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IDENTIDADE, LÍNGUA E

CULTURA
CAPÍTULO 2 - COMO
IDENTIFICAR O PAPEL DA
IDENTIDADE CULTURAL NO
USO DA LÍNGUA INGLESA?
Raquel Rossini
INICIAR

Introdução
Neste capítulo você estudará autores e obras literárias
americanas e britânicas e identidades culturais de nativos e
não nativos da língua inglesa. Além disso, você verá as
principais características desses conteúdos e como eles
influenciam o uso da língua inglesa. Para começar este estudo,
você fará algumas reflexões importantes para que possa
compreender e relacionar as obras e as identidades culturais
relacionadas à língua inglesa de maneira crítica e reflexiva.
Você conhece as principais obras literárias da literatura em
língua inglesa? Que contribuições essas obras trouxeram para o
uso e para a construção de identidades em língua inglesa?
Como podemos definir a construção das identidades culturais
de nativos e falantes da língua inglesa como língua estrangeira?
A partir dessas reflexões, nesse capítulo você estudará algumas
das obras literárias americanas e britânicas relevantes na
história da língua e literatura inglesas, bem como um panorama
sobre a construção de identidades culturais americanas e de
não nativos, a fim de perceber a relação da literatura e da
identidade com o uso da língua inglesa.

2.1 História Britânica: autores


e obras literárias
A literatura em língua inglesa vem se transformando ao longo
dos séculos. Aliás, apesar da expansão que a produção literária
em língua inglesa alcançou, autores como William
Shakespeare, bem anteriores à contemporaneidade, ainda são
estudados e reverenciados nos dias atuais.
As obras produzidas em língua inglesa nos permitem perceber
a organização da língua inglesa no tempo em que foram
escritas e desempenham papel importante na disseminação e
desenvolvimento do idioma. Mesmo na contemporaneidade, as
obras em língua inglesa não falham em sua missão de
formação da língua do seu tempo.
E você? Conhece algumas das obras que fazem parte da
trajetória histórica da literatura inglesa? Quais podem ser as
contribuições da literatura para o desenvolvimento da língua?
Ao estudar os conteúdos apresentados a seguir, você poderá
responder a essas e a outras perguntas sobre as
transformações da literatura britânica até os dias atuais.

2.1.1 Literatura e história do inglês inicial


Para compreendermos melhor o início da literatura inglesa, é
importante que conheçamos um pouco sobre alguns fatos
históricos relacionados à própria língua inglesa. As Ilhas
Britânicas estiveram sob controle do Império Romano antes da
colonização dos anglo-saxões, que ocorreu por volta do século
V e que durou até o século IX. Durante o domínio anglo-saxão, o
território inglês era constituído por diferentes reinos e o inglês
arcaico era a língua utilizada (FERRO, 2015).
Foi durante este período que surgiram lendas orais como a do
Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, mas a primeira
obra em língua inglesa, com maior consistência, que se tem
registro, seria o poema épico Beowulf. O texto, com a Europa
como pano de fundo, foi escrito em território inglês,
supostamente no século IX, período de curta dominação dos
vikings, que perderam domínio da ilha para a corte normanda
(FERRO, 2015). Assim deu-se a transição do período do inglês
arcaico associado à colonização anglo-saxã, para a influência
da Normandia, região correspondente à França de hoje.
Você já se perguntou sobre o surgimento das expressões latinas
e francesas na língua inglesa, apesar de este idioma possuir
origem germânica? Após esse panorama inicial da história da
língua e literatura inglesas, você pode observar que a Inglaterra
foi influenciada pelo latim e pela cultura e língua falada pelo
Reino da Normandia. Desta forma, torna-se compreensível a
riqueza de vocabulário de outras línguas que o inglês adquiriu.
Por sinal, o início do controle da Normandia sobre o território
inglês teria sido de contraste entre a língua dos dominadores, o
latim e o francês, e a língua do povo local, o inglês, até 1204,
período em que os laços entre ingleses e normandos se
romperam (FERRO, 2015). O rompimento com a influência
normanda caracteriza o surgimento do inglês médio, com
traços remanescentes do latim e mais compreensível a um
leitor contemporâneo, se comparado ao inglês arcaico inicial
(FERRO, 2015).
Em meio à Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453), travada entre
Inglaterra e França, e às ocorrências da peste negra, surgiram as
produções de Geoffrey Chaucer, considerado “o primeiro
grande escritor inglês”, autor da obra “The Canterbury Tales”
(1387), segundo Ferro (2015, p. 23). Chaucer seria “o pai” da
literatura inglesa, abrindo caminhos para os trabalhos futuros
de William Shakespeare no século XVI. 

2.1.2 A literatura inglesa moderna


Reverenciado até os dias atuais, William Shakespeare nasceu
em 1564, época de grandes transformações. Segundo Ferro
(2015), naquele tempo, final da Idade Média, o Renascentismo
estava em ascensão, bem como iniciava o período das Grandes
Navegações e da formação dos Estados europeus modernos.
Antes mesmo de Shakespeare iniciar a sua produção literária e
teatral, a Inglaterra já possuía uma certa tradição no teatro,
pois peças de cunho religioso eram muito comuns. Porém,
foram os university wits, jovens universitários, cultos, mas não
nobres, que alavancaram o cenário teatral inglês.
Naquele momento, com a chegada de Elizabeth Tudor ao trono,
em 1558, o país derrotou a Espanha, tornando-se uma potência
marítima. O sentimento de afirmação de identidade nacional,
decorrente desse contexto histórico, teria levado, segundo
Ferro (2015), a um teatro com características próprias. Os
university wits e Shakespeare são atores marcantes no teatro
elisabetano.
De origem não nobre, William Shakespeare era filho de
comerciante e, segundo Ferro (2015), tornou-se dramaturgo de
destaque em seu tempo, enriquecendo com o seu ofício.
Curiosamente, segundo o autor, o poeta teria, na verdade,
produzido peças divididas nas categorias históricas, comédias e
tragédias (FERRO, 2015).
Conforme Ferro (2015), o drama histórico seria considerado
tipicamente inglês. Além disso, haveria uma relação com a
Igreja, pois o enredo desse tipo de produção seria caracterizado
pela presença de um santo herói, substituído, posteriormente,
por um homem herói (FERRO, 2015). Logicamente, devido ao
fato de os monarcas serem considerados representantes
divinos na Terra, os reis eram os indivíduos associados aos
homens heróis. 
VOCÊ SABIA?
O direito divino dos reis absolutistas é comumente
relacionado ao filósofo francês Jean Bodin e teria vigorado
no período compreendido entre os séculos XVI e XVII.
Resumidamente, o conceito determina que o monarca seria
autorizado pela “Providência Divina” a governar sua nação.
Naquele tempo, em um Estado absolutista, o rei era quem
determinava a própria lei. Quer saber mais sobre o direito
divino dos reis absolutistas? Acesse:
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/o-
direito-divino-dos-reis-absolutistas.htm
(http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/o-
direito-divino-dos-reis-absolutistas.htm)>.

Ferro (2015) ainda acrescenta que as peças históricas de


Shakespeare teriam sofrido críticas justamente por terem sido
vistas como uma propaganda da Dinastia Tudor, que tinha a
rainha Elizabeth como herdeira. Um exemplo de peça histórica
shakespeariana estaria ambientada na Guerra das Rosas, na
qual houve disputa pelo trono pelas casas inglesas de
Lancaster e York. 

VOCÊ QUER LER?


O portal Domínio Público, lançado pelo Governo Federal em 2004, possui um
acervo inicial de 500 obras com o objetivo de promover “o acesso às obras
literárias, artísticas e científicas [...] já em domínio público ou que tenham a sua
divulgação devidamente autorizada” (BRASIL, 2004). Para conhecer o portal e
acessar as mais variadas obras, desde ensaios científicos até clássicos da
literatura brasileira e internacional, acesse:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
(http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp)>.

Segundo alguns estudiosos de Shakespeare, como Bárbara


Heliodora, “Shakespeare está interessado em criar uma grande
parábola sobre a natureza do bom governante e dos danos
causados pelas lutas que sejam produto da sede de poder”
(HELIODORA, 2004, p. 105). De fato, o tempo vivido pelo
dramaturgo era de forte controle por parte dos monarcas e
ofendê-los poderia ser muito arriscado à sua carreira, conforme
pontua Ferro (2015). Porém, isso não parecia ser uma limitação
para as obras shakespearianas. 
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Figura 1 - Captura de tela do site com obras de Shakespeare disponíveis.


Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Outra categoria atribuída às peças shakespearianas seria a das


tragédias. Muitas das peças associadas a esse gênero teatral
são conhecidas e adaptadas até os dias de hoje, como Romeo
and Juliet (1595), Hamlet (1601), Othello (1604), King Lear (1605),
Macbeth (1606).
Por fim, encontram-se as comédias shakespearianas. Nesta
categoria, com um maior número de peças, há clássicos como
The Comedy of Errors (1591), The Merchant of Venice (1596-1597),
A Midsummer Night’s Dream (1595), Much Ado About Nothing
(1598), As You Like It (1600-1601), The Tempest (1610-1611; The
Winter’s Tale, 1611). 
VOCÊ SABIA?
Além de ser um autor de grande importância para o teatro e
literatura na Inglaterra, William Shakespeare contribuiu
muito para a língua inglesa. Diversas foram as palavras e
expressões criadas pelo poeta e dramaturgo e muitas delas
são utilizadas até os dias de hoje, tais como: foregone
conclusion, break the ice, uncomfortable, manager (GALILEU,
2016). Quer saber mais sobre expressões shakespearianas
que ainda são usadas atualmente? Acesse:
<https://goo.gl/qopHA6 (https://goo.gl/qopHA6)>.

Após o falecimento de William Shakespeare, em 1616, diversas


transformações históricas e literárias continuaram a ocorrer. No
século XVII, por exemplo, com a Revolução Industrial, ocorreu a
ascensão do romance entre a burguesia (FERRO, 2015). Nessa
época, surgiram autores de peso como John Milton, por
exemplo, autor de poesia e prosa, conhecido por ter escrito
obras aclamadas, como Paradise Lost (1667), de vocabulário
erudito e faz uma releitura da história bíblica da queda de Satã
e a expulsão de Adão e Eva do Paraíso após caírem em tentação
(FERRO, 2015).
Ainda no século XVII, a literatura inglesa sofreu influência do
pensamento lógico, formalista, neoclássico (FERRO, 2015).
Alexander Pope, poeta e autor de Essay on Criticism (1711) e An
Essay on Man (1734) e Samuel Johnson, poeta e autor do Preface
to a Dictionary of the English Language (1755).
Já no século XVIII, surgiram autores como Daniel Defoe, autor
de Robinson Crusoe (1719), Jonathan Swi , autor de Gulliver’s
Travels (1726), Samuel Richardson, autor de Pamela, or Virtue
Rewarded (1740), Henry Fielding, autor de The History of Tom
Jones, a Foundling (1749), Laurence Sterne, autor de The Life and
Opinions of Tristam Shandy (1759). 

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Figura 2 - Linha do tempo da literatura inglesa. Fonte: UNIVERSITY OF


TORONTO LIBRARIES, 2017.

Esses autores do século XVIII se encontram entre aqueles que,


naquele século, “fundaram a tradição romanesca em língua
inglesa” (FERRO, 2015, p. 78). Se, nos séculos anteriores, houve
forte presença do teatro e da poesia, no século XVIII surgiu uma
linha de escrita despreocupada com a forma e que queria
apenas narrar histórias. A expansão da narrativa na literatura
inglesa se deve à influência exercida pelo jornalismo e os
romances eram publicados em fascículos. Assim, a prática
jornalística aproximou a literatura dos fatos da realidade
(FERRO, 2015).
O sentimento de independência e liberdade trazido por esse
novo cenário político impactou, por exemplo, no
distanciamento do formalismo dos neoclássicos, na literatura,
por parte dos autores do romantismo. Nesse período,
destacaram-se autores como William Wordsworth e Samuel
Taylor Coleridge (Lyrical Ballads, 1798), Robert Burns (A Red, Red
Rose – poema), William Blake (Songs of Innocence and
Experience, 1789), Lord Byron, pseudônimo de George Gordon
Byron (Don Juan, 1821; Dracula, 1897), John Keats (Sonnet),
Walter Scott (Waverley, 1814), Mary Shelley (Frankenstein, or the
Modern Prometheus, 1831), Jane Austen (Pride and Prejudice,
1831; Sense and Sensibility, 1811; Persuasion, 1817).
Por sua vez, a Era Vitoriana, na qual a Rainha Vitória ocupou o
trono inglês, é considerada uma segunda renascença inglesa,
semelhante à era de Elizabeth Tudor (FERRO, 2015). O
progresso ocorrido na economia, nas artes e na ciência no
século XIX influenciou a produção literária daquele tempo.
Diferentemente do período romântico, em que houve bastante
enfoque na poesia, na Era Vitoriana a prosa ocupou um espaço
de destaque na produção literária. Entre os autores que
desempenharam papel relevante na literatura inglesa daquele
período encontram-se: Charles Dickens (Oliver Twist, 1838; Great
Expectations, 1861; David Copperfield, 1850; A Christmas Carol,
1843), as irmãs Charlotte (Jane Eyre, 1847) e Emily Brontë
(Wuthering Heights, 1847), George Eliot, pseudônimo da autora
Mary Ann Evans (Middlemarch, 1871), Lewis Carroll pseudônimo
de Charles Lutwidge Dogson (Alice in Wonderland, 1865), Robert
Louis Stevenson (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941) e os poetas Alfred
Tennyson (The Death of the Old Year) e Robert Browning (My Last
Duchess, 1842).
Ao final da Era Vitoriana e início do século XX, surgiram autores
que fizeram o que Ferro (2015) define como a transição do
período vitoriano para o modernismo. Alguns dos autores
relevantes neste momento foram: o romancista Thomas Hardy
(Far from the Madding Crowd, 1874), o poeta, autor de contos e
romancista Joseph Rudyard Kipling (Barrack-Room Ballads,
1892), o dramaturgo, poeta e romancista irlandês Oscar Wilde
(The Picture of Dorian Gray, 1890; The Importance of Being
Earnest: A Trivial Comedy for Serious People, 1895) e o
 dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (Widower’s Houses,
1892; Pygmalion, 1913).

2.1.3 Tempos modernos e pós-modernos


A modernidade e a pós-modernidade apresentam um cenário
ainda mais diverso para a literatura britânica. Segundo Todd
(2006), as últimas décadas têm sido marcadas pela produção
ficcional. Além disso, a ficção contemporânea teria um enfoque
de cunho político. Na verdade, o início do século XX marca o
início de uma grande mudança no cenário literário britânico,
pois, como aponta Ferro (2015, p. 229), houve “[...] um impulso
contrário aos valores vitorianos”. 
Alguns dos autores dessa época de mudanças foram: Joseph
Conrad (Heart of Darkness¸1899), William Somerset Maugham
(Liza of Lambeth, 1897), E. M. Foster – Edward Morgan Foster (A
Room with a View, 1908), D. H. Lawrence – David Herbert
Lawrence (The White Peacock, 1911), Katherine Mansfield –
Kathleen Beauchamp (In a German Pension, 1911), James Joyce
(The Dubliners, 1914; Ulysses, 1922; Finnegans Wake, 1939;),
Virginia Woolf (Mrs. Dalloway, 1925; To the Lighthouse, 1927),
Graham Greene (The Man Within, 1929).
Com as mudanças no cenário político, econômico e cultural do
mundo, com a globalização, bem como com as mudanças na
produção e disseminação de obras literárias, as quais são
impressas e vendidas em larga escala nos dias atuais, podemos
inferir que a literatura, ainda hoje cumpre a sua função de
expandir o acesso à língua e cultura de origem inglesa. Se tal
feito era alcançado pelas obras em séculos anteriores, quando
ainda não havia tecnologia de ponta para uma produção
literária veloz, hoje em dia, as obras literárias das culturas de
expressão no mundo possuem um escoamento muito maior. 

2.2 História norte-americana:


autores e obras literárias
Assim como a literatura britânica, que desempenhou
importante papel na expansão e no desenvolvimento da língua
inglesa, disseminando a língua e cultura inglesas ao mundo ao
longo dos séculos, a literatura norte-americana também teve a
sua contribuição para a língua inglesa.
Segundo Baugh; Cable (2002), o inglês chegou aos Estados
Unidos por meio dos colonos ingleses, no século XVII.
Posteriormente, o território recebeu imigrantes de outras
regiões, como do sul da Europa e dos países escandinavos. A
imigração dos escravos africanos ocorreu entre os séculos XVII
e XIX e já a partir da Declaração de Independência dos EUA, em
1776, houve uma busca por uma língua americana. Noah
Webster (1758 – 1843) teria se destacado neste objetivo e
publicado obras importantes, como o American Dictionary
(1828) (BAUGH; CABLE, 2002).
Segundo Ferro (2015), a partir do século XIX, os Estados Unidos
começaram a ter uma literatura nacional com o surgimento de
autores do país. Além disso, em seu período colonial, os
Estados Unidos tinha autores que tinham a Inglaterra como
referência. Somente após a declaração da independência é que
a literatura assumiu uma busca pela literatura nacional.
Diferentemente da Inglaterra, no século XIX, os EUA ainda não
possuíam um mercado receptor de obras literárias, o que fazia
com que as publicações fossem lidas por um público burguês
bastante restrito (FERRO, 2015).
E você? Conhece algumas das obras que fazem parte da
trajetória histórica da literatura norte-americana? Quais podem
ser as contribuições da literatura para o desenvolvimento da
língua? Ao estudar os conteúdos apresentados a seguir, você
poderá responder a essas e a outras perguntas sobre as
transformações da literatura produzida nos Estados Unidos até
os dias atuais.

2.2.1 Autores norte-americanos 


Diversos autores norte-americanos almejaram promover um
fazer literário nacional. Entre os autores que se destacaram no
século XIX encontram-se: Washington Irving (A History of New
York from the Beginning of the World to the End of the Dutch
Dynasty, 1809), James Fenimore Cooper (Precaution, 1820; The
Spy, 1821), Nathaniel Hawthorne (Twice-Told Tales, 1837; The
Scarlet Letter, 1850) e Edgar Allan Poe (The Raven¸ 1845; The Fall
of the House of Usher, 1839). 

VOCÊ O CONHECE?
De origem humilde e adotado por um comerciante escocês, o autor americano
Edgar Allan Poe (1809-1849) é um dos destaques da história da literatura norte-
americana. Após tentar seguir carreira em diversas áreas, sem sucesso, como o
jornalismo e a carreira militar, Poe começou a se destacar no campo literário,
sendo conhecido pelos seus pares ao final dos anos de 1830. Sua obra, de
vertente romântica, tende para o horror. A sua poesia se caracteriza por rigidez
na métrica e musicalidade (FERRO, 2015). Quer saber mais sobre Poe? Acesse:
<https://www.ebiografia.com/edgar_allan_poe/
(https://www.ebiografia.com/edgar_allan_poe/)>.
Durante o período romântico surgiu, nos EUA, um movimento
denominado transcendentalismo. Tal nome se deve às ideias
de transcendência, individualismo e espiritualidade atribuídas
ao movimento (FERRO, 2015) e Edgar Allan Poe foi um dos
críticos a esta corrente literária. Alguns dos autores que
produziram nesta época romântico-transcendental foram:
Ralph Waldo Emerson (Nature, 1836; The Poet, 1844), Henry
David Thoreau (Civil Disobedience, 1849), Walt Whitman (Leaves
of Grass, 1855), Herman Melville (Moby-Dick, or The Whale, 1851),
Emily Dickinson (I’m nobody! Who are you?, 1891).
Já o período literário do Realismo ocorreu no pós-Guerra Civil
Americana. Segundo Ferro (2015), com a derrota do Sul, mais
rural, para o Norte, mais desenvolvido, houve um processo de
migração do campo para as áreas urbanas, transformando a
sociedade americana em um curto espaço de tempo. Com a
mudança histórica e social veio a mudança da mentalidade
americana refletida na literatura.
Segundo Bercovitch (2005), haveria uma diferença entre o pré e
pós-guerras, de modo que esta última fase apresentasse uma
natureza mais irônica, sem ilusões, mais realista. Bem diferente
da fase anterior, romântica, com uma certa inocência (FERRO,
2015). Na transição do século XIX para o século XX, os EUA já
eram uma potência econômica mundial. A figura do
empresário, geralmente ilustrado como um homem gordo,
agora era o representante da riqueza do país (FERRO, 2015).
Entre os autores de destaque deste novo momento na história
norte-americana, encontram-se: Mark Twain (The Adventures of
Huckleberry Finn, 1884) e Henry James (Portrait of a Lady, 1881;
Daisy Miller, 1879). Segundo Ferro (2015), esses autores
possuíam o desafio de produzir uma literatura com caráter
nacional. Porém, os autores posteriores já possuiriam outra
missão: entender o lugar do homem em um mundo em
transformação em que a lei do mais forte se destacava.
Outros autores norte-americanos que seriam referência
durante o século XX foram: F. Scott Fitzgerald (The Great Gatsby,
1925), John Steinbeck (Of Mice and Men, 1937), Henry Miller
(Tropic of Capricorn, 1934), Ernest Hemingway (For Whom the
Bells Toll, 1940), William Faulkner (The Sound and the Fury, 1929;
As I Lay Dying, 1930).

2.2.2 Obras literárias norte-americanas 


Conforme mencionado anteriormente, diferentemente da
Inglaterra, os Estudos Unidos careciam de uma literatura
nacional no século XIX. Além disso, não havia um público fiel às
publicações literárias, como ocorria no continente europeu.
Muitas foram as obras de autores americanos que contribuíram
para a construção e expansão do ideal de uma literatura
nacional e você terá um panorama sobre algumas delas.
A história satírica sobre a cidade de Nova York, A History of New
York from the beginning of the World to the End, de Washington
Irving (1783-1859), é um exemplo de uma das primeiras
produções consideradas nacionais, ou que, pelo menos,
continham narrativas nacionais (FERRO, 2015). Já o romance
The Scarlet Letter (1850), de Nathaniel Hawthorne (1804-1864), é
considerado outra importante obra de referência na história da
literatura norte-americana por retratar a puritana sociedade
americana.
Em relação aos trabalhos desenvolvidos por Edgar Allan Poe
(1809-1849), o poema The Raven (1845) se destaca pela
publicação e divulgação em nível mundial, ainda no século XIX,
e pelo cuidado do autor em sua métrica e forma de composição
(FERRO, 2015).
A obra The Adventures of Huckleberry Finn (1884) é uma entre as
várias de Mark Twain (1835-1891). Porém, nesse romance, o
autor consegue trazer para a obra o inglês coloquial, falado nas
ruas, bem como conflitos sociais observados e vivenciados pelo
personagem principal (FERRO, 2015).
Mais tarde, surge a obra The Great Gatsby (1925), de F. Scott
Fitzgerald (1896-1940). Neste momento, a obra não parece
refletir anseios de apresentar um olhar profundo sobre a
situação econômica e social da sociedade americana no pós-
Segunda Guerra Mundial e pré-quebra da Bolsa de Nova York,
em 1929. Nesse romance, Fitzgerald aborda o American Dream,
sonho de nativos e imigrantes nos EUA de prosperidade
financeira, liberdade e felicidade.
Na mesma linha crítica, relacionada à Grande Depressão
enfrentada pelos Estados Unidos, a obra Of Mice and Men (1937),
de John Steinbeck (1902-1968) tem como pano de fundo a vida
dos cidadãos pobres afetados pela grave crise econômica
(FERRO, 2015). Por sua vez, a obra As I Lay Dying (1930), de
William Faulkner (1897-1962), é uma obra-prima relevante na
história da literatura norte-americana. A história explora o
recurso estilístico de fluxo de consciência com maestria.
Na contemporaneidade, assim como vem ocorrendo com o
mercado editorial inglês, com produção cultural em massa, não
somente em relação a filmes e música, mas também a respeito
da literatura, o mercado norte-americano também parece
vivenciar tal situação. Assim como nos séculos anteriores,
vistos anteriormente, a literatura norte-americana permanece
disseminando a língua e cultura de origem inglesa (e, neste
caso, norte-americana), porém, em uma escala muito maior de
produção e venda do produto cultural.

2.3 Identidade e Cultura


Americana
Para discutirmos a identidade e cultura americana, faz-se
necessário que, primeiramente, tentemos compreender o
conceito de identidade. Por sinal, identidade em si seria
bastante complexa, pelo menos é o que parece segundo o
argumento de Hall (1989), que defende que esse conceito não
seria tão claro, nem completo. A identidade também estaria
sempre em processo e seria formada dentro da representação e
não fora dela. Outro fator que estaria associado à reafirmação
da identidade seria a diversidade (MICHLISZYN, 2012). 
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Figura 3 - Resumindo o conceito de cultura. Fonte: MICHALISZYN, 2012, p. 20.

 
A própria inserção da identidade cultural no processo de ensino
e aprendizagem seria uma tarefa árdua, segundo Altugan
(2015). Na perspectiva do autor, a formação de identidade seria
um processo de grande complexidade e longa duração, com
desenvolvimento gradativo em seus contextos sociais.
Desta forma, como você verá no decorrer das próximas seções,
a diversidade e elementos necessários à construção de
(diferentes) identidades serão fatores considerados
importantes em nosso panorama sobre as identidades culturais
na cultura americana.

2.3.1 Identidade cultural e diáspora na cultura


americana
Segundo o dicionário Cambridge online (CAMBRIDGE ONLINE
DICTIONARY, 2018, tradução da autora), “diáspora” é definida
como o deslocamento de pessoas de um país de origem a
outros países. Arthur (2010) aponta os africanos como parte
integrante das transformações ao nível global do processo de
imigração uma vez que eles estariam propagando e difundindo,
ativamente, a sua cultura em países para os quais os imigrantes
se dirigem, tais como Estados Unidos e Canadá.
Ainda segundo Arthur (2010), as imigrações de africanos se
definem devido a condições internas do continente, bem como
a alterações nas condições de produção de produtos e serviços
no mundo. Como você pode observar no caso da expansão da
cultura, língua e literatura inglesas, que se deu por meio de
configurações de cunho político como a instituição da
Inglaterra como potência econômica, no caso da imigração
africana, que ocorreu séculos depois, por exemplo, a situação
não seria diferente, ou seja, a configuração político-econômica
do mundo exerceria influência sobre o processo migratório.
Assim, meios modernos de transporte, meios de comunicação
mais rápidos e a conexão entre economias seriam alguns dos
elementos que levariam à inserção de imigrantes africanos nas
questões globais. A imprensa, bem como os estabelecimentos
comerciais africanos, seria responsável pela representação das
várias identidades africanas nos Estados Unidos. Assim, os
imigrantes africanos nos EUA tenderiam a manter as suas
identidades (ARTHUR, 2010). 
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Figura 4 - As identidades são preservadas após a imigração. Fonte: charles


taylor, Shutterstock, 2017.

Um aspecto interessante de observarmos e que, talvez, nos


passe despercebido, é que os EUA são uma nação de
imigrantes. Segundo Fraga (2017), essa condição norte-
americana ocorre desde os primeiros séculos até a atualidade,
de modo que a diversidade seria elemento básico da
construção de identidades do país.

VOCÊ QUER VER?


Há uma palestra que aconteceu no TEDx Talks, realizada na UERJ, que trata do
tema busca por identidade, intitulada “Uma jornada na busca por identidade e
propósito”, da editora Juliana Luna. Nesta palestra, Luna aborda o tema de
identidade individual e do outro,   relatando sua busca pessoal pela sua
identidade enquanto afrodescendente. Quer assistir a palestra completa?
Acesse ao vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=yYshSRXnN_E
(https://www.youtube.com/watch?v=yYshSRXnN_E)> .

Desta forma, você pode perceber que as configurações político-


econômicas globais afetam os processos migratórios em
direção aos EUA. Diante da interação entre culturas e
identidades diferentes em território norte-americano, tanto
imigrantes quanto nativos têm o desafio de reafirmar as suas
identidades culturais. 

2.3.2 As identidades culturais e o ser americano


Como você viu na seção anterior, a construção das identidades
norte-americanas é marcada pela interação de diferentes
culturas, fruto dos processos de imigração ocorridos no país.
Assim como os norte-americanos, os países latino-americanos
também têm enfrentado desafios na reafirmação de suas
identidades culturais.
Conforme Prado; Pellegrino (2014), tanto os países colonizados
pela Espanha, quanto o Brasil buscaram a construção de
identidades nacionais. Apesar de crises, guerras e problemas
políticos enfrentados por essas nações, ocorreram “debates
apaixonados sobre a construção da nação e a constituição de
identidades” e “ao lado das discussões sobre a língua, era
imprescindível escrever a história das recentes nações [...] e
mostrando que a história da América Latina não era igual à
europeia” (PRADO; PELLEGRINO, 2014, p. 88).
Esses processos de construção de identidade nas Américas,
desenvolvidos ao longo dos séculos de colonização e
independências de seus respectivos países, nos levam a pensar
na definição apresentada por Hall (1989), que associa
identidade à “produção”, sempre em desenvolvimento,
incompleta, pertencente à representação (HALL, 1989, p. 222).
Kumaravadivelu (2012) acrescenta que, na pós-modernidade, a
identidade seria vista como fragmentada, múltipla, sem
fronteiras.
Segundo Waters e Eschbach (1995), a questão da desigualdade
étnica nos EUA tem perdurado ao longo dos anos. Desde a
reforma da lei de imigração em 1965, tem surgido uma série de
questões relativas à inserção dos imigrantes na sociedade
norte-americana. A complexidade da desigualdade étnica nos
EUA seria tão grande que ela não ocorreria somente entre
migrantes africanos e de outras noções pós-coloniais e seus
descendentes, mas, também, entre os diferentes grupos
étnicos de origem europeia que migraram à América em
períodos distintos. A desigualdade social em território norte-
americano também afetaria esses grupos.
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Figura 5 - A
diversidade étnica nos EUA é complexa. Fonte: Media Bakery13,
Shutterstock, 2017.

Conforme mencionado anteriormente, a nação norte-


americana é fruto de processos de imigração, não apenas com
origens em países pós-coloniais, mas, também, de nações
europeias. Assim, ao observarmos os fatos históricos
pertinentes aos movimentos de imigração em direção aos EUA
pode ser uma boa saída para tentarmos compreender a plural
construção de identidades culturais nesse país.

VOCÊ SABIA?
Kumaravadivelu (2012) define identidade associando-a à
ideia de semelhança. O autor explica que a identidade
engloba a participação em categorias como etnicidade,
religião, profissão, gênero. Ele apresenta o exemplo de uma
mulher branca, americana e cristã, a qual estaria ligada a
aspectos relacionados a ser branca, mulher, americana e
cristã. Porém, apesar das semelhanças, Kumaravadivelu
(2012) argumenta que é a diferença que determina a nossa
identidade.

Nesse sentido, a literatura é um valioso instrumento de análise


dos fatos históricos e dilemas de construção de identidade do
eu norte-americano. A obra The Great Gatsby (1925), de F. Scott
Fitzgerald, por exemplo, é um clássico literário conhecido por
abordar o contexto econômico da quebra da Bolsa de Nova
York, em 1929, bem como o American Dream de ascensão social
e financeira de muitos cidadãos norte-americanos. Fitzgerald
foi capaz de retratar os anseios da sociedade de uma época.
Segundo Ferro (2015), o personagem principal, Gatsby, aprende
“de forma amarga, que não é possível entrar de penetra na
festa dos ricos e felizes sem mais tarde pagar por isso” (FERRO,
2015, p. 261).

VOCÊ QUER LER?


Publicada por F. Scott Fitzgerald, em 1925, a obra The Great Gatsby (O grande
Gatsby) pode ser encontrada no mercado em variadas edições. O romance tem
como cenário as cidades de Nova York e Long Island, nos Estados Unidos. A
história ainda aborda a prosperidade pós-Segunda Guerra Mundial e o sonho
americano vivido pela sociedade americana antes da crise econômica de 1929.
Também é relatado o 18º aditamento, que determinava a proibição de
produção e consumo de bebidas alcoólicas no país.

Nesse sentido, as mudanças sofridas na própria situação de


desigualdade não seriam em direção ao seu desaparecimento,
mas sim em relação a uma mudança no seu formato (WATERS;
ESCHBACH, 1995). O cenário pós-guerra é bastante interessante
para compreendermos as mudanças (e o não desaparecimento)
dessas desigualdades étnicas.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA vivenciaram um
contexto de rápido crescimento econômico, porém, após os
anos de 1960, esse ritmo de desenvolvimento não era mais
possível. Assim, com menores expectativas de ascensão
econômica das classes menos privilegiadas socialmente, os
avanços para a igualdade racial cessaram (WATERS; ESCHBACH,
1995).
A partir da década de 1960, a imigração passou a desempenhar
importante papel na sociedade norte-americana, fazendo
aumentar a população que não era de origem branca, segundo
Waters; Eschbach (1995). 
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Figura 6 - Gráfico do percentual da origem dos imigrantes dos EUA em 1990.


Fonte: Elaborado pela autora, baseado em WATERS; ESCHBACH, 1995.

Atualmente, permanecem questionamentos, por exemplo,


sobre os rumos da língua inglesa em um cenário global,
marcado por constantes processos de imigração, como já
alertavam Graddol (1997) e Singh (2005). As tensões políticas e
culturais entre nativos e imigrantes nos Estados Unidos, no
decorrer do século XXI, demonstram que a discussão teórica e
literária sobre a definição de identidades culturais ainda se faz
muito relevante na era contemporânea.
2.4 Falantes de inglês como
segunda língua: inglês e
identidades culturais
Língua e cultura possuem uma relação muito próxima.
Segundo Hall (1997), a língua seria o meio pelo qual
compreendemos as coisas, compartilhamos e produzimos
sentidos. Nas palavras do autor, “os sentidos somente podem
ser compartilhados através do nosso acesso comum à língua.
Então, a língua é essencial para o sentido e a cultura e sempre
foi considerada um repositório-chave de valores e sentidos
culturais” (HALL, 1997, p. 1, tradução da autora).
Considerando, então, essa relação entre língua e cultura, como
poderíamos explicar ou relacionar a expressão de identidades
culturais a uma língua? Você já pensou sobre o papel da língua
inglesa na expressão de identidades culturais de falantes desse
idioma como segunda língua?
Como você verá nas próximas seções, a língua inglesa assume
função importante na comunicação global e na expressão das
identidades culturais dos sujeitos contemporâneos.

2.4.1 A importância da língua inglesa na


comunicação global
Apesar de haver teóricos que questionem o futuro da língua
inglesa em plena era da globalização, o idioma ainda é
considerado uma língua de uso global, conforme apontado por
Graddol (1997).
  Embora haja um inegável intercâmbio de ideias, produtos,
artefatos culturais, entre outros, essa interação pode não ser
tão profunda entre países e culturas em uma esfera global.
Segundo Salomão (2015), que concorda com a visão Shaules
(2007 apud SALOMÃO, 2015, p. 363), “o contato entre as
pessoas no mundo hoje [...] geralmente permanece superficial,
pois mídias e meios de comunicação globalizados não criam
automaticamente comunidades globalizadas”. A autora ainda
acrescenta que, com a globalização, haveria uma imposição de
valores relacionados à economia, política, cultura, ciência,
entre outros, em vez de um compartilhamento harmônico deles
entre as culturas.

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Figura 7 - Cultura envolve um intercâmbio de diversos fatores e sujeitos.


Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2017.
Desta forma, o ensino de inglês (enquanto língua global) a
falantes não nativos parece enfrentar alguns desafios. O
primeiro deles seria a inclusão da ideia de cultura e de
identidades culturais no ensino da segunda língua, ou seja, o
ensino da língua não poderia estar dissociado dos contextos de
uso, das realidades vivenciadas pelos falantes, uma vez que a
língua é utilizada em contextos reais de comunicação entre
indivíduos de culturas diferentes. Além disso, o ensino de
segunda língua tem o desafio de compreender que, devido às
diferentes identidades culturais dos falantes não nativos, as
suas relações com a língua estudada serão também diferentes.

2.4.2 Relação dos falantes de segunda língua com o


inglês
Segundo Salomão (2015), há abordagens de ensino de língua
estrangeira que englobam a cultura com “perspectivas de
assimilação cultural ou aculturação, interculturalidade, multi e
pluriculturalismo, assim como geralmente estiveram bastante
voltadas ao estudo da ‘cultura do outro’” (SALOMÃO, 2015, p.
371).
Por também perceber uma conexão forte entre língua e cultura,
Kumaravadivelu (2012) vê a sala de aula como uma
oportunidade de professores e alunos tentarem lidar melhor
com a complexidade da formação de identidades. Segundo o
autor, devido ao fato de a formação de identidade, o ensino de
inglês e a globalização cultural estarem interligados,
educadores têm se voltado para a discussão desses assuntos. 
CASO
Em estudo realizado e publicado pelo British
Council (2014) às vésperas da Copa do Mundo
daquele ano a respeito do nível de escolaridade
dos brasileiros, constatou-se que apenas 5,1% a
partir dos 16 anos de idade disse ter algum
conhecimento de inglês.
O baixo nível de proficiência da população
brasileira, principalmente dos setores de serviços
prestados durante a realização da Copa de 2014,
levou à criação do curso Pronatec – Copa,
oferecido pelo Governo Federal em parceria com
instituições de ensino, como universidades
federais do país, para tornar funcionários e
prestadores mais aptos para comunicação durante
o evento.
Segundo o site oficial do programa, foram
oferecidos cursos nas áreas de “turismo,
hospitalidade e lazer” (BRASIL, 2014), em 120
cidades participantes do programa. Os alunos
tinham aulas de inglês em níveis básico e
intermediário com prática de situações vivenciadas
em eventos como o mundial de futebol, a fim de se
tornarem mais fluentes para as situações a serem
enfrentadas durante o evento. Após a Copa do
Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, esses
cursos de inglês específicos se encerraram.
Outra questão que pode permear a relação dos falantes de
segunda língua com o inglês diz respeito aos impactos da
globalização na língua materna dessas falantes.
Kumaravadivelu (2012) demonstra que, apesar de as pessoas
de todo o mundo reconhecerem oportunidades de crescimento
cultural proporcionadas pela globalização, elas também veriam
essa configuração global como uma ameaça à cultura e
identidade locais. Ou seja, em vez de uma integração global,
estaria ocorrendo, nas palavras do autor, uma tribalização
(KUMARAVADIVELU, 2012).
Assim, a língua inglesa é um importante instrumento na
comunicação de falantes de segunda língua em um cenário de
globalização, porém, essa mesma configuração político-
econômica global também pode ser vista como uma ameaça à
cultura e identidade locais, visto que essa interação
multicultural pode não ser harmônica, resultando em
imposição de valores e práticas de povos com maior poder
sobre culturas com menor destaque político, econômico,
cultural e tecnológico. Logo, a relação dos falantes não nativos
com o inglês pode adquirir uma natureza dúbia, sendo vista
como útil para acesso a outras culturas, mas, também, como
uma ameaça à identidade nacional.

2.4.3 A língua inglesa e as identidades culturais dos


sujeitos contemporâneos
A utilização da língua inglesa como instrumento de
comunicação global no século XXI apresenta números
crescentes, como aponta Singh (2005). Segundo a autora,
haveria em torno de 375 milhões de falantes nativos do inglês e
haveria, aproximadamente, a mesma quantidade de falantes
de inglês como segunda língua. Além disso, cerca de 750
milhões estariam em processo de aprendizado, porém, esses
três segmentos não seriam estáticos, ou seja, áreas em que o
inglês seja uma segunda língua, comunidades em que os seus
falantes utilizem o idioma como primeira língua.
Conforme mencionado na seção anterior, a expansão da língua
inglesa como segunda língua em diversos locais leva ao
surgimento de variantes da língua nesses lugares, que se
diferem da língua padrão utilizada pelos falantes nativos. Essas
outras formas seriam, inclusive, vistas como distintas pelos
seus falantes e refletiriam “uma identidade nacional e cultural
específica” (SINGH, 2005, p. 175).
Contudo, essa realidade de expansão do idioma parece afetar
não apenas os falantes nativos e não nativos que a utilizam,
mas também a própria língua. A princípio, poderíamos
entender que a utilização global do idioma poderia colocar em
risco as línguas locais, mas também a própria língua inglesa,
que sofreria alterações, variações, tornando-se híbrida em
locais em que é utilizada como segunda língua.
Apesar do receio que poderíamos ter em relação ao futuro da
língua inglesa e das demais línguas do mundo diante do
intercâmbio contínuo entre países, o inglês parece manter a
sua posição como língua franca, sem se descaracterizar e, ao
mesmo tempo, as línguas locais continuam sendo utilizadas.
Singh (2005) explica que na Índia, por exemplo, o inglês divide a
posição de língua oficial com o Hindu, porém, as outras línguas
utilizadas no país continuam tendo importância nas escolas, na
mídia e nas administrações locais.
Além disso, as comunidades teriam um grande empenho na
manutenção de suas identidades sociais e individuais, ao
contrário do que poderíamos imaginar, a princípio, em um
processo de globalização. Se as fronteiras são dissolvidas para
a promoção de uma economia em âmbito global (FRAGA, 2017),
as fronteiras culturais parecem permanecer. Isso não significa,
naturalmente, que as práticas e identidades culturais não
estejam em constante processo de evolução. A questão é que
parece haver um movimento de proteção ou de preservação
das identidades. Segundo Kumaravadivelu (2012), a identidade
individual é influenciada pela realidade social e a ameaça à
identidade de uma sociedade resultaria em tensão.  

Síntese
Concluímos a unidade relativa ao papel da identidade cultural
no uso da língua inglesa. Agora, você já conhece os principais
autores e obras britânicas e norte-americanas que
desempenharam papel importante no desenvolvimento da
língua e cultura inglesas. Você também viu aspectos da
construção de identidades culturais no ambiente de uso do
idioma.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
acompanhar a evolução histórica da literatura e língua
inglesas;
identificar autores que desempenharam papel
fundamental na história britânica e norte-americana para
a evolução da língua inglesa;
perceber que as obras contemporâneas continuam
desempenhando papel de formadoras da língua
contemporânea;
identificar os conceitos de identidade cultural e diáspora;
compreender a importância e função da língua inglesa na
comunicação global;
perceber que a língua inglesa interfere nas identidades
culturais dos sujeitos contemporâneos.

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