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CURITIBA/PR
2016
FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO BRAZ
CURITIBA/PR
2016
RESUMO
Este artigo tem por objetivo observar e analisar os motivos pelos quais trabalhadores/as de Marechal
Cândido Rondon-PR, com parte de sua trajetória vivida no meio rural, abandonaram as salas de aula
e agora avaliam o retorno, identificar as variadas motivações para permanência em sala de aula, bem
como compreender quais as dificuldades encontradas por eles e a relação com a sociedade,
destacando como constroem suas perspectivas de viver a/na cidade, relacionando, particularmente,
trabalho e escolarização com sua experiência social. Através da reflexão e análise das fontes orais,
observa-se que estes trabalhadores/as partilham certa condição de classe e formulam diversos
sentidos perante as urgências que se apresentam ao longo de sua trajetória, assim como são
diversas as expectativas referentes a viver, morar, trabalhar e estudar na cidade, entendendo que é
necessário sair do analfabetismo para melhorar as condições de vida, assim como, escolarizar-se faz
parte do processo de melhor se adaptar a vida urbana.
[...] E eu penso assim, eu (quero) estudar mais. Assim, para poder ajudar
meu filho nos estudos dele, ajudar ele um pouco, porque muitas vezes ele
vem pedir: “Mãe, me ajuda aqui em tal coisa”, eu não sei ajudar ele, eu fico
assim, eu não sei ajudar ele, que vergonha, sabe, eu me sinto
envergonhada pelo meu filho. Eu erro até no falar meu, eu erro, eu não sei
falar direito. É, é ruim. Que nem hoje meu filho veio pedir uma tarefa, para
mim fazer uma tarefa para ele e eu não conseguia fazer..eu me senti mal,
sabe, você, não saber ajudar teu filho fazer a tarefa dele. É ruim. [...]
(LANGARO, 2003, p. 26)
O Aluno 2 ficou órfão de pai aos doze anos e de mãe também poucos anos
depois, dependia do trabalho para sua sobrevivência, pois havia três irmãos mais
novos para ajudar a criar, essas pressões são indicadas por ele como "então tinha
que lutar”. Ele dá ênfase ao termo “lutar,” indicando ser este motivo pela sua decisão
de abandonar os estudos, argumentando contra possíveis julgamentos pejorativos
diante desta decisão, pois, mesmo havendo elementos que podem legitimar sua
atitude, estudar era e é visto por muitos no convívio social como atividade
obrigatória.
Ao ser perguntado sobre como era sua jornada na segunda metade da
década de 1970, ele relata:
Eu começava sete horas até o meio dia, vinha em casa almoçava ligeiro,
começava as uma e meia e dai voltava e dai tipo começava no serviço seis
e meia sete horas e dai não dava tempo nem de toma um banho, nem de
toma um café. Ia pro colégio com a barriga roncando de fome. Aí eu falei
não, vou parar. (ALUNO 2, 2014)
Assim como a Aluna 1, o Aluno 2 avaliou que trabalhar e estudar não eram
possíveis naquele momento de suas vidas, pois o trabalho era o modo de levar o
sustento para dentro de casa, assim como a necessidade de procurar por um
emprego e se empenhar o máximo para continuar nele. Porém, ao voltar para sala
de aula anos depois suas expectativas quanto à escolarização se diferenciam em
alguns pontos, pois a realidade de cada um na atualidade se coloca distintamente.
Ela continuou com suas possibilidades de trabalho limitadas, além de estar doente,
enquanto ele, pelo fato de apresentar-se na última década como pequeno
empresário, acredita ter que demonstrar nas novas relações sociais a equivalência
entre sua condição financeira e escolarização e, para isso, a escolarização tardia na
EJA funcionou.
Para ele, essa era uma tentativa de retirar uma marca da exploração de
classe. A falta de estudos, historicamente vem acompanhada de uma trajetória de
trabalhador com dificuldades de escolarizar-se. É isso que ele sabe e tentou alterar
quando durante a entrevista avalia que hoje está em outro momento em sua vida e
só lhe falta o estudo.
Na luta cotidiana destes sujeitos que estão sempre confrontando realidade e
expectativas, estão também procurando formas de enfrentar as suas condições de
classe. Neste caso, a escolarização básica não é vista como mecanismo propulsor
de mudança, mas como parte dessa mudança.
Aluna 3, 37 anos no momento da entrevista, trabalha dezoito anos como
diarista; nascida e criada em uma fazenda, veio para Marechal Cândido Rondon
com doze anos. Ela destacou em sua narrativa que parou de estudar na oitava série,
casou aos dezessete e só conseguiu retomar os estudos depois do falecimento do
marido, em 2013, quando ingressou na EJA. Ela afirma que não voltou a estudar
para melhorar de vida, mas voltou para a sala de aula para “ocupar a cabeça”;
Você num pode tenta nada. Eu sempre quis faze um concurso público,
‘qualqué’ coisa ‘né’? Você num pode tenta nada. O máximo que você
consegue, que nem, eu sou diarista ‘né’? O máximo que você consegue é
isso. Tipo assim, numa lojinha, uma coisa assim, mas vai ganha muito
pouco ‘né’? Por não te estudo. (ALUNA 3, 2015)
Trabalhar como diarista é uma das poucas opções de trabalho para pessoas
com pouca escolaridade, para a entrevistada a falta de estudo limitava sua chance
de conseguir outra ocupação. “Nem tentei porque sabia que num ia consegui,”
(ALUNA 3, 2015), percebe-se que a escolha da entrevistada por essa atividade foi
determinada pela pouca escolarização e facilidade de se inserir nas relações de
trabalho a partir dessa atividade. Ela avalia as exigências do mercado de trabalho e
seus próprios limites, destacando a leitura que se faz sobre esse trabalho, "eu sou
diarista né", pois ainda que o ganho seja satisfatório, a exposição dessa ocupação,
socialmente, é carregada de desvalorização e da indicação de um não saber fazer
mais nada.
Para melhor compreensão desta análise, observa-se à discussão
desenvolvida por Alessandro Portelli (1996), acerca das possibilidades, a
reformulação dos significados subjetivos atribuídos aos fatos.
Você qué um calçado bão, você qué te uma roupa boa, se um dia se quisé
te um carro, uma casa, uma moto, a gente tem que estuda pra isso, você
vai te que batalha pra isso. Se a gente num estuda a gente consegue um
emprego sim, com certeza, você pode te estudo e num tê, só que num é
aquela coisa que a gente sempre quéné?(ALUNA 4, 2015)
A aluna 4, então, aponta que seu objetivo é buscar outros caminhos que lhe
proporcionem uma renda melhor, assim como uma alteração nos limites de classe
experimentados na comunidade rural, escassez de alimentação, vestuário, dinheiro.
Para tanto, a escolarização apareceu como um mecanismo de integração, de tentar
alterar caminhos, mas fazer algo que pudesse corresponder à sua trajetória e uma
profissão.
Como eu sempre fui criada na roça né? Eu quis ser agrônoma né? Mas aqui
na nossa região é muito difícil ‘né’? Aí eu se tive aquela oportunidade sair
do Estado ‘né’? Procura ‘outros emprego’ pra fora... mas acredito que
administração também seria bom pra mim. Tinha vontade de faze
administração também. Aí agora um curso, eu queria faze um curso técnico
de segurança, segurança de trabalho. Que nem lá na empresa precisa
bastante ‘né’? É bem cobrado. Gostaria muito de fazer também. (ALUNA 4,
2015)
A escola exerce aqui um duplo papel. Por um lado abre uma via, embora
para a maioria seja mais aparente que real, através da qual é possível
melhorar a posição de indivíduos e grupos dentro dos cursos de ação
estabelecidos e aceitos e sem riscos de desembocar em um conflito aberto.
Fundamentalmente, permite aos grupos ocupacionais reforçar sua posição
controlando a possibilidade de acessos aos mesmos, as quais são
restringidas através de elevação das exigências em termos educacionais; e,
sobretudo, permite aos indivíduos lutar pessoalmente para mudar de grupo,
para acender a outro situando em uma posição mais desejável. Na
realidade, a escola é hoje o principal mecanismo de legitimação
meritocrática de nossa sociedade, pois supõe-se que através dela tem lugar
um seleção objetiva dos mais capazes para o desempenho das funções
mais relevante, às quais s associam também recompensas mais elevadas.
(Ibidem)
Com isso, o autor afirma que grande parte dos sujeitos busca melhorar
individualmente suas posições e a escolarização é uma das alternativas para isso.
Deste modo, a escolarização pode ser vista como um mecanismo de distinção,
assumindo, como aponta Langaro (2003) um caráter meritocrático não levando em
conta o contexto social vivido por muitos trabalhadores que não possuem acesso a
um ensino de qualidade, o que torna necessário compreender a conjuntura na qual o
sujeito está inserido, a trajetória de cada um e as relações sociais que interferem a
todo o momento nos caminhos escolhidos por eles.
Para a classe trabalhadora, ter e manter um emprego são à base da
sobrevivência da família, pois precisam “lutar”, estudar pode ser algo almejado,
porém não encontram condições ideais para isto, ou não é tão impressionante como
outros elementos de seu modo de viver. Como diz o Aluno 2, “A maioria das pessoa
hoje que num são formada, que num ‘estudô’ e num ‘terminô’ o ensino médio é
devido o trabalho, não é porque é vagabundo. Tinha vontade de estuda mas num
tinha condição; “num posso, tenho que ‘trabaiá’, amanhã cedo”(ALUNO 2, 2016).
Essa é uma justificativa para os valores atribuídos à educação hoje, não se remetem
ao que foi vivenciado nas décadas de 1960, 1970, 1980, 1990.
Ele demonstra preocupação em justificar o fato de não ter estudado, “não é
porque é vagabundo.” Procurando se explicar à pesquisadora por um abandono que
é suscetível a julgamentos. Dentre os diversos motivos que forçaram a desistência
destes trabalhadores da escola quando jovens ou ainda crianças é o fato de
pertencerem a comunidades rurais, onde deixam a escolarização para um segundo
plano, ou mesmo não reconhecem essa a formação importante para o trabalho que
se exigia para sobrevivência e manutenção familiar.
A necessidade de aprender, logo cedo, a trabalhar na roça, ou cuidar da casa
e dos irmãos, para que os pais pudessem trabalhar, concorria e de certo modo
justificava os poucos anos que frequentaram a escola na infância, ou a pouca
importância dada à qualidade desse ensino. Nesse sentido Langaro (2003) também
aponta sobre o que nas primeiras décadas da segunda metade do século XX se
almejava das crianças e adolescentes em casa:
[...] Não, não o único material que a prefeitura fornecia era o giz só, só, só,
só. Os professores, nós tínhamos que providenciar os nossos próprios
cadernos, os nossos próprios materiais, caneta, tudo, cada aluno tinha que
providenciar o material, todo o material né inclusive. Quando nós íamos
limpar a escola, nos tínhamos que levar panos de casa, os alunos traziam
vassoura. [...] (LANGER, 2012, p.52)
Levando-se em conta que para manter um filho na escola era necessário ter
gastos, não só com os materiais que ele necessitava para estudar, mas também
com a manutenção da escola, fatores que contribuíram, também, para a desistência
da escolarização e se dedicar ao trabalho, cuidado com a casa e construir novas
expectativas e pressões, incluindo casamentos e filhos.
Estes fatores faziam com que estes sujeitos agregassem mais valor ao
aprendizado prático na lavoura, pois o trabalho na roça exige o esforço de toda
família, assim como a falta de estabilidade no emprego de trabalhadores/as rurais
nas décadas de 1970 e 1980, dificultou o acesso ou a permanência de muitas
crianças na escola nos anos iniciais, hoje, estes sujeitos procuram se estabilizar na
cidade e a escolarização é um dos aspectos que compõem o viver nela, é dentro
das escolas que muitos elaboram suas experiências sobre as relações vividas no
espaço urbano, ou seja, para muitos/as trabalhadores/as ir para escola está
vinculado ao viver a/na cidade.
Assim, entende-se que a decisão de buscar a escolarização é diversa e que
as perspectivas e valores depositados nesse caminho também são variados, sendo
assim é preciso analisar de forma minuciosa todas as relações que se fazem
presente para compreender quais sentidos eles atribuem a esta decisão. De todo
modo é possível afirmar que a escolarização é de fato mais um mecanismo
importante para a classe trabalhadora intervir e alterar sua inserção social.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
______. O que faz a história oral diferente. Projeto História. São Paulo, n. 14, p. 25-
39, fev.1997.
ROTEIRO DE QUESTÕES
Data da entrevista:
Local:
1. Você é de Rondon?
(Se sim): como era sua infância, que época era essa, como era a cidade - ou o
campo, Já mudou de Rondon, por quê? Por que voltou? - como é viver aqui e
trabalhar aqui. Bairros que morou, dificuldades que enfrentou mudanças que
observa na cidade e na sua vida em relação à sua infância, vida com os pais, e hoje
com os filhos, caso tenha.
(Se não): Como era quando chegou aqui? Por que deixaram a antiga cidade ou
comunidade? Razões pelas quais morou em tal lugar ou deixou essa cidade.
3. Por que parou de estudar quando criança? Qual a relação do abandono da sala
de aula com o trabalho?
5. A experiência De voltar pra sala de aula, quais eram suas expectativas quando a
volta. Houve mudanças? O que mudou?
6. Quais são as maiores dificuldades enfrentas por sujeitos sem ou com pouco
estudo?
10. Gostaria de expor algo mais que não conversamos durante a entrevista e
considera que seria importante ou que você queira destacar?
11. Se fosse me indicar uma questão importante para eu discutir no meu trabalho
sobre as condições de vida dos trabalhadores/as que buscam por escolarização,
qual seria?