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Abstract: The aim of this article is to discuss the genesis of phantasm’s object in Lacan.
The articulation between partial objects, transitional objects and object a will be
stressed. This articulation will open the way to think a kind of recognition after the
crossing of the phantasm.
Amamos sempre
através de qualidades de empréstimo.
Pascal
assim bloqueada, restando apenas uma posição autista angustiante na qual seria
impossível dizer algo sobre o desejo1.
Definido o fantasma desta forma, Lacan tentava demonstrar que sua verdadeira
função consistira em ser uma barreira de defesa contra a angústia produzida pelo
inominável do desejo. Angústia que aparece sob a forma de angústia de castração: este
desvelamento da impossibilidade do sujeito produzir uma representação adequada do
sexual.
Mas como o fantasma conseguiria produzir um objeto próprio ao desejo? Ou
seja, através de qual operação ele poderia inscrever no interior fantasmático e positivar
esta falta-a-ser que se determina como essência do desejo? Sublinhemos a importância
da questão já que, através da problematização da genética própria ao fantasma, Lacan
desenvolverá este que, em seu ponto de vista, era um dos poucos conceitos
metapsicológicos por ele criado: o objeto a.
Se quisermos compreender o problema da genética do fantasma, devemos
retornar a certos aspectos da teoria freudiana. Sabemos que, para Freud, o movimento
do desejo era coordenado pela repetição alucinatória de experiências primeiras de
satisfação. Tais experiências primeiras deixariam imagens mnésicas de satisfação no
sistema psíquico. Quando um estado de tensão reaparece, o sistema psíquico atualiza de
uma maneira automática tais imagens sem saber se o objeto correspondente à imagem
está ou não efetivamente presente. Através deste processo de repetição, o desejo
procuraria reencontrar um objeto perdido ligado às primeiras experiências de satisfação.
Mas o movimento tem sua complexidade. Pois, se analisarmos de maneira mais
precisa a natureza destas primeiras experiências de satisfação, veremos que elas se dão
através da relação entre o sujeito e aquilo que Karl Abraham indicou como sendo o que
hoje conhecemos por objetos parciais2. Neste caso, o adjetivo parcial significa
principalmente que, devido a uma insuficiência na capacidade perceptiva do bebê, suas
primeiras experiências de satisfação não se dão com representações globais de pessoas,
como o pai, a mãe ou mesmo o eu enquanto corpo próprio, mas com partes de tais
objetos: seios, voz, olhar, excrementos etc.
O caráter parcial dos primeiros objetos de satisfação também estaria ligado à
estrutura srcinariamente polimórfica da pulsão, ou seja, ao fato de que as moções
pulsionais apresentam-se inicialmente sob a forma de pulsões parciais cujo alvo
consiste na satisfação do prazer específico de órgão. Pensemos no bebê que ainda não
tem à sua disposição uma imagem unificada do corpo próprio. Neste caso, cada zona
erógena tem tendência em seguir sua própria economia de gozo. Notemos também que
tal gozo é auto-erótico porque o investimento libidinal destes objetos parciais ocorre
antes do advento da imagem narcísica com sua estrutura de identidades, ou seja, ele
ocorre em um momento de indiferenciação subjetiva entre interioridade e exterioridade.
O amor de objeto, no sentido do amor próprio à relação interpessoal com um
outro, só seria possível através da operação de transposição das moções pulsionais
parciais. Assim, as pulsões parciais seriam integradas em representações globais de
pessoas ou sublimadas em representações sociais. Como sabemos, o exemplo freudiano
mais célebre é a transformação do desejo feminino de ter um pênis em desejo de ter um
homem portador do pênis.
Notemos que esta integração de objetos parciais não colocará problemas
intransponíveis para Abraham ou para seus continuadores como Melanie Klein e outros
representantes da escola inglesa. Pois tais objetos serão partes de um todo que estará
disponível a posteriori. O desejo pelo seio resolve-se logicamente no amor pela mãe. O
desejo pelo pênis resolve-se logicamente no amor pelo homem portador do pênis. A
abertura às relações intersubjetivas pareceria estar assim assegurada 3. Aqui, a
metonímia do objeto é reconhecimento da pressuposição de sua integração em uma
totalidade funcional.
No entanto, a posição de Lacan sempre foi totalmente diferente. Ao apropriar-se
do conceito de objeto parcial, ele operou uma inversão maior na perspectiva
psicanalítica clássica. Inversão que produzirá conseqüências maiores na noção de
racionalidade analítica e de final de análise.
Primeiramente, Lacan notou que, se o movimento do desejo consistia em tentar
reencontrar um objeto perdido, então deveria tratar-se, na verdade, da relação entre o
sujeito e tais objetos parciais4. Devemos sublinhar o termo ‘relação’ porque não se trata
simplesmente de reencontrar um objeto no sentido representativo da palavra ‘objeto’,
mas de reencontrar uma ‘forma relacional’ encarnada pelo tipo de ligação afetiva do
sujeito ao seio, à voz, aos excrementos etc. O que nos explica porque: “um seio, é algo
que não é representável”, a não ser “sob estas palavras: ‘a nuvem encantadora de seios”
(LACAN, 1966-1967, sessão do 25/01/67) que nos fornece a forma relacional do sujeito
com os objetos nos quais seu desejo aliena-se. Segundo Lacan, é este tipo de relação
que será posto em cena nas representações imaginárias do fantasma e formalizado no
matema do fantasma ($ ◊a). O que nos explica também porque o objeto a é presença de
um vazio de objeto empírico, como vemos na afirmação de que tal objeto é "presença de
um vazio preenchível, nos diz Freud, por qualquer objeto”, já que estaríamos diante de
um: “objeto eternamente faltante” (LACAN, 1973, p. 168). Pois ele nada mais é do que
a derivação de uma forma relacional produzida pelas primeiras experiências de
satisfação.
Aqui, podemos compreender melhor porque Lacan designou o objeto a como
objeto causa do desejo. Pois, por exemplo, o que causa o amor por uma mulher
particular é a identificação do objeto a no estilo e no corpo desta mulher; da mesma
maneira que o amor de Alcebíades por Sócrates, no Banquete, teria sido causado por
este objeto que Sócrates guardava dentro de si e que os gregos chamavam de agalma.
“Se este objeto os apaixona”, dirá Lacan, “é porque lá dentro, escondido nele, há o
objeto do desejo, agalma” (LACAN, 2001, p. 180).
A princípio, poderia parecer que, devido a esta maneira de pensar a causa do desejo,
Lacan estaria seguindo o caminho destes que acreditavam em uma passagem possível
do amor parcial de objeto ao amor por representações globais de pessoas. Passagem
impulsionada pelo primado genital. Mas, na verdade, seu movimento era inverso: “A
noção de objeto parcial nos parece aquilo que a análise descobriu de mais correto, mas
ao preço de postular uma totalização ideal deste objeto, através do qual dissipa-se o
benefício desta descoberta” (LACAN, 1966, p. 676). Para Lacan, dizer que o amor por
uma mulher particular era causado pela identificação, nesta mulher, do objetoa
significava assumir o fracasso de toda relação interpessoal possível. Pois: “Com seus
próximos, vocês não fizeram outra coisa do que girar em torno do fantasma cuja
satisfação vocês neles procuraram. Este fantasma os substituiu com suas imagens e
cores” (LACAN, 2001, p. 319). “Nossos próximos” aparecem assim como tela de
projeções fantasmáticas. O que nos envia aos fundamentos narcísicos da noção de
objeto na psicanálise5.
Tal maneira de colocar a importância do fantasma nas relações entre sujeito nos
permite entrar no
relação sexual, problema
caso daseria
existisse, inexistência da relação
o protótipo sexual. Pois
por excelência podemos
da relação dizer que a
intersubjetiva.
Ela seria a única relação na qual o sujeito poderia estar presente ao Outro através da
materialidade de seu corpo. Mas, com esta teoria do fantasma, Lacan sustenta que o
sujeito sempre encontra no corpo do Outro os traços arqueológicos de suas próprias
cenas fantasmáticas vindas das primeiras experiências de satisfação. É apenas nesta
condição que este corpo pode transformar-se, como dizia Lacan, em metáfora do meu
gozo. Antes de ser metáfora, ele deve transformar-se em corpo fetichizado, corpo
submetido aos procedimentos de conformação ao pensamento fantasmático. E se: “só
pensamento,
real). mas também
Na verdade, nãofalará
Winnicott estãode
totalmente fora de
uma espécie de ilusão
controle (como
a fim de écaracterizar
o caso da mãe
tais
objetos como polo de tensão entre “a realidade interna e a realidade externa”. Tensão
que “nenhum ser humano consegue liberar-se” (WINNICOTT, 1971/1975, p. 24).
Para Winnicott, a função destes objetos transicionais consiste na produção de
uma defesa contra a angústia do tipo depressivo vinda de experiências de frustração do
objeto maternal. De onde se segue a necessidade de afirmar que o objeto transicional
toma o lugar do seio ou do objeto da primeira relação. Isto nos demonstra claramente
que a frustração reiterada não se resolve no acesso epistêmico ao objeto ‘real’, mas ela
berço para logo em seguida fazê-la reaparecer. Estes dois movimentos eram
acompanhados pelos vocábulos fort (para o desaparecimento) e da (para o retorno).
Compreendendo o jogo como um processo de simbolização capaz de responder à
renúncia pulsional a qual a criança foi submetida devido à perda do objeto materno,
Freud já fornecia um exemplo maior do objeto transicional de Winnicott em seu papel
de defesa contra a angústia. O complemento lacaniano consistiu em dizer que a bobina,
longe de ser apenas um símbolo da mãe marcada pela perda, era inicialmente : “Um
pequeno algo do sujeito que se destaca ao mesmo tempo em que a ele continua
pertencendo, ainda retido” (LACAN, 1973, p. 69). Lacan falará de um jogo de
automutilação para sublinhar como a bobina se inscrevia no interior da série de objetos
parciais compreendidos como objetos que podem ser cedidos, nomeando assim o desejo
do Outro.
O amor na carne
tal qual o fantasma, a imagem do corpo fornece uma cena que ‘veste’ o objeto ao
fornece-lhe consistência, mas ela o impede de desvelar-se. Devido ao primado da
imagem na experiência do corpo, perde-se o acesso àquilo que Lacan chama de
“objetalidade” (LACAN, 1962-1963, sessão do 08/05/63) do corpo. O que significa que
a dissolução da imagem do corpo pode aparecer como desvelamento do objeto a . Isto
nos explica porque, em alguns momentos, Lacan tenta aproximar a dimensão do objeto
a não-submetida à imagem e o conceito de “carne”, como vemos na afirmação : “‘É seu
coração que quero’ dever ser, como toda metáfora de órgão, tomada ao pé da letra. É
como parte do corpo que ele funciona; poderia dizer que é como tripa” (LACAN, 1962-
Mas há um outro amor, este que visa o ser, dirá Lacan 11. Podemos dizer que se
trata de um amor que descobre que a “essência do objeto é o fracasso ( ratage)”
(LACAN, 1975, p. 55). Fracassamos uma relação sexual quando o corpo do outro não
se submete integralmente à cena fantasmática. O amor endereça-se então ao semblante e
afronta-se com o impasse de um objeto que resiste ao pensamento fantasmático do eu.
Lacan nos dirá que o amor que visa o ser pede a coragem de sustentar o olhar diante do
impasse, sustentar o olhar diante do estranhamento deste corpo não submetido à
imagem e à sua submissão ao significante. Ou, se quisermos, como dizia Hegel,
coragem de olhar o negativo e deter-se diante dele.
absoluta” (SARTRE, 1943, p. 384). Este longo comércio que chamamos de intimidade,
via na qual as máscaras se desfazem e o corpo se transforma na opacidade sensível da
carne, indica o caminho para uma travessia do fantasma pressuposta pela final de
análise. Ele nos demonstra também como a travessia do fantasma não pressupõe
dissolução da fixação de objeto. O sujeito permanece diante do mesmo objeto que
suportou seu fantasma, No entanto, diante deste objeto no qual o desejo encontrava-se
assegurado pela cena fantasmática, o sujeito tem agora a experiência da inadequação
entre a opacidade sensível do objeto e as representações fantasmáticas que o
colonizaram. Sobre esta experiência de deslocamento do objeto, muito ainda há o que