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EDIÇÃO 08

Fevereiro de 2014
Fechamento autorizado
pode ser aberto pela ECT

OS DESAFIOS DA
ADOÇÃO
A matéria de capa desta edição aborda
os mitos da adoção e as barreiras para o
aprimoramento do instituto no país

ENTREVISTA OPINIÃO
A psicanalista Maria Antonieta Pisano Motta fala Um olhar crítico e preventivo sobre a Leia as principais notícias
pág. 5 sobre as mães que entregam seus filhos para pág. 14 equivocada “devolução de filho adotivo” pág. 10 sobre Direito de Família
adoção por Kátia Regina Maciel
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EXPEDIENTE
DIRETORIA EXECUTIVA

EDITORIAL Presidente: Rodrigo da Cunha Pereira (MG)


Vice-Presidente: Maria Berenice Dias (RS)
Primeiro-Secretário: Rolf Madaleno (RS)
Segundo-Secretário: Rodrigo Azevedo Toscano de Brito (PB)
Primeiro-Tesoureiro: Antônio Marcos Nohmi (MG)
Segundo-Tesoureriro: Jose Roberto Moreira Filho (MG)

BARREIRAS E
Diretor do Conselho Consultivo: Jose Fernando Simão (SP)
Diretor de Relações Internacionais: Paulo Malta Lins e Silva (RJ); 1º Vice: Cássio Sabbagh
Namur (SP), 2ª Vice: Adriana Antunes Maciel Aranha Hapner (PR); Secretária: Marianna
de Almeida Chaves Pereira Lima (PB)
Diretora de Relações Interdisciplinares: Giselle Groeninga

AVANÇOS
Superintendente: Maurício Santos

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Diretor Norte: Zeno Veloso (PA);
Diretor Nordeste: Paulo Luiz Netto Lôbo (AL)
Diretora Centro-Oeste: Eliene Ferreira Bastos (DF)
Diretor Sul: Luiz Edson Fachin (PR)
Diretora Sudeste: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP)

Os números do Conselho Nacional de Justiça, divulgados COMISSÕES


Comissão Científica: Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (SP); Vice: João
este mês, apontam para mudanças nos perfis dos adotantes. Batista de Oliveira Cândido (MG); Comissão de Direito das Sucessões: Zeno
O percentual de pais que só aceitam crianças da cor branca Veloso (PA); 1ª vice: Tatiana de Almeida Rego Saboya (RJ); 2º Vice: Flavio Murilo
Tartuce Silva (SP); Comissão de Mediação: Suzana Borges Viegas de Lima
caiu no período de três anos: de 38% para 30%. Já os índices (DF); Comissão da Infância e Juventude: Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade
Maciel (RJ); Vice: Melissa Telles Barufi (RS); Comissão do Idoso: Tânia da Silva
dos que aceitam crianças indígenas, pardas ou negras Pereira (RJ); Comissão de Jurisprudência: Viviane Girardi (SP); Comissão de
subiram. Foi sancionada, no dia 6 de fevereiro deste ano, a Lei Assuntos Legislativos: Mário Luiz Delgado Regis (SP); Comissão de gênero e
violência doméstica: Adélia Moreira Pessoa (SE); Vice: Rosana Amara Girardi
n. 12.955, que acrescenta ao artigo 47 do Estatuto da Criança Fachin (PR); Comissão de Notários e Registradores: Priscila de Castro Teixeira
Pinto Lopes Agapito (SP); Vice: Karin Regina Rick Rosa (RS); Comissão de
e do Adolescente (ECA) o § 9º, determinando prioridade de Estudos Constitucionais da Família: Gustavo José Mendes Tepedino (RJ);
tramitação aos processos de adoção “em que o adotando Comissão de Ensino Jurídico de Família: Waldyr Grisard Filho (PR); 1º vice:
Fabiola Albuquerque Lôbo (PE); 2º Vice: Marcos Alves da Silva (PR); Comissão
seja criança ou adolescente com deficiência ou com doença de Relações Acadêmicas: Marcelo Luiz Francisco Bürger (PR); Comissão de
Direito Homoafetivo: Patrícia Cristina Vasques de Souza Gorisch (SP); Vice: Ana
crônica”. Temos acompanhado muitas mudanças e avanços Carla Harmatiuk Matos (PR); Comissão de Adoção: Silvana do Monte Moreira
no processo de adoção no país, mas as barreiras ainda são (RJ); Comissão de Advogados de Família: Marcelo Truzzi Otero (SP); Vice: Aldo
de Medeiros Lima Filho (RN); Comissão de Magistrados de Família: Jones
imensas como mostra a matéria de capa desta edição: “Os Figueiredo Alves (PE); Vice: Andrea Maciel Pachá (RJ); Comissão de Promotores
de Família: Cristiano Chaves de Farias (BA); Comissão dos Defensores Públicos
mitos da adoção”. Ainda paira no imaginário coletivo a ideia da Família: Paulo Fernando de Andrade Giostri (SP)
da supremacia genética, concepção que se revela também DIRETORIAS ESTADUAIS
nas leis e no comportamento do Judiciário, o que delonga REGIÃO NORTE: ACRE - Presidente: Eronilço Maia Chaves; AMAPÁ -
Presidente: Nicolau Eládio Bassalo Crispino; AMAZONAS -Presidente: Gildo
o processo de destituição, atrasa e, muitas vezes, afasta Alves de Carvalho Filho; PARÁ -Presidente: Maria Célia Nena Sales Pinheiro;
RONDÔNIA -Presidente: Raduan Miguel Filho; RORAIMA - Presidente: Neusa
a criança do seu direito à convivência familiar, seja em Silva Oliveira; TOCANTINS - Hélvia Túlia Sandes Pedreira Pereira; REGIÃO
família biológica ou afetiva. Nessa seara, nos preocupamos NORDESTE: ALAGOAS - Presidente: Ana Florinda Mendonça da Silva Dantas;
BAHIA - Presidente: Alberto Raimundo Gomes dos Santos; CEARÁ - Presidente:
apenas com dois dos vértices do triângulo adotivo: a criança Angela Maria Sobreira Dantas Tavares; MARANHÃO - Presidente: Bruna
Barbieri Waquim; PARAÍBA - Presidente: Dimitre Braga Soares de Carvalho;
adotada e os pais adotantes, como explica a psicanalista PERNAMBUCO - Presidente: Luciana da Fonseca Lima Brasileiro; PIAUÍ -
Maria Antonieta Pisano Motta. Conhecer a história das mães Presidente: Isabella Nogueira Paranaguá de Carvalho Drumond; RIO GRANDE
DO NORTE - Presidente: Suetônio Luiz de Lira; SERGIPE - Presidente: João
que entregam seus filhos para adoção, compreender suas Alberto Santos de Oliveira; REGIÃO CENTRO-OESTE: DISTRITO FEDERAL
-Presidente: Ana Maria Gonçalves Louzada; GOIÁS - Presidente: Maria Luiza
motivações e contribuir para que elaborem o luto ou a perda Póvoa Cruz ; MATO GROSSO - Presidente: Angela Regina Gama da Silveira
do filho também são fundamentais para as políticas públicas Gutierres Gimenez; MATO GROSSO DO SUL - Presidente: Paula Guitti Leite;
REGIÃO SUDESTE: ESPÍRITO SANTO - Presidente: Thiago Felipe Vargas
para a adoção. “Não basta questionarmos os motivos que Simões; MINAS GERAIS - Presidente: Silvio Augusto Tarabal Coutinho; RIO DE
JANEIRO- Presidente: Luiz Cláudio de Lima Guimarães Coelho; SÃO PAULO -
levam um casal a desejar adotar, pois a situação de entrega Presidente: Sérgio Marques da Cruz Filho; REGIÃO SUL: PARANÁ - Presidente:
é tão ou mais importante na medida em que é o ponto onde Adriana Antunes Maciel Aranha Hapner; RIO GRANDE DO SUL - Presidente:
Conrado Paulino da Rosa; SANTA CATARINA - Presidente: Mara Rúbia Cattoni
tudo começa e porque terá graves consequências, caso não Poffo.

seja bem encaminhada”, afirma a psicanalista. Boa leitura! REVISTA IBDFAM


A Revista IBDFAM é publicada pela Assessoria de Comunicação Social do
Instituto Brasileiro de Direito de Família
Jornalista responsável: Pâmilla Vilas Boas
Redação e edição: Pâmilla Vilas Boas - portal@ibdfam.org.br e Maran Oliveira -
ascom@ibdfam.org.br
Diagramação: Bruno Santos
Projeto gráfico: Agência Reciclo
Assessoria Jurídica: Ronner Botelho
Tiragem: 5000 exemplares
Distribuição: gratuita, aos sócios do IBDFAM. Os artigos assinados são de
responsabilidade de seus autores
Atendimento ao associado: (31) 3324-9280
Para anunciar: (31) 3324-9280
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ESPAÇO DO LEITOR

SXC
SXC

PÁG. 8 matéria de capa


Quais assuntos sobre Direito de Família você
gostaria de ver na Revista IBDFAM e em nosso
portal?
Escreva para a gente: portal@ibdfam.org.br

Marcos Siqueira (PR), membro do IBDFAM


“Paternidade socioafetiva”.

Claudia Aoun Tannuri (SP), membro do IBDFAM


SXC
“Questões relativas ao planejamento familiar e demais direitos sexuais e
reprodutivos. Análise da Lei 9.263/96 (Lei de Planejamento Familiar)”.

PÁG. 10 notícias
Evelin Basile (SP), membro do IBDFAM
“As questões sobre partilha no divórcio e na união estável são temas pouco comentados”.
Entrevista.. ........................... pág. 5

Tarlei Lemos (SP), membro do IBDFAM


Cultura................................. pág. 12
“Art. 1.790 do CC, doutrina e jurisprudência.”

Eventos................................ pág. 13 Bruno Francisco de Souza (SC)


“Possíveis políticas para efetividade das leis de combate a violência doméstica e
Artigo................................... pág. 14 combate à alienação parental.”

Jurisprudência. . ................... pág. 15 Adriana Marcondes (PR)


“Guarda de filhos quando um dos filhos é incapaz e os ex -cônjuges não se entendem”

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ENTREVISTA

O OUTRO
LADO DA
ADOÇÃO
Quem são as mães que entregam
seus filhos para adoção? Essa
pergunta nebulosa e evitada pela
maioria tornou-se o principal tema
de estudo da psicóloga e psicanalista
Maria Antonieta Pisano Motta,
especialista em Psicologia Clinica
e Jurídica e autora do livro “Mães
Abandonadas: a entrega de um filho
em adoção” (Editora Cortez, 2008).
Em entrevista ao IBDFAM, Maria
Antonieta aborda os motivos que
levam as mães a entregarem seus
filhos e ressalta a importância de
conhecer a realidade dessas mães
para o aprimoramento de políticas
públicas que busquem soluções mais
humanizadas para o processo de
adoção. “Somente quando estivermos
liberados do mito do amor materno é
que poderemos compreender que nem
sempre a criança estará melhor com
sua mãe ou sua família biológica”,
relata. Confira a entrevista:
EM QUAIS CIRCUNSTÂNCIAS, MAIS
COMUNS, AS MULHERES ENTREGAM
SEUS FILHOS PARA ADOÇÃO?
É claro que a maioria dos casos se
refere às mulheres que pertencem às
classes menos favorecidas, seja social
como economicamente. Não se pode
dizer, entretanto, que haja uma regra.
São mulheres dos mais diferentes níveis
sociais e educacionais. Essas mulheres
podem estar vivendo difíceis situações de
vida que inviabilizam sua permanência
com a criança. Falta-lhes patrimônio,
por vezes concreto, outras vezes interno.
Não tiveram amor, não foram criadas
para serem mães amorosas, pois
elas próprias não conheceram o amor
familiar. Para outras, sobra-lhes amor

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pelo filho e não querem que ele carregue COMUNS DAS MULHERES QUE em adoção como abandono graças aos
as consequências de seus passos. ENTREGAM OU ABANDONAM SEUS valores socialmente estabelecidos,
Muitas não querem que os filhos passem FILHOS? segundo os quais a maternidade e a
pelo o que elas próprias passaram e maternagem são naturais e, portanto,
A decisão de entregar um filho em
os entregam numa atitude protetiva e presentes em todas as mulheres. Diz o
adoção ou a ideia de fazê-lo pode ter
amorosa, esperando que encontrem mito que a criança, se a própria natureza
vários significados, desde aceitar a
uma família que possa bem criá-los. Há for respeitada, deve ser criada pela mãe,
impossibilidade de criá-lo, sua rejeição à
também aqueles casos da mulher doente caso contrário, terá sido abandonada.
criança ou aceitar a frustração do amor e
mentalmente, da mulher desesperada.
do desejo de maternar. Não há evidências O mito do amor materno deixa sua
Há circunstâncias em que essas crianças
que justifiquem a pressuposição de nítida influência sobre a construção
são filhas do crack e a mãe se encontra
que a difícil experiência de entregar de estigmas em relação às mães que
em tal situação que nem pode cuidar da
um filho em adoção se dilua com o entregam seus filhos e impede que
sua própria sobrevivência. Em outras
tempo até extinguir-se, pois o que se muitas delas possam entregá-los legal
circunstâncias a criança é filha do
verifica é que a tristeza e o remorso e oficialmente, ficando assim, de forma
estupro, do incesto, do amor acabado.
frequentemente se fazem presentes, indireta, incentivada a adoção chamada
Importante lembrar que a sociedade e
quando tudo parece estar concluído consensual, em que a mulher entrega seu
elas próprias entendem que a gravidez
(afinal elas fazem parte da mesma filho aos pretendentes sem garantias de
e o destino a ser dado à essa criança é
cultura que as estigmatiza e condena). que de fato seu filho estará em segurança
responsabilidade delas, ficando o homem
e terá garantido seu direito de crescer
eximido de qualquer responsabilidade ou A separação entre a mãe e a criança
em uma família saudável e adequada. A
possibilidade mesmo de tomar alguma parece vir acompanhada de um luto sem
substituição do termo ou do conceito de
decisão diferente daquela de entregar ou fim. Essas mulheres revelam sentir-se


abandono pelo conceito de entrega propõe
abandonar seu filho. consternadas nas datas de aniversário de
formas de expressão menos carregadas
QUAL FOI O CASO MAIS MARCANTE de preconceito, de conotações de valor e
de julgamento negativo sobre o ato de a
DURANTE SUA PESQUISA?
Casos que envolvem a separação
entre mãe e filho são sempre marcantes.
Para mim, são de tal forma que me senti
levada a tentar compreender este ato e
A SEPARAÇÃO
ENTRE A MÃE E A
CRIANÇA PARECE VIR
ACOMPANHADA DE UM
LUTO SEM FIM.
“ mulher não criar o filho que pariu.
Essa mulher transgressora questiona
a sociedade patriarcal e a atribuição dos
papéis segundo o gênero, sendo que ao
a estudá-lo para encontrar formas de feminino ainda se atrela a obrigação,
ajudar, de intervir de alguma forma nessa quase que exclusiva, pela criação dos
realidade que é tão dura e dolorosa, para filhos. Os pais ou a mãe que ainda são
a mãe, para o filho, e, às vezes, para a seus filhos, em reuniões familiares, em detentores do poder familiar muito
família. É dura até para nós que, do alto comemorações importantes. Muitas delas embora com frequencia não a vejam há
de nossa condição de pesquisadores, nos “criam” seus filhos em suas mentes; anos privando-a de uma vida em família.
vemos enredados em histórias tristes de outras evitam novos relacionamentos A criança que nas ruas é explorada sob a
luto infinito, de mães que passam a vida devido ao medo, vergonha e culpa; vigilância da mãe, leva ao questionamento:
buscando pelos filhos que entregaram algumas referem dificuldades na Quem são os verdadeiros filhos do
em adoção. Não há como dizer se o mais maternagem de seus outros filhos, ou de abandono?
marcante é a história da menina de 17 filhos supervenientes à entrega. Pautam,
assim, seu relacionamento num segredo QUAIS NOÇÕES PAIRAM PELO
anos que foi estuprada pelo namorado
e numa ansiedade que fatalmente gerarão INCONSCIENTE COLETIVO E FAZEM COM
ameaçada com arma, ou daquela mãe que
consequências danosas para todos QUE DESPREZEMOS ESSAS MULHERES
perdeu seu barraco num incêndio e, com
os envolvidos. Mesmo aquelas mães E QUE AS CONSIDEREMOS MONSTROS?
três filhos para criar, foi abandonada pelo
que não demonstram arrependimento POR QUE TANTO DESCONFORTO?
marido no mesmo instante em que perdeu
tudo o que tinha, ou daquela universitária por não terem permanecido com seu O abandono de crianças é um problema
que foi estuprada num assalto, ou mesmo filho terão seu luto a fazer. Terão que social prenhe de preconceitos. O abandono
daquela moça que, mesmo tendo seu elaborar a perda de sua auto- estima, se localiza historicamente em um cenário
noivo aceito a gravidez de um filho que de sua dignidade, de sua honra. patriarcal, onde o poder do pai, do homem,
não foi gerado por ele, não pode encontrar seja pela força ou pressão direta, seja
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ENTREGA E
em si a força, o amor, a motivação pela tradição, pela lei, pelos ritos, define o
ABANDONO?
para permanecer com esse filho. papel que a mulher deverá desempenhar
É clara a tendência em encarar toda socialmente. Maternidade e abandono são
QUAIS SÃO OS SENTIMENTOS MAIS separação entre mãe e filho entregue conceitos que se modificam de acordo com

6
ENTREVISTA

o modelo vigente ligado a mecanismos sociais. O saber cuidar do filho não é o adotar, atendendo à profilaxia do vínculo a
ideológicos e culturais dominantes em cada mesmo que poder ficar com ele. Saber ser estabelecido entre pais e filhos adotivos,
época. Surgem diferentes modelos de ser cuidar dele também não significa querer pois a profilaxia da situação de entrega é
mãe, baseados em diferenciação de papéis, fazê-lo. Vale lembrar que permanecer tão ou mais importante na medida em que
sempre enaltecidos e defendidos de acordo com a criança nem sempre é a melhor é o ponto onde tudo começa e porque terá
com o sistema econômico dominante, solução para a mãe e especialmente para graves consequências caso não seja bem
especialmente em tempos de crise. a criança. Permanecer com a criança encaminhada.
sem que a mãe tenha consciência dos
Se entendermos que, abandonada O QUE PRECISA SER MODIFICADO
motivos e das consequências da decisão
não é só aquela criança ou adolescente PARA QUE O PROCESSO DE ADOÇÃO
pode ser igualmente desastroso. Ela pode
concretamente separada de seus genitores, INCORPORE TAMBÉM AS MÃES
futuramente vir a engrossar as fileiras
mas também aquela que, estando em sua BIOLÓGICAS? POR QUE A SITUAÇÃO
das mães que maltratam seus filhos, que
companhia é submetida a maus-tratos, não DE ENTREGA É IMPORTANTE NESSE
os ignoram, que lhes infligem castigos


atendida em seus direitos mais essenciais, PROCESSO?
inomináveis ou os criam nas ruas ou até
poderemos então rever nossa percepção
O atendimento carece de capacitação e
sobre o ato de uma mulher que entrega
seu filho em adoção ou mesmo daquela
que o deixa na porta de um hospital porque
ela própria foi e é abandonada, seja pela
sua própria mãe, seja pela sua própria
família, seja pela sua comunidade, seja pela
O AMOR MATERNO NÃO
É UM INSTINTO. ELE
NÃO É BIOLOGICAMENTE
DETERMINADO.
“ de postura ética nos mais variados pontos
do processo de entrega para adoção.
Desde as instituições hospitalares ou de
abrigamento que intermedeiam a entrega
da criança e que, por muitas vezes,
sociedade como um todo, ou seja por cada fazem disso uma forma ilícita de ganhar
um de nós. dinheiro, precisariam ser identificados,
coibidos e também punidos. Os
O QUE FAZ COM QUE ESSAS MULHERES chegam a situações extremas de abandono profissionais das diferentes instituições,
NÃO DESENVOLVAM O INSTINTO ou infanticídio. Partir dos a prioris de que a ainda que bem intencionados, muitas
MATERNO COMUM EM NOSSA criança estará sempre melhor com a mãe vezes carecem de capacitação, quer para
SOCIEDADE? biológica e que os laços de sangue são auxiliar essas mães em seu processo de
aqueles a serem preservados a qualquer tomada de decisão, como na elaboração
Primeiramente, cabe esclarecer que custo, podem conduzir a atitudes que, de seu luto quando a entrega da criança
o amor materno não é um instinto. Ele embora bem-intencionadas, revelam-se é concretizada. Os procedimentos
não é biologicamente determinado. Isso extremamente prejudiciais. judiciários carecem de uniformidade,
não significa que o amor materno não
provocando uma corrida para aquelas
exista e, sim, que ele se desenvolve sob COMO TORNAR ESSE MOMENTO DE
varas onde reconhecidamente o juiz é
certas condições que nem sempre estão ENTREGA MAIS HUMANIZADO. E COMO
a favor da entrega direta ou da adoção
presentes quando uma mulher engravida. PROPORCIONAR MAIS AUTONOMIA E
consensual e a tentativa de evitação
É no dia a dia, é na conversa da mãe DISCERNIMENTO PARA AS MULHERES
daquelas varas em que juiz não aceita a
com o filho na barriga, que em resposta QUE OPTAM PELA ENTREGA?
decisão da mãe, censura, critica, condena
se movimenta, é no olhar desprotegido
Quando se estuda o tema “adoção” é a mulher que declina não desejar ou não
do bebê que a mãe tende a acalentar, é
fácil perceber o privilégio dado a dois dos poder fazer-se cargo de seu filho. São
no dia a dia de cuidados e desvelo e na
vértices do triângulo adotivo: a criança essas atitudes que fazem aparecer as
recompensa do beijo carinhoso da criança
adotada e os pais adotantes. Por outro crianças nas lagoas e nos bancos das
na mãe que se desenvolve o amor materno.
lado, escasseiam os trabalhos referidos à praças, Não é a informação cuidada e
É na possibilidade de sentir que aquela
mãe biológica, ou seja, à mãe que entrega bem dirigida à mulher que não deseja
criança vai completá-la e não que será
o filho em adoção. Ela quase não tem sido criar seu filho, que estimulará entregas
um problema. É na expectativa de alguém
objeto de estudos em nosso meio, quer e especialmente entregas diretas. É a
que completará a felicidade familiar que se
envolvendo uma descrição extensiva, quer não aceitação, o preconceito e a falta de
desenvolve esse amor que muitas vezes
de pesquisas qualitativas que permitam flexibilidade e empatia para compreender
chega antes que a própria criança, e não
aprofundar a compreensão da dinâmica não apenas a situação de cada mulher
no seio de uma família destruída onde não
interna da “decisão” da mulher em em sua especificidade, mas para atribuir
há amor entre o casal, onde a necessidade,
separar-se de seu filho, bem como de a cada criança a melhor solução possível.
o vício, a tragédia que o amor pelo filho se
seu estado e dinâmica psicológicos no Somente quando estivermos liberados do
desenvolve. A decisão de tê-la consigo não
pós-entrega. Precisamos saber quem mito do amor materno é que poderemos
constitui decorrência de uma realidade
são, e precisamos fazer algo com esse compreender que nem sempre a criança
instintiva, mas remete a uma alternativa
conhecimento. Não basta questionarmos estará melhor com sua mãe ou sua
atravessada por variáveis psíquicas e
os motivos que levam um casal a desejar família biológica.

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OS MITOS DA ADOÇÃO SXC

“Família não é formada pelo sangue sido pano de fundo de casos polêmicos meses ou anos, se decidirem que agora
e, sim, pelos laços socioafetivos, que como o “Caso Duda”, que repercutiu em estão prontos para terem os filhos, netos
unem seus membros”, afirma a advogada toda imprensa no final do ano passado. e sobrinhos em sua vida”, completa.
Silvana do Monte Moreira, presidente Três desembargadores da 7ª Câmara Civil
A lei determina que, durante a
da Comissão de Adoção do IBDFAM. do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
guarda provisória, a situação deve ser
Silvana acompanha um processo de (TJMG), em sentença unânime, decidiram reavaliada de seis em seis meses e
adoção distribuído em fevereiro de 2008 que a criança Duda, de quatro anos, atribui o prazo máximo de dois anos para
quando a criança tinha seis anos. Com os deveria retornar para a família biológica. que a família biológica se reestruture e
infindáveis números de agravos e demais Contudo, os advogados da família adotiva demonstre real e verdadeiro interesse
recursos o processo ainda não terminou. conseguiram uma liminar que tem por suas crianças. “Após este prazo, a
“A criança é hoje uma bela adolescente de garantido, até agora, a permanência da criança, obrigatoriamente, deverá ser
12 anos que, se mantida em acolhimento criança com a família adotiva. encaminhada para adoção. Os relatórios
institucional, hoje seria inadotável. Teria
Para Silvana, casos como esses consubstanciados da situação da criança
essa adolescente perdido seis anos de
desconsideram a criança como sujeito realizados a cada seis meses, com
convivência familiar, de constituição de
de direito e a tratam como “objeto” duração máxima de 2 anos, dão base
laços socioafetivos indissolúveis? Por
de propriedade de seus genitores. bastante para a tomada de tal decisão”,
quanto tempo esses processos ainda completa.
tramitarão? Não há como se fazer uma “Lamentavelmente, Duda não é um caso
previsão”, aponta. isolado, temos inúmeras Dudas em outros Silvana ressalta ainda a necessidade
estados, onde crianças depois de serem de desmitificar a ideia de que os
Para Silvana, as errôneas concepções


“filhos” por um ano e meio, dois, três, adotantes são “ricos” que “pegam” filhos
da supremacia genética delongam o dos “pobres”. “Antigamente, entendia-se
processo de destituição, atrasam e, muitas
vezes, impossibilitam a oportunidade de a
criança viver numa família adotiva capaz
de amá-la e cuidá-la. “A adoção precisa
ser a ÚNICA opção para a criança e não a
última opção”, afirma.
A ADOÇÃO PRECISA SER A ÚNICA
OPÇÃO PARA A CRIANÇA E NÃO A
ÚLTIMA OPÇÃO.

SILVANA DO MONTE MOREIRA


“ a adoção como o caminho de se dar filhos
para quem não poderia tê-los. Após o
surgimento do ECA, a criança foi relevada
à condição de sujeito de direitos. Nesta
perspectiva, e na qual trabalhamos há
mais de vinte anos, a adoção é o instituto
Foi sancionada, no dia 06 de fevereiro cujo objetivo é dar famílias para crianças
deste ano, a Lei 12.955, que lei acrescenta desprovidas de uma. A adoção é um
ao artigo 47 do Estatuto da Criança e do direito da criança, seja na família natural
Adolescente (ECA) o parágrafo nono, passam a ser “coisas” de seus genitores, ou, na impossibilidade dessa, na família
determinando prioridade de tramitação os quais descumpriram com os deveres substituta”, enfatiza.
aos processos de adoção “em que o inerentes ao exercício do poder familiar”,
afirma. Para ela, muitos magistrados A Lei da Adoção (Lei n. 12.010/2009)
adotando for criança ou adolescente com trouxe inúmeras alterações ao ECA, como
deficiência ou com doença crônica”. De relegam para segundo plano o valor dos
pareceres técnicos, desconsideram as as que fixam o prazo para acolhimento
acordo com o levantamento realizado pelo institucional (§1º, art. 19), mas, como
CNJ, das 5.403 crianças e adolescentes questões psicológicas e sociais envolvidas
“e endeusam os malfadados laços de explica Silvana, faltaram alterações
disponíveis para adoção, 1.221 sofriam eficazes em termos de garantia à
algum problema de saúde. Silvana sangue”, afirma.
convivência familiar, seja em família
ressalta que apesar dos benefícios dessa Ela explica que todas as adoções que natural ou substituta. “Não adianta fixar
lei, a prioridade deveria ser para todas seguem os procedimentos legais e que avaliações semestrais diante da ausência
as crianças, já que elas têm o direito são respaldadas pelo Poder Judiciário de assistentes sociais e psicólogos, ou até
constitucional à prioridade absoluta. com a supervisão do Ministério Público, de magistrados. Como pode se falar em
são, a priori legais e regulares, “não prioridade absoluta quando uma única
DUDAS DO BRASIL
podem ser alegadas irregulares pelos vara acumula competências outras à
A prevalência dos laços de sangue tem genitores e demais familiares, após área da infância ou quando existem mais

8
CAPA

de 6.000 processos em uma única vara? em virtude de já terem formado a sua imprescindível a criança ter acesso
Como pode se falar na adoção como personalidade e já terem incorporado às informações sobre sua origem
última e excepcional alternativa quando, comportamentos que não poderão ser biológica. “A história de sua vida passada
em grande parte das vezes, é a única modificados”, afirma. Embora a adoção representa uma parte peculiar de sua
alternativa existente para que aquela tardia apresente desafios e fases críticas identidade, que não pode ser anulada,
criança ou adolescente tenha seu direito importantes, as crianças adotadas em mas que precisa ser aceita e integrada à
SXC à convivência familiar atendido? ”, avalia. uma fase mais adiantada encontram nova filiação adotiva”, completa. Para ela,
condições para uma vida emocional e uma relação saudável entre pais e filhos
Silvana sugere ainda a alteração do
material satisfatória se contarem com baseia-se no diálogo e na honestidade.
artigo 17 da Lei da Adoção incluindo
o empenho dos pais adotivos e com “Sem honestidade, forma-se uma trama
orientação sexual para formalizar as
uma educação adequada. “Eles poderão familiar baseada em premissas falsas, o
adoções por famílias homoafetivas.
retomar o desenvolvimento de suas que pode prejudicar o relacionamento e
Para a psicóloga Suzana Sofia Moeller
potencialidades, ou até iniciá-lo, caso o desenvolvimento da criança. Quando a
Schettini, presidente da Associação
tenham vivido anteriormente em um criança tem a sensação de “sempre ter
Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, a
estado de abandono e carência afetiva”, sabido”, evita-se o caráter imponente
orientação sexual dos pais não é um fator
completa. e traumático do desvendamento de um
determinante para o desenvolvimento das
crianças, ou seja, um desenvolvimento “segredo”, completa.
GRAVIDEZ ADOTIVA
saudável não depende da orientação Outro mito avassalador para o
sexual dos pais, mas, sim da qualidade “Eu estava na cozinha, fazendo a instituto da adoção, como explica
da relação entre eles. “Não existe mamadeira, ele pôs a mão na minha Suzana, é a crença social de que “todos
base científica para afirmar que os barriga e perguntou: ‘Mamãe, como era os filhos adotivos são problemáticos”. A
homossexuais femininos e masculinos quando eu estava na sua barriga?’ Eu psicóloga ressalta que filhos são filhos,
não são capazes de criar e educar gelei! Sentei e disse você não nasceu da que, se criados e educados dentro de
crianças saudáveis e bem ajustadas, pois minha barriga e, sim, do meu coração parâmetros adequados, se desenvolverão
não são encontradas diferenças entre e é por isso que é tão querido. Você foi naturalmente e não terão problemas
as crianças provenientes de famílias escolhido”. Maria sempre quis ser mãe, de comportamento. Os problemas que
homoparentais e heteroparentais, em independente se biológica ou não. Até acontecem com os filhos adotivos,como
termos do seu desenvolvimento cognitivo, que, em 1993, uma mãe entregou-lhe o explica Suzana, muitas vezes, são
emocional, social e educacional”, afirma. bebê que corria risco de vida.“Um olhar maximizados na sociedade e em notícias
assustado, o braço fininho. As pernas que costumam relacionar o fato à condição
ADOÇÃO TARDIA estavam atrofiando. Em três dias, ele adotiva, como, por exemplo, ‘filho adotivo
Os números divulgados esse mês pelo engordou 250 gramas. Foi uma vitória”, agride seus pais’. “Quando um fato desses


CNJ apontam importantes mudanças relata. Hoje, o menino tem 20 anos. acontece na família biológica, e, sabemos
no perfil de pessoas que querem adotar. que acontece infinitas vezes mais do que
Os números revelam que o percentual na família adotiva, não é feita referência
de pais que só aceitam crianças da cor SEM HONESTIDADE, FORMA-SE à biologia. Jamais vimos alguma notícia
branca caiu no período de três anos: de
38% para 30%. Já os índices dos que
aceitam crianças indígenas, pardas ou
negras subiram. Mas uma das principais
barreiras ainda é a adoção tardia. Das
5446 crianças cadastradas, a maior parte
UMA TRAMA FAMILIAR BASEADA EM
PREMISSAS FALSAS, O QUE PODE“
PREJUDICAR O RELACIONAMENTO E O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA.

SUZANA SOFIA MOELLER SCHETTINI


mencionando ‘filho biológico agride seus
pais’. A adoção é muito relacionada a
fatos negativos, cristalizando a crença
de que filhos adotados sempre são
problemáticos”, relata.
Para Suzana, problemas geralmente
tem mais de 15 anos.
descritos na criança adotada não podem
A pisicóloga Suzana explica que o ser pensados, a priori, como diretamente
Em sua experiência como mãe adotiva,
desejo de adotar um recém-nascido, na relacionados ao fato de ter sido adotada
a advogada Silvana do Monte Moreira
maioria das vezes, insere a expectativa e nem às vivências traumatizantes
relata que sua filha sempre soube sobre
de que, assim, o filho se apegará mais anteriores à adoção. “A natureza dos
a adoção. “Ela sabe que foi gerada pelo
facilmente, pois não terá uma história vínculos pais-filho que se estabelecem
amor, pelo sentimento, pelo carinho.
prévia de eventuais sofrimentos, como a partir do encontro e o modo como as
Nossa filha, como bem expressa o
frequentemente acontece nas adoções vivências da criança são articuladas à sua
promotor de Justiça e também pai adotivo
tardias. “Existe o medo de que as crianças, história singular são fatores que devem
Sávio Bittencourt, carrega o nosso DNA
pelo fato de terem passado muito tempo ser levados em conta quando se busca
da alma”, ressalta.
nas instituições de acolhimento, não compreender as vicissitudes da adoção”,
consigam se adaptar a uma nova família, Suzana Schettini explica que é relata.

9
NOTÍCIAS
TJRJ RECONHECE
MULTIPARENTALIDADE
Justiça do Rio de Janeiro reconheceu
que o Estado de Direito, caracterizado
exatamente por respeitar as diferenças,
sem qualquer forma de discriminação,
deve reconhecer”.
a interação com a sociedade, o Ibdfam
mantém páginas nas redes sociais mais
utilizadas pelos internautas brasileiros.
Os seguidores do Instituto nas redes
SXC

o direito de três irmãos terem duas


sociais acompanham notícias e
mães, a biológica e a socioafetiva, em COMISSÃO DO SENADO INCLUI atualizações sobre o Direito de Família, a
seus registros de nascimento. A decisão EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENORES atuação e os eventos da instituição. Além
é da juíza titular da 15ª Vara de Família COMO CRIME HEDIONDO disso, também participam de promoções
da Capital do Rio de Janeiro, Maria Aglae
A Comissão de Constituição, Justiça especiais e têm espaço para opinar e
Vilardo, membro do Instituto Brasileiro
e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou sugerir.
de Direito de Família (Ibdfam).
nesta quarta-feira, dia 12, a inclusão Este mês, o Ibdfam alcançou a marca
Após o falecimento da mãe biológica, da exploração sexual de crianças, de 15 mil curtidas em sua página oficial
os irmãos ficaram sob os cuidados da adolescentes e vulneráveis no rol de do Facebook. Entre os usuários que
madrasta. Já adultos, eles ingressaram crimes hediondos. A matéria poderá acompanham a página estão membros
no Judiciário pedindo para que passe a seguir diretamente para a Câmara dos do Instituto, advogados, professores,
constar nos seus registros de nascimento Deputados, se não houver recurso para estudantes e profissionais da imprensa.
o nome da mulher que os criou como votação em Plenário.
mãe sem que o nome da mãe biológica A aposentada Glória Sandes é uma das
fosse retirado. Segundo a juíza, este é O relator do projeto (PLS 243/2010), 15 mil pessoas que curtem o Ibdfam no
o exemplo clássico de família por laços senador Magno Malta (PR-ES), elogiou a Facebook. Para ela, a linguagem utilizada
afetivos, pois os vínculos da madrasta e iniciativa do autor da proposição, Alfredo pelo Instituto facilita entender mais o
dos três autores são fortes o suficiente Nascimento (PR-AM), por considerar Direito de Família. “Gosto do Ibdfam
para caracterizar a maternidade. a exploração sexual de menores uma porque mostra que no Brasil há uma
grave violação dos direitos humanos, que rede de saberes jurídicos sobre a família
De acordo com Maria Aglae Vilardo, o muitas vezes leva à destruição de valores brasileira. E o que é mais importante:
processo é um novo desafio apresentado básicos das vítima. Ele explica que a a família brasileira em seus mais
pela dinâmica social, já que é requerido forma como esse crime é tratado na diferentes formatos. Minha identificação
o reconhecimento da existência de duas legislação em vigor impede uma punição é ainda maior quando constato que o
mães, uma biológica e outra afetiva, sem adequada dos agentes de exploração Ibdfam se insere plenamente no Brasil
que seja um casal, e mantendo o nome sexual de crianças e adolescentes, o democrático, na medida em que se dispõe
do pai. “O que temos é uma tradição que será possível com a inclusão do a traduzir, por meio das redes sociais, a
de séculos, onde somente constavam delito na Lei dos Crimes Hediondos (Lei linguagem jurídica para a objetividade e
pai e mãe no registro civil, que deixa de 8.072/1990). simplicidade dos formatos jornalísticos.
ser seguida porque a própria sociedade
Com informações da Agência Senado. Isso vem permitindo que adquira mais
criou novas formas de relacionamento,
rapidamente o reconhecimento e
sem deixar de preservar o respeito por
IBDFAM NAS REDES SOCIAIS legitimação por parte da sociedade”,
quem participou desta construção.
disse.
É uma formação familiar diferente e Para manter e estreitar cada vez mais

10
NOTÍCIAS

SAIBA O ANDAMENTO DOS DO DIA o projeto de lei da Câmara (PLC semiaberto. O regime fechado só será
PRINCIPAIS PROJETOS DE LEI SOBRE 72/2007) que assegura aos transexuais usado para reincidentes e, nos dois
DIREITO DE FAMÍLIA NO CONGRESSO: o direito de incluir seu nome social na casos, a prisão poderá ser convertida
certidão de nascimento em prisão domiciliar se não for possível
DISTRIBUÍDO AO RELATOR, dia 7 de separar o devedor dos outros presos.
Atualmente, a Lei de Registros
fevereiro, o PLS 470/2013, Estatuto das
Públicos prevê que apenas o primeiro Para o jurista Luiz Edson Fachin,
Famílias. A Presidente da Comissão
nome pode ser alterado em casos diretor nacional do Instituto Brasileiro
de Direitos Humanos e Legislação
específicos e mediante autorização de Direito de Família (Ibdfam), a
Participativa, senadora Ana Rita,
judicial. proposta de ampliação do prazo não
designou o senador João Capiberibe
faz sentido, nem a hipótese de regime
como relator da proposta. TRAMITANDO NA COMISSÃO DE
semiaberto com o argumento de
CONSTITUIÇÃO, JUSTIÇA E CIDADANIA
ENCAMINHADO PARA A CÂMARA, no ausência de espaço para separação
(CCJ), o projeto de lei (PLS 7/2011) que
último dia 11, o PLS 406/2013 que trata dos outros presos. Ele avalia que na
SXC acaba com a indefinição sobre o cálculo
da mediação e arbitragem, métodos prática, estas mudanças irão postergar
das multas estabelecidas pelo Estatuto
alternativos de solução de conflitos sem alimentos, retardar processos e, “criar
da Criança e do Adolescente (ECA),
depender de decisão dos tribunais. A biombos formais para o devedor se
nova lei vai permitir o uso da arbitragem Segundo o texto da proposta, os esconder da Justiça”.
para solucionar conflitos decorrentes de artigos do ECA (Lei 8.069/1990) que
O jurista considera que as mudanças
contratos firmados por empresas com a fixam em “salários de referência” as
previstas no novo CPC sobre prisão
administração pública, por exemplo. penas de multa para uma série de
civil de devedor de alimentos não serão
infrações administrativas não levaram
TRAMITA DE FORMA CONCLUSIVA eficazes na execução das obrigações
em conta a Lei 7.789/1989, pela qual
o Projeto de Lei 5876/13, da alimentares. “Ao contrário, se a prisão,
deixaram de existir o salário mínimo de
deputada Luiza Erundina (PSB-SP). em face de um Estado omisso, ainda é
referência e o piso nacional de salário.
A proposta prevê que o adolescente meio para apurar o justo crédito, daqui
apreendido após alguma infração seja A alteração da expressão “salários para frente o que é ruim ficará ainda
obrigatoriamente acompanhado por um de referência” para “salários pior”, disse.
advogado ou defensor durante sua oitiva mínimos” nesses artigos, ressaltou
por representante do Ministério Público. o autor da proposição, o ex-senador IBDFAM TEM NOVO NÚCLEO
Hoje, de acordo com Estatuto da Criança Demóstenes Torres (DEM-GO), sanaria REGIONAL NESTE MÊS
e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90), a divergência judicial em torno do A Criação do Núcleo em Teresópolis
o representante do Ministério Público tema e acompanharia a jurisprudência aconteceu no dia 14 de fevereiro e contou
pode ouvir o adolescente apreendido favorável ao estabelecimento do salário com a cerimônia de posse da Diretoria
sem a presença de um advogado. mínimo como valor de referência. do Núcleo Regional do IBDFAM, em
AGUARDANDO PARECER NA Teresópolis (RJ).
DECISÃO SOBRE PRISÃO DE DEVEDOR
COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E DE ALIMENTOS PODE SAIR ESTE MÊS Participaram da solenidade o advogado
JUSTIÇA E DE CIDADANIA (CCJC) da Luiz Cláudio Guimarães, presidente do
Câmara dos Deputados, o Projeto de A Câmara dos Deputados pode
IBDFAM/RJ, a presidente do novo núcleo,
Lei 5258/2013 que altera dispositivos da decidir neste mês se o devedor de
Marisa Gaudio, o advogado Jefferson
Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) pensão alimentícia será preso em
de Faria Soares, presidente da OAB
para conferir nova designação aos regime fechado ou semiaberto. A
Teresópolis, e os juízes Rafael Rodrigues
casos de inclusão de sobrenome do mudança do regime de prisão é um dos
Carneiro, da 1ª Vara de Família da
companheiro. pontos polêmicos do projeto do novo
comarca, José Ricardo de Ferreira
Código de Processo Civil (Novo CPC
A proposta prevê que a pessoa Aguiar, da 2ª Vara de Família, e Vânia
- PL 8046/10), que está na pauta do
que vive em união estável poderá Mara Nascimento Gonçalves, da Vara da
Plenário. A expectativa do relator, Paulo
requerer ao juiz que, no seu registro de Infância, da Juventude e do Idoso, dentre
Teixeira, é que os deputados terminem
nascimento, seja averbado o sobrenome outras autoridades.
a análise do tema antes do carnaval.
de seu companheiro, ainda que haja
impedimento legal para o casamento O projeto amplia de três para dez dias
decorrente do estado civil de qualquer o prazo que o devedor tem para justificar VEJA ESTAS E OUTRAS NOTÍCIAS NA
deles. a dívida e determina que o inadimplente ÍNTEGRA NO PORTAL DO IBDFAM:
seja preso inicialmente em regime
AGUARDANDO INCLUSÃO ORDEM WWW.IBDFAM.ORG.BR

11
CULTURA

IBDFAM NA ESCOLA a pacificação social”, completa. Philomena Lee foi enviada para um Convento
de Roscrea. Quando seu bebê tinha apenas
Para o diretor de uma escola
particular da região, Eltton Zielke, dias de vida, foi levado pelas freiras para ser
“tratou-se de uma excelente e proveitosa adotado por americanos. Philomena passou
atividade, em que alunos e pais foram os cinquenta anos seguintes procurando por
levados a refletir sobre a importância ele em vão. Ela, então, conhece Martin Sixs-
da construção de relacionamentos mith, jornalista político que fica intrigado com
saudáveis no ambiente familiar e demais sua história. Juntos, partem para os Estados
espaços de convivência. Destacou- Unidos em uma jornada que não só revela a
se o papel e a necessidade de cada extraordinária história do filho de Philome-
pessoa, apontando para a afetividade na, mas também cria um inesperado laço
como um dos elos maiores das pessoas entre eles. Atualmente, Philomena Lee está
entre si, respeitando e convivendo com à frente do projeto “Philomena Project”, que
O projeto “IBDFAM/RS na Escola” serenidade e com as diferenças”, avalia. ajuda outras mães a encontrar seus filhos e
realizado pelo núcleo regional do IBDFAM luta para que o governo irlandês promulgue
Todo o trabalho foi realizado de forma
em Santa Rosa (RS), foi implementado uma lei que permita a consulta aos registros
voluntária pelos associados do IBDFAM.
durante todo o ano de 2013 nas escolas de crianças adotadas.
Participaram GIOVANA FEHLAUER -
municipais, estaduais e particulares de advogada e presidente do Núcleo,
Santa Rosa e de municípios vizinhos, O filme está em cartaz nas principais cida-
LEANDRO STEIGER - assistente social des do país.
com o objetivo de discutir sobre as e primeiro Tesoureiro, JACQUELINE
relações de família e sucessões com DUTRA - advogada e Segunda GUIA DO PAI ADOTIVO
alunos, pais e professores. O projeto Tesoureira, LETÍCIA CELLA CÔAS -
atingiu diretamente cerca de 1.500 psicóloga e vice-Presidente, PATRÍCIA
pessoas e tratou do tema central SUCOLOTTI - psicóloga e segunda-
“Relações familiares – desafios e secretária, LISIANE GALLAS ZORZAN
responsabilidades”. - psicóloga e associada do IBDFAM e
A advogada Giovana Fehlauer, BRUNA DE CAMARGO - estudante de
presidente do núcleo IBDFAM em Santa direito e primeira secretária do Núcleo.
Rosa, explica que o objetivo principal do
PHILOMENA
projeto foi levar conhecimento, instigar a
reflexão e a mudança comportamental.
“Falamos sobre casamento, filhos,
direitos e deveres dos cônjuges, dos
pais para com os filhos e vice-versa,
ressaltando, ainda, a importância
da integração das famílias com as
escolas”, relata.
Giovana ressalta que os encontros O livro “Guia do Pai Adotivo - Orienta-
mais marcantes aconteceram com os ções para uma Adoção Feliz”, do promo-
jovens alunos da 7ª e 8ª séries do ensino tor de Justiça Sávio Renato Bittencourt
fundamental e 1º, 2º e 3º anos do ensino Soares Silva, aborda o universo afetivo dos
médio, (de 12 a 16 anos); pois sabemos pais adotivos. Ele trata das peculiaridades
que eles podem ser protagonistas da adoção, os preconceitos, as conquistas
de uma nova forma de viver e pensar e descobertas que são partilhadas e deba-
as relações familiares, com uma tidas para facilitar a vivência dos pais por
postura responsável, comprometida adoção. Como a construção de uma rela-
e consciente. “Falar sobre Direito de ção emocionalmente sadia passa, obriga-
Família é falar sobre a vida de todos toriamente, pela preparação dos pais, esta
nós, porém, com um enfoque mais obra se torna fundamental para quem
denso. Transmitir a um público muitas O filme “Philomena”, lançado neste mês, pretende viver ou já vive a adoção: pais, fi-
vezes carente de conhecimentos, baseia-se na história real de Philomena Lee, lhos, avós, tios e amigos da família adotiva
abordando de uma forma simples uma irlandesa que passou a vida à procura de vão ter uma excelente oportunidade de re-
os aspectos jurídicos, psicológicos seu filho. Grávida na adolescência, em 1952, flexão e crescimento.
e sociais das relações familiares é e considerada uma “mulher indigna” por sua
gratificante. Estamos contribuindo para família, na conservadora e católica Irlanda, Informações: http://www.jurua.com.br/

12
EVENTOS

SXC

CURSO TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS NO RIO XIX CONGRESSO NOTARIAL BRASILEIRO TERÁ INÉDITA
PARTICIPAÇÃO ACADÊMICA DO IBDFAM NACIONAL
O curso regular “Trabalho Social com Famílias no Paradigma
Sistêmico - Os Recursos do Profissional e da Família”, é promo- Em uma iniciativa inédita no segmento extrajudicial brasilei-
vido pela Associação Brasileira Terra dos Homens e, em sua 15ª ro, o XIX Congresso Notarial Brasileiro, que será promovido pelo
edição, ocorrerá de 20 de março a 4 dezembro de 2014 no Rio de Conselho Federal do Colégio Notarial do Brasil (CNB-CF), em par-
Janeiro. As aulas ocorrem toda terceira quinta-feira de cada mês ceria com a Seccional da Bahia (CNB-BA), contará com a partici-
(exceto feriados), das 8h30 às 17h, no Centro - RJ. pação acadêmica do IBDFAM. O evento, que ocorrerá entre os dias
14 e 18 de maio, na cidade de Salvador, Bahia, trará importantes
Para se inscrever é preciso agendar entrevista de seleção e, no
novidades para o setor e debaterá os principais temas atuais do
ato da entrevista, apresentar currículo resumido, foto 3x4 e pagar
notariado brasileiro, envolvendo os temas de Família e Sucessões.
taxa de inscrição no valor de R$ 40,00. A mensalidade é de R$
Por esta razão, a parceria firmada com a Comissão de Notários
130,00, com material didático incluso.
e Registradores do IBDFAM possibilitará um estudo ainda mais
Para mais informações: (21) 2524-1073 ou pelo e-mail terra- aprofundado das grandes questões que envolvem a prática nota-
doshomens@terradoshomens.org.br rial com a nova doutrina relacionada à família e sucessões.

III CONGRESSO NACIONAL ALIENAÇÃO PARENTAL & I I CONGRESSO GAÚCHO DE DIREITO DE FAMÍLIA
CONGRESO INTERNACIONAL ALIENAÇÃO PARENTAL
Entre os dias 15 e 17 de maio de 2014, o Ibdfam/ RS, com o
Promovido pela Associação Brasileira Criança Feliz em parce- Núcleo do IBDFAM em Santa Cruz do Sul, a seccional local da
ria com a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Rio de Janeiro, Ordem dos Advogados do Brasil e o Município, promovem a 1ª
o evento acontecerá de 3 a 5 de abril de 2014, na sede da OAB-RJ edição do Congresso Gaúcho de Direito de Família, em Santa Cruz
e reunirá renomados estudiosos dos temas “Alienação Parental, do Sul (RS).
Guarda Compartilhada e Mediação Familiar”.
Informações: http://www.ibdfamsantacruz.eventize.com.br/
Informações: criancafeliz.org/?p=649
CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE DIREITO DE FAMÍLIA
V CONFERÊNCIA INTERNACIONAL "MULHER, GÊNERO E
A Conferência Mundial promovida pela Sociedade Internacio-
DIREITO"
nal de Direito de Família (ISFL, da sigla em inglês ) realizará sua
O evento será realizado de 7 a 9 de maio de 2014, no Hotel Na- próxima edição no Brasil, de 6 a 9 agosto de 2014, no Recife. Para
cional de Cuba e é promovido pela União Nacional de Juristas de mais informações entre em contato com a psicanalista Giselle
Cuba e Federação de Mulheres Cubanas. O tema central desta Groeninga, diretora nacional do IBDFAM e vice-presidente da So-
edição é: “Uma visão jurídica e social aos avanços e desafios na ciedade Internacional de Direito de Família pelo e-mail: giselle@
aplicação dos objetivos de desenvolvimento do milênio para as groeninga.com.br
mulheres e meninas”. A Copa Airlines é a transportadora oficial
Programe-se e saiba mais em: < http://www.isflhome.org/>.
e concederá 10% de desconto aos participantes do evento e seus
acompanhantes, de acordo com a coordenação da conferência.
JANTAR DE POSSE DA DIRETORIA DO IBDFAM-RS (2014/2015)
Informações:
No dia 22 de março de 2014, às 20 horas, o Ibdfam/RS promove
Ms C. Yamila González Ferrer (coordenadora )
o jantar de posse da Diretoria do IBDFAM-RS (2014/2015). O even-
Tel: (537) 832-9680//832-6209/832-7562
to será na AABB de Porto Alegre.
Fax: (537) 833-3382.
mujergeneroyderecho@yahoo.es , yamila@lex.uh.cu Convites pelo e-mail secaors@ibdfam.org.br

13
OPINIÃO

UM OLHAR CRÍTICO E a ser adotada. O procedimento prévio,


assim, deve ter por fito incentivar e
apurar se existe disponibilidade dos
PREVENTIVO SOBRE A pretensos pais de aceitarem a criança
como ela é, conhecendo a sua origem,

EQUIVOCADA “DEVOLUÇÃO sua personalidade e respeitando as


suas subjetividades. Em suma, os
futuros pais devem estar preparados
DE FILHO ADOTIVO” para o exercício da parentalidade e,
também, da alteridade. Sendo assim, as
KÁTIA REGINA MACIEL - PROCURADORA DE JUSTIÇA dificuldades e os conflitos normais de
uma família em formação terão espaço
DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DO MPRJ
para serem discutidos e superados com
PRESIDENTE DA COMISSÃO DA INFÂNCIA E DA acompanhamento particularizado e não
JUVENTUDE DO IBDFAM redundarão em desistências precipitadas.

Para que o elo afeto seja construído que estava se formando e a perda da Em segundo lugar, evita-se a
entre a criança/adolescente adotável e oportunidade de ter sido escolhida por desistência de adoção, assegurando que
a família substituta adotiva, o estatuto outra pessoa. O ECA, com a alteração pela a criança ou o adolescente participe
infantojuvenil (Lei n. 8.069/90) prevê um Lei n. 12.010/2009, não prevê de modo de todos os procedimentos que digam
período de aproximação denominado de expresso qualquer sanção aos postulantes respeito a sua vida, sendo ouvido, sempre
estágio de convivência (art. 46). Quando desistentes. Todavia, este angustiante que possível, e tendo apoio das equipes
preexistente o exercício da guarda ou da momento na vida da criança rejeitada técnicas para estar disponível à formação
tutela, esta fase é dispensada (§1º do art. acarreta danos em sua integridade de novos vínculos afetivos (art. 100,
46), mas o vínculo de apego necessita, psíquica e moral (por vezes, física) e, por parágrafo único, inciso XII do ECA, em
igualmente, ser apurado no curso do consequência, devem ser ressarcidos, consonância com o art. 12 da Convenção
processo de adoção, pois ele é o amálgama pelo menos, com acompanhamento dos Direitos da Criança). Se sua voz não
de toda relação familiar. Todavia, durante psicológico a ser financiado, pelo tempo for ouvida quando da preparação para
o trâmite da ação de adoção, algumas que for necessário, pelo casal ou pessoa a inserção em adoção, depois pode ser
vezes, a relação socioafetiva não se que deu causa (art. 186 do Código Civil). muito tarde, pois não se examinou a sua
consolida por múltiplos fatores e fracassa Ou seja: se constatado que a pessoa ou condição de adotabilidade, indispensável
a colocação de uma criança em uma casal habilitado não empreendeu esforços para o sucesso da construção desta
família substituta. modalidade de família socioafetiva
para a formação de laços afetivos e houve
(art. 28, §1º c/c art. 45, §2º). Não raras
No Brasil, a expressão “devolução violação aos direitos fundamentais do
vezes, entretanto, o acolhido não possui
de filho adotivo” tem sido utilizada para adotando durante o estágio de convivência,
conhecimento sequer de sua real
denominar o que, na verdade, constituiu-se os pretensos pais devem responder pelo
situação familiar e ainda nutre esperança
em desistência processual que sobrevém dano causado.
de retornar à família biológica, o que
durante o referido período de convivência Mas, como evitar tais desistências dificulta a integração na nova família.
ou de análise da construção do afeto, na de adoção? Como medida preventiva,
qual os detentores da guarda provisória Por outro ângulo, findo o processo de
cremos que a pessoa ou casal adotante
de uma criança adotável, normalmente adoção, esta parentalidade socioafetiva
deva ser preparado gradativamente,
oriunda de entidade de acolhimento é irrevogável (art. 39, §1º). Não há
de maneira mais cuidadosa, para o
institucional, requerem a revogação “devoluções de filho” porque este não
exercício da parentalidade, antes de
deste encargo. Lamentavelmente, é objeto. Os pais adotivos, assim como
assumir a guarda de uma criança. Esta
tem-se apurado, da análise de casos ocorre com os biológicos, que rejeitam
preparação, normalmente, antecede
concretos colhidos na jurisprudência, a prole e deixam de exercer a autoridade
ou é concomitante ao procedimento de
que a desistência, não raras vezes, não parental devem ser responsabilizados
habilitação para adoção (art. 28, §5º e
está atrelada a motivações legítimas e civil e criminalmente pelo abandono,
46, §4º). Cremos que o papel da equipe
nem alinhada às reais necessidades do sem prejuízo da destituição ou suspensão
técnica é importantíssimo e, assim,
adotando (art. 43 do ECA). do poder familiar; do pagamento de
deve ser especializada no assunto,
alimentos, da responsabilização por
O que fazer diante deste cenário em quantitativo suficiente para um
infração administrativa prevista no
desastroso de adoção frustrada? Punir os atendimento de qualidade. Aquela, bem
art. 249 do ECA, entre outras medidas
desistentes desestimulará adoções por como os grupos de apoio à adoção,
cabíveis.
outros habilitados? Afinal, certo é que a devem esclarecer todas nuances acerca
rejeição deixa marcas na autoestima da da formação de uma relação socioafetiva Portanto, conclui-se ser equivocada a
criança que revive o abandono, além de de filiação/maternidade/paternidade, expressão “devolução de filho adotivo”,
dificultar o desenvolvimento saudável inclusive quanto à possibilidade da pois, além de incorreta como alertado,
de novas relações afetivas. O retorno não adaptação. Ademais, deve estar denigre a imagem e o respeito que devemos
à entidade de acolhimento representa bem definida a finalidade deste ato de ter às crianças e aos adolescentes como
para a criança a quebra da identidade amor: o interesse superior da criança sujeitos de direitos que são.

14
JURISPRUDÊNCIA

ABANDONO AFETIVO forma permanente, para o resto de sua FIDEICOMISSO


vida. Assim, a ausência da figura do pai
(...) Com efeito, ao restringir sua atuação (...) Segundo a doutrina, “o fideicomisso
desestrutura os filhos, tirando-lhes os rumo
ao mero cumprimento do encargo alimentar constitui modalidade importante de
da vida e debita-lhes a vontade de assumir
que lhe foi imputado, olvida-se o requerido substituição, que repercute com frequência
de sua responsabilidade imaterial perante um projeto de vida. Tornam-se pessoas
inseguras e infelizes. Tal comprovação, nas sucessões testamentárias. Consiste na
seu filho, caracterizando, assim, pela instituição de herdeiro ou legatário, com o
contumaz violação do direito de convivência facilitada pela interdisciplinaridade, tem
levado ao reconhecimento da obrigação encargo de transmitir os bens a uma outra
familiar consagrado pelo art. 227, da CR/88, pessoa a certo tempo, por morte, ou sob
cuja reparação ora se pleiteia. (...) Por óbvio indenizatória por dano afetivo. Ainda que
a falta de afetividade não seja indenizável, condição preestabelecida. O herdeiro ou
que a falta de cumprimento de quaisquer
desses deveres geram transtornos na vida o reconhecimento da existência do dano legatário instituído denomina-se fiduciário
da criança, mas, em especial, o dever de psicológico deve servir, no mínimo, para ou gravado, e o substituto ou destinatário
assistência afetiva é, a meu ver, o mais gerar o comprometimento do pai com o remoto dos bens chama-se fideicomissário.”
doloroso e talvez seja o que mais traga pleno e sadio desenvolvimento do filho. (Caio Mário da Silva Pereira, “Instituições de
prejuízos psicológicos para o menor. A Não se trata de impor um valor ao amor, Direito Civil”, vol. VI, Direito das Sucessões,
rejeição e a indiferença são um dos piores mas reconhecer que o afeto é um bem Forense, 16ª edição, p. 325). (...) (STJ, Resp
sentimentos que um indivíduo pode sofrer, muito valioso.” (TJMG, Apelação Cível nº nº 1221.817-PE, REl MIn. Maria Isabel
quanto mais uma crianças. Sendo assim, 1.0145.07.411698-2/001, Rel Des. Barros Galloti, 4ª Turma, pub. 18/12/2013)
não há dúvida de que essa forma de Levenhagen, 5 ª Câmara Cível, pub.
violência e agressão moral é danosa para o 23/01/2014) SOCIOAFETIVIDADE: PATERNIDADE FATO
filho, na medida em que lhe causa angústia, CULTURAL E NÃO DA NATUREZA
insegurança, tristeza, ou seja, transtornos DIVÓRCIO
psicológicos de toda ordem que poderão (...) A paternidade há de ser reconhecida
(...) inclusive dos bens adquiridos não como um fato da natureza, cuja
refletir por toda a sua vida. Assim, penso
onerosamente na constância do casamento. origem se radica em pura base biológica,
que a reparação moral ora pretendida
afigura-se legítima, porquanto presentes de No entanto, não se desconhece a aplicação mas um fato cultural, que se assenta na
encontram os seus requisitos. A ilicitude do da Súmula 377 do Supremo Tribunal circunstância de amar e servir, fundada no
ato consiste no descumprimento voluntário Federal, no sentido da participação nos exercício da liberdade e autodeterminação.
dos deveres atribuídos à família constantes aquestos (bens adquiridos onerosamente 2. Não pode ser considerado pai aquele que
no art. 227 do Código Civil e regulamentado na constância do casamento) na hipótese apenas participa, como procriador, de um
pelo artigo 19 do Estatuto da Criança e do de incidência do aludido regime. (TJSC, evento da natureza, ou seja, do nascimento
Adolescente (...) Frise-se, por oportuno, que Apelação Cível n. 2013.063906-9, Relator:
de um novo ser, sem construir qualquer
não se pretende com a indenização obrigar Des. Ronei Danielli, 6ª Cãmara Cível, j.
relação de afeto e assumir os cuidados
o genitor a amar o filho, mesmo porque isso 04/02/2014)
na sua formação. Por outro lado, àquele
seria impossível, mas responder pelo mal que, mesmo sabendo da inexistência de
causado pela sua omissão e negligência. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS
vínculo de consanguinidade (ou, como no
De mais a mais, a imposição de condenação (...)O habeas corpus, como já dito,
por danos morais aos genitores que caso dos autos, tendo dúvidas acerca deste
não é meio hábil para se discutir a liame), assume com todo o carinho, amor
abandonam seus filhos constitui uma forma impossibilidade financeira do paciente,
de chamar a atenção da sociedade para e dedicação, a criação de uma pessoa até
nem a constitucionalidade dos alimentos o atingimento de sua fase adulta, outra
que compreendam que a participação dos compensatórios, pois está restrito ao exame
pais na vida dos filhos é um dever inerente denominação e reconhecimento não se pode
da legalidade ou não da decretação da prisão dar, que não a do pai verdadeiro. 3. Existência
a sua condição de genitor - paternidade
civil. Ora, a impetrante poderia, se fosse de
responsável - e que a sua omissão é de mútuo afeto, em relação construída ao
seu interesse, ter recorrido da decisão de
passível de ser objeto de reparação civil. longo de toda a infância e adolescência do
Assim, atribui-se um caráter até mesmo fl. 21, por meio de agravo de instrumento,
filho, estabelecendo verdadeiro vínculo de
psicológico a essa condenação. Sobre o demonstrando seu inconformismo acerca
da (in)constitucionalidade da decisão paternidade socioafetiva, que manteve as
tema, segue a lição de Maria Berenice partes unidas mesmo após o afastamento
Dias, que sintetiza de forma bastante clara que comina prisão civil por alimentos
compensatórios e todos os contornos sobre do pai do lar conjugal - e a despeito das
a questão do abandono afetivo: “A falta dúvidas que cercavam a origem biológica
de convivência dos pais com os filhos, em o caráter alimentar e/ou de subsistência
de tal verba — o que não ocorreu —. do requerido. 4. Relação de socioafetividade
face do rompimento do elo de afetividade,
Ademais, não houve segreção. A togada presente, não podendo ser desconsiderada
pode gerar severas seqüelas psicológicas
e comprometer seu desenvolvimento singular ao receber a justificativa do com fundamento na inexistência de vínculo
saudável (...). A omissão do genitor em executado determinou a intimação da biológico, ou em uma suposta aproximação
cumprir os encargos decorrentes do sua ex-companheira e do representante do filho com seu procriador, o que teria
poder familiar, deixando de atender ao do Ministério Público, não mencionando gerado ciúme e sentimento de traição no pai.
dever de ter o filho em sua companhia sequer a expedição de decreto prisional em (TJMG, Apelação Cível nº 1.0024.08.137534-
produzem danos emocionais merecedores favor do paciente. (TJSC, Habeas Corpus n. 7/001, Rel Des. Áurea Brasil, 5ª Câmara
de reparação. Se lhe faltar essa referência, 2014.003589-3, Rel Des. Sérgio Izidoro Heil, Cível, pub. 07/02/2014)
o filho estará sendo prejudicado, talvez de 5ª Câmara Cível, j. 30/01/2014)

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