e que consequentemente nos dá a percepção
totalizante do fenômeno presente, apesar de dizer que existe uma correspondência entre a subjetividade e a
objetividade, deixa esta última como sendo a priori ao indivíduo e não como um contínuo no tempo e uma
possibilidade de indeterminação, nesse sentido explica como ocorre, mas não diz como, além disso expurga a
dimensão da consciência, isto é, não existe autonomia, o homem é criador, mas desconhece a sua criação,
portanto o que cria é percebido como sendo anterior, e não vê a si próprio como produtor. Existe um determinismo
psicológico nessa concepção, de que o sujeito está fadado aos quadros estabelecidos via inconsciente e
impossibilitado de criação autônoma.

Já em Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009), seguindo a linha de Mauss, mas que ainda não concebia o inconsciente,
como sendo inconsciente, mas como sendo “mecanismos mais profundos da consciência” (LOURAU, 1995, p. 127).
Se utilizando da ideia de “estruturas inconscientes” demonstrando que existem níveis de análise, nos revela um
exemplo, que pode ser o Totem:

[…] que serve a estruturação das relações sociais e nada tem a ver com uma religião dos animais ou das plantas.
O clã que toma como emblema a raposa não se identifica com a raposa mas se serve deste emblema para se
distinguir do clã da águia ou do clã do javali (LOURAU, 1995, p. 129).

No entanto, análise estrutural aplica-se a sistemas sociais, que estando em condição de imobilidade possam ser
estudados detalhadamente, fornecendo os elementos que subjaz sua estrutura, tal concepção anula o fenômeno
do movimento, sendo explicado apenas o imóvel (LOURAU, 1995).

A instituição tem uma ambiguidade que sendo, permissiva/repressiva contém em si uma dinâmica, onde os
indivíduos podem transgredir ou acatar. Nesse sentido a heterogeneidade (transgressão) não é institucionalizada,
por que os indivíduos com suas estruturas individuais não encontram um ponto comum de apoio na comunidade,
que se realizado, ocasionaria na homogeneidade. As instituições primitivas “São também reservas de dinâmica
social, por conseguintes lugares de mudança e de transgressão mais ou menos institucionalizados” (LOURAU,
1995, p. 130). Um exemplo dado por Mauss é o potlatch:

Como “fato social total”, esta instituição engloba, ao lado dos elementos de continuidade e de tradição, elementos
dinâmicos, ligados à luta pelo poder, à concorrência econômica, ao conflito entre escassez e abundancia. O
potlatch é uma, cerimônia, mas uma cerimônia que consistiria, em nossa civilização, numa missa católica dita
numa oficina ou num grande armazém e segundo processos que evocariam sucessivamente uma assembleia geral
de militantes políticos, uma venda em leilão e uma sessão de jerk (LOURAU, 1995, p. 131).

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Portanto como demonstrado, a instituição contém inerente em si uma dinâmica, mas que não causa modificações
radicais em sua estrutura. O movimento se dá ao nível de continuidade, mas de uma tradição, não ocorre uma
reprodução por não ser uma sociedade de mercado, que necessita da criação de mecanismos de aprisionamento
do sujeito, em favor da manutenção da sociedade de produção e concentração de riquezas, nessas ocorre o
desenvolvimento de ideologia e reprodução da mesma, sempre havendo um novo elemento da
contemporaneidade que é incorporado, mas que quando analisada percebe-se uma modificação morfológica, mas
não estrutural. Em fenômenos como potlatch, o que há, é uma dinâmica, mas em si a estrutura dessa instituição é
a dinâmica, que se faz por meio da continuidade da tradição dos eventos, como as trocas de mercadoria e a
disputa de poder, portanto não há reprodução, por que o evento é sempre repetido não havendo incorporação de
novas formas, a favor da manutenção de uma determinada estrutura, pois a estrutura já está estabelecida
(tradição), havendo apenas a continuidade da mesma sucessivamente.

Não obstante, faz-se duas críticas à teoria de Lévi Strauss. O primeiro ponto é que, pelo fato da teoria se sustentar
nas funções da linguagem, é privilegiado a noção de código. As estruturas inconscientes são compostas de
elementos linguísticos, que só podem ser traduzidos, através da língua, por terem exatamente essa composição.
Ocorre nesse sentido um engendramento de sistema de sistemas, que se interpenetram e interpretam-se, o
etnólogo interpreta o sistema de código de povos agrafos por meio de seu código social, que é o científico, o que
ocorre por sua vez é:

O encaixamento dos sistemas, e dos sistemas de sistemas evoca indivíduos e sociólogos decifrando ao infinito
uma natureza e uma cultura que em definitivo nada tem a nos dizer, a não ser que também elas são códigos ou
criptogramas (LOURAU, 1995, p. 132).

Por este fato Lourau, irá dizer que a função metalinguística da linguagem tende a fazer desaparecer, em Lévi-
Strauss, a função referencial. Poderíamos dizer que o mesmo se coaduna com a ideia de Bakhtin (1991) para este,
todo signo é ideológico. Um pão é um produto de consumo, mas pode também ser transformado em um signo
ideológico, por estar desprovido de conteúdo semântico do ponto de vista do receptor, quando na verdade no
objeto em si, há uma latência de significados que produz modificações inconscientes no sujeito, portanto pode ser
utilizado para representar o corpo de Cristo em cerimônias religiosas.

O que se perde nisso é exatamente o conteúdo dos objetos, e a sua retomada não é feita pelo fato de ser um
elemento essencial, mas sim por ser inegável e uma realidade que não pode ser deixada de lado, é um dos
componentes da conjectura, sem o qual seria impossível de compreender sua totalidade. Ao isolar a função
metalinguística “[…] a filosofia do sistema mergulha no significante e perde de vista a existência do significado”
(LOURAU, 1995, p. 133). A ação dos homens se configura sobre as estruturas inconscientes de linguagem, mas isto
não quer dizer, que deixam de ser afetados por objetos visíveis e os problemas históricos-sociais que estão “no
andar da consciência” (LOURAU, 1995, p. 133). O que nós percebemos, nós modificamos, mas a nossa percepção é
mínima do que realmente é a “Coisa”, as estruturas inconscientes de sistemas de código, por sua vez, essas se
autonomizam, por encontrarem meios de reprodução, meios estes que nada mais são, do que as nossas próprias

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relações.

O segundo ponto criticado na antropologia estruturalista, é a sua relação agônica entre as esferas de análise da
diacronia e sincrônica ou da história e sistema. A concepção estrutural privilegia a segunda, perdendo de vista as
dimensões históricas, ou a dimensão diacrônica na sincrônica e como ambas, isto é presente e passado, se
interpenetram podendo só ser entendidas uma em relação à outra (LOURAU, 1995).

Por sua vez o conceito de instituição passa a ser confundido com o de estrutura, como se o primeiro fosse o último,
não havendo uma dinâmica que o estabeleceu “Gurvitch não se contenta em denunciar o conceito de instituição,
mas critica igualmente as relações, segundo sua opinião confusas, que este conceito mantém com o de estrutura
(LOURAU, 1995, p.136). Georges Gurvitch (1894 – 1965) faz uma colocação, de que o conceito é demasiado
largo (descontração) pelo fato de que “[…] as crenças, ideias, valores, condutas coletivas, mesmo sendo
preestabelecidas, não tem todas o mesmo caráter (LOURAU, 1995, p. 134). A segunda colocação é que o conceito
é estreito (contração), por excluir o não estabelecido (as ações humanas). Contudo Lourau, se apropriará dessa
crítica, percebendo que aquilo que é demasiado largo (descontraído) na verdade é o Instituído e o demasiado
estreito (contraído) é o Instituinte. O sociólogo Gurvitch faz uma crítica do conceito de Instituição fundamentada,
mas sem perceber, que a contradição do conceito em ser preciso e impreciso ao mesmo tempo, nada mais é, do
que o reflexo da dinâmica do conceito, e que na verdade, o que é criticado são dois fenômenos que ocorrem no
movimento de constituição da instituição, mas que estão alojados em um único conceito, porém percebidos como
sendo equívocos teóricos:

Ainda aqui, uma das finalidades deste estudo consiste em restituir ao conceito de instituição sua significação
dinâmica. Não seria também, o melhor meio de restituir sua especificidade, mascarada pelas confusões
denunciadas por Gurvitch, especificidade que implica a relativa autonomia da instituição em face do poder
político? (LOURAU, 1995, p. 136).

Um segundo autor que produz algumas complicações sobre o conceito de instituição, na mesma linha de Gurvitch
é Talcott Parsons (1902 – 1979). A partir do momento que reduz o conceito de instituição à instancia do instituído,
é perceptível isto, quando fala do conceito de “institucionalização” que representa a incorporação e integração dos
modelos sociais por meio dos indivíduos, não sendo, portanto “[…] a atividade social instituinte dos membros da
sociedade, dos usuários das instituições, mas é a ação integradora da sociedade, das instituições, da ideologia
dominante com relação aos indivíduos” (LOURAU, 1995, p. 136).

A estrutura segundo Parsons é “um sistema de previsões conformes com um certo esquema ou sistema de
funções” (LOURAU, 1995, p. 137). Dentro do sistema de funções, isto é, da estrutura, existe a instituição, que no
caso é “[…] o complexo de regras que define seu comportamento esperado” (LOURAU, 1995, p. 137). Por sua vez
o autor, irá concluir que sobre a instituição existe uma estrutura, que no caso seria a estrutura institucional que
cumpre com uma função, que é a de fazer a manutenção do sistema social. Que “constituem cristalizações
relativamente estáveis das forças do comportamento, de tal modo que a ação pode ser regulada tornando-se

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compatível com as exigências funcionais de uma sociedade” (LOURAU, 1995, p. 137).

Portanto as “exigências funcionais da sociedade” ou o “sistema de funções” são considerados como dados e não
constituídos, e tomados assim como as verdadeiras instituições, denotando assim a limitação da concepção
estruturo funcional “Considerados como dado, aparecem como as verdadeiras instituições, como a coisa instituída,
a necessidade natural da qual decorrem naturalmente as estruturas institucionais, os sistemas de funções ou
funções institucionalizadas” (LOURAU, 1995, p. 137).

Não obstante, Parsons, contribuem percebendo a dimensão inconsciente da instituição, mas não sabendo
identificá-la, por ainda não haver uma ciência que dessa conta de explicar a motivação humana e, portanto, como
essa se relaciona à estrutura social:

Diante da insuficiência das noções de motivação e de estrutura, o estruturo funcionalismo é obrigado a voltar-se,
conforme vimos, para a velha noção de função, isto é, a ideia de causalidade que não é outra coisa senão a
constatação empírica do estado de fato (LOURAU, 1995, p. 138).

CONCLUSÃO.

Com tudo o que foi demonstrado, percebemos uma clara crítica que Lourau faz a sociologia contemporânea. Em
primeiro caso, com o seu estudo sobre a concepção de “Sociedade” e mais adiante da de “Grupo”, noções que da
perspectiva do autor, se mostram vazias de conteúdo e desprovidas de qualquer cientificidade. Tais conceituações,
acabam se tornando inócuas por serem incoerentes com os fenômenos reais, no primeiro exemplo com o conceito
de Sociedade, é impossível analisar fenômenos coletivos, a partir de uma categoria superficial, tais definições é
como o “[…] éter dos alquimistas e dos primeiros físicos, uma noção ideológica destinada a dissimular um vazio
teórico” (LOURAU, 1995, p. 119).

Mais do que isso, Lourau não pretende fazer uma crítica descabida, mas sim uma que tenha valor e potência
transformativa, se utilizando até mesmo da antropologia de Levi Strauss, permitindo-se fazer uma análise desta,
retirando daí algumas conceituações pertinentes à sua obra, como também em Parsons. Neste autores, o que será
extraído é a noção de inconsciente. Isto é interessante, pois as instituições são movimentos imperceptíveis, que
por conta de não haver instituintes ocorre uma paralisação no tempo dessa organização, havendo assim
autonomização de seus componentes e por sua vez, o desembocamento dos sujeitos na inconsciência institucional,
isto é, do instituído.

O conceito de instituição, é fundamental pois abre espaço para a possibilidade de operar uma síntese nas ciências
sociais, as categorias ontológicas, como de liberdade e escolha, que pressupõe consciência podem ser
trabalhadas, ao contrário de Mauss, que coloca a realidade social sendo reduzida ao inconsciente, neste é descrito
um homem sem história, a mercê do presente, sem passado e sem futuro, noções claras que são engendradas a
partir das ciências naturais, pois na natureza não há liberdade e muito menos escolha, por isso uma grande

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chance determinação de seus objetos. Já nas ciências humanas existe uma complexidade, de que, quanto mais se
conhece, menos se apreende, é por isto que no contemporâneo há uma negação dessa esfera “oculta”, por que é
por meio deste que se pode chegar a consciência e, portanto, a emancipação do sujeito de seus próprios
aprisionamentos. Tal ciência rejeita em fornecer aos seres humanos, a condição de ser pensante e, portanto, de
ser de si mesmo, distinguindo assim afeto de razão, no mais poderíamos dizer, que é mais do que evidente, que
temos a função cognitiva de prospecção, isto é, de planejamento das nossas ações e portanto de um olhar para o
futuro. Por um outro lado o conceito de instituição, fornece também o horizonte de fazer uma síntese
epistemológica, a categoria de inconsciente não é abandonada, sendo essencial para que se possa apreender os
fenômenos, é por meio deste que se pode encontrar um outro lado da realidade. Portanto uma sociologia ou
antropologia, que é apenas, estruturas ou códigos de linguagens inconscientes e por outro lado, um: eu penso,
logo existo (DESCARTES, 2004). É meia sociologia, e meia antropologia, ou ao menos não é Lourau, pois este
considerava tais instâncias, sendo indissociáveis do sujeito. Na saúde mental algo análogo ocorre, o louco pensa?
Não, não pensa… Se não pensa, existe? Não, não existe, pois só existe, aquele que diz, penso, logo existo.

O que Lourau produziu de modo indireto, foi uma síntese nas ciências sociais, por meio do conceito de
“Instituição”, pois de modo implícito ao fazer uma análise histórica, produziu modificações substantivas na sua
própria conclusão, não abandonando certas características e qualidades inerentes ao termo, mas seguindo o
processo natural que ocorre no estudo teórico, permitiu-se a emersão da superação dialética, que é um processo
no qual se dá, simultaneamente, a negação de uma determinada realidade, e conservação de algo de essencial
que existe nesta e a sua elevação a um nível superior (KONDER, 1985). Nesse sentido é perceptível como tal ideia
torna clara à análise de uma organização, e por sua vez possibilita uma intervenção a partir do manuseio da
linguagem, fomentando o instituinte e consequentemente não havendo imobilidade. A consciência por sua vez,
age em movimento ativo, tendo assim a instituição ambos os estados: inconsciente e consciente. O primeiro se
refere ao instituído e o segundo ao instituinte, um processo de mutação perpétuo e contínuo.

Além disso, o conceito de instituição contém em seu cerne algumas características que fazem parte de sua
natureza, e que são propriedades inerentes a sua dinâmica interna. Lourau destaca essas qualidades como sendo,
a polissemia, a equivocidade e a problemática. O primeiro elemento é pelo fato da unidade positiva, negativa e da
negação da negação, serem retidos ou diluídos em seu processo de modificação, dificultando a identificação
semântica do fenômeno por haver múltiplos sentidos. O segundo ponto se refere ao movimento do instituído e
instituinte, não havendo uma distinção clara do que seria aquele ou esse, por conta do seu aparente estado de
fusão. O último ponto denota o atributo de que a instituição, só é desvelada por meio dos analisadores, que produz
as mobilizações necessárias, que tem como efeito rupturas no estabelecido, manifestando assim, os conteúdos
latentes (LOURAU, 1995).

Por fim, gostaria de deixar ao leitor, uma questão que não é minha, mas sim de Lourau quando ele diz “Será o
conceito de instituição mais adequado?” (LOURAU, 1995, p. 119). Caso eu houvesse conhecido Lourau e tido esse
imenso prazer eu diria “Se é o mais adequado eu não sei, mas que é uma grande contribuição, isso é”.

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A Crise do Conceito de Instituição e a Crítica Epistemológica em
Lourau.

REFERÊNCIAS.

ARAÚJO, Alan Pereira de. Institucionalismo e Efetividade Jurídica. Disponível em:<


http://www1.jus.com.br/doutrina/texto>. 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Ed. HUCITEC, 1992.

BERGSON, Henri et al. A Evolução Criadora. 1971.

DESCARTES, René. Discurso del método. Ediciones Colihue SRL, 2004.

KONDER, Leandro. O que é dialética. Brasiliense, 1985.

LOURAU, René. A Análise Institucional. Petrópolis, Rio de Janeiro: Ed. VOZES, 1995, 2. ed.

SOUSA, Albertino Servulo Barbosa de. Conceito de Natureza em Marx: Intercâmbio Entre Homem e
Natureza: Produção e Reprodução da Vida Material e Social. 2013.

[1] Graduando curso de Psicologia – Universidade Paulista (Unip)

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