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O estudo do processo de obtenção de emprego avançou bastante quando, *Este texto resulta do projeto de
investigação “Vagas atlânticas: a
nos anos de 1970, se destacou a importância das relações pessoais e das
imigração brasileira em Portugal”,
redes sociais no mercado de trabalho. Como alternativa ao recurso a meios realizado entre 2008 e 2010 por
uma equipe integrada por pesqui-
formais de recrutamento (anúncios e entrevistas formais), ficou então de-
sadores do Centro de Investigação
monstrado que muitos dos empregos obtidos se devem ao uso de ligações em Sociologia Econômica e das
pessoais. A contribuição de Mark Granovetter (1973, 1974) foi decisiva a Organizações da Universidade
Técnica de Lisboa (socius-utl),
esse respeito. Por um lado, demonstrou que as redes sociais importam mais do Centro de Investigação e Es-
para o ajustamento entre oferta e procura de trabalho do que os meios tudos de Sociologia do Instituto
Universitário de Lisboa (cies-iul)
formais utilizados pelas organizações. Esse argumento coloca em questão a e do Centro de Estudos Sociais da
linearidade com que alguns estudiosos encaram a racionalidade individual Universidade de Coimbra (ces-
-uc), e é financiado pela Funda-
e o mercado de trabalho. Por outro, provou que a informação circula me- ção para a Ciência e a Tecnologia
lhor quando se recorre a “laços fracos”, isto é, no interior de redes pouco (fct). Os autores agradecem as
contribuições do restante da equi-
densas mas com diversos contatos, como é o caso entre amigos não íntimos
pe (Beatriz Padilla, Filipa Palma,
e conhecidos. O recurso a “laços fortes”, caraterísticos de redes relacionais Thais França, José Carlos Mar-
ques e Pedro Góis), bem como
muito densas – como amigos íntimos e familiares, por exemplo –, conduz
de um referee anônimo. O texto
a um “fechamento” que não favorece a propagação da informação. é dedicado à memória de Maria
Esse tipo de estudo enfatiza os movimentos no interior de mercados de Ioannis Baganha, que iniciou mas
não chegou a concluir o projeto.
trabalho geograficamente bem-demarcados, de âmbito local ou regional. Isto O título remete diretamente ao
é, analisa processos de oferta e procura de trabalho que, normalmente, não artigo “The strength of weak ties”
(cf. Granovetter, 1973).
ultrapassam as fronteiras nacionais. Por excluir os movimentos internacio-
nais de trabalhadores, essa forma de abordagem simplifica a observação do
Questões metodológicas
(16,7%) que já viviam no país (Quadro 1). Os indivíduos empregados foram atualmente. A isso somam-se
algumas não respostas. Por tais
questionados também acerca do tipo de contato efetuado para encontrar o motivos, os totais apresentados
trabalho atual. A maior parte ou o encontrou pelos próprios meios (38,7%), nos quadros referem-se somente
às respostas válidas, podendo,
ou através de amigos brasileiros residentes em Portugal (20,4%). No entanto, pois, registar algumas flutuações.
nessa segunda fase nota-se o aumento da iniciativa própria e da ajuda de
portugueses (14,8%), bem como a diminuição da ajuda de amigos brasileiros
e de familiares (10%) também residentes no país.
quadro 1 - Tipo de contato efetuado pelos entrevistados para encontrar o primeiro emprego
e o atual em Portugal
primeiro emprego em seu emprego atual
Portugal em Portugal
n % n %
Eu próprio/a encontrei trabalho 387 32,3 377 38,7
Consegui a ajuda de uma pessoa portuguesa 136 11,4 144 14,8
Consegui a ajuda de familiares que viviam em Portugal 200 16,7 97 10,0
Amigos brasileiros que viviam em Portugal 286 23,9 199 20,4
Consegui através de um intermediário brasileiro 86 7,2 69 7,1
Através de uma Associação ou ipss 3 0,3 4 0,4
Através de um aviso afixado numa loja ou jornal 47 3,9 34 3,5
Outro 52 4,3 50 5,1
Total 1 197 100,0 974 100,0
Fonte: Pesquisa Imigrantes Brasileiros, 2009.
quadro 2 - Tipo de contato efetuado para encontrar o emprego atual, segundo o grupo etário
[20;24] [25;29] [30;34] [35;39] [40;44] [45;49] [50;54] Total
n 43 72 78 52 48 35 15 343
Eu próprio(a) encontrei trabalho
% (coluna) 33,1% 34,1% 40,4% 39,7% 38,7% 56,5% 41,7% 38,7%
Consegui a ajuda de uma pessoa n 17 28 35 21 21 8 2 132
portuguesa % (coluna) 13,1% 13,3% 18,1% 16,0% 16,9% 12,9% 5,6% 14,9%
Consegui a ajuda de familiares já n 23 27 15 7 8 8 4 92
a viver em Portugal % (coluna) 17,7% 12,8% 7,8% 5,3% 6,5% 12,9% 11,1% 10,4%
Amigos brasileiros já a viver em n 30 49 38 31 20 4 8 180
Portugal % (coluna) 23,1% 23,2% 19,7% 23,7% 16,1% 6,5% 22,2% 20,3%
Consegui através de um interme- n 12 16 12 10 6 3 2 61
diário brasileiro % (coluna) 9,2% 7,6% 6,2% 7,6% 4,8% 4,8% 5,6% 6,9%
Através de um aviso afixado numa n 0 9 4 5 13 1 1 33
loja ou jornal % (coluna) 0,0% 4,3% 2,1% 3,8% 10,5% 1,6% 2,8% 3,7%
n 5 10 11 5 8 3 4 46
Outro
% (coluna) 3,8% 4,7% 5,7% 3,8% 6,5% 4,8% 11,1% 5,2%
Total n (100,0%) 130 211 193 131 124 62 36 887
Fonte: Pesquisa Imigrantes Brasileiros, 2009.
13. X2 (24) = 350,048; p=0,000; Como seria de se esperar, a variável “existência de contatos em Portugal
V de Cramer = 0,277.
prévios à partida”13 – bem como seu tipo – relaciona-se muito diretamente
14. Note-se os casos em que os
próprios indivíduos que afirmam ao tipo de obtenção do primeiro emprego (Quadro 3). Faz sentido que os
não possuir nenhum contato indivíduos sem laços formados14 recorram em maior número (proporcional-
em Portugal mencionam ter
encontrado trabalho através de
mente) à iniciativa individual (48,3%) e a anúncios (7,4%). Também eles
familiares e amigos. Nesses casos, constituem o grupo que mais recorre a intermediários brasileiros (11,9%),
ou os contatos indicados vieram
ao mesmo tempo ou até mais
atrás apenas dos que mencionaram “outros contatos” (13,6%). Estes últimos
tarde que os entrevistados, ou se são ainda os que mais recorreram ao auxílio de portugueses ou a outros
trata de erro no preenchimento
meios (18,2% em ambos os casos).
do questionário.
quadro 3 – Tipo de contato efetuado para encontrar o primeiro emprego em Portugal, segundo o tipo de contato
anterior à partida
Familiares Outros Colegas/Sócios/ Não possuía Outros contatos Total
em Portugal brasileiros Amigos nenhum contato em Portugal
Eu próprio/a encontrei n 123 72 71 85 17 368
trabalho % (coluna) 26,5% 34,8% 28,9% 48,3% 38,6% 32,3%
Consegui a ajuda de uma n 46 22 32 20 8 128
pessoa portuguesa % (coluna) 9,9% 10,6% 13,0% 11,4% 18,2% 11,2%
Consegui a ajuda de familiares n 171 6 6 4 3 190
já a viver em Portugal % (coluna) 36,8% 2,9% 2,4% 2,3% 6,8% 16,7%
Amigos brasileiros já a viver n 69 84 97 19 2 271
em Portugal % (coluna) 14,8% 40,6% 39,4% 10,8% 4,5% 23,8%
Consegui através de um n 21 16 21 21 6 85
intermediário brasileiro % (coluna) 4,5% 7,7% 8,5% 11,9% 13,6% 7,5%
Através de um aviso n 18 3 11 13 0 45
afixado numa loja ou jornal % (coluna) 3,9% 1,4% 4,5% 7,4% 0,0% 4,0%
n 17 4 8 14 8 51
Outro
% (coluna) 3,7% 1,9% 3,3% 8,0% 18,2% 4,5%
Total n (100,0%) 465 207 246 176 44 1138
Fonte: Pesquisa Imigrantes Brasileiros, 2009.
Por outro lado, também é lógico a maioria das pessoas que mencionou
familiares em Portugal ter recorrido a essa ajuda para encontrar o primeiro
emprego (36,8%), enquanto a parcela que afirmou conhecer outros bra-
sileiros ou colegas/ sócios/ amigos antes de emigrar recorrera sobretudo a
“amigos brasileiros que viviam em Portugal” (40,6% e 39,4%, respetiva-
mente) (Quadro 3).
Uma questão importante avaliada diz respeito ao tipo de inserção so- 15. Para as questões relativas às
profissões dos entrevistados foi
cioprofissional em Portugal15. O tipo de contato estabelecido relaciona -se efetuada inicialmente uma reco-
com o grupo profissional ocupado, à chegada16 e atualmente17 (Gráficos 2 dificação em torno dos grandes
grupos da Classificação Nacional
e 3). Por meio de um anúncio são recrutados sobretudo “Técnicos” e afins de Profissões (cnp), que contem-
(o grupo mais numeroso da amostra, daí sua proeminência em quase todas plam uma classificação de dois
dígitos. De modo a permitir
as categorias), mas também indivíduos que ocupam profissões desqualifi- uma melhor análise dos dados,
cadas. É muito curioso constatar que os familiares dos inquiridos têm um numa fase posterior reuniram--
-se os grandes grupos profissio-
forte pendor para inserir estes últimos em trabalhos desqualificados, tanto nais nas seguintes categorias:
no momento de chegada como no emprego mais recente. Isto é, aparen- “Quadros superiores, dirigen-
tes e especialistas” (gg1+gg2);
temente os “laços fortes” destinam-se sobretudo a facilitar o ingresso nos
“Técnicos, profissionais de nível
segmentos mais vulneráveis do mercado de trabalho. Apesar de os amigos intermédio, pessoal administra-
e outros intermediários brasileiros também serem elos importantes para a tivo, dos serviços e vendedores”
( gg 3 + gg 4 + gg 5 ); “Operários,
inserção em ocupações desqualificadas sobretudo numa fase inicial, poste- operadores, artífices e similares”
riormente essa proporção diminui e as funções atualmente desempenhadas (gg7+gg8); e “Trabalhadores não
qualificados” (gg9). Omitiram-se
pelos entrevistados – obtidas através desse tipo de contato – tornam-se nas análises mais aprofundadas
mais qualificadas. Por fim, os “Quadros superiores, dirigentes e especia- os membros das Forças Armadas
(gg0) e os Trabalhadores da Agri-
listas” são recrutados sobretudo após outros tipos de contato (diferentes cultura e Pescas (gg6), residuais
dos listados anteriormente): o recrutamento direto seja mediante convite, na amostra.
seja por iniciativa individual. Essas conclusões são válidas para os dois 16. X2 (18) = 74,250; p=0,000;
V de Cramer = 0,166.
momentos contemplados no inquérito.
17. X2 (18) = 69,442; p=0,000;
V de Cramer = 0,181.
Outro
Outro
0% 50% 100%
quadro 4 – Tipo de contato efetuado para encontrar o emprego atual, segundo o tipo de
empregador
Pequena empresa Empresa média Grande empresa Empregador isolado
Total
1 a 5 trabalhadores 6 a 99 trabalhadores + de 100 trabalhadores um patrão/uma patroa
Eu próprio/a encontrei n 98 114 73 20 305
trabalho % 32,1% 37,4% 23,9% 6,6% 100,0%
Consegui a ajuda de uma n 30 53 31 10 124
pessoa portuguesa % 24,2% 42,7% 25,0% 8,1% 100,0%
Consegui a ajuda de n 23 35 13 16 87
familiares já a viver em
% 26,4% 40,2% 14,9% 18,4% 100,0%
Portugal
Amigos brasileiros já a n 52 59 30 23 164
viver em Portugal % 31,7% 36,0% 18,3% 14,0% 100,0%
Consegui através de um n 11 32 12 10 65
intermediário brasileiro % 16,9% 49,2% 18,5% 15,4% 100,0%
Através de um aviso afixa- n 6 11 9 2 28
do numa loja ou jornal % 21,4% 39,3% 32,1% 7,1% 100,0%
n 6 13 11 5 35
Outro
% 17,1% 37,1% 31,4% 14,3% 100,0%
n 226 317 179 86 808
Total
% 28,0% 39,2% 22,2% 10,6% 100,0%
Fonte: Pesquisa Imigrantes Brasileiros, 2009.
quadro 5 – Tipo de contato efetuado para encontrar o primeiro emprego em Portugal, segundo o ano de chegada
Até 1998 1999 a 2003 2004 a 2007 2008 2009 Total
N % N % N % N % N % N %
Eu próprio/a encontrei trabalho 25 52,1% 115 38,0% 139 27,7% 36 25,5% 6 23,1% 321 31,5%
Consegui a ajuda de uma pessoa
7 14,6% 28 9,2% 62 12,4% 9 6,4% 5 19,2% 111 10,9%
portuguesa
Consegui a ajuda de familiares
4 8,3% 43 14,2% 96 19,1% 23 16,3% 2 7,7% 168 16,5%
já a viver em Portugal
Amigos brasileiros já a viver em
5 10,4% 65 21,5% 134 26,7% 43 30,5% 7 26,9% 254 24,9%
Portugal
Consegui através de um inter-
3 6,3% 24 7,9% 34 6,8% 16 11,3% 1 3,8% 78 7,6%
mediário brasileiro
Através de um aviso afixado
2 4,2% 14 4,6% 19 3,8% 5 3,5% 0 0,0% 40 3,9%
numa loja ou jornal
Outro 2 4,2% 14 4,6% 18 3,6% 9 6,4% 5 19,2% 48 4,7%
Total 48 100,0 303 100,0 502 100,0 141 100,0 26 100,0 1020 100,0
Fonte: Pesquisa Imigrantes Brasileiros, 2009.
quadro 6 – Tipo de contato efetuado para encontrar o emprego atual, segundo o ano de chegada
Até 1998 1999 a 2003 2004 a 2007 2008 2009 Total
n % n % n % n % n % n %
Eu próprio/a encontrei trabalho 20 52,6% 123 50,0% 136 32,7% 36 31,6% 2 14,3% 317 38,3
Consegui a ajuda de uma pessoa
4 10,5% 37 15,0% 71 17,1% 10 8,8% 1 7,1% 123 14,9
portuguesa
Consegui a ajuda de familiares
3 7,9% 17 6,9% 45 10,8% 16 14,0% 0 0,0% 81 9,8
já a viver em Portugal
Amigos brasileiros já a viver em
0 0,0% 31 12,6% 106 25,5% 27 23,7% 6 42,9% 170 20,5
Portugal
Consegui através de um inter-
0 0,0% 17 6,9% 29 7,0% 14 12,3% 1 7,1% 61 7,4
mediário brasileiro
Através de um aviso afixado
2 5,3% 13 5,3% 11 2,6% 4 3,5% 0 0,0% 30 3,6
numa loja ou jornal
Outro 9 23,7% 8 3,3% 18 4,3% 7 6,1% 4 28,6% 46 5,6
Total 38 100,0 246 100,0 416 100,0 114 100,0 14 100,0 828 100,0
Outro
4,3%
3,2%
9,0%
< 1 mês
[1; 2] meses
47,0% [3; 4] meses
[5; 6] meses
> = 7 meses
36,5%
Conclusão
Referências Bibliográficas
Resumo
A força dos laços fracos: estratégias de emprego entre os imigrantes brasileiros em Portugal
Este texto aprofunda o tema das estratégias de obtenção de emprego entre imigrantes
brasileiros em Portugal. Entre os principais objetivos está, em primeiro lugar, com-
preender a importância das redes sociais na obtenção de emprego no exterior, como
mecanismo facilitador do processo de migração. Em segundo, explorar a hipótese de
que, entre os migrantes internacionais, os “laços fracos” importam mais para obtenção
de emprego do que os “laços fortes”. Por fim, identificar as variáveis – sexo, idade,
qualificação, inserção socioprofissional e tipo de empregador, entre outras – associadas
aos diferentes tipos de estratégias e de redes. A principal base empírica utilizada é uma
pesquisa com imigrantes brasileiros em Portugal realizada no ano de 2009.
Palavras-chave: Migração brasileira; Mercado de trabalho; Procura por emprego; Redes
sociais; Portugal.
Abstract
Portugal
This article addresses the theme of job search strategies among Brazilian immigrants in
Portugal. Its main objectives are, first, to understand the importance of social networks
in finding employment abroad, as an enabling mechanism of the migration process.
Second, to explore the hypothesis that, among international migrants, the “weak ties”
matter more than “strong ties” to get a job. Finally, to identify the variables - gender,
age, qualification, socio-professional insertion and type of employer, among others - Texto recebido em 9/5/2011 e
aprovado em 15/8/2011.
associated with different types of strategies and networks. The main empirical base
Catarina Egreja é licenciada
used for this study is a survey of Brazilian immigrants in Portugal carried out in 2009.
em Sociologia e mestre em
Keywords: Brazilian migration; Labour market; Job search; Social networks; Portugal. Economia Social e Solidária pelo
Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa do iul.
E-mail: <jpeixoto@iseg.utl.pt>.