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BRUNO FRÖHLICH
CURITIBA
2019
BRUNO FRÖHLICH
CURITIBA
2019
BRUNO FRÖHLICH
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Prof.° Dr. Alexandro Neundorf
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
_____________________________________
Professor 2 (Titulação e nome completo)
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
Curitiba, XX de XX de 2019.
AGRADECIMENTOS
Seria totalmente presunçoso afirmar que a escrita desta pesquisa é mérito apenas
meu. Obviamente, são diversos os fatores que levaram a conclusão desta monografia,
diretos e indiretos. Além disso, procuro ser realista em dizer que nem todos os que
deveriam estar presentes nesta página de agradecimentos, de fato, estão. Por isso,
procurarei me ater àqueles que tiveram um impacto mais direto neste ano de pesquisa,
com o perdão dos demais que foram tão importantes no desenrolar deste trabalho.
Primeiramente, agradeço infinitamente os meus pais, Jacó Alberto Fröhlich e Leni
Fröhlich, desde o começo de minha vida e meus estudos e, principalmente, durante a
graduação. Sem seus conselhos, ajuda e paciência, me é óbvio não ter chegado aqui.
Sei que posso contar com vocês para tudo, mesmo que, eventualmente, não concordem
com minhas escolhas. Sinto que vocês definem exatamente o papel de pai e mãe, e serei
eternamente grato por ser seu filho. Amo vocês.
Não menos importante, agradeço imensamente a minha esposa, Isabelle
Schimiguel Fröhlich. Este último ano (em que estive produzindo esta pesquisa) foi
bastante conturbado. Contudo, você sempre esteve ao meu lado e procurava me
incentivar, apoiar, acalmar, distrair e, principalmente, amar. Seu companheirismo é algo
surreal, e sou eternamente grato por te ter ao meu lado todos os dias. Sua presença foi
e é fundamental em minha vida, e sou extremamente feliz por ser seu esposo. Amo você.
Também primordialmente importante a esta pesquisa é meu irmão, Thiago Fröhlich.
Mal tenho como colocar em palavras o quanto seu apoio me ajudou durante esta
pesquisa, ademais em minha vida. Nossas conversas, seus conselhos e sabedoria me
inspiraram (e inspiram) imensamente, sendo peça essencial desse processo de
graduação. Obrigado por tudo. Amo você.
Me sinto também no dever de agradecer aos meus amigos, tanto os que possuem
relação de sangue, quanto os que fiz durante a vida: Lucas Melniski; Yan Guilherme de
Oliveira Jardim; Guilherme Alves Rosa; Rafael Souza; Tathiane Jolandek; Ramon
Machado; Matheus Oliveira; Rodrigo Rodrigues; Lilian Dias Fröhlich; Matheus Robert
Santana Schon; Vinicius Moreira; Paulo Henrique Souza; Leandro Kaminski.
Possivelmente eu tenha esquecido de algum nome, mas se você já fez parte de meu
cotidiano, saiba que também faz parte deste trecho. Não tem como medir a importância
que vocês tem e tiveram em minha vida, e neste processo de graduação também. Mesmo
passando por fases de afastamento, saibam que nunca serão esquecidos por este que
vos fala, e que cada conversa, conselho, e risada, foram essenciais para que eu seja a
pessoa que sou hoje. Agradeço-os infinitamente, e contem comigo para tudo que eu
possa ajudar, pois estarei à disposição. Amo todos vocês.
Por último, mas não menos importante, agradeço a todos os docentes que
passaram por minha vida, e ajudaram a desenvolver meu capital simbólico. Do ensino
básico ao superior, principalmente a meu orientador Alexandro Neundorf, meus sinceros
agradecimentos.
RESUMO
Keywords: Cultural History. Representation. Discourse Analysis. Cold War. Heavy Metal.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 8
FONTES ....................................................................................................................................... 86
INTRODUÇÃO
do conflito da Guerra Fria, inseridos no discurso musical do Heavy Metal. Quais seus
elementos principais, quais as características comuns entre as músicas, como o tema
musical é abordado e qual seu objetivo. O discurso e as representações culturais serão
pequenos reflexos e facetas que compuseram o imaginário social do conflito entre 1945
a 1991, aproximadamente.
No primeiro capítulo, justifica-se o campo de estudos e as metodologias, quais
serão utilizadas para a análise do período em questão através das fontes musicais.
Assuntos como cultura, História Cultural, conceitos de Representação e Análise de
Discurso serão aprofundados para que o campo de pesquisa presente e a metodologia
científica seja esclarecida.
Na segunda parte, serão apresentados os temas históricos desta pesquisa: o
Heavy Metal e a Guerra Fria. Através de uma análise historiográfica, os dois produtos
abordados passarão por um enfoque cultural, de forma a esclarecer suas características.
Primeiramente, o Heavy Metal será alvo da pesquisa, onde se procurará buscar suas
raízes, e, posteriormente, cristalização e diversificação, criando-se subgêneros e, entre
eles, o Thrash Metal. A partir disto, o conflito bipolar da Guerra Fria será analisado, de
forma a preencher lacunas políticas, econômicas, sociais, culturais e sociais.
O terceiro capítulo é dedicado à análise de exemplos de obras musicais presentes
no Heavy Metal e Thrash Metal. Músicas de bandas como Black Sabbath, Exodus,
Metallica, Megadeth, Sodom e Kreator serão alvo desta monografia. As canções serão
tratadas como fontes primárias da Guerra Fria, e serão destrinchadas suas
características comuns, as representações presentes no discurso e na melodia em geral
(somando-se aspectos rítmicos, sonoros, harmônicos, etc.), que remetem ao conflito.
Por fim, esta pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância que a análise
de produtos culturais tem com a historiografia. A representação que estas podem possuir
em seus discursos são de muito valor, já que ultrapassam barreiras cujos documentos
oficiais (por exemplo) possuem, devido sua composição crua. A música, como qualquer
outro documento, possui discurso ideológico, mas consegue trazê-lo de forma que
provoque sentimentos e sensações que ampliam o caráter político do documento,
aludindo ao social e, como analisado posteriormente, de forma cultural.
10
1.1 CULTURA
Não se pode descartar o papel histórico presente para conceituar-se cultura. Não
há civilização sem cultura, logo a cultura está constantemente em transformação e
adaptação. Cultura é algo facilmente variável de pessoa para pessoa. Ou seja, além de
ser algo visto de maneira macro e de fácil definição como “Ocidental” ou “Oriental”, há de
se levar em conta que o cotidiano de uma pessoa é influenciado pela família, pela região
em que reside e quais instituições frequenta, sua classe social, etc. Logo, um conceito
simples de cultura está presente no Dicionário de Conceitos Históricos:
instaurada e será responsável por transformar aquela civilização, como observado por
Carl Emil Schorske:
1.3 REPRESENTAÇÃO
Desta forma, pode-se observar que inúmeros grupos sociais podem ser estudados
a partir da análise das representações, através de como tais conjuntos associam uma
mesma imagem a um mesmo valor simbólico. Como já discutido anteriormente, a cultura
é algo extremamente complexa e, portanto, cabível de inúmeros objetos que podem
possuir representações semelhantes para um determinado grupo social. Ou seja, como
isso pode ser transmitido na hora de analisarmos o poder representativo dos objetos de
um rei, como a coroa, cetros e objetos que simbolizam poder. Nisto, é comum que um
símbolo seja capaz de ser analisado e compreendido para uma grande parcela de
indivíduos através de como ele é representado, usado e pensado. Isto se dá através de
mídias, livros, textos, músicas e inúmeros objetos populares que moldam uma
representação social. A música, por exemplo, é algo contemporâneo que pode carregar
consigo uma carga representativa enorme, traduzindo processos permeados de tensões
sociais, lutas culturais e clivagens históricas (NAPOLITANO, 2002, p. 49).
Entretanto, a representação também pode ser utilizada como meio de analisar a
visão de realidade de um grupo que nem sempre é maioritário ou que pode impor sua
visão de mundo à sociedade. Ou seja, através de noções de representação, podemos
ver o mundo através de grupos minoritários, que muitas vezes podem sofrer com
representações sociais violentas, em que determinado grupo se impõe através de um
exercício de dominação graças à violência simbólica (CHARTIER, 2011, p.22). Um
exemplo disso são as formas simbólicas que o homem atribui a diversos comportamentos
culturais e/ou sociais, que visam diminuir o sexo oposto ou algum outro gênero que seja
alheio ao majoritário de uma determinada sociedade. Como enfatizado por Peter Burke:
A partir disso, observa-se que a linguagem não é algo transparente, já que carrega
visões ideológicas da realidade. Logo, a análise de discurso pretende sopesar a
materialidade simbólica própria e significativa de um discurso, ou seja, como ele significa
(SILVA, 2006, p. 16). O discurso é uma atividade produzida entre aquele que o produz e
o que o recebe, aquele que lê ou escuta.
Através disto, o indivíduo é capaz de produzir e reproduzir aquilo que ele entende
como a realidade, ou seja, a maneira a qual o mesmo enxerga o mundo. Por meio da
linguagem, o homem transforma a realidade em que vive e a si mesmo. O homem
constrói a existência humana, ou seja, confere-lhe sentido (SILVA, 2006, p. 16). Com isto,
é importante ressaltar que todo indivíduo é um produto de seu tempo e, logo, produz um
modo de pensar compartilhado por uma determinada cultura, mesmo que esta mesma
20
Heavy Metal, o qual globalizou-se na década de 70, onde João Matheus Perelló assinala
que
correntes como o Punk e subgêneros, como Thrash Metal, Folk Metal, Doom Metal e etc.
Como toda representação cultural, o Heavy Metal vem carregado de ideologias sociais,
21
letras, da sonoridade, do ritmo, as imagens dos álbuns, pôsteres, cartazes, vídeos, DVD’s
Portanto, o objeto a ser analisado nesta pesquisa são músicas do gênero Heavy
Metal. Serão comparadas ao contexto da Guerra Fria, observando como o seu caráter
letra, ritmo, tom, harmonia. Músicas como: Electric Funeral, quinta música do álbum
Paranoid, da banda Black Sabbath; War Pigs, do mesmo álbum, do Black Sabbath;
Children of the Grave, quarta música do álbum Master of Reality, também do Black
Sabbath; Fight Fire with Fire, primeira música do álbum Ride the Lightning, da banda
Metallica; Set the World Afire, segunda música do álbum So Far, So Good… So What!,
da banda Megadeth.
letras/vocais, ambientado por uma sonoridade geralmente composta por guitarras, baixo
e bateria que delineiam um clima pesado para a melodia, acompanhados por ritmos ora
lentos, ora frenéticos que seguem uma linha de raciocínio com a letra da música. As
músicas estão situadas no recorte temporal dos anos 1970 a 1989, no decorrer do
contexto político de plena Guerra Fria, o que acaba sendo retratado nas canções que
programas que tenham a função de reproduzir conteúdo sonoro, como o Spotify, Deezer
e Soundcloud.
articulação entre “texto” e “contexto” para que a análise não se veja reduzida, reduzindo
Fria, estudado nesta pesquisa, e será um dos focos desta análise no quesito que
sentimental e emotivo dos instrumentos musicais. Logo, através da análise destas fontes,
composições. Serão analisados componentes que fazem ligação direta e indireta entre
conflitos, poderio bélico (nuclear, principalmente) e, através disso, analisadas quais são
o medo e o frenesi das batalhas e conflitos, o medo do fim do mundo devido a uma guerra
devastador, das políticas de generais e demais personagens políticos. Além disso, a ideia
Através disto, percebe-se que a música é algo que possui diversas características,
no quesito de que, apesar de sempre estar presente em toda a história da humanidade,
cada civilização produziu um (ou vários) estilos musicais diferentes, sendo representados
culturalmente e que expressam individualidades próprias, e que, entrando em contato
com outros tipos de músicas de diferentes povos, apropria-se de fatores musicais de
outros povos e estilos. Até hoje é comum o uso de canções para a religião. Costumam
utilizá-la de forma ritualística, criando ritmos e harmonias com um tom expressivo,
conectando-se ou aproximando-se de divindades. Devido a seu fator harmônico e rítmico,
tende a ser de fácil compreensão por seus ouvintes, os quais absorvem a melodia e a
mesma tem o poder de permanecer na cabeça de quem a escutou por um longo período,
sendo repetida mesmo que o indivíduo não perceba. Como observado por Lucas Taoni:
Como já dito anteriormente, toda civilização possuiu e possui seus próprios estilos
musicais diferentes. Além disso, com a globalização e a rápida transmissão de
informações que a internet proporcionou, a gama de músicas as quais podemos ouvir
estão muito mais amplas. Ou seja, um brasileiro pode ter facilmente contato com uma
música britânica, norte-americana, ou francesa, por exemplo. Logo, produtores musicais
de um certo estilo musical também podem e são influenciados por estilos diferentes,
recriando-os em seu local de origem. O Heavy Metal, estilo proposto nesta pesquisa, foi
influenciado principalmente pelo jazz e rock norte-americanos, mas teve suas primeiras
aparições no Reino Unido. Conforme esta linha de análise, o sentido das obras musicais
é o produto de convenções socioculturais, portanto, não são “efeitos naturais” e
intrínsecos à obra musical (NAPOLITANO, 2002, p. 32). Além disso, a música está
intimamente ligada a um grupo específico, a uma mentalidade, a uma realidade. Ela pode
ser usada para entender melhor uma determinada época e trazer à tona subjetividades
as quais documentos oficiais podem não deixar tão claros, abrindo um leque maior de
oportunidades de estudo acerca de uma determinada época. Dito isto, a música de uma
determinada região e de um determinado período possui as características próprias
destes, sendo expostas em forma de canção.
tensões sociais, conflitos bélicos, fatores culturais, econômicos e políticos através de uma
pequena letra musical, um ritmo e uma harmonia sonora. A música, sobretudo a popular,
pode ser compreendida como parte constitutiva de uma trama repleta de contradições e
tensões em que os sujeitos sociais, com suas relações e práticas coletivas e individuais
e por meio dos sons, vão reconstruir partes da realidade social e cultural (MORAES, 2000,
p. 212).
Apesar da música urbana, principalmente contemporaneamente pois a informação
mundial é de fácil acesso, ter a capacidade de refletir alguma sociedade longínqua, é
impossível que ela possa traduzi-la de forma completa ou objetiva. Como a maioria das
especificidades culturais, elas representam uma determinada região, sendo esta mínima
ou ampla, como todo o Ocidente, em algumas de suas características que possam ser
efeitos de crises econômicas, tensões políticas ou sociais, legado cultural ou diversos
outros fatores. Como observado por Marcos Napolitano:
Seu poder de reflexão ideológica, cultural, social e política é um material que pode
ter uma profunda importância historiográfica, se for analisado metodologicamente, com
cuidado e sem cometer anacronismos, sendo feitas as perguntas certas a estes
documentos. É um material de fácil acesso pois, presente em diversos sites na internet e
aplicativos de celulares, podem ser acessados e encontrados sem transtornos,
representando um conjunto cultural enorme, o qual possui mentalidades, tensões,
conflitos políticos, sociais, econômicos, sendo um material historiográfico importante que
foge do tradicionalismo, podendo nos revelar visões de mundo diferentes, aprofundando-
se certos períodos e fatos históricos.
26
É fato que, ainda anterior a Black Sabbath e Led Zeppelin, já haviam bandas que
possuíam em sua estrutura musical traços que são facilmente encontrados em bandas
consideradas Heavy Metal. São comumente chamadas de “proto metal”, por possuírem
fatores muito próximos ao gênero, mas que por algum motivo melódico não são
consideradas de fato bandas de metal. Como observado por William Phillips e Brian
Cogan:
1
Tradução livre do autor. No original: With Jimmy Page’s charismatic flights of the fretboard, Robert Plant’s
highpitched vocals, and Bonzo’s (John Bonham’s) drums of thunder, the band provided the text that others
would follow.
2
Tradução livre do autor. No original: Histories of heavy metal also tend to vary according to where and
when they were written. For instance, the title for which was the first real heavy metal band is a contest
between Led Zeppelin and Black Sabbath. Americans tend to pull for Led Zeppelin, a band that has been
popular in the United States for more than twenty years, but the British favor Black Sabbath.
27
3
Tradução livre do autor. No original: For the purposes of this book, we have set a timeline as to when metal
was “founded” and argue that the true founding fathers of heavy metal are Black Sabbath and Led Zeppelin,
respectively, and that bands that came before them such as Blue Cheer are proto-metal because they lacked
some elements of heavy metal.
4
Tradução livre do autor. No original: High volume, a wailing guitar, a booming bass drum, a heavy bass
guitar line, and screaming vocals combine to release a vital A power that lends its spirit to any lyrical theme.
5
Tradução livre do autor. No original: Then came the breakthrough—the spontaneous creation of the song
“Black Sabbath.” It was a pivotal new beginning for the band and fundamental to all heavy metal forever
after. Here was a song based on only three tones, two of them D notes. Recounting the crisis of judgment
day with fearsome suspense its narrator gasped: “What is this, that stands before me? Figure in black,
which points at me…” Floating on feedback drones, the dimensions of the song’s horror grew and galloped
into life at the climax, as doomsday ultimately consumed the unwilling protagonist. It was a grim tale worthy
of Edgar Allan Poe, told through the new raven’s quills of guitars, drum, and crackling microphone.
28
O período entre 1979-81 foi marcado por uma explosão de novas bandas
de heavy metal britânicas. O período se tornou conhecido como a Nova
Onda de Heavy Metal Britânico (NWOBHM). Nenhuma música ou estilo
lírico era associado à Nova Onda: cada banda tendia a ser única. O que
6
Tradução livre do autor. No original: Regardless of which critic first used the term or introduced it to common
parlance, it was clearly in use by the early seventies and soon became widely accepted as a name for the
new genre of “heavier” music produced by bands such as Black Sabbath and Led Zeppelin.
29
7
Tradução livre do autor. No original: The period 1979-81 was marked by an explosion of new heavy metal
bands on the British scene. The period became known as the New Wave of British Heavy Metal
(NWOBHM).S6 No single musical or lyrical style was associated with the New Wave: each band tended to
be rather unique. What all the new bands did share was a general heavy metal sensibility, along with
youthfulness and a strong emphasis on visual elements.
8
Tradução livre do autor. No original: In February 1980, Iron Maiden performed “Running Free” live on Top
of the Pops, then, in May, released its self-titled Iron Maiden album. British heavy metal was ready for prime
time—a rush of simultaneous albums appeared. Sharing the spotlight was Saxon’s Wheels of Steel,
achrome-plated collection of solid, neck-breaking delights. Def Leppard, a group of teenagers from Sheffield,
debuted with On Through the Night, tempering their raw exuberance with melodic Thin Lizzy—style guitars.
Then Motörhead released Ace of Spades, the most essential of its early speed bursts, revealing the secrets
of Lemmy’s immortality with tales of sexual conquest and life on the road. Severing connections to the past,
this impressive slate of albums brought relentless heaviness with flashes of weightless euphoria— together
they formed the nucleus of the NWOBHM universe.
30
9
Tradução livre do autor. No original: This period of growth, finally, results in a rich diversity that crystallizes
into fragments and subgenres after 1983.
10
Tradução livre do autor. No original: From Sabbath came heavy metal, which doubled in intensity and
became power metal, then twisted into thrash metal. From there the music crossed paths with other forms
to spawn black metal, create the unbelievable refinements of death metal, and fuse with every other sort of
music, finding itself perpetually reborn.
31
O Heavy Metal, sendo produzido dentro de uma sociedade é, assim como qualquer
outro produto sociocultural, resultado de diversas influências musicais, sociais e culturais
da época. Tais influências são perceptíveis em diversos aspectos e características que
11
Tradução livre do autor: No original: erupted in California in 1981 – 83 with the formation of groups such
as Metallica in Los Angeles area and Exodus in San Francisco.
12
Tradução livre do autor. No original: The term thrash metal refers to a sped-up version of heavy metal that
is defined by beats played in much the same tempo as those played in the mid-eighties by hardcore punk.
Although some critics argue that thrash metal refers essentially to the same music as speed metal, some
metal fans and bands would be careful to make a distinction between the two terms (as well as other close
terms such as black metal and grindcore).
32
13
Tradução livre do autor. No original: Jimi Hendrix and the Beatles often wrote songs that pointed toward a
heavy break, a bridge between melodies that tried to resolve conflicting emotions and ideas. The “metal” in
heavy metal put a steely resilience to that struggle, an unbreakable thematic strength that secured the
tension and uninhibited emotion. As ordained by Black Sabbath, heavy metal was a complex maelstrom of
neurosis and desire.
33
14
Tradução livre do autor. No original: The primary chord form in blues music and most rock is a barre or
power chord, meaning a chord whose voicing is composed of the I (the root) and the V (fifth) with an octave
of the root often added. This power chord is so named for the powerful and simple sound it produces. It also
sounds particularly good when played with amp distortion since it lacks the other chord tones such as sixths,
sevenths, and others that would produce more dissonance with a distorted tone. While the sound of distorted
power chords may be found in numerous idioms of rock music, that sound itself is perhaps the sonic focus
of heavy metal.
15
Tradução livre do autor. No original: Heavy metal derived its basic song structure, its fundamental chord
progressions, and its guitar riffs from the blues-rock tradition.
34
Por último, mas não menos importante, outro fator a ser destacado é a presença
de elementos do chamado psicodélico, na composição das canções de Heavy Metal,
onde os grupos procuravam dar um efeito “alucinógeno” à canção, podendo estar
presente em todos os instrumentos musicais da banda.
Fato muito perceptível também em concertos, onde muitas bandas abusavam de
luzes, imagens e fantasias para criar um ambiente psicodélico. A fonte psicodélica do
heavy metal é perceptível nos primeiros trabalhos de artistas que posteriormente
adotaram convenções do gênero heavy metal. Judas Priest, uma banda que por
unanimidade resume-se como heavy metal, começou como sendo uma banda
psicodélica. [...] Lemmy Kilmister, originalmente com a banda psicodélica britânica
chamada Hawkwind, criou o Motorhead em 1976. Motorhead é uma é banda de heavy
metal de estilo rápido que ainda continua forte17 (WEINSTEIN, 2000, p. 17)18.
É claro que seria presunçoso afirmar que estas são as únicas influências presentes
no Heavy Metal. Podem existir infinitos fatores que acabaram contribuindo para a
existência deste estilo musical, como algum fator local que influenciou determinada
banda ou integrante, situação que torna difícil a total compreensão da gama de fatores
que contribuíram para a criação de tal gênero.
Entretanto, algumas características são marcantes e mais facilmente observáveis,
as quais foram ofertados nesta monografia, procurando instigar a curiosidade dos leitores
e, possivelmente, futuras pesquisas que aprofundem o tema.
16
Tradução livre do autor. No original: While our contemporary experience of classical music is largely in a
recorded form and studiously performed in a carefully preserved tradition, many classical composers were
in fact live performers who also incorporated improvisation into their performances, a tradition that musicians
like Malmsteen and Rhoads may have done more to carry on than many contemporary classical musicians
who may feel more bound by more conservative classical performance traditions.
17
A banda Motörhead acabou em 2015, devido a morte do líder da banda, Ian Fraser Kilmister (conhecido
como Lemmy Kilmister).
18
Tradução livre do autor. No original: The psychedelic source of heavy metal is discernible in the early work
of artists who later adopted the conventions of the heavy metal genre. Judas Priest, a band that is
unanimously judged to epitomize heavy metal, began as a psychedelic band. […] Lemmy Kilmister, originally
with a British psychedelic band called Hawkwind, began Motorhead in 1976. Motorhead is a fast and very
heavy metal outfit that is still going strong.
35
19
Tradução livre do autor. No original: To metal fans, heavy metal is not just a genre of music to listen to; it
is also akin to a way of life, one that provides a sense of belonging and meaning
20
Tradução livre do autor. No original: When heavy metal is called a musical genre in this study the term
"music" is used broadly to include not only arrangements of sound, but other aesthetic and signifying
elements that support the sound, such as visual art and verbal expression.
21
Tradução livre do autor. No original: When the Beatles launched, their tiny amplifiers could not be heard
over the screaming crowds. By the early 1970s, manufacturers like Marshall, Orange, and Sunn founded
36
an industry that pushed the tolerances of vacuum tubes, creating vast acoustic possibilities through the
deafening roar of guitars
22
Tradução livre do autor. No original: The essential sonic element in heavy metal is power, expressed as
sheer volume. Loudness is meant to overwhelm, to sweep the listener into the sound, and then to lend the
listener the sense of power that the sound provides. [...] At concerts the stage is loaded with stacks of
amplifiers so that the decibel level of the instruments can be raised to the Iimit.
23
Tradução livre do autor. No original: Headbanging refers to the rocking back and forth motion of the head
in time to the rhythm of the music when one is listening to heavy metal music.
24
Tradução livre do autor. No original: The practice consists of members of the audience coming together in
a large area on the concert floor in front of the stage, usually called “the pit,” and ritualistically bouncing off
each other in a manner reminiscent of punk slamming, only occasionally more violent.
37
ocorrem devido a outra razão presente em grande parte das músicas do gênero: sua
composição sinistra, macabra, catastrófica, conflitante, que combinados com o alto
volume, formam a única alternativa de se apreciar a música de forma dançante.
Observado por Ian Christie:
Tais fatores obscuros e sinistros são observados tanto nas ilustrações dos álbuns,
quanto nos nomes das bandas, seus logos, suas letras, melodia, e na canção por
completo. Uma olhada aos nomes de centenas de grupos de heavy metal mostra alguma
uniformidade de significações e sensibilidade. Uma porção significativa de nomes
evocam imagens sinistras. Temas como o caos e um mal cósmico são predominantes
(WEINSTEIN, 2000, p. 33)26.
Além disso, uma característica notável do heavy metal é a presença majoritária de
fãs do sexo masculino, onde a presença feminina é consideravelmente menor. Devido à
baixa proporção de representatividade feminina, consequentemente o ambiente em
concertos e eventos de Heavy Metal acabam por se tornarem misóginos, além de
preconceitos com outras minorias, como, por exemplo, acerca da comunidade LGBT.
25
Tradução livre do autor. No original: [...] the front cover of Black Sabbath depicted a dilapidated English
cottage overgrown with barren brush, partially obscuring the image of a pale green enchantress. The interior
of the album’s gatefold sleeve contained few details beyond a grim gothic poem inscribed in a giant inverted
crucifix: “Still falls the rain, the veils of darkness shroud the blackened trees, which contorted by some
unseen violence, shed their tired leaves, and bend their boughs toward a grey earth of severed bird wings.
Among the grasses, poppies bleed before a gesticulating death, and young rabbits, born dead in traps,
stand motionless, as though guarding the silence that surrounds and threatens to engulf all those that would
listen…
26
Tradução livre do autor. No original: A glance at the names of hundreds of heavy metal groups shows
some uniformities of signification and sensibility. A significant portion of the names evoke ominous images.
Themes of mayhem and cosmic evil are prevalent.
38
Entretanto, roupas diferentes podem atrair atitudes misóginas, onde mulheres que
se vestem em trajes “provocativos”, como minissaia e salto alto, são denunciadas como
vagabundas esperando para fazer sexo com a banda ou são vistas tão detestavelmente
como poderiam ser observadas pelos mais machistas trabalhadores de construções
(WEINSTEIN, 2000, p. 105)29. Apesar disto, o Metal tem em sua estrutura o senso de
27
Tradução livre do autor. No original: Unlike other genres such as dance music, there are few minority
members of the metal scene, few female bands, and few openly gay members of the scene. Misogyny is
certainly a problem in the scene, and homophobia, especially in the black and death metal scenes, has led
to several high-profile murders
28
Tradução livre do autor. No original: The metalhead moniker is often bestowed on those fans (by
themselves or by others) who not only listen to the music as much as possible but also label themselves as
metal fans by wearing typical metal clothing such as denim or leather jackets, often festooned with
embroidered patches featuring the names or insignias of metal groups.
29
Tradução livre do autor. No original: women who dress in "provocative" attire, such as miniskirt and high
heels, either denounced as sluts waiting to have sex with the band or are ogled as obnoxiously as they
might be by the most chauvinistic construction workers
39
liberdade, de não deixar que outros ditem as regras, o que é facilmente relacionado à
rebeldia. Isto atraiu certo público feminino, e além de fãs, surgiram também grupos
musicais formados apenas por membros do gênero, e também aumentou a participação
de mulheres em bandas de formação majoritária masculina. Seguindo pioneiras da
escola de garotas, esses músicos enfrentaram discriminação no mercado fonográfico,
mas lutaram através de machismo constante com a ajuda da mensagem autossuficiente
do metal (CHRISTE, 2010, p. 135)30.
Concluindo, a partir das reflexões aqui propostas, o Heavy Metal é um gênero
inconfundível, possuindo diversas características únicas que o levaram a ser da maneira
que é conhecido. Sua criação data-se em plena Guerra Fria, conflito entre as duas
ideologias das superpotências dominantes da época: a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas e os Estados Unidos da América. Este conflito, assim como o Metal, possuiu
características únicas pois moldou o mundo como ele é hoje, e, portanto, possui
resquícios muito fortes nos dias contemporâneos. E, assim como o conflito gerou
inúmeras tensões globais, as quais aparentavam a destruição mútua de ambos os lados
(ou até mesmo mundial), entre outros problemas observáveis no período, tais fatores são
muito encontrados no estilo sinistro e horripilante dessas canções.
30
Tradução livre do autor. No original: Following pioneers Girlschool, these musicians faced discrimination
in the record business, but fought through frequent chauvinism with the help of metal’s self-sufficient
message.
40
Ditadura, os integrantes desta batalha procuravam propagar uma ideia pejorativa do seu
oponente, fortalecendo a influência de sua ideologia.
era apenas questão de tempo para que a potência do Oeste empurrasse as defesas
alemãs de volta à sua terra natal, derrotando o Império Alemão em 1918.
Com isto, duas regiões importantes do mundo passam a ser vistas de maneira
duvidosa para com as potências do ocidente. O antigo império russo, transformado em
União das Repúblicas Sovietes em 1922, pelos bolcheviques, e a Alemanha, que criaria
um sentimento de vingança contra os tratados impostos à sua derrota.
Após o fim da guerra, os Estados Unidos acabaram por aumentar ainda mais seu
poder político e econômico mundial. Credor das potências que sofreram diretamente com
os danos da guerra, tornou-se uma nação desigual no mundo. Como potência distante
dos conflitos, o país pôde fornecer material bélico, alimentos e matérias-primas para os
aliados europeus (MAGNOLI, 2006, p. 359). O que não era esperado foi que, com um
poder econômico enorme, a potência americana pudesse quase vir ao colapso em 1929,
e menos esperado ainda foram as suas consequências. O período foi marcado pelo fim
da ideologia do Liberalismo econômico, devido à quebra da bolsa de valores de Nova
43
Além disso, foi uma época em que o anticomunismo tornou-se ainda mais forte, já
que que todas as potências capitalistas se encontravam, no mínimo, estagnadas, e a
potência comunista mostrava-se forte, com um avanço industrial significativo. O trauma
da Grande Depressão foi realçado pelo fato de que um país que rompera
clamorosamente com o capitalismo pareceu imune a ela: a União Soviética. Enquanto o
resto do mundo, ou, pelo menos, o capitalismo liberal ocidental estagnava, a URSS
entrava numa industrialização ultrarrápida e maciça sob seus novos Planos Quinquenais
(HOBSBAWM, 1995, p. 81).
A ascensão do fascismo na Europa caracterizou uma época de profundo
descontentamento com as políticas econômicas liberais e um crescente anticomunismo.
Além disso, no caso da Alemanha, o nazifascismo, devido principalmente ao sentimento
44
de vingança em relação à paz punitiva que a nação foi vítima, estabeleceu e desenvolveu
uma série de preconceitos étnicos, raciais e de gênero.
Logo, com o aparecimento fascista no poder de certas regiões da Europa, o mundo
também logo foi tomado por uma onda antifascista que denunciava o sistema político. O
maior exemplo destes foi a União Soviética, que tratou de combater os fascistas,
financiados principalmente pela Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler, de derrubarem
a República da Espanha, na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Neste período, apesar
de paradoxal, as democracias ocidentais não fizeram muitos esforços para impedir o
avanço da ideologia fascista, e o comunismo viu-se como a principal ideologia antifascista.
Entretanto, o fracasso em combater as forças fascistas acabou por gerar o Pacto
Molotov-Ribbentrop, um tratado de não-agressão com cláusulas secretas de divisão da
Polônia e dos Estados Bálticos (MAGNOLI, 2004, p. 86) entre as duas potências, sendo
uma vantagem enorme para a Alemanha quando, no mesmo ano, estoura a Segunda
Guerra Mundial, já que esta não precisaria se importar com um inimigo em sua frente
oriental, podendo focar todo seu poder bélico no ocidente. Seus principais marcos, muito
bem apontados pelo historiador Eric Hobsbawm, devem-se a:
Com isto, e com uma inovação na política de guerra alemã com o uso da chamada
“blitzkrieg” (guerra relâmpago), a potência nazista viu-se com um poderio militar superior
45
função determinar os novos regimes políticos que seriam implantados nas regiões
derrotadas, e também eliminar qualquer resquício de política e propaganda nazista na
sociedade. Como esclarecido pelo historiador Demétrio Magnoli sobre Potsdam e Yalta,
respectivamente: “O centro das discussões foi a organização da administração da
Alemanha derrotada. Decidiu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro zonas de
ocupação militar, administradas pelas potências vencedoras (Estados Unidos, Grã-
Bretanha, França e União Soviética). Os ocupantes deveriam cumprir um programa de
erradicação completa das estruturas nazistas e realizar reformas voltadas para a
democratização da sociedade alemã. As medidas concernentes ao conjunto do território
seriam tomadas em comum acordo (MAGNOLI, 2004, p. 88). Nessa reunião histórica,
reorganizaram-se fronteiras soviéticas e foram estabelecidas as bases dos novos
regimes políticos a serem implantados nos satélites nazistas e países ocupados pela
Alemanha, na Europa centro-oriental (MAGNOLI, 2004, p. 87).
Para a URSS, a guerra teve como consequência um grave desastre econômico.
Apesar de ter representado uma peça fundamental para a derrota das forças nazistas,
sendo responsável por enfraquecer o poderio bélico na frente ocidental já que, após a
Batalha de Stalingrado, Hitler viu-se obrigado a enviar grandes números de suprimentos
e tropas para o lado oriental, a posição de URSS nesses anos era de grande fraqueza.
Para o país, a guerra foi um imenso desastre econômico acompanhado de uma perda de
vidas tão penosa que sua extensão total não foi divulgada (CALVOCORESSI, 2011, p.
21). A invasão nazista em seu território acabou por destruir grande parte da eficiência de
suas indústrias, além de que o principal objetivo da industrialização soviética estava
voltado à produção bélica, produto que não mais serviria para o enriquecimento da
mesma. O efeito econômico líquido da guerra foi inteiramente negativo.
Nisto, a URSS via-se ameaçada pela sua rival ideológica, os Estados Unidos.
Estes, ao contrário dos soviéticos, tiveram seu poder econômico pós-guerra
47
extremamente enriquecido, pois, assim como na Primeira Guerra, além de não estarem
ligadas territorialmente à guerra, serviram de principal credor bélico para as nações
europeias que estavam diretamente ligadas ao conflito. Sua taxa de crescimento nas
duas guerras foi bastante extraordinária, sobretudo na Segunda Guerra Mundial, quando
aumentou mais ou menos 10% ao ano, mais rápido que nunca antes ou depois
(HOBSBAWM, 1995, p.45). Logo, a nação vermelha viu-se extremamente perturbada
pela sua rival ideológica, e sua melhor resposta a estes fatos seria um isolacionismo,
fazendo ligações econômicas importantes apenas com sua própria região de influência.
Do ponto de vista soviético, a vitória na guerra era a oportunidade para erguer uma
poderosa muralha geopolítica ao longo da fronteira ocidental do “império vermelho”. A
criação da esfera de influência no Leste Europeu pouco tinha que ver com a ideia da
expansão do comunismo, embora esse pretexto pudesse ser utilizado com vantagens
perante a opinião pública comunista (MAGNOLI, 2004, p. 101). Os EUA, receosos do
avanço revolucionário comunista além do centro e leste da Europa, adotaram medidas
para barrar a influência ideológica da URSS. Essas medidas são caracterizadas pela
ajuda econômica que a superpotência norte-americana daria às nações europeias, para
a reconstrução de seus domínios.
Nesta ocasião, a Europa se viu dividida. O único país que ainda não possuía esta
clareza de divisão era a Alemanha, dividida em suas quatro partes geopolíticas que
ligavam diretamente a URSS com as potências ocidentais. Contudo, era apenas questão
de tempo. A Alemanha Ocidental, controlada pelas potências vitoriosas do ocidente, seria
de maior vantagem caso fosse reunificada e tivesse sua economia voltada ao caráter de
mercado transnacional, movimentando seu capital. Já para a URSS, sua política
econômica seria muito mais vantajosa caso fosse ligada ao império vermelho. Logo, sua
48
31
Política norte-americana contra a expansão soviética.
49
desvantagem caso algum conflito direto contra os EUA viesse a surgir. A primeira bomba
atômica soviética foi testada apenas em julho de 1949, após o encerramento do Bloqueio
de Berlim (MAGNOLI, 2004, p. 114). Isso gerou pavor no lado ocidental, o qual viu-se
necessitado de ampliar ainda mais seu poder nuclear, gerando uma corrida armamentista
entre as duas superpotências.
Logo, duas potências antagônicas viam-se agora com um poder devastador, o qual
poderia, pelo menos sob os olhos amedrontados da época, destruir uma vasta região, ou
até mesmo causar a destruição mundial. Gerações inteiras se criaram à sombra de
batalhas nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer
momento, e devastar a humanidade (HOBSBAWM, 1995, p. 178). No entanto, apesar do
medo do ataque massivo causado pelo poder nuclear que ambas as superpotências
possuíam, nenhum dos dois lados realmente desejava arriscar um ataque à outra, visto
que resultaria apenas numa contraofensiva e na devastação destas, criando um equilíbrio
de terror. A situação do equilíbrio do terror não requer a paridade, mas a capacidade de
resposta devastadora ao primeiro golpe desfechado pelo inimigo (MAGNOLI, 2004, p.
115). Contudo, estas tensões políticas levaram a um debate sobre a restrição de testes
nucleares, devido a fatualidade de seus riscos que, além de extremamente destrutivos,
poderiam causar grandes problemas radioativos. Como observado pelo historiador Peter
Calvocoressi:
da Guerra Fria, é composto pela divisão entre os dois lados, mostrando assim o drama
real da “cortina de ferro”, a qual Churchill já havia feito declarações anteriormente, mas
relacionando-se à zona de países satélites que faziam fronteira entre a Europa ocidental
e oriental. A separação física gerou o símbolo mais dramático da Guerra Fria, o Muro de
Berlim, e da divisão da Europa em blocos geopolíticos antagônicos. A “Cortina de Ferro”
ganhava uma representação material extraordinariamente adequada, que dirigia os
holofotes para a bipartição da antiga potência da Europa central (MAGNOLI, 2004, p.
118). Todos estes acontecimentos acabaram por gerar uma enorme preocupação acerca
do real uso destas armas. Não seria vantajoso para nenhum dos lados a real utilização
de uma bomba nuclear, já que provocaria apenas destruição em massa de qualquer um
dos lados, direta ou indiretamente. Com isso, a diplomacia mundial fez uma série de
encontros visando o controle destes equipamentos, sugerindo propostas como parar sua
produção para evitar catástrofes. Além disso, a corrida armamentista das superpotências
foi uma catástrofe econômica sustentada pela psicologia da Guerra Fria
(CALVOCORESSI, 2011, p. 65). Logo, os dois países viram a necessidade de tratados
que viessem a controlar o poderio nuclear uma da outra. Durante vários anos foram feitos
acordos, os quais visavam sempre a vantagem de uma potência sobre a outra, e, ainda
mais, sobre outras nações de menor influência política mundial, para que estas não
pudessem chegar a um nível diplomático de respeito (ou temor) na geopolítica mundial.
Este conflito passa então a desmoralizar a até então tão disparada potência norte-
americana. Tendo reflexos diretos em sua economia e em sua população, a qual sofria
com a perda de diversos de familiares em uma guerra sangrenta, e que, a cada ano,
evidenciava a impossibilidade de vencer a guerra nas condições geopolíticas existentes
que restringiam a ação das forças terrestres americanas e sul-vietnamitas ao território do
Vietnã do Sul. As perdas humanas crescentes erodiam o apoio popular à guerra nas
selvas distantes da Indochina, impulsionando o movimento pacifista nos Estados Unidos
(MAGNOLI, 2004, p. 121). Um fato curioso é que este movimento tomou tamanhos
expressivos na população norte-americana, e geraram a intensificação da promoção de
produtos musicais que traduziam o sentimento de tensão provocado, principalmente, nos
jovens, durante este período. Os acontecimentos políticos mais dramáticos sobretudo
nas décadas de 1970 e 1980, foram as mobilizações da etária que em países menos
politizados, fazia a fortuna da indústria fonográfica, que tinha de 70% a 80% de sua
produção — sobretudo de rock — vendida quase inteiramente a clientes entre as idades
de catorze e 25 anos (HOBSBAWM apud HOBSBAWM, 1995, p. 253)
A longa duração do conflito e a derrota das tropas norte-americanas acabou por
enfraquecer os EUA, politicamente, socialmente e economicamente. Tendo em suas
53
mãos um poderio bélico que poderia gerar uma destruição em massa, não pode enfrentar
com êxito os adversários vietcongues, que dispunham de um poder militar industrial muito
mais fraco que o americano, apesar de possuírem suporte soviético no conflito. Tal fato
é observado na baixa do crescimento industrial americano e no enfraquecimento
econômico desta, como observado por Calvocoressi:
Nessa época, a URSS não tinha mais qualquer aspecto que a colocasse
à altura dos Estados Unidos. Seu império na Europa Central e Oriental
era insustentável, e a própria União estava ameaçada de desintegração
em todos os lados de seu núcleo eslavo. Ela não estava sem recursos
materiais, mas, mal-administrados e subequipados (com exceção de
algumas indústrias pesadas), eles não eram suficientes para alimentar o
povo nem para proporcionar um padrão de vida, satisfatório tampouco
para transformar a URSS em uma potência mundial (CALVOCORESSI,
2011, p. 79).
32
Tradução livre do autor. No original: Faced with an international crisis that only became accentuated as a
result of a typical Soviet silence in the first days of the accident and Sweden’s angry protests, the Gorbachev
regime adopted the policy of releasing information to the public in stages. One can surmise that at some
point immediately after the Soviet leadership received news of the accident, it made two decisions: first, to
hold back some of the details about the accident, in order to lessen the impact of an extraordinary event;
second, to mount an intensive propaganda campaign illustrating analogous and allegedly more frequent
nuclear accidents that had occurred in the West, evidently to place Chernobyl “in perspective” and to prevent
any sort of panic among Soviet citizens, who would be aware of some details sooner or later from foreign
radio broadcasts.
56
Por um lado, o fim da Guerra Fria foi uma vitória do capitalismo sobre o
comunismo, deixando o primeiro sem rival, mas o capitalismo estava
triunfante sem estar em boa saúde, e a destreza dos Estados Unidos em
um sistema capitalista era ambígua. Durante o período pós-guerra, houve
uma falha ou armadilha oculta na posição norte-americana. Uma recusa
firme a voltar ao isolacionismo e a combater o comunismo em escala
mundial tinha acarretado operações e gastos no estrangeiro em escala
não prevista, que só poderiam ser financiados por meio de uma expansão
proporcional das receitas estrangeiras: daí a insistência dos Estados
Unidos no desmantelamento da proteção imperialista e no livre comércio,
geralmente nos melhores termos que o dólar pudesse conduzir
(CALVOCORESSI, 2011, p. 76).
Outro fator importante da Guerra Fria foi o fim da antiga política imperialista que
sobreviveu devido às antigas potências europeias. O surgimento de uma nova ordem
política mundial, pós Segunda Guerra Mundial, enfraqueceu os laços do colonialismo,
gerando movimentos nacionalistas em diversas regiões do Terceiro Mundo e modificando
ainda mais o sistema político mundial. A Guerra Fria funcionou como moldura para o
processo de descolonização, que dissolveu os impérios coloniais erguidos entre os
séculos XVI e XIX. Esses impérios refletiam o poder e a influência de antigas potências
58
O presente capítulo inicia a análise das fontes selecionadas para esta monografia.
No quesito organização, as músicas serão destrinchadas uma a uma e estudadas de
modo mais completo possível, ou seja: a letra da música; seu ritmo; refrão; sua harmonia
instrumental e quais sentimentos ou sensações transmitem ao ouvinte. Muitas das
características presentes nas músicas serão comuns entre elas, justificando, então, que
partam de uma sintaxe geral presente no estilo musical.
A primeira canção a ser estudada é intitulada Electric Funeral. Foi produzida pela
banda Black Sabbath e lançada em 1970 no segundo álbum do grupo, intitulado Paranoid,
através da gravadora Vertigo Records. No nome da música é possível perceber uma
representação de uma das principais características da Guerra Fria: a bomba nuclear.
Electric Funeral, traduzido para o português seria algo como “Funeral Elétrico”, onde o
“elétrico” faz referência às bombas e toda a tecnologia bélica nuclear desenvolvida na
época.
A música é iniciada com o som extremamente distorcido da guitarra, gerando um
clima sinistro, perturbador, e seguido de forma lenta e rítmica pela bateria e baixo, que
trazem peso à melodia. Logo após isto, o vocalista, Ozzy Osbourne (1948 - hoje), começa
a cantar os primeiros versos da letra musical:
Reflexo no céu
Lhe avisa que você vai morrer
Vem a tempestade, é melhor você se esconder
Da onda atômica
Clarões no céu
Transformam casas em pocilgas
Transformam pessoas em barro
Mentes radioativas decaem
60
Com a entrada do vocalista na canção, sua voz junta-se ritmicamente aos outros
instrumentos musicais, mudando forma, porém mantendo seu tempo, acompanha o clima
sombrio e estranho introduzido logo aos primeiros segundos da música. Nascidos e
contemporâneos ao conflito bipolar, misturam de forma artística o imaginário social da
época com a melodia, representando-o através do estresse que o medo de um conflito
nuclear que parece aproximar. O primeiro verso da canção faz claramente uma referência
ao estouro de uma bomba, narrado em discurso de primeira pessoa, onde o indivíduo
conta o intenso brilho de imensa explosão causada pela bomba jogada a centenas de
metros acima da superfície terrestre. O segundo e terceiro verso mostram o nível
amedrontador que a canção quer impor ao ouvinte: um ambiente de vida ou morte. A
partir da quarta estrofe é que a referência clara a uma bomba nuclear é apresentada,
mostrando qual a razão de todo o clima gerado pela canção. Os versos a seguir procuram
mostrar a efetividade do poder destrutivo da bomba nuclear, a qual consegue eliminar
completamente tanto edifícios quanto indivíduos e possui um risco imenso à todo o
mundo se usada de forma muito intensa. O último verso também faz uma referência à
bomba, devido a seu alto poder radioativo e seus riscos irreparáveis, como já foi proposto
nos capítulos anteriores. Durante toda a estrofe permanece um ritmo sombrio de todos
os instrumentos musicais utilizados (guitarra, bateria, baixo e vocal), sem que nenhum
esteja se sobrepondo ao outro.
Com o fim desta primeira parte volta-se ao primeiro ritmo apresentado na música.
Contudo, com uma maior intensidade, mais agressiva, intensificando o clima tenso e
ligando a primeira estrofe com a segunda. A guitarra aparenta estar com o volume mais
alto, assim como a bateria, fazendo com que o ouvinte se sinta cada vez mais preso ao
ambiente sonoramente destrutivo e sinistro. Após isto, o vocalista torna à canção,
voltando o mesmo ritmo harmônico e melódico entre os quatro instrumentos, observado
na primeira estrofe:
Edifícios ruindo
No chão rachado da terra
Rios viram lama
Olhos derretem em sangue
Funeral Elétrico
Funeral Elétrico
Funeral Elétrico
Funeral Elétrico
E então, no céu
Brilha o olho elétrico
Rei sobrenatural
63
A próxima música alvo de análise desta pesquisa também foi produzida pela banda
britânica Black Sabbath. Children of the Grave, música que integra o terceiro álbum do
grupo (Master of Reality), foi lançada em julho de 1971 e gravado pela Record Plants em
Los Angeles - EUA. O título da música significa “Crianças da Sepultura”.
A canção inicia com a participação de um ritmo tocado pelo baixo e pela bateria.
Um som grave cujo ritmo permanece dominante durante os primeiros catorze segundos,
precedendo a introdução do som distorcido e pesado da guitarra que se junta
ritmicamente aos dois instrumentos musicais, cujo som se transforma num diálogo entre
os três instrumentos, provocando um clima de tensão, confusão e apreensão. Finalmente,
os três instrumentos unem-se num mesmo ritmo, onde o vocalista começa a narrativa de
uma história em discurso de primeira pessoa:
64
Esta primeira estrofe apresenta uma crítica à guerra, e tendo em mente que foi
gravada e lançada durante o período da Guerra do Vietnã, representando o discurso anti-
guerra e os movimentos pacifistas que ficaram populares nos Estados Unidos na década
de 1960. O movimento teve grande impacto e foi engrandecido pela cultura hippie, que
reflete um crescimento na desaprovação social em relação ao conflito e demonstrava um
profundo sentimento de oposição ao mesmo. Inovando pautas sociais e representando
uma nova esquerda política, defendiam pautas ambientais, anti-guerra, e de indistinção
de minorias na sociedade, entre outras. O segundo verso faz uma analogia entre o
marchar dos soldados com os atos de protestos que ocorreram, que foram capazes de
reunir uma grande camada populacional e enfraquecer pautas políticas que promoviam
o belicismo e, posteriormente, atingindo um forte descontentamento com o conflito,
contribuiu para a retirada das tropas norte-americanas do território vietnamita. O
movimento reunificava tudo aquilo que representava guerra e conflito sob a bandeira do
amor, procurando promover um sentimento de uma sociedade mais justa, igualitária,
empática, pensamento que apresentou uma grande oposição às políticas imperialistas
norte-americanas do recorte político e cultural pesquisado.
Pouco tempo após o vocalista entrar em um hiato, os demais instrumentos
retornam àquele ritmo confuso onde a bateria vem de todos os lados, acompanhando o
diálogo entre a guitarra e o baixo, promovendo um clima tenso e pesado para a música.
É interessante como o ritmo da música assemelha-se a galopes, cuja frequência evoca
a ideia de marchas, de movimentação. Novamente os três instrumentos se juntam no
mesmo tempo musical da primeira estrofe, antevendo a segunda:
A segunda estrofe sugere a influência que estas ideias citadas nos parágrafos
anteriores promoveram à sociedade da época, defendendo a luta social como forma de
protesto e oposição. Com isso, o cantor entra num estado de preocupação caso estas
pautas falhassem, sugerindo -assim como outras músicas do estilo são comuns em
descrever em suas letras- uma dúvida perante o futuro próximo da humanidade, pois o
imaginário social da época estava dominado pela apreensão em relação aos desastres
nucleares que já haviam acontecido e que pareciam cada vez mais próximos de
novamente aparecer. As décadas de 60 e 70, no auge da cultura hippie e o surgimento
do Heavy Metal respectivamente, despopularizaram fortemente o discurso que defendeu
a utilização das bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki, ao fim da Segunda Guerra
Mundial, sob a ideia de preservar soldados norte-americanos dos temores da guerra.
Contemporâneos a diversos conflitos promovidos pela política imperialista norte-
americana que interferiram diretamente nas nações do terceiro mundo, os quais minaram
e desmoralizaram, posteriormente, a política externa dos EUA e acabou gerando uma
grande indignação popular, quando finalmente em 1973 a impopularidade da guerra era
tanta que Richard Nixon, então presidente da potência ocidental, deu fim ao conflito da
Guerra do Vietnã, um ano depois de assinado um tratado limitando o número de mísseis
balísticos, contra um possível ataque de míssil com carga nuclear. Contudo, seis meses
após o acordo, os EUA se retiraram deste. Durante os versos “Deve o mundo viver / Na
sombra do medo atômico?” é possível analisar novamente o imaginário social que
pairava sob grande parte da população norte-americana do período, ainda que não
apenas limitado a estes. A corrida armamentista promovida pelas duas superpotências
globais gerou um sentimento anti-guerra, assim como instigou políticas que visassem o
desenvolvimento nuclear em diversos outros países, como a nacionalista França de
Charles de Gaulle, na segunda metade da década de 60.
66
O fim da estrofe representa a perda de força midiática da cultura hippie, que após
o Festival de Woodstock, em 1969, começou a limitar-se a ambientes mais reclusos,
saindo dos holofotes da mídia e provocando um clima de desilusão, um sentimento de
dúvida.
Outra vez em hiato do cantor, a guitarra e o baixo tornam a seu diálogo misterioso,
acompanhados pelo ritmo frenético da bateria, antecedendo um ritmo profundo e
melodicamente sinistro. A distorção da guitarra, o peso do baixo e o ritmo lento, mas
agressivo da bateria antecedem a terceira estrofe, narrada por Ozzy Osbourne:
Nesta terceira estrofe está a mensagem que a banda passou diretamente aos seus
ouvintes e fãs. O discurso presente demonstra o imaginário anti-guerra, cujo temor maior
era o apocalipse nuclear, fator observado nas outras canções analisadas nesta pesquisa.
Fortemente influenciado por pautas sociais reformadoras e revolucionárias, o Heavy
Metal de Black Sabbath mostrava em sua estrutura um ritmo tenso e sinistro, que
demonstra em sua essência o terror causado pela guerra. Climas obscuros, tensos,
frenéticos, confusos e eufóricos misturam-se em uma canção intensa, expressiva e
sentimental. Dito isto, é de se esperar que muitas de suas mensagens são, geralmente,
de pessimismo, mostrando um futuro apocalíptico e destruído por guerras. Um dos
principais elementos que sustentam a estrutura do Heavy Metal é a sensação medonha
que acompanha diversas músicas, mesmo que abordando outros temas. Digo isto pois,
ao fim da mensagem de Ozzy nesta última estrofe, a música se encaminha para um clima
de iminência, onde o baixo e bateria mantém um diálogo rítmico acompanhados por uma
guitarra veloz, chegando a um estado agudamente frenético que, por fim, precede um
estouro de uma bomba, ao fundo. Após o som abafado o qual a bateria acompanha, todos
os instrumentos saem de cena, sobrando apenas um clima fantasmagórico que sussurra
67
A terceira música analisada nesta pesquisa foi produzida pela banda norte-
americana Metallica, formada em Los Angeles no ano de 1981, como já mencionado
anteriormente. O título da canção é “Fight Fire With Fire” que, traduzido para o português,
significa “combata fogo com fogo”. A canção faz parte do segundo álbum do grupo,
chamado Ride the Lightning, e lançado em 1984 pela gravadora Sweet Silence Studios,
em Copenhague, na Dinamarca. O nome da música representa uma crítica ao conflito
bipolar do período, em que cada potência fornecia o material bélico para nações que
estavam inseridas fisicamente no conflito, promovendo regimes de interesse ao governo
norte-americano ou soviético, mantendo um constante embate de ofensivas e
contraofensivas. Além disso, é uma referência ao nível destrutivo e mortal dos conflitos,
que alimentavam um conflito diplomático, cultural, científico, tecnológico, econômico,
político e bélico. Portanto, ataque seria a única opção, e por isso a expressão “combata
fogo com fogo”. Além disso, é observável o paralelo que a frase tem com o
desenvolvimento do poder de fogo composto no arsenal nuclear produzido pela corrida
armamentista, tendo em vista o caráter extremamente ofensivo destes equipamentos
militares.
A melodia começa de forma calma, sem distorção. Contudo, antes de apontar o
primeiro minuto de música, a guitarra entra como um estrondo introduzindo um ritmo
frenético que é logo seguido pela bateria e baixo. Os três instrumentos juntam-se num
ritmo caótico e extremamente veloz, revelando a verdadeira face da música. Pouco
depois, o vocalista entra em cena acompanhando o ritmo dos demais instrumentos
musicais:
68
Reduzindo o universo
A nada
Guerra nuclear
Nos fará todos descansar
tanto a política usada pela parte ocidental para a demonização da potência oriental. Como
já visto, era comum que políticos contemporâneos à Guerra Fria utilizasse o argumento
de que a nação vermelha possuía também seu armamento nuclear, porém somando isto
a uma ilusória expansão soviética. Ilusória pois, apesar de a URSS apoiar movimentos
soviéticos que se levantavam ao mundo, a mesma não procurava expandir seu próprio
território e não atingia estes territórios de forma economicamente imperialista. Logo, não
existia um expansionismo da própria União Soviética, mas de sua ideologia. Além disso,
remete ao equilíbrio de medo citado pelo historiador Demétrio Magnoli, no capítulo
anterior. Esta parte tem seu fim com a frase “nós todos devemos morrer”, mais uma vez
demonstrando resquícios de um imaginário social temente da destruição global que um
conflito militar direto entre as duas potências poderia causar.
Após isto o cantor faz uma curta pausa, porém os demais instrumentos continuam
de forma frenética, quando novamente o vocalista se junta a estes:
e intenso. A bateria, com seu bumbo duplo, não deixa o clima de tensão cessar. Nisto, o
cantor torna novamente à canção, juntando-se ao ritmo dos demais instrumentos:
Fight!
A primeira estrofe desta última parte representa a iminência daquilo que causaria
a destruição massiva do globo, fator de medo que ronda toda a canção, representando
novamente o fim da humanidade, caso o conflito nuclear viesse a ocorrer. A música vai
encaminhando-se ao seu fim, e com a repetição do verso “combata fogo com fogo” de
modo cada vez mais intenso, o vocalista fortalece o sentimento de tensão presente em
toda a música, que chega ao seu fim com a sonora explosão de uma bomba nuclear.
Toda a música é tocada de forma intensa, frenética e veloz, onde cada instrumento
consegue passar ao ouvinte a essa sensação de tensão, mantendo-a sempre de acordo
com a mensagem presente na letra. O vocalista narra, em primeira pessoa, fragmentos
de um imaginário social, traduzindo o sentimento que é comum em todos os elementos
e instrumentos da canção: um imaginário de medo, intensificado pela possível destruição
causada por um conflito cuja única consequência parecia ser a aniquilação global.
And Then There Were None é o título da quarta música que integra o primeiro
álbum da banda Exodus, chamado Bonded by Blood. Gravado pela Prairie Sun Studios
e lançada em 25 de abril de 1985, acaba por se tornar um dos mais influentes álbuns de
Thrash Metal da história. A canção apresenta um som extremamente agressivo, capaz
71
de narrar cenas horripilantes e tocar de maneira tão brutal que leva uma energia frenética
ao ouvinte, cuja euforia é comumente vista em concertos da banda. O clima sinistro e
extremo que a banda produz, somado às narrações de letras como “And Then There
Were None” que, traduzido, significa “E Então Não Sobrou Ninguém”, remonta às
crueldades e horrores causados por conflitos militares.
A música começa com a introdução de uma guitarra pesada e distorcida que
mantém um ritmo acelerado. Após alguns segundos deste ritmo, a bateria e o baixo
juntam-se ao ritmo da guitarra, dando sustentação. Finalmente, dentro de pouco tempo,
o vocalista se integra aos demais instrumentos, narrando uma terrível história fictícia que,
infelizmente, possui reflexos de realidade:
suas consequências, seus horrores, e enfatizar que ninguém sai ganhando ou perdendo:
no final, não sobra ninguém. O cantor mostra as faces do apocalipse nuclear, tema
comum em diversas músicas deste gênero e enraizado no imaginário social daqueles
que vivenciaram as tensões desta temporalidade.
Na terceira estrofe é cantado um verso que conta sobre a destruição total de um
local, representando a camada terceiro mundista onde a belicosidade foi promovida pelas
duas superpotências mundiais. Contudo, o vocalista enfatiza, no segundo verso, que as
consequências serão globais, pois todo o mundo passa a ser afetado pela perversidade
nuclear. No terceiro verso, a história torna-se ambígua, porém acaba representando a
mesma coisa: o fim da humanidade. Pode-se interpretar que o apocalipse chegou a todos
e os poderosos perceberam isso no pós-vida, ou seja, no inferno. Porém também pode
significar que, mesmo sendo a destruição bélica distante do território das potências
mundiais, as consequências catastróficas seriam mundiais.
Nisto, o vocalista entra num pequeno hiato enquanto o ritmo é mantido pelos outros
instrumentos presentes na música e, poucos segundos depois, interceptam uma ponte
para o retorno da narração:
Esta segunda e última parte da letra remete apenas ao horror das guerras,
mantendo um discurso anti-guerra que procura chocar e trazer à tona os horrores
causados por políticas de guerra. Protagonizando as políticas externas globais, a ameaça
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de mais episódios horripilantes causados pelo uso de armamento nuclear pairava sobre
o imaginário social. A música procura utilizar deste medo e, misturando-o com um temor
religioso, fornece uma harmonia elétrica, macabra e intensa que produz euforia, energia,
ou desconforto, dependendo do momento ou do indivíduo. A letra, sendo uma história de
terror apocalíptico, somada ao ritmo acelerado e a harmonia intensa entre os
instrumentos, procuram mostrar da maneira mais crua e significativamente possível as
consequências desastrosas que mais uma imprudência nuclear poderia significar para o
mundo. Eis outro fato culturalmente comum no Heavy Metal e Thrash Metal: a sequela
de um confronto atômico.
Saindo o vocalista de cena, os três demais instrumentos continuam mantendo o
mesmo ritmo frenético anterior e acabam no estrondo de uma explosão. Perto de chegar
ao fim, a música volta a um ritmo veloz e apresenta a um solo tão intensamente frenético
quanto o resto da composição, que chega a seu fim ao mesmo tempo do fim do solo.
Endless Pain, álbum de estreia da banda de Thrash Metal alemã Kreator, lançado
em 1985 e gravado pela CAT Studio em Berlim, possui como segunda música integrante
do conjunto a intitulada Total Death, cuja tradução para o português significa “Morte Total”.
Possuindo um teor altamente macabro, intenso e veloz, este primeiro álbum do grupo
influenciou diversas outras músicas do estilo, e, além disto, foi a inspiração musical de
diversas bandas de outros subgêneros do Heavy Metal, como o Death Metal e o Black
Metal.
A música começa com a aparição da guitarra cujo som produzido mantém-se num
riff veloz, repetindo-se algumas vezes. Poucos segundos depois, a bateria e baixo entram
em cena quase que juntamente a uma mistura de grunhido e grito do vocalista, criando
um clima perturbador e, com o diálogo rítmico entre a guitarra, baixo e bateria, intensifica
e aumenta a velocidade da melodia. Num ritmo frenético que mantém uma sensação
tensa e macabra, o vocalista volta à canção narrando uma história macabra e utiliza do
canto gutural, combinando-se à letra musical pavorosa:
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O primeiro verso deixa claro a iminência de um conflito, num ritmo musical tão
frenético que provoca uma característica ritmicamente caótica na melodia. Após isto, a
estrofe toda representa um sentimento de profunda insatisfação com a política externa
mundial. A crítica é voltada diretamente aos líderes políticos de nações que possuem
caráter agressivo, belicoso ou invasivo. Como já mencionado em análises anteriores, o
discurso anti-guerra presente nas letras de músicas de Heavy Metal procura chocar o
ouvinte através da narração de uma história medonha cujo objetivo é expor as
atrocidades que conflitos bélicos produzem para a humanidade e para a todos os seres
vivos, conclusivamente. A partir do quarto verso da primeira estrofe, onde o vocalista
promove um insulto àqueles que incentivam a guerra, a história passa então a representar
uma narração medonha e apavorante, como já explicado do discurso anti-guerra do Metal.
Por fim, o vocalista clama por quatro vezes a frase “morte total”, fazendo surgir o tom
apocalíptico presente tão fortemente neste gênero musical.
A guitarra traz de volta o riff que serviu de introdução à música, fazendo uma ponte
entre a segunda parte da letra, cujo discurso mantém seu caráter horripilante:
verso, produz uma referência direta à bomba nuclear no terceiro verso, cujo termo
“megatons” significa a unidade de medida usada para calcular o poder de destruição de
um armamento nuclear. O desenvolvimento rápido do arsenal nuclear promovido pela
corrida armamentista foi capaz de produzir armas nucleares que possuíam uma
capacidade de destruição extremamente alta, onde países inteiros poderiam ser
dizimados pelo uso de apenas um de estes equipamentos. Isto ajuda a desenvolver um
imaginário apocalíptico acerca de conflitos bélicos. Por fim, novamente o vocalista canta
o refrão da música e, após isto, entra em hiato, enquanto os demais instrumentos
continuam a manter o clima tenebroso da canção. Algum tempo depois, a guitarra entra
em frenesi total tocando um solo de guitarra muito rápido e frenético que, durando em
torno de meio minuto, torna a melodia ao ritmo das estrofes já tocadas e a narração do
vocalista:
Um ano após o lançamento do primeiro álbum do Kreator, outra banda alemã viria
a se tornar um ícone de influência para o Metal. Lançando seu primeiro álbum em 1986
e o consecutivo em 1987, utilizando-se de um ritmo veloz, Sodom lança o intitulado
Persecution Mania, estreando a música nomeada Nuclear Winter. Para o português
brasileiro: “Inverno Nucelar”. A música traz consigo referências à Guerra Fria, utilizando-
se de temas como bomba nuclear e radiação, inserindo o ouvinte num ambiente de
desesperança e profundo desgosto com a política nacionalista, somando isto ao horrível
universo criado pela letra musical, demonstrando um sentimento caótico e apocalíptico,
refletindo o imaginário social perante os conflitos do período entre 1945-1991, ou algo
em torno disto.
Veloz do começo ao fim, a música inicia num ritmo frenético e distorcido da guitarra,
mantendo-se em diálogo com o baixo e a bateria. Aumentando a velocidade e fazendo
intervalos mais lentos e pesados, um clima rápido e macabro já começa a ser projetado
quando, com a entrada do vocalista, que se mantém junto ao ritmo dos demais
instrumentos musicais, narra a letra musical apresentando uma pura história de
apocalipse nuclear:
Inverno nuclear
(Refrão)
poder, mesmo que se custa sua vida. Contudo, obviamente de forma irônica, onde o
iminente apocalipse nuclear é cantado durante intensos 5 minutos de música.
A canção termina passando uma última vez por seu refrão, narrando os danos
mais lentos que a radiação poderia causar ao mundo se comparados ao dano imediato
da explosão de equipamentos nucleares bélicos, porém que podem representar um meio
de subjugar o mundo a um ambiente profundamente caótico.
Incendeie o mundo!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se notar que a influência da Guerra Fria ao Heavy Metal é enorme. Contudo,
é apenas um produto cultural criado no período. É interessante notar como cada
civilização acaba por reproduzir culturalmente o que está passando pelo seu imaginário
e memória, acompanhando as transformações e, conclusivamente, transformando-se.
Visto isso, esta pesquisa incentiva a pesquisa cultural, tanto da História Cultural, quanto
outros campos científicos que abordem o campo. A representação política, social e
ideológica é fortemente presente na produção cultural do período, permeando todo um
imaginário social que, obviamente, pertence a seu tempo. O intervalo de tempo desta
pesquisa apresenta um intenso conflito ideológico que é ligado ao extremismo em
diversos discursos da época, assim como sua memória causa influência em períodos
posteriores.
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FONTES
METALLICA. Fight Fire With Fire. In: Ride the Lightning. 1984.
EXODUS. And Then There Were None. In: Bonded by Blood. 1985.
MEGADETH. Set the World Afire. In: So Far, So Good… So What!. 1988.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Metal. Estados Unidos: Harper Collins, 2010.
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Livros Técnicos e Científicos, 1989. 213 p.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
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Institute of Ukrainian Studies, University of Alberta. Edmonton, 1986.
NAPOLITANO, Marcos. História & música - história cultural da música popular. Belo
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