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PROCESSO,

PROCEDIMENTO E
ATO PROCESSUAL
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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao “patrão”, CECILIO DO REGO ALMEIDA (in memoriam), que foi o


primeiro grande incentivador para a realização de meu Doutorado na PUCSP. Fica
aqui minha gratidão e o meu reconhecimento por sua amizade, pelo seu carinho e
pela sua grandeza de espírito, sem contar o sem-número de ensinamentos deixados.
Merecem agradecimento especial minha esposa, IVANISE, e meus filhos ENZO e
LUCA. Sem a presença e o amor de vocês essa empreitada não teria sentido. A felici-
dade por esse momento não é minha, é nossa!
Mais uma vez, agradeço ao amigo PAULO EDUARDO D’ARCE PINHEIRO, pela com-
panhia constante, pelo incentivo, pelas sugestões e auxílio na pesquisa, enfim, pela
colaboração que tornou a realização do Doutorado além de mais proveitosa, uma
grande aventura, rica em momentos marcantes de companheirismo e alegria.
Também não posso deixar de agradecer e render minhas homenagens ao Pro-
fessor DONALDO ARMELIN, meu orientador. A confiança que me foi depositada trans-
formou a responsabilidade em honraria. Espero que o resultado final deste trabalho
possa conferir ao senhor o mesmo orgulho que tenho ao dizer que o senhor foi (e
sempre será!) o meu orientador.
Expresso meu agradecimento aos Professores que compuseram a banca exami-
nadora (Professores Doutores JOSÉ MANOEL DE ARRUDA ALVIM NETTO, JOÃO BATISTA
LOPES, LUIZ EDSON FACHIN e FLÁVIO LUIZ YARSHELL), cujas críticas e observações cer-
tamente contribuíram para o resultado final do trabalho.
Preciso agradecer a todos os meus companheiros de “Jurídico” da CR Almei-
da (advogados, estagiários e funcionários), não só pelo incentivo e apoio, mas tam-
bém pela compreensão com que suportaram as lacunas e a sobrecarga que minha
ausência para o término deste trabalho lhes acarretou. Agradeço, ainda, a todos os
vi PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

dirigentes da CR Almeida, especialmente ao Dr. Pedro Beltrão Fraletti e ao Dr. Marco


Antonio Cassou, que permitiram e colaboraram para a conclusão do Doutorado. Es-
pero que meu trabalho possa colaborar para manter o respeito ao nome e à tradição
da empresa.
Agradeço, por fim, o apoio recebido da Faculdade de Direito de Curitiba
– Unicuritiba.
PREFÁCIO

QUANDO DOBRAM OS SINOS PELA EFICÁCIA DO PROCESSO CIVIL

Justiça e processo são dois vocábulos siameses ligados pelo compromisso da efi-
cácia. Tal mister reclamava a devida atenção.
Observando-se os estudos a respeito dos planos da existência, validade e eficá-
cia no âmbito do processo civil, percebia-se que o último, da eficácia, não havia sido
agraciado com o mesmo prestígio das demais.
Atento a essa realidade, o Professor Sandro Gilbert Martins, em sua tese, com a
qual obteve o título de doutor em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Pon-
tifícia Universidade Católica de São Paulo, aprofundou o estudo do tema, propondo
uma “teoria geral da eficácia processual”. E o faz de modo ímpar, colmatando essa
lacuna e aportando relevante contribuição à comunidade jurídica brasileira.
Analisa a dimensão da eficácia no processo, no procedimento e no ato processual
em si considerado – os três pilares que embasam a estrutura processual, privilegiando
a realização da paz social e a plenitude das garantias do devido processo legal.1
O autor destaca que é preciso que a justiça se realize materialmente, no caso
concreto. Defende, assim, o princípio da instrumentalidade das formas no âmbito do
ato processual, bem como a flexibilização do procedimento. Isso, porém, sem deixar
de atentar à necessidade de se resguardar minimamente a segurança jurídica, pois os
fins realmente não justificam os meios.

1
Sobre o devido processo legal, vem da dicção constitucional a lição hermenêutica: “É claro que a pleni-
tude e eficácia desse almejado princípio de relacionamento nas circunscrições da comunidade política
dependerá fundamentalmente do nível de justiça e de igualdade material existente em cada sociedade”
(Carlos Roberto Siqueira Castro, O devido processo legal e os princípios da razoabilidade e da proporcionali-
dade. Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 403).
viii PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Beneplacitado pela serenidade da reflexão acadêmica com a prática forense, o


Professor Doutor Sandro Martins inscreve seu aporte de peso na literatura do pro-
cesso civil brasileiro contemporâneo.
O cotejamento entre a concretização do escopo buscado no processo com a ga-
rantia de segurança jurídica é fundamental para a própria eficácia do processo. Não
é possível eliminar o risco, porém, é preciso que se busque remediá-lo e prevê-lo,
conforme pondera Ulrich Beck:

La anticipación escenificada de destrucciones y catástrofes hace de la prevención un


deber. Especialmente para el Estado, que, al tener por misión preferente la seguridad
de sus ciudadanos, se ve obligado a la anticipación y la previsión [...].2

Aponta, assim, Sandro Martins, serem necessárias normas processuais garantidoras


de um modelo equilibrado: flexível, porém seguro; célere, nada obstante justo, aliado
à capacitação dos operadores do direito em geral e melhorias na estrutura judiciária.3
Tal perspectiva processual repensa o próprio sujeito, daí emergindo a lição de
Paolo Grossi:

[...] es un sujeto pensado en estrecha relación con el otro, con los otros, en el interior de
estructuras comunitarias que integran y enriquecen su individualidad.4

Daí por que tratar da eficácia corresponde a traduzir no presente uma das mais
relevantes interrogações existentes na comunidade jurídica e no próprio Direito. É
de um bom combate que se trata quando as questões cruciais são arrostadas, na bus-
ca de soluções, pela ousadia e pelo esmero técnico.
Na literatura, Ernest Hemingway iluminava a resposta quando, em 1940, inter-
rogativamente escreveu afirmando: “for whom the bell tolls”. Agora, no processo civil
brasileiro, a obra que tenho a honra de apresentar aclara que dobram os sinos para a
eficácia, clamor justo e necessário.
Luiz Edson Fachin
Professor Titular de Direito Civil
da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná
e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

2
Ulrich Beck, La sociedad del riesgo mundial. En busca de la seguridad perdida, Barcelona, Paidós, 2008,
p. 29.
3
António Manuel Hespanha afirma que “leis processuais mal-elaboradas, organização judicial deficiente e
burocratizada, deficiente formação e vícios culturais dos magistrados e dos advogados, eventuais manobras
dilatórias das partes ou eventual desleixo (ou mesmo corrupção) dos oficiais de justiça, explicam uma boa
parte da demora processual” (António Manuel Hespanha, O Caleidoscópio do Direito – O Direito e a Justiça
nos dias e no mundo de hoje. Coimbra: Almedina, 2007, p. 333.
4
Paolo Grossi, La legalidad constitucional en la historia de la legalidad moderna y posmoderna. In: Cerimô-
nia de Outorga do Doutorado Honoris Causa a Paolo Grossi, Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2009, p. 37.
1 CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES

1.1 PROCESSO E PROCEDIMENTO

É bastante conhecida e divulgada a ideia de que o processo é um conjunto de


atos coordenados e sucessivos, tendentes a um fim: a resolução do conflito mediante
a prestação de uma tutela jurisdicional que não apenas o defina como também o rea-
lize ou o assegure, se necessário for.1

1
Encontra-se a referência feita no texto em autores estrangeiros e pátrios, a exemplo: Giuseppe Chioven-
da, Instituições de direito processual civil, v. 1, Campinas: Bookseller, 1998, p. 56; Piero Calamandrei Direito
processual civil, v. 1, Campinas: Bookseller, 1999, p. 253-254; Francesco Carnelutti, Instituições de direito
processual civil, v.  1, Campinas: Servanda, 1999, p. 472-473; Enrico Tullio Liebman, Manual de direito pro-
cessual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p.  33; Salvatore Satta e Carmine Punzi, Diritto pro-
cessuale civile, 13. ed., Padova: Cedam, 2000, p. 196; Eduardo J. Couture, Fundamentos do direito proces-
sual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 87; Enrique Véscovi, Teoria general del processo, 2. ed., Bogotá:
Temis, 1999, p. 88; Miguel Teixeira de Sousa, Introdução ao processo civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 11;
José João Baptista, Processo civil, v. 1, 8. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2006, p. 85-86; Luiz Machado Gui-
marães, Ato processual, in: Estudos de direito processual civil, São Paulo: Jurídica e Universitária, 1969,
p.  81; Alfredo Araújo Lopes da Costa, Manual elementar de direito processual civil, 3. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 1982, p. 43; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25.  ed., São
Paulo: Saraiva, 2007, p. 13; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2007, p. 248; Waldemar Mariz de Oliveira Júnior, Curso de direito processual civil,
v. 1., São Paulo: RT, 1968, p. 4; Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades em processo civil, 2.  ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 4; Sérgio Bermudes, Introdução ao processo civil, 3. ed., Rio de Janei-
ro: Forense, 2002, p. 79; Galeno Lacerda, Teoria geral do processo, Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 35;
Ernane Fidélis dos Santos, Manual de direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 24;
João Batista Lopes, Curso de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Atlas, 2005, p. 164; Marcus Vinicius Rios
Gonçalves, Novo curso de direito processual civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 228 e Marcos
Destefenni, Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2006, p. 120.
2 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Em que pese a concepção seja incompleta,2 a partir dela é possível perceber ser
bastante estreita a relação entre processo e procedimento, a ponto de se afirmar não
ser possível existir processo sem procedimento.3
Todavia, não se pode concluir que o procedimento se resume a uma simples
marcha ou avanço gradual.4 Também não parece correto considerar que processo e
procedimento seriam duas faces de uma mesma realidade: aquele de caráter estático,
adstrito à relação jurídica processual e ao exercício do poder jurisdicional como fim,
este de caráter dinâmico, mero meio extrínseco pelo qual se visualiza a forma de su-
cessão dos atos desenvolvidos para atingir o fim do processo.5
A evolução dos conceitos de processo e procedimento demonstra que o pro-
cedimento foi diluído no processo, tendo este absorvido e anulado a importância
daquele.6
Como reação a isso, a doutrina recente7 tem, com acerto, revitalizado8 o papel
do procedimento em sua relação com o processo, assinalando que o procedimen-
to também está compromissado “com os fins da jurisdição e com os direitos dos
cidadãos”,9 isto é, igualmente possui um caráter teleológico, “em face do resultado
a ser obtido com o conjunto dos atos processuais”.10

2
Tal como assinala Paulo Eduardo D’arce Pinheiro, o processo é o método pelo qual se desenvolve a ativi-
dade jurisdicional que faz atuar o Direito, seja por meio da resolução definitiva dos conflitos, seja pelo reco-
nhecimento da validade, da compreensão e do alcance das normas que compõem o ordenamento jurídico
(Os poderes executivos do juiz, Tese de doutorado, PUCSP, 2009, p. 25).
3
Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 17-18, nota 4; Cândido
Rangel Dinamarco, Instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 133 e Fernando da
Fonseca Gajardoni, Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 36.
4
Tal vício conceitual em que predominante o procedimento na definição de processo foi denunciado por
Oskar Von Bülow, Teoria das exceções e dos pressupostos processuais, Campinas: LZN, 2003, p. 7-8.
5
Esta passou a ser a distinção feita pela doutrina. Neste sentido, pode-se citar exemplificativamente, entre os
autores pátrios: José Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, v. 2, Campinas: Millennium, 2000,
p. 49-51; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 2, 24. ed., São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 82-83; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 49; Sérgio Bermudes, Introdução ao processo civil, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 14-142; Galeno
Lacerda, Teoria geral do processo, Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 35; Ernane Fidélis dos Santos, Manual de
direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 24; Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini
Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 295-296
e Junior Alexandre Moreira Pinto, Direito processual civil – institutos fundamentais, Curitiba: Juruá, 2008, p. 164.
6
Aroldo Plínio Gonçalves, Técnica processual e teoria do processo, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 66.
7
Na doutrina nacional coube a Cândido Dinamarco (Instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo: Ma-
lheiros, 1996, p. 126-137) o relevo do valor do procedimento para o conceito do processo. Segundo afiança
o autor, no plano internacional, a percepção da importância do procedimento reputa-se a Niklas Luhmann,
Legitimação pelo procedimento; Elio Fazzalari, Note in tema di diritto e processo; e Feliciano Benvenutti,
Funzione amministrativa, procedimento, processo.
8
A expressão é de Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, 9. ed., Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003, p. 145.
9
Luiz Guilherme Marinoni, Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1, São Paulo: RT, 2006, p. 401.
10
Antonio Scarance Fernandes, Teoria geral do procedimento e o procedimento no processo penal, São
Paulo: RT, 2005, p. 28. Aroldo Plínio Gonçalves resume a questão do seguinte modo: “É que, se o procedimento
se constitui em meio necessário, (pois não se aboliu, ainda, a necessidade da existência do procedimento),
Considerações preliminares 3

Assim, quando se diz que a missão do processo é solucionar os conflitos sociais,


proporcionando paz e harmonia aos indivíduos, não se duvida que tal resultado de-
pende, fundamentalmente, da existência de meios adequados para resolver os inúme-
ros problemas surgidos no plano material. Ou seja, quando se exige que o processo
esteja aparelhado com mecanismos capazes para não somente se limitar aos âmbitos
das simples declarações, mas também produzir providências práticas que, de forma
efetiva para cada caso concreto, possibilitem assegurar e satisfazer o direito, está-se a
reclamar a instituição de procedimentos “capazes de permitir a obtenção de formas
de tutelas jurisdicionais adequadas às necessidades dos casos concretos”.11, 12
Na verdade, o procedimento está para o processo assim como o processo está
para a jurisdição, no sentido de que se os fins da jurisdição são realizados através
do processo, este somente concretizará aqueles fins se o procedimento estiver apto a
proporcionar tal significado e dimensão ao processo.13

para a existência, ou o desenvolvimento, ou a ordenação, do processo, tem, então, o caráter teleológico que
toda técnica intrinsecamente comporta, como meio idôneo para atingir finalidades. Mesmo considerado
como série de atos, como forma de ordenação, como meio de se estamparem os atos do processo, o proce-
dimento estaria impregnado de sentido teleológico, porque sua finalidade, já explícita em sua funcionalida-
de, não poderia ser negada” (Técnica processual e teoria do processo, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 65-66).
11
Luiz Guilherme Marinoni, Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1, São Paulo: RT, 2006, p. 425. O
referido autor critica a adoção de procedimento único (neutro e uniforme), pois este escamoteia as diferenças
entre as situações substanciais e as necessidades concretas. Destaca, ainda, que a reação doutrinária a tal
equivocada adoção de procedimento comum, embora tenha sido mediante a alusão de “tutelas diferen-
ciadas”, na verdade, diz respeito a procedimentos jurisdicionais ou técnicas processuais diferenciados. Diz o
autor: “Antes de tudo, corrija-se a impropriedade de se falar em tutelas jurisdicionais diferenciadas no lugar de
procedimentos (ou técnicas) jurisdicionais diferenciados, uma vez que, conforme já amplamente demonstra-
do, tutela é o resultado, no plano jurídico-substancial, proporcionado pelo procedimento. A necessidade de
‘tutelas diferenciadas aos direitos’ é que demonstrou a insuficiência de um único ‘procedimento’ para a ‘tute-
la’ dos direitos, e, assim, a necessidade de ‘procedimentos diferenciados’” (op. cit., p. 426). Não obstante a crí-
tica feita por Marinoni, não se pode deixar de lembrar os apontamentos do Professor Egas D. Moniz de Aragão,
no sentido de que a pluralidade de procedimentos acarreta a burocracia e superestima a forma acarretando,
pois, morosidade ao judiciário (Procedimento: formalismo e burocracia, Revista Forense no 358, Rio de Janeiro:
Forense, nov./dez. 2001, p. 49-58). O ideal, portanto, é conceber um procedimento simples e flexível, capaz de
se ajustar ao aspecto material sem descuidar da celeridade e eficiência na prestação da tutela jurisdicional.
12
O cenário evolutivo apresentado livremente no texto é assim resumido por Antonio Scarance Fernandes: “O
procedimento expressou por largo tempo o próprio processo, assumindo, contudo, após a afirmação científi-
ca do direito processual, um papel secundário, só voltando a ter posição de destaque no cenário processual
no final do século XX. Pode essa evolução do procedimento ser sintetizada em três grandes fases: a) do pra-
xismo, ou do procedimentalismo; b) do procedimento como expressão externa do movimento processual; e
c) do procedimento como expressão essencial da unidade do processo” (Teoria geral do procedimento e o
procedimento no processo penal, São Paulo: RT, 2005, p. 23).
13
Leciona Luiz Guilherme Marinoni: “O processo é um procedimento, no sentido de instrumento, módulo legal
ou conduto com o qual se pretende alcançar um fim, legitimar uma atividade e viabilizar uma atuação. O
processo é um instrumento através do qual a jurisdição tutela dos direitos na dimensão da Constituição. É o
módulo legal que legitima a atividade jurisdicional e, atrelado à participação, colabora para a legitimidade
da decisão. É a via que garante o acesso de todos ao Poder Judiciário e, além disto, é o conduto para a parti-
cipação popular no poder e na reivindicação da concretização e da proteção dos direitos fundamentais. Por
tudo isso, o procedimento tem de ser, em si mesmo, legítimo, isto é, capaz de atender às situações substanciais
carentes de tutela e estar de pleno acordo, em seus cortes quanto à discussão do direito material, com os
direitos fundamentais materiais” (Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1, São Paulo: RT, 2006,
p. 466-467).
4 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Portanto, em que pese haja diferenças entre processo e procedimento,14 não há


por que separar a noção de procedimento da de processo,15 ainda mais quando o sis-
tema normativo revela que há entre eles uma relação de inclusão16 e, por isso mesmo,
é possível examinar o processo a partir do procedimento.17

1.2 FORMALISMO E TÉCNICA PROCESSUAL

A organização do procedimento, isto é, a regulação da relação concatenada en-


tre os atos praticados no curso do processo, empresta à atividade racionalização,
ordem, previsibilidade e eficiência prática, além de servir de freio aos impulsos de
todos aqueles que atuam no processo, proporcionando-lhes uma participação isonô-
mica. Tal fenômeno é denominado formalismo processual.18
Tal como exposto, esse ajuste nas formas e nas formalidades19 não pode ser
desarticulado do fim que visa o processo atingir em nome da jurisdição e, por isso

14
Acerca da distinção entre processo e procedimento, vale conferir o texto de José Renato Nalini, Processo
e procedimento – distinção e a celeridade da prestação jurisdicional, in RT no 730, São Paulo: RT, ago. 1996,
p. 673-688. A distinção é ainda marcada pela CF/88, que estabeleceu que as normas de processo são de
exclusiva competência da União (art. 22, I) e as normas procedimentais são de competência concorrente da
União e dos Estados federados e do Distrito Federal (art. 24, XI), muito embora, em caráter geral, as normas
procedimentais editadas pela União têm prevalência sobre as demais (art. 24, § 1o). Acerca desses aspectos
constitucionais, ver José Manoel de Arruda Alvim Netto, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São
Paulo: RT, 2008, p. 128-139. Por sua vez, para aprofundar a noção da relação entre processo e procedimento,
ver Antonio Scarance Fernandes, Incidente processual, São Paulo: RT, 1991, p. 69-87.
15
Luiz Guilherme Marinoni, Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1, São Paulo: RT, 2006, p. 454.
16
Cândido Rangel Dinamarco, Instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 134 e
Aroldo Plínio Gonçalves, Técnica processual e teoria do processo, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 68. Sobre o
tema, Kazuo Watanabe esclarece: “Sem a noção de procedimento, afigura-se bastante difícil compor um con-
ceito preciso de processo, pois é o procedimento, ao que nos parece, que dá a própria estrutura da relação
jurídica processual, que por meio dele assume uma configuração definida. Sem ele a relação jurídica proces-
sual seria algo amorfo, disforme e sem ossatura” (Da cognição no processo civil, 2. ed., CEBEPEJ, 1999, p. 122).
17
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros,
2006, p. 36.
18
O aspecto é assim explicado por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: “O formalismo, ou forma em sentido
amplo, no entanto, mostra-se mais abrangente e mesmo indispensável, a implicar a totalidade formal do pro-
cesso, compreendendo não só a forma, ou as formalidades, mas especialmente a delimitação dos poderes,
faculdades e deveres dos sujeitos processuais, coordenação de sua atividade, ordenação do procedimen-
to e organização do processo, com vistas a que sejam atingidas suas finalidades primordiais. A forma em
sentido amplo investe-se, assim, da tarefa de indicar as fronteiras para o começo e o fim do processo, cir-
cunscrever o material a ser formatado, estabelecer dentro de quais limites devem cooperar e agir as pessoas
atuantes no processo para o seu desenvolvimento. O formalismo processual contém, portanto, a própria
ideia do processo como organização da desordem, emprestando previsibilidade a todo o procedimento. Se
o processo não obedecesse a uma ordem determinada, cada ato devendo ser praticado a seu devido tem-
po e lugar, fácil entender que o litígio desembocaria numa disputa desordenada, sem limites ou garantias
para as partes, prevalecendo ou podendo prevalecer a arbitrariedade e a parcialidade do órgão judicial ou
a chicana do adversário” (Do formalismo no processo civil, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 6-7).
19
A distinção entre forma e formalidade é assim esclarecida por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira: “A forma
em sentido estrito é o invólucro do ato processual, a maneira como deve se exteriorizar; cuida-se, portanto, do
conjunto de signos pelos quais a vontade se manifesta e dos requisitos a serem observados na sua celebra-
Considerações preliminares 5

mesmo, além dos valores constitucionais consagrados para o modelo processual civil,20
são considerados aspectos internos e externos ao processo,21 tais como as vertentes
políticas, culturais e axiológicas dos fatores condicionantes e determinantes da es-
truturação e organização do processo, falando-se, pois, em formalismo-valorativo.22
Essa ideia de adequação23 do formalismo (e, portanto, também do procedi-
mento) permite que o processo seja regular do ponto de vista formal e substan-
cial, apresentando-se como verdadeira técnica processual24 destinada à efetividade
dos direitos.

ção. A doutrina, além disso, distingue a forma em sentido estrito, acima definida, da forma em sentido amplo,
incluindo nesta última acepção, além do meio de expressão (da língua), também as condições de lugar e
tempo em que se leva a efeito o ato processual. Todavia, a rigor tais condições não são intrínsecas ao ato,
logo são circunstâncias, que, por delimitarem os poderes dos sujeitos processuais e organizarem o processo,
integram o formalismo processual, mas não a forma em sentido estrito. Essas circunstâncias, não intrínsecas
ao ato, constituem exatamente as formalidades, consideradas como ato, fato ou prazo previsto por uma
norma geral a fim de condicionar o exercício das funções de um órgão ou de um agente” (Do formalismo no
processo civil, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 5).
20
Sobre a relação constituição e processo, ver resumo e referências bibliográficas em Sandro Gilbert Martins, A
defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica, 2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 21-25.
21
A respeito da análise dessas conexões, ver Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Do formalismo no processo
civil, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 61-132.
22
Em relação ao tema, ver Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, O formalismo-valorativo no confronto com o
formalismo excessivo, RePro no 137, São Paulo: RT, jul. 2006, p. 7-31.
23
A noção de adaptação do instrumento em relação ao fim já havia sido percebida por Galeno Lacerda:
“Insisto em dizer que o processo, sem o direito material, não é nada. O instrumento, desarticulado do fim, não
tem sentido (...) Ou, em outras palavras, a lei que rege a forma deve ser interpretada e aplicada em função
do fim” (O Código e o formalismo processual, in Revista da Ajuris no 28, jul. 1983, p. 8). Aliás, o mesmo autor, em
oportunidade anterior, já havia apregoado ser a adequação um princípio fundamental e unitário do proces-
so, a qual deveria se apresentar sob tríplice aspecto: subjetiva, objetiva e teleológica (O Código como sistema
legal de adequação do processo, Revista do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul – Comemorativa
do Cinquentenário, Porto Alegre, 1976, p. 161-170). Ao enfrentar o tema da adequação, assevera José Roberto
dos Santos Bedaque: “Não deve o processo, pois, ser escravo da forma. Esta tem sua importância dimensio-
nada pelos objetivos que a determinam. A estrita obediência à técnica elaborada pelo legislador processual
e às regras formais do processo é importante para garantir igualdade de tratamento aos sujeitos parciais,
assegurando-lhes liberdade de intervir sempre que necessário. Tudo para possibilitar que o instrumento atinja
seu escopo final com justiça. Mas o apego exagerado ao formalismo acaba por transformar o processo em
mecanismo burocrático e o juiz no burocrata incumbido de conduzi-lo. Não é este o instrumento que dese-
jamos. É preciso reconhecer no julgador a capacidade para, com sensibilidade e bom senso, adequar o
mecanismo às especificidades da situação, que não é sempre a mesma. Aliás, o princípio da adequação
ou da adaptação do procedimento é fundamental à correta aplicação da técnica processual. Os modelos
procedimentais e os poderes, deveres e faculdades dos sujeitos do processo devem, na medida do possível,
adequar-se às peculiaridades do fenômeno jurídico material e ser compatíveis com a natureza da tutela juris-
dicional pleiteada” (Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 45).
24
Para Wellington Moreira Pimentel, a ideia de procedimento sempre foi a de técnica (Comentários ao Códi-
go de Processo Civil, v. III, São Paulo: RT, 1975, p. 10). A preocupação entre a técnica processual e a efetivida-
de do processo tem sido objeto de diversos estudos doutrinários. Pode-se citar como exemplo: Tito Carnacini,
Tutela giurisdizionale e tecnica del processo, Studi in onore di Enrico Redenti, v. 2, Milano: Giuffrè, 1951, p. 695-
772; José Carlos Barbosa Moreira, Efetividade do processo e técnica processual, Temas de direito processual
(sexta série), São Paulo: Saraiva, 1997, p. 17-29; Aroldo Plínio Gonçalves, Técnica processual e teoria do pro-
cesso, Rio de Janeiro: Aide, 1992; Luiz Guilherme Marinoni, Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo:
RT, 2004; Daniel Roberto Hertel, Técnica processual e tutela jurisdicional, Porto Alegre: Sergio Fabris, 2006 e
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006.
6 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

A técnica processual é espécie de técnica jurídica e, como tal, pode ser concebi-
da como o conjunto de meios idôneos à realização do direito, o que exige adequada
formulação, interpretação, sistematização e ensino da norma processual.25
Dadas as relações entre procedimento, formalismo e técnica, é possível concluir
que, em última análise, a eficiência do funcionamento do sistema processual depen-
de do ato processual considerado em si, do conjunto e da sequência que formam;
tudo isso analisado à luz dos resultados que deles emanam e da sua adequação com
os efeitos desejados.
Em outras palavras, se é possível e correto repensar a técnica processual com vis-
ta a conferir à tutela jurisdicional o grau de utilidade dela esperado,26 não é menos
exato afirmar que terá melhor sucesso essa empreitada de controle e aperfeiçoamento
da técnica se bem examinado e compreendido aquilo que é o núcleo de toda a ativi-
dade processual: o ato processual.27

1.3 ATO PROCESSUAL E OS PLANOS DE SUA PROJEÇÃO


NO MUNDO JURÍDICO
O processo percorre um iter (inicia, se desenvolve e se extingue) por força de
atos de variadas naturezas e finalidades, que são praticados pelas pessoas que de algu-
ma forma participam do processo.28

25
J. Ramiro Podetti, Teoría y técnica del proceso civil, Buenos Aires: Ediar, 1963, p. 303; Aroldo Plínio Gonçalves,
Técnica processual e teoria do processo, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 31-35; Daniel Roberto Hertel, Técnica
processual e tutela jurisdicional, Porto Alegre: Sergio Fabris, 2006, p. 68; e José Roberto dos Santos Bedaque,
Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 74.
26
Outro não foi o intuito de José Roberto dos Santos Bedaque, que assinala: “A técnica processual deixou de
ocupar o primeiro plano das discussões, (...) Sejamos sinceros. O processo não vem cumprindo sua função.
O instrumento estatal de solução de controvérsias tem sido muito mais fonte de conflitos que meio pelo qual
se obtém a pacificação social. (...) Será que não está na hora de repensarmos o fenômeno processual, do
ponto de vista da técnica? Não existem ainda resquícios do tecnicismo, com manifestações, muitas vezes
inconscientes, de amor obsessivo aos valores do próprio processo, que acabam prevalecendo sobre o fim
pretendido e representado pelo resultado produzido no plano substancial? Não estaria a ineficiência do
processo ligada – em grande parte, pelo menos – à má aplicação das regras destinadas a regular seu desen-
volvimento ordenado? Não há, por parte do processualista, visão excessivamente formalista do fenômeno
processual, que outra coisa não é senão método destinado à solução de litígios? Não estaríamos valorizando
demasiadamente as formas e meios, em detrimento do objetivo visado?” (Efetividade do processo e técnica
processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 75-77).
27
Sobre o tema, eis a lição de Jaime Guasp: “En estos términos se comprende la importancia de la noción
de acto para el mundo del derecho procesal y sus frecuentísimas aplicaciones. El acto procesal es uno de los
puntos básicos de todo el edificio conceptual que sirve para comprender al proceso. La teoría de los actos
procesales se hace, pues, indispensable para la exposición de la teoría del proceso en general o de cada
una de sus manifestaciones en particular” (Derecho procesal civil, t. I, 4. ed., Madri: Civitas, 1998, p. 242). Por
sua vez, assinala Elio Fazzalari: “O estudo do processo consiste, tal como a propósito do estudo do procedi-
mento, no apreender das normas que o regulam, ou seja, na análise dos atos que o compõem. Os princípios
do processo são aqueles possíveis de serem abstraídos das normas que disciplinam cada atividade que o
compõe” (Instituições de direito processual, Campinas: Bookseller, 2006, p. 127).
28
Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 221 e
Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 143.
Considerações preliminares 7

A análise desses atos, como há muito já se asseverou,29 pode ser feita de dois mo-
dos: contemplando-se os atos de forma isolada uns dos outros ou segundo a relação
de um ato com outro.
Todavia, esses modos não excluem a análise sob outro ângulo, comumente em-
pregado pelos civilistas30 e que, por pertencer à teoria geral do direito,31 tem alcança-
do a análise dos atos realizados em outros ramos do conhecimento jurídico,32 entre
eles o do processo civil:33 a projeção nos planos da existência, validade e eficácia.
Com efeito, o presente trabalho visa analisar o ato praticado no processo civil à
luz do plano da eficácia jurídica, sem deixar de perpassar pelos planos da existência
e da validade. Nesse contexto, ora será importante compreender o ato em si e seus
efeitos isoladamente considerados, ora o ato em cadeia – isto é, na relação em que
cada ato praticado neste percurso é pressuposto do ato seguinte e, assim, até o ato
final – e seus efeitos em relação ao escopo que lhes é comum.34

29
Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 19-20.
30
Por exemplo: Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São
Paulo: Saraiva, 2000; Wilson de Souza Campos Batalha, Defeito dos negócios jurídicos, Rio de Janeiro: Foren-
se, 1985; Zeno Veloso, Invalidade do negócio jurídico, Belo Horizonte: Del Rey, 2002; Roberto Senise Lisboa,
Manual de direito civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 358-366 e Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho, Novo curso de direito civil, v. 1, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 321 et seq.
31
A teoria foi concebida por Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. 4, Campi-
nas: Bookseller, 2000, p. 72. A teoria vem sendo aprofundada por Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato
jurídico – plano da existência, 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2003; Teoria do fato jurídico – plano da validade,
8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008 e Teoria do fato jurídico – plano da eficácia, 1. ed., São Paulo: Saraiva, 2003.
32
Por exemplo, no direito tributário: Alfredo Augusto Becker, Teoria geral do direito tributário, 3. ed., São Pau-
lo: Lejus, 1998, p. 452. No direito constitucional: Luís Roberto Barroso, O direito constitucional e a efetividade
de suas normas, 2. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 1993, p. 74-78. No direito administrativo: Regis Fernandes de
Oliveira, Ato administrativo, 4. ed., São Paulo: RT, 2001, p. 62-63; Daniele Coutinho Talamini, Revogação do ato
administrativo, São Paulo: Malheiros, 2002, p. 34-35; Vladimir da Rocha França, Estrutura e motivação do ato
administrativo, São Paulo: Malheiros, 2007, p. 64- et seq.; Ricardo Marcondes Martins, Efeitos dos vícios do ato
administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008; p. 121 et seq. No direito processual do trabalho: Aldacy Rachid
Coutinho, Invalidade processual: um estudo para o processo do trabalho, São Paulo: Renovar, 2000, p. 38-70.
33
Eis alguns dos autores pátrios que aplicam ao ato processual o método de análise dos planos da existência,
validade e eficácia: José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nuli-
dades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 35-40; Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 4. ed.,
São Paulo: Malheiros, 1996, p. 267; Antonio Janyr Dall’Agnol Jr., Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio
Fabris, 1989, p. 17-24; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 29-41; Teresa Arruda
Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004; p. 139 et seq.; Fredie Didier
Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 11-17; Eduardo Talamini, Coisa
julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 279-281; José Carlos Barbosa Moreira, Citação de pessoa falecida,
Temas de direito processual civil (quinta série), São Paulo: Saraiva, 1994, p. 77-84; Carlos Alberto Alvaro de Olivei-
ra, Execução de título judicial e defeito ou ineficácia da sentença, Revista da Ajuris no 62, nov. 1994, p. 93-107;
Alexandre Freitas Câmara, Atos processuais, Escritos de direito processual, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001,
p. 89-98; Daniel Francisco Mitidiero, O problema da invalidade dos atos processuais no direito processual civil
brasileiro contemporâneo, in Visões críticas do processo civil brasileiro, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005,
p. 55-74; Osmar Mendes Paixão Côrtes, Inexistência, nulidade e irregularidade no processo civil e os planos da
existência, validade e eficácia dos atos jurídicos no direito civil, Questões processuais do novo Código Civil,
coord. Rodrigo Mazzei, Barueri: Manole, 2006, p. 23-58 e Paula Sarno Braga, Primeiras reflexões sobre uma teoria
do fato jurídico processual: plano de existência, RePro no 148, São Paulo: RT, jun. 2007, p. 293-320.
34
A esse respeito, assinala Antonio Scarance Fernandes: “Cada ato tem um efeito próprio, particular, que
opera dentro do universo do processo. Porém, esse efeito serve também para fazer com que o processo
8 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

1.4 A UTILIDADE DA ANÁLISE DO ATO PROCESSUAL NO


PLANO DA EFICÁCIA JURÍDICA

De todos os mencionados planos de análise do ato jurídico, certamente, o me-


nos explorado em nível doutrinário – e por isso mesmo o que se apresenta mais in-
trincado – é o plano da eficácia jurídica.
A eficácia jurídica, basicamente, diz respeito às consequências ou efeitos que se
espera que um ato jurídico produza. Dominar o conhecimento sobre as diversas ca-
tegorias eficaciais de um ato processual interessa tanto em termos teóricos quanto
em termos práticos, permitindo dar o trato científico adequado a cada fenômeno e,
com isso, resolver os problemas que a matéria sugere.35
Em sede de direito processual civil a doutrina, especialmente no que se refere à
relação jurídica processual, preocupou-se e aprofundou o estudo no plano da exis-
tência e no plano da validade, mas não enfrentou, ao menos não com o mesmo rigor,
o plano da eficácia.36
Não obstante isso, a eficácia jurídica interessa e integra a função processual, seja
qual for o tipo de atividade desenvolvida: de conhecimento, de execução ou cautelar.
Aliás, é possível identificar em diversos artigos do Código de Processo Civil a direta
menção à expressão eficácia, ineficácia e efeito(s).

progrida na direção da sua meta e, por isso, o resultado de cada ato visa a influir direta ou indiretamente no
conteúdo do ato final, cujo efeito se projeta para fora do âmbito processual. Cada ato tem seus próprios re-
quisitos, estando, porém, a sua validade condicionada, em certa medida e em certo sentido, à validade do
procedimento a que pertence e aos atos anteriores dos quais dependa formal e logicamente” (Teoria geral
do procedimento e o procedimento no processo penal, São Paulo: RT, 2005, p. 33).
35
Eduardo Lobo Botelho Gualazzi (Ato administrativo inexistente, São Paulo: RT, 1980, p. 24) assinalou que a
utilidade do estudo dos atos inexistentes no direito administrativo está na fixação do regime jurídico aplicável,
o que igualmente serve de justificativa para o estudo da eficácia do ato processual. Por vezes, a ineficácia
do ato processual interessará mais ao Estado-juiz do que às partes, pois não é dado àquele impor a estas ato
que não merece produzir efeitos. Convém assinalar a distinção entre regime jurídico e natureza jurídica, tal
como o faz Marco Aurélio Greco: “Regime jurídico deve ser diferenciado de natureza, ou essência, da figura.
A natureza de uma figura jurídica não é dada pelo seu regime jurídico; o regime jurídico é o perfil formal de
uma determinada entidade, mas não a própria entidade. (...) Em suma, o regime jurídico não define a essên-
cia ontológica da figura; define a feição formal à qual ela vai estar submetida, mas isso não significa que, por
submeter-se a certo regime, a figura tenha certa natureza. Da mesma forma, figuras com natureza distinta
podem estar submetidas ao mesmo regime jurídico, ou a regime semelhante, sem que isto interfira com a
sua natureza. A natureza jurídica de uma figura, portanto, creio deva ser buscada em algo que anteceda a
definição de cada norma que integra seu ‘regime jurídico’; realidade a ser buscada em critérios e valores que
informem a sua criação, que lhe deem sintonia e atribuam significado ao conjunto assim formado” (Contri-
buições – uma figura “sui generis”, São Paulo: Dialética, 2000, p. 70 e 73).
36
Apenas para exemplificar, ao estudar os pressupostos processuais, José Orlando Rocha de Carvalho ini-
cialmente assinalou que eles designam “os elementos indispensáveis ao surgimento, validade e eficácia
do processo” (Teoria dos pressupostos e dos requisitos de validade, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 8).
Todavia, mais adiante, o mesmo autor asseverou que seu intuito era apenas diferenciar os pressupostos dos
requisitos nos planos da existência e da validade, razão pela qual “o exame do plano da eficácia não traria
qualquer proveito para a abordagem pretendida” (op. cit., p. 68).
Considerações preliminares 9

O principal intento deste trabalho é, se possível,37 analisar a eficácia no âmbito


do processo civil, o que, se não preenche a lacuna,38 ao menos colabora para a evo-
lução do pensamento a respeito do tema. Procurar-se-á, inicialmente, estabelecer os
contornos da eficácia, tais como seus fundamentos, seu conceito, a classificação de
suas modalidades e identificar quando ocorre a ineficácia. A seguir, far-se-á a traves-
sia desses aspectos da eficácia para o âmbito do processo civil, e assim será feito me-
diante desenvolvimento em separado para o processo, para o procedimento e para o
ato processual. Depois, seguindo o mesmo método, delimitar-se-ão os contornos da
ineficácia ocorrida em sede processual, identificando que remédio jurídico dispõe o
sistema processual para reconhecer e/ou corrigir uma eventual ineficácia constatada.
Por último, proceder-se-á ao estudo pontual de questões inerentes à eficácia em al-
gumas situações específicas do processo.
Para poder alcançar esse intento, será inicialmente apresentada a noção de ato
processual, como também será feita investigação dos planos da existência e da valida-
de no âmbito do processo civil.

37
No direito civil, o objetivo já havia sido desencorajado por Nicolas Coviello, que entende que “acerca dos
atos ineficazes não se pode expor uma teoria geral” (Doctrina general del derecho civil, 4. ed. italiana, trad.
de Felipe de J. Tena, México: Uteha, 1938, p. 373, tradução livre). Massimo Ferrara Santamaría deu razão a
Coviello (Inefficacia e inopponibilità, Napoli: Jovene, 1939, p. 15). Não difere o pensamento de Giuseppe Stolfi,
que igualmente assevera que “não é possível encerrar em uma só fórmula as distintas hipóteses [de ineficá-
cia] e menos ainda de estabelecer em geral suas características e consequências” (Teoría del negocio jurí-
dico, Revista de Derecho Privado, 1959, p. 123, tradução livre). Do mesmo modo, em sede processual, Enrico
Tullio Liebman, para quem: “A grande variedade dos atos processuais, quase indefinida, não permite que
se formulem regras gerais a seu respeito (à semelhança do se faz, p. ex., quanto aos negócios jurídicos de
direito privado e aos atos administrativos), tornando pouco fecundas inclusive as tentativas de classificá-los e
de sujeitar a regras próprias os grupos de atos que resultam das classificações” (Manual de direito processual
civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 224). Em certa medida, comungam do mesmo entendimen-
to Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p.145 e
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006,
p. 436. Retira-se desses autores e de outros (Angelo Falzea, La condizione e gli elementi dell’atto giuridico,
Milano: Giuffrè, 1941, p. 135 et seq. e Renato Scognamiglio, Inefficacia, Scritti giuridici, v. 1, Padova: Cedam,
1996, p. 159) que a dificuldade de se elaborar uma teoria acerca da (in)eficácia decorre do próprio sistema
positivo. Acaba sendo problema de política legislativa determinar se é conveniente que um fator de eficácia
seja elevado à condição de elemento essencial de um ato jurídico. Então, a falta daquele elemento que,
por senso lógico ou prático representaria um fator de eficácia porque externo ao ato jurídico, por força da
disciplina legal, em vez de resultar na ineficácia do ato pode dar lugar a sua inexistência ou a sua invalidade.
38
Ao se referir aos atos processuais ineficazes, Leonardo Greco asseverou: “Carecemos de doutrina sólida
sobre as características desses atos, sobre a produção de graus diversos de eficácia que podem sobrevir em
momentos diferentes, sobre a sua revogabilidade” (Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense,
2009, p. 410).
2 ATO PROCESSUAL

2.1 ESTÁGIO ATUAL DA DOUTRINA

A grande maioria dos autores que enfrenta o tema dos atos processuais em seus
manuais, cursos, comentários etc. assinala que sua elaboração doutrinária ainda não
amadureceu: é uma teoria ainda inacabada, não obstante o esforço de vários autores
que dela se ocuparam.1

1
José Alberto dos Reis já apregoou: “a teoria geral dos actos das partes é um dos capítulos mais imperfeitos
do direito processual. A elaboração doutrinal nesta matéria está ainda muito longe de oferecer segurança
e tranquilidade” (Comentário ao Código de Processo Civil, v. II, Coimbra: Coimbra Ed., 1945, p. 1). Em sentido
análogo, assinalou João de Castro Mendes: “Apesar da sua importância primordial nos estudos de processo,
e designadamente de processo civil, a matéria do acto processual tem sido das menos estudadas” (Direito
processual civil, v. 1, Lisboa: AAFDL, 1987, p. 37). Recentemente, outro jurista português, Miguel Teixeira de
Sousa, destacou ser o ato processual o “enfant terrible da teoria geral do processo” (As recentes alterações
na legislação processual civil, separata da ROA, ano 61 (2000), I, Lisboa, jan. 2001, p. 54). Paula Costa e Silva
cita a seguinte observação do alemão Ernst Heinitz: “o estudo dos actos processuais, das suas divisões e efei-
tos jurídicos, dos defeitos que os podem atacar, pertence, reconhecidamente, aos mais difíceis e polémicos
do direito processual” (Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 22). Não é diferente o apontamento
de Enrique Véscovi: “no obstante ello y la indispensable inclusión de un capítulo sobre ‘actos procesales’ en
todo tratado, compendio, o manual contemporáneo, debemos reconocer que nos hallamos en una zona
casi desconocida. En ella, efectivamente, nos movemos con gran dificultad e inseguridad” (Teoría general
del proceso, 2. ed., Bogotá: Temis, 1999, p. 215). Por sua vez, eis o comentário de Hélio Tornaghi: “A concepção
ordenada, e até direi orgânica, dos princípios fundamentais que presidem a atividade processual está em
elaboração. Não é tarefa de um homem e só com a observação, a experiência, a análise e a crítica será
possível chegar à síntese, que se vai fazendo e burilando paulatinamente. Nos últimos tempos, vários foram
os processualistas que se ocuparam deliberada e decididamente do assunto, em busca do quadro perfeito e
definitivo dos atos processuais” (Comentários ao Código de processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 1). José
Frederico Marques também aponta que a elaboração definitiva doutrinária da teoria dos atos processuais é
importante, mas “infelizmente, ainda não superamos a classificação dos juristas do Direito intermédio, para
singirmos, assim, a uma sistematização cabal e satisfatória dos atos do processo” (Instituições de direito pro-
12 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

O assunto é marcado por confusões, especialmente na terminologia: improprie-


dades que são herança das influências do direito privado moderno mal adaptadas às
peculiaridades do processo contemporâneo e inseguranças da constante mutação que
vem sofrendo em nível de interpretação. Se já não fosse bastante, está sob o risco de
estar diminuindo o interesse doutrinário sobre o assunto.2 Por tudo isso, a teoria dos
atos processuais é um dos temas mais difíceis de ser abordado no estudo do processo.3

2.2 ATO PROCESSUAL: ESPÉCIE DE ATO JURÍDICO

Costuma-se dizer que os acontecimentos da vida são fatos,4 os quais, se relevan-


tes para o Direito, são fatos jurídicos.5 Por sua vez, os fatos jurídicos são agrupados
em três categorias:6 a) os fatos provocados por forças da natureza ou acontecimentos
humanos alheios à vontade dos sujeitos cuja esfera jurídica é atingida, denominados
fatos jurídicos em sentido estrito; b) os fatos voluntários cuja disciplina e efeitos são
exclusivamente determinados pela lei, independentemente do conteúdo da vonta-
de que os determinou, chamados de atos jurídicos; e c) os fatos voluntários em que
o resultado prático coincide com a intenção manifestada, ditos negócios jurídicos.7

cessual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 274-275). Também para Egas D. Moniz de Aragão, a doutrina
“ainda não completou o ciclo de sua evolução a respeito” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. II,
9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 4). José Joaquim Calmon de Passos diz desconhecer “a existência, en-
tre nós de um estudo mais profundo dos atos processuais” (Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às
nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 49, nota 11). Nelson Nery Jr. aponta doutrina, maioria
alemã, acerca do tema dos atos processuais, especialmente das partes (Teoria geral dos recursos, 6. ed.,
São Paulo: RT, 2004, p. 202, nota 11).
2
Salvatore Satta e Carmine Punzi, Diritto processuale civile, 13. ed., Padova: Cedam, 2000, p. 197.
3
Leonardo Greco, Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 274.
4
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 103.
5
José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 488
e José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros,
2006, p. 407. Salvatore Pugliatti assim o conceitua: “Fatto giuridico è, dunque, qualsiasi situazione del mondo
dell’essere prevista dal diritto come causa di effetti giuridici” (I fatti giuridici, Milano: Giuffrè, 1996, p. 3). Sobre
o tema, leciona José Joaquim Calmon de Passos: “Destarte, é uma particular forma de compreensão da
conduta o que dá ao fato sua qualificação jurídica. Assim sendo, o jurídico não está no fato nem na condu-
ta, sim no modo pelo qual o homem compreende o seu agir, em sua dimensão social, com vistas a atender
ao imperativo de dar consistência e consequências e ordenação à convivência humana, não submetida a
fatores determinantes no mesmo nível em que isso se dá entre animais que parecem conviver de modo orga-
nizado, a exemplo das abelhas e das formigas” (Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades
processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 11).
6
Vicente Ráo, Ato jurídico, 4. ed., São Paulo: RT, 1999, p. 28. Reputa-se que a classificação referida pelo autor
citado não seja a mais completa, mas ela é suficiente aos interesses do presente estudo. A classificação mais
elaborada é de Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da existência, 12. ed., São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 118-119.
7
Luiz Edson Fachin desenvolveu estudo para distinguir ato e negócio jurídico, tendo concluído, em aperta-
da síntese, que as distinções podem ser agrupadas, além das regras acerca dos pressupostos de validade
e eficácia do negócio jurídico, na correspondência entre o conteúdo da vontade e esses efeitos. No que
toca à autonomia da vontade, o autor divisa o negócio jurídico dos atos jurídicos: 1 – quanto ao modo do
exercício. O negócio jurídico pressupõe interesses a regular nas relações com outros, mas não necessa-
Ato processual 13

Consideradas essas categorias, toma-se o ato processual como espécie de ato


jurídico.8
Com efeito, muito embora parcela respeitável da doutrina reconheça a existência
de fatos jurídicos processuais9 e de negócios jurídicos processuais,10 a razão está com
os que sustentam que, no processo, somente se realizam atos processuais.11

riamente, a modificação de relações jurídicas anteriores; 2 – quanto aos elementos sobre os quais atua. O
negócio cria poderes e vínculos que não existiam; 3 – teleologicamente. No negócio, há um regulamento
que valerá para o futuro, nele embutida uma intenção. Nos atos apresentam-se consciência mais vontade
do indivíduo, mas não são, neles, dirigidas a prescrever aos seus interesses um preceito para o futuro. Em
outras palavras: não tendem a finalidade que transcenda o próprio ato, esgotando sua eficácia para resul-
tados mais próximos, imediatos e até transitórios (Novo conceito de ato e negócio jurídico – consequências
práticas, Curitiba: Educa, 1988, p. 17-53).
8
Tito Prates da Fonseca, As nulidades em face do Código de Processo Civil, São Paulo: Freitas Bastos, 1941,
p.  24-25; Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 17;
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 122; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso
de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 143; José Manoel de Arruda Alvim, Manual
de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 489; Vicente Greco Filho, Direito processual civil
brasileiro, v. 2, 18. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 6; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do proces-
so e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 408; e Vicente Ráo, Ato jurídico, 4. ed., São Paulo: RT,
1999, p. 81-82. Ainda que não seja aqui de todo adotada, cabe transcrever a avaliação feita por Luiz Macha-
do Guimarães: “No direito processual, porém, ainda que se possa manter a mesma classificação lógica dos
fatos jurídicos elaborada para o direito privado, verifica-se, na ordem prática, uma inversão de valores, com
a preponderância absoluta dos atos jurídicos em sentido estrito. Ocorrem, sem dúvida, fatos naturais, que
influem no processo; deve-se admitir, também, a existência, afirmada pela maioria dos autores, de negócios
jurídicos processuais; mas, o que prepondera no processo, o que assume importância capital, tanto na prá-
tica como teórica, é o ato processual (em sentido estrito)” (Ato processual, in: Estudos de direito processual
civil, São Paulo: Jurídica e Universitária, 1969, p. 80).
9
Sem pretender esgotar as referências bibliográficas, encontra-se adesão à existência de fato processual
nos seguintes autores: Giuseppe Chiovenda, Instituições de direito processual civil, v. 3, 1. ed., Campinas:
Bookseller, 1998, p. 22; Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book,
2000, p. 102; Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985,
p. 222; Enrico Redenti e Mario Vellani, Diritto processuale civile, v. 1, 5. ed., Milano: Giuffrè, 2000, p. 227-228;
Jaime Guasp, Derecho procesal civil, 4. ed., Madri: Civitas, 1998, p. 241-242; Eduardo J. Couture, Fundamen-
tos do direito processual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 110; Luiz Machado Guimarães, Ato processual,
in: Estudos de direito processual civil, São Paulo: Jurídica e Universitária, 1969, p. 80; José Frederico Marques,
Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 275-277; José Manoel de Arruda
Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 488; Alcides de Mendonça Lima,
Dicionário do Código de Processo Civil brasileiro, 2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 92-93; Humberto Theodoro
Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 248; Ernane Fidélis dos
Santos, Manual de direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 200; Roque Komatsu, Da
invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 117-118; Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito
processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 470-471; Marcus Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de
direito processual civil, v. 1, 5. ed.,São Paulo: Saraiva, 2008, p. 228; Guilherme Freire de Barros Teixeira, Direito
processual civil, Curitiba: Juruá, 2008, p. 213-214; e Alexandre Freitas Câmara, Atos processuais, in: Escritos de
direito processual, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 90.
10
O principal defensor dos negócios jurídicos processuais foi Francesco Carnelutti, Sistema de direito proces-
sual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 122-125. Recentemente, a sua existência foi defendida por Ber-
nardo Silva de Lima, Sobre o negócio jurídico processual, Revisitando a teoria do fato jurídico – homenagem a
Marcos Bernardes de Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt Jr., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 115-123.
11
Esta é a posição de José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nu-
lidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 64, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades em
processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 4-5, Carlos Alberto Alvaro de Oliveira e Daniel Mitidiero,
Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Atlas, 2010, p. 282-283 e João de Castro Mendes, Direito processual
civil, v. 1, Lisboa: AAFDL, 1987, p. 38-39.
14 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Por fato processual entende-se todo acontecimento natural que tem influên-
cia no processo (p. ex.: morte da parte, morte do procurador, perda de capacidade,
transcurso do tempo, destruição do caderno processual por evento da natureza etc.)
e por negócio processual toda manifestação de vontade de que resulta consequência
relevante para o processo (p. ex.: eleição de foro, transação etc.).12
É de se desprezar tal divisão e agrupar todos esses acontecimentos que indepen-
dem da vontade dos que o integram (fatos jurídicos) e as manifestações de vontade
unilateral ou bilateral dirigidas a um fim (negócios jurídicos) como atos processuais,
pois, sua relevância projeta-se para o processo através de atos inseridos no procedi-
mento, ou seja, tais fatos ou negócios jurídicos serão sempre objeto de atos proces-
suais; serão, portanto, “processualizados” (a morte da parte, por exemplo, somente
produzirá efeitos no processo depois que, nele, ela for comunicada por meio de
um ato).
Sendo o ato processual uma espécie de ato jurídico, nele se verifica a voluntarie-
dade, mas, ainda que exista resistência doutrinária,13 a maioria dos autores considera
que essa vontade não tem a mesma função ou grau de importância que se verifica na
consecução de um ato ou negócio jurídico do direito privado.14 Todavia, realmen-

12
As definições estão de acordo com o anteprojeto de Código de Processo Penal elaborado por Hélio
Tornaghi, arts. 178 e 180, respectivamente (apud Egas D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Proces-
so Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 4, nota 8).
13
Para Paula Costa e Silva, é de se romper o dogma da irrelevância da vontade na interpretação e nos vícios
do ato postulatório, considerando-os destinados à obtenção de decisão por meio do exercício de influência
psicológica sobre o juiz (Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, passim). É de se consultar, ainda:
Oscar J. Martinez, Los vicios del consentimiento en la realización del acto procesal, Estudios de nulidades pro-
cesales, Buenos Aires: Hammurabi, 1980, p. 51-70; Paula Sarno Braga, Primeiras reflexões sobre uma teoria do
fato jurídico processual: plano da existência, RePro no 148, jun. 2007, p. 310-319; Leonardo Greco, Os atos de
disposição processual – primeiras reflexões, in: Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais – Estudos
em homenagem à Professora Teresa Arruda Alvim Wambier, coord. José Miguel Garcia, Luana Pedrosa de
Figueiredo Cruz, Luís Otávio Sequeira de Cerqueira e Luiz Manoel Gomes Jr., São Paulo: RT, 2008, p. 290-304 e
Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 159-165.
14
Ángel Fermín Garrote, Los actos jurídicos procesales, Estudios de nulidades procesales, Buenos Aires: Ham-
murabi, 1980, p. 47. Enrico Tullio Liebman presta o seguinte esclarecimento: “Na sua qualidade de atos jurídi-
cos, os atos processuais são, indubitavelmente e por definição, fatos voluntários; não são sequer concebíveis,
senão como resultado da vontade da pessoa que os leva a efeito. Mas trata-se aqui de uma vontade extre-
mamente genérica, ou seja, a simples vontade e consciência de realizar o ato; não se requer absolutamente
que seja voltada à obtenção de determinado efeito, não podendo ela tampouco determiná-lo e moldá-lo
conforme melhor lhe agrade, porque o efeito já está fixado e preestabelecido em lei. Nisso, os atos processu-
ais distinguem-se de outras categorias de atos jurídicos e especificamente dos negócios jurídicos” (Manual
de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 226). Nesse particular, assinala José Jo-
aquim Calmon de Passos: “A voluntariedade é sem dúvida um extremo interno do ato, mas esse extremo tem
sua existência na própria forma que deve assumir o ato. Nela está o sinal, e isso basta. Consequentemente,
o requisito da voluntariedade é praticamente absorvido pelo requisito da forma, e não pode ser objeto, tam-
bém ele, como o da vontade intencional, de uma investigação separada a respeito de sua subsistência” (Es-
boço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 59).
Para José Roberto dos Santos Bedaque, “no ato processual ela [a vontade] cumpre papel residual, pois se
resolve nas simples intenção e consciência de cumprir o ato, sendo irrelevante o objetivo de alcançar deter-
minado fim. Aliás, é impotente para determiná-lo, pois ele já se encontra estabelecido em lei” (Efetividade
do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 410). Talvez seja possível adotar a distinção
Ato processual 15

te não parece ser correto desprezar totalmente a vontade nos atos processuais, até
porque “os atos processuais mais importantes são declarações de vontade”15 e, não
por outra razão, a lei processual por vezes nela se fundamenta para repelir ou sancio-
nar alguns atos em que essa vontade é viciada. Assim, a vontade no ato processual
pode ser relevante para caracterização da litigância de má-fé (CPC, art. 17), assim
como para tomar o processo como simulado ou formado para fins contrários ao Di-
reito (CPC, art. 129). A lei processual também associa a vontade na realização do
ato processual com vícios de erro (CPC, arts. 463, I e 485, IX e § 1o), dolo (CPC,
arts. 47 e 485, III) e coação (CPC, art. 352). Ademais disso, a possibilidade de re-
vogação dos atos das partes igualmente atenua a ideia de irrelevância da vontade nos
atos processuais.16
Assim, em que pese a afinidade do tema com a teoria geral do direito e com o
direito civil,17 não é admissível mera transposição ou equiparação daqueles conceitos
(fato, ato e negócio jurídico) para a sede processual,18 uma vez que o processo tem

feita por Salvatore Pugliatti entre atti volontari e atti di volontà. Explica o mencionado autor: “Il momento dis-
criminatore va qui riposto non più nella volontà dell’atto, che abbiamo visto essere caratteristica comune a
tutti gli atti giuridici in senso lato, sibbene nella volontà come contenuto dell’atto. Soltanto negli atti di volontà,
e non anche negli atti volontari, acquista rilevanza giuridica il programma che l’agente mira a realizzare col
compimento dell’atto, e che il diritto traduce in una determinata serie effettuale. Negli atti volontari, invece,
è esclusivamente l’attività (volontaria) che il diritto prende in considerazione, indipendetemente da qualsiasi
programma dell’agente” (I fatti giuridici, Milano: Giuffrè,1996, p. 4-5).
15
Alfredo de Araújo Lopes da Costa, Direito processual civil brasileiro, v. II, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1959,
p. 110. Sobre o tema, é oportuna a lição de Paula Costa e Silva: “Se é evidente que o acto postulativo não
é autossuficiente para que se produza o efeito pretendido pelo seu autor, se esse efeito só pode ser desen-
cadeado pela decisão, não é concebível no nosso sistema de processo civil uma decisão que não tenha
correspondência, quanto ao seu conteúdo, na vontade expressa pela parte do acto postulativo” (Acto e
processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 269).
16
Neste sentido, Miguel Teixeira de Sousa, Introdução ao processo civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 106.
Acerca da revogação do ato postulativo, ver Paula Costa e Silva, Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed.,
2003, p. 272-306.
17
Paula Costa e Silva reconhece que, entre os temas comuns, o dos atos jurídicos é o que apresenta mais
intensa ligação, daí porque afirma: “a ausência de contacto entre a teoria geral do direito e a teoria geral do
processo civil é tanto mais perniciosa quanto maiores forem as afinidades dos temas com que uma e outra
se debatem” (Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 35).
18
Sobre o tema, leciona Egas D. Moniz de Aragão: “Além disso, a transposição dos conceitos de Direito Ma-
terial para o campo do Direito Processual é impossível, salvo se faça prévia e rigorosa adaptação – o que
significa construir a teoria do ato processual (...) Têm os atos processuais, portanto, uma conotação singular,
que não se encontra nos atos do Direito Material. As características destes últimos os tornam válidos em si
mesmos e de efeitos imediatos. Mesmo quando se compõem progressivamente no que se aproximariam de
um procedimento, neles não intervém a autoridade judicial, para exercer controle e fiscalização e, por fim,
emprestar-lhes – através da homologação – força e efeito” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. II,
9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 5-6). Em sentido análogo, José Joaquim Calmon de Passos: “A base
de toda a divergência – sustenta ele – reside em se pretender como válidos unicamente os conceitos que
a ciência construiu, no direito privado, para ato e negócio jurídico. Em verdade os conceitos pertencem à
teoria geral do direito e dela devem ser transpostos para os diversos ramos da ciência jurídica, sofrendo as
adaptações exigidas pelas peculiaridades de cada qual deles. Assim se procedeu no particular do direito
administrativo, que é de direito público, e com êxito, construindo-se a teoria do ato administrativo. De igual
modo se deve proceder no âmbito do direito processual, construindo-se a teoria do ato processual com
16 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

características próprias,19 entre essas a intermediação do magistrado20 e a particulari-


dade de que, no processo, os atos são praticados sucessiva e simultaneamente por su-
jeitos públicos e privados, que ocupam posições diferentes e exercem funções também
distintas. Logo, os atos processuais praticados ora têm maior influência do regime de
direito público, ora é o regime de direito privado que neles é mais marcante.21
Com efeito, o processo expressa, sempre, uma atuação do Estado (que se dá
em qualquer de suas funções: legislativa, executiva ou judicial) e, por isso, é regido
pelo direito público, cuja competência legislativa é exclusiva da União (CF, art. 22,
I). Logo, o processo tem pressupostos, sujeitos e objeto próprios que não se con-
fundem com os pressupostos, sujeitos e objeto daquilo que provoca a atuação do
Estado-juiz.22
Desse modo, ainda que o plano material possa influenciar o direito processual
civil como um todo, o que se verifica é, de forma mais ou menos intensa, uma co-
municação entre o direito e o processo,23 o que afasta a aplicação do regime puro e
pleno dos atos privados na esfera do processo.

2.3 CONCEITO DE ATO PROCESSUAL

Dado o elo entre ato processual e o processo,24 tem-se que a sua noção varia
na doutrina conforme varia a própria noção do processo. Assim, variam os critérios

vistas àqueles conceitos fundamentais de ato jurídico em sentido estrito e de negócio jurídico, conceitos
que não pertencem ao direito privado, sim à teoria geral do direito” (Esboço de uma teoria das nulidades
aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 53).
19
Alguns autores destacam que os atos processuais também não se submetem ao regime previsto no direito
civil para fins de impugnação ou invalidação (Adolf Schönke, Direito processual civil, Campinas: Romana,
2003, p. 148; José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades
processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 63, nota 26 e Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil,
v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 145).
20
José Joaquim Calmon de Passos duvida da existência de negócios jurídicos processuais dizendo: “Sempre
coloquei ressalvas a esse entendimento, porque convencido de inexistirem, em nosso processo civil, decla-
rações de vontade das partes com eficácia imediata no processo, sempre reclamando, para isso, a inter-
mediação do magistrado. De toda e qualquer declaração de vontade das partes é ele destinatário e seu
pronunciamento sobre elas é essencial para a produção de efeitos no processo (...) Estas [consequências
das declarações das partes], para que ocorram, reclamam o pronunciamento judicial, que lhes emprestará
o caráter de atos do processo” (Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio
de Janeiro: Forense, 2002, p. 69).
21
Leonardo Greco, Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 274.
22
Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2007,
p. 372-376.
23
No atual estágio de desenvolvimento da ciência processual não há mais lugar para uma radical separa-
ção entre direito e processo. A tendência dos processualistas modernos é reaproximar os fenômenos proces-
sual e substancial, no intuito de construir mecanismos que consagrem a utilidade do direito material. Neste
sentido, obrigatória a leitura da obra de José Roberto dos Santos Bedaque, Direito e processo – influência do
direito material sobre o processo, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 2009, passim.
24
José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 489.
Ato processual 17

finalísticos: o efeito que o ato produz à relação jurídica processual,25 ou à situação


jurídica processual,26 ou à instituição processual,27 ou ao procedimento.28
Dado o grau de adesão que a teoria da relação jurídica processual alcançou e a
influência que teve sobre a doutrina pátria, prepondera entre os autores a noção de
ato processual vinculada à de processo como relação jurídica processual.29 Todavia,
mesmo para os adeptos dessa noção, a mera menção ao elo entre o ato e a relação

25
Para Giuseppe Chiovenda, “dizem-se atos jurídicos processuais os que têm importância jurídica em respei-
to à relação processual, isto é, os atos que têm por consequência imediata a constituição, a conservação,
o desenvolvimento, a modificação ou a definição de uma relação processual” (Instituições de direito proces-
sual civil, v. 3, Campinas: Bookseller, 1998, p. 20).
26
James Goldschmidt define: “são chamados atos das partes os que dão vida à situação jurídica proces-
sual, quer dizer, os que criam, modificam ou extinguem as perspectivas, possibilidades e consequências
processuais, ou a liberação destas” (Direito processual civil, Curitiba: Juruá, 2003, p. 193). Neste sentido, tam-
bém, Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 101-102.
27
Jaime Guasp entende como ato jurídico processual “aquel acto o acaecimiento, caracterizado por la
intervención de la voluntad humana, por el cual se crea, modifica o extingue alguna de las relaciones
jurídicas que componen la institución procesal” (Derecho procesal civil, 4. ed., Madri: Civitas, 1998, p. 242).
Eduardo J. Couture segue o mesmo entendimento (Fundamentos do direito processual civil, Campinas: Red
Livros, 1999, p. 110).
28
Adolf Schönke conceitua: “São atos processuais todos aqueles realizados por uma parte, ou o Tribunal,
frente a outra parte, que mediata ou imediatamente servem ao impulso do procedimento civil; não sendo
necessário, conforme tem o Tribunal Supremo declarado, que o ato tenha uma direta eficácia processual”
(Direito processual civil, Campinas: Romana, 2003, p. 147). Também consideram o ato processual como ato
que integra o procedimento: Vittorio Denti, Nullità degli atti processuali civili, in: Novissimo digesto italiano, v. XI,
Roma: Vnione, p. 469; Luigi Montesano e Giovanni Arieta, Trattato di diritto processuale civile, v. 1, t. 1, Padova:
Cedam, 2001, p. 663; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 121 e Paula Costa
e Silva, Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 171-192. É igualmente possível tomar a posição de
alguns autores como atrelada à noção de procedimento, ainda que de forma particularizada. É o caso de
Elio Fazzalari (Instituições de direito processual, Campinas: Bookseller, 2006, p. 114); Crisanto Mandrioli (Corso
di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappichelli, 1995, p. 36) e Andrea Proto Pisani, (Lezioni di diritto pro-
cessuale civile, 2. ed., Napoli: Jovene, 1996, p. 238) para quem o ato processual é o resultado do exercício do
poder conferido aos sujeitos do processo, uma vez que esses poderes são exercidos no procedimento. Flávio
Luiz Yarshell (Tutela jurisdicional, São Paulo: Atlas, 1999, p. 167), José Roberto dos Santos Bedaque (Efetividade
do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 37) e Carlos Alberto Alvaro de Oliveira e Da-
niel Mitidiero (Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Atlas, 2010, p. 282) seguem esse último entendimento.
29
Tais como: Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985,
p. 222; Enrico Redenti e Mario Vellani, Diritto processuale civile, v. 1, 5. ed., Milano: Giuffrè, 2000, p. 228; Luigi
Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Tarufo, Lezioni sul processo civile, Bologna: Il Mulino, 1995, p. 415;
Mario Dondina, Atti processuali (civili e penali), Novissimo Digesto Italiano, 12, Roma: Vnione, p. 1516; Hugo
Alsina, Tratado teórico práctico de derecho procesal civil y comercial, v. 1, 2. ed.,Buenos Aires: Ediar, 1963,
p. 605; Enrique Véscovi, Teoría general del proceso, 2. ed., Bogotá: Temis, 1999, p. 216; Gabriel Rezende Filho,
Curso de direito processual civil, v. 2, 7. ed., São Paulo: Saraiva, 1966, p. 1; Alfredo de Araújo Lopes da Costa,
Direito processual civil brasileiro, v. II, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1959, p. 109-110; José Frederico Marques,
Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p.  276; Moacyr Amaral Santos, Pri-
meiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 285; José Manoel de Arruda
Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 489; Humberto Theodoro Júnior,
Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 248; Ernane Fidélis dos Santos,
Manual de direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 200; Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Prazos e nulidades em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 4-5; Vicente Greco Filho, Direito
processual civil brasileiro, v. 2, 18. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 6; Cândido Rangel Dinamarco, Instituições
de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 468; e Guilherme Freire de Barros Teixeira, Direito
processual civil, Curitiba: Juruá, 2008, p. 214.
18 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

jurídica processual não basta para definir o ato processual, sendo necessário, ainda,
agregar outras características que permitam melhor qualificar a atividade.
Na verdade, essas características que vêm sendo agregadas traduzem que o
ato não pode mais ser inteiramente explicado somente por meio de sua vincula-
ção com a relação jurídica, porque sua compreensão também depende da noção de
procedimento.
Assim, pode-se definir ato processual como sendo aquele que somente pode ser
voluntariamente praticado no processo, por qualquer sujeito presente ou estranho à
relação jurídica processual, que integre o conjunto de atos ligados entre si em razão
de um efeito final, que também deverá ser processual.30
Desse conceito extraem-se as notas distintivas do ato processual: a) somente
pode e deve ser praticado no processo,31 sendo regido, pois, pela disciplina estabele-
cida pelas leis do processo (tipicidade);32 b) ser praticado por sujeito que se apresente
no processo ou na relação processual;33 c) que integre o procedimento;34 e d) que
produza no processo efeitos processuais.35

30
Salvo a inserção da noção de procedimento, adota-se a definição de José Joaquim Calmon de Passos,
Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 43
e 53. Para melhor compreensão de aspectos vinculados ao conceito, ver a obra citada, p. 43-70.
31
Logo, não são atos processuais os praticados fora do processo, ainda que sobre este possam de alguma
forma influir, tal como sustentou Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Clas-
sic Book, 2000, p. 102 e, no Brasil, entre outros, José Frederico Marques, Instituições de direito processual civil,
v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 276 e Francisco Cavalcante Pontes de Miranda, Comentários ao Código
de Processo Civil, t. III, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 12-13. Sobre o tema, leciona José Joaquim Cal-
mon de Passos: “O ato, para ser entendido como ato processual, não somente deve ser um ato integrante
do conjunto de atos que constituem o processo e com efeitos no ou para o processo, ele também deve ser
ato que só no processo pode ser praticado” (Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades
processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 43).
32
Esta é nota marcante para Dante Barrios De Angelis, que assinala: “acto jurídico procesal es todo cambio
objetivo y voluntario previsto por la norma como componente del proceso”; e, a seguir, esclarece: “el acto
debe estar previsto como supuesto de hecho o como consecuencia jurídica de una norma procesal” (Teoría
del proceso, 2. ed., Buenos Aires: IBdef, 2005, p. 141). Para Paula Costa e Silva, o ato integrando o procedimen-
to “não permite distinguir os actos processuais que se encontram submetidos a um regime de direito proces-
sual civil de outros actos processuais, porque integrados em actos do procedimento, que se não encontram
sujeitos a regimes de direito processual civil” (Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 172). Vale dizer,
a situação defendida no texto pode não ser absoluta, admitindo, pois, temperamentos. Assim, é possível que
o ato esteja, também, sujeito ao regime de direito substancial, por exemplo.
33
Não é correto excluir os atos realizados por auxiliares da justiça, tal como sugerido por Giuseppe Chiovenda,
Instituições de direito processual civil, v. 3, 1. ed., Campinas: Bookseller, 1998, p. 21-22; assim como não é cor-
reto excluir os atos praticados por terceiros, como fez Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil,
v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 222. A razão está com Francesco Carnelutti, para quem os atos
processuais podem ser praticados pelas partes, pelo juiz e demais encarregados e por terceiros (Sistema de
direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 210-236). Segue este último entendimento Mario
Dondina, Atti processuali (civili e penali), Novissimo Digesto Italiano, 12, Roma: Vnione, p. 1516.
34
Entendido como ligação que se institui, com caráter de necessidade jurídica, entre cada um dos atos da
série, em face de um provimento ou ato final (Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT,
1991, p. 121).
35
O ato processual, além de desenvolver eficácia dentro do processo, pode desenvolver eficácia fora dele,
como ocorre, por exemplo, com a citação válida, que interrompe a prescrição, tal como estabelece o
art. 219 do CPC.
Ato processual 19

2.4 ATO DO PROCESSO E ATO PROCESSUAL

Dada a definição de ato processual, é forçoso reconhecer que nem todo ato rea-
lizado no processo é ato processual. Daí por que alguns autores36 distinguem ato do
processo de ato processual, aquele sendo gênero de que este é espécie. Para estes,
embora a sede processual seja nota fundamental para a processualidade do ato, a
mera ocorrência do ato dentro do processo não basta para considerá-lo ato proces-
sual, pois, para tanto, precisa ainda ter conteúdo e efeitos no processo.37
Observa-se, entretanto, que na concepção original desta orientação, a noção de
atos processuais era restrita apenas aos que, na fluência da relação jurídica continua-
tiva que o processo apresenta, provinham daqueles que subjetivamente a integrem,
reservando-se os demais para a categoria dos atos do processo.38 Daí por que, por
exemplo, atos do escrivão (distribuição, autuação, despachos de mero expediente,
certidões, cargas, remessas etc.) não eram considerados atos processuais.
Todavia, alargada a legitimidade para a realização de atos processuais para aqueles
que são estranhos à relação jurídica processual,39 não são atos processuais e, portanto,
são atos do processo, aqueles que, mesmo realizados no curso do processo, não inte-
grem o procedimento e, portanto, não exerçam qualquer influência sobre o processo.40

36
Eliézer Rosa, Dicionário de processo civil, São Paulo: Editora de Direito, 1957, p. 132; Celso Neves, Atualização
do processo civil, in Estudos em homenagem a Joaquim Canuto Mendes de Almeida, São Paulo: RT, 1987, p.
53-56, Alexandre Freitas Câmara, Atos processuais, in: Escritos de direito processual, Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2001, p. 90 e Carlos Alberto Alvaro de Oliveira e Daniel Mitidiero, Curso de processo civil, v. 1, São Paulo:
Atlas, 2010, p. 282-283.
37
Explica Eliézer Rosa: “Então, ato do processo é tôda a atividade desenvolvida dentro do processo pelos su-
jeitos do juízo e seus auxiliares. Se tal ato tiver um conteúdo processual, será designado pela sua processuali-
dade e esta nota absolverá a da localização do ato e se chamará ato processual; se, entretanto, fôr despido
de processualidade, será chamado simplesmente ato do processo” (Dicionário de processo civil, São Paulo:
Editora de Direito, 1957, p. 132).
38
Celso Neves, Atualização do processo civil, in Estudos em homenagem a Joaquim Canuto Mendes de
Almeida, São Paulo: RT, 1987, p. 56. Em sentido análogo ao do critério distintivo referido no texto, Hélio Tornaghi
(Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 2) e Alcides de Mendonça Lima (Di-
cionário do Código de Processo Civil brasileiro, 2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 93) asseveram que a expressão
ato processual tem dois sentidos, um lato e outro restrito: aquele para designar todo ato, natural ou humano,
que exercesse influência no processo; este para designar unicamente os atos dos sujeitos que compõem o
processo (partes, juiz e seus auxiliares).
39
Para Sergio Bermudes os atos do órgão judicial englobam aqueles praticados pelo juiz e por todos os
órgãos jurisdicionais auxiliares, permanentes ou temporários (atos do escrivão, do escrevente, do contador,
do perito e dos assistentes, da testemunha); e os atos das partes são os atos do autor, do réu, do terceiro
interveniente, dos advogados, dos procuradores, dos defensores públicos e do Ministério Público (Introdução
ao processo civil, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 125).
40
Para Cândido Rangel Dinamarco, não é ato processual as condutas realizadas no processo completa-
mente incapazes de produzir efeitos sobre ele, tal como uma agressão verbal ou física perpetrada durante a
audiência ou a remoção dos autos do processo de um edifício para outro (Instituições de direito processual
civil, v.  II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 468). Exemplos similares são dados por Ferruccio Auletta, Nullità e
“inesistenza” degli atti processuali civili, Padova: Cedam, 1999, p. 40. Aos atos referidos como do processo no
texto, este último autor italiano os trata como “atti giudiziari ” (op. cit., p. 43).
20 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Portanto, a processualidade que dá nota ao ato e permite denominá-lo como pro-


cessual e não meramente como do processo, é a sua inserção no procedimento41 e o con-
sequente efeito que produz no processo, independentemente do sujeito que o realiza.42
Assinale-se, ainda, que há quem43 distinga ato processual lato sensu de ato proces-
sual stricto sensu, aquele para designar todo ato que exerça influência no processo e este
para designar unicamente os que compõem o processo, cujo encadeamento forma o
processo. Tal distinção não é adequada, pois cataloga como processuais atos realizados
mesmo fora do processo (eleição de foro, por exemplo). Todavia, tal entendimento
permite concluir que há atos processuais que se submetem a um regime jurídico mis-
to, em que se entrelaçam normas de direito processual e normas de direito material.44

2.5 CARACTERÍSTICAS DO ATO PROCESSUAL


De modo geral, apontam-se como sendo três as características próprias do ato
processual: i) a interligação; ii) a vinculação e iii) a interdependência.45
A interligação identifica que o ato processual não se apresenta de maneira isolada
no processo, integrando sempre o procedimento. A vinculação destaca que os atos
estão ajustados tendo em conta o fim comum a que se destinam, isto é, os atos vincu-
lam-se por provocar e preparar o efeito final a ser alcançado ao término do procedi-
mento (unidade de finalidade).46 A interdependência demonstra a estrutura fechada
do procedimento, em que um ato é dependente de outro que lhe é anterior assim
como exercerá influência sobre àquele que lhe será posterior; ou seja, diz respeito à
sucessão dos atos em que um é causa e/ou efeito do outro.47

41
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 121 e Juliana Demarchi, Ato proces-
sual juridicamente inexistente – mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexistência
jurídica, Revista Dialética de Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 46.
42
Dada a relação entre processo e procedimento já destacada no capítulo 1, não parece mais atual con-
ceber diferença entre atos do processo e atos do procedimento, tal como se encontra em José Frederico
Marques (Manual de direito processual civil, v. 1, 6. ed., São Paulo: Saraiva, 1978, p. 301-302); e Humberto
Theodoro Júnior (Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 249-250).
43
Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 2-3.
44
Alfredo de Araújo Lopes da Costa, Direito processual civil brasileiro, v. II, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1959,
p. 115 e José Carlos Barbosa Moreira, Convenções das partes sobre matéria processual, Temas de direito
processual (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 93.
45
Enrico Tullio Liebman, Manual de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 228-229; José
Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 277-278; Moacyr
Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 286; José
Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 490; Marcos
Destefenni, Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2006, p. 120-121; e Celso Neves, Atualização
do processo civil, in: Estudos em homenagem a Joaquim Canuto Mendes de Almeida, São Paulo: RT, 1987,
p. 56-57.
46
A expressão é de Leonardo Greco, Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 274.
47
Giancarlo Giannozzi atesta: “... l’atto processuale deve realizzare lo scopo legale che gli è assegnato, nel
contesto del processo dove è destinato ad inserirsi: l’atto processuale non vive da solo, ma concatenato ad
Ato processual 21

Embora cada ato tenha exigências próprias para sua realização e efeito, elas são
desprezadas para a determinação de suas características, visto que essas são concebi-
das segundo a relação de um ato com outro, ou seja, à luz da noção de procedimento.
Diante desta constatação questiona-se: a eficácia ou ineficácia do ato processual,
quer de maneira isolada quer em procedimento, pode ser tomada como uma carac-
terística do ato processual?48

2.6 CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS


A atividade de classificar consiste em agrupar algo em classes para fim de tornar
útil a compreensão daquilo que foi agrupado, o que se faz por exigências práticas ou
sistemáticas e costuma ter por núcleo identificar atributos comuns e discriminatórios
acerca do que se pretende agrupar. Tanto quanto maior o número de traços distin-
tivos que a realidade fornecer em relação ao que será objeto da classificação, maior
será o número de classes a serem sugeridas.49
Em se tratando de teoria geral do direito, costuma-se apontar ser a classificação
um agrupamento de conceitos.50

altri cui è causa ed/od effeto e tutti insieme, raggiungendo ciascuno lo scopo assegnato dalla legge, com-
pongono il congegno e la dinamica del processo” (Appunti per um corso di diritto processuale civile, Milano:
Giuffrè, 1980, p. 188). Em sentido análogo, Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Tarufo: “Secondo
nozioni elementari, l’esercizio delle diverse situazioni soggetive (facoltà, diritti o poteri), di cui sono titolari nel
processo le parti ed il giudice, si traduce nel compimento di atti determinati, i quali a loro volta se pongono
come i presuposti per l’esercizio di altre situazioni, connesse od autonome (e, quindi, per il compimento di atti
ulteriori). Infatti, il processo si sviluppa attraverso una serie di atti cronologicamente successivi – non sempre
concatenati fra loro da un nesso di stretta interdipendenza – la cui formula organizzatoria è di tipo procedi-
mentale, assumendo come denominatore comune il raggiungimento di un identico obiettivo finale (che è la
risoluzione della controversia, con la pronunzia del provvedimento decisorio definitivo)” (Lezioni sul processo
civile, Bologna: Il Mulino, 1995, p. 415).
48
A resposta a essa indagação está no item 5.13.
49
Sobre o tema, leciona Marco Aurélio Greco: “Por classificar entende-se, em grandes linhas, a operação de
dividir um conjunto ou grupo de objetos, coisas, enfim seres quaisquer, em classes, dependendo para isto da
coordenação destes objetos a critérios preestabelecidos. Classificar significa separar determinados grupos
de seres em função de características que só se apresentam em cada uma das categorias obtidas, e que
servirão de critérios discriminatórios. Cada grupo de objetos pode ser classificado de inúmeras maneiras, o
que é possível graças à multiplicidade de traços que a realidade empírica possui” (Contribuições – uma figura
“sui generis”, São Paulo: Dialética, 2000, p. 85). Paulo Barros de Carvalho leciona: “Classificar é distribuir em
classes, é dividir os termos segundo a ordem da extensão ou, para dizer de modo mais preciso, é separar os
objetos em classes de acordo com as semelhanças que entre eles existam, mantendo-os em posições fixas e
exatamente determinadas em relação às demais classes. Os diversos grupos de uma classificação recebem o
nome de espécies e de gêneros, sendo que espécies designam os grupos contidos em um grupo mais exten-
so, enquanto gênero é o grupo mais extenso que contém as espécies” (Direito tributário, linguagem e método,
2. ed., São Paulo: Noeses, 2008, p. 117-118). E, mais adiante arremata (op. cit., p. 119): “Realmente, não existem
limites à liberdade de fazer classificações que, no fundo, consubstancia-se em separar em classes, em grupos,
formando subclasses, subdomínios, subconjuntos. Ao sujeito do conhecimento é reservado o direito de fundar
a classe que lhe aprouver e segundo a particularidade que se mostrar mais conveniente aos seus propósitos”.
50
Assinala Luiz Guilherme Marinoni: “Toda classificação trabalha com conceitos, objetivando agrupá-los de
forma lógica e cientificamente didática.” E, mais adiante destaca: “A classificação constitui um agrupamento
22 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Considerando que o conceito de ato processual não é assente em doutrina, tam-


bém não há consenso doutrinário quanto à classificação dos atos processuais. Não
obstante isso, partindo-se do conceito de ato processual antes elaborado e suas notas
distintivas não é difícil perceber que os atos processuais podem ser classificados se-
gundo mais de um critério.51
É bastante comum a doutrina mencionar a classificação subjetiva,52 que tem
como caracter distintivo o sujeito que pratica o ato no processo e a classificação
objetiva,53 que em sentido amplo atende ao objeto (conteúdo) do ato praticado à
luz de sua estrutura (simples ou complexos), efeito (modificativo, extintivo etc.) ou
aptidão para autonomamente produzir os efeitos pretendidos pelo agente (estimu-
lantes ou determinantes),54 finalidade (postulação, instrução etc.) ou natureza (ônus,
faculdades, poderes etc.); há, também, quem conjugue ambas as classificações55 ou
quem as considere insatisfatórias.56
O diploma processual civil pátrio (CPC/73) consagrou o critério subjetivo, de-
dicando disposições legais acerca dos atos da parte (arts. 158 a 161), aos atos do juiz
(arts. 162 a165) e aos atos dos auxiliares da justiça (arts. 166 a 171).
Não obstante a opção do legislador, o critério objetivo, que espelha a repercus-
são que os atos produzem no processo,57 é considerado por muitos de maior rigor

de conceitos. O valor da classificação depende de sua utilidade ao reunir os conceitos que têm certas parti-
cularidades. Ela tanto será melhor quanto maior for sua capacidade de tornar os conceitos compreensíveis,
sem que cada um deles perca sua identidade. Por isto mesmo, as classificações não podem ser pensadas
como verdadeiras ou falsas. É que as classificações não se destinam a conceituar ou a descrever realizadas,
mas somente a agrupá-las” (Classificação das sentenças que dependem de execução, Revista Jurídica
no 351, Porto Alegre: Notadez, jan./2007, p. 57 e 58-59).
51
É consenso que a maior tentativa de classificação dos atos processuais feita na doutrina coube a Francesco
Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 22-191.
52
Aderem à classificação subjetiva, por exemplo: Adolf Schönke, Direito processual civil, Campinas: Romana,
2003, p. 150-157; Giuseppe Chiovenda, Instituições de direito processual civil, v. 3, Campinas: Bookseller, 1998,
p. 20 e Egas D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1998, p. 7.
53
Preferem a classificação objetiva, entre outros: James Goldschmidt, Direito processual civil, Campinas: Ju-
ruá, 2003, p. 193-194; Jaime Guasp, Derecho procesal civil, 4. ed., Madri: Civitas, 1998, p. 244-250; Eduardo
J. Couture, Fundamentos do direito processual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 111-117 e José Frederico
Marques, Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 281-285.
54
Sobre o tema, ver Othmar Jauernig, Direito processual civil, Coimbra: Almedina, 2002, p. 170-171; Antonio do
Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 139-144 e item 5.10.2.
55
Alexandre Freitas Câmara entende: “Parece-nos, entretanto, que os dois critérios não se excluem, sendo
possível uma classificação pelo critério subjetivo que comporte, por sua vez, uma subclassificação por um
critério objetivo” (Atos processuais, in: Escritos de direito processual, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001, p. 91).
Essa também parece ser a opinião de Hugo Alsina, Tratado teórico práctico de derecho procesal civil y co-
mercial, v. 1, 2. ed., Buenos Aires: Ediar, 1963, p. 613-614.
56
Norma Chrissanto Dias noticia a posição manifestada por Leonardo Greco, no sentido de que a doutrina
ainda não concebeu uma classificação científica dos atos processuais, especialmente comprometida com
a essência jurídica do ato processual, o que certamente em muito contribuiria para a teoria das nulidades
do processo, entre outros reflexos (Os prazos processuais e seu reflexo na efetividade do processo civil, Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 70-72).
57
Formulada por Jaime Guasp, Derecho procesal civil, 4. ed., Madri: Civitas, 1998, p. 244-250.
Ato processual 23

científico,58 por classificar o ato sem deixar de considerá-lo na perspectiva do proce-


dimento ou de suas fases,59 além de ser mais didática, por facilitar a compreensão do
processo a partir do procedimento.
Pois bem, considerar o ato processual como sendo eficaz ou ineficaz correspon-
de a uma classificação?60

2.7 FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS E FUNGIBILIDADE


Segundo assinala a doutrina,61 a forma dos atos em geral serve de garantia de
segurança e liberdade jurídica, e, no âmbito processual, integra a noção de for-
malismo antes referida (item 1.2), contribuindo, portanto, para que o processo
se desenvolva em contraditório62 de maneira leal e regular. Aliás, aponta-se que a
forma do ato processual difere da forma dos atos em geral por ser disciplinada de
maneira mais minuciosa e rígida.63 Através da forma, o ato é introduzido no pro-
cesso, comunicando-se e transmitindo-se aos demais sujeitos que nele atuam,64 ou

58
José Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 281 e José
Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 491.
59
Antonio Scarance Fernandes explica: “No interior da realidade unitária do procedimento, formam-se con-
juntos parciais com efeitos internos e provisórios em relação ao efeito final a ser obtido por meio do conjunto
total. Esses conjuntos parciais recebem da doutrina denominações diversas: procedimentos em sentido es-
trito, procedimentos parciais ou fases processuais. São, contudo, tecnicamente inadequadas as expressões
procedimentos em sentido estrito ou procedimentos parciais, em virtude de, na atualidade, o procedimento
ser visto com entidade caracterizada por sua unidade. Esses conjuntos parciais compõem a mesma unidade
e estão ligados entre si pela finalidade do procedimento com um todo. É perseguido um produto final, o qual
é atingido após serem alcançados produtos parciais em cada fase. Cada um dos estádios de transformação
representa uma conditio sine qua non em relação ao estádio sucessivo e, ao mesmo tempo, uma condição
favorável para a produção da síntese. Há um escopo em cada fase processual, essencial para ser atingido
o escopo final. Melhor, por isso, a denominação de fases do processo ou fases do procedimento para esses
conjuntos parciais. A visão unitária do procedimento e a sua qualidade de elemento conceitual do processo
permitem que se refira tanto a fases do processo como a fases do procedimento” (Teoria geral do procedi-
mento e o procedimento no processo penal, São Paulo: RT, 2005, p. 34). Assim pode-se falar em fase postula-
tória, instrutória, decisória, recursal, executória etc.
60
A resposta a essa indagação está no item 5.13.
61
Giuseppe Chiovenda, Le forme nella difesa giudiziale del diritto, in: Saggi di diritto processuale civile, v. 1,
Milano: Giuffrè, 1993, p. 354-355; Hugo Alsina, Tratado teórico práctico de derecho procesal civil y comercial,
v. 1, 2. ed., Buenos Aires: Ediar, 1963, p. 617; Roberto O. Berizonce, Las formas de los actos procesales: siste-
mas, Estudios de nulidades procesales, Buenos Aires: Hammurabi, 1980, p. 17; Galeno Lacerda, O Código e o
formalismo processual, in: Revista Ajuris no 28, julho de 1983, p. 8; Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de
direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 286-287; Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos
e nulidades em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 11; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso
de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 150; e José Roberto dos Santos Bedaque,
Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 94-98.
62
Andrea Proto Pisani assinala que o contraditório é premissa necessária para a compreensão dos requisitos
formais (Lezioni di diritto processuale civile, 2. ed., Napoli: Jovene, 1996, p. 237-238). No mesmo sentido, Flávio
Luiz Yarshell, Tutela jurisdicional, São Paulo: Atlas, 1999, p. 169.
63
Crisanto Mandrioli, Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappichelli, 1995, p. 368.
64
Leonardo Greco, O processo de execução, v. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 256 e Instituições de pro-
cesso civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 386.
24 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

seja, passa da esfera intelectual de quem o cumpre ao âmbito da realidade objeti-


va,65 gerando expectativas de comportamento entre esses sujeitos e, assim, produ-
zindo efeitos e influenciando o desenvolvimento do procedimento.
Ultimamente tem-se dado maior destaque aos malefícios que a forma tem cau-
sado ao processo do que aos benefícios, pois é senso comum que a forma sofreu
distorções a ponto de deixar de ser meio para realização do direito, transforman-
do-se no próprio fim,66 sendo motivo de crítica a sua rigidez e a sua superestimação
(“morfolatria”),67 que não combinam com os fins sociais do processo.
A crítica deve servir de alerta para que se busque equilíbrio na regulação do siste-
ma formal do processo a fim de que ele proporcione os resultados justos almejados sem
que os sujeitos que nele atuam tenham liberdades exageradas ou rigores excessivos.68
Como já se disse em doutrina, “as denominadas ‘regras do jogo’ devem ser 1) poucas,
2) simples, 3) de todos previamente conhecidas e 4) de aplicação certa e inequívoca”.69
Em se tratando de forma do ato processual, embora devesse apenas revelar a ma-
neira como o ato deve se exteriorizar, isto é, as solenidades a serem observadas na sua
celebração70 (o modo como deve ser praticado; seus requisitos intrínsecos),71 muitas
vezes também estabelece o conteúdo do ato72 (p. ex.: a sentença, CPC, art. 458; o

65
Gerardo Di Masi e Juan Alberto Farias, Manual de derecho procesal civil, dir. Omar Luis Díaz Solimine,
Buenos Aires: La Ley, 2008, p. 147.
66
Eis o repúdio feito por Galeno Lacerda: “Subverteu-se o meio fim. Distorceram-se as consciências a tal
ponto que se cria fazer justiça, impondo-se a rigidez da forma, sem olhos para os valores humanos em lide.
Lavavam-se as mãos sob o escudo frio e impassível da sacralidade do rito” (O Código e o formalismo proces-
sual, in: Revista da Ajuris no 28, jul. 1983, p. 8). Por sua vez, Moacyr Amaral Santos enfatiza: “Os menos argutos,
especialmente os profanos na ciência do direito, insurgem-se contra o formalismo, a que atribuem o sacrifício
e o sufocamento do direito. Realmente, há que se reprovar o formalismo que atribua à forma preponderância
sobre o conteúdo e olvide que ela é meio e não fim” (Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed.,
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 287).
67
A expressão é de Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 5.
68
Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Tarufo, Lezioni sul processo civile, Bologna: Il Mulino, 1995,
p. 416-417; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Ma-
lheiros, 2006, p. 98-102; Leonardo Greco, O processo de execução, v. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 258;
Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 386-387; e Antonio do Passo Cabral, Nulidades
no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 187.
69
Antonio Janyr Dall’Agnol Jr., Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 69.
70
Aroldo Plínio Gonçalves define: “A forma, em sentido estrito, é o revestimento externo do ato, sua feição ex-
terior, os limites exteriores que o individualizam. É o conjunto de signos pelos quais a vontade se manifesta, ou
de solenidades que se devem observar na celebração de certos atos jurídicos” (Nulidades do processo, Rio
de Janeiro: Aide, 2000, p. 32). Tal definição é corroborada por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Do formalismo
no processo civil, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 5. Sobre o tema, explica Dante Barrios De Angelis: “la forma del
acto puede considerarse en dos acepciones: como exteriorización material del acto (forma externa) y como
estructura ideal del acto (forma interna)” (Teoría del proceso, 2. ed., Buenos Aires: IBdef, 2005, p. 143).
71
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 534.
72
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990,
p. 11; Crisanto Mandrioli, Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappichelli, 1995, p. 367; Luigi Paolo
Comoglio, Corrado Ferri e Michele Tarufo, Lezioni sul processo civile, Bologna: Il Mulino, 1995, p. 417; Enrique
Véscovi, Teoría general del proceso, 2. ed., Bogotá: Temis, 1999, p. 226; e Leonardo Greco, O processo de
execução, v. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 259.
Ato processual 25

recurso de apelação, CPC, art. 514 e a petição inicial executiva, CPC, art. 615) e,
para alguns,73 também estabelece outros fatores externos (lugar e tempo, por exem-
plo). Por força dessa variedade de concepções abstratas é que se pode mesmo afirmar
que a noção de forma é relativa, dependendo sempre da disciplina positiva de cada
específico aspecto a ela inerente.74
Ainda que possa parecer que o sistema pátrio se paute pela liberdade das formas
(CPC, art. 154), a verdade é que o diploma processual brasileiro deu maior impor-
tância ao sistema dito da legalidade das formas, pois a maioria dos atos processuais,
especialmente aqueles de principal destaque no procedimento (tais como a petição
inicial, a citação, a sentença), devem obedecer ao modelo legal previsto. Aliás, por
força desse apego à forma, é comum falar-se em tipicidade do ato processual.75
No entanto, não se vislumbra total rigidez a esse sistema da legalidade, pois o
próprio codex contemplou o princípio dito da instrumentalidade das formas (CPC,
art. 244) cuja orientação permite concluir que o respeito à forma deve ser medido
pela possibilidade de o ato atingir o mesmo fim ainda que sob outra forma.76 Fala-se,
pois, em um sistema de legalidade instrumental,77 em que importa menos o ato em
si e mais a sua finalidade, com vistas a aproveitar ao máximo os atos processuais.78, 79

73
Entre outros, Ángel Fermín Garrote, Los actos jurídicos procesales, Estudios de nulidades procesales, Bue-
nos Aires: Hammurabi, 1980, p. 43; Victor de Santo, Nulidades procesales, 2. ed., Buenos Aires: Universidad,
2001, p. 26; Alberto Luis Maurino, Nulidades procesales, 2. ed., Buenos Aires: Astrea, 2001, p. 3; Cândido Ran-
gel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 533-534; Leonardo
Greco, O processo de execução, v. 2, Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 257; e José Roberto dos Santos
Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 411.
74
Fabio Marelli, La conservazione degli atti invalidi nel processo civile, Padova: Cedam, 2000, p. 45-46.
75
Romeu Pires de Campos Barros, Do fato típico no direito processual penal, Revista Forense no 176, Rio de Ja-
neiro: Forense, mar./abr. 1958, p. 30; José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades apli-
cada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 78; Roque Komatsu, Da invalidade no processo
civil, São Paulo: RT, 1991, p. 190 e Flávio Luiz Yarshell, Tutela jurisdicional, São Paulo: Atlas, 1999, p. 168. Cândido
Rangel Dinamarco também se refere aos atos típicos e, ainda, assinala que quando o ato realizado se afasta
do modelo legal é dito atípico (Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 544).
76
Marcos Destefenni, Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2006, p. 121.
77
Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, v. 2, 18. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 12. Roque
Komatsu assinala que o sistema pátrio é o da legalidade das formas, ainda que de forma temperada (Da
invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 132). Cândido Rangel Dinamarco defende que o sistema
brasileiro é misto e equilibrado entre o sistema da legalidade e o da liberdade (Instituições de direito proces-
sual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 532). Fernando da Fonseca Gajardoni assinala que não há siste-
mas puros e, por isso, conclui que nosso é apenas tendente ao da legalidade (Flexibilização procedimental,
São Paulo: Atlas, 2008, p. 80).
78
Em sentido análogo, Eduardo de Avelar Lamy destaca: “a lógica que embasa o subprincípio da instrumen-
talidade das formas é a de que o objetivo de um ato processual é mais importante do que o ato em si mesmo.
Mais do que isso: trata-se de entender que o objetivo do processo é mais importante do que ele mesmo”
(Princípio da fungibilidade no processo civil, São Paulo: Dialética, 2007, p. 53). Crisanto Mandrioli, por sua vez,
chega mesmo a sustentar que a forma do ato processual somente deve ser respeitada enquanto e nos limites
em que é necessária para que o objetivo do ato seja alcançado; e, caso a forma não atenda a essa função,
pode mesmo ser transgredida (Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappichelli, 1995, p. 371).
79
Hélio Tornaghi, ao comentar o art. 154 do CPC, fazia a seguinte distinção: “atos que podem alcançar seu
escopo qualquer que seja a forma em que forem praticados e que, por isso, não têm forma predeterminada;
atos cuja forma é predisposta em lei, mas que são válidos se, executados de outra maneira, alcançam sua
26 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Neste contexto, merece destaque o crescimento do princípio80 da fungibilidade


que vem sendo cogitado como um importante e eficaz instrumento de combate à ri-
gidez das formas processuais.81 Fungibilidade aqui é entendida como uma tolerância
aos atos que, desde que fundados em dúvida objetiva,82 não se apresentem conforme
o padrão legal, isto é, aproveitando-os como se correspondessem ao mecanismo pro-
cessual adequado, emprestando-lhes o mesmo resultado.
Outros princípios ainda informam a forma do ato processual. Os atos devem ser,
de regra, públicos (CF/88, art. 5o, LX e CPC, art. 155), obrigatoriamente pratica-
dos em língua portuguesa (CPC, arts. 156 e 157) e devidamente documentados nos
autos (CPC, arts. 166 a 169).
Em última análise, a previsão da forma dos atos processuais está relacionada:
i) com a maneira como os sujeitos devem atuar no curso do processo, estabelecendo,
portanto, o limite de suas atividades;83 ii) com as consequências do ato processual,
garantindo que este cumpra sua finalidade prevista na lei; iii) com a comunicação dos
sujeitos que operam no processo; iv) com a documentação dos atos processuais84 e,
v) com a possibilidade de controle sobre os atos processuais.85

finalidade; atos cuja forma é essencial, de tal modo que não existem se levados a cabo de forma diversa”
(Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 8). Por sua vez, José Frederico Marques
tratava os mesmos fenômenos da seguinte maneira: a) atos de forma livre; b) atos de forma exclusivamente
relevante e c) atos de forma vinculada ou imprescindível (Instituições de direito processual civil, v. II, Campi-
nas: Millennium, 2000, p. 306).
80
Humberto Ávila define os princípios como “normas imediatamente finalísticas, primariamente prospecti-
vas e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma
avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta
havida como necessária à sua promoção” (Teoria dos princípios, 9. ed., São Paulo: Malheiros, 2009, p. 78-79).
Tomando por base tal definição, pode-se realmente apontar ser a fungibilidade um princípio, pois ela tem
um fim que exige a delimitação de um estado ideal de coisas a ser buscado por meio de comportamentos
necessários a essa realização: adaptar o instrumento processual à diversidade das situações fáticas, espe-
cialmente as imprevistas e não padronizadas, atenuando a forma em homenagem à efetividade da atuação
jurisdicional e do próprio direito material.
81
A respeito do tema, ver Teresa Arruda Alvim Wambier, Fungibilidade de “meios”: uma dimensão do princípio
da fungibilidade, in: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outras formas de impugnação às deci-
sões judiciais, v. 4, coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2001, p. 1090-1144 e O
princípio da fungibilidade sob a ótica da função instrumental do processo, in: Aspectos polêmicos e atuais dos
recursos cíveis e de outras formas de impugnação às decisões judiciais, v. 8, coord. Nelson Nery Junior e Teresa
Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2005, p. 739-792; Eduardo de Avelar Lamy, Princípio da fungibilidade no pro-
cesso civil, São Paulo: Dialética, 2007; Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, Princípio da fungibilidade, São Pau-
lo: RT, 2007; Guilherme Freire de Barros Teixeira, Teoria do princípio da fungibilidade, São Paulo: RT, 2008; e Sidnei
Amendoeira Jr., Fungibilidade de meios, São Paulo: Atlas, 2008.
82
Entende-se por dúvida objetiva aquela derivada: a) de impropriedades terminológicas presentes no pró-
prio texto legal; b) de divergências existentes na doutrina e na jurisprudência quanto à natureza do ato e, por
conseguinte, a respeito da utilização de um determinado meio processual; c) do pronunciamento judicial
equivocadamente proferido em lugar de outro; d) da ausência de elementos suficientes a respeito dos meios
processuais a serem utilizados. Por todos, ver Eduardo de Avelar Lamy, Princípio da fungibilidade no processo
civil, São Paulo: Dialética, 2007, p. 101-117.
83
J. Ramiro Podetti, Teoría y técnica del proceso civil, Buenos Aires: Ediar, 1963, p. 117.
84
Os itens “ii” a “iv” conforme Leonardo Greco, Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense,
2009, p. 386.
85
Guilherme Freire de Barros Teixeira, Teoria do princípio da fungibilidade, São Paulo: RT, 2008, p. 52-53.
Ato processual 27

O respeito à forma (ao modelo legal) do ato processual guarda alguma relação
com a eficácia desse ato?86

2.8 TEMPO E LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS


Tempo e lugar são apontados como requisitos extrínsecos do ato processual,
pois lhe são exteriores.87
Desenvolvendo-se o processo por meio de um procedimento formado por atos
dispostos em sequência, transparece nítido que o processo refere-se a uma relação de
tempo,88 pois essa sucessão não se dá instantaneamente, importando, ao contrário,
que um ato presente desloque o anterior para o passado e prepare o que futuramente
se realizará. Em suma: o processo desenvolve-se mediante consumo de tempo.
Numa visão macro, a importância do tempo no processo se traduz na exigência
de sua duração razoável, mediante a prestação de uma tutela jurisdicional tempesti-
va89 (CF/88, art. 5o, LXXVIII), evitando, pois, a eternização do conflito. Sob esse
enfoque, o tempo é tratado como verdadeiro inimigo a ser vencido.90 Por sua vez,
sob olhar mais atento, o tempo deve ser visto sob o momento e o prazo em que deve
ser realizado o ato processual.91

86
A resposta a essa indagação está nos itens 5.5 e 5.13.
87
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 534.
88
Eduardo J. Couture, Fundamentos do direito processual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 123; José Frederico
Marques, Instituições de direito processual civil, v. II, Campinas: Millennium, 2000, p. 320; Moacyr Amaral San-
tos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 303; Ovídio A. Baptista
da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 151; e Cristina Ferraz, Prazos
no processo de conhecimento, São Paulo: RT, 2001, p. 98.
89
Sobre a relação entre tempo e processo ver José Rogério Cruz e Tucci, Tempo e processo, São Paulo: RT, 1997;
Luiz Guilherme Marinoni, Garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e duplo grau de jurisdição, Garan-
tias constitucionais do processo civil, São Paulo: RT, 1999; Cristina Riba Trepat, La eficacia temporal del proceso. El
juidicio sin dilaciones indebidas, Barcelona: Bosch, 1997; Adolfo Gelsi Bidart: El tiempo y el proceso, RePro, no 23,
jul./set. 1981, p. 100-121, e, Del tiempo procesal y su manejo, RePro, no 93, jan./mar. 1999, p. 191-196; Flávia de
Almeida Montingelli Zanferdini, Prazo razoável – direito à prestação jurisdicional sem dilações indevidas, Revista
Síntese de Direito Civil e Processual Civil no 22, Porto Alegre: Síntese, mar./abr. 2003, p. 14-29; Juvêncio Vasconce-
los Viana, Da duração razoável do processo, Revista Dialética de Direito Processual no 34, São Paulo: Dialética,
jan./2006, p. 53-68; Paulo Hoffman, Razoável duração do processo, São Paulo: Quartier Latin, 2006 e Fernando
da Fonseca Gajardoni, O princípio constitucional da tutela jurisdicional sem dilações indevidas e o julgamento
antecipadíssimo da lide, Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil no 45, jan./fev. 2007, p. 102-131.
90
É clássica a seguinte passagem de Francesco Carnelutti: “O valor que o tempo tem para o processo é
imenso e, em grande parte, desconhecido. Não seria exagero comparar-se o tempo a um inimigo contra o
qual o juiz luta sem descanso. De resto, também sob este aspecto o processo é vida. As exigências que se
apresentam ao magistrado, com relação ao tempo, são três: detê-lo, retroceder ou acelerar o seu curso”
(Diritto e processo, apud Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 2008, p. 151).
91
Moacyr Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007,
p. 304; Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990,
p. 15; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 272; Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do
processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 345; e Marcus Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de direito
processual civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 240.
28 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

O momento diz respeito à hora, ao dia, mês ou ano (em suma: à época) que
marca o início (dies a quo) ou o fim (dies ad quem) do tempo em que é possível rea-
lizar o ato no processo (CPC, arts. 172 a 175); é, portanto, um limite temporal que
costuma ser denominado como termo inicial ou final. O prazo corresponde ao lapso
de tempo entre o termo inicial e o final (CPC, arts. 177 a 199 e 240 a 242).
Dada a importância do ato, a lei pode autorizar que o ato seja iniciado ou termi-
nado além dos limites de tempo previstos como regra (p. ex.: CPC, arts. 172, §§ 1o
e 2o e 240, parágrafo único).
Analisar o ato processual no sentido espacial exige identificar o lugar onde o ato
deve ser praticado. Como dito alhures,92 “para que o Estado efetivamente exerça seu
poder jurisdicional, concretizando os escopos a ele vinculados, a jurisdição é distri-
buída entre vários juízes, juízos e tribunais, segundo critérios eleitos pelo legislador”.
Nessa perspectiva, o lugar da prática do ato processual guarda relação com a defini-
ção da competência, que estabelece a vara onde a demanda tramitará e, por conse-
quência a sede do juízo em que a lei (CPC, art. 176, 1a parte), preferencialmente,
dispõe que o ato deve ser realizado. Por isso mesmo, caso o ato deva ser realizado
em lugar não sujeito à circunscrição judiciária do juiz, será ele praticado mediante
atos de cooperação: cartas de ordem, rogatória e precatória (CPC, arts. 200 a 212).
Ainda excepcionalmente, a lei (CPC, art. 176, 2a parte) autoriza que o ato seja
realizado em lugar diverso da sede do juízo onde tramita o processo, por força de al-
gumas circunstâncias de privilégio pessoal (p. ex.: depoimento de autoridades, CPC,
art. 411), de interesse da justiça (p. ex.: citação, CPC, art. 216; inspeção judicial,
CPC, art. 442, I e III; penhora, CPC, art. 659, § 1o) ou de justo motivo reconheci-
do pelo magistrado (p. ex.: testemunha doente e impossibilitada de comparecer ao
fórum, CPC, art. 336, parágrafo único; interditando incapaz de locomover-se, CPC,
art. 1.181). Também merecem lembrança os chamados “protocolos integrados”,
criados em âmbito estadual ou federal e que, orientados pelo critério da redução de
custos, pela celeridade de tramitação e pelo mais facilitado acesso das partes às diver-
sas jurisdições, admitem que alguns atos processuais sejam cumpridos de forma des-
centralizada, isto é, sem necessariamente ser perante a sede do juízo (CPC, art. 547,
parágrafo único).
As exigências de tempo e lugar de realização do ato processual dizem respeito
a qual dos planos do mundo jurídico: existência, validade ou eficácia?93 Realizado o
ato em desrespeito ao tempo ou ao lugar tal como definido em lei, esse ato é eficaz
ou não?94

92
Sandro Gilbert Martins, Sustentação oral, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins,
v. 11, coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2007, p. 406.
93
A resposta a essa indagação está no item 4.7.
94
A resposta a esse questionamento está no item 5.13.
Ato processual 29

2.9 PRECLUSÕES

Do ponto de vista da rigidez procedimental, é importante que os atos proces-


suais sejam realizados com estrita obediência da regularidade formal e da ordem
prefixada em lei, com vistas a alcançar a prestação da tutela jurisdicional em tempo
razoável e sem retrocessos, acréscimos ou supressões.95
Uma das ferramentas voltadas a que o sistema procedimental alcance tal objeti-
vo é a preclusão96 que, por isso mesmo, é “um dos mais difíceis desafios do processo
civil moderno”.97 Por meio dela impõem-se limites aos atos, quer das partes quer do
juiz que, não observados, podem acarretar a perda da possibilidade de realização do
próprio ato. Esta perda, quando verificada, denomina-se preclusão.98
Como se percebe, a “finalidade da preclusão é, pois, tornar certo e ordenado
o caminho do processo, isto é, assegurar-lhe um desenvolvimento expedito e livre
de contradições ou de retorno e garantir, outrossim, a certeza das situações jurídi-
cas processuais”.99 Em outras palavras, “a instituição de um regime de preclusões
acaba atendendo não só à necessidade de conferir ao processo mais celeridade, mas

95
Egas D. Moniz de Aragão, assinalando que a ordem processual implica uma marcha à frente, diz: “Essa
marcha, que o processo desenvolve para chegar ao seu fim e que está sujeita a uma ordem, é pautada pela
sucessiva realização de cada ato em lei previsto, não se admitindo que o juiz imprima ao processo um regime
de tramitação mais longa do que o da lei, nem tampouco que suprima atos, para apressar a obtenção do
resultado final. O processo não caminha a saltos; ainda que autorizado a dirigi-lo ‘por forma que assegure
à causa andamento rápido’, assim como não é lícito ao juiz acrescentar atos aos em lei previstos, vedado
também lhe é suprimi-los” (Preclusão (processo civil), Saneamento do processo – Estudos em homenagem
ao Prof. Galeno Lacerda, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 156).
96
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 451;
Junior Alexandre Moreira Pinto, Sistemas rígidos e flexíveis: a questão da estabilização da demanda, Causa
de pedir e pedido no processo civil, coord. José Roberto dos Santos Bedaque e José Rogério Cruz e Tucci, São
Paulo: RT, 2002, p. 62; e Heitor Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 288.
97
Leonardo Greco, Translatio iudicii e reassunção do processo, RePro no 166, São Paulo: RT, dez. 2008, p. 23.
98
Atribui-se a Giuseppe Chiovenda o desenvolvimento do estudo da preclusão (Cosa giudicata e preclu-
sione, passim). Acerca da preclusão, ver as seguintes obras e textos de autores nacionais: Antônio Alberto
Alves Barbosa, Da preclusão processual civil, 2. ed., São Paulo: RT, 1994; Manoel Caetano Ferreira Filho, A pre-
clusão no direito processual civil, Curitiba: Juruá, 1991; Daniel Amorim Assumpção Neves, Preclusões para o
juiz, São Paulo: Método, 2004; Maurício Giannico, A preclusão no direito processual civil brasileiro, São Paulo:
Saraiva, 2005; Heitor Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006; Celso Agrícola
Barbi, Da preclusão no processo civil, Revista Forense no 158, Rio de Janeiro: Forense, mar./abr. 1955, p. 59-66;
Antonio Carlos Marcato, Preclusões: limitações ao contraditório?, RePro no 17, Ed. RT, jan./mar. 1980, p. 105-
114; João Batista Lopes, Breves considerações sobre o instituto da preclusão, RePro no 23, Rio de Janeiro: RT,
jul./set. 1981, p. 45-60 e Os poderes do juiz e o aprimoramento da prestação jurisdicional, RePro no 35, Rio de
Janeiro: RT, abr./jun. de 1984, p. 24-67; Egas D. Moniz de Aragão, Preclusão (processo civil), Saneamento do
processo – Estudos em homenagem ao Prof. Galeno Lacerda, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 141-183; e
Humberto Theodoro Júnior, A preclusão no processo civil, RT no 784, São Paulo: RT, fev. 2001, p. 11-28.
99
Manoel Caetano Ferreira Filho, A preclusão no direito processual civil, Curitiba: Juruá, 1991, p. 29. Nas
palavras de Antônio Alberto Alves Barbosa, a preclusão nada mais representa do que um “imperativo de
que decorre a necessidade de todos os atos e faculdades serem exercitados no momento e pela forma
adequados, de modo a imperar a ordem e a lógica processuais” (Da preclusão processual civil, 2. ed., São
Paulo: RT, 1994, p. 220).
30 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

também à de segurança jurídica para os litigantes, durante o seu trâmite”.100 Em


suma, a preclusão contribui para a eficiência do procedimento.
O direito brasileiro vigente adota um sistema mitigado de preclusões, pois atin-
ge determinadas matérias (exceções substanciais, por exemplo) enquanto outras não
(questões de ordem pública, por exemplo).101 Apontam-se como modalidades tradi-
cionais de preclusão dirigida às partes:102 a) temporal, decorrente da não realização
do ato no prazo ou termo fixados na lei processual (CPC, art. 183); b) lógica, oriun-
da da incompatibilidade da prática de um ato processual com outro já realizado; e
c) consumativa,103 que ocorre quando o ato já foi validamente praticado e, por isso
mesmo, não mais poderá sê-lo.104
Em relação ao juiz, embora muito se controverta ainda sobre a existência de pre-
clusão na sua atividade,105 parece não haver como negá-la, sendo possível apontar, no
mínimo,106 duas modalidades de preclusão para ele: i) judicial funcional107 e ii) judi-
cial hierárquica.108 Em ambas o juiz está impedido de redecidir questões já resolvidas;
no entanto, na primeira hipótese o impedimento diz respeito às questões incidentais
já enfrentadas pelo próprio juízo e que restaram irrecorridas e, na segunda, as ques-

100
Heitor Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 305.
101
Leonardo Greco, Translatio iudicii e reassunção do processo, RePro no 166, São Paulo: RT, dez. 2008, p. 24.
102
Segundo assinala Humberto Theodoro Júnior (A preclusão no processo civil, RT no 784, São Paulo: RT, fev.
2001, p. 14), as formas de preclusão foram batizadas por José Frederico Marques (Instituições de direito pro-
cessual civil, v. 2, Campinas: Millennium, 2000, p. 347-348).
103
Heitor Vitor Mendonça Sica nega a existência de tal modalidade de preclusão (Preclusão processual civil,
São Paulo: Atlas, 2006, p. 151-153).
104
Segundo Enrico Tullio Liebman há, ainda, uma categoria mista, que deflui da presença de dois aspectos
cumulativamente: o decurso do tempo e o prosseguimento do processo mediante a realização de ato subse-
quente (Manual de direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 236). Também merece
lembrança a preclusão dita máxima, que se confunde com a coisa julgada formal e acontece quando as
partes esgotaram as vias recursais e não dispõem de mais nenhum recurso para rediscutir o que foi decidido.
105
João Batista Lopes, corroborando o que foi defendido nos seus textos mencionados na nota 98, mantém
seu entendimento de que a preclusão somente atinge as partes e não o juiz (Curso de direito processual civil,
v. 1, São Paulo: Atlas, 2005, p. 179).
106
Antonio do Passo Cabral defende que o juiz também está sujeito à preclusão temporal, uma vez que o
prolongamento desmotivado do processo atenta contra a garantia de sua duração razoável (Nulidades no
processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 269-275).
107
Convém lembrar que o fenômeno é tratado por Humberto Theodoro Jr. como preclusão pro iudicato, cuja
nomenclatura é deixada para outro fenômeno, como se vê na nota 109 adiante (A preclusão no processo
civil, RT no 784, São Paulo: RT, fev. 2001, p. 19). Por sua vez, Daniel Amorim Assumpção Neves o trata como pre-
clusão judicial (Preclusões para o juiz, São Paulo: Método, 2004, p. 25); enquanto Maurício Giannico refere-se
ao fenômeno como preclusão de questões (A preclusão no direito processual civil brasileiro, São Paulo: Sa-
raiva, 2005, p. 127-128) e Heitor Vitor Mendonça Sica o denomina como preclusão sobre questões incidentais
(Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 276). Preferimos o vocábulo preclusão judicial funcional
por indicar que a função jurisdicional já foi exercida pelo juiz em relação à questão decidida, razão pela qual
não pode ele decidir novamente a mesma questão. Trata-se, na verdade, de uma preclusão consumativa
para o juiz, cujo maior exemplo legal está no art. 471 do CPC.
108
A expressão é de Cândido Rangel Dinamarco (A reclamação no processo civil brasileiro, Aspectos polêmi-
cos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 6, coord. Nelson
Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2002, p. 104-105).
Ato processual 31

tões foram definidas por órgãos hierarquicamente superiores, impedindo, pois, sua
reapreciação em instância inferior.109
Como se observa, a forma de classificar a preclusão em espécies se baseia em cri-
térios da causa que lhe terá dado origem.110
Não sendo mais possível realizar certo ato processual em virtude da preclusão,
sua realização a destempo pode gerar algum efeito no processo?111

2.10 PROCEDIMENTO, FLEXIBILIZAÇÃO E OS PLANOS DA


EXISTÊNCIA – VALIDADE – EFICÁCIA
Como dito antes (item 1.3), é possível analisar o ato processual isoladamente ou
segundo a relação que se forma entre os diversos atos processuais. Este último enfo-
que trata do procedimento.
O procedimento diz respeito ao modo como se desenvolve o processo, isto é, “a
sequência dos atos que se realizam no exercício da jurisdição, assim como a relação que
entre esses atos se estabelece na série, variáveis segundo as exigências do direito material,
ou segundo outras necessidades ou conveniências que impressionaram o legislador”.112
Corresponde, portanto, a um esquema formal que preestabelece todo o cami-
nho a ser percorrido até o seu término anormal ou, preferencialmente, mediante a
prestação da tutela jurisdicional quanto ao mérito, não só definindo as posições ati-
vas e passivas dos sujeitos que atuam no processo, como a forma e o tempo, além da
ordem que os atos processuais devem se apresentar nesse percurso.113
Como se observa, é a realização dos atos que faz desenvolver o procedimento,
de fase em fase até exaurir a função jurisdicional e, por isso mesmo, a atividade de
impulso compete aos sujeitos que atuam no processo, especialmente ao juiz (CPC,
arts. 2o, 125, 128, 130 e 262).114

109
Cabe lembrar que Enrico Redenti concebeu preclusão que denominou pro iudicato (Diritto processuale
civile, v. 1, 5. ed., Milano: Giuffrè, 2000, p. 80). Nas palavras de Manoel Caetano Ferreira Filho: “A preclusão pro
iudicato ocorre nos casos em que um provimento jurisdicional, inidôneo a adquirir autoridade de coisa
julgada, torna-se definitivamente imutável” (A preclusão no direito processual civil, p. 37). Daniel Amorim
Assumpção Neves arrola as críticas feitas a tal concepção e conclui ser ela inaplicável no nosso ordenamen-
to pátrio (Preclusões para o juiz, São Paulo: Método, 2004, p. 76-98).
110
Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 477.
111
A resposta a essa indagação está no item 6.4.
112
Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 36. Para Antonio
Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, o procedimento é “a soma
dos atos do processo, vistos pelo aspecto de sua interligação e combinação e de sua unidade teleológica”
(Teoria geral do processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 343).
113
Kazuo Watanabe, Da cognição no processo civil, 2. ed., São Paulo: CEBEPEJ, 1999, p. 122-123. Robert Alexy
define procedimento como sendo “sistemas de regras e/ou princípios para a obtenção de um resultado”
(Teoria geral dos direitos fundamentais, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 473).
114
Assinala Heitor Vitor Mendonça Sica: “... impulso oficial não significa (diferentemente do que uma leitura
mais apressada dos artigos supracitados sugeriria [arts. 125, II e 262 do CPC]) impulso pelo juiz. De fato, a
32 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

De acordo com a Constituição Federal (art. 24, XI), a competência para legislar
sobre procedimentos em matéria processual é, concorrentemente, da União e dos
Estados-membros.115 Tal disposição assegura, sem perder de vista as normas gerais
definidas pela União (§ 1o), que os Estados-membros definam suplementarmen-
te (§ 2o) seus procedimentos em atenção às peculiaridades locais (sociais, políticas,
econômicas, culturais etc.) e, assim, de maneira concreta, possibilitem uma melhor
prestação da função jurisdicional no âmbito das chamadas “justiças estaduais”.116
Enquanto a União não estabelecer as ditas normas gerais, a competência dos Esta-
dos-membros será plena (§ 3o), mas as leis estaduais perderão a sua eficácia, naquilo
que se mostrarem incompatíveis, com a superveniência de normas gerais editadas por
leis federais (§ 4o).
Segundo parcela da doutrina, o procedimento é um tipo complexo de forma-
ção sucessiva, porque para que atinja seus objetivos, depende da realização de diver-
sos atos que devem suceder numa ordem necessária e preestabelecida.117 Todavia,
isso não significa que o procedimento seja ato complexo, mas sim um complexo
de atos.118
Mesmo sendo composto por diversos atos que compõem a sucessão preordena-
da, atos esses que inclusive podem formar diferentes fases ao longo do iter, o proce-
dimento não deixa de ser considerado essencialmente unitário, visto que quer os atos

marcha é ditada, em muito maior medida, pelas normas processuais, do que propriamente pela atividade
pessoal do juiz (ele se limita a aplicá-las)” (Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 279).
115
O tema foi muito bem enfrentado por Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização procedimental, São
Paulo: Atlas, 2008, p. 41-64.
116
Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2007,
p. 454-455.
117
A concepção é de Giovanni Conso, I fatti giuridici processuali penali: perfezione ed efficacia, Milano: Giu-
ffrè, 1955, p. 121-124. É seguida, entre nós, por José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das
nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 83; Cândido Rangel Dinamar-
co, Instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 131; Antonio Scarance Fernandes,
Incidente processual, São Paulo: RT, 1991, p. 84; Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da
ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 17-19; e Paula Sarno Braga, Aplicação do devido processo legal nas rela-
ções privadas, Salvador: JusPodivm, 2008, p. 30.
118
Francesco Carnelutti (Sistema de direito processual civil, v. III, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 139-141); Elio
Fazzalari (Instituições de direito processual, Campinas: Bookseller, 2006, p. 113-115); Angelo Falzea (La condi-
zione e gli elementi dell’atto giuridico, Milano: Giuffrè, 1941, p. 190-192) e Paula Costa e Silva (Acto e processo,
Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 102-128) divergem, ao menos em parte, da concepção referida na nota
anterior. Esses autores distinguem procedimento de ato complexo. Vislumbram o procedimento como uma
sucessão de atos, mas eles não o consideram ato complexo, por entender que o procedimento reflete uma
combinação que gera o efeito apenas do ato final e não o efeito conjunto dos atos realizados. Com efeito,
como assinala Celso Antônio Bandeira de Mello, não é de se confundir procedimento com ato complexo,
pois neste, “vontades” provenientes de órgãos diferentes consorciam-se em um ato único; e conclui, lembran-
do a lição de Tomás-Rámon Fernandes, “o procedimento não é uma manifestação complexa de vontades,
mas um complexo de atos” (Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 483).
Sandra Julien Miranda assim conceitua o ato administrativo complexo: “é o que se aperfeiçoa pela fusão ou
integração de vontades de órgãos diversos, de que decorre manifestação de um só conteúdo e finalidade”
(Do ato administrativo complexo, São Paulo: Malheiros, 1998, p. 60). Na jurisprudência: STJ, REsp 1.076.080/PR,
Rel. Mina Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 17/02/2009, DJe 06/03/2009.
Ato processual 33

individualmente considerados quer as distintas fases têm um único fim: a prestação


da tutela jurisdicional.119
Os procedimentos costumam ser classificados120 sob dois enfoques: a) quanto à
forma dos atos processuais praticados em seu bojo, em que os procedimentos po-
dem ser orais, escritos ou mistos; e b) quanto ao modo como os atos se movem, que
considera a natureza da prestação jurisdicional pretendida, os procedimentos variam:
na atividade de conhecimento entre comuns ou especiais; na atividade de execução,
segundo o objeto do direito a ser realizado, entre execução por quantia certa, para
entrega de coisa certa ou incerta, de fazer ou não fazer; além de outros ritos especiais
(alimentos, contra a Fazenda Pública, Fiscal etc.); na atividade cautelar, conforme a
natureza da cautela pretendida o rito será ordinário ou especial.
A disciplina sistemática do procedimento pela lei também é consequência da
exigência da forma como fator de segurança e previsibilidade para o bom e regular
desenvolvimento do processo.121 Por essa razão tem-se considerado que o sistema

119
Sobre o tema, leciona Carmine Punzi: “In proposito possiamo dire fin d’ora che il concetto di procedimento
è stato elaborato per l’esigenza di riconoscere che, di fronte ad una serie di atti cmpiuti da soggetti diversi,
i  singoli atti che compongono questa serie sono tutti ordinati allá produzione di un risultato finale, che si
realizza solo con il compimento dell’ultimo atto della serie, ma la cui legittimità è in funzione del compimen-
to puntuale dell’intera serie” (L’interruzione del processo, São Paulo: Giuffrè, 1963, p. 33). A seguir (op. cit.,
p.  34-36), o mesmo autor defende a unitariedade do procedimento. Antonio Scarance Fernandes acolhe
esse entendimento, Teoria geral do procedimento e o procedimento no processo penal, São Paulo: RT, 2005,
p. 28-36. Aliás, este último autor frisa que, embora exista a divergência doutrinária quanto à natureza com-
plexa do procedimento, tal como referido nas duas notas anteriores, “todos acentuam que o procedimento
forma um modelo unitário composto por atos sucessivos, ou, em outras palavras, constitui uma realidade,
uma unidade, de formação sucessiva” (op. cit., p. 32). Oportuna a conclusão de Celso Antônio Bandeira de
Mello: “no procedimento ou no processo administrativo há vários atos, todos com finalidades específicas,
distintas, sem prejuízo de possuírem também uma finalidade comum à generalidade deles” (Curso de direito
administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 483).
120
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do
processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 347-353, Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito
processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 457-460; e Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização
procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 73-77.
121
É bastante elucidativa a seguinte passagem da obra de José Joaquim Calmon de Passos: “O modo de
atuar em juízo para se obter determinada providência jurisdicional é atividade juridicamente regulada, ou
seja, atividade que se efetiva mediante formas prefixadas em lei. (...) Permitir que a atividade processual se
desenvolva segundo melhor pareça às partes – os mais autorizados juízes do próprio interesse, ou nos moldes
fixados pelo magistrado, o melhor árbitro das necessidades no caso particular –, porque técnico e impar-
cial, seria olvidar-se que numa ou noutra hipótese a incerteza e a insegurança representariam o alto preço
de vantagens muito discutíveis. A legalidade da forma, por conseguinte, se impôs como solução universal,
estando na lei, e somente nela, toda a ordenação da atividade a ser desenvolvida para que o Estado realize
os seus fins de justiça” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. 3, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998,
p. 6). No plano do processo penal, José Antonio Pimenta Bueno, há mais de um século e meio registrava:
“As formalidades dos actos e termos do processo são fructos da prudencia e razão calma da lei. É de muita
importância que a luta que se estabelece entre o accusado e o poder público não soffra outra influencia
ou direcção que não seja a d’ella. Os termos e condições que a lei prescreve, são meios protectores que
garantem a execução imparcial da lei, a liberdade e a plenitude da accusação e da defesa: são pharóes
que assignalão a linha e norte que os magistrados e as partes devem seguir, precauções salutares que en-
cadeão o arbitrio e os abusos, que esclarecem a verdade, e dão authenticidade ou valor legal aos actos. O
seu fim é conciliar o interesse da justiça repressiva com a protecção devida á innocencia que póde existir”
34 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

procedimental brasileiro é rígido,122 ou seja, impõe-se observar rigorosamente as


fases previamente determinadas em lei, não se admitindo que a ordem dos atos seja
alterada pelas partes ou pelo juiz.
Contudo, aos poucos, é crescente o número de autores123 que sustentam não se
poder descartar que se promova alguma alteração no modelo procedimental traçado
pelo legislador, quer pelas partes quer pelo juiz. Trata-se de nítida tentativa de flexi-
bilização do procedimento, decorrente da necessária adequação do meio ao fim,124
tal como antes destacado (item 1.2).
Tal posicionamento se funda na constatação de que a rigidez formal se apre-
senta como um “ritualismo estéril”,125 incompatível com os contornos atuais do
processo, em que deve prevalecer o resultado sobre a forma. Na verdade, a men-
cionada flexibilização do procedimento fundamenta-se no princípio da instrumen-
talidade das formas, ampliado para não só alcançar os atos da série, mas todo o
procedimento.126
No entanto, como já assinalado em relação à forma dos atos (item 2.7), é preci-
so que essa flexibilização, desde que admitida em norma processual,127 observe cri-

(Apontamentos sobre o processo criminal brasileiro, Rio de Janeiro: Empreza Nacional do Diário, 1857, p. 59-
60; destaques feitos e ortografia original).
122
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do
processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 344. Acerca do tema, ver Junior Alexandre Moreira Pinto, Sis-
temas rígidos e flexíveis: a questão da estabilização da demanda, in: Causa de pedir e pedido no processo
civil, coord. José Roberto dos Santos Bedaque e José Rogério Cruz e Tucci, São Paulo: RT, 2002, p. 53-90.
123
Piero Calamandrei, Direito processual civil, v. 1, Campinas: Bookseller, 1999, p. 299-300; Cândido Rangel
Dinamarco, Instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 136; Flávio Luiz Yarshell,
Tutela jurisdicional, São Paulo: Atlas, 1999, p. 170; Fredie Didier Jr., Sobre dois importantes, e esquecidos prin-
cípios do processo: adequação e adaptabilidade do procedimento, Gênesis Revista de Direito Processual
Civil no 21, Curitiba: Gênesis, jul./set. de 2001, p. 535-536; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do
processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 62-71; Eduardo de Avelar Lamy, Princípio da fun-
gibilidade no processo civil, São Paulo: Dialética, 2007, p. 69; Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização
procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 84-88; e Sidnei Amendoeira Jr., Fungibilidade de meios, São Paulo:
Atlas, 2008, p. 61-64.
124
Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 133-137.
125
Expressão de Roberto O. Berizonce, Las formas de los actos procesales: sistemas, Estudios de nulidades
procesales, Buenos Aires: Hammurabi, 1980, p. 29.
126
Pedro Madeira de Brito, O novo princípio da adequação formal, in: Aspectos do novo processo civil, org.
Miguel Teixeira de Sousa, São Paulo: Lex, 1997, p. 35 e Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização proce-
dimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 103.
127
Não parece adequado permitir que o magistrado ou as partes alterem o procedimento conforme sua
conveniência, sem que tal autorização esteja prevista no próprio ordenamento jurídico. Pensar em sentido
contrário é aceitar que o juiz ou as partes possam atuar contra legem, o que, mais que variar o procedimen-
to, é ampliar irrestritamente o poder do juiz que, portanto, sob a justificativa da instrumentalidade do proces-
so, poderá arbitrariamente adotar posições pessoais em detrimento das regras postas. Para Luiz Guilherme
Marinoni essa autorização está no próprio texto constitucional. Segundo ele, o art. 5o, XXXV da CF/88 assegu-
ra a todos o direito fundamental à efetividade da tutela jurisdicional e o § 1o deste mesmo art. 5o, ao estabe-
lecer que as garantias fundamentais têm aplicação imediata, impõe o dever ao juiz de, em caso de omissão
ou de insuficiência da lei, concretizar essa efetividade promovendo o que for necessário (Técnica processual
e tutela dos direitos, São Paulo: RT, 2004, p. 179 e 220-221). A flexibilização do procedimento já está prevista
Ato processual 35

térios128 e, assim, ocorra de maneira equilibrada, não gerando insegurança e, ainda,


mantendo um mínimo de previsibilidade aos litigantes, evitando-se que os fins jus-
tifiquem os meios.129
A noção de série sucessiva (de ordem) que constitui o procedimento impõe rela-
cionar um ato com outro, ao que não pode escapar o lugar, antes ou depois, que cada
ato toma nesta cadeia. É esta interligação que permitirá definir o reflexo jurídico que
cada ato terá sobre o outro, assim como permitirá aferir a legitimidade do resultado
da série como um todo.130
Neste contexto, por exemplo, a lei estabelece que, em caso de nulidade de um
ato, serão atingidos todos os que lhe seguirem e sejam dele dependentes (CPC,
art. 248); assim como, compete ao juiz, determinar quais atos podem ser aproveita-
dos e quais merecem ser repetidos ou retificados (CPC, art. 249).
Na verdade, os mencionados dispositivos legais, entre outros, convidam o intér-
prete a efetuar a análise do ato considerado em si e da sua interligação com outros
atos da série à luz dos planos da existência, validade e eficácia.

na legislação processual de Portugal no art. 265 o -A do Código de Processo Civil (“Quando a tramitação
processual prevista na lei não se adequar às especificidades da causa, deve o juiz oficiosamente, ouvidas as
partes, determinar a prática dos actos que melhor se ajustem ao fim do processo, bem como as necessárias
adaptações”) e no art. 2o do Decreto-Lei no 108/2006 relativo ao chamado Regime Processual Experimental
(“Dever de gestão processual. O juiz dirige o processo, devendo nomeadamente: a) adoptar a tramitação
processual adequada às especificidades da causa e o conteúdo e a forma dos actos processuais ao fim
que visam atingir;”). Acerca desse último diploma, ver Paula Costa e Silva, A ordem do juízo de D. João III e o
regime processual experimental, RePro no 156, São Paulo: RT, fev. 2008, p. 237-250.
128
A variação ritual, segundo Fernando da Fonseca Gajardoni, deve respeitar critérios. Diz o autor: “Este
critério consiste na necessidade de existência de um motivo para que se implemente, no caso concreto,
uma variação ritual (finalidade), na participação das partes da decisão flexibilizadora (contraditório), e na
indispensabilidade de que sejam expostas as razões pelas quais a variação será útil para o processo (motiva-
ção)” (Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 88). Todavia, o autor admite que a flexibilização
não só decorra de lei geral, mas de ato do juiz e das partes, daí por que aponta quatro regimes distintos de
flexibilização: a) legal genérico; b) legal alternativo; c) judicial e d) voluntário (op. cit., p. 137 e s.).
129
Antonio do Passo Cabral assinala: “Não nos é dado esquecer que as formalidades têm um conteúdo
garantístico importante, e uma tal ‘flexibilização do procedimento’ não pode significar ao mesmo tempo a
asfixia dos direitos fundamentais dos indivíduos envolvidos. (...) A existência de um processo com certo grau
de previsibilidade é componente fundamental da cláusula do devido processo legal. Em nosso sentir, há sim
um direito à estabilidade do procedimento, uma estabilidade que pode não ser absoluta e que com certeza
não é abstratamente fixada (ou seja, pode mudar em seu curso); mas uma estabilidade que impede os com-
portamentos contraditórios entre si, cujas condições podem e devem ser aferidas no dinamismo da relação
processual, a partir das interações e atos que em seu curso vão sendo praticados” (Nulidades no processo
moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 311).
130
Enrico Tullio Liebman aponta: “Realmente, é apenas o ato final, no qual culmina o procedimento, que tem
uma eficácia jurídica externa, isto é, não meramente processual, já os efeitos dos outros atos operam inter-
namente no próprio procedimento, fazendo-o progredir na direção da sua meta e ao mesmo tempo visando
a influir direta ou indiretamente no conteúdo do ato final. Apenas excepcionalmente, podem ter os atos
processuais (diversos do final) também algum efeito substancial externo: por exemplo, os efeitos substanciais
da propositura da ação, os efeitos do ato de venda na expropriação forçada e poucos outros” (Manual de
direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 228).
36 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Observando-se o ato processual em si, sendo ele espécie de ato jurídico, para
que ele exista, valha e seja eficaz, exige-se que ele respeite aos pressupostos de sua
existência, aos requisitos de sua validade e, se for o caso, aos fatores de sua eficácia.131
No plano do procedimento, o ato pode servir de pressuposto de existência ou
de fator de eficácia dos demais atos da série. Um ato não funciona propriamente
como requisito de validade de outro, pois os requisitos de validade acompanham
a constituição do próprio ato, mas a validade de todo o procedimento pode estar
condicionada à dos atos anteriores dos quais dependa formal e logicamente (CPC,
art. 248).132
Quando, no processo, um pressuposto ou requisito diz respeito a todos os atos
do procedimento (e do próprio processo), fala-se de pressuposto ou requisito pro-
cessual.133 Ou seja, a partir da análise da relação entre os atos é que será possível
realmente definir se há e quais são os atos que servem para constituir a existência, a
validade e a eficácia do próprio processo.
É possível, desde logo, assinalar que “no interior do tipo complexo de formação
sucessiva, ser pressuposto ou condição [fator], portanto, depende da posição e da
função do ato. Sempre relativa. Um ato pode ser pressuposto de um ato do procedi-
mento e ter funcionado como condição [fator] de outro”. 134 É o caso, por exemplo,
da citação. O ato citatório é pressuposto de existência da revelia (CPC, art. 319),
ou seja, não tendo havido citação não há como se falar em ocorrência de revelia. De
outro lado, a citação é fator de eficácia do próprio processo, no sentido de que o réu
somente estará sujeito aos seus efeitos depois de citado (CPC, art. 263, 2a parte).

131
A nomeclatura empregada no texto é utilizada por Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – exis-
tência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 29.
132
José Joaquim Calmon de Passos explica: “Dessa perspectiva, observa-se que alguns devem, necessa-
riamente, anteceder outros fatos jurídicos para que se tenha um tipo determinado – são seus pressupostos;
outros devem necessariamente suceder para se que se obtenha o efeito específico perseguido – são sua
condição. A par disso, os pressupostos e condições se distinguem dos requisitos, como tais considerados
quanto, em termos de atividade, se coloca entre o momento a quo e o momento ad quem tomados como
termos-limites para determinado fato, vale dizer, requisito é tudo quanto integra a estrutura executiva do fato
jurídico isoladamente considerado, não algo que o antecede ou deve sucedê-lo” (Esboço de uma teoria das
nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 84-85). Note-se que ao invés de
fator de eficácia o mencionado autor se refere à condição de eficácia. Também utiliza a expressão condição
com esse mesmo fim, Emilio Betti, Teoria geral do negócio jurídico, t. II, Coimbra: Coimbra Ed., 1969, p. 9. No en-
tanto, preferiu-se utilizar a expressão fator e não condição, por no processo já se falar em condições da ação.
Assim, para se evitar confusão com os fenômenos, adotou-se a expressão sugerida no âmbito civil.
133
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 87.
134
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 87.
3 PROCESSO, PROCEDIMENTO
E ATO PROCESSUAL: O
PLANO DA EXISTÊNCIA

3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E TERMINOLÓGICOS


Dado comum que se encontra em diversas obras que tratam do tema do ato jurídi-
co e/ou assuntos afins é a preocupação com a terminologia empregada, especialmente
os vocábulos (im)perfeição, (ir)regularidade, (in)existência, (in)validade e (in)eficácia.
Na verdade, identificou-se um uso indistinto desses vocábulos na linguagem
corrente e na linguagem técnico-jurídica, o que acabou por revelar uma profunda
crise de conceitos,1 demandando um esforço doutrinário em distinguir esses fenôme-
nos e, por consequência, precisar a terminologia.
Apontou-se que o estado de incerteza terminológica da doutrina, decorre espe-
cialmente da falta de clareza na individuação do conceito de ineficácia.2 Ao que pare-
ce, o fundamento de tal apontamento reside na constatação de que os vícios do ato
jurídico são sentidos no plano da eficácia e, por isso mesmo, não raro se identifica a
nulidade ou a inexistência com base na negação de efeitos.3

1
Giovanni Conso identificou uma crise do conceito de invalidade, atribuindo parcela dessa crise ao aspecto
da linguagem jurídica que não contribuía para a sua individuação (Il concetto e le specie d’invalidità, Mila-
no: Giuffrè, 1972, p. 10-15). O mesmo apontamento é feito por João Conde Correia, Contributo para a análise
da inexistência e das nulidades processuais penais, Coimbra: Coimbra Ed., 1999, p. 27-28.
2
Eis as palavras de Giovanni Conso: “As incertezas da doutrina, unidas à falta de clareza da individuação do
conceito de ineficácia, servem para explicar amplamente a oscilação terminológica entre invalidade (ou nu-
lidade) e ineficácia, comumente encontrável nas legislações: conforme, por exemplo, art. 432, III, CPP, onde
atos que ‘rimangono validi’ equivalem a atos que ‘rimangono efficaci’” (Il concetto e le specie d’invalidità,
MIlano: Giuffrè, 1972, p. 12, nota 17, tradução livre). Roque Komatsu repete a referida lição (Da invalidade no
processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 29).
3
É o que se extrai da obra de Miguel Maria de Serpa Lopes: “Como se vê, a função da nulidade consiste em
tornar sem efeito o ato jurídico ou o negócio jurídico”. E, mais adiante: “.... do ato inexistente nenhum efeito
38 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

A inexistência, por sua vez, é entidade jurídica (ainda!) bastante contestada,4 pois,
segundo a crítica, é fundada em critérios semânticos5 e substanciais6 muito discutíveis;
e, quanto aos efeitos, seria inútil distingui-la da nulidade, pois por ela é absorvida.7
Não obstante isso, existir, valer e ser eficaz são conceitos inconfundíveis,8 em-
bora sejam inexoravelmente conexos, pois constituem planos jurídicos pelos quais os
fatos jurídicos podem passar.
Assim sendo e considerando que a ineficácia não é necessariamente consequên-
cia de um vício, não é correto considerar a ineficácia como gênero, da qual a invalida-
de e a inexistência sejam espécies,9 como também não é correto incluir a inexistência
como espécie de invalidade.10

é possível surgir” (Curso de direito civil, v. 1, 8. ed., São Paulo: Freitas Bastos, 1996, p. 502 e 505). A mesma
observação constante do texto quanto à nulidade já foi feita por José Carlos Barbosa Moreira, Invalidade e
ineficácia do negócio jurídico, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, no 23, Porto Alegre: Síntese,
maio/jun. 2003, p. 121. Sobre o tema, assinala Pedro Pais de Vasconcelos: “O negócio juridicamente inexis-
tente e o negócio juridicamente nulo não teriam diferenças de regime juridicamente relevantes. Em ambos
os casos o negócio não produziria quaisquer efeitos” (Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Almedina,
2005, p. 574).
4
Sobre as críticas e as razões para aceitar a autonomia da inexistência, ver a resenha feita por Eduardo
Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 281-291. Também merece leitura a passagem
acerca da relevância da inexistência jurídica no processo civil (op. cit., p. 299-307).
5
A crítica diz respeito à impropriedade da expressão ato inexistente para designar um ato que, ao contrário
do que a expressão indica, foi praticado. A suposta contradição foi muito bem enfrentada por Aldacy Rachid
Coutinho, Invalidade processual: um estudo para o processo do trabalho, Rio de Janeiro: Renovar, 2000,
p. 73-77.
6
No âmbito do direito material, José de Oliveira Ascensão critica: “mas se implica uma valoração sobre o
que é essencial e não essencial, perdemo-nos numa indefinição sem saída. Se se recorre ao sentido técnico
de ‘elementos essenciais’, o critério afasta-se da lei, pois são multidão os preceitos que cominam com a nu-
lidade à falta de um elemento essencial” (Direito civil – teoria geral, v. 2, 2. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2003,
p. 369). No plano processual, a crítica já havia sido feita por Enrico Tullio Liebman, para quem o conceito “é
muito pouco satisfatório em virtude da impossibilidade de precisá-lo nos seus contornos” (Manual de direito
processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 267). Entre nós essa crítica é acompanhada por
José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro, Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2008, p. 32.
7
Tito Prates da Fonseca, As nulidades em face do Código de Processo Civil, São Paulo: Freitas Bastos, 1941,
p. 79; Silvio Rodrigues, Direito civil, v. 1, 32. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 292 e Orlando Gomes, Introdução
ao direito civil, 12. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 470.
8
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 48.
9
Como o fazem, por exemplo: Luigi Cariota Ferrara, Il negozio giuridico nel diritto privato italiano, Milano: Mo-
rano, p. 315-316; Manuel A. Domingues de Andrade, Teoria geral da relação jurídica, v. II, Coimbra: Coimbra
Ed., 1987, p. 411; Juan Vergé Grau, La nulidad de actuaciones, Barcelona: Bosch, 1987, p. 29 e 45-63; Carlos
Alberto da Mota Pinto, Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Coimbra, 1996, p. 605; José de Oliveira
Ascensão, Direito civil – teoria geral, v. 2, 2. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 367; Eduardo A. Zannoni, Ine-
ficacia y nulidad de los actos jurídicos, Buenos Aires: Astrea, 2000, p. 127; Eduardo J. Couture, Fundamentos
do direito processual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 301; Alberto Luis Maurino, Nulidades procesales, 2.
ed., Buenos Aires: Astrea, 2001, p. 20; José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades
aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 127 e Sílvia Pereira Puigvert, La ineficacia
de los actos procesales, Madrid: Marcial Pons, 2011, p. 70.
10
Assim: Emilio Betti, Teoria geral do negócio jurídico, tomo III, Coimbra: Coimbra Ed., 1970, p. 17. Segundo afiança
Pedro Pais de Vasconcelos (Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Almedina, 2005, p. 574), essa é a
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 39

Em suma, graças ao elevado nível de sistematização da matéria por obra, princi-


palmente, de Pontes de Miranda, não há mais razões, ao menos entre nós, para im-
propriedades conceituais e terminológicas.11
Por sua vez, tal como já advertiu prestigioso processualista, por razões de or-
dem lógica, “a caracterização da existência, da validade e da eficácia do ato deve
preceder o exame das questões atinentes à inexistência, à invalidade e à ineficá-
cia, como condição necessária, embora nem sempre suficiente, do seu correto
equacionamento.”12

3.2 O FATO JURÍDICO EM GERAL E O PLANO DA EXISTÊNCIA


Por se entender que o mundo jurídico não abrange todo o mundo fático é que
se concebe que o fato somente passa a ser jurídico se ele reuniu, de modo suficien-
te, o suporte fático nuclear previsto pela norma jurídica e, por isso mesmo, teve a
incidência dessa mesma norma, permitindo assim identificá-lo como juridicamente
existente.13
A existência pressupõe, portanto, identificar os elementos essenciais14 de cada
fato jurídico, o que se obterá a partir da análise da descrição normativa de cada su-
porte fático, podendo este, pois, variar de fato para fato. Eventual má interpretação

posição de António Menezes Cordeiro (Tratado de direito civil português, t. I) e Heinrich Ewald Hörster (A parte
geral do Código Civil Português – teoria geral do direito civil).
11
No entanto, ainda é possível encontrá-las em obras de grande aceitação como Silvio Rodrigues, Direito
civil, v. 1, 32. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 284; Orlando Gomes, Introdução ao direito civil, 12. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 1996, p. 467; Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de direito civil, v. 1, 15. ed., Rio de Ja-
neiro: Forense, 1994, p. 402, nota 1 e p. 403-404; e Sílvio de Salvo Venosa, Direito civil, 3. ed., São Paulo: Atlas,
2003, p. 569.
12
José Carlos Barbosa Moreira, Citação de pessoa falecida, Temas de direito processual civil (quinta série),
São Paulo: Saraiva, 1994, p. 79. Como apontou o mencionado autor na nota 3, na mesma diretriz operou, a
propósito do negócio jurídico, Antônio Junqueira de Azevedo, como se observa na “Apresentação” de sua
obra Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. V. O mesmo aspec-
to positivo, apenas em relação à eficácia, observa-se em Manoel Augusto Vieira Neto, Ineficácia e convali-
dação do ato jurídico, São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 46 e em Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio,
4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 264.
13
Leciona Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: “O ser juridicamente e o não-ser juridicamente separam
os acontecimentos em fatos do mundo jurídico e fatos estranhos ao mundo jurídico. Assente que todo fato
jurídico provém da incidência da regra jurídica em suporte fático suficiente, ser é resultar dessa incidência”
(Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 41). Por sua vez, Marcos Bernardes de Mello
descreve: “Ao sofrer a incidência da norma jurídica juridicizante, a parte relevante do suporte fáctico é trans-
portada para o mundo jurídico, ingressando no plano da existência. Nesse plano, que é o plano do ser, en-
tram todos os fatos jurídicos, lícitos ou ilícitos. No plano da existência não se cogita de invalidade ou eficácia
do fato jurídico, importa, apenas, a realidade da existência. Tudo, aqui, fica circunscrito a saber se o suporte
fáctico suficiente se compôs, dando ensejo à incidência. Naturalmente, se há falta, no suporte fáctico, de
elemento nuclear, mesmo completante do núcleo, o fato não tem entrada no plano da existência, donde
não haver fato jurídico” (Teoria do fato jurídico – plano da existência, 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 96).
14
Antônio Junqueira de Azevedo refere-se a elementos gerais, sem os quais nenhum negócio jurídico existe
(Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 31 e 33).
40 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

da norma jurídica prejudicará a correta identificação desses elementos essenciais,15


mas o risco de arbitrariedades não pode ser tomado como suficiente para infirmar a
autonomia do conceito.
É conclusão inarredável da doutrina de que a existência do fato jurídico constitui
premissa básica, sem a qual não há como o fato ser examinado nos demais planos da
validade e/ou da eficácia: “não há validade, ou eficácia do que não é”.16

3.3 A INEXISTÊNCIA

Explicado o que é que o fato tem de ter para ser reputado existente, é possível
tratar da inexistência. Essa decorre da ausência de um dos elementos essenciais do
fato jurídico tal como a moldura de sua descrição normativa. Ou seja, ao se cotejar o
fato e o suporte fático normativo, observa-se que aquele não corresponde ao tipo/
modelo legal, gerando, portanto, um juízo de suficiência negativo, o que impede a
incidência da norma sobre aquele fato.17
Também é consenso doutrinário18 que a inexistência:

15
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da existência, 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 112.
16
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 48.
Na doutrina pátria, a título de exemplo, pode-se ainda citar: Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídi-
co – plano da existência, 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 94; Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio ju-
rídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 23-24; Manoel Augusto Vieira Neto,
Ineficácia e convalidação do ato jurídico, São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 7; Raquel Campani Schmiedel,
Negócio jurídico – nulidades e medidas sanatórias, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1985, p. 51; Zeno Veloso, Inva-
lidade do negócio jurídico, Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 27; Roque Komatsu, Da invalidade no processo
civil, São Paulo: RT, 1991, p. 31; e Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed.,
São Paulo: RT, 2004, p. 210. Na doutrina estrangeira encontra-se referência similar em, por exemplo: Massimo
Ferrara Santamaría, Inefficacia e inopponibilità, Napoli: Jovene, 1939, p. 9; Francesco Santoro-Passarelli,
Dottrine generali del diritto civile, 5. ed., Napoli: Jovene, 1957, p. 219; e João Conde Correia, Contributo para a
análise da inexistência e das nulidades processuais penais, Coimbra: Coimbra Ed., 1999, p. 114.
17
Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva diz tratar-se “de um fato atípico juridicamente” (Teoria da inexistência
no direito processual civil, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1998, p. 50). Por sua vez, é bastante frequente lembrar
a lição de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, para quem a falta de elemento essencial não pode ser
considerada defeito do ato. Eis suas palavras: “Defeito não é falta. O que falta não foi feito. O que foi feito,
mas tem defeito, existe. O que não foi feito não existe, e, pois, não pode ter defeito. O que foi feito, para que
falte, há, primeiro, de ser desfeito” (Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 47). Clóvis
Beviláqua refere-se ao ato inexistente como sendo, “quando muito, a sombra de um acto, que se desvanece,
desde que a considerarmos de perto” (Theoria geral do direito civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 340).
18
Assim, por exemplo, Wilson de Souza Campos Batalha, Defeitos dos negócios jurídicos, Rio de Janeiro:
Forense, 1985, p. 22; Luiz Roldão de Freitas Gomes, Invalidade dos atos jurídicos – nulidades – anulabilidades
– conversão, Revista de Direito Civil no 14, São Paulo: RT, jul./set. de 1990, p. 9; Teresa Arruda Alvim Wambier,
Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 211; Juliana Demarchi, Ato processual ju-
ridicamente inexistente – mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexistência jurídica,
Revista Dialética de Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 49-52; Pedro Pais de Vasconcelos,
Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Almedina, 2005, p. 576-577. É de se conferir as referências feitas por
Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, Ato administrativo inexistente, São Paulo: RT, 1980, p. 133-140.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 41

i) independe de qualquer pronunciamento judicial;


ii) pode ser invocada por qualquer pessoa, mesmo quem tenha lhe dado
causa;
iii) não comporta saneamento ou convalidação, nem por vontade das partes
nem pelo transcurso do tempo;
iv) pode ser invocada a qualquer tempo e em qualquer fase de qualquer
processo;
v) não se sujeita a prazo de decadência ou de prescrição;
vi) deve ser conhecida de ofício pelo juiz;
vii) priva o ato de todo e qualquer efeito ex tunc.

Não há como negar a categoria da inexistência do ato jurídico em geral, pois a lei
admite seja ela reconhecida por meio de ação declaratória (CPC, art. 4o, I). Portanto,
negar a categoria seria o mesmo que negar a utilidade da referida ação.19

3.4 A EXISTÊNCIA NO PLANO PROCESSUAL

Ao se falar em existência no plano processual, quatro são os ângulos de análise


possíveis: a) a existência do processo; b) a existência da relação jurídica processual;
c) a existência do procedimento e, d) a existência do ato processual.20
Os elementos essenciais exigidos para a existência de cada ato processual não se
confundem com os elementos que dão existência ao processo, à relação jurídica pro-
cessual e ao procedimento.

3.4.1 A existência do processo – pressupostos processuais


de existência
Para se falar em existência do processo, é preciso enfrentar, ainda que brevemen-
te, a questão inerente aos pressupostos processuais de existência do processo.
Costuma-se apontar como sendo quatro os pressupostos de existência do pro-
cesso: a) haver uma demanda, ainda que inepta; b) existência de jurisdição; c) ter

19
Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Teoria da inexistência no direito processual civil, Porto Alegre: Sergio
Fabris, 1998, p. 49.
20
É de se esclarecer que não se quis aqui tratar do polêmico tema da existência da ação, por entender que
a ação assegura ao cidadão o exercício da jurisdição e, ainda que o Estado-juiz reconheça que a parte era
carecedora de ação, ainda assim terá existido processo, procedimento e ato processual. Na verdade, tal
como assinala Hélio Tornaghi, as condições da ação “não são requisitos de existência do direito de ação,
mas de seu legítimo exercício” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1, São Paulo: RT, 1974, p. 90). Sobre
condições de ação, ver ainda item 5.9.3, nota 144.
42 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

havido a citação; e, d) a capacidade postulatória do autor.21 Mais recentemente,


tem-se restringido esse rol apenas aos pressupostos subjetivos de existência de um
órgão investido de jurisdição e de capacidade jurídica do autor e aos pressupostos
objetivos, traduzidos pela existência de uma demanda.22
Porém, outras reflexões circundam o tema e permitem nova conclusão.
Desde há muito já se apontou em doutrina que não é adequado considerar pres-
suposto do processo aquilo que constitui objeto da atividade cognitiva nele próprio
desenvolvida.23 Também se reconheceu que a função dos pressupostos foi modi-
ficada em relação à concepção original, passando de requisitos de constituição do
processo para condicionantes da validade do julgamento do mérito.24 E, a partir de
então, tem sido sustentado que os pressupostos processuais devem ser vistos como
exigências de um processo justo que pode ser alcançado mesmo diante da falta de
algum desses pressupostos.25
Nesse passo e não havendo como se separar a noção de processo da noção de
procedimento (item 1.1), parece que aquele passa a existir a partir do momento
que este tem sua atividade ordenada desencadeada, seja por provocação do inte-
ressado (p. ex.: arts. 2o e 262 do CPC), seja por dever de ofício do juiz (p. ex.:
arts. 989, 1.129, 1.142 e 1.160, todos do CPC). E, sendo nota típica do processo
o caráter jurisdicional de seu procedimento,26 basta a existência de órgão investido

21
Por todos, José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008,
p. 534-539.
22
José Orlando Rocha de Carvalho, Teoria dos pressupostos e dos requisitos de validade, Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005, p. 128-129 e Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 110.
23
José Carlos Barbosa Moreira, Sobre pressupostos processuais, Temas de direito processual civil (quarta
série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 84.
24
Miguel Teixeira de Sousa assinalou que os pressupostos processuais perderam a concepção originaria-
mente concebida por Oskar Von Bülow (Teoria das exceções e dos pressupostos processuais) “que concebe
os pressupostos processuais como exteriores ao iudicium e que, por isso, reserva um procedimento prepara-
tório para a sua apreciação, a doutrina moderna, que aceita a atribuição de um valor de existência a um
processo no qual faltam os correspondentes pressupostos processuais, desloca-os para o interior do proces-
so e modifica-lhes a função condicionante, que deixa de incidir sobre a existência do processo e passa a
recair sobre a suscetibilidade do proferimento de uma decisão de mérito nesse processo” (Sobre o sentido e
a função dos pressupostos processuais, RePro no 63, São Paulo: RT, jul./set. 1991, p. 69-70).
25
Miguel Teixeira de Sousa aponta que a ausência de pressuposto processual somente impedirá o julgamen-
to de mérito em duas situações: 1a) “quando a decisão sobre o mérito não puder ser favorável à parte bene-
ficiada com a proteção concedida pelo pressuposto não atendido” e 2a) “quando, podendo sê-lo, faltar um
pressuposto que visa proteger o interesse da contraparte” (Sobre o sentido e a função dos pressupostos pro-
cessuais, RePro no 63, São Paulo: RT, jul./set. 1991, p. 82). Nessa mesma linha, Luiz Guilherme Marinoni conclui
que a ausência de pressuposto processual somente impede o julgamento do mérito quando “instituído em
favor do interesse público” (Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1, São Paulo: RT, 2006, p. 476.
Adota a mesma posição, José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual,
São Paulo: Malheiros, 2006, p. 204-207.
26
Giovanni Conso, I fatti giuridici processuali penali: perfezione ed efficacia, Milano: Giuffrè, 1955, p. 121.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 43

de poder jurisdicional para que o processo exista.27 Vale dizer, a investidura de ju-
risdição é o único pressuposto que não é examinado no interior do próprio proces-
so, sendo-lhe, necessariamente prévio, sem o qual, portanto, não há como se falar
em processo.
Nos casos em que a jurisdição é provocada, proposta a demanda já existe proces-
so (CPC, art. 263, 1a parte) que, mesmo antes da citação do réu,28 poderá dar ensejo
a diversos atos como poderá ser resolvido, com ou sem resolução do mérito. Des-
tarte, o juiz poderá desde logo deferir um provimento liminar com efeitos imediatos
(CPC, art. 273). Igualmente poderá o magistrado determinar uma medida sanea-
dora, a fim de corrigir ou complementar a petição inicial (CPC, art. 284). Também
poderá o mérito desse processo ser julgado a favor do réu, mesmo sem que ele tenha
sido citado (CPC, arts. 285-A e 295, IV). Também poderá ser o processo extinto
sem resolução de mérito se descoberto que figurava como autor pessoa já falecida
ou pessoa jurídica inexistente; ou diante do reconhecimento de que a petição inicial
carecia de pedido (CPC, art. 267, IV).
Em todos esses exemplos, o processo existiu independentemente da existência
da relação jurídica processual e da existência dos atos processuais que nele foram pra-
ticados (admite-se, até, que a sentença proferida, de mérito ou não, seja inexistente
por carecer de dispositivo).
Portanto, sem desmerecer as opiniões em contrário, somente inexistirá pro-
cesso se o procedimento não tiver sido desenvolvido perante órgão investido de
jurisdição.29

27
Embora seja inegável a divergência dos autores sobre os pressupostos de existência do processo, é senso
comum: sem juiz não há processo. Nesse sentido, alguns de forma enfática e outros não, por exemplo: Ada
Pellegrini Grinover, Pressupostos processuais e processo penal, O processo em sua unidade, São Paulo: Sarai-
va, 1978, p. 170-171; José Carlos Barbosa Moreira, Sobre pressupostos processuais, Temas de direito processual
civil (quarta série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 90-91; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São
Paulo: RT, 1991, p. 233-234; Luiz Guilherme Marinoni, Curso de processo civil – teoria geral do processo, v. 1,
São Paulo: RT, 2006, p. 476-477; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica proces-
sual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 213; Crisanto Mandrioli, Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino:
Giappichelli, 1995, p. 41; e Michele Fornaciari, Presupposti processuali e giudizio di merito, Torino: Giappichelli,
1996, p. 6.
28
Eis as palavras de Milton Sanseverino e Roque Komatsu: “Com o despacho, favorável ou não, ordenando a
citação ou indeferindo a inicial (por inépcia, por exemplo), forma-se relação jurídica processual linear entre
autor e Estado (juiz), nascendo, com isso, o processo, ainda antes da citação” (A citação no direito proces-
sual civil, São Paulo: RT, 1977, p. 51-52).
29
Daniela Martins Madrid também defende ser único o pressuposto processual de existência, mas, para
ela, é o pedido postulatório (Reestudo da citação como pressuposto processual, Revista Dialética de Direito
Processual no 47, São Paulo: Dialética, fev. 2007, p. 12). Quanto à capacidade postulatória não ser pressuposto
processual de existência, ver Roberto P. Campos Gouveia Filho, Definitivamente, a capacidade postulatória
não é um pressuposto de existência do processo, Revista Dialética de Direito Processual no 53, São Paulo:
Dialética, ago. 2007, p. 112-123.
44 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

3.4.2 A existência da relação jurídica processual


Pelo que foi exposto no item precedente, resta claro ser possível separar a noção
de processo da de relação jurídica processual.30 Com efeito, “do processo surge a re-
lação processual”.31
Enquanto o processo deve ser tomado como método pelo qual se desenvolve a
atividade jurisdicional que faz atuar o Direito, a relação jurídica processual identifica
o vínculo jurídico entre as partes e o órgão judicial, tornando esta inconfundível com
a relação de direito debatida no processo.32
A rigor, a relação processual se forma gradualmente.33 Com o início do processo
tem-se uma relação linear entre autor e juiz e, depois de aperfeiçoada a citação do
réu, a relação se completa, passando a ser trilateral.34
No entanto, a maioria da doutrina prefere apenas reconhecer a existência de re-
lação jurídica processual quando ela for integral, com a participação da(s) pessoa(s)
que figura(m) no polo ativo e no polo passivo da demanda, assim como do órgão
jurisdicional (juiz).35
Assim, para que se considere existente a relação jurídica processual exigem-se
dois elementos: a existência de processo e a existência de citação do réu.
A inexistência de citação do réu, portanto, não torna inexistente o processo, que
já existe entre o autor e o juiz, mas, caso aquela não se aperfeiçoe, será tão só inexis-
tente a relação processual trilateral.36

30
Tradicionalmente encontra-se a referência de que “a relação jurídica processual é o próprio processo”
(José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 532). O
mesmo se observa em Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva,
2005, p. 107.
31
Sobre o tema, assinala Gelson Amaro de Souza: “Do processo surge a relação processual, mas essa rela-
ção processual poderá vincular umas pessoas e outras não. De tal forma que uma pessoa poderá se vincular
à relação em um momento e a outra em outro momento posterior. O autor se vincula com a simples proposi-
tura da ação e o réu depois, com a citação” (Validade do julgamento de mérito sem a citação do réu, RePro
no 111, São Paulo: RT, jul./set. 2003, p. 71).
32
José Carlos Barbosa Moreira, Sobre pressupostos processuais, Temas de direito processual civil (quarta
série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 84 e José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica
processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 190.
33
Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 78; Milton
Sanseverino e Roque Komatsu, A citação no direito processual civil, São Paulo: RT, 1977, p. 51-52; e André de Luizi
Correia, A citação no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 2001, p. 62.
34
Milton Sanseverino e Roque Komatsu, A citação no direito processual civil, São Paulo: RT, 1977, p. 52 e André
de Luizi Correia, A citação no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 2001, p. 62-63.
35
É firme o entendimento em se conceber o processo como relação trilateral. Entre nós, pode-se citar: A.
Lopes da Costa, Manual elementar de direito processual civil, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1982, p. 65; José
Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, v. 2, Campinas: Millennium, 2000, p. 72-73; Moacyr
Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, 25. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 281; José
Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 533; e Ovídio A.
Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 2.
36
Negam ser a citação pressuposto processual sendo apenas pressuposto da relação jurídica processual:
Jorge Luis Dall’Agnol, Pressupostos processuais, São Paulo: Letras Jurídicas, 1988, p. 29; Gelson Amaro de Sou-
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 45

Convém aqui destacar que pouco ou nada importa que a citação do réu somente
venha a ser feita depois do trânsito em julgado da sentença proferida enquanto a rela-
ção jurídica processual era apenas linear (CPC, art. 219, § 6o). Como se demonstrará
adiante (item 6.2), tal comunicação guarda direta relação com a eficácia do próprio
processo.

3.4.3 A existência do procedimento


Em razão dos argumentos expostos nos itens precedentes, bem se vê que a exis-
tência do procedimento se confunde com a existência do processo, ou seja, basta
que a atividade jurisdicional seja desencadeada, por provocação ou por atividade de
ofício do juiz, para que se tenha a existência do procedimento. Disso resulta possível
concluir que terá havido procedimento, ainda que o processo não tenha atingido seu
fim: a prestação da tutela jurisdicional com a análise do mérito da demanda.
Só não haverá procedimento judicial quando o conjunto de atos que lhe dá vida
não for desenvolvido perante órgão investido de poder jurisdicional.37
Acresce dizer que, embora no procedimento seja mesmo comum a manifesta-
ção de inúmeros atos interdependentes e coordenados, poderá apresentar no míni-
mo dois:38 a propositura da demanda e a sua extinção (CPC, arts. 285-A e 295, por
exemplo).

3.4.4 A existência do ato processual


À luz dos entendimentos construídos no plano da teoria geral do direito, os
processualistas vêm se esforçando para, no que se refere ao ato processual, identificar
quais seriam seus elementos essenciais e, de modo geral, apontam que a existência
do ato jurídico processual pressupõe a presença dos seguintes elementos essenciais:
sujeito, objeto e forma.39

za, Validade do julgamento de mérito sem a citação do réu, RePro no 111, São Paulo: RT, jul./set. 2003, p. 79;
e Daniela Martins Madrid, Reestudo da citação como pressuposto processual, Revista Dialética de Direito
Processual no 47, São Paulo: Dialética, fev. 2007, p. 17.
37
O procedimento não é um fenômeno exclusivo do processo judicial, uma vez que em outros ramos do
direito e mesmo nas outras funções do Estado (no Legislativo e no Executivo) há procedimentos.
38
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 113.
39
Fazem menção a esses mencionados elementos: José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria
das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 37 e 103 e Juliana Demar-
chi, Ato processual juridicamente inexistente – mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da
inexistência jurídica, Revista Dialética de Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 48. Para
Roque Komatsu (Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 122-123) e para Gerardo Di Masi e
Juan Alberto Farías (Manual de derecho procesal civil, dir. Omar Luis Díaz Solimine, Buenos Aires: La Ley, 2008,
p. 143-144), os elementos são: sujeito, objeto e atividade, essa decomposta em subelementos (lugar, tempo
e forma) que compreendem aspectos no mundo exterior. José Carlos Barbosa Moreira, a seu turno, além
dos elementos citados no texto, agrega o conteúdo do ato como elemento essencial (Citação de pessoa
46 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Sendo o ato processual um ato jurídico voluntário (item 2.2), necessariamen-


te será praticado por um sujeito, presente ou estranho à relação jurídica processual.
Assim, por exemplo, será inexistente a sentença proferida por quem não tenha in-
vestidura do poder jurisdicional (proferida pelo escrivão ou assessor ou por juiz já
aposentado); como também será inexistente a petição inicial em que figure como
autor pessoa já falecida ou juridicamente inexistente; como inexistirá citação se o ci-
tando já não estiver vivo; será igualmente inexistente o laudo pericial confeccionado
por pessoa diversa do perito nomeado; assim como será inexistente uma certidão ou
diligência não realizada pelo oficial de justiça.
O ato processual pode incidir sobre algo que é exterior ao sujeito, que constitui
o objeto do ato. Logo, será inexistente a penhora ou o arresto cautelar, caso inexista
o bem que se apreende; inexistirá a declaração de falso, se não existe o documento
cuja autenticidade se nega; será igualmente inexistente a prova pericial que tenha re-
caído sobre coisa ou pessoa que não existe; não existirá como restaurar autos, se os
autos que se pretende restaurar não existiram.
A forma, por sua vez, diz respeito à exteriorização do ato e, por vezes, ao seu
conteúdo (item 2.7). Não existirá petição inicial se não houver pedido nela declinado
(CPC, art. 282, IV); não existirá sentença ou acórdão, se lhe faltar dispositivo (CPC,
art. 458, III); não haverá citação se a comunicação não tiver chegado até o destina-
tário (CPC, art. 213).
Em resumo, a inexistência do ato processual pode decorrer: i) de não ter decor-
rido de qualquer impulso volitivo de seu agente; ii) de sequer ter sido na prática rea-
lizado; iii) de não respeitar as exigências essenciais de forma ou conteúdo necessárias
para que o ato seja tomado como juridicamente existente.40
Importa reconhecer que a inexistência do ato processual, seja ele qual for, jamais
importará em inexistência do procedimento ou do processo. A inexistência do ato pode-
rá tornar ineficazes os atos subsequentes para os quais funcionava como pressuposto41

falecida, in: Temas de direito processual civil (quinta série), São Paulo: Saraiva, 1994, p. 81-82). Também para
José Roberto dos Santos Bedaque, o conteúdo é elemento essencial do ato processual (Efetividade do pro-
cesso e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 471). Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, por sua
vez, adapta as noções feitas para o negócio jurídico por Antônio Junqueira de Azevedo (Negócio jurídico –
existência, validade e eficácia) e, por isso mesmo, refere-se a elementos gerais (agente, objeto, forma, tempo
e lugar) e especiais (Teoria da inexistência no direito processual civil, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1998, p. 51).
Cândido Rangel Dinamarco (Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 582-583)
e Sidnei Amendoeira Jr. (Fungibilidade de meios, São Paulo: Atlas, 2008, p. 34) falam em um mínimo formal,
um mínimo subjetivo, um mínimo objetivo e um mínimo voluntário.
40
Egas D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1998, p. 261 e Leonardo Greco, Instituições de processo civil, v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 395.
41
É o que Eduardo Talamini denomina como inexistência parcial do processo (Coisa julgada e sua revisão,
São Paulo: RT, 2005, p. 361-363). O mesmo autor refere-se à inexistência integral quando o processo for inte-
gralmente desenvolvido perante um não juiz. Campo fértil para a inexistência acarretar a ineficácia, sem se
cogitar da nulidade, é quando aquela recai sobre o conteúdo da sentença. Vittorio Denti, por exemplo, em
que pese reconheça ser existente, sob o ponto de vista processual, a sentença que apresente conteúdo im-
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 47

e, por conseguinte, tornar ineficaz o procedimento42 (e o processo) a partir dali.43, 44

possível, por entender ser ela decorrente do exercício da jurisdição, reconhece ser ela inidônea a valer como
título executivo, ou seja, é ela ineficaz (Inesistenza degli atti processuali civili, in Novissimo digesto italiano,
v. VIII, Roma: Vnione, p. 637). Carlos Alberto Alvaro de Oliveira cita vários outros exemplos colhidos na doutrina
alemã de deficiência no suporte fático da sentença que constituem própria inexistência de objeto, mas que
o autor diz acarretar a sua ineficácia (Execução de título judicial e defeito ou ineficácia da sentença, Revista
da Ajuris no 62, nov. 1994, p. 105).
42
Alguns autores defendem que a inexistência de um ato processual pode acarretar a invalidade do proce-
dimento. Ao tratar de caso de citação de pessoa falecida, José Carlos Barbosa Moreira reconhece tratar-se
de ato inexistente e, ao final conclui: “Será nula a sentença de mérito que, por inadvertência, se venha a pro-
ferir” (Citação de pessoa falecida, in: Temas de direito processual civil (quinta série), São Paulo: Saraiva, 1994,
p. 84, grifado). Ao também analisar caso de citação de réus mortos, mesmo reconhecendo a inexistência do
ato de citação, verberou Athos Gusmão Carneiro: “Não se pode afirmar, todavia, a inexistência da própria
relação processual, a inexistência do processo. Não ‘angularizada’ a relação, quer pela inexistência de autor,
quer pela inexistência de réu, o processo se desenvolve de modo apenas linear; assim, apenas entre o juiz
(rectius, o Estado-juiz) e o réu, se não existente um autor; ou entre o juiz (rectius, o Estado-juiz) e o autor, se não
existente um réu. O processo, em tais termos, desenvolveu-se nulamente, pois não poderá produzir efeitos, a
eficácia inerente à sua própria natureza jurídica. Nulo o processo, nula de pleno direito a sentença que venha
a considerar o pedido procedente, ou improcedente (embora válida a sentença que declare a nulidade do
próprio processo e o desconstitua)” (Citação de réus já falecidos. Nulidade insanável do processo adjudica-
tório. Caso “Barra da Tijuca”, Gênesis Revista de Direito Processual Civil no 28, Curitiba: Gênesis, abr./jun. 2003,
p. 409, grifos no original). Sobre o tema, eis a lição de Aroldo Plínio Gonçalves: “A falta de citação constitui
ato materialmente inexistente, e se o réu não comparece para se defender, torna todo o processo passível de
nulidade. A sentença que se executa é existente, tal como o procedimento que a preparou, mas nele faltou
pressuposto de regularidade dos atos subsequentes à citação. Os atos do procedimento foram irregulares em
razão do vício que comprometeu sua formação, mas não sua existência jurídica. Faltando o contraditório, o
processo não chegou a se constituir, mas o procedimento sim, e o ato imperativo do Estado, ainda que vicia-
do, chegou a ser emanado. Pela inexistência de ato essencial na cadeia do procedimento, este é passível
de nulidade, a partir do ato subsequente à inicial” (Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 73).
Poder-se-ia citar, ainda, a hipótese de ausência de manifestação do Ministério Público nas hipóteses em que
sua participação é obrigatória (CPC, art. 82). A este tema, ver José Roberto dos Santos Bedaque, Nulidade
processual e instrumentalidade do processo, RePro no 60, São Paulo: RT, out./dez. 1990, p. 36-37.
43
Eis a lição de Marcos Bernardes de Mello: “No ato complexo e no ato composto há um ato final, que o ca-
racteriza, define a sua natureza e lhe dá denominação, e há o ato ou os atos condicionantes desse ato final,
todos relacionados entre si, ordenadamente no tempo, de modo que constituem partes integrantes de um
processo, definido este como um conjunto ordenado de atos destinados a certo fim (exercício de uma com-
petência, de um poder ou prestação de um dever). Os atos condicionantes são preparatórios do ato final e
dele constituem pressupostos de validade e/ou eficácia, não de sua existência. É preciso ressaltar que cada
um dos atos tem de atender a seus próprios pressupostos de validade e/ou eficácia. A nulidade, por exemplo,
contamina os que lhe são posteriores e invalida o ato complexo ou composto. Não afeta, porém, em sua
falta, a existência do ato complexo ou composto, que será, nesse caso, nulo” (Teoria do fato jurídico – plano
da existência, 12. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 155-156). Fredie Didier Jr. adota o mesmo entendimento, de-
fendendo que o procedimento se sujeita a juízo de admissibilidade que, a seu sentir, é juízo de validade. Diz:
“As causas de inadmissibilidade (como todas as causas de invalidade) devem ser contemporâneas à prática
do ato. Fatos supervenientes podem comprometer a admissibilidade, certamente, mas é fundamental que
se perceba que são os atos que compõem o procedimento os que serão afetados, não mais o ato que lhe
originou (o ato postulatório). O procedimento, como ato-complexo (conjunto de atos), pode ser considerado
inadmissível – e, portanto, obstaculizado o seu prosseguimento – por fatos que aconteçam durante o seu
desenrolar, sem que isso retire do juízo de admissibilidade a característica de ser um juízo sobre a validade;
basta que se saiba que apenas os atos posteriores ao fato superveniente poderão ser nulificados, não os
anteriores, que, praticados regularmente, não podem, então, ser invalidados” (Pressupostos processuais e
condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 28).
44
Remo Pannain tem posição um pouco diversa, pois entende possível que a inexistência de um ato proces-
sual possa refletir e tornar inexistente o próprio processo, entendido este como a própria relação processual.
48 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Como dito antes (item 3.3.1), somente em caso de falta de poder jurisdicional é que
se terá a inexistência de todo o processo, pois esse é o único pressuposto processual
de sua existência.
Também merece observar que a inexistência do ato processual será relevante
quando acarretar a inexistência de um pronunciamento judicial, especialmente o
final;45 porque esse é que têm aptidão para a produção de efeitos externos ao pro-
cesso e substanciais. Vale dizer, é neles em que se concentra a prestação da tutela
jurisdicional que refletirá sobre os sujeitos do processo.46 É em relação aos pro-
nunciamentos judiciais que ganha relevo a afirmação de não serem equiparáveis os
efeitos da inexistência aos da nulidade,47 no sentido de que, no direito processual,
o ato nulo somente pode ser anulado até o trânsito em julgado da decisão final.
Com a formação da coisa julgada, as nulidades que não se dão por sanadas poderão
ser objeto de ação rescisória. Em se tratando de inexistência, não se aplica esse mes-
mo regime, concebendo-se que inexistência é insanável e, por isso mesmo, pode
impedir o trânsito em julgado da decisão final e, portanto, ser reconhecida após a
sua ocorrência.

Todavia, também assinala que, se a função do ato é limitada a um momento processual, todo o resto do
processo pode ser considerado existente e válido, pois pode sobreviver sem o ato inexistente. Diz: “Qualsiasi
atto od elemento del processo, isolatamente considerato, può essere inesistente. Tale può essere soltanto il ra-
pporto processuale, tale soltanto la sentenza, come qualsiasi atto del procedimento. Se è inesistente un atto
qualunque del processo, bene si dirà che esso deve considerarsi come non mai formato. Ma se la sua funzio-
ne è limitata a un momento processuale, potrà ben considerarsi esistente e valido tutto il resto del processo,
che può vivere senza quell’atto. Se invece ha funzione tale da rappresentare il pressuposto e la condizione di
esistenza di tutti gli altri atti, o del rapporto processuale intero, o de la sentenza, bene si dirà che anche il rap-
porto processuale e la sentenza sono inesistenti, di riverbero” (Le sanzioni degli atti processuali penali, Napoli:
Jovene, 1933, p. 383). José Joaquim Calmon de Passos segue o entendimento de Pannain (Esboço de uma
teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 103).
45
Nesse sentido, Chiara Besso, La sentenza civile inesistente, Torino: Giappichelli, 1996, p. 23-28; Ferruccio
Auletta, Nullità e “inesistenza” degli atti processuali civili, Padova: Cedam, 1999, p. 219-221 e Eduardo Tala-
mini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 306-307. Vittorio Denti, por sua vez, sustenta que a
inexistência no processo civil se refere exclusivamente ao ato que concretiza o exercício do poder jurisdicio-
nal: a sentença (Inesistenza degli atti processuali civili, in Novissimo digesto italiano, v. VIII, Roma: Vnione,
p. 636-637).
46
Enrico Tullio Liebman assinala que “é apenas o ato final, no qual culmina o procedimento, que tem uma
eficácia jurídica externa, isto é, não meramente processual; já os efeitos dos outros atos operam internamen-
te no próprio procedimento, fazendo-o progredir na direção da sua meta e ao mesmo tempo visando a influir
direta ou indiretamente no conteúdo do ato final. Apenas excepcionalmente, podem ter os atos processuais
(diversos do final) também algum efeito substancial externo: por exemplo, os efeitos substanciais da propo-
situra da ação, os efeitos do ato de venda na expropriação forçada e poucos outros” (Manual de direito
processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 229).
47
Marcelo J. López Mesa enfrenta a questão da inexistência processual na Argentina e esclarece que lá, por
ser bastante enraizada a ideia de que toda nulidade é relativa e, por isso, quando não reparada dentro do
prazo previsto a preclusão lhe convalida, a inexistência surgiu como uma importante ferramenta “toda vez
que parece demasiado injusto manter atos nulos se apela à inexistência para subtrair a eficácia destes” (Ine-
ficácia y nulidad de los actos jurídicos y procesales, Buenos Aires: Depalma, 1998, p. 293). Vale dizer, diante
da falta de nulidades consideradas absolutas, ganhou espaço a teoria da inexistência. Confunde-se, pois,
inexistência com nulidade absoluta, evidenciando o desvio de rota cometido nesse país.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 49

3.5 TEORIA DA APARÊNCIA

É possível encontrar referência doutrinária que associe ato inexistente a ato


aparente,48 como também, que aponte não haver espaço para a teoria da inexistên-
cia por ser necessário preservar as aparências49 ou que o ato inexistente sequer tem a
aparência do ato que se afirma.50
Daí a dúvida: que tipo de relação há entre inexistência e aparência? Para se dissi-
par essa dúvida é preciso ter noção, ainda que breve, do que se entende por aparên-
cia jurídica.51
A expressão aparência pode apresentar mais de um significado, merecendo des-
taque dois deles: o que representa a exteriorização de algo, o que se apresenta à
primeira vista, permitindo revelar a realidade; e o outro que manifesta o oposto da
realidade, algo que aparenta sem ser, uma ilusão.52 Essa segunda significação, embora
possa estar relacionada com a má-fé de alguém que se utiliza da aparência para ocul-
tar a realidade (simulação, por exemplo), também pode dizer respeito a situações em
que alguém, de boa-fé mas em erro justificável, enxerga na aparência a representação
da realidade, o que surte consequências e merece proteção jurídica.

48
Diz Emilio Betti: “Podem imaginar-se casos em que é possível falar-se de verdadeira inexistência jurídica do
negócio que se pretendeu celebrar, na medida em que dele só existe uma vaga aparência, que, se pode
ter criado, em algum dos interessados, a impressão superficial de tê-lo celebrado ou de a ele ter assistido...”
(Teoria geral do negócio jurídico, t. III, Coimbra: Coimbra Ed., 1970, p. 17-18, grifado). Do mesmo modo, Tito
Prates da Fonseca: “O ato inexistente é, apenas, uma aparência, que se apaga, ao se provar que não envol-
ve uma realidade” (As nulidades em face do Código de Processo Civil, São Paulo: Freitas Bastos, 1941, p. 81).
O mesmo entendimento se encontra em Adroaldo Furtado Fabrício, Réu revel não citado, “querela nullitatis”
e ação rescisória, RePro no 48, São Paulo: RT, out./dez. 1987, p. 27.
49
Ovídio A. Baptista da Silva assevera: “A teoria da inexistência, mesmo em direito material, não pode convi-
ver com as concepções e exigências da vida moderna, onde a proteção da aparência tornou-se um impera-
tivo jurídico, decorrente, precisamente, das circunstâncias da própria natureza das novas relações jurídicas
criadas pela sociedade urbana de massa, perante a qual, como disse uma eminente personalidade con-
temporânea, ‘para nós, a aparência – aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos – constitui
a realidade’ (Hanna Arendt)” (Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 164).
50
José de Oliveira Ascensão, Direito civil – teoria geral, v. 2, 2. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 370.
51
Acerca do tema, entre nós, ver os seguintes artigos e obras: Álvaro Malheiros, Aparência de direito, Revista
de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 41-77; Arnaldo Rizzardo, Teoria da aparência, Revista da
Ajuris no 24, mar. 1982, p. 222-231; Antônio Carlos Amaral Leão e Gerson Ferreira do Rego, A aplicabilidade da
teoria da aparência nos negócios jurídicos, RT no 618, São Paulo: RT, abr. 1987, p. 30-33; Arnoldo Wald, A teoria
da aparência e o direito bancário, Revista de Direito Mercantil no 106, São Paulo: Malheiros, abr./jun. de 1997,
p. 7-19; Fábio Konder Comparato, Aparência de representação: a insustentabilidade de uma teoria, Revista
de Direito Mercantil no 111, São Paulo: Malheiros, jul./set. de 1998, p. 39-44; Gelson Amaro de Souza, Teoria da
aparência e a fraude à execução, Revista Jurídica no 285, jul. 2001, p. 61-68; Vicente Ráo, Ato jurídico, 4. ed.,
São Paulo: RT, 201-213; Darnley Villas Boas, Teoria da aparência no direito brasileiro, Ed. BVZ, 1993; Hélio Borghi,
Teoria da aparência no direito brasileiro, São Paulo: Lejus, 1999; e Vitor Frederico Kümpel, Teoria da aparência
no Código Civil de 2002. São Paulo: Método, 2007. No âmbito estrangeiro, ver Angelo Falzea, verbete “Appa-
renza”, in: Voci di teoria generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, p. 39-84; e Raffaele Moschella, Contributo
alla teoria dell’apparenza giuridica, MIlano: Giuffrè, 1973.
52
Álvaro Malheiros, Aparência de direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 44 e Vitor
Frederico Kümpel, Teoria da aparência no Código Civil de 2002. São Paulo: Método, 2007, p. 53-54.
50 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Ao direito interessam todas essas situações, no entanto, elas recebem trato dis-
tinto e, por isso, nem todas dizem respeito ao que se convencionou designar como
aparência em sentido estrito.53
Todavia, é em torno do segundo significado da expressão que o conceito de apa-
rência em sentido estrito foi construído, isto é, quando algo aparece sem ser, mani-
festando uma contradição entre o que foi exteriorizado e sua essência.54 Com efeito,
por necessidade da ordem social de se conferir segurança às operações jurídicas, es-
pecialmente negociais, entendeu-se mister emprestar proteção aos reflexos surgidos
a partir da confiança depositada na aparência.55
Assim, tem-se aparência jurídica quando, embora a situação de fato sequer tenha
existido ou esteja dissociada da realidade, dada a sua exteriorização que fez crer ser
ela existente ou verdadeira, alguém de boa-fé (parte ou terceiro56) praticou alguma
conduta que merece proteção jurídica.57

53
Alguns autores distinguem a aparência no direito da aparência de direito: Álvaro Malheiros, Aparência de
direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 43 e Hélio Borghi, Teoria da aparência no
direito brasileiro, São Paulo: Lejus, 1999, p. 37-39. Ver nota 62 adiante.
54
Álvaro Malheiros, Aparência de direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 45.
Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina, “o ato juridicamente inexistente é um
‘impostor’: pretende fazer passar-se pelo ato ‘que queria ter sido’” (O dogma da coisa julgada – hipóteses de
relativização, São Paulo: RT, 2003, p. 27).
55
Arnaldo Rizzardo assinala: “As necessidades sociais e o interesse público tornam impossível conhecer a
situação jurídica exata de uma pessoa ou de um bem, ou se a situação jurídica exterior corresponde, efe-
tivamente, à interior. Quando todos pensam e tudo permite pensar que a realidade aparente é uma mani-
festação exterior da situação jurídica, não é correto esquecer que a ação é determinada com base em tais
dados” (Teoria da aparência, Revista da Ajuris no 24, mar. 1982, p. 226).
56
Embora seja possível constatar junto à doutrina que a teoria da aparência está toda aparelhada na prote-
ção do terceiro, não se pode descartar a proteção das próprias partes. Nesse sentido, Vitor Frederico Kümpel,
Teoria da aparência no Código Civil de 2002. São Paulo: Método, 2007, p. 55.
57
Álvaro Malheiros conceitua a aparência jurídica “como sendo uma situação de fato que manifesta como
verdadeira uma situação jurídica não verdadeira, e que, por causa do erro escusável de quem, de boa-fé,
tomou o fenômeno real como manifestação de uma situação jurídica verdadeira, cria um direito subjetivo
novo, mesmo à custa da própria realidade” (Aparência de direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT,
out./dez. 1978, p. 46). Por sua vez, Vitor Frederico Kümpel atesta ser a aparência “a proteção, pelo sistema
jurídico (princípios e regras), garantindo existência, validade e eficácia a determinadas relações jurídicas,
por haver uma exteriorização (publicidade) divorciada da realidade, a qual fez crer a todos na seriedade do
negócio jurídico, pela incidência da boa-fé objetiva e, principalmente, ao terceiro legitimado (boa-fé subje-
tiva), gerando regulares efeitos econômicos diretos e indiretos, muito embora a situação protegida esteja es-
tribada numa situação insubsistente” (Teoria da aparência no Código Civil de 2002. São Paulo: Método, 2007,
p. 57-58). Vicente Ráo apresenta rol dos requisitos essenciais da aparência: “São seus requisitos essenciais
objetivos: a) uma situação de fato cercada de circunstâncias tais que manifestamente a apresentem como
se fora uma segura situação de direito; b) situação de fato que assim possa ser considerada segundo a or-
dem geral e normal das coisas; c) e que, nas mesmas condições acima, apresente o titular aparente como
se fora titular legítimo, ou o direito como se realmente existisse. São seus requisitos essenciais subjetivos: a) a
incidência em erro de quem, de boa-fé, a mencionada situação de fato como situação de direito considera;
b) a escusabilidade desse erro apreciada segundo a situação pessoal de quem nele incorreu” (Ato jurídico,
4. ed., São Paulo: RT, p. 210). Esse entendimento de Vicente Ráo é adotado por Álvaro Malheiros, Aparência
de direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 69 e Hélio Borghi, Teoria da aparência
no direito brasileiro, São Paulo: Lejus, 1999, p. 47-48. De outro lado, Vitor Frederico Kümpel também trata de
elementos objetivos e subjetivos, mas o faz de maneira diversa e mais ampla (Teoria da aparência no Código
Civil de 2002. São Paulo: Método, 2007, p. 109-138).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 51

Disso resulta claro que a teoria da inexistência não afasta a da aparência, pelo
contrário, supõe-na.58 Na verdade, ainda que a aparência encontre campo mais vasto,
é inegável que a inexistência está entre as causas que permitem seja necessário consi-
derar e tutelar a aparência.

3.5.1 Teoria da aparência e a inexistência do ato processual


A aparência também interessa ao processo e, assim se verifica, em ambos os sig-
nificados que antes foram mencionados.
Enquanto aspecto exterior de alguma coisa, a aparência é reconhecida, por
exemplo, quando o oficial de justiça está autorizado a proceder a citação com hora
certa, dada a suspeita de ocultação do réu (CPC, art. 227). Também assim ocorre
nas hipóteses em que o legislador trata da verossimilhança ou da evidência para fins
de concessão de provimentos urgentes (CPC, art. 273, por exemplo).59
Por sua vez, quanto à aparência em sentido estrito, a citação tem sido campo fér-
til de sua aplicação, especialmente para considerar válida a citação, quando realizada
em pessoa que ostenta aparência de ser realmente aquela que deveria representar a
pessoa jurídica, embora, na verdade, não o seja.60 Também se vê aplicação da teoria
da aparência para afastar alegação de fraude à execução, protegendo o terceiro de
boa-fé que adquire bem aparentemente livre de ônus.61
Mas a questão que aqui nos interessa analisar é a seguinte: muito embora um ato
processual seja inexistente, pode ser considerado como “ato aparente” e, como tal,
gerar efeitos jurídicos válidos?

58
Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 21.
59
Acerca do tema verossimilhança, ver Piero Calamandrei, Verdade e verossimilhança no processo civil,
Direito processual civil, v. 3, Campinas: Bookseller, 1999, p. 269-299 e Daisson Flach, A verossimilhança no
processo civil, São Paulo: RT, 2009, passim.
60
André de Luizi Correia, A citação no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 2001, p. 348. Segundo o
mencionado autor (op. cit., p. 348-356), de acordo com a jurisprudência, são quatro as principais situações
em que se vem admitindo a aplicação da teoria da aparência: a ) na hipótese de citação realizada na pes-
soa de quem se apresenta ao oficial de justiça como representante da pessoa jurídica, e recebe a contrafé
sem nada arguir acerca da falta de poderes de representação; b) a pessoa que recebe a citação, além de se
apresentar ao oficial de justiça como representante da pessoa jurídica, assina o mandado sob o carimbo da
empresa; c) citação mediante carta endereçada a pessoa jurídica e recebida na sede da empresa por sim-
ples funcionário credenciado a receber a correspondência da empresa e, d) citação realizada na pessoa de
funcionário que exerce a gerência ou administração de fato da empresa. Ainda sobre o tema, ver Geraldo
Barros Neto, Citação pelo correio feita na pessoa de empregado da pessoa jurídica. Arguição de nulidade
repelida, RePro no 125, São Paulo: RT, jul. 2005, p. 195-206; Alexandro Adriano Lisandro de Oliveira, Citação.
Pessoa jurídica. Teoria da aparência, RePro no 128, São Paulo: RT, out. 2005, p. 185-206 e Helena de Toledo
Coelho Gonçalves, A objeção de pré-executividade como via de discussão sobre a validade da citação
(Teoria da Aparência), RePro no 133, São Paulo: RT, mar. 2006, p. 175-189.
61
Acerca do tema, ver Gelson Amaro de Souza, Teoria da aparência e a fraude à execução, Revista Jurídica
no 285, jul. 2001, p. 61-68.
52 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Na verdade, seguindo a mesma linha de entendimento já anteriormente exposta


(item 3.4.3), a inexistência do ato processual não importa em inexistência do pro-
cedimento ou do processo que, por isso mesmo, são tomados como aparentemente
regulares e, por consequência, são aptos a produzir os efeitos típicos esperados.
Não é correto considerar o ato processual isoladamente, pois, isso poderia cau-
sar um paradoxo, como por exemplo, ao se considerar inexistente uma sentença ex-
tra petita, poder-se-ia entender que o recurso contra essa sentença (ou contra parte
dela) seria igualmente inexistente e, como tal, não deveria ser conhecido, porque se
não existe decisão, não há que se falar em existência do respectivo recurso contra ela
interposto. Ora, se assim fosse, como poderia a parte obter o reconhecimento da
própria inexistência da sentença?
Ou seja, como o ato processual integra uma cadeia de atos que formam o proce-
dimento, ainda que um desses atos seja inexistente, o procedimento ainda mantém a
aparência de sua regularidade, até porque a participação do Estado-juiz faz presumir
a legitimidade dos atos e do procedimento, dando a aparência de que os atos pro-
cessuais existem e são válidos, razão pela qual devem produzir os efeitos esperados.62
Em suma, o procedimento não pode ficar na situação de incerteza causada pela falta
de um de seus atos.
Portanto, como melhor se tratará adiante (item 5.9.1), ao menos no processo,
o ato inexistente produz efeitos.

3.6 MECANISMOS PARA RECONHECIMENTO DA INEXISTÊNCIA


NO PROCESSO

Pelo exposto, também ao contrário do que sustenta a doutrina para o ato jurídi-
co em geral inexistente (item 3.3), para que o ato processual seja reconhecidamente
inexistente, faz-se necessário um pronunciamento judicial que assim o declare.63 Tal
exigência decorre de ter sido o ato praticado perante autoridade judicial que o faz

62
Na verdade, como explica Angelo Falzea, não se está diante de situação propriamente de aparência
em sentido estrito, mas em sentido genérico, pois a formalidade que reveste os atos processuais é bastante
para, por si só, exteriorizar a regularidade do procedimento e permitir o reconhecimento de efeitos jurídicos.
Diz o mencionado autor: “L’apparenza è appunto uno strumento elastico, idoneo a penetrare nei campi il
formalismo giuridico non ha avuto possibilità di esplicarsi, e mira a proteggere l’interesse dei terzi tutte le volte
in cui essi non hanno una dichiarazione formale su cui poggiare e tuttavia sono stati tratti in ingano da una
situazione di fatto cha abbia manifestato come esistente una realtà giuridica inesistente” (verbete “Apparen-
za”, in: Voci di teoria generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, p. 58, grifado). Em razão disso, Álvaro Malheiros
(Aparência de direito, Revista de Direito Civil no 6, São Paulo: RT, out./dez. 1978, p. 43) e Hélio Borghi (Teoria da
aparência no direito brasileiro, São Paulo: Lejus, 1999, p. 37-39) distinguem aparência no direito da aparência
de direito: aquela é a genérica e esta é a em sentido estrito. Também reconhece a aparência dos atos pro-
cessuais inexistentes Juan Vergé Grau, La nulidad de actuaciones, Barcelona: Bosch, 1987, p. 49.
63
Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 165.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 53

revestir com a presunção de ser verdadeiro e conforme o Direito, e assim será até
que se prove em contrário. Em outras palavras, estando-se diante de ato público, não
é dado a ninguém, parte ou terceiro, deixar de dar efeito a ato processual (decisão
judicial, por exemplo) por reputá-lo inexistente, daí por que ser indispensável o pro-
nunciamento judicial que assim o reconheça.64
Tal reconhecimento pode ser feito em qualquer fase do processo (mesmo em
sede de cumprimento de sentença65), mediante atividade de ofício do próprio juiz,
como também pode ser provocado por qualquer das partes ou terceiros por meio de
simples petição ou recurso, assim como, em caso de ter havido o encerramento do
processo em que o ato foi supostamente praticado, mediante ação declaratória autô-
noma (querela nullitatis).66
Destarte, a doutrina não tem se eforçado para defender a subsistência da chama-
da querela nullitatis,67 o que aceito jurisprudencialmente.68

64
Não é demais lembrar que, sendo o ato processual um ato público, ele se reveste de atributos específicos,
tais como a presunção de legitimidade e a imperatividade. A esse respeito, ver Celso Antônio Bandeira de
Mello, Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 411. Extremamente pertinente
e consciente a observação de Sílvia Pereira Puigvert: “Analizadas las características generales de los actos
procesales resulta de interés, además, examinar una parte de la actividad administrativa: los actos adminis-
trativos, que comparten con los primeros la nota característica de ser dictados por una autoridad pública.
Realizar esta especie de comparación, de algún modo, tiene como finalidad importar una dogmática más
elaborada, como es la teoría administrativista de la ineficacia de los actos, al campo jurídico-procesal donde
la invalidez de los actos adolece de notables incertidumbres” (La ineficacia de los actos procesales, Madrid:
Marcial Pons, 2011, p. 65-66).
65
Considerando a atual estrutura sincrética do processo, não parece haver como negar que, enquanto o
processo não se encerrar pela satisfação da pretensão do credor, é possível rever atos processuais inexisten-
tes, desde que estes afetem a própria decisão final exequenda. Imagine-se, por exemplo, que embora o réu
tenha interposto recurso de apelação, não tenha sido ele intimado, por falta de constar o nome de seu advo-
gado das publicações feitas, quer da sessão de julgamento quer do acórdão proferido. Sendo posteriormen-
te intimado seu patrono para fins de pagamento na forma do art. 475-J do CPC, parece possível que o juiz
reconheça a inexistência dos atos de intimação e, como tal, dada a ofensa ao contraditório, que o feito deva
retornar ao tribunal competente para que novo julgamento ocorra e, dali para frente, o processo retome seu
trâmite regular. Neste sentido, só que tratando o defeito como sendo de nulidade (CPC, art. 236, § 1o), por
exemplo: STJ – REsp 245647/SC, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Terceira Turma, j. em 19/02/2001, DJ 02/04/2001.
66
Doutrinariamente admite-se a fungibilidade entre ação rescisória e ação declaratória, ainda que median-
te remessa da ação ao juízo competente. Ver Juliana Demarchi, Ato processual juridicamente inexistente
– mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexistência jurídica, Revista Dialética de
Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 57-59; Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do
processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 506 et seq.; Flávio Luiz Yarshell, Ação rescisória – juízos
rescindente e rescisório, São Paulo: Malheiros, 2005, p. 267-270, Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão,
São Paulo: RT, 2005, p. 364-367; e Rita de Cássia Corrêa de Vasconcelos, Princípio da fungibilidade, São Paulo:
RT, 2007, p. 224-235.
67
Confira, entre outros: Piero Calamandrei, Sopravvivenza della querela di nullità nel proceso civile vigente,
Rivista di Diritto Processuale, no VI, p. 112-128, 1951; Adroaldo Furtado Fabrício, Réu revel não citado, querela
nullitatis e ação rescisória, RePro, no 48, out./dez. 1987, p. 27-44; Ovídio A. Baptista da Silva, Sobrevivência da
querela nullitatis, Revista Forense, no 333, jan./mar. 1996, p. 115-122; Alexander dos Santos Macedo, Da querela
nullitatis – Sua subsistência do direito brasileiro, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1998; e Fredie Didier Jr. e Leonardo
José Carneiro da Cunha, Curso de direito processual civil, v. 3, Salvador: JusPodivm, 2006, p. 317-321.
68
Assim decidiu o STJ: REsp 12.586/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Terceira Turma, j. 08/10/1991 – DJ 04/11/1991;
REsp 459.351/SP, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, j. 22/05/2003 – DJ 16/06/2003 e REsp 194.029/SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, j. 01/03/2007, DJ 02/04/2007.
54 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

O instituto da querela nullitatis foi, segundo Piero Calamandrei,69 fecunda cria-


ção surgida no período medieval com a fusão de elementos romanos e germânicos,
cuja finalidade era servir de ataque a uma sentença inquinada de vícios de forma
(errores in procedendo). Concebeu-se, então, uma actio nullitatis – meio de impug-
nação autônomo contra a sentença – cuja função era de reparar os vícios formais que
pudessem tornar nula a sentença.
Contudo, essa concepção rendeu-se à evolução dos tempos, donde se passou a
vigorar o princípio pelo qual os motivos de nulidade da sentença converteram-se em
motivos para a sua impugnação recursal.70 Os errores in procedendo, portanto, foram
absorvidos pelos recursos.
Entretanto, não passou despercebido que poderia o processo ou a sentença con-
ter vício que subsistisse, mesmo após a preclusão dos meios de impugnação endopro-
cessuais, vício esse que seria insanável.71
A aparente dificuldade de se defender a sobrevivência da querela nullitatis de-
corre, na verdade, do fato de que a combinação das várias fontes de ataque à deci-
são judicial culminou com o sistema que atualmente vige, que embora ainda não
uniforme pelo mundo afora, indica a tendência de se reduzirem as formas de ataque
extraordinário à sentença que contenha vícios.
Com efeito, ou se ataca a sentença mediante recursos ou através de ações autô-
nomas, cujo marco divisório repousa sobre a coisa julgada. Produzindo a sentença
coisa julgada material, preclusa estará a possibilidade de se discutir acerca de even-
tuais nulidades havidas no processo e na sentença, que se convalidarão, caso não seja
mais possível o manejo da ação rescisória.72

69
Origine della querela nullitatis nel diritto statutario; suo ulteriore sviluppo nella dotrina, Opere Giuridiche,
no 6, p. 131-134.
70
Ovídio A. Baptista da Silva, Sobrevivência da querela nullitatis, Revista Forense, no 333, jan./mar. 1996,
p. 116-117.
71
Deve-se a Piero Calamandrei a constatação de que não se concede aos recursos a virtude sanatória do
vício de nulidade da sentença, em casos como: sentença não subscrita por juiz; sentença sem dispositivo;
sentença de conteúdo incerto ou impossível etc. (Soppravvivenza della querela di nullità nel proceso civile
vigente, Rivista di Diritto Processuale, no VI, parte I, 1951, p. 114).
72
Adroaldo Furtado Fabrício ensina que a coisa julgada é “técnica de estabilização, mais atenta a necessi-
dades práticas do convívio social do que a imperativos de ordem estritamente jurídica ou de preservação do
valor justiça. (...) Ora, como técnica de estabilização, voltada antes de tudo para o interesse da segurança e
fixidez, não poderia deixar de estender sua força preclusiva também às ‘nulidades’ acaso existentes mas não
detectadas em qualquer instância. A imperiosa necessidade de que os litígios findem algum dia, sobrepon-
do-se a outros interesses e valores, também supera a distinção acadêmica entre nulidade e anulabilidade:
uma e outra convertem-se, indiferentemente, em rescindibilidade, e ainda assim nos limites estreitos ditados
pelas razões de política legislativa. Com a passagem da sentença em julgado, em regra, as nulidades ab-
solutas ou relativas, propriamente ditas ou simples anulabilidades, ou são de todo apagadas ou assumem a
feição de mera rescindibilidade” (Réu revel não citado, querela nullitatis e ação rescisória, RePro no 48, out./
dez. 1987, p. 35-36).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 55

No entanto, não há aqui qualquer óbice que decorra da coisa julgada, pois os ví-
cios contidos na sentença sujeita ao ataque da actio nullitatis não permitem que essa
sentença passe em julgado.73
A pretensão à declaração não está sujeita a qualquer prazo prescricional,74 e o
fundamento legal da ação está no art. 4o do CPC. Esta seguirá o rito comum, ordi-
nário ou sumário, cuja competência será a do juízo onde se processou ou se processa
a ação em que ocorreu a inexistência.
Há, pois, um concurso de mecanismos processuais dispostos ao reconhecimento
da inexistência do ato processual.75
Seja qual for o mecanismo eleito para o reconhecimento da inexistência, essa,
uma vez declarada, salvo a hipótese de inexistência total do processo (quando au-
sente o pressuposto processual de existência: órgão investido de poder jurisdicional),
fará com que o processo seja retomado a partir do último ato existente.76

3.7 O ATO PROCESSUAL INEXISTENTE É SANÁVEL?


Como destacado antes (item 3.3), é firme o entendimento de que a inexistência
não comporta saneamento ou convalidação.
No entanto, há quem entenda que, no âmbito processual, tal posição não en-
contra o mesmo rigor, pois, em alguns casos, a inexistência pode, deve e é sanável,77
tal como na hipótese de falta de citação, que admite suprimento pelo comparecimen-
to espontâneo do réu (CPC, art. 214, § 1o).78
Na verdade, em tal hipótese, não há propriamente convalidação de ato algum
que não admite seja aproveitado por simplesmente não ter ocorrido. O que há é a
realização de outro ato superveniente: o comparecimento espontâneo, que é equi-
parado à citação e, como tal, permite que o processo avance mediante o início do
prazo para a apresentação de contestação. Em outras palavras, “o ato defeituoso é

73
Nesse sentido, entre outros, ver Humberto Theodoro Júnior, Nulidade, inexistência e rescindibilidade da
sentença, RePro, no 19, jul./set. 1980, p. 29-31 e Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina,
O dogma da coisa julgada – hipóteses de relativização, São Paulo: RT, 2003, p. 28.
74
Na doutrina, por todos ver Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Teoria e prática da tutela jurisdicional, Rio de
Janeiro: Forense, 2008, p. 150. Na jurisprudência: RT 648/71; STJ, REsp 666.563/RJ, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, Segunda Turma, j. 05/10/2004, DJ 29/11/2004 e AgRg no REsp 616.348/MG, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, j. 14/12/2004, DJ 14/02/2005.
75
Como lembra Eduardo Talamini, caso tenha sido julgada improcedente a ação declaratória de inexistên-
cia, o autor vencido não poderá reiterar essa mesma matéria por meio de outro instrumento (Coisa julgada
e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 374).
76
Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 369.
77
Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2007,
p. 438.
78
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 41 e 76.
56 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

substituído por outro que produz, dali para a frente, os efeitos que aquele primeiro
ato deveria ter produzido”.79
Portanto, o ato processual inexistente pode ser sanado mediante seu suprimento
por outro, pois o procedimento é uma cadeia de atos cuja ausência de um ato pode-
rá tornar irregular o prosseguimento do processo dali para frente. Assim, admitindo
seja sanável o ato inexistente verificado, permite-se aproveitar os atos que lhe são an-
teriores e que foram devidamente realizados.
Poder-se-ia cogitar de outras hipóteses, tal como uma petição não assinada, ou
um laudo pericial não assinado, ou um termo de depoimento não assinado ou uma
sentença ou uma decisão não assinada. Parece razoável admitir que esses atos possam
ser sanados (supridos) com a mera posterior assinatura do sujeito que os praticou,
mas foi antes, sem intenção, omisso em apor sua assinatura.80
Na verdade, tais situações não merecem ser tratadas como atos inexistentes, em-
bora sejam assim comumente apontadas.81 A despeito de não estarem assinados, não
havendo dúvida de que os atos foram praticados pelos respectivos sujeitos, sempre
existiram.82
Melhor seria enquadrar tais situações no plano da eficácia, isto é, admitir que
esses atos, embora existentes, somente produzirão os efeitos esperados depois
de verificado que o ato emanou realmente de quem tinha o poder de cumpri-lo
(item 5.9).
O mesmo se diga em relação ao parágrafo único do art. 37 do Código de Proces-
so Civil. Onde está estabelecido “serão havidos por inexistentes” deve-se compreender
“serão havidos por ineficazes”, os atos do advogado que atuou sem instrumento de

79
Eduardo Talamini, Notas sobre a teoria das nulidades no processo civil, Revista Dialética de Direito Proces-
sual no 29, São Paulo: Dialética, ago. 2005, p. 45.
80
José Carlos Barbosa Moreira assinala ser rigidez excessiva que se traduz em restrição ilegítima ao conheci-
mento de recurso, o mero fato de não estarem assinadas as razões. Conforme assinala o mestre, “nem será
forçosamente insuprível a falta de assinatura do advogado na própria petição de interposição” (Restrições
ilegítimas ao conhecimento dos recursos, Temas de direito processual civil (nona série), São Paulo: Saraiva,
2007, p. 277-278). Uma vez suprida a atividade ausente, a assinatura, o processo terá seu normal prossegui-
mento, restando plenamente eficaz o ato em questão.
81
Veja-se, por exemplo: Victor de Santo, Nulidades procesales, Buenos Aires: Universidad, 1999, p. 110;
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 680;
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 103; e Juliana Demarchi, Ato processual juridicamente inexistente – meca-
nismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexistência jurídica, Revista Dialética de Direito
Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 50.
82
Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 335. O mesmo autor destaca que
somente poderiam ser tomados por inexistentes esses atos sem assinatura, se houvesse a recusa do sujeito
reconhecer esse ato como seu ou quando não houver mais chance de obter a posterior confirmação de
procedência junto ao seu suposto emitente (op. cit., p. 335-336).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da existência 57

mandado e não teve seus atos confirmados pela parte representada.83 Neste sentido,
aliás, a redação do art. 662 do novo diploma civil. 84

83
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. 1, 5. ed., Rio de Janei-
ro: Forense, 1995, p. 434-435; Jorge Luis Dall’Agnol, Pressupostos processuais, São Paulo: Letras Jurídicas, 1988,
p. 29-30; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 160; Ovídio A. Baptista da
Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1, São Paulo: RT, 2000, p. 169; Araken de Assis, Suprimento
da incapacidade processual e da incapacidade postulatória, Doutrina e prática do processo civil contem-
porâneo, São Paulo: RT, 2001, p. 145; Daniel Francisco Mitidiero, Comentários ao Código de Processo Civil, t. 1,
São Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 241-242; Juliana Demarchi, Ato processual juridicamente inexistente –
mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexistência jurídica, Revista Dialética de Direito
Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 52; Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições
da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 143-144; Heitor Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São
Paulo: Atlas, 2006, p. 147; Roberto P. Campos Gouveia Filho, Definitivamente, a capacidade postulatória não
é um pressuposto de existência do processo, Revista Dialética de Direito Processual no 53, São Paulo: Dialética,
ago. 2007, p. 121; e José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro,
Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 150. Portanto, equivocada a redação da Súmula no 115 do STJ: “na instância
especial é inexistente o recurso interposto por advogado sem procuração nos autos”. Segundo o teor da sú-
mula, haveria diferença entre a inexistência de instância ordinária para a de instância extraordinária, o que
não encontra, data venia, qualquer fundamento.
84
“Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são inefi-
cazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.”
4 PROCESSO, PROCEDIMENTO
E ATO PROCESSUAL: O
PLANO DA VALIDADE

4.1 O ATO JURÍDICO EM GERAL E O PLANO DA VALIDADE

Tal como destacado antes (item 3.2), o exame da validade do ato jurídico sucede
ao da sua existência.1
A validade constitui uma qualidade, de válido, que se atribui ao ato por estar
em conformidade com as exigências da ordem jurídica,2 tomada essa expressão na
maior amplitude possível.3 Em outras palavras, a validade é sinônimo de perfeição,

1
Como destaca Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: “O ato jurídico nulo é ato jurídico deficitário, mas
é ato jurídico” (Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 54). No mesmo sentido Zeno
Veloso: “O inválido existe. Representa algo que entrou no mundo jurídico, que é, embora não valha ou não
possa valer” (Invalidade do negócio jurídico, Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 24).
2
A identificação da validade com uma situação de adequação ou conformidade do ato em relação ao
previsto pela hipótese normativa é corrente na doutrina, não importando o ramo do direito, a exemplo: De
Plácido e Silva, Vocabulário jurídico, v. IV, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 453; Antônio Junqueira de
Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 41; Antonio
Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 22; Roque Komatsu, Da
invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 34; Regis Fernandes de Oliveira, Ato administrativo, 4. ed.,
São Paulo: RT, 2001, p. 63; Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 380; e Aldacy Rachid Coutinho, Invalidade processual: um estudo para o processo do
trabalho, Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 49.
3
Ney José de Freitas, Ato administrativo – presunção de validade e a questão do ônus da prova, Belo Horizon-
te: Fórum, 2007, p. 89. Sobre o tema, assinala Daniele Coutinho Talamini: “A validade seria, então, a compa-
tibilidade do ato com as normas que integram o sistema jurídico. Em termos mais específicos, é importante
lembrar que para a validade do ato deve ser considerada não somente a observância às regras jurídicas,
mas também aos princípios jurídicos. Um ato não pode ser tido como válido se viola um princípio. Outra con-
sideração de relevo é a de que todas as normas jurídicas que disciplinam o assunto devem ser observadas
para que se tenha um ato válido, tendo-se em vista o ordenamento jurídico como um sistema” (Revogação
do ato administrativo, São Paulo: Malheiros, 2002, p. 36-37).
60 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

significando que o ato jurídico foi formado por suporte fático que não apresentou
qualquer deficiência invalidante.4 Tal qualidade, em regra, deve estar presente no
momento inicial do ato,5 mas também pode ser avaliada supervenientemente.6
Todavia, nem todo fato jurídico comporta exame no plano da validade, o qual é
reservado apenas aos atos jurídicos lato sensu (atos jurídicos stricto sensu e negócios
jurídicos), ou seja, aos atos humanos7 e, dentre esses, somente os que sejam lícitos.
Para que o ato jurídico tenha sua formação inteiramente regular, ou seja, para
que se lhe atribua validade, faz-se necessário que atenda aos requisitos prescritos
pelo ordenamento jurídico como um todo. Esses requisitos não se confundem com
os elementos essenciais que, presentes, tornam o ato existente, mas são qualidades
ou atributos que esses elementos devem ter.8 Assim, exigem-se qualidades relati-
vas ao sujeito, ao objeto e à forma da exteriorização da vontade (CC, art. 104),9 po-
dendo ainda ser exigidas outras, dependendo da natureza do ato.10
A noção de validade, portanto, exprime um juízo de valoração11 (positivo), sen-
do, pois, um conceito relacional,12 significando que determinado ato está conforme

4
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 4.
5
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 49
e Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 34.
6
Roberto de Ruggiero, Instituições de direito civil, v. 1, Campinas: Bookseller, 1999, p. 392-393.
7
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 39; Mar-
cos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 19-20; Roque
Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 34-35; Aldacy Rachid Coutinho, Invalidade
processual: um estudo para o processo do trabalho, Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 49; e João Conde Cor-
reia, Contributo para a análise da inexistência e das nulidades processuais penais, Coimbra: Coimbra Ed.,
1999, p. 87.
8
Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva,
2000, p. 41 e José Carlos Barbosa Moreira, Invalidade e ineficácia do negócio jurídico, Revista Síntese de
Direito Civil e Processual Civil, no 23, Porto Alegre: Síntese, maio/jun. 2003, p. 123.
9
Sobre o tema, leciona Marcos Bernardes de Mello: “podemos classificar os pressupostos de validade dos
atos jurídicos em três categorias, quanto: (a) ao sujeito; (b) ao objeto; e (c) à forma da exteriorização da von-
tade. (a) A primeira categoria se refere ao problema da manifestação da vontade, visando a resguardá-la
em relação à sua consciência e autenticidade. Tem cunho protectivo das pessoas e de seu patrimônio. (b) A
segunda tem por fundamento a consonância do ato jurídico com o direito ou com a natureza das coisas,
considerando-se aí a ilicitude, a moralidade, a determinabilidade e a possibilidade do seu objeto. (c) E,
finalmente, a terceira se baseia no pressuposto de que certos atos jurídicos, pela sua relevância, devem ser
praticados segundo solenidades especiais e obedecendo a determinada forma capaz de melhor documen-
tar a conclusão do negócio, facilitando a sua prova” (Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São
Paulo: Saraiva, 2008, p. 20).
10
No direito administrativo, por exemplo, costuma-se apontar o seguinte elenco dos requisitos de valida-
de: subjetivo (sujeito); objetivo (motivo e requisito procedimental); teleológico (finalidade); lógico (causa) e
formalístico (Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros,
2008, p. 389-405 e Vladimir da Rocha França, Estrutura e motivação do ato administrativo, São Paulo: Malhei-
ros, 2007, p. 73).
11
Alejandro Nieto, Estudio preliminar na obra de Margarita Beladiez Rojo, Validez y eficacia de los actos ad-
ministrativos. Madrid: Marcial Pons, 1994, p. 10.
12
André Luiz Freire, Manutenção e retirada dos contratos administrativos inválidos, São Paulo: Malheiros, 2008,
p. 67.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 61

o respectivo esquema ou modelo legal.13 No entanto, essa noção será sempre relativa,
variando conforme os critérios que norteiam o sistema jurídico.14

4.2 INVALIDADE: TERMINOLOGIA


Além do que já foi apontado no item 3.1, o plano da validade apresenta diver-
gências terminológicas próprias.
O dissenso fica por conta ora do emprego da expressão nulidade ora da utiliza-
ção da palavra invalidade para referir-se à situação oposta à validade. Os que preferem
aquela, fazem-no em homenagem à tradição, entendendo que a expressão já se en-
contra consagrada, especialmente no âmbito legal;15 os que preferem esta, fazem-no
ressaltando ser ela mais abrangente, caracterizando o gênero que engloba as nulida-
des e as anulabilidades.16 Sendo assim, daqui para frente, utilizar-se-ão as expressões
invalidade e nulidade como se fossem sinônimas.
Também não há consenso quanto ao uso das expressões nulidades absolutas, nu-
lidades relativas e as anulabilidades.17 No âmbito do processo civil, que interessa ao
presente estudo, há quem as adote com sentidos distintos,18 quem as reconheça em
parte19 e quem as repudie por completo.20

13
João Conde Correia, Contributo para a análise da inexistência e das nulidades processuais penais, Coim-
bra: Coimbra, 1999, p. 87.
14
Como assinala João Conde Correia, “não se pode duvidar da validade de uma acção civil julgada
à revelia, mas o mesmo já não se poderá dizer de um acto semelhante, realizado em processo crime”
(Contributo para a análise da inexistência e das nulidades processuais penais, Coimbra: Coimbra Ed., 1999, p. 89).
A esse respeito, assinala Marcos Bernardes de Mello: “A definição das regras sobre a validade dos atos jurí-
dicos e, por decorrência, sobre as invalidades, embora resulte de uma atividade axiológica, valorativa, tem
cunho predominantemente, dogmático, o que faz com que variem de legislação a legislação, no tempo e
no espaço” (Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 7).
15
É o caso, por exemplo, de Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São
Paulo:  RT, 2004, p. 146 e José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasi-
leiro, Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 125.
16
Neste sentido, entre outros: Ernesto E. Nieto Blanc, Nulidad em los actos jurídicos, 2. ed., Buenos Aires: Ad-Hoc,
2005, p. 25; Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva,
2008, p. 5, nota 4; Zeno Veloso, Invalidade do negócio jurídico, Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 27; e Antonio
Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 16.
17
Por todos, ver Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo:
Saraiva, 2008, p. 61-65.
18
É bastante conhecida, divulgada e seguida a sistematização de Galeno Lacerda, que adota tais expres-
sões (Despacho saneador, 3. ed., Porto Alegre: Sergio Fabris, 1990, p. 126-127).
19
Teresa Arruda Alvim Wambier utiliza a expressão anulabilidade como sendo sinônimo de nulidade relativa
(Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 197-204), enquanto Cândido Rangel
Dinamarco nega a existência de atos anuláveis em direito processual e se refere, apenas, a nulidades abso-
lutas e relativas (Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 588-592). Por sua vez,
Giovanni Conso prefere o uso das expressões anulabilidade e nulidade (Il concetto e le specie d’invalidità,
Milano: Giuffrè, 1972, p. 82-83).
20
Por exemplo: José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades
processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 141-142 e José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio,
Nulidades no processo civil brasileiro, Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 125.
62 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

4.3 NOÇÃO DE INVALIDADE

Embora pareça possível conceituar invalidade como o inverso da validade, isto


é, fundando-a na imperfeição do ato que se apresenta desconforme com o ordena-
mento jurídico, tal solução se apresenta muito simplista e é insuficiente para definir
o fenômeno.21
Destarte, nem todo ato viciado deve ser reputado inválido, pois alguns defeitos
em absoluto acarretam a invalidação.22 É o caso, por exemplo, de um ato considera-
do irregular, aquele cuja imperfeição não acarreta prejuízo à sua finalidade23 e, por
isso, não interfere na validade do ato.24
Na verdade, em que pese a noção de invalidade estar atrelada à não conformida-
de entre o ato praticado e o seu paradigma normativo,25 diz-se que essa imperfeição
deve ser qualificada,26 o que faz ressaltar a interação entre três aspectos: a conduta
concreta, a norma e a atividade da autoridade legitimada para proceder a essa ava-
liação.27 Vale dizer, reputar um ato como inválido exprime um juízo depreciativo
(negativo), que identifica um estado patológico28 no confronto entre o ato realizado
e a respectiva norma jurídica, estado que poderá ensejar sua ineficácia ou sua cor-
reção mediante a repetição, ratificação ou retificação do ato. Portanto, tal como na

21
O alerta já fora feito por Giovanni Conso, Il concetto e le specie d’invalidità, Milano: Giuffrè, 1972, p. 61.
22
Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 42; Gabriel H.
Di Giulio, Nulidades procesales, Buenos Aires: Hammurabi, 2005, p. 102; Ricardo Marcondes Martins, Efeitos
dos vícios do ato administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 144-145.
23
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 129-131. Para Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, a irregularidade “é defeito que
não diz respeito a requisito estrutural do ato (que não atinge a eficiência do suporte fático), mas tão somente
a conduta infringente de norma instituidora de dever ao sujeito agente” (Para um conceito de irregularida-
de processual, Saneamento do processo – Estudos em homenagem ao Prof. Galeno Lacerda, Porto Alegre:
Sergio Fabris, 1989, p. 103). Roque Komatsu segue este mesmo entendimento (Da invalidade no processo civil,
São Paulo: RT, 1991, p. 166-168).
24
Embora tratando de ato irregular no plano administrativo, Ricardo Marcondes Martins tece ensinamentos
aplicáveis ao ato processual: “O ato editado permanece no sistema com o vício, sem a necessidade de edi-
tar outro ato jurídico, administrativo ou jurisdicional, para o saneamento. O vício, no que tange à manuten-
ção do ato, é simplesmente ignorado. Isso ocorre em algumas hipóteses em que o sistema jurídico considera
a contrariedade ao Direito de pouca ou nenhuma gravidade” (Efeitos dos vícios do ato administrativo, São
Paulo: Malheiros, 2008, p. 270).
25
Enquanto no caso de inexistência se falou em ausência de elemento considerado essencial à própria
constituição do ato, isto é, na falta do suposto fático descrito na norma; na invalidade tem-se a composição
deficitária do suporte fático previsto na norma.
26
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 129.
27
João Conde Correia, Contributo para a análise da inexistência e das nulidades processuais penais, Coim-
bra: Coimbra Ed., 1999, p. 87-88.
28
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990,
p. 43. A invalidade, portanto, não se identifica com o vício. Este é antecedente necessário e deve ser suficien-
te para a decretação da invalidade.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 63

validade, a noção de invalidade será sempre relativa, variando conforme os critérios


que norteiam o sistema jurídico.29
Por força dessa avaliação é que parte da doutrina identifica a invalidade com o
estado consequente ao juízo de valor negativo feito pela autoridade competente.30 É
mesmo possível concluir que, enquanto, no direito privado, a nulidade pode decor-
rer apenas do texto legal, no âmbito do direito público sempre dependerá de uma
decisão da autoridade competente que a reconheça.
Em última análise, o reconhecimento da nulidade de um ato viciado é uma for-
ma de proteção e defesa do ordenamento jurídico vigente.31

29
Giovanni Conso assinala que as espécies de invalidade variam de ordenamento para ordenamento e,
em cada ordenamento, de ramo para ramo se tem uma teoria da invalidade em correspondência a cada
setor que preveja esquemas, não sendo tratadas do mesmo modo as imperfeições dos vários esquemas:
assim, por exemplo, uma teoria da invalidade dos atos processuais penais, uma teoria da invalidade dos atos
processuais civis, uma teoria dos atos administrativos e assim por diante, com a possibilidade de subdivisão
em vários subcapítulos, em correspondência com certas categorias mais importantes de atos e em razão
dos tratamentos particulares: teoria da invalidade dos negócios jurídicos, dos contratos, do casamento, da
sentença etc. E, em cada espécie, a teoria da invalidade deve estudar as causas, para nos dizer quando
esta espécie se verifica, e as consequências, para nos dizer qual é a sorte que deriva do ato (Il concetto e le
specie d’invalidità, Milano: Giuffrè, 1972, p. 57-58).
30
Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 43; Antonio Car-
los de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do processo, 23. ed.,
São Paulo: Malheiros, 2007, p. 364; Carlos Alvaro de Oliveira, Notas sobre o conceito e a função normativa da
nulidade, Saneamento do processo – estudos em homenagem ao Prof. Galeno Lacerda, Porto Alegre: Sergio
Fabris, 1989, p. 134; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 206 e 280; Hum-
berto Theodoro Júnior, As nulidades no Código de Processo Civil, Gênesis Revista de Direito Processual Civil, no
5, Curitiba: Gênesis, maio/ago. 1997, p. 379; Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro:
Aide, 2000, p. 19; Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros,
2001, p. 586-587; Vallisney de Souza Oliveira, Nulidade da sentença e o princípio da congruência, São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 210; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São
Paulo: Malheiros, 2006, p. 432; Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, Código de processo civil comentado
artigo por artigo, São Paulo: RT, 2008, p. 238; e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio
de Janeiro: Forense, 2009, p. 26. José Joaquim Calmon de Passos define nulidade como sendo uma desquali-
ficação determinada pelo sistema jurídico e explica: “Desqualificação, porque a nulidade não é algo ínsito à
própria conduta juridicizada, sim o resultado de um juízo constitutivo do agente político legitimado para essa
função, que retira, na espécie, a imputabilidade do suposto” (Esboço de uma teoria das nulidades aplicada
às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 38). E, mais adiante, este último autor arremata: “A
nulidade não é o pronunciamento do magistrado, é exato, mas constitui-se com ele, nasce com ele, surge
com ele e somente existe depois dele. (...) O que tem relevo, isso sim, e antecede a decretação da nulidade,
é o juízo sobre a repercussão da imperfeição do ato no pertinente ao fim que lhe destinou o sistema, dele
resultando a necessidade ou desnecessidade da cominação de sua nulidade” (op. cit., p. 139-140). Sobre
o tema, interessante a observação de Alejandro Nieto: “La invalidez no es, en definitiva, condición suficiente
para la nulidad del acto (puesto que hay, tal como acabamos de ver, actos inválidos que no son nulos); pero
es, desde luego, causa necesaria, puesto que no puede declararse la nulidad – o anularse el acto – sin una
invalidez previa. La nulidad implica la expulsión del acto del mundo jurídico. Consiste, en otras palabras, en la
declaración realizada por el órgano adecuadamente competente de que un acto no existe o que ha dejado
de existir. La nulidad no es, pues, un efecto automático – o una consecuencia necesaria – de la invalidez, sino
que sólo se produce cuando media una declaración expresa de un órgano competente” (“Estudio preliminar”
na obra de Margarita Beladiez Rojo, Validez y eficacia de los actos administrativos. Madrid: Marcial Pons, 1994,
p. 23). No mesmo sentido, ainda, Alberto Luis Maurino, Nulidades Procesales, 2. ed., Buenos Aires: Astrea, 2001,
p. 20 e Gabriel H. Di Giulio, Nulidades procesales, Buenos Aires: Hammurabi, 2005, p. 136.
31
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo curso de direito civil, v. 1, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 383.
64 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

4.4 INVALIDADE É SANÇÃO?


Definir a invalidade como sanção é outra polêmica ainda não apaziguada no âm-
bito doutrinário,32 não obstante a discussão tenha reduzido interesse teórico e ne-
nhum interesse prático.33
Observando-se a querela, se se tomar que o núcleo da discussão relaciona-se
com a ideia de que, uma vez constatada a invalidez do ato, a sanção seria inibir a sua
eficácia, é de se concluir que a invalidade não seria sanção, pois é assente que nem
todo ato inválido é ineficaz, assim como o ato inválido é apto a produzir efeitos im-
próprios34 (entendidos como diversos dos tipicamente previstos). Portanto, tomar a
sanção de nulidade como ineficácia é confundir o ato com seus efeitos.35
De outro lado, se se reconhecer que a sanção tem um caráter mais amplo, de ili-
citude (violação ao ordenamento jurídico), podendo a norma jurídica ainda arrolar
outras consequências distintas da ineficácia pelo descumprimento dos requisitos exi-
gidos, parece defensável o caráter de sanção da invalidade.36
Como se percebe, portanto, conforme for a posição do intérprete em relação à
compreensão do significado de sanção, pode ou não ser admitida a invalidade como tal.

4.5 GRAUS DE INVALIDADE


Ao se reconhecer a existência de nulidades e anulabilidades, na verdade, não se
está sugerindo que a invalidade possui graus, mas, sim, que o sistema jurídico admite

32
Roque Komatsu relaciona ampla bibliografia a respeito da querela, apontando os que defendem e negam
o caráter de sanção da invalidade no plano processual, filiando-se ao entendimento de que a invalidade
não é sanção (Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 181-189). Acerca do tema, vale conferir
Carlos Alvaro de Oliveira, Notas sobre o conceito e a função normativa da nulidade, Saneamento do proces-
so – estudos em homenagem ao Prof. Galeno Lacerda, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 131-139 e Aldacy
Rachid Coutinho, Invalidade processual: um estudo para o processo do trabalho, Rio de Janeiro: Renovar,
2000, p. 107-121.
33
Segundo Hélio Tornaghi a questão de saber se a nulidade é pena, ou não, carece de importância (Comen-
tários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 230).
34
Eduardo de Avelar Lamy fala em efeitos impróprios (Princípio da fungibilidade no processo civil, São Paulo:
Dialética, 2007, p. 57), enquanto Oswaldo Aranha Bandeira de Mello (Princípios gerais de direito administrati-
vo, 3. ed., v. 1, São Paulo: Malheiros, 2007, p. 664); Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de direito adminis-
trativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 381) e Teresa Arruda Alvim Wambier (Nulidades do processo e
da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 142) utilizam a expressão efeitos indiretos ou atípicos.
35
Sobre o tema, leciona Tito Prates da Fonseca: “A nulidade está no ato e não nos efeitos, embora estes se
considerem, para determinar a gravidade da imperfeição ou do vício. (...) Por isso prefiro dizer que a nulidade
é a falha do ato, que lhe afeta a validade jurídica, e não uma simples sanção legal. A locução ‘sob pena
de nulidade’ significa que a lei considera de tal importância o vício ou defeito do ato, que lhe dá a virtude
de causar um estado de nulidade, pelo qual o ato deixa de produzir seus efeitos” (As nulidades em face do
Código de Processo Civil, São Paulo: Freitas Bastos, 1941, p. 54). Fábio Luiz Gomes segue este entendimento
(Teoria geral do processo civil, São Paulo: RT, 1997, p. 225).
36
Marcos Bernardes de Mello depois de analisar as objeções apontadas pela doutrina que recusa o caráter
de sanção à nulidade, defende ser a invalidade sanção (Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São
Paulo: Saraiva, 2008, p. 52-59). Sobre sanção, ver Daniel Ferreira, Sanções administrativas, São Paulo: Malheiros,
2001, passim.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 65

reações distintas para repelir as várias hipóteses de invalidade.37 Realmente, não é


possível reconhecer existir uma progressiva gradação de vícios, pois estes não com-
portam uma clara e precisa definição de seus limites nem no plano doutrinário nem
no plano legal.38
Assim, tem-se entendido que, na nulidade, a reação é “mais enérgica, acarre-
tando, entre outras consequências, em geral, a ineficácia erga omnes do ato jurídico
quanto a seus efeitos próprios, além da insanabilidade do vício, salvo exceções bem
particularizadas”, enquanto, na anulabilidade, a reação é mais branda, visto que “os
efeitos são relativizados às pessoas diretamente envolvidas no ato jurídico, o qual
produz sua eficácia específica, integralmente, até que sejam desconstituídos, o ato e
seus efeitos, mediante impugnação em ação própria, podendo o ato ser convalidado
pela confirmação ou pelo transcurso do tempo”.39

4.6 ESPÉCIES DE INVALIDADE40

A invalidade pode ser, quanto à sua abrangência, total, quando alcança todo o
ato jurídico, ou parcial, quando apenas parte do ato é afetada pela invalidez.
Quanto ao tipo de norma violada, a invalidade será material, quando a viola-
ção for de norma de direito material, que diz respeito ao conteúdo do ato jurídi-
co; e será formal, quando a violação resultar de norma sobre a forma exigida para
o ato.
Por sua vez, quanto à necessidade de ser alegada, a invalidade pode ser de ple-
no direito, quando, dado o interesse de ordem pública, puder ser alegada por qual-
quer interessado, aceitando-se, inclusive, que seja decretável pelo juiz de ofício; ou
dependente de alegação, quando, dada a predominância do interesse particular, so-
mente o interessado tem interesse em alegá-la, exigindo, pois, provocação para que
seja decretada.

37
Esclarece Celso Antônio Bandeira de Mello: “Não há graus de invalidade. Ato algum em Direito é mais
inválido do que outro. Todavia, pode haver e há reações do Direito mais ou menos radicais ante as várias
hipóteses de invalidade. Ou seja: a ordem normativa pode repelir com intensidade variável atos praticados
em desobediência às disposições jurídicas, estabelecendo, destarte, uma gradação no repúdio a eles”
(Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 451). No plano do processo civil,
adota este entendimento Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 591.
38
Sobre o tema, ver Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009,
p. 81-93.
39
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 60-61.
40
Acerca do assunto, adotam-se integralmente as lições de Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídi-
co – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 69-79.
66 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

4.7 A VALIDADE NO PLANO PROCESSUAL: OS REQUISITOS


PROCESSUAIS DE VALIDADE

No plano processual, é possível analisar a validade do procedimento e do ato


processual. Não se pode discutir a validade do processo e da relação jurídica proces-
sual, pois eles apenas existem ou não existem, carecendo de utilidade perquirir se são
válidos ou não.
Na verdade, a relação jurídica processual é um fato e, como tal, basta constatar
se ela existe ou não.41 Quanto ao processo, se ele existiu, basta saber se produziu ou
não os efeitos esperados. A maioria dos requisitos comumente apontados como ati-
nentes à validade do processo correspondem à validade ou à eficácia do procedimen-
to ou do ato processual.
Com efeito, enquanto os pressupostos processuais de existência são necessários
para o próprio nascimento do processo, os requisitos de validade são exigidos, se-
gundo a doutrina,42 para que o processo possa desenvolver-se até alcançar seu esco-
po, isto é, atestar a validade do processo seria constatar sua aptidão para a prolação
da decisão sobre o objeto posto sob apreciação.43
Para isso, tradicionalmente, a doutrina aponta como requisitos de validade do
processo:44 a) competência (absoluta) do juízo; b) imparcialidade do juiz; c) ca-
pacidade e legitimidade processual das partes; d) petição inicial regular; e) citação
válida; f) inexistência de fatores extrínsecos ao processo, tais como, perempção,
litispendência, coisa julgada material, convenção de arbitragem etc.45 Também
tem-se sugerido agrupar esse rol em requisitos subjetivos (competência e impar-
cialidade do juiz e capacidades processual e postulatória das partes), objetivos po-
sitivos ou intrínsecos (o respeito ao formalismo processual: petição regular, citação
válida, adequação do procedimento) e objetivos negativos ou extrínsecos (a ausên-
cia de fatos impeditivos: perempção, litispendência, coisa julgada material e con-
venção de arbitragem).46

41
Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 107. Paula Cos-
ta e Silva também conclui que o processo é um fato (Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 98-128).
42
Crisanto Mandrioli, Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappichelli, 1995, p. 41 e José Roberto
dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 212.
43
Segundo Luís Eulálio de Bueno Vidigal, essa concepção deve ser atribuída a Chiovenda e encontra eco
na doutrina nacional (Pressupostos processuais e condições de ação, Revista de Direito Processual Civil no 6,
São Paulo: Saraiva, jul./dez. 1962, p. 7). Ver, também, Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições
da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 41.
44
Apenas lembrando, a doutrina costuma designar como pressupostos processuais de validade.
45
Por todos, ver Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT,
2004, p. 49-50.
46
José Orlando Rocha de Carvalho, Teoria dos pressupostos e dos requisitos de validade, Rio de Janeiro: Lu-
men Juris, 2005, p. 129 e Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva,
2005, p. 110. A referência a intrínsecos ou extrínsecos é de Galeno Lacerda, Despacho saneador, 3. ed., Porto
Alegre: Sergio Fabris, 1990, p. 61.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 67

Deveras, ao se referir a processo inválido está a se reconhecer que um desses re-


quisitos não foi respeitado, originária ou supervenientemente, e caso essa desconfor-
midade acarrete prejuízo ao desenvolvimento regular do processo, ela impede (ou
deveria impedir) o seu próprio prosseguimento e a consequente prolação de sentença
de mérito, podendo até, ser o caso da extinção do processo sem resolução de mérito
(CPC, art. 267, IV).47
Sem embargo da valia que tal entendimento já proporcionou à ciência proces-
sual, impõe-se evoluir e abandoná-la. Parece mais coerente e adequado entender que
basta a existência de órgão investido de poder jurisdicional para que processo exista e
seu desenvolvimento apenas diz respeito ao ato processual, tomado de forma isolada
ou em conjunto (procedimento). Ou seja, os requisitos apontados não qualificam e
dão validade ao processo, mas, em parte, emprestam validade ou eficácia ao procedi-
mento ou ao ato processual. Os que tocam a validade, seriam melhor definidos como
requisitos meramente procedimentais de validade.48
Como se demonstrará adiante, os requisitos ditos objetivos negativos ou extrín-
secos dizem respeito à eficácia do procedimento (item 5.8) e a competência e a im-
parcialidade do juiz são fatores de eficácia do ato processual judicial (item 5.9). Daí
a razão por ter dito que apenas, em parte, alguns desses requisitos devem ser consi-
derados de validade procedimental.

4.7.1 A validade do procedimento


Em larga medida, a validade do procedimento depende de que os atos que o
formam sejam fiéis às exigências qualitativas dos seus elementos essenciais (sujei-
to, objeto e forma), permitindo, assim, que o procedimento se desenvolva de for-
ma legítima e regular, especialmente com respeito ao contraditório, concretizando

47
Acerca dos requisitos de validade do processo, assevera José Orlando Rocha de Carvalho: “estes, conse-
quentemente, não se submeteriam, de logo, a um decreto extintivo do feito, mesmo que constatada a sua
ausência. Sua apreciação judicial seria feita em idênticos moldes com que se examina a matéria processual
relativa às nulidades, ou seja, sujeita a seus princípios e suas vicissitudes e os consectários decorrentes do
decreto judicial que apreciassem, tais requisitos, teriam a natureza que fosse determinada pelo vício objeto
da verificação jurisdicional” (Teoria dos pressupostos e dos requisitos de validade, Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 159). José Roberto dos Santos Bedaque defende a ideia de que “embora defeituoso, o instrumento
pode atingir o resultado desejado. Sustenta-se a possibilidade de a ausência de pressuposto processual não
levar, de forma inexorável, à extinção do processo sem julgamento do mérito. Propõe-se seja conferida à
regra do art. 249, §§ 1o e 2o, do CPC abrangência muito maior do que normalmente se lhe atribui. Para tanto,
busca-se a razão de ser das exigências formais do processo, o que torna possível ignorar os defeitos que, por
não comprometerem valores substanciais do instrumento, tornaram-se irrelevantes” (Efetividade do processo
e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 207). Também para Fredie Didier Jr., que entende ser
o juízo de admissibilidade do procedimento de validade, é preciso verificar o binômio defeito + prejuízo e,
como tal, admite eventual defeito do procedimento possa ser ignorado e o mérito enfrentado (Pressupostos
processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 28-30).
48
A expressão foi retirada de Michele Fornaciari, Presupposti processuali e giudizio di merito, Torino: Giappi-
chelli, 1996, p. 7.
68 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

a cooperação das partes e do próprio juiz para o resultado desejado.49 Em outras


palavras, a falta ou a irregularidade na realização de algum dos atos da cadeia proces-
sual poderá comprometer a validade da fase na qual o ato está incluso ou do proce-
dimento dali em diante, especialmente do ato final dele derivado.50 Em verdade, a
rigor, não pode haver a nulidade de todo o procedimento.51
Mas a validade do procedimento não depende somente da perfeição de cada ato
processual isolado, pois cada vez mais se toma o procedimento como unidade, em
que é relevante o contexto global dos atos. Com efeito, os atos processuais não são
isolados, mas se inserem na cadeia do procedimento que se vai construindo em seu
movimento próprio, mediante a participação dos sujeitos que nele atuam.52 Nessa
perspectiva, um ato tomado isoladamente pode revestir-se de todos os requisitos de
validade, mas pode ser inválido no procedimento.53 Assim, a validade do procedi-
mento também poderá ser questionada quando, por exemplo, houver a supressão de
uma série de atos do processo ou de uma fase do processo; ou quando houver a in-
versão da ordem processual; ou diante da adoção de outro procedimento diferente,
seja mais amplo ou mais reduzido.54
Destarte, durante o desenvolvimento do processo, podem surgir pequenos ou
grandes desvios no rito preestabelecido na norma processual, ensejando, portan-
to, diversidades entre o realizado e o estabelecido. Tais diferenças ou atipicidades,

49
Acerca da noção de cooperação, ver Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Poderes do juiz e visão cooperativa
do processo, Gênesis Revista de Direito Processual Civil no 27, Curitiba: Gênesis, jan./mar. 2003, p. 22-51; Lúcio
Grassi de Gouveia, Cognição processual civil: atividade dialética e cooperação intersubjetiva na busca da
verdade real, Revista Dialética de Direito Processual no 6, São Paulo: Dialética, set. 2003, p. 47-59; e Fredie Di-
dier Jr., O princípio da cooperação: uma apresentação, RePro no 127, São Paulo: RT, set. 2005, p. 75-79.
50
Ao enfrentar o tema, Cândido Rangel Dinamarco assinala que a nulidade de um ato pode propagar-se a
outros, em si mesmos sadios, mediante um processo de contaminação. Segundo o autor, tal é o efeito expan-
sivo das nulidades (Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 598).
51
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 41. Não é demais lembrar
que o procedimento existe a partir do início do processo, por provocação da parte interessada ou pelo juiz.
As causas de indeferimento da inicial não são causas de nulidade e ainda que acarretem a extinção sem
resolução de mérito, inegavelmente o procedimento terá existido validamente. Tal como já assinalava Fran-
cisco de Paula Batista, as nulidades não compreendem os atos anteriores ao ato nulo (Compêndio de teoria
e prática do processo civil, São Paulo: Russel, 2002, p. 99.
52
Sobre o tema, destaca Aroldo Plínio Gonçalves: “Na cadeia do procedimento, um ato, considerado
isoladamente, separado da estrutura em que se integra pode obedecer à forma para ele prescrita, mas
situado como um elo do processo, pode ser atingido pela falta de um pressuposto, que não é requisito
de sua constituição isolada, mas que está na regularidade de outro ato, por vezes até distante, realizado
no procedimento. A regularidade do ato processual supõe a observância de seu pressuposto e de seus
requisitos, exatamente porque cada um dos atos do processo está inserido em uma cadeia de atividades
voltadas para um objetivo único, o ato final, que é a sentença” (Nulidades do processo, Rio de Janeiro:
Aide, 2000, p. 37).
53
Fala-se em nulidade em cascata ou por derivação ou por contaminação, sendo frequente a referência à
consagrada teoria dos frutos da árvore venenosa. Segundo Cândido Rangel Dinamarco, trata-se do efeito
expansivo das nulidades (Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 598-599).
Assim, por exemplo, uma sentença pode ser em si perfeita, mas por alguma invalidade anteriormente ocorri-
da no procedimento, poderá ser tornada nula.
54
Os exemplos são de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes
Filho, As nulidades no processo penal, 2. ed., São Paulo: RT, 1992, p. 196.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 69

decorrentes de acréscimos, desvios, reduções e omissões de atos, podem constituir


vícios procedimentais em desrespeito ao devido processo legal. Essas desobediências
às regras procedimentais representam ofensa ao direito das partes de ver ser observa-
do o tipo de procedimento aplicável ao caso, ou ao direito a que não sejam suprimi-
dos atos ou fases do procedimento, ou ao direito à ordem dos atos e fases.55
Não é demais lembrar (item 2.10) que o procedimento não é posto no interesse
das partes, mas tendo em vista os interesses de justiça do processo;56 de sorte que sua
forma está intimamente ligada às garantias constitucionais do processo, motivo pelo
qual deve existir um esforço dos sujeitos, especialmente do juiz, para que seja velada
a regularidade do processo57 ou a ordem pública processual58 e, em caso de infração
às normas que regulam a ordem procedimental, deve ser avaliado até que ponto a
validade do procedimento foi comprometida.
O diploma processual civil estabelece regra sobre nulidade em virtude de ofensa
ao procedimento que pode ser assim enunciada (CPC, art. 250):59 seja lá qual for a
violação ao procedimento verificada, caso não seja possível adaptá-la, somente causa-
rá a nulidade se do vício decorrer prejuízo às partes.
Como se percebe, deve-se sempre praticar atos que visem corrigir os erros verifi-
cados no procedimento para adaptá-lo ao correto esquema procedimental.
Logo, a adequação do procedimento, considerado como requisito de validade
objetivo positivo ou intrínseco é, na verdade, requisito de validade do procedimento
e não do processo.

55
Antonio Scarance Fernandes, Teoria geral do procedimento e o procedimento no processo penal, São
Paulo: RT, 2005, p. 63-64.
56
José Joaquim Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1998, p. 232.
57
Ao avaliar o erro de procedimento no processo penal, Antonio Acir Breda assevera: “O tipo de procedi-
mento é, aliás, tratado na doutrina como um pressuposto de validade da relação processual. Nem poderia
ser diferente, pois o juiz só pratica atos jurisdicionais através do processo, e este pressupõe um procedimento
adequado. O processo compreende uma relação jurídica entre juiz, autor e réu, mais um determinado tipo
de procedimento. A relação processual não se forma, validamente, sem um tipo legal de procedimento” (O
erro de procedimento no processo penal, Revista do Instituto dos Advogados do Paraná no 21, 1993, p. 119).
58
A expressão é de Leonardo Greco e significa “o conjunto de requisitos dos atos processuais, impostos de
modo imperativo para assegurar a proteção de interesse público precisamente determinado, o respeito a
direitos fundamentais e a observância de princípios do devido processo legal, quando indisponíveis pelas
partes” (Os atos de disposição processual – primeiras reflexões, in: Os poderes do juiz e o controle das de-
cisões judiciais – Estudos em homenagem à Professora Teresa Arruda Alvim Wambier, coord. José Miguel
Garcia, Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz, Luís Otávio Sequeira de Cerqueira e Luiz Manoel Gomes Junior,
São Paulo: RT, 2008, p. 293).
59
Egas D. Moniz de Aragão esclarece que a expressão “erro de forma do processo” contida no referido dispo-
sitivo legal diz respeito ao procedimento: “O vício, a que o dispositivo alude, decorre da escolha ou emprego
de procedimento inadequado, incidindo, então, o princípio da conversão, para corrigir o erro” (Comentários
ao Código de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 295). A regra é repetida, como, por
exemplo, se observa na hipótese do inciso V do art. 295 do CPC, relativamente ao indeferimento da petição
inicial. Estabelece-se que, em caso de escolha do procedimento inadequado, somente será caso de indefe-
rimento quando a adaptação do tipo escolhido ao tipo legal não puder ocorrer.
70 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

4.7.2 A validade do ato processual


Para que seja reputado válido, o ato processual deverá obedecer às exigências
qualitativas dos seus elementos essenciais: sujeito, objeto e forma.60
Vários são os sujeitos que podem atuar no âmbito do processo: o juiz, as partes,
os auxiliares da justiça, os terceiros, o agente do Ministério Público. Quanto ao juiz,
exigem-se-lhe duas qualidades: ser competente e ser imparcial,61 as quais, como se verá
adiante (item no 5.9), têm influência sobre a eficácia do ato judicial e não quanto a sua
validade, pois tais fatores não se identificam com a estrutura executiva (intrínseca) do
ato, mas sim com seus efeitos externos. Logo, a validade do ato judicial independe da
análise do sujeito que o pratica, devendo apenas se analisar seu objeto e forma.
No que respeita às partes, aos terceiros e outros (testemunha, por exemplo), a
principal qualidade exigida dos sujeitos para a realização dos atos processuais é outra:
a capacidade processual, que é a aptidão para pessoalmente praticar os atos proces-
suais, independentemente de assistência e representação. Tal capacidade pressupõe
a capacidade de ser parte, que é aquela que permite ao sujeito assumir uma situação
jurídica processual. Exige-se, ainda, para a maioria dos atos processuais, a capacida-
de postulatória, isto é, a capacitação técnica de pedir e responder.62 Convém lembrar
que no cotejo entre capacidade civil e capacidade processual, deve prevalecer esta
última como fonte de validade da realização do ato processual. Assim, por exemplo,
tanto o espólio quanto o condomínio podem realizar com a parte adversária alguma
convenção processual, tal como, estabelecer a suspensão do processo por um período
ou o adiamento de uma audiência de instrução e julgamento.63
No que se refere ao objeto do ato processual, sua análise nem sempre se dá de
maneira clara, pois, por vezes, o conteúdo do ato é considerado exigência de forma
(item 2.7).64 De modo geral, o ato será válido desde que não seja ilícito o seu ob-

60
A conformidade do ato às regras jurídicas era designada por Francesco Carnelutti como legalidade. Para
o mencionado autor, o ato seria legal se atendesse aos anseios de conveniência e de justiça. A conformidade
do ato às regras técnicas é o que chamava conveniência. Segundo ele, “a técnica ensina quais são os ca-
minhos que os homens devem seguir para adequar um ato a sua finalidade. (...) Quando é conveniente, um
ato favorece à economia; nisso está sua utilidade”. Por sua vez, entendia que a justiça do ato “é, por outra
parte, sua conformidade com às regras éticas. Quando é justo, um ato ajuda a paz; nisso está sua bondade”
(Instituições do processo civil, v. 1, Campinas: Servanda, 1999, p. 508-509).
61
Sobre o tema, ver Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005,
p. 146-165.
62
Quanto à capacidade processual e postulatória, ver Araken de Assis, Suprimento da incapacidade pro-
cessual e da incapacidade postulatória, Doutrina e prática do processo civil contemporâneo, São Paulo: RT,
2001, p. 107-159; Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005,
p. 111-131 e 134-146 e José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro,
Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 147-176.
63
José Carlos Barbosa Moreira, Convenções das partes sobre matéria processual, Temas de direito proces-
sual (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 94.
64
Acerca do tema, enfatiza Marcos Bernardes de Mello: “O ato processual não pode ser considerado apenas
pelo seu aspecto formal. Há nele, essencialmente, um conteúdo, que lhe dá substância. Sob o aspecto da
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 71

jeto (simulado ou fraudulento,65 por exemplo), assim como não contrarie a boa-fé
objetiva66 e seja possível (não se admite, por exemplo, que as partes convencionem
dispensar o juiz da observância do direito positivo e o autorizem a decidir por equi-
dade, em caso não previsto em lei, nos termos do art. 127 do CPC). Com efeito,
o diploma processual repudia a ilicitude do objeto do ato processual (por exemplo,
CPC, arts. 17, III, 129 e 485, III). Convém destacar que o conteúdo do ato pro-
cessual ganhará relevo no campo da validade, sempre que o ato constituir uma ma-
nifestação de vontade, unilateral ou bilateral (CPC, art. 158), que disponha sobre
algo (bem ou direito).67
No que respeita à forma em sentido amplo, ora a lei dispõe quais devem ser os
requisitos respeitados, ora deixa livre ao agente a forma de realização do ato. Ao se
considerar a forma como vinculada, está a se exigir do ato processual, para reco-
nhecê-lo como válido, que haja respeito à tipicidade do modelo legal. Todavia, tal
tipicidade é mitigada, pois ainda que se verifique sua realização de forma diversa da
estabelecida, tendo o ato atingido sua finalidade, será considerado válido.
Costuma-se dizer que a forma compreende o modo, o tempo e o lugar do ato68
e, portanto, a exigência de realização em momento adequado e no lugar em que
devem ser praticados é considerada requisito de validade dos atos processuais. To-
davia, tempo e lugar dos atos processuais são circunstâncias exteriores ao ato e, por

validade do ato processual, tanto a sua forma propriamente dita, a sua exteriorização, como o seu conteúdo
têm de ser levados em conta, porque constituem um conjunto inseparável. Há inseparabilidade da forma e
do conteúdo que a enche” (Teoria do fato jurídico – plano da validade, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 46).
65
Sobre o tema, ver Flávio Luiz Yarshell, Simulação e processo de execução, in Processo de execução e assun-
tos afins, coord. Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 1998, p. 226-245 e Fredie Didier Jr., Pressupostos
processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 168-169.
66
Sobre o tema, ver Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009,
p. 307 et seq.
67
Os atos negociais das partes podem ser homologados pelo juiz, ocasião em que lhe cumpre examinar a
sua validade e a sua eficácia, mediante juízo de delibação, na expressão de Cândido Rangel Dinamarco.
Segundo o autor, “são cinco os pontos que lhe cumpre verificar, mas nenhum deles referentes aos possíveis
direitos das partes: a) se realmente houve um reconhecimento, transação ou renúncia; b) se a matéria com-
porta ato de disposição; c) se os contratantes são titulares do direito do qual dispõem total ou parcialmente;
d) se são capazes de transigir; e) se estão adequadamente representados” (Instituições de direito processual
civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 268). Sobre os atos de disposição das partes no processo ver José
Carlos Barbosa Moreira, Convenções das partes sobre matéria processual, Temas de direito processual (ter-
ceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 87-98; Leonardo Greco, Os atos de disposição processual – primeiras
reflexões, in: Os poderes do juiz e o controle das decisões judiciais – Estudos em homenagem à Professora
Teresa Arruda Alvim Wambier, coord. José Miguel Garcia, Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz, Luís Otávio
Sequeira de Cerqueira e Luiz Manoel Gomes Junior, São Paulo: RT, 2008, p. 290-304 e Accordi di parte e pro-
cesso, Milano: Giuffrè, 2008, passim (especialmente o texto de Remo Caponi, Autonomia privata e processo
civile: gli accordi processuali, p. 99-119).
68
Mario Dondina, Atti processuali (civili e penali), Novissimo Digesto Italiano, I2, Roma: Vnione, p. 1517; Ovídio
A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 158 e Cândido
Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 533. Para Heitor
Vitor Mendonça Sica, a inadequação do ato processual da parte quanto ao lugar em que deveria ser prati-
cado causa sua inexistência jurídica (Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 136).
72 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

isso, não condicionam sua regular constituição,69 mas sim, seus efeitos. Assim, em
que pese possam acarretar repercussões sobre a regularidade do procedimento, não é
correto tomá-los como requisitos de validade de forma do ato, sendo melhor enqua-
drá-los como fatores de sua eficácia.70

4.8 INVALIDADE PROCESSUAL

No plano processual, as invalidades sofrem influência das construções feitas no


plano do direito civil e no plano do direito administrativo, ou seja, apresentam carac-
terísticas ora predominantes no direito privado, ora prevalentes no direito público.71
Na verdade, como se tem assinalado, “o tema concerne à teoria geral do direito –
que é aplicável tanto no direito público quanto no direito privado, tanto ao direito
material quanto ao direito processual”.72
No que respeita ao sistema de nulidades do processo civil brasileiro, dois aspec-
tos têm merecido destaque na doutrina: a) a sua dificuldade de compreensão e apli-
cação73, 74 e b) a sua importância, marcada pela expressão sobredireito processual, no

69
Neste sentido, ver Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 35.
70
Segundo Gerardo Di Masi e Juan Alberto Farias, “quando falamos de tempo dos atos processuais faze-
mos referência a dois vocábulos: oportunidade e eficácia. Como regra, a eficácia dos atos processuais
dependerá de sua realização no momento oportuno” (Manual de derecho procesal civil, dir. Omar Luis
Díaz Solimine, Buenos Aires: La Ley, 2008, p. 146). Fica, assim, respondida a primeira indagação feita ao
final do item 2.8.
71
A esse respeito, ver Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo:
RT, 2004, p. 146-166. 4
72
Eduardo Talamini, Notas sobre a teoria das nulidades no processo civil, Revista Dialética de Direito Proces-
sual no 29, São Paulo: Dialética, ago. 2005, p. 42.
73
Já ao tempo do CPC/39 a situação não era diferente, como se observa das palavras de J. M. Carvalho
Santos: “À medida que a gente mais se aprofunda no seu estudo, melhor percebe a infinita complexidade
das doutrinas, cada qual mais radical e menos precisa nos traços que lhes imprimem o cunho de uma teoria
à parte, destacada das outras, tendo-se, em suma, a impressão exata de que até agora não se adiantou
um passo para a solução definitiva do assunto” (Código de Processo Civil interpretado, v. IV, 6. ed., São Paulo:
Freitas Bastos, 1964, p. 29). Acerca das nulidades no CPC/73, eis as palavras de Egas D. Moniz de Aragão: “É
este um dos mais árduos capítulos do Código. Tanto faz que seja encarado por um outro de seus ângulos,
as dificuldades são grandes e pouco variam. Complexo para o legislador, que tem de elaborá-lo, e para
o magistrado, que tem de aplicá-lo. Penoso para uma das partes, que vê perdido o seu esforço, e para a
outra, que poderá sofrer os efeitos de um ato indevido. (...) Ninguém lhe atravessa os umbrais sem receios”
(Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 258). Para Hélio
Tornaghi: “o capítulo ‘Das nulidades’ talvez seja um dos mais pobres e infelizes do código. Não aproveita
as conclusões a que, sobre o assunto, chegou a doutrina e enseja mal-entendidos” (Comentários ao Có-
digo de processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 221). Fábio Luiz Gomes igualmente destaca: “Parodiando
SAUER, citado por CASTRO MENDES em sua clássica monografia, afirmamos que não obstante a imperiosa
necessidade de construir-se um caminho seguro e acessível a todos, as controvérsias são intermináveis”
(Comentários ao Código de Processo Civil, v. 3, São Paulo: RT, 2000, p. 23).
74
Em sentido contrário, Aroldo Plínio Gonçalves entende que “quando interpretada convenientemente sua
linguagem, sem auxílio de esquemas antigos e já superados, o sistema por ele [CPC] adotado transparece
coerente e bastante simplificado” (Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 45).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 73

sentido de preservar o ato nulo, cujo reconhecimento é bastante oneroso ao proces-


so, desde que este não acarrete prejuízo às partes e ao procedimento.75
Parece mesmo possível concluir que as vicissitudes do sistema decorrem do ma-
nifesto e inconfundível propósito político do legislador de salvar os processos, me-
diante regras jurídicas contrárias à nulidade.76
O fundamento deste propósito decorre da ideia de que a forma é necessária ao
bom desenvolvimento do processo (item 2.7), mas ela é meio e não fim em si mes-
ma, e somente deverá declarar-se a nulidade pela sua inobservância quando tiver
deixado de atingir utilmente o seu fim. Em outras palavras, os atos processuais nada
mais fazem do que configurar atividades que se destinam a um fim. Portanto, os atos
processuais não têm caráter autônomo, mas essencialmente formal, instrumental, fi-
nalístico, no sentido de que são meios, dotados de forma, com a finalidade de criar
as condições necessárias ao processo para que atinja o seu fim.77
Na verdade, o ordenamento jurídico se encontra pressionado por dois impulsos
que podem ser contrapostos: um quer que a regularidade dos atos e do procedimen-
to seja respeitada e, por isso, considera inválidos os atos que ofendem ao modelo
legal; e outro quer que o processo atinja seus fins e, por isso, mantém os atos que
podem alcançá-los. Como essas pretensões podem resultar incompatíveis, impõe-se
o sacrifício de uma em benefício da outra.78
Daí por que o sistema de nulidades é informado pelo princípio da instrumentali-
dade das formas (CPC, art. 244), que impõe a desconsideração do vício, seja lá qual
for sua natureza ou gravidade, desde que o ato não comprometa o procedimento.79
Vale dizer, tal princípio recomenda o máximo aproveitamento dos atos processuais,
orientando o julgador que a invalidação é a última opção do sistema.80

75
Já se tornou clássica a seguinte passagem de Galeno Lacerda: “o capítulo mais importante e fundamen-
tal de um Código de Processo moderno se encontra nos preceitos relativizantes das nulidades. Eles é que
asseguram ao processo cumprir sua missão sem transformar-se em fim em sim mesmo, eles é que o libertam
do contrassenso de desvirtuar-se em estorvo da Justiça. Aplicando por analogia ao direito processual um
conceito de ZITELMANN, difundido entre nós por PONTES DE MIRANDA para definir as normas de direito inter-
nacional (‘Coments. à Const. de 67’, I/92), diria que as regras sobre nulidades se integram no ‘sobredireito’
processual, porque se sobrepõem às demais, por interesse público eminente, condicionando-lhes, sempre
que possível, a imperatividade” (O Código e o formalismo processual, in: Revista da Ajuris no 28, jul. 1983,
p. 11). Ainda sobre o tema, ver Danilo Alejandro Mognoni Costalunga, A teoria das nulidades e o sobredireito
processual, Revista Forense no 344, Rio de Janeiro: Forense, out./dez. 1998, p. 3-19.
76
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. 3, 3. ed., Rio de Ja-
neiro: Forense, 1996, p. 353.
77
Moacyr Amaral Santos, Nulidades processuais, Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 55, São Paulo: Saraiva,
1980, p. 164-165.
78
Alejandro Nieto, Estudio preliminar na obra de Margarita Beladiez Rojo, Validez y eficacia de los actos
administrativos. Madrid: Marcial Pons, 1994, p. 11. No mesmo sentido, José Roberto dos Santos Bedaque, Efe-
tividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 58-61.
79
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006,
p. 441.
80
Como bem assinala Antonio do Passo Cabral: “O magistrado deve evitar ao máximo a pronúncia de nuli-
dade, procurando sempre aproveitar o ato praticado, seja preventivamente, pela inadmissibilidade e corre-
ção de atos que se verifiquem viciados, seja corretivamente, buscando salvá-los a despeito do vício (o que
74 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Na análise sobre a invalidade de um ato processual, tem-se dado ênfase a dois


elementos considerados fundamentais: a finalidade que a lei atribui ao ato e o prejuí-
zo que a violação da forma traria ao processo.81, 82
A partir disso, resulta que “é preciso construir e interpretar o sistema das nulidades
de modo a torná-lo compatível com a natureza instrumental do processo. Deve-se ele-
ger como objetivo principal a preservação dos resultados, desde que eventual vício
verificado no procedimento não comprometa a segurança proporcionada pelo méto-
do estatal de solução de litígios.”83
Na esteira do que já destacado acima (item 4.3), somente se poderá falar em inva-
lidade processual depois de uma apreciação judicial. Até a manifestação jurisdicional, o
ato pode ser desconforme ao seu modelo legal, mas jamais se pode dizê-lo nulo.84 Vale
dizer, o sistema legal trabalha com a presunção de que todo ato processual é válido até
que se decida em sentido contrário,85 de maneira fundamentada.86

pode ser feito com várias técnicas: aplicação da fungibilidade ou conversão, repetição-renovação do ato
etc.)” (Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 193).
81
Moacyr Amaral Santos, Nulidades processuais, Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 55, São Paulo: Saraiva, 1980,
p. 166. Sobre o tema, assinala José Roberto dos Santos Bedaque: “Finalidade e prejuízo são ideias fundamentais
à compreensão do sistema das nulidades processuais. Embora ambas possam representar fenômenos distintos,
sua aplicação como mecanismos de determinação da relevância, ou não, da atipicidade do ato processual
acaba por equipará-las, ao menos no que se refere aos resultados obtidos. Para verificação da nulidade, tanto
faz pensarmos em prejuízo como em finalidade. Qualquer um é suficiente para determinação do vício” (Efeti-
vidade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 437). Anota José Joaquim Calmon de
Passos que não conseguiu “distinguir prejuízo e inatingibilidade do fim. Sempre que se afirma o prejuízo, o fim do
ato deixou de ser atingido. Sempre que se declara a inatingibilidade do fim, se constata o prejuízo. Em verdade,
o nosso código de processo civil filiou-se ao sistema da finalidade da lei, somente permitindo a decretação da
nulidade quando a imperfeição conduza à inatingibilidade dos objetivos a que o ato se destinava” (Esboço de
uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 133). Inocêncio
Borges da Rosa apresenta valoroso perfil histórico acerca da valoração da finalidade e do prejuízo em matéria
de nulidades processuais (Nulidades do processo, Porto Alegre: Livraria do Globo, 1935, p. 127-141).
82
Colhem-se no STJ julgados no sentido de que o ato processual somente será nulo se a infração à forma
comprometer os fins de justiça do processo (REsp 867.042/AL, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 17/06/2008
– DJe 07/08/2008), frustrando o alcance de sua finalidade (AgRg no REsp 991.404/RS, Rel. Min. José Delgado,
Primeira Turma, j. em 08/04/2008, DJe 24/04/2008; REsp 687.115/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
j. em 28/06/2007, DJ 01/08/2007, p. 457 e REsp 332.471/SP, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, Sexta Turma, j. em
24/02/2005, DJ 30/04/2007, p. 346) ou causando prejuízo (AgRg no REsp 919.454/RS, Rel. Min. Francisco Falcão,
Primeira Turma, j. em 22/05/2007, DJ 14/06/2007, p. 272 e REsp 557.467/SC, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direi-
to, Terceira Turma, j. em 01/06/2004, DJ 21/02/2005, p. 171).
83
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros,
2006, p. 445-446.
84
Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, Código de Processo Civil comentado artigo por artigo, São
Paulo: RT, 2008, p. 238. Ou, como enfatiza Antônio Carlos Cintra do Amaral, “antes da anulação, afirmar-se
que o ato administrativo é inválido é mera questão de opinião” (Teoria do ato administrativo, Belo Horizonte:
Fórum, 2008, p. 93).
85
Antonio do Passo Cabral alcança a mesma conclusão: “existe uma preferência normativa pela validez dos
atos processuais; uma diretiva alertando que, em caso de dúvida, deve-se manter o ato e sua validade. Os atos
processuais são válidos prima facie” (Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 194). O
mencionado autor denomina o fenômeno como princípio de validez apriorística dos atos processuais.
86
Também destaca Antonio do Passo Cabral que “se o magistrado desejar infirmar a prioridade prima facie,
terá sobre ele um peso que o obriga a um esforço de justificação mais acentuado. O juiz deve ter ‘razões mais
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 75

E, para que o ato seja invalidado, embora seja necessário e importante avaliar a
conduta praticada de forma atípica, é ainda mais relevante avaliar as consequências
dessa atipicidade perante o procedimento.87 Quando a lei (CPC, art. 244) se refere à
finalidade do ato, ela deve ser tomada não apenas considerando o ato em si, mas tam-
bém no cotejo deste com os demais atos do procedimento,88 isto é, impõe-se sejam
observados quais os efeitos que esse ato atípico causou à série procedimental. Se a
repercussão demonstrar ter havido prejuízo ao devido processo legal, a nulidade se
impõe, do contrário, poder-se-á contornar ou mesmo desconsiderar a atipicidade do
ato processual verificada (por exemplo: CPC, art. 249, §§ 1o e 2o).89
Veja-se, por exemplo, a questão da atuação do representante do Ministério Pú-
blico (CPC, arts. 82 e 246). Se sua participação tem relação com a defesa de uma das
partes, sua eventual ausência não será por si só causa de decretação da invalidade do
processo, pois será o caso de perquirir se tal parte sofreu ou não algum prejuízo. Se
a nulidade não acarretou prejuízo ao interesse cuja defesa competia ao agente minis-
terial, não há porque decretá-la.90
Convém assinalar também, que toda e qualquer invalidade, mesmo aquelas
que tradicionalmente se admite o juiz conhecer de ofício, somente podem ser de-
cretadas após prévio debate com as partes,91 sob pena de violação ao princípio do

fortes’ para inverter, no caso concreto, a direção apontada pela norma” (Nulidades no processo moderno,
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 195-196).
87
Ainda que deduzida para o plano do direito administrativo, é plenamente aplicável a lição de Weida Zan-
caner: “uma classificação da teoria das invalidades dos atos jurídicos terá forçosamente que partir da aná-
lise das consequências jurídicas imputadas aos atos inválidos em um dado sistema jurídico positivo para
verificar a intensidade da reação repulsiva ou o nível de tolerância que a ordem jurídica dispensa aos atos
que lhe são desconformes” (Da convalidação e da invalidação dos atos administrativos, São Paulo: RT, 1990,
p. 84). No plano do processo, ainda que com uma fundamentação um pouco diversa, assim também conclui
Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 277-281. Sobre o
tema, explica Dante Barrios De Angelis: “la valoración consiste en determinar qué elemento o elementos del acto
valen, o no; la eficacia, cuál es la medida de la trascendencia del acto, qué efectos puede producir. La valoraci-
ón es una operación mental que determina, desde diversos puntos de vista, si el acto es perfecto o si tiene defec-
tos; la eficacia es una realidad emergente de que la ley adjudique, o no, consecuencias jurídicas al acto. Como
la eficacia depende, en modo casi exclusivo, del juicio de valor que la ley efectúa respecto del acto, se explican
los problemas de límites entre las nociones” (Teoría del proceso, 2. ed., Buenos Aires: IBdef, 2005, p. 145-146).
88
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 61-66.
89
É de se conferir as diversas situações práticas de nulidade identificadas e enfrentadas por Antonio do
Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 286 et seq.
90
José Roberto dos Santos Bedaque, Nulidade processual e instrumentalidade do processo, RePro no 60, São
Paulo: RT, out./dez. 1990, p. 31-43.
91
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Garantia do contraditório, Garantias constitucionais do processo, coord.
José Rogério Cruz e Tucci, São Paulo: RT, 1999, p. 142 et seq. e Poderes do juiz e visão cooperativa do processo, Gê-
nesis Revista de Direito Processual Civil no 27, Curitiba: Gênesis, jan./mar. 2003, p. 27-28; José Roberto dos Santos
Bedaque, Os elementos objetivos da demanda examinados à luz do contraditório, in: Causa de pedir e pedido
no processo civil, coord. José Roberto dos Santos Bedaque e José Rogério Cruz e Tucci, São Paulo: RT, 2002, p. 39;
Leonardo Greco, O princípio do contraditório, Revista Dialética de Direito Processual no 24, São Paulo: Dia-
lética, mar. 2005, p. 77; Fredie Didier Jr., O princípio da cooperação: uma apresentação, RePro no 127, São
Paulo: RT, set. 2005, p. 77-78; Daniel Francisco Mitidiero, O problema da invalidade dos atos processuais no
direito processual civil brasileiro contemporâneo, in: Visões críticas do processo civil brasileiro, Porto Alegre:
76 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

contraditório, o que tem sido tomado como outra nulidade,92 embora seja mais cor-
reto entender como uma ineficácia (item 5.8).
Como se percebe, não existe nulidade de pleno direito no sistema processual,
pois, sendo ramo do direito público, ainda que atípico o ato processual, ele existe
juridicamente e produz os efeitos normais até que o próprio Poder Judiciário o re-
conheça nulo e lhe subtraia a eficácia.93 Ademais disso, não existe defeito algum que
não possa ser corrigido dentro do processo, quer pela sua convalidação, repetição,
retificação, ratificação ou mediante sua impugnabilidade por intermédio de recurso.

4.8.1 Categorias de invalidades processuais


Também quanto à classificação das nulidades processuais controverte a doutrina
(item 4.2).94
No âmbito nacional é grande a aceitação da classificação proposta por Galeno
Lacerda,95 cujo critério distintivo é a natureza da norma violada, em seu aspecto te-
leológico. Para o mencionado autor, as nulidades absolutas decorrem da violação
das normas cogentes que tutelam o interesse público; são insanáveis e podem ser
conhecíveis de ofício ou por invocação das partes. As nulidades relativas surgem
pelo desrespeito às normas cogentes que tutelam os interesses das partes; podem ser
conhecíveis de ofício, mas são sanáveis. As anulabilidades decorrem de violação de
norma dispositiva que apenas tutela interesse das partes; são sanáveis e somente são
conhecidas mediante provocação do interessado.
Outros autores preferem reduzir a classificação apenas às nulidades absolutas
e relativas.96 Aquelas conhecíveis de ofício e insanáveis; estas apenas arguíveis pe-

Livraria do Advogado, 2005, p. 73-74; Dierle José Coelho Nunes, O princípio do contraditório: uma garantia
de influência e de não surpresa, in: Teoria do processo – panorama doutrinário mundial, coord. Fredie Didier
Jr. e Eduardo Ferreira Jordão, Salvador: JusPodivm, 2008, p. 168-170; e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no
processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 250-251.
92
Paula Costa e Silva, Saneamento e condensação no novo processo civil: a fase da audiência preliminar,
Aspectos do novo processo civil, org. Miguel Teixeira de Sousa, São Paulo: Lex, 1997, p. 263 e José Roberto
dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 484-489.
93
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 586.
Noutra oportunidade já havia escrito o mesmo autor: “não há e não pode haver, em direito público (espe-
cialmente, em direito processual), atos nulos de pleno direito. Nem seria razoável que, estando de sujeição
e sobre ele exercendo autoridade o agente estatal, pudesse o particular formular por conta própria um juízo
sobre o ato deste e decidir desconsiderá-lo porque viciado” (Litisconsórcio, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996,
p. 280-281).
94
Acerca das diversas posições, ver resenha de José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades
no processo civil brasileiro, Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 89-125.
95
Despacho saneador, 3. ed., Porto Alegre: Sergio Fabris, 1990, p. 72-73. Seguem-na, entre outros, Egas D. Moniz de
Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 259; Antonio
Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 44 et seq.; e Roque Ko-
matsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 209.
96
Neste sentido, por exemplo, Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2007, p. 325; Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed.,
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 77

las partes e sanáveis. Há quem prefira apenas falar em nulidades cominadas e não
cominadas,97 tendo em conta, portanto, a regulação ou não da nulidade pelas normas
processuais. Também há quem prefira somente atentar para o momento adequado
para a arguição do vício, tratando-o como preclusivo, rescisório e transrescisório.98
Em que pese o esforço doutrinário, calcado no sistema positivo, de catalogar as
nulidades, não há como se aceitar a existência de uma progressiva gradação de vícios
que, mesmo depois de identificados, não apresentam uma definição precisa e segura;
nem mesmo se sujeitam a um tratamento uniforme. Por isso, têm razão aqueles que
apenas tratam do gênero nulidade,99 revelando ser mais adequado aferir a nulidade à
luz do caso concreto, estimulando, portanto, a participação dos sujeitos do processo,
especialmente a do juiz.100 Nessa linha, quando muito, seria possível falar em nulida-
de sanável e insanável, o que não seria propriamente uma classificação da nulidade,
mas, sim, de sua repercussão, após decretada, nos demais atos do procedimento.101

4.8.2 Atos do juiz e atos das partes: todos são sujeitos à invalidade?
Começa a surgir no seio doutrinário102 posição no sentido de que, enquanto o
ato atípico praticado pelo juiz e seus auxiliares está sujeito à análise no plano da vali-
dade, o ato atípico das partes somente deve ser apreciado no plano da eficácia.

São Paulo: RT, 2004, p. 228-229 e 236-237; e Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido
Rangel Dinamarco, Teoria geral do processo, 23. ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 367-368.
97
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 48-52.
98
José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro, Rio de Janeiro:
Forense, 2008, p. 215 et seq.
99
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades proces-
suais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 141-142; Daniel Francisco Mitidiero, O problema da invalidade dos
atos processuais no direito processual civil brasileiro contemporâneo, in: Visões críticas do processo civil
brasileiro, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 71 e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo
moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 92-93.
100
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, O formalismo-valorativo no confronto com o formalismo excessivo, RePro
no 137, São Paulo: RT, jul. 2006, p. 19-25; Daniel Mitidiero, Colaboração no processo civil, São Paulo: RT, 2009,
p. 120-121; e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 75.
101
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais,
Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 141; Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil,
v. 1, São Paulo: Saraiva, 2007, p. 439-442; e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de
Janeiro: Forense, 2009, p. 93-94 e 191-195. Também no direito administrativo se vislumbra esse entendimento,
como se observa em Antônio Carlos Cintra do Amaral, Teoria do ato administrativo, Belo Horizonte: Fórum,
2008, p. 99; Carlos Ari Sundfeld, Ato administrativo inválido, São Paulo: RT, 1990, p. 48-49; Weida Zancaner, Da
convalidação e da invalidação dos atos administrativos, São Paulo: RT, 1990, p. 86; e Mônica Martins Toscano
Simões, O processo administrativo e a invalidação de atos viciados, São Paulo: Malheiros, 2004, p. 126-127.
102
Miguel Teixeira de Sousa, Introdução ao processo civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 100; Cândido Rangel
Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 586-588; Pedro da Silva
Dinamarco, Código de processo civil interpretado, coord. Antonio Carlos Marcato, São Paulo: Atlas, 2004,
p. 674; Daniel Francisco Mitidiero, Comentários ao Código de Processo Civil, t. II, São Paulo: Memória Jurídica,
2005, p. 387-389 e Heitor Vitor Mendonça Sica, Contribuição ao estudo das nulidades: comparação entre o
sistema de invalidades no Código Civil e no direito processual civil, in: Impactos processuais do direito civil,
coord. Cassio Scarpinella Bueno, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 191-200.
78 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Esse entendimento funda-se nas diferentes posições jurídicas que cada um des-
ses sujeitos exerce no curso da relação jurídica processual.103 Enquanto o juiz e seus
auxiliares atuam com poderes-deveres, as partes exercem, na maioria das vezes, di-
reitos, ônus e faculdades. São poucos os deveres das partes e, quando estes não são
observados, em vez de o sistema processual prever uma nulidade, comina uma pena-
lidade (pecuniária, por exemplo, em caso de litigância de má-fé ou ato atentatório à
dignidade da justiça, CPC, arts. 18 e 601, respectivamente).
Desse modo, o princípio da legalidade no âmbito do direito processual, revela-
do na cláusula constitucional do devido processo legal, vincula de modo diferente as
partes, o juiz e seus auxiliares. Estes dois últimos, no desempenho de suas funções,
devem respeitar o modelo descrito na lei, pois a forma exigida traduz segurança ju-
rídica e previsibilidade, facilitando o controle do ato judicial. Por sua vez, o ato da
parte, em última análise, visa atender ao seu próprio interesse e eventual desrespeito
ao modelo legal não lhe retira sua validade, mas, sim, torna-o inapto à produção dos
efeitos desejados. Portanto, na esteira desse pensamento, dizer que determinado ato
processual praticado pela parte foi inadmitido é dizer que ele não foi eficaz.104
Em suma: a atipicidade de um ato processual emanado de juiz ou de seus auxi-
liares poderá, conforme sua repercussão no procedimento, dar ensejo a uma nulidade
e consequente ineficácia; por sua vez, a atipicidade de um ato praticado pela parte,
redundará, quando muito, apenas numa ineficácia.
Como se percebe, há comprometimento da eficácia do ato defeituoso, seja ele
decorrente de atividade das partes ou do juízo. No entanto, ainda segundo essa par-
cela doutrinária, a diferença é que enquanto o ato judicial atípico só perderá a eficá-
cia quando outro ato judicial a excluir, depois da decretação de sua nulidade, o ato
atípico das partes será desde logo ineficaz.
Vejamos alguns exemplos mencionados por essa corrente doutrinária. Se a senten-
ça judicial se apresentar extra petita, tal nulidade poderá ser suscitada por meio de ape-
lação e, mesmo após o trânsito em julgado, mediante ação rescisória (CPC, art. 485,
V). Por sua vez, se a parte interpuser recurso inadequado à decisão recorrida, tem-se
que essa atipicidade acarretará a inadmissibilidade do recurso e não sua nulidade. O
mesmo se diga em caso de irregularidade de representação da parte: não será decreta-
da qualquer nulidade. Se o autor não atender ao chamado de regularização o processo
será extinto e, caso seja o réu que não atenda ao mesmo chamado, sua contestação não
será admitida, a partir do que será reputado revel (CPC, art. 13, I e II). Ou seja, o ato
da parte (petição inicial ou contestação) não produz os efeitos desejados.

103
Acerca do tema situações subjetivas no processo, ver José Maria Tesheiner, Situações subjetivas e proces-
so, RePro no 107, São Paulo: RT, jul./set. 2002, p. 18-23 e Paula Costa e Silva, O processo e as situações jurídicas
processuais, Teoria do processo – panorama doutrinário mundial, coord. Fredie Didier Jr. e Eduardo Ferreira
Jordão, Salvador: JusPodivm, 2008, p. 769-808.
104
Para Francesco Carnelutti, a inadmissibilidade é um tipo de ineficácia (Instituições do processo civil, v. 1,
Campinas: Servanda, 1999, p. 584). Em sentido contrário, Fredie Didier Jr., para quem o juízo de admissibili-
dade é juízo de validade (Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 28).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 79

Por todo o exposto, é inegável que a referida concepção é, no mínimo, bastante


sedutora, pois realmente parece explicar as mais diversas situações havidas no proces-
so. Todavia, tal entendimento não resiste a uma análise mais atenta.
Na verdade, tal posição confunde validade com eficácia. Como visto, a invalida-
de trata do desrespeito às regras estabelecidas para a realização do ato, estando o ato
atípico sujeito a deixar de produzir os efeitos esperados ou ter desconsiderados os
já produzidos. A eficácia é a própria aptidão do ato em produzir efeitos, o que não
guarda apenas relação de causa e efeito com a validade. Em que pese fosse ideal que
o ato processual fosse existente e válido para produzir seus efeitos jurídicos, não há
como negar efeitos ao ato processual inexistente e inválido (item 5.9).
Observando os exemplos colhidos, tem-se que a não produção dos efeitos de-
corre, ainda que implicitamente, da nulidade verificada. Com efeito, embora a legis-
lação possa não ter qualificado o ato como nulo, é inegável que o recurso somente
não foi admitido porque apresentou defeito por não ser cabível na espécie. Da mes-
ma forma, não tendo sido providenciada a regularidade de representação, o ato antes
realizado não produziu os efeitos por defeito subjetivo. Ou seja, nessas hipóteses, os
efeitos do ato foram subtraídos por força de um vício verificado, não havendo como
dissociar a ineficácia da invalidade. Nestes casos, a ineficácia é, portanto, uma conse-
quência da invalidade.105
Convém ainda destacar que não parece correto concluir que a ineficácia do ato
atípico da parte é imediata enquanto que a ineficácia do ato atípico do juiz ou de
seus auxiliares depende de outro pronunciamento judicial. Para que qualquer ato
processual inválido não produza efeitos é necessária uma decisão judicial. O recurso
interposto com defeito, por exemplo, produzirá os efeitos dele decorrentes até que
seja inadmitido pelo juízo competente.
Enfim, todo ato processual atípico, seja proveniente de atividade da parte106 ou do
juiz e de seus auxiliares está sujeito ao exame de sua validade107 e, na eventualidade de

105
Quando a doutrina enfrenta a ineficácia costuma distinguir aquela decorrente da invalidade daquela
que não guarda qualquer relação com a invalidade. Assim, alguns autores preferem designar a falta de
efeitos decorrentes de um vício como a própria nulidade e designam de ineficácia em sentido estrito quan-
do há ineficácia ainda que o negócio se apresente válido. Confira, por exemplo, Antonio Scialoja, Nullità ed
inefficacia, in: Studi di diritto privato, Roma: Bernardo Lux, 1906, p. 25 et seq.; Luigi Cariota Ferrara, I negozi
sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, 201; Massimo Ferrara Santamaría, Inefficacia e inopponibilità,
Napoli: Jovene, 1939, p. 12-17; e Renato Scognamiglio, Contributo alla teoria del negozio giuridico, Napoli:
Jovene, 1950, p. 420 et seq.
106
Também conclui pelo exame da validade dos atos postulatórios das partes, José Antônio Garrido, Breves
reflexões acerca da invalidade do ato processual postulatório, Revisitando a teoria do fato jurídico – home-
nagem a Marcos Bernardes de Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt Jr., São Paulo: Saraiva, 2010,
p. 314-335.
107
Tal como concluiu Teresa Arruda Alvim Wambier, “não se pode ter como juridicamente útil separarem-se
nulidades de atos de parte, juiz, assistentes etc. Todas, em princípio, submetem-se a um mesmo regime jurí-
dico: são nulidades do processo” (Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 168).
80 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

possuir alguma irregularidade que comprometa o regular desenvolvimento do proce-


dimento, poderá acarretar sua ineficácia.

4.9 INVALIDAÇÃO DO ATO PROCESSUAL OU DO PROCEDIMENTO

A invalidação é a decisão judicial pela qual se elimina ou se desfaz um ato proces-


sual e os demais dele dependentes (CPC, art. 248, 1a parte), por ter sido produzido
em dissonância com a ordem jurídica e ter comprometido os fins do procedimento
ou do processo.
O juiz ou tribunal poderá invalidar o ato processual ou o procedimento, quando
provocado ou de ofício, dependendo da reação do ordenamento jurídico com rela-
ção ao ato processual viciado e seus efeitos.
Essa invalidação pode se dar quando ainda em curso o processo em que a nuli-
dade se operou, assim como depois de findo o processo ou a fase em que a nulidade
tenha se verificado.108 Ao longo do processo, se a nulidade depender de provocação
da parte interessada, poderá se dar mediante simples manifestação nos autos ou por
meio do recurso adequado e oportuno. Encerrado o processo com resolução de
mérito, a arguição de nulidade há de ser objeto de outro processo, tal como a ação
rescisória, o mandado de segurança, os embargos à execução (1a fase e 2a fase), os
embargos de terceiro etc.109
A invalidação poderá ter por objeto apenas o ato processual viciado ou este e
seus efeitos. Com efeito, se o ato processual, além de inválido, foi ineficaz, somente
o ato será invalidado. Se, porém, o ato inválido foi eficaz, também os efeitos serão
alcançados pela invalidação. Seja como for, o juiz deve obrigatoriamente identificar
o ato ou este e seus efeitos que foram atingidos pela invalidação (CPC, art. 249, 1a
parte). Disso decorre possuir a invalidação uma natureza desconstitutiva, desfazen-
do o ato e/ou os efeitos já produzidos110 e mandamental, impedindo a produção de
novos efeitos no futuro.

108
A respeito do tema, ver Luis Guilherme Aidar Bondioli, Nulidades processuais e mecanismos de controle,
RePro no 145, São Paulo: RT, mar. 2007, p. 24-51.
109
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 269.
110
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 280. Hélio Tornaghi, seguindo a
concepção civilista, defende que o nulo se declara enquanto o anulável se desconstitui (Comentários ao
Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 224). Sálvio de Figueiredo Teixeira (Prazos e nulidades
em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 52) e Alberto Luis Maurino (Nulidades Procesales,
2. ed., Buenos Aires: Astrea, 2001, p. 315) entendem ser declaratória a natureza da decisão sobre nulidade.
Carlos Ari Sundfeld, ao analisar os atos administrativos inválidos, defende ser declaratória a natureza da
invalidade do ato e ser desconstitutiva em relação aos efeitos (Ato administrativo inválido, São Paulo: RT,
1990, p. 23).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 81

Ademais, a invalidação poderá ser total ou parcial em relação ao ato. Será parcial
sempre que for possível aproveitar alguma parte do ato, pela sua independência em
relação ao vício identificado.111
A invalidação visa, portanto, restaurar a ordem jurídica violada, recompondo, na
medida do possível, as partes ao estado anterior à prática do ato viciado.112 De regra,
portanto, a invalidação produz eficácia retroativa, ex tunc. Porém, conforme o caso
concreto, especialmente em situações em que a nulidade não alcance outros atos
processuais ou fases do procedimento subsequentes, a invalidação terá apenas efeito
dali para frente, ex nunc (CPC, art. 515, § 4o).113
Segundo se infere do próprio sistema jurídico-positivo, são pressupostos que
condicionam a invalidação: a) a existência de um vício no ato ou no procedimen-
to que macule seus fins perante o processo (CPC, art. 244); b) que a nulidade não
seja imputável a quem pede sua declaração (CPC, art. 243); c) não tenha ocorrido
a preclusão, a prescrição ou a decadência, isto é, o decurso de tempo não seja um
obstáculo ao reconhecimento da nulidade (CPC, art. 245); d) que o ato processual
inválido não tenha sido sanado.
Uma vez procedida a invalidação, o juiz deverá determinar, conforme o caso, se
o ato deverá ser repetido ou retificado (CPC, art. 249, caput). Repetir ou renovar o
ato significa refazê-lo desde o princípio de modo que o novo ato tenha o requisito
que faltava. Por sua vez, retificar o ato é realizar outro ato que acrescente ao ato an-
terior já feito o requisito que lhe faltava; trata-se de uma simples emenda ou corre-
ção.114 Convém destacar que a retificação pode mesmo ocorrer sem que a invalidação
tenha sido decretada.
A invalidação nem sempre terá como consequência refazer o ato, pois pode ser
o caso, apenas, de lhe retirar a eficácia. Assim, por exemplo, quando o juiz manda
riscar as expressões injuriosas (CPC, art. 15) ou determina sejam desentranhados do-
cumentos do caderno processual (CPC, art. 195).115

111
Sem dúvida, o principal reflexo dessa concepção está em admitir a nulidade parcial da sentença, o que
somente é possível se bem compreendido e delimitado o âmbito dos chamados capítulos da sentença. Ao
tema, ver Cândido Rangel Dinamarco, Capítulos de sentença, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 2009, p. 84-91 e
Flávio Luiz Yarshell, Ação rescisória – juízos rescindente e rescisório, São Paulo: Malheiros, 2005, p. 86-94.
112
Clarissa Sampaio Silva, Limites à invalidação dos atos administrativos, São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 80.
113
No plano do direito administrativo, Lúcia Valle Figueiredo sustenta a eficácia ex nunc da invalidação em
circunstâncias excepcionais, aferíveis no caso concreto (Curso de direito administrativo, 2. ed., São Paulo:
Malheiros, 1995, p. 151). Por sua vez, para Celso Antônio Bandeira de Mello, o efeito ex nunc da invalidação
dar-se-á sempre que o ato for ampliativo de direito e houver boa-fé do beneficiado (Curso de direito adminis-
trativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 469).
114
Francesco Carnelutti, Instituições do processo civil, v. 1, Campinas: Servanda, 1999, p. 593.
115
Francesco Carnelutti, Instituições do processo civil, v. 1, Campinas: Servanda, 1999, p. 601 e Antonio do Passo
Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 23.
82 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

4.10 TÉCNICAS PARA SANAR A ATIPICIDADE DO ATO


PROCESSUAL
Independentemente da eliminação do ato processual inválido é de se ver a pos-
sibilidade de adequá-lo ao ordenamento jurídico, ou seja, de sanar a atipicidade nele
verificada.116 Diversos podem ser os limites dessa adequação, tais como a preclusão, a
possibilidade material de repetição ou ratificação do ato e não existir um óbice legal
(por exemplo, CPC, art. 463).
Essa adequação pode se dar pelo aproveitamento dos efeitos do ato, como tam-
bém pela correção do ato mediante a realização de outro ato.
Quando essa adequação ocorre no plano da eficácia, na verdade não há propria-
mente a correção do vício, ao contrário, o defeito não apenas é reconhecido exis-
tente, como também restará claro que não será desfeito. Esse aproveitamento dos
efeitos do ato defeituoso pode ocorrer de várias maneiras, razão pela qual se utiliza
de terminologia distinta.
Tem-se a denominada convalidação quando, por meio de decisão judicial, se
empresta ao ato defeituoso plena eficácia; isto é, “o ato de convalidação retroage e
outorga, aos efeitos que haviam sido produzidos pelo ato inválido, uma validade que
lhes faltava”.117 Portanto, a convalidação não remedeia a invalidez do ato, apenas
bloqueia ou impede que se verifiquem os efeitos invalidantes do ato viciado.118 Em
outras palavras, a convalidação conserva ou recupera os efeitos produzidos pelo ato
atípico.119 Sublinhe-se que a convalidação depende de um ato que escapa às faculda-
des do sujeito que praticou o ato a ser convalidado.120
Também se podem aproveitar os efeitos do ato viciado por meio da conversão
em que, por meio de decisão judicial, se recebe um ato como se fosse outro, levando-
-se em conta a finalidade atingida por esse ato aproveitado. A conversão, portanto, é
expressão da chamada fungibilidade no processo civil (item 2.7).

116
Sobre o tema, ver Carlo Furno, Nullità e rinnovazione degli atti processuali, Studi in onore di Enrico Redenti,
v. 1, Ed. Giuffrè, 1951, p. 405-465; Roberto Poli, Sulla sanabilità dei vizi degli atti processuali, Rivista di diritto
processuale, supplemento ao no 4, Padova: Cedam, 1995, p. 472-506; Fabio Marelli, La conservazione degli
atti invalidi nel processo civile, Padova: Cedam, 2000 e Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São
Paulo: RT, 1991, p. 260-268.
117
Carlos Ari Sundfeld, Ato administrativo inválido, São Paulo: RT, 1990, p. 51-52.
118
Alejandro Nieto, “Estudio preliminar” na obra de Margarita Beladiez Rojo, Validez y eficacia de los actos
administrativos. Madrid: Marcial Pons, 1994, p. 17.
119
Manoel Augusto Vieira Neto, Ineficácia e convalidação do ato jurídico, São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 129.
120
Portanto, toma-se a expressão convalidação em sentido restrito, como o faz Antonio do Passo Cabral, Nu-
lidades no processo moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 23. Em sentido diverso, Manoel Augusto Vieira
Neto alberga ampla compreensão da expressão, sustentando que ela caracteriza o fenômeno “por meio
de atos ou declarações dos próprios sujeitos, seja por meios objetivos, e até mesmo quando a conservação
ocorre ex vi de interpretação judicial” (Ineficácia e convalidação do ato jurídico, São Paulo: Max Limonad,
s.d., p. 129).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da validade 83

A correção do vício por meio de outro ato pode ocorrer por meio da retificação
ou da ratificação. Como visto antes (item 4.9), tem-se a retificação quando a parte
interessada em corrigir o defeito de um ato realiza outro ato que acrescenta o que
faltava àquele anterior, emendando-o. Tem-se a ratificação de um ato viciado ao se
produzir um novo ato pela parte a quem o ato a ser ratificado aproveita, confirman-
do-o ou aprovando-o, uma vez que o ato foi realizado sem o seu regular conheci-
mento ou consentimento.
A atividade de sanar a atipicidade do ato processual será sempre forma de preve-
nir sua invalidação (CPC, arts. 327 e 560, parágrafo único).
Pelo que foi exposto, parece correto concluir que o ordenamento jurídico é mais
rigoroso aos defeitos do procedimento que aos defeitos formais do ato em si, pois
este, mesmo que atípico, pode ser “salvo” ou mesmo desconsiderado, mas, se causou
uma ruptura ao procedimento em que está inserido, em detrimento ao devido pro-
cesso legal, toda a atividade será atingida e isso será determinante para a ineficácia do
procedimento dali em diante.121

121
Giancarlo Giannozzi, Per uno studio del concetto di inefficacia processuale, Studi in memoria di Carlo
Furno, Milano: Giuffrè, 1973, p. 444.
5 PROCESSO, PROCEDIMENTO
E ATO PROCESSUAL: O
PLANO DA EFICÁCIA

5.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E TERMINOLÓGICOS: EFICÁCIA,


EFEITOS, EFETIVIDADE E EFICIÊNCIA
Como já apontado nos capítulos anteriores (item 3.1 e 4.2), são constantes as
incertezas conceituais e terminológicas não só entre os planos da existência, validade
e eficácia, mas também na análise de cada plano em si. De modo geral, as divergên-
cias evidenciam a preferência sobre algum critério possível de análise que os fenôme-
nos sofrem, assim como a necessidade de distinguir cada plano de outros fenômenos
a eles interligados. Se de um lado essa variação de definições e termos serve para di-
ficultar a construção científica de cada um desses planos, de outro lado serve igual-
mente para indicar que cada fenômeno pode ser analisado sobre diversos ângulos, o
que também contribui para precisar melhor sua exata configuração.
Em Direito, o termo eficácia não é unívoco,1 sendo bastante comum observar
que a doutrina emprega a expressão eficácia ora para designar a idoneidade ou a ap-
tidão do ato para produzir seus efeitos típicos,2 e ora como o conjunto de efeitos tí-
picos realmente produzidos pelo ato.3

1
Teori Albino Zavascki, Eficácia social da prestação jurisdicional, Revista de Informação Legislativa, no 31,
abr./jun. 1994, p. 291.
2
Por exemplo: Eduardo A. Zannoni, Ineficacia y nulidad de los actos jurídicos, 2a reimpr. Buenos Aires: Astrea,
2000, p. 124; Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São
Paulo: Saraiva, 2000, p. 48; José Abreu Filho, O negócio jurídico e sua teoria geral, 5. ed., São Paulo: Saraiva,
2003, p. 358; Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de direito administrativo, 25. ed., São Paulo: Malheiros,
2008, p. 381; José Cretella Junior, Retroatividade do ato administrativo, Revista de Direito Administrativo (RDA)
no 127, Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, jan./mar. 1977, p. 3 e Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva,
Teoria da inexistência no direito processual civil, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1998, p. 28.
3
Neste sentido, entre outros, Hans Kelsen, Teoria pura do direito, 3. ed., Coimbra: Armênio Amado, 1974, p. 30;
Giovanni Conso, I fatti giuridici processuali penali: perfezione ed efficacia, Milano: Giuffrè, 1955, p. 34, nota 72;
86 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Talvez até como forma de acomodar o dissenso, alguns autores passaram a en-
tender que esses dois aspectos constituem, na verdade, dois sentidos distintos da
expressão eficácia: um jurídico, ou normativo, ou abstrato, ou formal e o outro so-
ciológico, ou social, ou concreto, ou real, respectivamente.4
Tal como já alertado em doutrina,5 ao utilizar o termo é conveniente que se es-
clareça em que sentido está sendo usado, até porque esses dois sentidos apontados
não são os únicos identificados em doutrina como relativos à expressão eficácia.6 Daí
por que, mesmo sob o risco da inconveniência de se usar o vocábulo em conotação
diversa da costumeira, será definido ao longo da exposição em que sentido se utiliza-
rão, as expressões eficácia, efeitos, efetividade e eficiência.7

Rubén H. Compagnucci de Caso, El negocio jurídico, Buenos Aires: Astrea, 1992, p. 495; Miguel Reale, Lições preli-
minares de direito, 16. ed., 1988, p. 112; Flávio Bauer Novelli, Eficácia do ato administrativo, 2a parte, Revista de Di-
reito Administrativo (RDA) no 61, Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, jul./set. 1960, p. 15; Regis Fernandes de
Oliveira, Ato administrativo, 4. ed., São Paulo: RT, 2001, p. 95-96; Sílvio de Salvo Venosa, Introdução ao estudo do
direito, 2. ed., São Paulo: Atlas, 2008, p. 104-105; Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo curso de
direito civil, v. 1, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 403; Eros Roberto Grau, A ordem econômica na Constituição
de 1988, 13. ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 319; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo:
RT, 1991, p. 35-37 e Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT,
2004, p. 142. A respeito de uma análise profunda da eficácia como realização social do direito, consulte-se
José Geraldo de Sousa Júnior, Para uma crítica da eficácia do direito, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1984, passim;
e Pablo Eugenio Navarro, La eficacia del derecho, Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1990, passim.
4
É o que se observa em José Horácio Meirelles Teixeira, Curso de direito constitucional, Rio de Janeiro: Fo-
rense Universitária, 1991, p. 293; José Afonso da Silva, Aplicabilidade das normas constitucionais, 3. ed., São
Paulo: Malheiros, 1998, p. 65-66; José Carlos Barbosa Moreira, Eficácia da sentença e autoridade da coisa
julgada, in: Temas de direito processual civil (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 99-100; Conteúdo e
efeitos da sentença: variações sobre o tema, in: Temas de direito processual civil (terceira série), São Paulo: Sa-
raiva, 1989, p. 175-176 e Invalidade e ineficácia do negócio jurídico, Revista Síntese de Direito Civil e Processual
Civil, no 23, Porto Alegre: Síntese, maio/jun. 2003, p. 123; Tércio Sampaio Ferraz Junior, Introdução ao estudo
do direito, 4. ed., São Paulo: Atlas, 2003, p. 199-201; Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Efeitos da declaração
de inconstitucionalidade, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 68-70; Luís Roberto Barroso, O direito constitucional e
a efetividade de suas normas, 2. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 1993, p. 77-79; Maria Helena Diniz, Norma cons-
titucional e seus efeitos, 4. ed., São Paulo: Saraiva, 1998, p. 30-31; Paulo de Barros Carvalho, Direito tributário
– fundamentos jurídicos da incidência, 6. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 64; Eurico Marcos Diniz de Santi,
Validade, vigência, eficácia e aplicação das normas jurídicas, Direito no 2, São Paulo: Max Limonad, 1995,
p. 135; Paulo Roberto Lyrio Pimenta, Eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais programáticas, São
Paulo: Max Limonad, 1999, p. 104-106; Ingo Wolfgang Sarlet, A eficácia dos direitos fundamentais, 2. ed., Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 215; Carlos Henrique Bezerra Leite, Justiça, validade e eficácia das nor-
mas jurídicas, A validade e a eficácia das normas jurídicas, coord. Renan Lotufo, Barueri: Manole, 2005, p. 34-
38; e María José González Ordovás, Ineficácia, anomia y fuentes del derecho, Madrid: Dykinson, 2003, p. 56.
5
José Horácio Meirelles Teixeira, Curso de direito constitucional, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991,
p. 293 e Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 141.
6
Ricardo Marcondes Martins, por exemplo, identifica: i) eficácia deôntica, por ele considerada como o míni-
mo de eficácia que qualquer norma jurídica possui, decorrente do reconhecimento, pela comunidade, do
seu caráter normativo; ii) eficácia normativa, que corresponde à incidência da norma sobre o seu suporte
fático, tornando-o jurídico; iii) eficácia jurídica, entendida como as consequências imputadas pela norma
ao fato nela descrito; e iv) eficácia fática, que é a observância ou aplicação da norma no meio social (Efeitos
dos vícios do ato administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 138-142).
7
De modo geral, efetividade e eficiência são acepções da palavra eficácia. Assim aponta, por exemplo, José
Luis Serrano, Validez y vigencia – la aportación garantista a la teoría de la norma jurídica, Madri: Trotta, 1999,
p. 20-23. Isso se confirma ao se observar no Dicionário Houaiss da língua portuguesa, Rio de Janeiro: Objetiva,
2001, p. 1102, visto que, em ambos os verbetes, o principal significado é a produção de efeitos. Com razão,
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 87

Tal como nos capítulos anteriores, antes de enfrentar o plano da eficácia do ato pro-
cessual, do procedimento e do processo, serão expostas noções gerais acerca do tema.

5.2 EFICÁCIA JURÍDICA


Talvez a maior dificuldade de compreensão da eficácia jurídica decorra da pre-
missa fundamental de que se trata de um fenômeno essencialmente jurídico.8 Des-
tarte, o efeito jurídico deve ser compreendido como a consequência valorada9 e
pretendida atribuída a um fato jurídico.10 Ou seja, a eficácia jurídica surge pela in-
cidência da norma jurídica, sendo a irradiação das consequências nela previstas para
aquele suporte fático também nela descrito (que pode ser somente composto de fa-
tos ou de fatos mais fatos jurídicos11) e que foi (suficientemente) verificado.12
Reside, pois, a dificuldade de compreensão em não se atentar que esse efeito
jurídico pretendido é meramente ideal, é um dever-ser ou um dever-fazer que pode
simplesmente não se efetivar materialmente.13 Em outras palavras, nem sempre o
efeito fático coincide com o efeito jurídico.14

portanto, José Joaquim Calmon de Passos, ao assinalar que: “Em verdade, eficiência, eficácia e efetividade se
imbricam em torno da mesma realidade – a dos efeitos ou consequências de algo” (Cidadania e efetividade
do processo, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, no 1, Porto Alegre: Síntese, set./out. 1999, p. 30).
8
Tal premissa é anotada por Angelo Falzea, um dos maiores estudiosos do tema (verbete “Eficacia giuridica”,
in Voci di teoria generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, § 5, p. 194).
9
Segundo Angelo Falzea, “o efeito da norma não é nem o simples valor nem o simples fato, mas o valor
atribuído ao fato” (verbete “Eficacia giuridica”, in: Voci di teoria generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, § 33,
p. 285).
10
Segundo Marcos Bernardes de Mello, a única fonte de efeitos jurídicos é o fato jurídico (Teoria do fato jurí-
dico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 30).
11
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000, p. 45.
12
Sobre o tema, leciona Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: “A eficácia jurídica é irradiação do fato
jurídico; portanto, depois da incidência da regra jurídica no suporte fático, que assim, e só assim, passa a
pertencer ao mundo jurídico. Incidência é prius; e a incidência supõe a regra jurídica e o suporte fático,
sobre o qual ela incida. A eficácia é, pois, logicamente, posterius” (Tratado de direito privado, t. V, Campinas:
Bookseller, 2000, p. 33).
13
Por isso mesmo Angelo Falzea apontou que não há como se traçar um paralelo entre causalidade física
e causalidade jurídica. Esclarece que a norma jurídica é “uma proposição jurídica complexa resultante de
uma relação de condicionalidade, cuja proposição antecedente ou condicionante é o fato jurídico e a pro-
posição consequente ou condicionada é a eficácia jurídica” (verbete “Eficacia giuridica”, in: Voci di teoria
generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, § 7, p. 198-200 e § 36, p. 295). Assim também anota Lourival Vilanova,
Causalidade e relação no direito, 4. ed., São Paulo: RT, 2000, p. 64, 103-105 e 124. Marcos Bernardes de Mello
segue igualmente essa mesma linha de entendimento e arremata: “a causalidade no mundo jurídico se res-
tringe ao princípio da causalidade normativa, que define a relação de determinação entre a norma jurídica
e o fato jurídico, estando no campo da probabilidade a relação de determinação entre o fato jurídico e a
sua eficácia” (Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 24-26). José
Carlos Barbosa Moreira, citando Kelsen, trata do fenômeno como sendo de imputação e não de causalida-
de (Conteúdo e efeitos da sentença: variações sobre o tema, Temas de direito processual civil (quarta série),
São Paulo: Saraiva, 1989, p. 176).
14
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda assinala: “A eficácia jurídica é criação do direito, ainda quando
o efeito jurídico coincida ser efeito físico” (Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000, p. 33).
88 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Outra razão da dificuldade da compreensão do tema também pode ser atribuída


ao legislador, que não disciplinou a eficácia na parte geral do Código Civil,15, 16 em

15
Pequeno avanço neste sentido foi observado no anteprojeto da Parte Geral do Código das Obrigações
(1941), cuja Comissão era composta por Orosimbo Nonato, Philadelpho Azevedo e Hahnemann Guimarães,
que previa uma seção especial para a “Ineficácia das Declarações de Vontade” (Seção V, arts. 71 a 80).
Todavia, tal proposta apenas contemplou os efeitos dos negócios inválidos, nada tendo sido tratado do
negócio válido que carece de efeito por falta de algum elemento extrínseco. Eis a redação dos artigos do
anteprojeto: “Art. 71 – É nula a declaração de vontade, além dos casos em que a lei expressamente assim a
considera, quando: I – emana de pessoa absolutamente incapaz; II – infringe proibição da lei, salvo se esta
comina sanção diferente; III – é contrária aos bons costumes ou tem por objeto prestação impossível; IV – não
reveste a forma prescrita, ou pretere alguma solenidade, que a lei considere essencial à sua validade. Art. 72
– As nulidades do artigo antecedente podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Públi-
co, quando lhe couber intervir, e devem ser pronunciadas pelo Juiz, ao conhecer do ato ou dos seus efeitos,
e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda a requerimento das partes. Art. 73 – Apesar
de nula por vício de forma, a declaração pode produzir outros efeitos, pretendidos pela parte e dos quais
existam os requisitos legais. Art. 74 – A ineficácia da declaração, quando anulável, não se verifica antes de
julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício. Parágrafo único – Só os interessados podem alegá-la, e
aproveita exclusivamente aos que a invocarem, salvo os casos de solidariedade e de indivisibilidade. Art. 75 –
a ratificação das declarações anuláveis retroage à data de quando estas se emitiram. Art. 76 – A ratificação
deve conter expressamente o ânimo de validar, sendo escusada quando a obrigação já foi cumprida em
parte pelo devedor, ciente do vício que a inquinava. Art. 77 – A ratificação expressa, ou a execução voluntá-
ria da obrigação anulável, nos termos do artigo anterior, importa renúncia a todas as ações, ou exceções,
de que disponha o devedor. Art. 78 – A nulidade parcial do ato não lhe prejudica a parte válida, se esta for
separável. A nulidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a
da obrigação principal. Art. 79 – Ocorrendo dissimulação ou interposição de pessoa para evitar a proibição
legal, o defeito alcança a todos os atos aparentes, ocultos ou intermediários. Art. 80 – Anulada a declaração,
restituem-se as partes ao estado em que antes dela se achavam e, não sendo possível, cabe indenização
do equivalente” (Código civil anteprojetos, v. 1, Brasília: Senado Federal, 1989, p. 21-22). No anteprojeto de
Código de Obrigações de 1963 e no Projeto de Código de Obrigações de 1965 (PL no 3.264/1965) a ineficácia
continuou sendo deixada de lado, sendo que a Seção similar àquela contemplada no anteprojeto de 1941
passou a ser designada como “Insubsistência do Negócio Jurídico”, nesta sendo tratados apenas os defeitos
de constituição dos negócios jurídicos (Código civil anteprojetos, v. 3 e 4, Ed. Senado Federal, 1989, p. 20-21
e 208-209, respectivamente).
16
No que respeita à Parte Geral do atual Código Civil, esclarece José Carlos Moreira Alves, porque não se
adotou no sistema a tricotomia existência-validade-eficácia. Ao responder à crítica feita pelo Prof. Couto e
Silva (mar. 1970), que entendia ser conveniente o sistema adotar essa tricotomia, asseverou o então ilustre
integrante da Comissão Elaboradora e Revisora do Projeto de Código Civil: “A observância rigorosa da su-
gestão do Prof. Couto e Silva levaria a discrepância desta ordem: a) no capítulo ‘Da validade dos negócios
jurídicos’ tratar-se-ia apenas dos casos de invalidade do negócio jurídico (nulidade e anulabilidade); e b) no
capítulo ‘Eficácia dos negócios jurídicos’ não se abrangeriam todos os aspectos da eficácia, mas apenas
uma parcela deles (os impropriamente denominados acidentais do negócio jurídico). A sistemática seguida
no Anteprojeto não é tão antiquada como parece ao Prof. Couto e Silva. Com efeito, a distinção entre vali-
dade e eficácia (que são os aspectos que interessam no caso) não é recente. Windscheid, por exemplo, a
segue rigorosamente na exposição do negócio jurídico em seu Lehrbuch des Pandektenrechts (onde, depois
de tratar dos requisitos de validade, ocupa-se da invalidade, e, finalmente, da eficácia do negócio jurídico).
Mas, nessa mesma época, outro pandectista (não menos que Windscheid) – Regelsberger – nas não menos
estimadas Pandectas, examinou a condição e o termo antes da nulidade e da anulabilidade, tal qual o
Anteprojeto. Na mesma trilha, encontram-se, nos fins do século passado Wendt (lehrbuch der Pandekten),
Waechter (Pandekten, v. 1) e Arendts (Lehrbuch der Pandekten); e, atualmente, Enneccerus-Nipperdey (Lehr-
buch des bürgerlichen Rechts, I, 2) e Lange (BGB – allgemeiner Teil). Aliás, a sistemática seguida no Antepro-
jeto – que é a mesma do Código – se justifica se se atentar para a circunstância de que, depois de se estabe-
lecerem os requisitos de validade do negócio jurídico, se trata de dois aspectos ligados à manifestação de
vontade: a interpretação do negócio jurídico e a representação. Em seguida, disciplinam-se a condição, o
termo e o encargo, que são autolimitações da vontade (isto é, uma vez apostos à manifestação de vontade,
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 89

que pese a incredulidade e a queixa de parte da doutrina.17 Observa-se que o legisla-


dor tem se limitado a disciplinar de modo geral os atos jurídicos, fazendo referência
às consequências decorrentes dos defeitos formais e, com frequência, mediante o uso
de terminologia confusa e, por vezes, inapropriada.18
Segundo assinala a doutrina,19 a expressão situação jurídica é utilizada para
designar todo e qualquer efeito jurídico previsto pela norma jurídica, cuja função
não é outra senão portar os interesses valorados pela própria comunidade que es-
tabeleceu a norma.

tornam-se inseparáveis dela). Finalmente, a parte patológica do negócio jurídico: seus defeitos e invalidade”.
Essas mesmas observações ainda constaram em outros textos do Prof. José Carlos Moreira Alves. Na “Exposi-
ção de motivos e emendas sugeridas à Parte Geral do Anteprojeto de Código Civil” (07.11.1970) e no texto “O
negócio jurídico no projeto de Código Civil Brasileiro (análise comparativa com o Código Civil Português de
1967)”. Tudo conforme obra do referido autor: A parte geral do projeto de Código Civil Brasileiro, 2. ed., São
Paulo: Saraiva, 2003, p. 45-47, 82 e 105, respectivamente.
17
Francisco Pereira de Bulhões Carvalho, Ineficácia do ato jurídico e a reforma do Código Civil, Revista de
Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara no 12, 1966, p. 5 e Manoel Augusto Vieira Neto,
Ineficácia e convalidação do ato jurídico, São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 48.
18
Sobre o tema, concluía Humberto Theodoro Júnior antes do Código Civil de 2002 entrar em vigor: “O Projeto
de Novo Código Civil apresenta, no campo da ineficácia, progresso sensível no que diz respeito a inclusão de
figuras de vício de consentimento reconhecidas contemporaneamente pelo direito comparado. Ressente-
-se, todavia, de gravíssima desatualização na sistematização da mesma matéria, pois insiste em ignorar a
distinção científica entre anulabilidade e ineficácia relativa, mantendo a fraude contra credores como causa
nominal de anulabilidade, quando o próprio direito positivo brasileiro, após o Código Civil de 1916, já havia
dispensado a esse tipo de fenômeno o tratamento adequado da ineficácia, em relação à fraude praticada
no âmbito do direito falimentar e do direito processual civil. Em síntese, para o Projeto, continua a restringir-se
o universo eficacial dos negócios jurídicos ao binômio ‘validade-nulidade’, fazendo vista grossa ao progresso
da ciência que de longa data detectou e identificou a ineficácia simples ou relativa, como o fenômeno que
ocorre quando ‘os contratos que são existentes e válidos, apesar de sua validade, não produzem efeitos
porque se lhes antepõe um fato alheio às partes que impede a produção de seus efeitos práticos’ (como
no caso da condição suspensiva); ou quando um contrato, plenamente válido e eficaz entre as partes, não
produz efeitos ‘em relação a terceiros’ ou em face de certa ou certas pessoas (como na alienação em fraude
de credores ou de execução). Esse tipo de ineficácia permite, em muitas situações distinguir entre os sujeitos
da relação obrigacional e outros que, eventualmente, teriam de sofrer reflexos dela. Assim, em vez de jogar
partes e terceiros numa vala comum, o legislador moderno, munido da melhor técnica, consegue joeirar os
interesses concorrentes, para evitar incidência do antigo instituto da nulidade (ou anulabilidade). Serve-se
da ineficácia relativa. Em lugar de impor a anulação completa do negócio prejudicial a interesses relevan-
tes de terceiros, o que se faz é, sem prejuízo de manter os efeitos do contrato entre aqueles que o firmaram,
limitar a projeção de sua eficácia exterior, de modo que os seus efeitos não venham a atingir os titulares de
interesses que merecem prevalecer sobre os dos contratantes. Estatui-se simplesmente a inoponibilidade
do contrato àqueles que a lei não deseja sejam prejudicados. Mantém-se o Projeto, infelizmente, alheio ao
fato de que desde Windscheid a invalidade e a ineficácia vêm merecendo distinção que através de nosso
século se acentuou com precisão e rigor, com grande proveito não só para o estudo científico do direito, mas
principalmente, para efeitos práticos de sua aplicação no dia-a-dia forense” (Negócio Jurídico. Existência.
Validade. Eficácia. Vícios. Fraude. Lesão, RT no 780, out. 2000, p. 27-28).
19
Angelo Falzea, verbete “Eficacia giuridica”, in Voci di teoria generale del diritto, Milano: Giuffrè, 1970, § 36,
p. 295-296 e Lourival Vilanova, Causalidade e relação no direito, 4. ed., São Paulo: RT, 2000, p. 147-150. Para
Marcos Bernardes de Mello, a exposição feita no texto corresponde ao sentido lato da expressão situação
jurídica. Este autor prefere empregar a mencionada expressão em seu sentido estrito como apenas uma das
possíveis categorias de eficácia, ao lado das seguintes outras: a) as sanções, civis e penais; b) as premia-
ções e, c) os ônus (Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 79 e 31,
respectivamente).
90 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Sendo assim, isto é, restando evidente que os efeitos jurídicos são criações do
direito, não pode escapar à observação do intérprete que a norma jurídica “tem todo
poder no tocante aos efeitos jurídicos”, daí por que será o próprio sistema jurídico
competente para determinar “desde onde e até onde se opera a eficácia dos fatos ju-
rídicos, qual a sua qualidade e qual a sua intensidade”.20
Não obstante isso, a eficácia pode sofrer limitações.21 De modo geral, essas limi-
tações podem ser legais ou voluntárias, isto é, podem decorrer de disposição de lei ou
por força da vontade dos sujeitos envolvidos; e, por sua vez, são fundadas na natureza
das coisas, nas experiências e conhecimentos já obtidos, no próprio sistema jurídico.
Assim, por exemplo, a eficácia jurídica do processo não deve atingir a esfera jurídica
de sujeito a quem não se refere (CPC, art. 1.046); a produção dos efeitos jurídicos
da sentença pode estar subordinada à verificação de outro fato (CPC, art. 572); a efi-
cácia do ato processual pode depender da influência do tempo (CPC, art. 172); a
competência para tratar eficazmente do conflito depende do espaço em que alcança
o sistema jurídico (CPC, arts. 88 e 89) etc.
Entre os possíveis efeitos jurídicos, inegavelmente o mais importante é aquele
que determina uma relação jurídica. Segundo a doutrina de Marcos Bernardes de
Mello,

Em geral, de fatos jurídicos resultam relações jurídicas, as quais, para existir, têm
como pressupostos essenciais, ao menos, a vinculação de dois sujeitos de direito,
mesmo que um deles seja o alter (princípio da intersubjetividade), em torno de um
objeto (princípio da essencialidade do objeto), com correspectividade de direitos –
deveres, pretensões – obrigações, ações – situações de acionado e exceções – situa-
ções de excetuado (princípio da correspectividade de direitos e deveres).22

Para que o ato produza seus efeitos não é raro que se atrele a verificação des-
tes à presença de determinados fatores,23 isto é, a determinados aspectos exteriores

20
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000, p. 35.
O mesmo autor assinala que, não obstante a eficácia dependa da incidência, nada impede que a norma
estabeleça que a eficácia ocorra “desde antes ou até antes da incidência, ou da própria regra jurídica” (op.
cit., p. 33).
21
Por todos, ver Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 32-38.
22
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 80.
23
Convém assinalar mais uma vez que se adota aqui a expressão fator, embora a doutrina ora trate como
requisito, pressuposto, condição, coelemento, concausa etc. Por exemplo, reconhecem a existência desses
“fatores”: Luigi Cariota-Ferrara, I negozi sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, p. 202; Massimo Ferrara
Santamaría, Inefficacia e inopponibilità, Napoli: Jovene, 1939, p. 13; Angelo Falzea, La condizione e gli elemen-
ti dell’atto giuridico, Milano: Giuffrè, 1941, p. 39-53; Ernesto E. Nieto Blanc, Nulidad em los actos jurídicos, 2. ed.,
Buenos Aires: Ad-Hoc, 2005, p. 160; Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e
eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 54-56; Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, Novo cur-
so de direito civil, v. 1, 10. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 403; e Roque Komatsu, Da invalidade no processo
civil, São Paulo: RT, 1991, p. 38-39.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 91

(extrínsecos, acidentais, marginais) ao próprio suporte fático da norma ou do ato ju-


rídico, mas que influenciam ou contribuem para a produção dos efeitos desejados.
É de se notar, portanto, que esses fatores se distinguem nitidamente dos elementos
essenciais ou constitutivos do ato jurídico, pois são elementos que têm relevância so-
mente para a realização dos efeitos, de modo que sua falta impede que estes efeitos
se realizem, mas isso não torna incompleto ou viciado o ato jurídico.24
Segundo conhecida classificação,25 três seriam as espécies de fatores de eficácia:
a) os fatores de atribuição de eficácia em geral, que são aqueles sem os quais o ato
praticamente nenhum efeito produz (é exemplo o ato sob condição suspensiva);26
b) os fatores de atribuição da eficácia diretamente visada, que são aqueles indispen-
sáveis para que o ato, que já é de algum modo eficaz entre as partes, possa produzir
os efeitos normais esperados (cujo exemplo é o do representante que atua sem po-
deres, onde os efeitos dependerão de futura ratificação, embora alguns sejam desde
logo verificados); c) os fatores de atribuição de eficácia mais extensa, que são aque-
les que embora plenamente eficazes, ganham ainda mais extensão em seu campo de
atuação (como ocorre na publicidade dos atos em geral, especialmente para produ-
zir efeitos perante terceiros).
A mesma classificação é também apresentada da seguinte forma:27 i) fatores
suspensivos de eficácia, sendo aqueles que enquanto não ocorrem impedem que o
negócio produza a sua eficácia própria ou comum; ii) fatores extensivos de eficá-
cia, significando aqueles que dilatam a eficácia própria subjetiva do ato; e, iii) fato-
res resolutivos de eficácia, que acarretam a ineficácia superveniente caso venham a
se verificar.
Há ainda quem apenas classifique os fatores de eficácia em legais e voluntários.28
Na verdade, como assinalado antes, esses fatores de eficácia estão mais rela-
cionados com as limitações subjetivas/pessoais, temporais, espaciais, de conteúdo
a que a eficácia está sujeita, por força da própria natureza do fato jurídico ou das

24
Luigi Cariota-Ferrara, I negozi sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, p. 202.
25
Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva,
2000, p. 55. Roque Komatsu adere a essa classificação (Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991,
p. 38-39).
26
É em relação a situações como a da condição suspensiva, em que presentes os elementos essenciais e
constitutivos do ato, mas que, para a produção dos seus efeitos, ainda se faz necessário aguardar a verifica-
ção de um fator, que Angelo Falzea admite se fale em eficácia pendente ou potencial. Segundo o autor, não
se pode atribuir eficácia potencial ou pendente a ato que não apresenta todos seus elementos constitutivos
(La condizione e gli elementi dell’atto giuridico, Milano: Giuffrè, 1941, p. 45).
27
João Alberto Schützer Del Nero, Conversão substancial do negócio jurídico, Rio de Janeiro: Renovar, 2001,
p. 93-96.
28
Antonio Scialoja, Nullità ed inefficacia, in: Studi di diritto privato, Roma: Bernardo Lux, 1906, p. 30; Luigi Cariota-
-Ferrara, I negozi sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, p. 377, Massimo Ferrara Santamaría, Inefficacia e
inopponibilità, Napole: Jovene, 1939, p. 17 e Juan Ladaria Caldentey, Legitimación y apariencia jurídica, Barce-
lona: Bosch, 1952, p. 3.
92 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

coisas, da vontade das partes envolvidas, da lei e do âmbito de valência do próprio


sistema jurídico.29
Por isso mesmo a eficácia está sujeita a sofrer variações em razão de novos
acontecimentos,30 como se passa a demonstrar.
Um ato inicialmente ineficaz pode, por força de um fato jurídico posterior, tor-
nar-se eficaz. É o que se chama pós-eficacização.31 Isso pressupõe uma ineficácia re-
lativa, isto é, o ato não produzia efeito para determinada pessoa, mas, depois, passou
a lhe ser eficaz, desde sua formalização (efeito ex tunc). Nesse sentido, por exemplo,
estabelece o art. 1.654 do CC/2002, que a eficácia do pacto antenupcial realizado
por menor, fica condicionada à aprovação de seu representante legal.
Outra hipótese é denominada retroeficácia32 e ocorre quando uma lei nova ou
ato jurídico posterior apanha uma situação jurídica já consolidada e a modifica desde
o passado, o que somente se admite se não violar o direito adquirido, o ato jurídi-
co perfeito e a coisa julgada (CF, art. 5o, XXXVI). Os direitos de propriedade, por
exemplo, podem ser limitados por lei nova.
O ato jurídico também pode vir a perder toda a eficácia que produziu ou ape-
nas deixar de produzir sua eficácia, mantidos os efeitos produzidos. Designa-se essa
perda como deseficacização e ela pode ocorrer por vontade dos sujeitos envolvidos
(rescisão, perdão, renúncia, desistência); por força de império, isto é, de decisão da
autoridade competente (anulação, revogação); ou até por força de lei (prescrição,
decadência, preclusão).
Por fim, cabe assinalar que grande parte da doutrina civilista concebe que os fa-
tos jurídicos, de modo geral, somente atingem sua plena realização após passarem,
sucessivamente, pelo plano da existência, pelo da validade e atingirem o da eficácia.33
É recente a ideia de que alguns fatos jurídicos têm acesso ao plano da eficácia direta-
mente do plano da existência, ou seja, alguns fatos não precisam passar pelo plano da

29
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 32-38. Os fatores de eficácia mais importantes e estudados no âmbito do direito civil são a condição, o
termo e o modo/encargo, pois eles estão indicados no Código Civil (arts. 121 a 137). Todavia, sobre o tema já
assinalava Vicente Ráo: “Mas, a indicação do Código não é taxativa, pois inúmeros elementos acessórios ou-
tros, nominados ou inominados, podem os agentes ou partes criar livremente, segundo suas conveniências
ou necessidades, ou segundo as conveniências ou necessidades do comércio jurídico, sendo igualmente
válidos desde que não contrariem a ordem pública, os preceitos imperativos de lei, os bons costumes e não
contradigam, de modo a invalidá-los, os elementos essenciais dos atos que, por lei, possam recebê-los” (Ato
jurídico, 4. ed., São Paulo: RT, 1999, p. 249-250). Acerca dos mencionados fatores, ver Zeno Veloso, Condição,
termo e encargo, São Paulo: Malheiros, 1997, passim.
30
Marcos Bernardes de Mello trata do tema como sendo vicissitudes a que está sujeita a eficácia jurídica
(Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 64-73).
31
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000, p. 95.
32
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000,
p. 115-118.
33
Por todos, ver Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São
Paulo: Saraiva, 2000, p. 25.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 93

validade.34 Seja como for, tal como se assinalou antes (item 3.2), a existência do fato
jurídico continua sendo considerada premissa básica, sem a qual não há como o
fato ser examinado nos planos da validade e/ou da eficácia.

5.3 MODOS DE EFICÁCIA JURÍDICA


Verifica-se um louvável esforço doutrinário35 em sistematizar os diferentes modos
pelos quais é possível identificar a irradiação de efeitos jurídicos. Ainda que o rol se
apresente amplo, ao que parece, o trabalho não dá esperança de perfeição.36
Eis os critérios pelos quais se pode catalogar os modos de eficácia jurídica:

i) quanto à natureza dos efeitos;


ii) quanto à extensão dos efeitos;
iii) quanto ao exercício dos efeitos;
iv) quanto à duração dos efeitos;
v) quanto à definitividade dos efeitos;
vi) quanto ao surgimento dos efeitos;
vii) quanto às pessoas sobre quem recaem os efeitos;
viii) quanto à atuação no tempo dos efeitos;
ix) quanto ao lugar em que os efeitos podem ser produzidos;
x) quanto à aparência da eficácia do ato nulo.

Quando a eficácia verificada é aquela pretendida pelo ato ou norma, diz-se que a
eficácia é típica. Quando os efeitos produzidos são diferentes dos pretendidos, diz-se
que a eficácia é atípica ou imprópria.37 Por sua vez, quando os efeitos vão além dos
pretendidos, diz-se que a eficácia é anexa.
Considerados os efeitos típicos que o fato jurídico pode produzir quanto a sua ex-
tensão, a eficácia pode ser total, parcial e mínima. Será total quando todos os efeitos
típicos puderem ser produzidos; será parcial quando algum desses efeitos típicos não

34
São exemplos deles, segundo Marcos Bernardes de Mello, os fatos jurídicos stricto sensu, os atos-fatos
jurídicos e os fatos jurídicos ilícitos lato sensu (Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo:
Saraiva, 2003, p. 4).
35
Entre nós, as maiores tentativas foram de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado,
t. V, Campinas: Bookseller, 2000, passim; Manoel Augusto Vieira Neto, Ineficácia e convalidação do ato jurídico,
São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 52 e Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a
parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 38. É principalmente a partir de seus ensinamentos que se apresentará o rol
dos modos de eficácia.
36
Esse era o sentimento, que se mantém atual, de Manoel Augusto Vieira Neto (Ineficácia e convalidação do
ato jurídico, São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 49).
37
Luis Díez-Picazo y Ponce de León se refere a esta como anormalmente eficaz (Eficacia e ineficacia del ne-
gocio jurídico, Anuario de derecho civil (ADC) no 14, v. IV, 1961, p. 820).
94 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

puder ser produzido.38 Por eficácia mínima, deve ser entendido que nenhum fato jurí-
dico é completamente destituído de eficácia, pois, pelo menos, vincula quem o pratica.
Quanto ao exercício do conteúdo eficacial, pode a eficácia ser plena ou limita-
da, isto é, se todos ou alguns direitos, pretensões, ações e exceções podem ser, desde
logo, exercidos.39
Em relação ao tempo de duração dos efeitos, a eficácia pode ser permanente,
temporária ou prorrogada. Será permanente quando os efeitos não admitem qual-
quer limitação de tempo. Será temporária quando o efeito vai de um momento (ini-
cial) a outro (final). Por sua vez, será prorrogada quando, por força da lei ou da
vontade das partes, o prazo do ato jurídico admite seja estendido até outro momento.
No que toca à definitividade, a eficácia pode ser definitiva ou provisória, poden-
do esta última ainda ser especificada em precária ou interimística. Eficácia definitiva é
aquela que não está sujeita a ser desfeita por força de evento temporal futuro (condi-
ção ou termo). A provisória, por sua vez, é aquela sujeita a cessar por força de evento
futuro (precária)40 ou a tornar-se definitiva (interimística).
Quanto ao surgimento, a eficácia pode ser imediata ou superveniente. É ime-
diata ou instantânea quando surge contemporaneamente ao ato, de uma só vez. É
superveniente quando o efeito surge posteriormente ao fato jurídico que a enseja.
Neste último caso, poderá ser sucessiva, quando os efeitos surgem à medida que o
conteúdo do fato jurídico vai sendo efetivamente realizado ou diferido quando pro-
traído para um momento futuro (condição ou termo).
A eficácia deve, em regra, alcançar apenas as pessoas vinculadas ao fato jurídico.
Nesse caso, tem-se uma eficácia direta ou entre as partes. Se alcançar a terceiros es-
tranhos ou alheios ao fato jurídico, tem-se uma eficácia indireta ou reflexa.

38
Luis Díez-Picazo y Ponce de León a esta se refere como limitadamente eficaz (Eficacia e ineficacia del ne-
gocio jurídico, Anuario de derecho civil (ADC) no 14, v. IV, 1961, p. 820). Francisco Pereira de Bulhões Carvalho
prefere a expressão infraeficácia [infraeficacia] (Ineficácia, Repertório enciclopédico do direito brasileiro,
v. 27, Rio de Janeiro: Borsoi, s.d., p. 9).
39
Quer parecer que sob este critério, tendo em conta as normas constitucionais, é que José Afonso da
Silva fala em eficácia plena, contida e limitada (Aplicabilidade das normas constitucionais, 3. ed., São
Paulo: Malheiros, 1998, p. 82-83). Também parece que, como variável desse mesmo critério do exercício do
conteúdo eficacial, é que Celso Antônio Bandeira de Mello propõe sua classificação das normas constitu-
cionais à luz das distintas posições jurídicas em que os administrados se veem investidos de direitos mais
ou menos amplos, insuscetíveis de restrição ou restringíveis por lei ordinária. Daí concluir serem três as
espécies: “a) algumas são concessivas de poderes jurídicos, os quais podem ser exercitados de imediato,
com prescindência de lei; b) outras são atributivas de direito a fruir, imediatamente, benefícios jurídicos
concretos, cujo gozo se faz mediante prestação alheia que é exigível judicialmente, se negada; e c) ou-
tras, que apenas apontam finalidades a serem atingidas pelo Poder Público, sem indicar a conduta que
as satisfaz, conferem aos administrados, de imediato, direito de se oporem judicialmente aos atos do Po-
der Público acaso conflitantes com tais finalidades” (Eficácia das normas constitucionais e direitos sociais,
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 17-29 e 56).
40
Luigi Cariota-Ferrara refere-se a efeitos “in modo effimero, caduco, overo limitati nel tempo” (Il negozio
giuridico, Milano: Morano, 1960, p. 374). Luis Díez-Picazo y Ponce de León refere-se a esta eficácia como clau-
dicantemente eficaz ou fugazmente eficaz (Eficacia e ineficacia del negocio jurídico, Anuario de derecho civil
(ADC) no 14, v. IV, 1961, p. 820).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 95

No que se refere à atuação dos efeitos no tempo, a eficácia pode retroagir no


tempo, quando será ex tunc, ou pode apenas incidir para o futuro, quando será
ex nunc; e, ainda poderá ser mista, quando incidir tanto no passado quanto no
futuro.
A eficácia também sofre influência do espaço em que o sistema jurídico opera.
Por essa razão, quanto ao lugar de sua incidência pode ser territorial, geral ou espe-
cial e extraterritorial. É territorial geral quando se aplica a todo o território inerente
ao sistema jurídico e é territorial especial quando se aplica apenas em determinado
lugar deste território. A eficácia é extraterritorial quando alcança lugar fora dos limi-
tes do território do sistema jurídico.
Por fim, costuma-se identificar a eficácia do ato aparente como uma eficácia
dita putativa. É de se lembrar que, para a doutrina de modo geral, o ato nulo é
ineficaz. Vale dizer, o ato inválido produz efeitos meramente físicos, mas não ju-
rídicos. Ocorre, entretanto, que cada vez mais atos com aparência de perfeição
jurídica, produzem efeitos igualmente jurídicos, pois, em homenagem à seguran-
ça jurídica e à boa-fé, especialmente de terceiros, não há como não reconhecer efei-
tos jurídicos ao ato aparente.

5.4 INEFICÁCIA41

Se se considera que o ato é eficaz por ser apto a produzir seus efeitos típicos ou
por terem sido esses efeitos típicos realmente por ele produzidos; a noção de ineficá-
cia é negativa e resulta na não produção, permanente ou temporária, desses mesmos
efeitos típicos: é a não eficácia.42 Isto é, quando o ato, por alguma causa jurídica ou
de fato, se vê privado de seus efeitos esperados.43

41
Segundo Antônio Junqueira de Azevedo, o “verdadeiro apóstolo da ineficácia no Brasil” foi Francisco Perei-
ra de Bulhões Carvalho, que tratou do tema em diversas obras e textos (Negócio jurídico, 3. ed., São Paulo:
Saraiva, 2000, p. 52, nota 77).
42
Luigi Cariota-Ferrara, I negozi sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, p. 201; Massimo Ferrara Santa-
maría, Inefficacia e inopponibilità, Napoli: Jovene, 1939, p. 8; Renato Scognamiglio, Contributo alla teoria
del negozio giuridico, Napoli: Jovene, 1950, p. 420; Luis Díez-Picazo y Ponce de León, Eficacia e ineficacia del
negocio jurídico, Anuario de derecho civil (ADC) no 14, v. IV, 1961, p. 820; Emilio Betti, Teoria geral do negócio
jurídico, t. III, Coimbra: Coimbra Ed., 1970, p. 9; Ernesto E. Nieto Blanc, Nulidad en los actos jurídicos, 2. ed.,
Buenos Aires: Ad-Hoc, 2005, p.  157; Manuel A. Domingues de Andrade, Teoria geral da relação jurídica,
v. II, 7a reimpr., Coimbra: Coimbra Ed., 1987, p. 411; Rubén H. Compagnucci de Caso, El negocio jurídico,
Buenos Aires: Astrea, 1992, p. 495; Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra:
Coimbra Ed., 1996, p. 605; Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Almedina,
2005, p. 590; Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller,
2000, p. 101; José Abreu Filho, O negócio jurídico e sua teoria geral, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 358; e
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 60.
43
Marcelo J. López Mesa, Ineficacia y nulidad de los actos jurídicos y procesales, Buenos Aires: Depalma,
1998, p. 37.
96 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Todavia, essa noção pode ser bastante ampla, se englobar todos os casos que
acarretam a ineficácia do ato jurídico e, se assim o for, estará sujeita à crítica.44 Com
efeito, a ineficácia não pode ser considerada gênero da qual a invalidade e a inexis-
tência sejam espécies, pois a ineficácia não é necessariamente consequência de um ví-
cio (de uma patologia) e, sim, apenas, um momento em que o ato não produziu ou
passou a deixar de produzir o efeito esperado.
Para contornar tal amplitude e rigorosamente fixar-se na concepção estrita de
ineficácia, especialmente para diferenciá-la da noção de invalidade, é que se cons-
truiu a noção de ineficácia em sentido estrito (ou simples, ou em sentido técnico),45
segundo a qual a ineficácia é construída sobre a ideia de um estado de privação de
efeitos,46 de nítido cunho objetivo, afastando-se da noção conservadora ou tradicio-
nal de sanção,47 apegada a dogmatismos clássicos como a nulidade. Em outras pa-
lavras, a ineficácia diz respeito à executividade48 ou à funcionalidade49 do ato que,

44
António Menezes Cordeiro elaborou importante estudo sobre a ineficácia, no qual se encontra boa suma
evolutiva histórica sobre o tema. Segundo ele, é possível chamar de clássico o quadro geral em que se tem a
ineficácia em sentido amplo e em sentido estrito. Aquela abrange a invalidade e a não produção de efeitos
decorre de vícios ou desconformidades com a ordem jurídica; nesta a não produção de efeitos se verifica da
conjunção de fatores extrínsecos. Esclarece que a inclusão da invalidade numa ineficácia em sentido amplo
corresponde à tradição de Windscheid (Da ineficácia civil: reflexões críticas, Estudos em honra do Professor
Doutor José de Oliveira Ascensão, v. 1, Coimbra: Almedina, 2008, p. 241-242).
45
Antonio Scialoja, Nullità ed inefficacia, in: Studi di diritto privato, Roma: Bernardo Lux, 1906, p. 30-31; Luigi
Cariota-Ferrara, I negozi sul patrimonio altrui, Padova: Cedam, 1936, p. 202-204 e Il negozio giuridico, Mila-
no: Morano, 1960, p. 374-378; Nicolas Coviello, Doctrina general del derecho civil, 4. ed. italiana, trad. de
Felipe de J. Tena, México: Uteha, 1938, p. 357; Massimo Ferrara Santamaría, Inefficacia e inopponibilità,
Napoli: Jovene, 1939, p. 12-17; Angelo Falzea, La condizione e gli elementi dell’atto giuridico, Milano: Giuffrè,
1941, p. 46; Renato Scognamiglio, Contributo alla teoria del negozio giuridico, Napoli: Jovene, 1950, p. 420-
430 e Inefficacia, Scritti giuridici, v. 1, Padova: Cedam, 1996, p. 158-162; Emilio Betti, Teoria geral do negócio
jurídico, t. III, Coimbra: Coimbra Ed., 1970, p. 11; Ernesto E. Nieto Blanc, Nulidad en los actos jurídicos, 2. ed.,
Buenos Aires: Ad-Hoc, 2005, p. 162-167; Manuel A. Domingues de Andrade, Teoria geral da relação jurídica,
v. II, 7a reimpr., Coimbra: Coimbra Ed., 1987, p. 411; Antônio Junqueira de Azevedo, Negócio jurídico – exis-
tência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 49-50; Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria
geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 1996, p. 605; José de Oliveira Ascensão, Direito civil teoria
geral, v. 2, 2. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 366-367; Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria geral do direito
civil, 3. ed., Coimbra: Almedina, 2005, p. 590-591; e Eduardo Luiz Bussatta, Teoria da ineficácia do negócio
jurídico, Negócio jurídico – aspectos controvertidos à luz do novo código civil, Leme: Mundo Jurídico, 2005,
p. 187-192.
46
Marcelo J. López Mesa, Ineficacia y nulidad de los actos jurídicos y procesales, Buenos Aires: Depalma,
1998, p. 40.
47
Neste sentido, por exemplo, referindo-se à ineficácia do contrato, Luis Díez-Picazo e Antonio Gullón, Sistema
de derecho civil, v. II, 9. ed., Madri: Tecnos, 2005, p. 102; Augusto Mario Morello, Ineficacia y frustración del con-
trato, 2. ed., Buenos Aires: LexisNexis – Abeledo-Perrot, 2006, p. 89 e Humberto Theodoro Júnior, Comentários
ao novo Código Civil, v. III, t. I, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 10.
48
Antonio Scialoja aponta ter sido traçado um paralelo entre “invalidade da execução” e “invalidade de
constituição” do negócio, preferindo reservar o nome de nulidade para a segunda hipótese, restando a ideia
de eficácia simples para a primeira hipótese (Nullità ed inefficacia, in: Studi di diritto privato, Roma: Bernardo
Lux, 1906, p. 31).
49
Acerca da correlação funcionalidade-ineficácia, por todos, ver Renato Scognamiglio, Inefficacia, Scritti
giuridici, v. 1, Padova: Cedam, 1996, p. 158-162.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 97

embora existente e válido, devido a uma causa50, 51 que pode posteriormente desapa-
recer, não produz ou deixa de produzir seus efeitos típicos. Na ineficácia stricto sensu
há uma causa de inaptidão funcional do ato.
Não obstante a terminologia, é preciso assinalar, que a ineficácia dos atos resulta
ser um conceito jurídico que não corresponde com o sentido semântico da expres-
são.52 Vale dizer, embora se pudesse tomar que algo ineficaz não pode produzir efei-
tos, para o direito, atos considerados ineficazes podem sim produzir consequências
relevantes,53 ainda que mínimas. Na verdade, não há fato jurídico absolutamente

50
A ineficácia pode até decorrer da mera interpretação do Direito. Nesse sentido, pontifica Humberto Ávila
quando trata dos chamados postulados hermenêuticos que se prestam “à compreensão interna e abstrata
do ordenamento jurídico, podendo funcionar, é claro, para suportar essa ou aquela alternativa de aplica-
ção normativa” (Teoria dos princípios, 9. ed., São Paulo: Malheiros, 2009, p. 123-124). Segundo esclarece o
autor, entre os mais importantes postulados que permitem esse fim está o postulado da unidade do orde-
namento jurídico, “a exigir do intérprete o relacionamento entre a parte e o todo mediante o emprego das
categorias de ordem e de unidade. Subelemento desse postulado, é o postulado da coerência, a impor ao
intérprete, entre outros deveres, a obrigação de relacionar as normas com as normas que lhe são formal ou
materialmente superiores” (op. cit., p. 124). Ao enfrentar essa questão relativa à prevalência ou hierarquia
abstrata entre normas jurídicas, prossegue o autor registrando que “a relação de hierarquia é normalmen-
te associada à ideia de prevalência e termina por indicar qual norma ‘vale mais’. A noção de hierarquia
envolve uma relação linear entre duas normas separadas semanticamente, de tal sorte que uma delas
se sobrepõe à outra. E, no caso de conflito, a norma inferior é incompatível com a norma superior perde;
ipso facto, a validade por meio de um raciocínio de exclusão. Trata-se, portanto, de uma sistematização
linear (a norma superior constitui o fundamento da norma inferior), simples (baseada numa relação de
hierarquia linear entre as normas) e não gradual entre duas normas jurídicas (as normas estão, ou não, sis-
tematizadas enquanto hierarquicamente postas) com implicações no plano da validade” (op. cit., p. 125).
Todavia, entende o autor que essa noção “é insuficiente para cobrir a complexidade das relações entre as
normas jurídicas”, apontando que “várias perguntas ficam sem resposta, segundo esse modelo” (op. cit.,
126). Daí por que o autor propõe uma “complementação a este modelo de sistematização linear, simples
e não gradual, cuja falta de implementação traz consequência que se situa preponderantemente no pla-
no da validade, um modelo de sistematização circular (as normas superiores condicionam as inferiores,
e as inferiores contribuem para determinar os elementos das superiores), complexo (não há apenas uma
relação vertical de hierarquia, mas várias relações horizontais, verticais e entrelaçadas entre as normas) e
gradual (a sistematização será tanto mais perfeita quanto maior for a intensidade da observância de seus
vários critérios), cuja consequência preponderante está alocada no plano da eficácia. Entra em cena o
postulado da coerência” (op. cit., p. 127). A partir de tais ensinamentos, portanto, é possível concluir que o
autor defende que eventual incoerência no relacionamento entre normas não retira a validade da norma
considerada incoerente, mas, conforme o caso, ela será ineficaz, não produzindo seus efeitos ou tendo-os
limitados no tempo, no espaço etc.
51
Excepcionalmente, também, a causa da ineficácia pode ter origem na interpretação de decisões judi-
ciais. Embora, como aponte Estevão Mallet, “entre duas interpretações igualmente possíveis e aceitáveis da
decisão, ambas adequadas ao seu texto e em conformidade com os demais cânones hermenêuticos já indi-
cados, prefere-se aquela de que decorre alguma eficácia, em detrimento da que a priva de eficácia” (Ensaio
sobre a interpretação das decisões judiciais, São Paulo: LTr, 2009, p. 64-65); deve-se afastar, na interpretação
da decisão judicial, significado de que resulte um comportamento inaceitável ou impossível.
52
Rubén H. Compagnucci de Caso, El negocio jurídico, Buenos Aires: Astrea, 1992, p. 496.
53
Luis Díez-Picazo y Ponce de León, Eficacia e ineficacia del negocio jurídico, Anuario de derecho civil (ADC)
no 14, v. IV, 1961, p. 820. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda assinala que a ineficácia de um negócio
jurídico “não se confunde com indiferença, ou falta de consequência. Negócio jurídico ineficaz pode dar
ensejo a consequências, e. g., a perdas e danos” (Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000,
p. 103).
98 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

ineficaz, uma vez que embora o ato não irradie seus efeitos próprios e finais, pode
produzir outros efeitos que não sejam aqueles relativos ao seu fim.54
Por fim, é de se afastar o entendimento de que a ineficácia pode ser automática,
isto é, decorrente ipsu iure da norma jurídica. Ainda que a norma contenha tal pre-
ceito, não há como negar que a ineficácia é uma questão delicada, que pode estar a
depender de interpretação em que se deva valorar o próprio sentido do texto legal,
assim como os interesses em disputa e os fatos relacionados com o caso. Por isso, em
última análise, o reconhecimento da ineficácia sempre dependerá de decisão da auto-
ridade competente (judicial ou administrativa).

5.5 TIPOS DE INEFICÁCIA

Uma tipificação rigorosa das modalidades de ineficácia do ato somente será feita
se tomada a partir da noção estrita de ineficácia.55 É de se descartar, portanto, as cha-
madas ineficácias decorrentes de causas estruturais ou intrínsecas, isto é, aquelas oriun-
das de vício na própria formação do ato jurídico: sua inexistência ou sua invalidade.56
Ainda que alguns dos critérios de catalogação da ineficácia possam coincidir com
aqueles utilizados para tipificar os modos de eficácia jurídica, o ângulo de análise é
distinto, é o da negação dos efeitos:

a) quanto ao surgimento da causa de ineficácia;


b) quanto ao círculo de interesses atingidos pela ineficácia;
c) quanto à extensão da ineficácia;
d) quanto à sanação da ineficácia.

A causa que dá ensejo à ineficácia pode ser inicial (ou primária ou originária)
quando o ato jurídico não gera efeitos desde o momento em que é realizado (por

54
Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003,
p. 63. Marcelo J. López Mesa refere-se a esses efeitos distintos dos típicos como eficácia secundária ou efeitos
indiretos do ato ineficaz (Ineficácia y nulidad de los actos jurídicos y procesales, Buenos Aires: Depalma, 1998,
p. 37). Manoel Augusto Vieira Neto denomina os efeitos alcançados distintos daqueles previstos na norma
como eficácia extra-tipo ou consequências jurídicas (Ineficácia e convalidação do ato jurídico, São Paulo:
Max Limonad, s.d., p. 40-41, nota 6).
55
Luis Díez-Picazo y Ponce de León, Eficacia y ineficacia del negocio jurídico, Anuario de derecho civil (ADC)
no 14, v. IV, 1961, p. 825.
56
Adverte Emilio Betti: “É evidente a conveniência de apreciar e classificar diversamente a falta de efeitos,
conforme dependa da deficiência intrínseca ou de circunstâncias extrínsecas, em relação ao tipo de ne-
gócio jurídico em si mesmo considerado: apreciável, a primeira, no próprio momento em que o negócio
adquire vida ou deva entrar em vigor; valoráveis, pelo contrário, as segundas, normalmente só depois de
celebrado e completado o negócio nos seus elementos constitutivos, e capazes de dar lugar à sua caduci-
dade” (Teoria geral do negócio jurídico, t. III, Coimbra: Coimbra Ed., 1970, p. 10).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 99

exemplo: o negócio subordinado a condição suspensiva e o testamento que somente


produzirá efeitos depois da morte do testador)57 ou pode ser superveniente58 quan-
do o ato desde logo gera efeitos, mas eles cessam posteriormente (por exemplo: o
negócio sob condição resolutiva).
Em relação ao círculo de interesses atingidos, ter-se-á uma ineficácia absoluta
quando o ato não produzir nenhum de seus efeitos típicos e finais para ninguém,
nem mesmo entre as partes envolvidas pelo ato (por exemplo: o negócio subordina-
do a condição suspensiva, que pode, até, jamais se verificar). Haverá ineficácia relativa
quando o ato é ineficaz para um grupo de pessoas, mas é eficaz para outras deter-
minadas pessoas (por exemplo: a cessão de crédito não tem eficácia em relação ao
devedor, senão quando a este notificada, conforme art. 290, 1a parte, CC/2002).59
É forma de ineficácia relativa a chamada inoponibilidade,60 que pode ser positiva ou
negativa. Diz-se positiva quando o ato é válido e eficaz perante as partes, mas é inefi-
caz perante certos terceiros (típico exemplo é o da fraude a credores). De outro lado,
um ato é de inoponibilidade negativa quando é inválido ou ineficaz entre as partes,
mas essa nulidade ou ineficácia resulta inoperante frente a certos terceiros (pode-se
dar como exemplo o terceiro de boa-fé que adquire bem de quem, posteriormente,
teve anulado o seu título de aquisição da coisa alienada).
No que toca à extensão, a ineficácia poderá ser total, quando privar o ato de toda
sua eficácia própria (por exemplo: o testamento que somente produzirá efeitos de-
pois da morte do testador). Por sua vez, a ineficácia será parcial se apenas parte dos
efeitos próprios vier a ocorrer (por exemplo: a promessa de compra e venda pode
permitir a posse sobre a coisa, mas seu domínio somente será adquirido quando o
pagamento for integralmente feito pelo adquirente).
Embora a ineficácia não seja um vício, pode admitir que a sua causa possa ser
afastada ou não. Assim, um ato inicialmente ineficaz pode adquirir sua eficácia em

57
José Carlos Barbosa Moreira refere-se a esta situação como temporalmente ineficaz (Invalidade e ineficá-
cia do negócio jurídico, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, no 23, Porto Alegre: Síntese, maio/jun.
2003, p. 125). De outro lado, há quem se refira à hipótese como sendo de eficácia pendente ou de eficácia
suspensa (Francisco Pereira de Bulhões Carvalho, Ineficácia do ato jurídico e a reforma do Código Civil,
Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara no 12, 1966, p. 2; Wilson de Souza
Campos Batalha, Defeitos dos negócios jurídicos, Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 44 e Renato Scognamiglio,
Inefficacia, Scritti giuridici, v. 1, Padova: Cedam, 1996, p. 162-164).
58
Wilson de Souza Campos Batalha denomina tal hipótese como ineficácia sucessiva ou eficácia eliminável
(Defeitos dos negócios jurídicos, Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 44).
59
José Carlos Barbosa Moreira refere-se a esta situação como subjetivamente ineficaz (Invalidade e ineficá-
cia do negócio jurídico, Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, no 23, Porto Alegre: Síntese, maio/jun.
2003, p. 126). Por sua vez, Manuel A. Domingues de Andrade lembra que negócios com essa característica
são bifrontes ou com cabeça de Jano: “quanto a uma das caras produzem efeito; quanto à outra não”
(Teoria geral da relação jurídica, v. II, 7a reimpr., Coimbra: Coimbra Ed., 1987, p. 412).
60
A esse respeito ver Ernesto E. Nieto Blanc, Nulidad en los actos jurídicos, 2. ed., Buenos Aires: Ad-Hoc, 2005,
p. 167-183 e Eduardo A. Zannoni, Ineficacia y nulidad de los actos jurídicos, 2a reimpr., Buenos Aires: Astrea,
2000, p. 136-138.
100 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

virtude de um ato posterior. Diz-se, então, que a ineficácia é sanável (é o caso, por
exemplo, da pós-eficacização antes mencionada). Do contrário, não havendo como
superar a causa que priva os efeitos do ato, será insanável (o negócio estar sujeito a
uma condição impossível, prevista no CC, art. 124, por exemplo).

5.6 EFICÁCIA DA NORMA PROCESSUAL: RELAÇÃO


JURÍDICA PROCESSUAL

A relação jurídica processual é efeito jurídico decorrente da norma secundária,


isto é, da promessa do Estado em substituir a vontade das partes a fim de, imperativa-
mente, fazer cumprir os efeitos da norma primária (que prescrevem direitos e deveres
de caráter substancial).61 Em suma: a relação jurídica processual se forma para que o
Estado-juiz preste uma tutela jurisdicional.
Analisando-se, portanto, a norma processual, é possível concluir que sua eficácia
deve ser tomada como consequência da lesão ou ameaça de lesão a direito, individual
ou coletivo, e resulta na formação de uma relação jurídica processual.
Por sua vez, como a prestação da tutela jurisdicional é o efeito jurídico final que
se alcança por meio de um processo, no qual uma série de atos em cadeia é realizada
(procedimento), cada qual com efeitos jurídicos próprios (ato processual); é possível
analisar a eficácia de cada um desses fenômenos.

5.7 EFICÁCIA DO PROCESSO: EFETIVIDADE PROCESSUAL

A efetividade ou eficácia social tem ganhado relevo em sede doutrinária, a pon-


to até de ser considerada um quarto plano de análise do ato ou da norma jurídica,62
portanto, distinguindo-se e estando ao lado dos planos da eficácia jurídica, da exis-
tência e da validade. Sua noção expressa o cumprimento do ato ou da norma jurí-
dica pela conduta humana, que age conforme seu conteúdo, obedecendo-lhe ou
aplicando-o.

61
Lourival Vilanova, Causalidade e relação no direito, 4. ed., São Paulo: RT, 2000, p. 188-191 e Marcos
Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a parte, São Paulo: Saraiva, 2003, p. 210-215.
Ainda sobre o tema, ver Maria Ednalva de Lima, A norma jurídica processual como parte da norma jurídica
completa, in: Temas controvertidos de processo civil, coord. Sérgio Niemeyer e Paulo Cesar Conrado, Rio de
Janeiro: Forense, 2001, p. 47-65.
62
Luís Roberto Barroso, A doutrina brasileira da efetividade, in: Constituição e democracia – estudos em ho-
menagem ao Professor J. J. Gomes Canotilho, coord. Paulo Bonavides, Francisco Gérson Marques de Lima
e Fayga Silveira Bedê, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 442. No âmbito do processo, encontra-se a mesma
referência em Fernando Adrían Heñin que, citando lição de Jorge W. Peyrano, diz que esse quarto estágio de
análise seria chamado de “eficientismo procesal” (Valoración judicial de la conducta procesal, RePro, no 170,
São Paulo: RT, abr. 2009, p. 60).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 101

Quando se diz que o processo está em crise, aponta-se que o processo ou a tu-
tela jurídica por ele prestada não é efetiva. Daí por que, noutra oportunidade,63 assi-
nalou-se que a efetividade do processo dependia da observância de dois pontos: da
existência de meios adequados para a solução dos problemas surgidos no âmbito do
direito material e dos resultados proporcionados pelo processo.64
Melhor refletindo sobre o tema, impõe-se rever essa posição.
A efetividade do processo inegavelmente decorre, apenas, do confronto entre o
decidido e o concretamente obtido; assim entendido à luz da máxima chiovendiana
de que o resultado do processo deve corresponder àquilo ou o mais próximo daquilo
que se verificaria se espontaneamente fosse realizado o direito substancial.65
Destarte, conforme Calmon de Passos, “não é o processo que reclama, enquan-
to tal, efetividade, mas sim a tutela prometida, o ordenamento como um todo sis-
temático, para cuja efetividade torna-se indispensável o processo de produção do
direito, não qualquer processo, e sim o devido processo constitucional”.66
Portanto, tem-se efetividade processual quando se observa que o processo foi
eficaz no sentido social, ou seja, quando o processo proporciona a efetiva (concreta)
paz social, mediante a justa composição em relação ao bem da vida controvertido;
vislumbrando-se que a tutela jurisdicional proporcionada é dotada de utilidade ao
direito que condicionou sua produção.67
Tal efetividade pode depender de fatores mesmo externos à atividade jurisdi-
cional, como na execução, em que a eficácia da atividade está condicionada à higi-
dez econômica do patrimônio do devedor ou responsável. Dado o risco que essa
forma de prestação jurisdicional tem de tornar-se infrutífera – o que também ocor-
re nos outros tipos de tutela, mas não de maneira tão aguda –, é que se apresenta
necessário o aparelhamento do sistema com mecanismos que possam assegurar sua
eficácia plena.68

63
Sandro Gilbert Martins, A defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica,
2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 26-30.
64
Os dois pontos citados resumem de forma bastante enxuta o programa básico em prol da efetividade
exposto por José Carlos Barbosa Moreira, Notas sobre o problema da “efetividade” do processo, Temas de
direito processual civil (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 27-28.
65
Giuseppe Chiovenda: “Il processo deve dare per quanto è possibile praticamente a chi ha un diritto tuto
quello e proprio quello ch’egli ha diritto di conseguire” (Dell’azione nascente dal contratto preliminare, in:
Saggi di diritto processuale civile, v. 1, Milano: Giuffrè, 1993, p. 110).
66
José Joaquim Calmon de Passos, Cidadania e efetividade do processo, Revista Síntese de Direito Civil e
Processual Civil, no 1, Porto Alegre: Síntese, set./out. 1999, p. 34. E prossegue o autor: “A efetividade é a marca
mesma do ordenamento jurídico. Sem ela, ele se disfuncionaliza e desqualifica”. Passagem similar é encon-
trada em outra obra do mesmo autor: Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processu-
ais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 123-124.
67
No mesmo sentido: José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Pau-
lo: Malheiros, 2006, p. 49 e Cesar Asfor Rocha, A luta pela efetividade da jurisdição, São Paulo: RT, 2007, p. 70-72.
68
Donaldo Armelin, A tutela jurisdicional cautelar, Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo
no 23, jun. 1985, p. 113.
102 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

5.8 EFICÁCIA DO PROCEDIMENTO: EFICIÊNCIA PROCESSUAL

A ideia de o processo ser conduzido da melhor maneira: firme no seu papel


garantístico,69 com o compromisso de prestar uma tutela jurisdicional no menor
tempo possível, com o mínimo de sacrifício econômico, da forma mais simples (isto
é, livre de formalidades desnecessárias) e cooperativa, sem detrimento do mínimo de
segurança e previsibilidade, com técnicas suficientes de realizar com resultados mais
pragmáticos os comandos dele emanados; diz respeito à eficácia enquanto “modo de
atuação do processo”,70 isto é, com a sua eficiência.71
Seguindo a esteira do que foi dito antes (item 1.1), tal reclamo de eficácia recai
sobre o procedimento que deve ser apto e idôneo a, de maneira equilibrada, permitir
a obtenção de formas de tutelas jurisdicionais adequadas às necessidades dos casos
concretos.72
O grau de eficiência do procedimento73 não se mede apenas pela observância das
regras e/ou respeito aos princípios que o informa. Também exerce influência sobre
a eficiência: a) o modelo procedimental, isto é, se a série de atos concatenados é ca-
paz de assegurar a plenitude das garantias do devido processo legal e proporcionar
um resultado conforme o Direito;74 b) a capacitação do material humano (juízes,

69
Dierle José Coelho Nunes assinala: “o processo constitui, na atualidade, uma verdadeira garantia contra o
exercício ilegítimo de poderes públicos e privados em todos os campos (jurisdicional, administrativo, legislati-
vo), com o fim de controlar os provimentos dos agentes políticos e garantir a legitimidade discursiva e demo-
crática das decisões” (Processo jurisdicional democrático, Curitiba: Juruá, 2008, p. 209). Em outras palavras,
o garantismo é visto tanto no prisma subjetivo dos direitos públicos das partes no processo, como no enfoque
objetivo de tutela do justo processo e do correto exercício da função jurisdicional.
70
Egon Bockmann Moreira, Processo administrativo, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2003, p. 194.
71
Segundo Ubirajara Costódio Filho, “a eficiência se relaciona com os meios” (A Emenda Constitucional
19/98 e o princípio da eficiência na Administração Pública, Cadernos de Direito Constitucional e Ciência Políti-
ca no 27, abr./jun. 1999, São Paulo: RT, p. 211). Acerca dos diversos focos de análise da noção de eficiência, ver
Emerson Gabardo, Princípio constitucional da eficiência administrativa, São Paulo: Dialética, 2002, p. 23-30.
72
Para Robert Alexy, poucas foram as ideias que despertaram tanta atenção quanto a existência de uma
conexão entre direitos fundamentais, organização e procedimento. Sustentado em forte doutrina alemã,
destaca que “as normas de organização e procedimento devem ser criadas de forma a que o resultado seja,
com suficiente probabilidade e em suficiente medida, conforme aos direitos fundamentais” (Teoria geral dos
direitos fundamentais, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 473).
73
A esse respeito, no âmbito processual, ver Roberto O. Berizonce, El problema de la ineficiencia del sistema
judicial. Algunas propuestas de solución, El proceso civil en transformación, Buenos Aires: La Plata, 2008, p. 75-
91; Dierle José Coelho Nunes e Alexandre Gustavo Melo Franco Bahia, Eficiência processual: algumas ques-
tões, RePro, no 169, São Paulo: RT, mar. 2009, p. 116-139. Também trata de eficiência do procedimento Miguel
Teixeira de Sousa, que a entende como a “sua aptidão para, mediante custos aceitáveis, servirem de meio
de tutela aos direitos e interesses. Esses custos referem-se tanto aos custos operacionais do processo, como
aos custos inerentes ao erro na decisão” (Introdução ao processo civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 12).
74
Robert Alexy entende que a um direito fundamental ao procedimento que “podem ser tanto direitos à
criação de determinadas normas procedimentais quanto a direitos a uma determinada ‘interpretação e apli-
cação concreta’ de normas procedimentais” (Teoria geral dos direitos fundamentais, São Paulo: Malheiros,
2008, p. 474). O autor ainda aponta dois modelos distintos para a relação entre os aspectos procedimental
e material. Pelo primeiro, a correção do resultado depende somente do procedimento e, assim, realizado
o procedimento de forma correta, o resultado também é correto. De acordo com o segundo modelo, o
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 103

advogados, promotores, professores, doutrinadores etc.) que opera com o processo;


c) o compromisso expressado em políticas públicas que assegurem uma estrutura su-
ficiente, fornecendo recursos materiais necessários, planejamento adequado e gestão
administrativa.
Quanto ao modelo procedimental, sua eficiência depende muito do sistema nor-
mativo processual e, desde que este assim autorize (item 2.10), dos eventuais ajustes
que porventura sejam incrementados pelos sujeitos que nele operam, os quais so-
mente serão excepcionalmente admitidos se forem fruto da efetiva participação das
partes na sua elaboração e aderentes à realidade social e ao direito controvertido.75
É certo que essa eficiência (de caráter normativo) ainda não foi atingida em sua ple-
nitude76 e não por outra razão o sistema processual positivo vem sofrendo inúmeras
reformas legislativas.
Convém ressaltar que eventuais desvios no rito preestabelecido na norma pro-
cessual: omissões, supressões, inversões, acréscimos, reduções etc. relativas aos atos
da cadeia procedimental, são situações que marcam apenas mediatamente a ineficiên-
cia procedimental, porque guardam direta relação com a validade do procedimento,
tal como assinalado antes (item 4.7.2). Vale dizer, em caso de infração às normas que
regulam a ordem procedimental, será preciso valorar se esta comprometeu a valida-
de do procedimento e, portanto, além de inválida marcou por consequência a inefi-
ciência do rito dali em diante; ou, ao contrário, o desvio foi necessário e adequado

procedimento é importante, mas deve ainda satisfazer parâmetros dele independentes “na maior medida
possível como uma forma de preencher a margem de discricionariedade por eles deixada” (op. cit., p. 488).
Conclui, portanto, que na relação entre procedimentos legais e direitos fundamentais o segundo modelo é
o compatível.
75
Luiz Guilherme Marinoni assinala que a adequação ao procedimento é dever que se impõe ao Poder Pú-
blico, razão pela qual não se dirige apenas ao legislador, mas, também, ao Estado-juiz. Diz: “Se o dever do
legislador de editar o procedimento idôneo pode ser reputado descumprido diante de determinado caso
concreto, o juiz, diante disso, obviamente não perde o seu dever de prestar a tutela jurisdicional efetiva. Por
tal razão, o juiz tem o dever de interpretar a legislação à luz do direito fundamental à tutela jurisdicional,
estando obrigado a extrair da regra processual, sempre com a finalidade de efetivamente tutelar os direitos,
a sua máxima potencialidade, desde – e isso nem precisaria ser dito – que não seja violado o direito de de-
fesa. Portanto, deseja-se propor, nesse momento, que o direito à tutela jurisdicional, ainda que sem perder
sua característica de direito de iguais oportunidades de acesso à justiça, passe a ser visto como o direito à
efetiva proteção do direito material, do qual são devedores o legislador e o juiz, que então passa a ter um
verdadeiro dever de se comportar de acordo com o direito fundamental à efetividade da tutela jurisdicio-
nal” (Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo: RT, 2004, p. 189). Em sentido análogo, Fernando da
Fonseca Gajardoni, que se dedicou ao estudo da flexibilização procedimental, adverte: “Engana-se, portan-
to, quem vincula o respeito ao devido processo legal à obediência de um trâmite processual estabelecido
em regras rígidas fixadas em lei. Além disso, não constar de nenhum dispositivo constitucional, o art. 5o, LIV,
da Constituição Federal não determina que o processo siga à risca as normas procedimentais estabelecidas
em lei, mas sim que seja oportunizado às partes o direito a um processo justo, isto é, onde lhe seja assegura-
do o respeito às garantias constitucionais (contraditório, isonomia, juiz natural etc.) e às oportunidades pre-
vistas na norma processual, algo que pode ser perfeitamente alcançado ainda que com um procedimento
que se adapte judicialmente à realidade” (Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 102).
76
Tal observação já fora feita por Donaldo Armelin (Legitimidade para agir no direito processual civil brasilei-
ro, São Paulo: RT, 1979, p. 31).
104 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

e, portanto, embora caracterize a atipicidade do procedimento, contribuiu para que


este pudesse, desde então, ser tomado como eficiente.
É bom assinalar que o grau máximo de eficiência do procedimento não assegu-
rará que o resultado final seja o melhor ao caso concreto. Destarte, a decisão final
que interessa às partes pode conter falhas na sua fundamentação, na valoração dos
fatos e das provas e até mesmo na própria aplicação do direito. Todavia, a eficiência
do procedimento assegurará que as partes tiveram plenas condições de influenciar
esse resultado, o que não só legitima a decisão proferida, mas maximiza a chance de
conformação das partes a essa decisão.77
Assim analisado o modo de atuação do processo, convém assinalar que a ideia
já bastante conhecida de que o processo é o procedimento realizado em contraditó-
rio78 estará melhor situada se colocada no plano da eficácia, ou melhor, da eficiência
do procedimento. Com efeito, nisso reside o núcleo central da eficiência do procedi-
mento: ela será diretamente proporcional conforme seja o respeito ao contraditório.
Portanto, a violação ao contraditório não deve ser tomada como uma nulidade79
e, sim, como uma ineficácia que visa preservar a esfera jurídica daquele que dele não
participou. Na verdade, tal ofensa caracteriza a ineficiência do procedimento em que
se verificou (itens 5.11, 6.2 e 6.3).80

5.9 EFICÁCIA DO ATO PROCESSUAL: EFICÁCIA PROCESSUAL


STRICTO SENSU

Por eficácia processual stricto sensu deve-se entender o sucesso do ato proces-
sual em si, isto é, significa que foi alcançado o objetivo que se tinha com a reali-
zação do ato. E assim deve ser entendido em relação aos fins processuais do ato,
sejam internos (que acontecem dentro do processo) ou externos (os que se projetam
para fora do processo, atingindo, especialmente, a vida dos envolvidos na relação

77
Fernando da Fonseca Gajardoni, Flexibilização procedimental, São Paulo: Atlas, 2008, p. 98.
78
Por todos, entre nós, ver Cândido Rangel Dinamarco, A instrumentalidade do processo, 5. ed., São Paulo:
Malheiros, 1996, p. 126-137.
79
Assim sustentam, por exemplo, Paula Costa e Silva, Saneamento e condensação no novo processo civil: a
fase da audiência preliminar, Aspectos do novo processo civil, São Paulo: Lex, 1997, p. 263 e Eduardo Cambi,
A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo: RT, 2006, p. 120.
80
Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 284, especialmente na
nota 125 e Daniel Francisco Mitidiero, Colaboração no processo civil, São Paulo: RT, 2009, p. 121-122, na nota
20. Explica esse último autor: “De nossa parte, temos que o problema não concerne ao plano da validade,
mas ao plano da eficácia, na medida em que não se tem aí um defeito no suporte fático do ato em si (isto é,
no suporte fático do ato decisão), ocorrendo antes a omissão de um ato que é estranho à estrutura íntima da
decisão (omissão da intimação das partes), que funciona nesse contexto como condicionante da eficácia
dessa”.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 105

processual).81 Portanto, ter-se-á eficácia processual quando o ato processual produzir


o efeito típico esperado.
Assim, por exemplo, será considerada eficaz a petição inicial se ela for apta a
delimitar a lide, isto é, as dimensões subjetivas e objetivas da controvérsia; a citação
terá sido eficaz se o sujeito chamado foi cientificado da oportunidade de participar
do processo; terá eficácia uma sentença de mérito se o comando formulado pelo juiz
disciplinar a controvérsia levada ao seu conhecimento.
Do ponto de vista interno, é corrente o entendimento de que o ato processual,
por si só, não produz propriamente efeitos jurídicos relevantes, pois somente os
produzirá quando integrar o procedimento no qual está inserido. Vale dizer, o ato
processual não nasce para ser isolado e, sim, coordenado com outros atos, cuja cadeia
contínua visa elaborar um ato final. “Mas da insuficiência do acto para, só por si, pro-
duzir o efeito que depende da existência de um acto terminal típico não decorre que
o acto processual isoladamente considerado não produza efeito algum”.82
Tomado o ato como integrante desta atividade em série, é possível afirmar que o
exercício eficaz de um ato processual depende de três fatores: a) que tenha sido rea-
lizado por quem tinha o poder processual de praticá-lo; b) que tenha sido cumprido
com respeito ao limite de tempo83 que é dado para sua realização; c) que tenha sido
realizado no lugar procedimental que lhe é próprio.84
Os sujeitos que atuam no processo (partes, juiz, agente do Ministério Público,
terceiros etc.), exercem posições jurídicas (direitos, ônus, deveres etc.) de maneira
distinta (ativa e passivamente).85 Seja como for, a posição é conferida ao sujeito para
que determinado fim seja atingido no curso ou ao final do procedimento. Esse po-
der de atuação conforme as situações jurídicas, portanto, deverá ser sempre aferido
dentro das circunstâncias do procedimento, não havendo sentido se considerado
isoladamente.

81
Dante Barrios De Angelis, Teoría del proceso, 2. ed., Buenos Aires: IBdef, 2005, p. 157.
82
Paula Costa e Silva, Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 256.
83
Esse limite de tempo pode ser decorrente da fluência do prazo ou pela superação de uma fase do procedi-
mento, conforme anota Heitor Vitor Mendonça Sica (Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 129).
A esse último fenômeno, Luiz Machado Guimarães denominou preclusão por ultrapassagem, embora não
deixe de ser uma preclusão temporal (Preclusão, coisa julgada, efeito preclusivo, Estudos de direito proces-
sual civil, São Paulo: Jurídica e Universitária, 1969, p. 12 e 14).
84
A menção a esses requisitos é encontrada em Giancarlo Giannozzi, Per uno studio del concetto di
inefficacia processuale, Studi in memoria di Carlo Furno, Milano: Giuffrè, 1973, p. 448-449 e em Appunti per
un corso di diritto processuale civile, MIlano: Giuffrè, 1980, p. 190-191. No Brasil, parece seguir tal referência
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 138, não obstante não haja referên-
cia expressa ao autor italiano.
85
Acerca do tema situações subjetivas no processo, ver José Maria Tesheiner, Situações subjetivas e proces-
so, RePro no 107, São Paulo: RT, jul./set. 2002, p. 18-23 e Paula Costa e Silva, O processo e as situações jurídicas
processuais, in: Teoria do processo – panorama doutrinário mundial, coord. Fredie Didier Jr. e Eduardo Ferreira
Jordão, Salvador: JusPodivm, 2008, p. 769-808.
106 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Esse poder, no entanto, não é dado a qualquer sujeito. Somente aqueles sujeitos
cuja intervenção seja mesmo necessária no desenvolvimento do procedimento é que
têm o poder de exercer essas posições.
Para as partes e os terceiros que atuam em processo alheio,86 não basta que pos-
suam capacidade processual87 e postulatória, mas que tenham legitimidade88 que é
a capacidade específica para a prática de determinado ato. Destarte, os poderes ine-
rentes às situações subjetivas relativas às partes e aos terceiros, lhe são conferidos em
razão de terem que se sujeitar ao ato final do procedimento, seja por força da coisa
julgada ou da eficácia natural da sentença.89 Portanto, o poder de atuar no procedi-
mento resulta dessa situação legitimante e, ausente a referida legitimidade, o ato será
ineficaz.90 Para exemplificar, imagine-se o caso do assistente simples que apresenta
recurso contra decisão antes de o assistido o fazer. Caso o assistido não tenha inten-

86
Calha lembrar que existem duas situações que envolvem terceiros no processo. Elas são assim apresen-
tadas por Teresa Arruda Alvim Wambier: “a) o terceiro que intervém no procedimento de uma ação que já
estava em curso, mas que, com seu ingresso, faz nascer uma outra relação processual (e, portanto, outro
processo, no sentido estritamente técnico do termo) entre ele, interveniente, e as partes ou, pelo menos, uma
das partes da ação originária; e b) o terceiro que intervém no procedimento, não gerando, com seu ingresso,
outra relação processual, não fazendo, pois, nascer, outro processo, este intervém em processo alheio real-
mente” (Os agravos no CPC brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 230).
87
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda associa a eficácia do ato à capacidade processual: “a capa-
cidade processual ou de estar em juízo diz respeito à prática e a recepção eficazes de atos processuais, a
começar pela petição e a citação, isto é, ao pedir e ao ser citado” (Comentários ao Código de Processo Civil,
t. I, 5. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 238, grifo nosso).
88
Juan Ladaria Caldentey enfrentou a questão: “la falta de legitimación produce la ineficacia del acto y esta
ineficacia implica la irrelevancia para el titular de la esfera jurídica sobre la que en su caso tendiera a recaer
el acto” (Legitimación y apariencia jurídica, Barcelona: Bosch, 1952, p. 3-4). Também Antônio Junqueira de
Azevedo refere-se à “legitimidade-fator de eficácia”, que segundo ele pode ser definida “como a qualidade
do agente consistente na aptidão, obtida pelo fato de estar o agente na titularidade de um poder, para
realizar eficazmente um negócio jurídico; ela existe por causa de uma relação jurídica anterior” (Negócio
jurídico – existência, validade e eficácia, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2000, p. 57). Cândido Rangel Dinamarco
igualmente reconhece que “a legitimidade para o negócio jurídico e a legitimidade ad causam correspon-
dem bem a essa exigência de que os efeitos de todo ato jurídico só se legitimam se os destinatários partici-
param da sua preparação (ato processual, provimento) ou mesmo foram os seus autores (negócio jurídico
de direito privado, autorregulação dos próprios interesses)” (Litisconsórcio, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996,
p. 284-285). Miguel Teixeira de Sousa faz referência à legitimidade ad actum como “pressuposto” de eficácia
dos atos das partes (Introdução ao processual civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 99).
89
A expressão é de Enrico Tullio Liebman para designar a sujeição dos terceiros aos efeitos da sentença de
processo em que não foram parte (Eficácia e autoridade da sentença, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1984,
p. 122).
90
Donaldo Armelin alcança a mesma conclusão de Juan Ladaria Caldentey, transcrita na nota 88. Diz: “é
a legitimidade o pressuposto específico da eficácia do ato jurídico, posto que essa mesma ineficácia possa
emergir da carência de outro pressuposto de validade do ato jurídico, que é a capacidade. Todavia, embora
não se possa descartar a existência de hipóteses legais onde a carência de legitimidade enseja a nulidade
do ato, o que se explica pela confusão existente entre o instituto de legitimidade e da capacidade, aquele,
em regra, garante a eficácia e não a validade do ato jurídico. Assim sendo, consideradas as premissas giza-
das supra, resulta a legitimidade, que supõe a capacidade, como a idoneidade do sujeito para a prática de
determinado ato ou para suportar seus efeitos, emergente em regra da titularidade de uma relação jurídica
ou de uma situação de fato com efeitos jurígenos, asseguradora da plena eficácia desse mesmo ato, e, pois,
da responsabilidade pelos seus efeitos, relativamente àqueles atingidos por estes” (Legitimidade para agir
no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 1979, p. 13). O mencionado autor ainda traça importantes
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 107

ção de recorrer contra a decisão, o recurso do assistente perderá sua eficácia por falta
de legitimidade.91 Isto é, o terceiro não goza de poder autônomo para realizar o ato
que produza efeitos e vincule o assistido. Somente o assistido tem poder (legitimida-
de) para realizar atos que produzam efeitos sob sua esfera jurídica.92
Note-se, portanto, que não se trata aqui de legitimidade ad causam, pois, in-
clusive, está-se falando de ato de terceiros – assim considerados enquanto tercei-
ros à relação processual e não como eventuais substitutos processuais (legitimação
extraordinária) –, para o que é impertinente a aferição da mencionada legitimida-
de, vez que esta análise é exclusiva de quem é parte na ação. Curiosamente, a le-
gitimidade do terceiro será aferida a partir de seu interesse jurídico (CPC, art. 50;
art. 487, II; art. 499 etc.). É claro que a legitimidade ad causam poderá ser bastante
para aferir se o ato praticado é eficaz, mas, por vezes ainda, será necessário avaliar
outros fatores, tais como o momento em que o ato foi praticado perante a cadeia
procedimental.
Veja-se, por exemplo, o caso do recurso manejado por quem foi reconhecido ile-
gítimo a figurar num dos polos da ação. Se esse sujeito recorrer da referida decisão,
embora ele não tenha a referida legitimidade ad causam, seu ato será eficaz à luz da
legitimidade-fator de eficácia aqui apontado.93 Porém, a realização de outro ato pe-
rante o processo original por essa parte ilegítima terá tudo para ser ineficaz pela falta
de legitimidade ad causam, salvo ainda existir alguma razão que justifique a sua par-
ticipação e, assim, lhe confira legitimidade para atuar eficazmente.
Também é possível lembrar a situação dos cônjuges que, nos termos da lei
(CC/2002, arts. 1.647 e 1.648 e CPC, arts. 10 e 11) não são legítimos para, iso-
ladamente sem autorização do outro, demandar ou se defender em ações que di-
gam respeito a bens imóveis (relativas a direitos de vizinhança, servidão, nunciação
de obra nova, divisória, demarcatória, demolitória, usucapião, composse, envolven-
do hipoteca etc.).94 Essa restrição legalmente imposta de integração de legitimida-
de visa proteger o patrimônio familiar e configura hipótese de ineficácia do ato em

e esclarecedoras distinções entre capacidade e legitimidade, com intuito, entre outros, de evidenciar a ine-
ficácia do ato por falta de legitimidade (op. cit., p. 14-19).
91
Em sentido análogo: STF, HC 77.270/MS, Rel.  Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, j. em 06/10/1998, DJ
27/04/2001.
92
Em sentido similar, Paula Costa e Silva, Acto e processo, Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 213.
93
A eficácia, no caso, é aferida como requisito de admissibilidade do recurso. Trata-se da legitimidade para
recorrer, como leciona Nelson Nery Junior: “O requisito de legitimidade para recorrer deve ser obedecido em
todos os recursos para que sejam conhecidos e se possa resolver-lhes o mérito. No entanto, quando o mérito
do recurso for a própria legitimidade para a causa, não se o pode inadmitir sob o fundamento da falta de
legitimidade” (Teoria geral dos recursos, 6. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 314-315).
94
É de se destacar que a vedação é aplicável aos regimes de bens de comunhão parcial, de comunhão
universal e de participação final de aquestos; sendo que neste último, desde que haja acordo pré-nupcial
neste sentido (CC/2002, art. 1.656). Portanto, não se aplica a exigência quando o casamento se der pelo
regime de separação absoluta de bens, legal ou convencional.
108 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

desrespeito a esses comandos legais, o que poderá comprometer a eficácia do próprio


processo.95
Para o juízo, exige-se competência e, em relação ao juiz, seja ele imparcial, atri-
buto este que também deve ser preenchido pelos auxiliares da justiça e pelo agente
do Ministério Público (CPC, art. 138). Embora ambos, competência e imparcialida-
de, sejam frequentemente inseridos entre os requisitos de validade do procedimen-
to (ou, erroneamente, do processo, item 4.7),96, 97 é melhor tomá-los como fator de
eficácia do ato judicial.98

95
A respeito do tema, ver Thereza Alvim que o trata como sendo caso de integração da capacidade do
cônjuge que vai a juízo, pelo outro que não vai (O direito processual de estar em juízo, São Paulo: RT, 1996,
p. 27-78). Não parece correto entender tratar-se de integração de capacidade, pois os cônjuges são capa-
zes, cada qual, o que lhes falta é legitimidade para, sozinho, agir em juízo. Ver, também, Cassio Scarpinella
Bueno, Partes e terceiros no processo civil brasileiro, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 40-49 e Fredie Didier
Jr., A participação das pessoas casadas no processo, Questões processuais do novo Código Civil, coord.
Rodrigo Mazzei, Barueri: Manole, 2006, p. 454-467.
96
Além dos autores já citados no capítulo anterior, pode-se ainda citar: Enrico Tullio Liebman, Manual de
direito processual civil, v. 1, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 56; Patrícia Miranda Pizzol, A competência
no processo civil, São Paulo: RT, 2003, p. 123; Daniel Amorim Assumpção Neves, Competência no processo
civil, São Paulo: Método, 2005, p.  16 e Leonardo José Carneiro da Cunha, Jurisdição e competência, São
Paulo: RT, 2009, p. 98-110. Roberto P. Campos Gouveia Filho faz interessante distinção entre capacidade e legi-
timidade, concluindo que a competência é uma capacidade, cuja aferição de sua existência deve ser feita
em abstrato e, no plano processual, sua falta acarretará sempre uma invalidade (A competência como uma
capacidade de exercício de direitos, Revisitando a teoria do fato jurídico – homenagem a Marcos Bernardes
de Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt Jr., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 527-548).
97
Ovídio A. Baptista da Silva afirma que a competência não é pressuposto de existência nem requisito de
validade da relação processual. Para o autor: “A demanda ajuizada perante juiz incompetente forma relação
processual que existe e é perfeitamente válida, a ponto de produzir efeitos processuais. As questões relativas
à competência do juízo, diz corretamente GIOVANNI ARIETA, são tratadas e resolvidas no corpo de um pro-
cedimento que validamente continua seu curso, depois de transferido do juiz declarado incompetente para
a jurisdição àquele a quem se atribua a competência” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1, São
Paulo: RT, 2000, p. 393-394). Alexandre Freitas Câmara também não inclui a competência entre os requisitos
de validade sob o argumento de “não guardar coesão com os demais integrantes desta categoria jurídica”,
isto é, por levar “à prolação de decisão determinando a remessa dos autos ao juízo competente, onde o
mesmo processo prosseguirá seu desenvolvimento” enquanto nos demais casos da categoria, a eventual
“ausência de qualquer destes deve levar à prolação de sentença que põe termo ao processo sem resolução
de mérito (art. 267, VI, CPC)” (Lições de direito processual civil, 9. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 233).
98
Miguel Teixeira de Sousa aponta a competência como “pressuposto” de eficácia dos atos judiciais (Intro-
dução ao processual civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 99). José Carlos Barbosa Moreira já havia questio-
nado: “a validade do processo depende mesmo de que seja competente e insuspeito o juiz processante? A
incompetência, ainda quando absoluta, pela disposição expressa do art. 113, § 2o só acarreta a nulidade
dos atos decisórios: todos os outros valem como se proferidos por órgão competente. E a suspeição, essa,
uma vez declarada ex officio ou reconhecida por provocação da parte, tem como consequência única o
afastamento, daí em diante, do juiz suspeito, mas em nada atinge a validade de qualquer dos atos por ele
até então praticados, conquanto já existente a respectiva causa, a não ser quando descumprido o preceito
do art. 306” (Sobre pressupostos processuais, in: Temas de direito processual civil (quarta série), São Paulo:
Saraiva, 1989, p. 87). Humberto Theodoro Júnior (Nulidade, inexistência e rescindibilidade da sentença, RePro
no 19, São Paulo: RT, jul./set. 1980, p. 34 ) e Gelson Amaro de Souza (Validade de decisão do juízo incompe-
tente, Revista Jurídica no 277, Porto Alegre: Nota Dez, nov. 2000, p. 34-37 e Prorrogação ou modificação da
competência absoluta, RePro no 110, São Paulo: RT, abr./jun. 2003, p. 353-354) entendem que julgamento pro-
ferido no juízo absolutamente incompetente não é por isso nulo ou anulável, ou seja, igualmente afastam o
fenômeno do campo da validade do ato processual. Todavia, os autores não tratam a questão como sendo
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 109

Destarte, se a incompetência dissesse respeito à validade do procedimento, por


viciar os pronunciamentos do juízo, a decisão que reconhece a própria incompetên-
cia também careceria de validade. Vale dizer, se o juízo é competente para decidir
acerca de sua própria competência, esse poder exclui qualquer defeito sobre essa
atividade judicial, não havendo, portanto, como se cogitar de invalidade.99 Ademais
disso, o processo instaurado perante órgão judicial sem competência não é nulo nem
se extingue por essa razão, ainda que a incompetência seja absoluta, devendo apenas
ser deslocado para o órgão competente, onde continuará a se desenvolver.100 A sus-
peição, por sua vez, não afeta a validade do processo, tendo como consequência úni-
ca o afastamento, dali em diante, do juiz suspeito.101 Logo, mesmo incompetente e
parcial o juiz exerce jurisdição e, por isso, seus atos são existentes e podem produzir
ou não efeitos. O próprio sistema positivo dá sinal de que a competência é fator de
eficácia e não de validade. O art. 202, I, do Código Civil e o caput do art. 219 do
Código de Processo Civil estabelecem que a citação, ainda que ordenada por juízo
incompetente, produz efeitos, tais como interromper a prescrição. Se a incompe-
tência fosse requisito de validade, em princípio se afastaria essa produção de efeitos.
Portanto, a competência é um plus ao ato judicial que indica se o juízo está legiti-
mamente102 exercendo o poder jurisdicional do qual foi investido. Sua natureza de

de eficácia, embora reconheçam que, por força da coisa julgada, o julgamento terá plena eficácia sendo
meramente rescindível (não nulo!), no prazo de 2 (dois) anos nos termos do art. 495 do CPC. Andrea Proto
Pisani, ao reconhecer que a competência “è requisito di validità non della domanda giudiziale, ma degli atti
e provvedimenti del giudice” (Lezioni di diritto processuale civile, 2. ed., Napoli: Jovene, 1996, p. 299), parece
estar apenas reconhecendo que os efeitos dos atos do juiz incompetente é que poderão ser desprezados,
não os efeitos substanciais e processuais da demanda.
99
Giancarlo Giannozzi assim explica: “In queste ipotesi, per vero, il giudice non manca del potere di svolgere
la funzione giurisdicionale: egli è istituzionalmente un giudice, sol che non puó conoscere, per ragioni di
giurisdizione o di competenza, in ordine a quella singola controversia nella quale tali questioni siano insorte.
Egli però puó decidere in ordine alla propria giurisdizione e alla propria competenza. E ciò esclude che egli
difetti di quel potere d’attività di cui ci stiamo occupando, e che si scorge appunto in altre ipotesi di autentica
patologia processuale, (...)” (Per uno studio del concetto di inefficacia processuale, Studi in memoria di Carlo
Furno, Milano: Giuffrè, 1973, p. 450).
100
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 88).
Convém assinalar, como o fazem Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, que a lei às vezes
atribui competência ao juiz sob condição, ou seja, desde que não seja manejada a exceção cabível ou não
seja tempestivamente exercido o poder de o juiz reconhecer sua incompetência de ofício (Lezioni sul proces-
so civile. Bologna: Il Mulino, 1995, p. 118). Ora, se a competência se sujeita à condição, é de se reconhecer
que sua eficácia é que está assim subordinada (item 5.9.3).
101
Do mesmo modo, tanto em relação aos aspectos inerentes à competência quanto à suspeição, é o enten-
dimento de Ada Pellegrini Grinover, Pressupostos processuais e processo penal, O processo em sua unidade,
São Paulo: Saraiva, 1978, p. 169.
102
Segundo Donaldo Armelin, “a competência enquadra-se no conceito de legitimidade, de tal sorte que im-
portará na idoneidade do órgão judicial inferida do seu confronto com o objeto concreto do processo onde
aquele órgão atua” (Competência internacional, RePro no 2, São Paulo: RT, abr./jun. 1976, p. 134). Leonardo
José Carneiro da Cunha também igualmente reconhece que a competência constitui uma legitimidade
(A competência como legitimidade para a prática do ato jurídico, Revisitando a teoria do fato jurídico – ho-
menagem a Marcos Bernardes de Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt Jr., São Paulo: Saraiva,
2010, p. 377-378). Tal como dito antes, entende-se que a ilegitimidade conduz à ineficácia e não à invalidade.
110 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

questão preliminar em relação ao mérito (CPC, art. 301, II) condiz com a necessi-
dade de se evitar uma decisão de mérito ineficaz, embora válida. Portanto, quando
se faz referência à admissibilidade do procedimento ou do ato processual, este juízo
também engloba fatores de eficácia.
Todavia, ainda quanto ao juiz, pode ser que a mera competência não seja sufi-
ciente para legitimá-lo a atuar no processo com eficácia. Daí por que, por exemplo,
embora ele seja competente, não tem poder para recorrer de suas próprias deci-
sões103 ou das decisões de outros juízos ou tribunais que interfiram nos casos de sua
competência. Entretanto, sendo ele parte passiva de algum incidente (exceção de
impedimento ou suspeição), ele terá poder para agir com eficácia nestes, inclusive
recorrendo.104 Nestes casos, na verdade, atua o juiz com legitimidade, porque atua
não propriamente na função de julgar, mas como parte.
Os auxiliares do juízo em geral, como o escrivão, escrevente, contador, partidor,
depositário judicial, perito judicial, tradutor etc., assim como o Membro do Minis-
tério Público, têm poder para eficazmente atuar no processo, desde que seus atos
sejam inerentes às funções que desempenham. Não haverá eficácia, por exemplo, se
os auxiliares da justiça pretenderem discutir a lide, porque esta não lhes diz respeito.
Assim como será ineficaz o ato do agente do Ministério Público quando atuar como
fiscal da lei em causas em que tal poder não lhe foi conferido (CPC, art. 82). De
outro lado, todos esses têm legitimidade para, por exemplo, interpor recurso – que,
portanto, será ato eficaz – contra decisão proferida em incidente processual de seu
interesse, em que é parte, tal como o dito antes para o juiz.
Ainda em relação a esse primeiro fator de eficácia acima referido, é importante
lembrar os casos em que falta a assinatura do sujeito que praticou o ato e que, tal
como antes dito (item 3.7), devem apenas ser analisados no plano da eficácia. Nes-
sas hipóteses, constatado que não falta ao sujeito o poder de atuar no processo (a
parte é legítima, o prolator da decisão é juiz etc.), a assinatura funciona apenas para

103
Poder-se-ia cogitar aqui do próprio juiz emissor da decisão alterá-la indevidamente, cassando-a e profe-
rindo novo julgamento, ainda que parcialmente. Ora, salvo as exceções legais previstas (por exemplo: CPC,
arts. 267, § 3o, 273, § 4o, 285-A, § 1o; 296 e 463) o sistema proíbe a alteração da decisão após a sua respectiva
publicação. Embora doutrina (Flávio Luiz Yarshell, Ação rescisória – juízos rescindente e rescisório, São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 71 e 97) e jurisprudência (ver nota 5 ao art. 463 do CPC em Theotonio Negrão, José Ro-
berto F. Gouveia e Luis Guilherme Aidar Bondioli, Código de Processo Civil e legislação processual civil em
vigor, 41. ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 578-579) identifiquem a questão como sendo de invalidade, melhor
seria tomá-la como de ineficácia. Assim o é, porque o juiz, embora competente, não tem mais legitimidade
(o poder) de reapreciar a questão já decidida, seja por vedações para sua atuação de ofício seja pela pre-
clusão, que implicará uma atuação fora da ordem procedimental estabelecida. Embora não pareça correto
tomar tal ato indevido como administrativo, como já o fez o STJ (RMS 1.618/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de
Barros, Primeira Turma, j. em 09/12/1992, DJ 01/03/1993), tal solução parece uma forma oblíqua de identificar
a ineficácia da decisão judicial que altera ou amplia a decisão anterior.
104
Nelson Nery Junior (Teoria geral dos recursos, 6. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 312) e Teresa Arruda Alvim
Wambier (Os agravos no CPC brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 250), reconhecem essa legitimidade
recursal dos auxiliares da justiça, que nada mais é do que o fator de eficácia defendido no texto.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 111

demonstrar que essa atuação foi concretamente exercida. Logo, deve ser plenamente
admissível que o sujeito supra essa sua inatividade, complementando o ato realizado,
lançando sua assinatura.
No que respeita ao segundo fator de eficácia, já se apontou anteriormente (item
4.7.2) que o tempo que se tem disponível para a realização do ato não integra os re-
quisitos formais de validade do ato, porque sendo condição exterior à estrutura do
próprio ato, apenas influencia a produção dos seus efeitos, razão pela qual o tempo
deve ser analisado no plano da eficácia. Também não é correto entender que ato pra-
ticado fora de prazo é ato inexistente.105
Ato intempestivo é, em princípio, ato ineficaz.106 Os prazos tendem a ser fatais
(CPC, art. 183, caput, 1a parte). Quando fixados sob pena de preclusão temporal
(prazo preclusivo), seu decurso torna absolutamente inúteis os atos realizados de-
pois. Assim, por exemplo, um recurso elaborado conforme exige a lei, porém pro-
tocolado além do prazo legal, não será defeituoso em si mesmo, mas deixará de
produzir efeitos porque desatendido o requisito do tempo do ato processual. É de se
ressalvar, porém, a excepcional hipótese da parte invocar justa causa (CPC, art. 183,
caput, 2a parte e § 1o) que, uma vez comprovada, admite seja dada eficácia a ato
praticado a destempo. Também é se de assinalar que essa ineficácia oriunda de ato
intempestivo pode não ser total, uma vez que o ato pode produzir eficácia parcial.
É o caso, por exemplo, da contestação apresentada depois de terminado o prazo le-
gal. Nesse caso, pode a contestação e os documentos que a acompanharam não ser
desentranhados do processo, permitindo que o magistrado examine a matéria cog-
noscível de ofício, bem como, com fundamento no art. 130 do CPC, utilize os do-
cumentos como prova a ser valorada na decisão final.107
Ainda em relação ao tempo do ato, não parece correto entender que a tempes-
tividade do recurso somente tem lugar a partir da publicação oficial do provimento
jurisdicional que se visa impugnar ou, ao contrário, que a extemporaneidade do
recurso ocorre não apenas quando é interposto além do prazo legal, mas também
quando é apresentado em data anterior à intimação oficial das partes interessadas
a respeito do teor da decisão a ser combatida.108 Ora, se a decisão já existe e está

105
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 75.
106
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 608.
107
Defendendo o não desentranhamento da peça de contestação e seus documentos, ver Cândido Rangel
Dinamarco, Fundamentos e alcance do efeito da revelia, Fundamentos do processo civil, v. 2, São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 953-955; Araken de Assis, Restituição tardia dos autos e revelia, RePro no 101, São Paulo: RT,
jan./mar. 2001, p. 62-67; e Maria Lúcia Medeiros, A revelia sob o aspecto da instrumentalidade, São Paulo:
RT, 2003, p. 140-144. Na jurisprudência: STJ, AgRg no Ag 1074506/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, j.
em 17/02/2009, DJe 03/03/2009.
108
No STF: AI 199.519 AgR/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, j. em 13/10/1997, DJ 05/12/1997; AI
428.907/RS AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, j. em 17/06/2003, DJ 09/12/2005; Pleno – Pet 3087
AgR-ED/DF, Rel. Min. Carlos Britto, j em 07/04/2005, DJ 02/12/2005 e RE 450443 AgR-AgR/RN, Rel. Mina Ellen Gra-
cie, Segunda Turma, j. em 29/11/2005, DJ 03/02/2006. No STJ: AgRg no Ag 242.107/DF, Rel. Min. José Delgado,
112 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

pública, mesmo antes e independentemente de sua publicação nos órgãos oficiais,


pode a parte interessada apresentar o recurso cabível, para o que ficará evidente
que dela tomou ciência inequívoca, isto é, deu-se por intimada no mesmo ato em
que recorreu.109 Logo, não há que se falar em intempestividade numa situação
como essa.110
O terceiro e último fator de eficácia do ato processual é que este seja pratica-
do no lugar procedimental que lhe é próprio. Tal fator guarda relação com as ca-
racterísticas já examinadas (item 2.5) do ato processual: interligação, vinculação e
interdependência. Cada ato processual é realizado para integrar o procedimento (in-
terligação) e por isso mesmo todos projetam efeitos à série para provocar e preparar
o efeito final a ser alcançado ao término do procedimento (vinculação). Daí por que
um ato é dependente de outro que lhe é anterior assim como exercerá influência
àquele que lhe será posterior (interdependência). Percebe-se, portanto, que como o
procedimento se desenvolve mediante uma sucessão de atos em que um é causa e/
ou efeito do outro, é importante que o ato seja praticado na ordem (no lugar) pre-
viamente estabelecida a fim de que a cadeia procedimental avance sem falhas.111
Ultimamente, questão que vem sendo enfrentada pelos tribunais e que deve-
ria ser vista à luz deste último fator de eficácia, vem sendo equivocadamente tratada
como caso de intempestividade – dita prematura – do recurso. Destarte, não raras ve-
zes, uma das partes apresenta recurso em momento inoportuno, como por exemplo,
antes do julgamento do recurso de embargos de declaração ou de embargos infrin-
gentes interposto pela parte adversária. Em hipóteses como essas, tem-se entendido

Primeira Turma, j. em 25/04/2000, DJ 22/05/2000; AgRg no Ag 497.986/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, j.
em 18/09/2003, DJ 28/10/2003; REsp 182.918/CE, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, j. em 28/10/2003,
DJ 26/04/2004 e AgRg no RMS 15.205/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, j. em 08/06/2004, DJ 01/07/2004.
109
Neste sentido, no STF: RE 88697/SP, Rel.  Min. Rodrigues Alckmin, Primeira Turma, j. em 28/11/1978, DJ
28/12/1978. O STJ passou a assim decidir depois do julgamento pela Corte Especial do AgRg nos EREsp
492.461/MG, Rel. Mina Eliana Calmon, j. em 17/11/2004, DJ 23/10/2006. Veja-se, por exemplo, o julgado tam-
bém da Corte Especial do STJ: EAg 522.249/RS, Rel. Min. José Delgado, j. em 02/02/2005, DJ 04/04/2005 e AgRg
no Ag 655.610/MG, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, j. em 05/04/2005, DJ 01/08/2005. Na
doutrina, ver Hugo de Brito Machado Segundo e Raquel Cavalcanti Ramos Machado, Recurso interposto an-
tes de publicada a decisão recorrida: tempestividade, Revista Dialética de Direito Processual no 7, São Paulo:
Dialética, out./2003, p. 9-18; Hugo de Brito Machado, Extemporaneidade de recurso prematuro, Revista Dia-
lética de Direito Processual no 8, São Paulo: Dialética, nov./2003, p. 58-66 e Cândido Rangel Dinamarco, Tem-
pestividade dos recursos, Revista Dialética de Direito Processual no 16, São Paulo: Dialética, jul. 2004, p. 9-23.
110
Segundo Flávio Luiz Yarshell “dando-se por ciente e recorrendo, a parte incide em preclusão consumativa,
mas jamais em preclusão temporal” (Ação rescisória – juízos rescindente e rescisório, São Paulo: Malheiros,
2005, p. 52).
111
Flávio Luiz Yarshell dá exemplo de ato ineficaz por ter sido realizado fora da ordem procedimental, embora
aponte como causa da ineficácia a falta de interesse: “não há interesse para o recurso interposto antes de
publicada a sentença, na medida em que o prejuízo que poderia decorrer da sentença, quando esta existir,
ainda não é concreto (porque, como dito, antes da publicação o ato não existe). Ora, não havendo interesse
processual, o que se há de entender é que o recurso interposto não produz qualquer efeito, sendo à parte
facultado recorrer tanto que efetivamente publicada a decisão” (Ação rescisória – juízos rescindente e resci-
sório, São Paulo: Malheiros, 2005, p. 52, grifo nosso).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 113

que caso a parte não proceda a posterior ratificação do recurso antes interposto, este
não poderá ser conhecido por intempestividade.112
A questão está mal posta no âmbito da tempestividade recursal.113 Se for para re-
tirar a eficácia do recurso, melhor seria enquadrá-lo como um ato que não respeitou
o seu lugar próprio na cadeia procedimental. Com efeito, tomando-se como exem-
plo um recurso especial ou extraordinário interposto antes do julgamento de em-
bargos de declaração apresentado pela parte adversária; considerado esse momento
procedimental, inegavelmente aquele recurso seria inadmissível, logo, ineficaz, pois
não era ainda cabível. Todavia, não raro, somente se conhece do não cabimento do
recurso em momento posterior à sua interposição.114 Assim, o que inicialmente era
eficaz, perde essa eficácia supervenientemente (deseficacização). A rigor, portanto,
a parte interessada deveria oportunamente apresentar novo recurso, uma vez que o
anteriormente interposto perdeu sua eficácia. No entanto, certamente inspirado no
princípio da instrumentalidade das formas, tem-se admitido a mera ratificação do re-
curso anterior. Para tanto, em seguida ao julgamento dos embargos declaratórios, é
preciso saber se aquele recurso extremo ainda é adequado no sentido de se observar
se as razões recursais nele antes expostas mantêm-se compatíveis com o fundamen-
to do acórdão agora integrado pela nova decisão dos declaratórios. Além disso, é
também preciso saber se o recorrente ainda possui interesse em recorrer, pois, com
a nova decisão, não é de se descartar que tal interesse possa ter desaparecido. Por-
tanto, conforme tenha sido o conteúdo da decisão do recurso pendente ao tempo
da interposição do recurso seguinte, pode a parte interessada: (i) ratificar o recurso
antes interposto; (ii) vir a alterá-lo, fazendo os ajustes que se fizerem necessários115

112
No STJ, colhem-se os seguintes arestos reconhecendo a intempestividade prematura: AgRg no REsp
867.198/DF, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, j. em 07/11/2006, DJ 04/12/2006; REsp 945.008/SP, Rel. Min.
Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, j. em 04/09/2007, DJ 20/09/2007; AgRg no REsp 921.660/RS, Rel.
Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 13/11/2007, DJ 26/11/2007; AgRg no Ag 995.005/SC, Rel. Mina
Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 27/05/2008, DJe 13/06/2008; AgRg no REsp 728.809/SP, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, j. em 16/12/2008, DJe 06/02/2009 e AgRg no Ag 1099163/DF, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, Quarta Turma, j. em 17/03/2009, DJe 30/03/2009.
113
Essa é também a conclusão alcançada por Heitor Vitor Mendonça Sica, Recurso intempestivo por prema-
turidade?, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins, v. 11, coord. Nelson Nery Junior
e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2007, p. 137. Todavia, para o mencionado autor, as situações
ventiladas pela jurisprudência que examinou eram de falta de cabimento, uma vez que se entendeu que o
recurso não havia sido interposto contra decisão de última instância.
114
Heitor Vitor Mendonça Sica cita caso bastante interessante em que um dos litigantes é a Fazenda Pública
e sua intimação acerca de acórdão ocorre depois que o litigante privado foi intimado pela imprensa oficial.
A Fazenda, então, tempestivamente, interpôs recurso de embargos de declaração, o que, no entanto, deu-se
em data posterior ao escoamento do prazo de recurso extremo para o litigante privado. Portanto, o art. 538
do CPC nada interrompeu para o litigante privado, que já tinha apresentado seu recurso (Recurso intempes-
tivo por prematuridade?, Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins, v. 11, coord. Nelson
Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2007, p. 140).
115
STJ, REsp 713.254/MS, Rel. Min. Aldir Passarinho, Quarta Turma, j. em 04/05/2006, DJ 19/06/2006. Admitindo
a emenda ao ato, desde que respeitados outros aspectos como a forma, o tempo e o lugar do ato: Heitor
Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 133-136.
114 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

ou, se preferir, (iii) apresentar novo recurso.116 Seja como for, não se pode simples-
mente conhecer do recurso interposto na pendência de outro, sem que ao menos te-
nha ocorrido sua ratificação que, como visto, é necessária e útil, pois o ato processual
havia sido cumprido em momento inadequado no procedimento.
Também em relação a este último fator, é possível inserir os casos em que, em-
bora o ato esteja “no lugar” adequado no procedimento, ele não dá a devida con-
tinuidade ao prosseguimento do rito. Pode-se, citar, por exemplo, o ato processual
ilegível (petição, certidão ou decisão etc.) que, para alguns autores,117 trata-se de ato
inexistente. É de se tomá-lo como ineficaz por não permitir compreender seu con-
teúdo, o que comprometerá a sequência da cadeia procedimental. Todavia, trata-se
de uma ineficácia sanável, pois “toda vez que o órgão judicial se acha diante de pon-
to duvidoso, e existe meio de esclarecê-lo, sem detrimento para qualquer das partes,
nem prejuízo sensível para a marcha do feito, impõe-se dissipar a dúvida”. 118
A eficácia do ato processual também está sujeita à vicissitudes, tal como acima
já esclarecido (item 5.2). Assim, pode-se dar a pós-eficacização, como é o caso da
ratificação dos atos do mandatário sem poder, nos termos do art. 37, parágrafo úni-
co, do CPC. Outro exemplo é o da audiência de instrução que foi adiada sem que
tivesse sido iniciada a inquirição de testemunhas, o prazo para apresentação do rol
indeferido anteriormente por intempestividade, se conta retroativamente da nova
data designada.119 Também é possível constatar a retroeficácia, como são as previ-
sões dos arts. 475-L, § 1o, e 741, parágrafo único, nas quais se estabelece que o títu-
lo judicial se torna inexigível (ineficaz)120 quando fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplica-
ção ou interpretação da lei ou ato normativo tidos pelo Supremo Tribunal Federal
como incompatíveis com a Constituição Federal. Ainda se pode cogitar de tal fe-

116
STJ, REsp 287.299/CE, Rel. Minª Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 23/08/2007, DJ 05/11/2007.
117
Por exemplo: Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 160 e Juliana Demarchi, Ato
processual juridicamente inexistente – mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da inexis-
tência jurídica, Revista Dialética de Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr./2004, p. 51.
118
José Carlos Barbosa Moreira, Restrições ilegítimas ao conhecimento dos recursos, Temas de direito proces-
sual (nona série), São Paulo: Saraiva, 2007, p. 276.
119
STJ, REsp 209.456/MG, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, Quarta Turma, j. em 14/08/2007, DJ 27/08/2007.
120
Reconhecem que os mencionados dispositivos da lei processual atuam no plano da eficácia: Donaldo
Armelin, Flexibilização da coisa julgada, Linhas mestras do processo civil, coord. Hélio Rubens Batista Ribeiro
Costa, José Horácio Halfeld Rezende Ribeiro e Pedro da Silva Dinamarco, São Paulo: Atlas, 2004, p. 147; Araken
de Assis, Eficácia da coisa julgada inconstitucional, Relativização da coisa julgada. Org. Fredie Didier Jr., 2. ed.,
Salvador: JusPodivm, 2006, p. 45; Henrique Gustavo Carneiro, Impugnação ao cumprimento da sentença como
hipótese de relativização da coisa julgada, Aspectos polêmicos da nova execução, v. 3, coord. Teresa Arruda
Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2006, p. 272; Gelson Amaro de Souza, Efeitos da sentença que julga os embargos
à execução, São Paulo: MP, 2007, p. 234 e Blecaute Oliveira Silva, Coisa julgada em lei inconstitucional(?) – con-
siderações à luz da teoria pontiana, Revisitando a teoria do fato jurídico – homenagem a Marcos Bernardes de
Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt Jr., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 109. Acerca do tema, ainda que
não o trate à luz do plano da eficácia, ver Eduardo Talamini, Embargos à execução de título judicial eivado de
inconstitucionalidade (CPC, art. 741, par. ún.), RePro no 106, São Paulo: RT, abr./jun. 2002, p. 38-83.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 115

nômeno quando lei nova incide sobre processo em curso, em que pese se respeite
os atos já praticados.121 E, como visto acima, é possível ocorrer a deseficacização do
ato processual, como ocorre também quando se dá a renúncia ao direito de ação, a
desistência de recurso interposto, a retratação ou a reforma de decisão judicial etc.
É importante assinalar que, diferentemente do que sustenta a doutrina civilista
(item 5.2), a eficácia dos atos processuais não tem como pressuposto indispensável a
sua própria existência e validade.122 A não observância quanto ao exigido para que o
ato processual seja existente e/ou válido não evita que o ato produza efeitos jurídicos
processuais, internos e/ou externos.
Destarte, nenhum vício impede automaticamente a eficácia do ato processual,
porque se isso fosse possível, o vício paralisaria o próprio ato e impediria o prossegui-
mento do procedimento. “Separar o ato de sua eficácia só é possível no plano abs-
trato e não no procedimento que concretamente se desenvolve”.123 Portanto, mais
do que aceitar como verdadeira a noção já apresentada (item 5.4) de que não há fato
jurídico absolutamente ineficaz, é de se assinalar que o ato processual produz efeitos
imediatos, ainda que eivado de alguma não conformidade com o seu modelo legal.
Daí por que é possível falar em eficácia do ato processual inexistente ou inválido.124
Todavia, importa uma análise melhor a questão da possibilidade ou não do ato pro-
cessual estar sob condição.

5.9.1 Eficácia do ato processual inexistente


Como já apresentado antes (item 3.3), ao ser analisado o ato inexistente no âm-
bito da teoria geral do direito, é assente o entendimento de que este não produz
qualquer efeito.125

121
É clássica a lição de Galeno Lacerda: “podemos e devemos considerar a existência de direitos adquiridos
processuais, oriundos dos próprios atos ou fatos jurídicos processuais, que emergem, em cada processo, do
dinamismo desse relacionamento jurídico complexo. (...) Em regra, porém, cumpre afirmar que a lei nova não
pode atingir situações processuais já constituídas ou extintas sob o império da lei antiga, isto é, não pode
ferir os respectivos direitos processuais adquiridos” (O novo direito processual civil e os efeitos pendentes, Rio
de Janeiro: Forense, 1974, p. 13). Na jurisprudência: STJ, REsp 1.035.540/SP, Rel. Min a Nancy Andrighi, Terceira
Turma, j. em 28/04/2009, DJe 13/05/2009.
122
Neste mesmo sentido, Eduardo de Avelar Lamy, Princípio da fungibilidade no processo civil, São Paulo:
Dialética, 2007, p. 56.
123
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 86.
124
Como assinala Torquato Castro Junior, ainda que não se espere, o ato inexistente e o ato nulo podem
produzir efeitos “por regras colaterais, ‘regras de calibração’, que atendem a imposições pragmáticas re-
lacionadas à prudência do decidir” (A pragmática das nulidades e a teoria do ato jurídico inexistente, São
Paulo: Noeses, 2009, p. 142). Ainda segundo o mesmo autor, as regras de calibração “servem para regular
a dinâmica funcional do sistema, de modo a conservar o seu equilíbrio, impedindo que ele incorra em dis-
função” (op. cit., p. 140). Também reconhece o autor que a boa-fé desenvolve essa função de calibração
(op. cit., p. 141).
125
Apenas para ilustrar, eis as palavras de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: “efeitos não podem vir do
não-ser, do nada, do inexistente” (Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 42).
116 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

No âmbito processual, é também bastante difundida a noção de impotência do


ato processual inexistente produzir consequências jurídicas;126 ou de que o ato ine-
xistente é um mero fato127 e, como tal, produz efeitos apenas no plano fático, não
tendo esses efeitos capacidade de transformá-lo em um ato eficaz no plano jurídi-
co.128 No entanto, nenhum desses entendimentos parece adequado.
Ainda que se pudesse dizer que o ato processual inexistente é ato que não pode-
ria produzir efeitos; no processo, o ato inexistente produz efeitos,129 e não só fáticos
como jurídicos. Assim se dá, como já salientado antes (item 3.5.1 e 5.9), por não
poder ser o ato desvinculado do procedimento que integra, cuja aparência é de ser
sempre regular, mesmo diante da inexistência de algum ato, dada a participação do
Estado-juiz.130
Tais efeitos, no mínimo, são os da possibilidade de permitir a continuidade do
procedimento (efeitos internos), podendo, ainda, conforme o caso, repercutir exter-
na e substancialmente. Note-se, não há como dizer que esses efeitos são meramente
fáticos e não jurídicos. Que diferença há entre esses efeitos produzidos? Não parece

126
Para citar alguns, somente entre nós: Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Invalidades processuais, Porto Ale-
gre: Sergio Fabris, 1989, p. 20-21; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 164;
Aroldo Plínio Gonçalves, Nulidades do processo, Rio de Janeiro: Aide, 2000, p. 76; Cândido Rangel Dinamar-
co, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 680; José Joaquim Calmon de
Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense,
2002, p. 95-98 e Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 292.
127
Eduardo J. Couture, Fundamentos do direito processual civil, Campinas: Red Livros, 1999, p. 301-302.
128
Fabiano Carvalho, Ação rescisória como meio de controle de decisão fundada em lei declarada incons-
titucional pelo STF, RePro no 170, São Paulo: RT, abr. 2009, p. 14.
129
Nesse sentido, Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT,
2004, p. 500; José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro, Rio de
Janeiro: Forense, 2008, p. 29; José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica proces-
sual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 209 e 220-222 e Junior Alexandre Moreira Pinto, Conteúdo e efeitos das
decisões judiciais, São Paulo: Atlas, 2008, p. 159. No direito administrativo, Ricardo Marcondes Martins reco-
nhece que o ato administrativo inexistente, justamente por aparentar ser um ato administrativo, produz efeitos
(Efeitos dos vícios do ato administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 650 et seq.).
130
Eduardo Talamini adota fundamento contrário ao defendido no texto, ainda que sua conclusão seja a
mesma: “Conforme visto, mesmo em casos de aparência de um ato (‘ato inexistente’), determinadas reper-
cussões jurídicas podem vir a ocorrer. Assim, a sentença dada por um ‘não-juiz’ não é sentença – conforme
se vê adiante. Mas sua aparência de sentença pode levar um juiz a deferir o processamento de um pedido
de execução e a praticar atos executivos. Todavia, nesses casos não cabe propriamente falar em efeitos
do ‘ato inexistente’. Os efeitos havidos nessa hipótese serão, antes, de outros atos praticados por agentes
jurídicos na incorreta pressuposição da existência do ato – o que poderia ocorrer até mesmo em casos de
pura e simples ‘inexistência material’, vale dizer, em casos em que não houvesse nem mesmo o simulacro
do ato. Retomando o exemplo: por lapso, o juiz poderia ter deferido uma inicial executiva e determinado a
prática dos atos de execução mesmo em um caso em que absolutamente documento nenhum tivesse sido
apresentado sob a roupagem de ‘título executivo’. E, então, ninguém diria ter sido a ‘inexistência material’
do título a produtora dos efeitos consistentes no andamento da máquina executiva. Portanto, as conse-
quências jurídicas reflexamente relacionadas com uma situação de ato aparente – muito embora sejam
mais do que suficientes para realçar a relevância técnico-pragmática do trato do tema da inexistência
jurídica – nem mesmo se caracterizam como efeitos desse simulacro” (Coisa julgada e sua revisão, São
Paulo: RT, 2005, p. 291-292).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 117

suficiente apenas reputar que os efeitos são fáticos por terem sua definitividade sujei-
ta à possibilidade eventual de, no futuro, ser negada.
Considerados os efeitos internos e externos que o ato processual inexistente
pode alcançar, é possível vislumbrar-se algumas situações que não são descartáveis de
se verificar na realidade e, por isso mesmo, servem para comprovar a eficácia plena
de atos inexistentes.
Uma petição inicial em que falte causa de pedir ou pedido, que a lei qualifica
como inepta (CPC, art. 295, parágrafo único, I), embora deva impedir o autor de
obter uma tutela jurisdicional, tem o efeito de permitir a formação do processo.
Imagine-se que mesmo contra a vontade da pessoa, que sequer outorgou po-
deres ao advogado, esta venha a figurar como parte autora numa determinada de-
manda. Pode, por exemplo, o filho ter conseguido propor a demanda em nome do
pai, sem que este de nada soubesse. É evidente que esse pai não foi devidamente
representado, como também sequer participou efetivamente do contraditório, po-
rém tal situação foi completamente ignorada durante o processo; e, com a participa-
ção efetiva do réu no contraditório, o processo culminou com uma tutela em favor
desse autor. Não se duvida que, a rigor, essa demanda deveria ser considerada ine-
xistente por falta de pedido e, por conseguinte, a sentença deveria ser considerada
inexistente.131 Todavia, até que se reconheça essa inexistência, tal sentença produzirá
todos os seus naturais efeitos, inclusive repercutindo na vida do réu e, talvez, na do
próprio autor.132
Noutra hipótese, não ocorreu a citação do réu ou de apenas um dos réus, mas o
processo prosseguiu sem que essa falha tenha sido constatada e, ao final, a sentença
foi de procedência dos pedidos do autor. Essa sentença tem aparência de se constituir
num provimento judicial juridicamente existente e válido, e, como tal, tem aptidão
de produzir efeitos, admitindo-se o início da fase de cumprimento de sentença e,
portanto, a realização dos atos executivos, inclusive de expropriação. Na verdade, a
sentença existe e é eficaz, embora aquele que não participou do processo (não tenha
sido citado!) possa impugnar esses efeitos.133

131
Sobre o tema, lecionam Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina: “... sem que haja um
pedido, formulado diante de um juiz, em face de um réu (potencialmente presente, ou seja, citado) não há,
sob o ângulo jurídico, propriamente um processo. Claro que uma sentença de mérito proferida nestas con-
dições e neste contesto é, por ‘contaminação’, sentença juridicamente inexistente, que jamais transita em
julgado” (O dogma da coisa julgada, São Paulo: RT, 2003, p. 28).
132
José Roberto dos Santos Bedaque sustenta que, numa hipótese como a descrita no texto, “aquele em
favor de quem foi reconhecido o direito poderá, caso queira, valer-se dos efeitos da tutela jurisdicional. Se o
fizer é porque os aceitou” (Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 209).
Parece que tal atitude seria contrária ao direito, pois, inegavelmente, a parte estaria sendo beneficiada por
um falso, ainda que justo fosse o resultado à luz do direito material.
133
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros,
2006, p. 217.
118 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Enfim, não são poucos ou raros os casos em que se pode vislumbrar que o ato ine-
xistente produz efeitos, típicos ou atípicos, internos ou externos, todos decorrentes da
aparência de regularidade do procedimento em que o ato “aparentemente” se inseriu.
Por último, cabe assinalar que caso o ato inexistente fosse realmente um mero
fato, tal não comportaria o reconhecimento mediante ação declaratória, que não ad-
mite, como regra, mero fato como objeto.134 Vale dizer, somente se se tomar o ato
processual inexistente como ato juridicamente capaz de produzir efeitos, entre eles
o de permitir o desenvolvimento da relação jurídica processual, é que se permite de-
clarar judicialmente a sua inexistência.

5.9.2 Eficácia do ato processual inválido


Não é difícil encontrar referência doutrinária que admita que o ato processual
inválido produz efeitos.135
Contudo, essa referência costuma ser atrelada a uma eficácia provisória do ato,
isto é, que o ato processual nulo produz efeito até que se decrete sua nulidade, a
partir do que, além do ato não mais produzir efeitos, serão desfeitos os que foram
produzidos.136 Tem-se, assim, que o ato inválido é potencialmente ineficaz,137 pois
tende a converter-se em ato ineficaz. É como se o ato nulo tivesse “uma espécie de
‘vida artificial’, até o dia em que seja efetivada sua invalidação”.138
Tal entendimento contém apenas uma meia verdade. Com efeito, é certo que
enquanto não decretada a nulidade do ato processual, este deverá produzir seus

134
Nos termos do art. 4o, II, do CPC, a única exceção à regra é a declaração de falsidade de documen-
to. Defende o cabimento da ação meramente declarativa tendo por objeto meros fatos: Daniel Amorim
Assumpção Neves, Ações probatórias autônomas, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 447-492. Por sua vez, Flávio Luiz
Yarshell constata que, embora possa ser conceitualmente admissível a propositura de ação declaratória de
mero fato, ela não encontra prestígio na lei, na doutrina e na jurisprudência (Antecipação da prova sem o
requisito da urgência e direito autônomo à prova, São Paulo: Malheiros, 2009, p. 264-270).
135
Assinala Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda: “A nulidade pode produzir ou não produzir ineficácia. Há
atos anuláveis – e até nulos! – eficazes” (Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 58). Ver,
também, Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, v. II, São Paulo: RT, 1975, p. 223-226; Cândido
Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 281; Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, In-
validades processuais, Porto Alegre: Sergio Fabris, 1989, p. 42; Sálvio de Figueiredo Teixeira, Prazos e nulidades
em processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 53; Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil,
São Paulo: RT, 1991, p. 192-195; Alberto Luis Maurino, Nulidades procesales, 2. ed., Buenos Aires: Astrea, 2001,
p. 20; e Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 188.
136
Assim, pode-se ver na seguinte passagem de Eduardo Talamini: “Já os atos inválidos podem por vezes pro-
duzir, ainda que em caráter precário, os efeitos típicos do ato. Portanto, os atos inválidos podem ser eficazes.
Mas essa eficácia não é idêntica nem equiparável à dos atos válidos. É vulnerável, instável. A eficácia do ato
nulo poderá vir a ser obstada e extinta, e os efeitos já produzidos, removidos – conforme entrem em ação os
instrumentos de ataque à nulidade. Assim, é menor o grau de eficácia dos atos inválidos” (Coisa julgada e
sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 292).
137
A expressão é de Chiara Besso, La sentenza civile inesistente, Torino: Giappichelli, 1996, p. 3.
138
Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 162.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 119

efeitos típicos. Todavia, não parece mais adequado conceber a nulidade do ato pro-
cessual apenas negando que este produz ou deva produzir seus efeitos típicos. O
estado de incerteza terminológica verificado no âmbito doutrinário, especialmente
entre inexistência e nulidade, decorreu de se ter atrelado suas noções na não produti-
vidade de efeitos dos atos com esses vícios (item 3.1). Logo, dizer que o ato inválido
é potencialmente ineficaz decorre justamente dessa concepção que merece ser supe-
rada, porque, além de confusa, não atende suficientemente a questão.
É correto entender que todo ato processual, como qualquer outro ato que se
conceba na esfera do direito, “é destinado a produzir efeitos jurídicos, em maior ou
menor extensão, segundo o caráter dos poderes consentidos e dos quais o ato cons-
titui o exercício concreto”.139
Todavia, embora realmente tenha relevância jurídica o respeito ao modelo legal
previsto para a realização deste ato a fim de que os efeitos programados sejam alcan-
çados, para tanto não basta apenas analisar o ato processual de maneira estática no
momento de sua prática.
É de se dizer uma vez mais que os efeitos do ato processual não são relevantes
se considerados isoladamente, devendo ser esses efeitos analisados dentro da série
que compõe o procedimento. E, portanto, o mesmo deve ocorrer com a invalidação
desses atos: devem ser analisadas as consequências do ato processual atípico junto ao
procedimento.140 Daí, se for o caso, será ele invalidado ou não e, por conseguinte,
será ele refeito ou não. Ademais, tal invalidação pode não atingir a totalidade dos
atos subsequentes por outras razões de interesse e desde que isto não acarrete prejuí-
zo às partes e ofensa ao devido processo legal, ou seja, podem ser mantidos alguns
efeitos do ato nulo.141
Na esteira do que já dito antes (item 4.10), fica ainda mais evidente que todo
ato inválido é eficaz, quando se trata da convalidação. Esta não remedeia a invalidez
do ato, apenas bloqueia ou impede que se verifiquem os efeitos invalidantes do ato
viciado. Em outras palavras, conservam-se os efeitos produzidos pelo ato atípico.
Assim, ao invés de se conceber que o ato inválido tende a ser ineficaz, é mais
correto entender que todo ato processual é imediatamente eficaz, sempre, até que,
excepcionalmente, seja judicial e motivadamente reconhecido o contrário, como
quando for ele decretado nulo (item 4.8).

139
As palavras do texto correspondem ao pensamento de G. Sabatini (Principi di diritto processuale penale
italiano, 1931, p. 210), citado por Remo Pannain em Le sanzioni degli atti processuali penali, Napoli: Jovene,
1933, p. 226. José Joaquim Calmon de Passos reproduz integralmente o referido pensamento em Esboço de
uma teoria das nulidades aplicada às nulidades processuais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 125-126.
140
José Joaquim Calmon de Passos, Esboço de uma teoria das nulidades aplicada às nulidades proces-
suais, Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 27 e Antonio do Passo Cabral, Nulidades no processo moderno, Rio de
Janeiro: Forense, 2009, p. 279-280.
141
STJ, REsp 879.567/SP, Rel. Mina Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 12/05/2009, DJe 29/05/2009.
120 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Logo, o ato atípico produz efeitos até que o próprio Poder Judiciário o reconhe-
ça nulo e lhe subtraia a eficácia, no todo ou em parte.

5.9.3 Ato processual sujeito à condição


No plano do direito material, como se pôde perceber pela exposição feita antes
(item 5.2 e 5.3), o ato jurídico sujeito à verificação de condição, suspensiva ou reso-
lutiva, é exemplo comum de situação que influencia a eficácia do respectivo ato. Daí
é de se questionar: o ato processual também pode sujeitar-se à condição?
Por condição deve ser entendida aquela oriunda da vontade das partes ou da
lei, que subordina o início ou o fim dos efeitos jurídicos de um ato, no todo ou em
parte, à verificação ou não de um evento futuro e incerto, isto é, a um fato (condi-
cionante) posterior ao próprio ato (condicionado).142 A condição supõe, portanto,
um intervalo de tempo entre o cumprimento do ato condicionado e a produção do
evento condicionante, ao que se denomina estado de pendência.
A condição legal é amplamente utilizada no processo.143 Assim, por exemplo:144
i) é condição para que o adquirente ou o cessionário ingressem em juízo em substi-
tuição ao alienante ou cedente, que a parte contrária assim consinta (CPC, art. 42,
§ 1o); ii) é condição de eficácia da nomeação à autoria, que haja sua dupla aceitação,
pelo autor e pelo nomeado (CPC, art. 67); iii) é condição para que as partes, de co-
mum acordo, reduzam ou prorroguem o prazo dilatório que a convenção seja reque-
rida antes do vencimento do prazo e se fundar em motivo legítimo (CPC, art. 181);
iv) é condição para que o processo produza efeitos sobre o réu que este seja valida-
mente citado (CPC, art. 263, 2a parte); v) é condição para eventual alteração na pe-
tição inicial depois de citado o réu, que este assim consinta (CPC, art. 264, caput);
vi) a desistência da ação somente produz sua extinção se, tendo sido citado o réu,

142
Sobre o tema das condições, ver Angelo Falzea, La condizione e gli elementi dell’atto giuridico, Milano: Giuffrè,
1941, passim; Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. II, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 638-666;
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. V, Campinas: Bookseller, 2000, p. 127-222;
Carlos Alberto Dabus Maluf, As condições no direito civil, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1991, passim; Zeno Veloso,
Condição, termo e encargo, São Paulo: Malheiros, 1997, p. 18-81 e Eduardo Ribeiro de Oliveira, Comentários
ao novo Código Civil, v. II, Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 298-354. É de se destacar que o Código Civil
apenas contempla a condição voluntária, como se observa do art. 121. Todavia, não é correto repugnar a
condição legal, também designada como condicio iuris, uma vez que a lei, por vezes, submete a eficácia de
um ato a uma condição, como leciona Carnelutti (op. cit., p. 643-644).
143
Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. II, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 652.
144
Poder-se-ia imaginar como exemplo óbvio as condições da ação (CPC, art. 267, VI). Todavia, as “con-
dições” da ação não são verdadeiramente condições, porque não são eventos futuros e incertos. Ditas
condições funcionam como fatores de eficácia da própria ação, que devem se fazer presentes no momento
de seu exercício (ver item 3.4, nota 20). Mesmo na ausência delas terá havido ação e processo, mas restará
impossibilitado o exame de mérito. Ou seja, são fatores de eficácia porque presentes, permitirão o efeito de
examinar-se o mérito da causa. Por essa razão, é de se deixar de fora as condições da ação do rol apresen-
tado. Sobre a ação não ser condicionada, ver Fábio Gomes, Carência de ação, São Paulo: RT, 1999, passim e
Fredie Didier Jr., Pressupostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 210-212.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 121

este manifeste seu consentimento (CPC, art. 267, § 4o) e, ainda, haja sua homologa-
ção (CPC, art. 158, parágrafo único); vii) é condição para o juiz cassar ou desconsti-
tuir sua própria sentença, nas hipóteses descritas nos arts. 285-A, § 1o e 296, ambos
do Código de Processo Civil, que a parte autora interponha recurso de apelação;
viii) é condição para que uma sentença proferida por tribunal estrangeiro tenha efi-
cácia no Brasil que esta sentença seja homologada pelo Superior Tribunal de Justiça
(CF/88, art. 105, I, i e CPC, art. 483); ix) uma decisão interlocutória que tem con-
tra si pendente um recurso de agravo de instrumento ao qual não foi atribuído efeito
suspensivo, produz efeitos sob condição resolutiva, pois, uma vez provido o recurso
e reformada a decisão, aquela perderá sua eficácia e assim todos os atos processuais
praticados depois dela terão que ser renovados (CPC, art. 512);145 x) também são
realizados sob condição resolutiva, os atos praticados no curso de execução provi-
sória de decisão, que ficarão sem efeito caso seja provido o recurso não recebido no
efeito suspensivo (CPC, art. 475-O, II); xi) aliás, a eficácia executiva de uma decisão
depende de uma condição negativa, qual seja, a de não existir uma condição suspen-
siva sobre a decisão (CPC, arts. 791 e 793); xii) o agravo retido (CPC, art. 523, § 1o)
e os recursos especial e extraordinário retidos (CPC, art. 542, § 3o), têm como con-
dição para sua respectiva eficácia que a parte interessada expressa e oportunamente
reitere o desejo de ser analisado o recurso anteriormente interposto; xiii) é condição
para que o usufruto seja eficaz, assim em relação ao executado como a terceiros, que
a decisão que o conceda seja publicada (CPC, art. 718); xiv) é condição (resolutiva)
para que a medida cautelar deferida em processo preparatório mantenha sua eficácia,
que a parte interessada proponha a ação principal no prazo de 30 dias contados de
sua efetivação (CPC, arts. 806 c/c 808, I).146
Como se observa dos exemplos arrolados pode acontecer de a previsão legal aca-
bar absorvendo o que seria uma condição voluntária. Assim se verifica na hipótese
descrita em “xii”. Outra situação similar é a dos pedidos sucessivos (CPC, art. 289),
em que a lei permite que o autor estabeleça uma ordem de preferência submetida a
uma certa evolução do processo.147 Essa cumulação eventual de pedidos, portanto,
tem em sua essência uma condição voluntária, fruto de um estado provável de inse-
gurança ou hesitação do demandante em relação ao desenvolvimento do processo.148

145
É o que Nelson Nery Junior designa como efeito expansivo objetivo externo do recurso (Teoria geral dos
recursos, 6. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 478). Atestando a condição resolutiva dos atos processuais proferidos
por juiz que inicialmente afastou sua incompetência a qual foi depois reconhecida pelo tribunal: TJPR, 6a CC,
AI 67.923-4, Rel. Des. Telmo Cherem, j. em 10/02/1999. Sobre o tema, ver ainda, Nelson Nery Junior, Julgamento
de agravo de instrumento posterior à sentença: a eficácia da sentença está condicionada ao desprovimento
do agravo, RePro no 130, São Paulo: RT, dez. 2005, p. 155-184.
146
Edson Ribas Malachini, Cessação da eficácia da medida cautelar e extinção do processo, Gênesis Revista
de Direito Processual Civil no 1, Curitiba: Gênesis, jan./abr. 1996, p. 10-11.
147
Miguel Teixeira de Sousa, Introdução ao processual civil, 2. ed., São Paulo: Lex, 2000, p. 95.
148
A eventualidade não costuma ser estudada sob o ângulo da condição. Guilherme Freire de Barros
Teixeira define a eventualidade como “o princípio que impõe ao autor a alegação, na petição inicial, dos
122 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Mais raros, entretanto, os atos processuais que se ocupem de exclusiva condição


voluntária. Tal restrição se justifica porque o procedimento não é posto no interesse
das partes, mas tendo em vista os interesses de justiça do processo, não parecendo
razoável, portanto, permitir que a eficácia do ato e, talvez, do próprio processo, fique
à mercê da vontade de qualquer das partes.
Não escapa que em atos ditos mistos – isto é, aqueles cujo conteúdo é regulado
pelo direito material, mas que, por se realizar no curso do processo, são atos proces-
suais – possa-se condicionar a sua eficácia à verificação de evento futuro e incerto.
Assim, por exemplo, na hipótese em que se homologa acordo feito em separação ju-
dicial, em que a prole será confiada a um ou outro de seus pais, em atenção a deter-
minados eventos. Ora, nessa hipótese a sentença homologatória produz desde logo
seus efeitos processuais, apenas estando condicionados os efeitos substanciais, con-
forme a vontade dos litigantes.
Pode-se citar como exemplo de ato processual das partes sob condição volun-
tária a renúncia prévia ao recurso, isto é, antes mesmo da prolação da decisão que
ensejaria o recurso objeto do referido ato de disposição, com cláusula de reserva.
Nada obsta que as partes estabeleçam convenção antecipada em que se estabeleça,
mediante reserva, que em havendo sentença inválida, a cláusula de renúncia será
ineficaz.149

fatos essenciais, dos fundamentos jurídicos e dos pedidos deles decorrentes, sob pena de não mais poder
deduzi-los ou formá-los posteriormente, e, ao réu, a apresentação concentrada e simultânea de todas as
alegações e exceções em sua resposta, ainda que de natureza diversa ou incompatíveis entre si, para a
eventualidade de não ser acolhido algum dos argumentos utilizados, sob pena de preclusão” (O princípio
da eventualidade no processo civil, São Paulo: RT, 2005, p. 50). Ao tratar dos pedidos sucessivos, leciona
Milton Paulo de Carvalho: “A esta figura os autores chamam também de cúmulo eventual (Chiovenda,
Barbosa Moreira), ou cumulação imprópria (José Frederico Marques, Moacyr Amaral Santos). Porque em
verdade, cada um dos pedidos apresentados em ordem sucessiva poderia constituir pretensão autônoma,
e são postos naquela ordem, entretanto, apenas separados pela condicional se: o que leva a ampliar o
objeto litigioso do processo para duas pretensões, ou mais. Nessa categoria de pedidos, um é chamado
de principal, ou condicionante, e os demais são os pedidos subsidiários” (Do pedido no processo civil, Porto
Alegre: Sergio Fabris, 1992, p. 109). Mais adiante em sua obra, afirma o autor que o direito não admite pedido
condicional que “seria aquele dirigido a obter provisão jurisdicional também emitida sob a dependência
de evento futuro e incerto”; assim como que este pedido condicional não se confunde com o pedido formu-
lado em ordem sucessiva (op. cit., p. 121). Embora negue a admissão de pedido condicional, o autor não
deixa de reconhecer que o pedido de ordem sucessiva apresenta uma condicional. Por sua vez, assinala
José Rogério Cruz e Tucci: “Assim, esclarece Proto Pisani [Lezioni di diritto processuale civile, 2. ed., Napoli:
Jovene, 1996, p. 535] que a característica primordial da ‘demanda subordinada’ é a de ser deduzida sob
condição suspensiva da rejeição da ‘demanda principal’: apenas quando se verifica essa condição é que
nasce para o juiz o dever de considerá-la; todavia, ‘se a principal vem acolhida, não se realiza o evento
sujeito à condição’, e, por isso, o pleito subsidiário torna-se ineficaz ou mesmo prejudicado pela decisão”
(Reflexões sobre a cumulação subsidiária de pedidos, in Causa de pedir e pedido no processo civil, coord.
José Rogério Cruz e Tucci e José Roberto dos Santos Bedaque, São Paulo: RT, 2002, p. 287). Também se vê
nessa passagem, que o pedido sucessivo guarda relação com a condição. Sobre cumulação eventual de
pedidos, ver Ricardo Luiz da Costa Tjäder, Cumulação eventual de pedidos, Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 1998, passim.
149
Neste sentido, Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, 6. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 412.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 123

No contexto das condições, legais e voluntárias, merece ser enfrentada a questão


da chamada sentença condicional. No que ela consiste? O sistema positivo admite
essa modalidade de decisão?
Em relação ao que consiste a sentença condicional, importa distinguir “condições
do direito reconhecido na sentença e condições do reconhecimento do direito”.150
A sentença que tem por objeto direito subordinado a condição não é, em si
mesma, sentença condicional. A condição do direito que a sentença se limita a reco-
nhecer não atinge o ato de tutela jurisdicional para torná-lo condicional também.151
Assim, por exemplo, se a obrigação reconhecida na sentença e objeto da condenação
estiver sujeita a condição, antes do implemento desta, a obrigação é inexigível. Esta
é a situação descrita nos arts. 572, 614, III, e 618, III, todos do CPC, que dá ensejo
à chamada execução diferida.152
Logo, somente se poderia falar em sentença ou decisão condicional quando a
eficácia desta, enquanto ato processual, fica na dependência da verificação de um
evento futuro e incerto determinado na própria decisão.153
De modo geral, tendo em conta o previsto no parágrafo único do art. 460 do
CPC, tem-se entendido que o mencionado dispositivo legal veda a chamada decisão
ou sentença condicional, porém admite que a decisão possa regular negócio jurídico
que contemple condição.154

150
Moacir Lôbo da Costa aponta a preocupação da distinção que foi percebida por Filippo Vassali (La
sentenza condizionale, Studio sul processo civile, Roma: Athenaeum, 1918, p. 64), embora reconheça que
o mencionado autor italiano não alcançou as últimas consequências da distinção preconizada (Sentença
condicional, Revista de Direito Processual Civil no 1, São Paulo: Saraiva, jan./jun. 1960, p. 96-97). Ainda so-
bre o tema, ver Francesco Carnelutti, La sentenza condizionale, Studi di diritto processuale, v. I, Padova: Ce-
dam, 1925, p. 295-321; Carlo Calvosa, Sentenza condizionale, Roma: Scientia italica, 1948, passim e Eduardo
J. Couture, Sentencias provisorias, condicionales y alternativas, Estudios de derecho procesal civil, v. 3, 3. ed.,
Buenos Aires: Depalma, 1998, p. 313-326.
151
Moacir Lôbo da Costa, Sentença condicional, Revista de Direito Processual Civil no 1, Saraiva: Saraiva, jan./
jun. 1960, p. 97.
152
Sobre esse tema, ver José Carlos Barbosa Moreira, Execução sujeita a condição ou a termo no proces-
so civil brasileiro, Temas de direito processual (sétima série), São Paulo: Saraiva, 2001, p. 111-118. Explica o
mencionado autor (op. cit., p. 113): “Se, contudo, a eficácia da relação jurídica de direito material foi posta,
ela mesma, sob condição, em negócio celebrado entre as partes, não é dado ao órgão judicial de levar
em consideração a cláusula, para proferir condenação suscetível de executar-se independentemente do
acontecimento indicado. A sentença, aí, nada perde em certeza; o efeito executivo é que vai depender da
ocorrência do evento. O juiz não dirá: ‘Condeno o réu, se tal fato suceder’, mas sim ‘Condeno o réu, com
execução subordinada à realização de tal fato’”. Na verdade, embora o texto legal repute nula a execução,
melhor seria se a reputasse inadmissível, isto é, ineficaz, por falta de exigibilidade da obrigação (José Carlos
Barbosa Moreira, op. cit., p. 118).
153
Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. II, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 659.
154
Bastante elucidativa a seguinte decisão do STJ: “Processo Civil. Relação Jurídica Condicional. Possibilida-
de de Apreciação do Mérito. Sentença Condicional. Inadmissibilidade. Doutrina. Art. 460, Parágrafo único,
CPC. Recurso Provido. I – Ao solver a controvérsia e pôr fim à lide, o provimento do juiz deve ser certo, ou seja,
não pode deixar dúvidas quanto à composição do litígio, nem pode condicionar a procedência ou a im-
procedência do pedido a evento futuro e incerto. Ao contrário, deve declarar a existência ou não do direito
da parte, ou condená-la a uma prestação, deferindo-lhe ou não a pretensão. II – A sentença condicional
124 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Segundo se extrai,155 o ato decisório condicional seria vedado por se entender que
é da essência do julgamento a sua certeza, não sendo lícito subordinar sua eficácia ao
implemento de condição estranha ao objeto examinado ou a cargo de uma das partes
ou de terceiros. Daí por que boa parte da doutrina156 e da jurisprudência157 tem enten-
dido ser nula a sentença condicional, embora fosse melhor considerá-la apenas ineficaz.
Poder-se-ia citar como exemplo158 de decisão condicional aquela que atrela seus
efeitos: à produção de determinada prova;159 à prestação de garantia, caução ou de-
pósito, quando esta condição não é exigida por lei;160 à eventual validade da situação

mostra-se incompatível com a própria função estatal de dirimir conflitos, consubstanciada no exercício da
jurisdição. III – Diferentemente da ‘sentença condicional’ (ou ‘com reservas’, como preferem Pontes de Miran-
da e Moacyr Amaral Santos), a que decide relação jurídica de direito material, pendente de condição, vem
admitida no Código de Processo Civil (art. 460, parágrafo único). IV – Na espécie, é possível declarar-se a
existência ou não do direito de percepção de honorários, em ação de rito ordinário, e deixar a apuração do
montante para a liquidação da sentença, quando se exigirá a verificação da condição contratada, como
pressuposto para a execução” (REsp 164.110/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. em
21/03/2000, DJ 08/05/2000).
155
Francesco Carnelutti, Sistema de direito processual civil, v. II, São Paulo: Classic Book, 2000, p. 659; Moacir
Lôbo da Costa, Sentença condicional, Revista de Direito Processual Civil no 1, São Paulo: Saraiva, jan./jun.
1960, p. 93; Wellington Moreira Pimentel, Comentários ao Código de Processo Civil, v. III, São Paulo: RT, 1975,
p. 517; Sergio Sahione Fadel, Código de Processo Civil comentado, v. II, 6. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1986,
p. 25-26; Egas D. Moniz de Aragão, Sentença e coisa julgada, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 122-123, Antonio
Carlos de Araujo Cintra, Comentários ao Código de Processo Civil, v. V, Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 281-
282 e Cassio Scarpinella Bueno, Código de Processo Civil interpretado, coord. Antonio Carlos Marcato, São
Paulo: Atlas, 2004, p. 1399.
156
Moacir Lôbo da Costa, Sentença condicional, Revista de Direito Processual Civil no 1, São Paulo: Saraiva,
jan./jun. 1960, p. 101; Egas D. Moniz de Aragão, Sentença e coisa julgada, Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 124;
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 214
e 681; Sergio Gilberto Porto, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 6, São Paulo: RT, 2000, p. 113 e Luiz
Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, Código de Processo Civil comentado artigo por artigo, São Paulo: RT,
2008, p. 424.
157
No STJ, por exemplo: AgRg no Ag 1.059.867/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, j. em
16/10/2008, DJe 17/11/2008; AgRg no Ag 867.932/SP, Rel. Mina Laurita Vaz, Quinta Turma, j. em 26/06/2007, DJ
06/08/2007; REsp 770.895/SC, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 13/03/2007, DJ 02/04/2007; AgRg no Ag
770078/SP, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, j. em 12/12/2006, DJ 05/03/2007 e REsp 697.278/SC, Rel. Mina
Denise Arruda, Primeira Turma, j. em 02/06/2005, DJ 01/07/2005.
158
O exemplo do Professor José Carlos Barbosa Moreira, embora caricato, é de fácil compreensão “Condeno
o réu, se o Brasil vencer o Uruguai na próxima partida de futebol” (Execução sujeita a condição ou a termo no
processo civil brasileiro, Temas de direito processual (sétima série), São Paulo: Saraiva, 2001, p. 113).
159
Segundo decidiu o STJ, “a prova do lucro cessante deve ser feita no processo de conhecimento, jamais
na liquidação” (REsp 38.465/DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Primeira Turma, j. em 16/05/1994, DJ
20/06/1994). Porém, remeter a fixação do quantum da obrigação à liquidação não configura hipótese de sen-
tença condicional, também como já decidiu o STJ: REsp 35.997/RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, Terceira Turma,
j. em 13/06/1994, DJ 27/06/1994 e AgRg no REsp 674.965/SP, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma,
j. em 08/11/2005, DJ 05/12/2005. Ainda, atestando ser condicional quando remete a eficácia da sentença
à produção de prova, no STJ: REsp 115.088/RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, Terceira Turma, j. em 03/08/1999, DJ
07/08/2000 e REsp 866.203/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, j. em 07/08/2007, DJ 20/08/2007.
160
No STJ: REsp 48.499/SP, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, Primeira Turma, j. em 09/08/1995, DJ 11/09/1995; REsp
79.197/CE, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Segunda Turma, j. em 02/10/1997, DJ 03/11/1997; EREsp 90225/
DF, Rel. Min. Helio Mosimann, Primeira Seção, j. em 23/11/1998, DJ 14/12/1998; REsp 70884/MG, Rel. Min. Peça-
nha Martins, Segunda Turma, j. em 17/09/1998, DJ 22/03/1999 e REsp 249627/SP, Rel. Min. Humberto Gomes
de Barros, Primeira Turma, j. em 12/12/2000, DJ 19/03/2001.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 125

ou de norma a ser posteriormente verificada;161 ao preenchimento de determinado


requisito pela parte162 etc.
Todavia, embora pareça realmente correto entender que não é possível aceitar
que a decisão ou sentença contemple uma condição voluntária, imposta pelo órgão
judicial, para sua eficácia; o mesmo não ocorre se é a própria lei que impõe deter-
minada condição para a eficácia da decisão e esta apenas a reconhece. Ou seja, não
parece possível negar a possibilidade de uma decisão ou sentença estar sujeita a uma
condição legal.
É de frisar que essa situação difere um pouco daquela em que o próprio direito
material tinha a condição, voluntária ou legal, como elemento do ato jurídico.163 A
questão aqui suscitada é que pode a lei processual subordinar a eficácia da decisão ao
implemento de uma condição legal, tornando a decisão em si mesma condicional.
É o caso, por exemplo, do reexame necessário (CPC, art. 475). De maneira
ex lege prolonga-se o estado natural de ineficácia (externa) de algumas sentenças,
constituindo-se, pois, em uma condição suspensiva a que está sujeita a sentença.164
Outra hipótese é a do deferimento de satisfação completa em sede de execução pro-
visória que, em algumas hipóteses, poderá estar condicionada à prestação de caução
(CPC, art. 475-O, III). Outro exemplo é o da sentença genérica referente à relação
de consumo (CDC, art. 95), cuja liquidação não se limitará à definição do quantum
debeatur, mas, também, terá que definir a condição do lesado (direito individual ho-
mogêneo): a sua legitimidade e a intensidade dos danos suportados.165

161
No STJ: REsp 674219/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, j. em 14/12/2004, DJ 09/02/2005;
AgRg no REsp 877.616/RS, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, Quarta Turma, j. em 07/11/2006, DJ 04/12/2006;
REsp 751.681/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, j. em 05/12/2006, DJ 08/02/2007 e REsp
770.895/SC, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 13/03/2007, DJ 02/04/2007.
162
No STJ: REsp 605.848/PE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, j. em 05/04/2005, DJ 18/04/2005;
AgRg no Ag 770.078/SP, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, j. em 12/12/2006, DJ 05/03/2007; AgRg no AgRg
no Ag 543.119/SP, Rel. Mina Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma j. em 01/07/2008, DJe 18/08/2008 e
AgRg no Ag 847.569/SP, Rel. Min. Nilson Naves, Sexta Turma, j. em 02/12/2008, DJe 27/04/2009. Ver, também,
RT 472/150 e RePro 130/217.
163
Moacir Lôbo da Costa sustenta que o cumprimento de uma condição legal prevista no âmbito do direito
material não torna a sentença condicional, mas o referido autor não enfrentou a possibilidade de a condi-
ção legal ser imposta na própria lei processual (Sentença condicional, Revista de Direito Processual Civil no 1,
São Paulo: Saraiva, jan./jun. 1960, p. 100).
164
Por todos, ver Jorge Tosta, Do reexame necessário, São Paulo: RT, 2005, p. 150-169, especialmente p. 167.
165
A respeito do tema, leciona Cândido Rangel Dinamarco: “A grande diferença, que vem sendo ressaltada,
reside no objeto desse novo processo de liquidação e, consequentemente, no âmbito de eficácia da sen-
tença que ali se produz. A situação legitimante dessa nova liquidação é uma sentença genérica de menor
conteúdo declaratório que as tradicionais (momento declaratório restrito à potencialidade danosa do fato)
e que, portanto, situa-se em ponto menos avançado naquela trajetória em direção à constituição do título
executivo – e daí a necessidade de um conhecimento e provimento de maior amplitude, que a nova liqui-
dação inclui” (As três figuras da liquidação de sentença, in: Fundamentos do processo civil, v. 2, São Paulo:
Malheiros, 2000, p.  1261). Noutra obra, o mesmo autor reconhece que por força dessa peculiaridade das
sentenças genéricas do art. 95 do CDC “elas se aproximam ainda mais das sentenças condicionais, mas a
lei expressamente estabelece que devem ser assim” (Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 215).
126 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Portanto, desde que se aceite a existência de condições legais, é mesmo possível


vislumbrar a existência e a aceitação pelo sistema positivo,166 de decisões ou senten-
ças condicionais.

5.10 EFEITOS PROCESSUAIS

Embora se apresente menos frequente o uso de eficácia como sinônimo de efei-


to, tal se dá quando se confere ao mesmo ato jurídico uma pluralidade de consequên-
cias.167 É o caso, por exemplo, da sentença168 que, segundo respeitável doutrina,169, 170
tem aptidão não apenas para gerar o efeito que lhe é preponderante, mas também ou-
tros. Por essa razão, é tema reconhecidamente complexo na processualística comum.171
De modo geral, entende-se por efeito toda modificação da realidade prático-ju-
rídica preexistente ao ato.172 Frise-se que o efeito não se confunde com o conteúdo
do ato, pois o efeito lhe é exterior.173

166
Moacyr Amaral Santos conclui, a partir da redação do parágrafo único do art. 460 do CPC, que o sistema
positivo permite a sentença condicional (Comentários ao Código de Processo Civil, v. IV, 7. ed., Rio de Janeiro:
Forense, 1994, p. 409).
167
José Carlos Barbosa Moreira, Conteúdo e efeitos da sentença: variações sobre o tema, in: Temas de direito
processual civil (quarta série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 176. Segundo Antonio Carlos de Araújo Cintra, a
redação do art. 467 do CPC “não prima pela clareza, aparentemente empregando a palavra eficácia com
o sentido de efeito” (Comentários ao Código de Processo Civil, v. IV, Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 297).
168
Cândido Rangel Dinamarco assinala: “o vocábulo eficácia é também legitimamente empregado para
designar o conjunto de efeitos da sentença” (Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros,
2001, p. 207, nota 12).
169
É bastante conhecida a tese da chamada constante quinze de Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda,
Tratado das ações, t. 1, Campinas: Bookseller, 1998, p. 137-139. A respeito do tema, ver Ovídio A. Baptista da
Silva, Conteúdo da sentença e coisa julgada, Sentença e coisa julgada, 3. ed., Porto Alegre: Sergio Fabris,
1995, p. 201-221; Hermes Zaneti Junior, Eficácia e efeitos nas sentenças cíveis: o direito material e a definição
de eficácia natural postos em distinção com a eficácia processual sentencial, in: Eficácia e coisa julgada,
org. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Rio de Janeiro: Forense, 2006, p.49-59 e Fernando Sá, As diversas efi-
cácias e seu convívio no conteúdo da sentença. A tese de Pontes de Miranda e ainda sobre as diversas
eficácias e efeitos da sentença, in: Eficácia e coisa julgada, org. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Rio de
Janeiro: Forense, 2006, p. 61-80 e p. 81-90, respectivamente.
170
Mais recentemente, tem-se defendido que a sentença declaratória e a sentença constitutiva podem gerar
efeitos executórios. Sobre o tema, ver Teori Albino Zavascki, Sentenças declaratórias, sentenças condenató-
rias e eficácia executiva dos julgados, RePro, no 109, São Paulo: RT, jan./mar. 2003, p. 45-56 e Fredie Didier Jr.,
Sentença constitutiva e execução forçada, RePro, no 159, São Paulo: RT, maio/2008, p. 65-76. Junior Alexandre
Moreira Pinto também defende que não há uma necessária correspondência entre o conteúdo de uma de-
cisão e os seus efeitos, concluindo, pois, que os efeitos produzidos por uma decisão poderão ser distintos e
desconexos ao seu conteúdo (Conteúdo e efeitos das decisões judiciais, São Paulo: Atlas, 2008, p. 167-178).
171
Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional, São Paulo: RT, 2001, p. 20.
172
É clássica a lição de Francesco Carnelutti: “Os efeitos jurídicos do fato (material) resolvem-se, pois, na diferen-
ça entre situação jurídica inicial e situação jurídica final” (Teoria geral do direito, São Paulo: Lejus, 2000, p. 358).
173
José Carlos Barbosa Moreira, Conteúdo e efeitos da sentença: variações sobre o tema, in: Temas de di-
reito processual civil (quarta série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 176-178; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de
processo civil, v. 1, t. 1, 8. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 384; Paulo Henrique dos Santos Lucon, Eficácia
das decisões e execução provisória, São Paulo: RT, 2000, p. 147; e Junior Alexandre Moreira Pinto, Conteúdo e
efeitos das decisões judiciais, São Paulo: Atlas, 2008, p. 118.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 127

O ato processual, embora destinado a produzir certos efeitos tais como previs-
tos no ordenamento jurídico, pode não produzi-los, ou só os produzir em parte, ou
produzir outros não previstos, ou apenas para determinadas pessoas etc.174
Seja como for, efeito processual é aquele decorrente de ato processual, observa-
do no plano interno175 ou externo ao processo e que pode coincidir ou não com a
consequência típica prevista no ordenamento jurídico. Enfim, é toda e qualquer al-
teração operada no mundo prático-jurídico que tenha por fonte o ato processual.176
No que toca ao momento em que uma decisão judicial produz seus efeitos, é
consenso doutrinário que, quanto à sentença, em regra, o momento inicial de sua
eficácia coincide com o momento de formação da coisa julgada.177 Não se obser-
va essa regra geral nas hipóteses de a sentença pender de recurso não recebido no
efeito suspensivo (CPC, art. 520, por exemplo), quando a sentença passa a produ-
zir seus efeitos a partir do pronunciamento judicial de recebimento do recurso sem
efeito suspensivo; assim como noutras hipóteses assim contempladas em lei, mesmo
independentemente do eventual efeito suspensivo do recurso (por exemplo: CPC,
art. 466, parágrafo único). No entanto, nessas hipóteses, a eficácia da sentença será
provisória. Por sua vez, quanto às decisões interlocutórias, como regra, o dies a quo
de sua eficácia coincide com o momento em que se torna preclusa a via recursal, isto
é, a decisão passa a produzir efeitos a partir do pronunciamento de recebimento do
recurso contra ela interposto. Recebido, porém, o recurso com efeito suspensivo, a
eficácia da decisão interlocutória permanecerá suspensa, até o julgamento do recur-
so. A exceção a essa regra ocorrerá quando a decisão interlocutória versar sobre si-
tuações de urgência, hipótese em que a decisão será imediatamente eficaz e somente
deixará de produzir seus efeitos, dali em diante, se o recurso contra ela interposto for
recebido com efeito suspensivo.178

5.10.1 Efeitos de processo extinto sem resolução de mérito


(CPC, art. 267)
Acaso o processo seja extinto sem resolução de mérito, isto é, sem que haja o
enfrentamento pelo órgão judicial da pretensão manifestada pelo autor, não é de se

174
José Carlos Barbosa Moreira, Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada, in: Temas de direito
processual civil (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 100.
175
Segundo Roque Komatsu: “os vários atos processuais produzem efeitos não autônomos e sim inerentes ao
próprio procedimento, enquanto buscam influir, direta ou indiretamente, sobre o conteúdo e ainda sobre os
efeitos do ato final” (Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 137).
176
Para Cândido Rangel Dinamarco “os efeitos que os atos processuais projetam sobre o processo recaem
sobre ambos esses elementos que o compõem – ou seja, sobre o procedimento e a relação processual”
(Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 473).
177
José Carlos Barbosa Moreira, Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada, in: Temas de direito
processual civil (terceira série), São Paulo: Saraiva, 1984, p. 104-106 e Cândido Rangel Dinamarco, Momento
de eficácia da sentença constitutiva, RePro no 63, São Paulo: RT, jul./set. 1991, p. 12-14.
178
Sobre o tema, ver Alexandre Freitas Câmara, Momento de eficácia da decisão interlocutória, Revisitando a
teoria do fato jurídico – homenagem a Marcos Bernardes de Mello, coord. Fredie Didier Jr. e Marcos Ehrhardt
Jr., São Paulo: Saraiva, 2010, p. 57-74.
128 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

aceitar, embora assim pudesse parecer, que se apagam os efeitos que a litispendência
produziu, como se o processo simplesmente não tivesse existido.179
É de lembrar que a propositura da demanda e a posterior formação da relação
processual mediante a citação do réu, produz efeitos (CPC, art. 219, caput) proces-
suais e substanciais.180 São efeitos processuais: a) tornar prevento o juízo, b) indu-
zir a litispendência e c) assegurar a estabilidade da demanda. Os efeitos substanciais
são: d) tornar a coisa litigiosa, e) interromper a prescrição e f) constituir em mora o
devedor.181
Salvo a prevenção do juízo que ainda permanece quando extinto o processo
sem julgamento de mérito (CPC, art. 253, II), os demais efeitos processuais extin-
guem-se com o processo. Com efeito, tal exceção referente à prevenção tem por fim
“impedir maliciosas desistências da ação e sucessivas reproposituras da demanda, na
esperança de encontrar um juiz com tendências favoráveis”.182 A litispendência desa-
parece com a extinção do processo, pois não haverá mais risco da existência simultâ-
nea da mesma demanda. Também não há mais que se preocupar com a estabilidade
da demanda, se o processo foi extinto, pois cessa a perspectiva sobre algum pronun-
ciamento sobre a lide.
Quanto aos efeitos substanciais, a litigiosidade da coisa desaparece, porque
esse estado perdura enquanto a demanda mantiver-se pendente e houver chance
de o bem ou o direito sobre o qual recai a controvérsia ser objeto de decisão ju-
dicial. De outro lado, a interrupção da prescrição e a constituição do devedor em
mora devem manter sua eficácia, pois esta está atrelada, pelo direito material (CC,
art. 202, I, e art. 397, parágrafo único), ao ato isoladamente considerado e não ao
processo.183

179
O tema é tratado por Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 185-188 e Daniel Francisco Mitidiero, Comentários ao Código de Processo Civil, t. II, São
Paulo: Memória Jurídica, 2005, p. 519.
180
Sobre esses efeitos, por todos, ver Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II,
São Paulo: Malheiros, 2001, p. 61-101 e Leonardo José Carneiro da Cunha, Efeitos da citação válida no proces-
so de conhecimento, in: Direito civil e processo – estudos em homenagem ao Professor Arruda Alvim, coord.
Araken de Assis, Eduardo de Arruda Alvim, Nelson Nery Junior, Rodrigo Mazzei, Teresa Arruda Alvim Wambier
e Thereza Alvim, São Paulo: RT, 2007, p. 940-961.
181
Miguel Teixeira de Sousa ainda cita como efeito material da pendência qualificada, isto é, aquela verifi-
cada depois da citação do réu, a cessação da boa-fé do possuidor (Introdução ao processual civil, 2. ed.,
São Paulo: Lex, 2000, p. 79).
182
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 187.
183
Explica Cândido Rangel Dinamarco: “A interrupção da prescrição e a constituição em mora não são esta-
dos contínuos ou duradouros, mas meros pontos isolados no tempo. Por isso, uma vez realizado o ato capaz
de produzir esse efeito, como é a citação em processo judicial, esse acontecimento passa a situar-se no pas-
sado e seria arbitrário apagá-lo da história, como se não tivesse ocorrido: é impossível dar o acontecido por
não-acontecido. Ressalvados os casos em que a citação padeça de vício ou nela se repercutam vícios de
atos processuais precedentes (especialmente da demanda), a extinção do processo deixa intactos os efeitos
jurídico-substanciais consistentes em interromper a prescrição e constituir o devedor em mora” (Instituições
de direito processual civil, v. III, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 186).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 129

Portanto, tomada a redação do art. 219 do CPC, tem-se que do destino da de-
manda não cogitou a lei, de modo que, qualquer que seja a sua sorte (procedente,
improcedente ou extinta sem resolução de mérito), os efeitos substanciais da cons-
tituição do devedor em mora e da interrupção da prescrição, vinculados ao ato ci-
tatório, não podem ser infirmados. Tais efeitos somente não ocorrerão em caso de
extinção sem resolução de mérito, no caso de a citação ter sido nula (CC, art. 202, I)
ou a causa da extinção ter sido o abandono da causa pelo autor.184

5.10.2 Classificação dos efeitos processuais


Os efeitos do ato processual costumam apresentar diversas classificações, pois
diversos são os critérios para que possam ser analisados.
A classificação apresentada para os atos jurídicos em geral (item 5.3) encontra
ampla aplicação para o ato processual. Não bastasse isso, outros critérios podem ser
utilizados.
É possível também catalogar os efeitos do ato processual, conforme o sujeito
que o pratique no processo. Assim, há quem defenda que os atos das partes podem
ser constitutivos (ou causativos ou determinantes) ou postulativos (ou indutivos ou
estimulantes).185 Aqueles seriam os que produzem imediatamente os seus efeitos,
constituindo desde logo uma determinada situação processual sem necessidade de
uma decisão judicial (por exemplo: a juntada de um documento e a confissão). Es-
tes são aqueles nos quais é solicitada uma decisão judicial e cujos efeitos somente se
produzirão mediante essa decisão.
Até pouco tempo atrás, o principal pronunciamento judicial proferido em 1o
grau de jurisdição, a sentença, era definida pela lei por meio do efeito extintivo que
produzia ao processo, o que, mesmo depois da alteração (CPC, art. 162, § 1o), não

184
A jurisprudência ainda vacila a esse respeito. No STJ é possível encontrar decisões que seguem o en-
tendimento defendido no texto: REsp 23.751/GO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. em
15/12/1992, DJ 08/03/1993; REsp 231314/RS, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, j. em 19/11/2002,
DJ 16/12/2002; REsp 254.258/SC, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, j. em 27/04/2004, DJ 09/08/2004;
EDcl nos EDcl no REsp 510.211/MG, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, j. em 26/10/2004, DJ 28/03/2005;
REsp 800.676/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 15/12/2005, DJ 13/02/2006 e EREsp 54.788/SP, Rel. Min.
Antônio de Pádua Ribeiro, Segunda Seção, Rel. p/ acórdão Min. Humberto Gomes de Barros, j. em 27/09/2006,
DJ 06/11/2006 (ver voto-vista do Min. Cesar Asfor Rocha). Em sentido contrário, no STJ: REsp 149.186/RS, Rel.
Min. Fernando Gonçalves, Quarta Turma, j. em 04/11/2003, DJ 19/12/2003 e AR 440/SP, Rel. Min. Castro Filho,
Segunda Seção, j. em 24/08/2005, DJ 03/10/2005. Ainda em sentido contrário, no STF: AI 92.546 AgR/MG,
Rel. Min. Alfredo Buzaid, Primeira Turma, j. em 26/08/1983, DJ 23/09/1983. O STJ já decidiu que até em ação
julgada improcedente não há efeito interruptivo da prescrição: AgRg no Ag  31.578/SP, Rel. Min. Waldemar
Zveiter, Terceira Turma, j. em 10/10/1994, DJ 28/11/1994.
185
Miguel Teixeira de Sousa refere-se a atos constitutivos e postulativos (Introdução ao processo civil, 2. ed.,
São Paulo: Lex, 2000, p. 94). Cândido Rangel Dinamarco utiliza atos causativos e indutivos (Instituições de di-
reito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 485-486). Por sua vez, Othmar Jauernig (Direito proces-
sual civil, Coimbra: Almedina, 2002, p. 170-171) e Antonio do Passo Cabral (Nulidades no processo moderno,
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 139-144) nominam os atos como determinantes e estimulantes.
130 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

pode ser de todo abandonado.186 Aliás, quanto à sentença, a classificação dos efeitos
é próspera, sendo variada a sua catalogação: efeitos materiais, secundários, diretos,
reflexos, anexos etc.187
Também conforme seja o ato processual praticado, efeitos específicos podem ser
identificados, como ocorre com os recursos, que também apresentam diversos efei-
tos, não se limitando ao conhecido binômio suspensivo e devolutivo.188
Portanto, realmente parece não ser possível esgotar todos os critérios que ser-
vem para a catalogação dos efeitos dos atos processuais.

5.10.3 Vinculação e modulação dos efeitos de


decisões judiciais
Ainda quanto aos efeitos processuais, não se pode deixar de mencionar situação
peculiar verificada especialmente no âmbito da chamada jurisdição constitucional
exercida pelo Supremo Tribunal Federal.
Com efeito, especialmente por força dos princípios constitucionais da isono-
mia e da segurança jurídica, a eficácia das decisões do Supremo Tribunal Federal no
controle da constitucionalidade de lei ou de outro ato normativo tem contornos
distintos.189
Essa distinção se refere a dois fenômenos: o da vinculação e o da modulação dos
efeitos dessas decisões.
A vinculação se resume na obrigatoriedade das demais autoridades judiciais ou
administrativas de decidir,190 em situações análogas, em conformidade com a parte

186
Como dito alhures, para que a definição de sentença não possa erigir um sistema recursal inidôneo, o
melhor é considerá-la a partir da conjugação de dois critérios: conteúdo e finalidade (efeito), ou seja, será
sentença o pronunciamento que apresente um dos conteúdos dos arts. 267 e 269 do CPC e, ainda, ponha fim
a uma fase do processo; tomando-se por fase o resultado final da atividade jurisdicional prevalecente: cog-
nitiva ou executiva. Desse modo, não se teria sentença em caso de atividade cautelar, porque esta é sempre
dependente de uma atividade cognitiva ou executiva, nos termos do art. 796 do CPC (Sandro Gilbert Martins,
Reflexos do novo conceito de sentença (CPC, art. 162, § 1o, com a redação dada pela Lei 11.232/2005), RePro
no 163, set. 2008, p. 305-311).
187
Por todos, ver Ricardo de Carvalho Aprigliano, A apelação e seus efeitos, 2. ed., São Paulo: Atlas, 2007,
p. 262-273.
188
Ver Cândido Rangel Dinamarco, Os efeitos dos recursos, in: Nova era do processo civil, São Paulo: Ma-
lheiros, 2003, p. 104-153; Cassio Scarpinella Bueno, Efeitos dos recursos, in: Aspectos polêmicos e atuais dos
recursos cíveis e assuntos afins, v. 10, coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT,
2006, p. 66-90 e José Roberto Neves Amorim e Sandro Gilbert Martins, Direito processual civil, Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009, p. 369-373.
189
Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional, São Paulo: RT, 2001, p. 20.
190
É de se dizer que não há autovinculação do STF nos casos de efeito vinculante, justamente porque é
dado à Suprema Corte decidir diferente ou mesmo rever sua posição anterior. Também não há vinculação
do Poder Legislativo no exercício de sua atividade típica, pelo que pode este editar leis e atos normativos de
conteúdo contrário ao já decidido pelo STF nos casos em que há efeito vinculativo.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 131

dispositiva191 da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal numa Ação Dire-
ta de Inconstitucionalidade (ADIn) ou numa Ação Direta de Constitucionalidade
(ADC), nos termos do art. 102, § 2o, da Constituição Federal (com as redações que
lhe foram dadas pelas Emendas Constitucionais no 3/1993 e no 45/2004). Tal efeito
vinculante não se confunde com a coisa julgada erga omnes.192 Trata-se, verdadeira-
mente, de um plus, fruto da opção do legislador constituinte derivado em incremen-
tar ou reforçar a eficácia da decisão proferida em sede de controle direto e abstrato
de constitucionalidade.193 Segundo se observa, esse efeito vinculante pode ser deter-
minado pelo Supremo Tribunal Federal já quando de decisão cautelar deferida nas
mencionadas ações diretas.194
Convém assinalar, que esse efeito vinculante não se verifica em sede de contro-
le difuso e incidental de constitucionalidade, funcionando a decisão assim proferida
pelo Supremo Tribunal Federal apenas como importante precedente para os demais
tribunais pátrios.195
Cabe ressaltar, também, que por meio da Emenda Constitucional no 45, de de-
zembro de 2004, inseriu-se o art. 103-A na Constituição Federal, pelo qual um novo
mecanismo vinculativo foi criado: a súmula vinculante. Comparando-se essas dife-
rentes hipóteses de eficácia vinculativa, tem-se que o âmbito de atuação dos efeitos
vinculantes é nelas diverso. Segundo André Dias Fernandes, enquanto

o efeito vinculante das decisões do Supremo Tribunal Federal em ADIn e ADC não
opere nos processos em que se discute questão constitucional idêntica à decidida

191
Prevalece no âmbito do STF e da própria doutrina, que somente a conclusão do acórdão do STF é que
vincula. Todavia, ainda resiste polêmica, mesmo no âmbito do STF, no sentido de estender a vinculação
aos fundamentos jurídicos utilizados pelo STF para chegar a essa conclusão. Sobre o tema, ver André Dias
Fernandes, Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 203-215.
192
Leciona André Dias Fernandes: “Esses exemplos evidenciam a diferença, a independência e a autonomia
do efeito vinculante em relação à coisa julgada erga omnes. Evidenciam, por igual, a impossibilidade de
conceber o efeito vinculante como mera expansão dos limites objetivos da coisa julgada erga omnes. O
efeito vinculante não é (a) uma espécie de coisa julgada erga omnes com limites objetivos mais amplos,
nem (b) um efeito específico da coisa julgada erga omnes (pois não depende dela para existir), nem (c) um
efeito aderente à coisa julgada erga omnes (pois atua em âmbito diverso: a coisa julgada erga omnes atua
nos processos em que for discutida a mesma questão constitucional, enquanto o efeito vinculante atua nos
processos em que for discutida questão constitucional semelhante à decidida pelo STF), nem (d) um efeito
de qualquer forma condicionado pela coisa julgada erga omnes (pois esta não exerce nenhuma influência
sobre o efeito vinculante, seja sobre sua existência, seja sobre sua validade, seja sobre sua eficácia concre-
ta)” (Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 169).
193
Nesse sentido, Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Efeitos da declaração de inconstitucionalidade, 5. ed.,
Ed. RT, 2004, p. 238 e André Dias Fernandes, Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPo-
divm, 2009, p. 161-162.
194
STF, Pleno, ADC 8 MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. em 13/10/1999, DJ 04/04/2003. Ver também, Gilmar
Ferreira Mendes, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2006,
p. 309-329.
195
Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional, São Paulo: RT, 2001, p. 33-39 e
Gilmar Ferreira Mendes, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, 3. ed., São Paulo: Saraiva,
2006, p. 268-270.
132 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

pelo Supremo Tribunal Federal, mas apenas no em que se discute questão cons-
titucional análoga, em razão da existência de coisa julgada erga omnes a impedir
qualquer decisão do juiz, ainda que em conformidade com a decisão do Supremo
Tribunal Federal munida de efeito vinculante; o efeito vinculante da súmula vincu-
lante atua exclusivamente nos processos em que se discute questão constitucional
idêntica à tratada na súmula vinculante, uma vez que não há o óbice da coisa jul-
gada erga omnes.196

Por sua vez, entende-se por modulação dos efeitos a possibilidade de o Supremo
Tribunal Federal, mediante quórum qualificado de seus membros, regular os efeitos
concretos das decisões proferidas em ADIn e em Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF), nos termos do art. 27 da Lei no 9.868/1999 e do
art. 11 da Lei no 9.882/1999. Não obstante somente haja previsão legal para a apli-
cação do efeito modulador nas referidas ações diretas, o Supremo Tribunal Federal
tem modulado os efeitos das suas decisões no controle difuso e incidental de consti-
tucionalidade197 e também parece que será o caso de aplicar o mesmo efeito quando
de mudança de sua jurisprudência consolidada ou de revisão ou cancelamento de
súmula vinculante.
A autorização de modular os efeitos visa abrandar o rigorismo dos efeitos ex tunc
que a declaração, em princípio, faria impor, adequando-os às situações de vida, em
nome de outros princípios e interesses constitucionalmente protegidos.198 Essa auto-
rização está fundada em situações extravagantes, construídas mediante conceitos ju-
rídicos indeterminados (razões de segurança jurídica e excepcional interesse social),
cuja aplicação deverá ser feita conforme a Constituição, especialmente aos direitos e
princípios fundamentais.199

196
Leciona André Dias Fernandes, Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPodivm, 2009,
p. 176.
197
A hipótese já havia sido suscitada pelo Min. Gilmar Mendes quando do voto proferido na AC 189-MC-QO/
SP, julgada pelo Pleno do STF em 09/06/2004. Mais recentemente a tese foi adotada nos seguintes casos: STF,
Pleno, RE 556.664/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 12/06/2008; STF, Pleno, RE 559.943/RS, Rel. Min a Cármen
Lúcia, j em 12/06/2008; STF, Pleno, RE 560.626/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 12/06/2008 e STF, RE 553.223
AgR-ED/RJ, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, j. em 19/08/2008, DJe 18/12/2008. Na doutrina, acei-
tam a modulação dos efeitos no controle incidental: Ana Paula Ávila, A modulação de efeitos temporais pelo
STF no controle de constitucionalidade, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 59 e André Dias Fernan-
des, Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 246.
198
Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Efeitos da declaração de inconstitucionalidade, 5. ed., São Paulo: RT,
2004, p. 300 e 325, citando lição de Jorge Miranda [Os tipos de decisão na fiscalização da constitucionalida-
de, Interesse Público, 2003, no 18, p. 44-45].
199
Sobre o tema, conclui Ana Paula Ávila: “Assim sendo, a aparente liberdade, para a modulação dos efei-
tos temporais da declaração de inconstitucionalidade, deve ser entendida como dever de argumentar de
forma coerente sobre as opções realizadas. Deve-se evitar que a possibilidade de determinação converta-
-se em manipulação dos efeitos do controle de constitucionalidade em benefício de interesses aleatórios,
e que a jurisprudência, tendo amplas condições de preservar a supremacia da Constituição e a garantia
do direito fundamental à segurança jurídica, converta-se em um instrumento de autoritarismo e corrosão
dos próprios direitos e princípios que a Constituição, prioritariamente, consagra” (A modulação de efeitos
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 133

A modulação permite, segundo Ana Paula Ávila, que,

apesar de declarado inconstitucional, um ato mantenha todos os efeitos produzi-


dos até esta declaração (ex nunc), ou que mantenha parte desses efeitos (ex tunc
restringido), ou que, além de manter todos os efeitos produzidos, tenha produção
de efeitos assegurada pro futuro, até o momento que a decisão fixar para que tais
efeitos cessem (ex nunc com termo inicial diferido).200

Na verdade, a regulação que pode ocorrer por força da modulação, será sempre
uma restrição, que não precisa ser necessariamente temporal, podendo ser de ordem
subjetiva, objetiva, espacial etc.201
Apresentado esse breve panorama acerca desses dois aspectos dos efeitos das deci-
sões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, é de questionar-se: essas situações po-
dem se estender para outras hipóteses, especialmente fora do âmbito da Suprema Corte?
Mesmo antes do efeito vinculativo atribuído à súmula (CF/88, art. 103-A), já
vinha sendo construído aos poucos pelo legislador infraconstitucional, no Código
de Processo Civil reformado, a valorização da força da jurisprudência, seja por meio
de súmulas ordinárias, seja pelos entendimentos dominantes das Cortes Superiores
(v. g., art. 518, § 1o; art. 544, § 3o; art. 557, caput e § 1o-A). Todavia, tais situações,
a rigor, não são vinculantes. Com efeito, tais construções legislativas não obrigam
os demais órgãos judiciais a seguirem obedientemente os entendimentos ordinaria-
mente sumulados ou dominantes nas Cortes superiores, funcionando tão só como
diretrizes que podem ou não ser seguidas por juízes e tribunais, razão pela qual não
se vislumbra nelas efeito vinculante.
Parece correto entender que o efeito vinculante decorre do particular papel
político-institucional desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal como zeloso
guardião do cumprimento estrito da Constituição nos processos especiais concebi-
dos para solver determinadas e específicas controvérsias constitucionais.202 Daí por
que não ser possível vislumbrar a vinculação fora do âmbito do Supremo Tribunal
Federal.
O mesmo já não se pode dizer da modulação dos efeitos que, se não era prática
comum, não é estranha aos juízes. Destarte, segundo entendimento de Teori Albino
Zavascki,

temporais pelo STF no controle de constitucionalidade, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 176).
Ver, também, Regina Maria Macedo Nery Ferrari, Efeitos da declaração de inconstitucionalidade, 5. ed.,
São Paulo: RT, 2004, p. 301-318.
200
Ana Paula Ávila, A modulação de efeitos temporais pelo STF no controle de constitucionalidade, Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 171.
201
André Dias Fernandes, Eficácias das decisões do STF em ADIN e ADC, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 250.
202
Gilmar Ferreira Mendes, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, 3. ed., São Paulo: Sarai-
va, 2006, p. 324.
134 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

não é nenhuma novidade, na rotina dos juízes, a de terem diante de si situações


de manifesta ilegitimidade cuja correção, todavia, acarreta dano, fático ou jurídico,
maior do que a manutenção do status quo. Diante de fatos consumados, irreversíveis
ou de reversão possível, mas comprometedora de outros valores constitucionais, só
resta ao julgador – e esse é o seu papel – ponderar os bens jurídicos em conflito e
optar pela providência menos gravosa ao sistema de direito, ainda quando ela possa
ter como resultado o da manutenção de uma situação originariamente ilegítima.203

Não é demais lembrar que o Código de Processo Civil, em seu art. 1.111, que
regula a sentença em processos de jurisdição voluntária, já estabelecia que “a sen-
tença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrem cir-
cunstâncias supervenientes”. Ou seja, in casu, foi o legislador quem já previamente
determinou que em eventual e posterior modificação da decisão, os efeitos práticos
até então verificados por força da decisão modificada não serão atingidos.
Portanto, sempre que a eficácia retroativa da decisão judicial, seja qual for sua
eficácia preponderante, impuser a reversão de um estado de fato consolidado que
poderá imprimir à parte um prejuízo desproporcional, impõe-se verificar se não é o
caso de modular os efeitos dessa decisão, minimizando ou mesmo evitando tal des-
mensurado prejuízo.204 O mesmo entendimento já se defende na esfera do direito
administrativo.205

5.11 INEFETIVIDADE, INEFICIÊNCIA E INEFICÁCIA PROCESSUAL

A ineficácia no âmbito processual não difere muito daquela verificada aos atos
jurídicos em geral (item 5.4). No entanto, seguindo o método adotado neste traba-
lho, é possível avaliar essa não produção de efeitos típicos de forma distinta, tal qual

203
Teori Albino Zavascki, Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional, São Paulo: RT, 2001, p. 49-50,
exemplificando, na nota 28, com jurisprudência.
204
A temática já vem sendo enfrentada no plano doutrinário, defendendo-se a possibilidade da modulação
dos efeitos no âmbito de Cortes superiores: Tércio Sampaio Ferraz Junior, Roque Antonio Carrazza e Nelson
Nery Junior, Efeito ex nunc e as decisões do STJ, 2. ed., Barueri: Manole, 2009, passim.
205
Depois de analisar as correntes doutrinárias que enfrentam a questão, conclui Ricardo Marcondes
Martins: “Enfim, a solução fixada para o controle de constitucionalidade das leis pelo Tribunal Constitucional
é igualmente aplicável ao controle difuso dos atos administrativos pela Administração e pelo Judiciário:
dependendo do caso concreto, diante das circunstâncias fáticas e jurídicas, do resultado da ponderação
efetuada pelo agente encarregado da correção, o sistema jurídico pode exigir a adoção de determinado
termo inicial para os efeitos da invalidação, diferente da data do início da vigência do ato inválido e da data
da prolação da decisão. Admite-se a invalidação parcialmente retroativa ou pro futuro, além da invalidação
totalmente retroativa ou irretroativa. Admite-se, no plano teórico, uma situação em que os princípios inciden-
tes exijam a manutenção dos efeitos do ato inválido: (1) até a data da prolação da decisão; (2) até determi-
nada data posterior à edição do ato inválido, mas anterior à prolação da decisão; (3) até determinada data
posterior à prolação da decisão. E a partir dessa data exijam a retirada do ato (e dos respectivos efeitos) do
sistema jurídico. Enfim, a invalidação pode ser ex nunc, ex tunc e ab initio; ex tunc e não ab initio; pro futuro”
(Efeitos dos vícios do ato administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 421).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 135

seja o âmbito de sua análise. Daí por que em relação ao processo, ter-se-á sua inefeti-
vidade; quanto ao procedimento haverá sua ineficiência e, quanto ao ato processual,
sua ineficácia estrita.
Pode-se dizer que processo será inefetivo quando não for eficaz no sentido so-
cial, isto é, quando o processo não proporcionar a paz social entre os litigantes. Se o
processo deixa pendente o conflito social que motivou sua existência, por terminar
atipicamente sem resolução de mérito (CPC, art. 267), é inefetivo.206 Se a resolução
de mérito não tiver a máxima coincidência entre a tutela jurisdicional prestada e o
direito material, o processo será inefetivo. Embora, quanto ao resultado de mérito,
se possa objetar que a tendência é de pelo menos uma das partes (a que foi vencida!)
tomar o processo como inefetivo, tal não passa do sentimento de infelicidade e não
do cotejo desse resultado com o direito controvertido. Com efeito, a falta de eficácia
do processo é algo que, apenas excepcionalmente, será objeto de reconhecimento
judicial. É aspecto que será visto por quem estude o fenômeno social do processo no
âmbito doutrinário, estatístico etc.
A ineficiência do procedimento pode ser atribuída ao legislador e ao próprio
juiz, toda vez que se verificar que o procedimento, em abstrato (enquanto norma
processual) ou em concreto (aplicado pelo magistrado no caso em concreto), impe-
de ou impediu de assegurar a plenitude das garantias do devido processo legal, em
especial a realização do contraditório. Assim, por exemplo, será ineficiente o proce-
dimento quando: cercear o exercício da ampla defesa, restringir o direito à prova,
reduzir ou ampliar prazos sem se atentar às circunstâncias ligadas à dificuldade de de-
fesa, reconhecer uma nulidade sem prévia manifestação das partes, decidir com base
em documento produzido pela parte vencedora sobre o qual a parte vencida não se
manifestou, sufocar a dialética207 etc.

206
Sobre o tema, assinala Donaldo Armelin: “Se o processo, em verdade, não passa de um remédio estatal
para um fenômeno de morbidez social, como é o conflito de interesses, o processo ineficaz, ou seja, o pro-
cesso que deixa pendente tal conflito, é um remédio que só tende a agravar o mal cuja cura se objetivara”
(Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 1979, p. 30). Por ineficaz contido no
texto entenda-se inefetivo.
207
Tem razão Daniel Mitidiero quando aponta ser inconstitucional o art. 285-A do CPC por ofensa ao con-
traditório do demandante. Aduz: “É lugar-comum observar a multifuncionalidade dos direitos fundamen-
tais. Dessa comezinha mas extraordinária impostação ressai que o direito fundamental ao contraditório
não se cinge mais a garantir tão somente a bilateralidade da instância, antes conferindo direito, tanto ao
demandante como ao demandado, de envidar argumentos para influenciar na conformação da decisão
judicial. É o que vem se consagrando na doutrina, paulatinamente, como a dimensão ativa do direito
fundamental ao contraditório, consagrada à vista do caráter fortemente problemático do direito con-
temporâneo, constatação hoje igualmente corrente, e da complexidade do ordenamento jurídico atual.
Nessa perspectiva, o contraditório deixa de ser um direito fundamental que se cifra à esfera jurídica do
demandado, logrando pertinência a ambas as partes, abarcando, portanto e evidentemente, inclusive o
demandante. A nosso juízo, o art. 285-A, CPC, está a ferir, justamente, o contraditório do autor, e não o do
réu” (A multifuncionalidade do direito fundamental ao contraditório e a improcedência liminar (art. 285-A,
CPC): resposta à crítica de José Tesheiner, Processo civil e estado constitucional, Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007, p. 37).
136 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Também será hipótese de ineficiência do procedimento a presença daqueles fa-


tos que a doutrina identifica como impeditivos: perempção, litispendência, coisa jul-
gada material e convenção de arbitragem, que são costumeiramente apontados como
requisitos de validade objetivos negativos ou extrínsecos do processo,208 ou também
chamados de pressupostos processuais negativos.209 Destarte, o procedimento que se
realize em contrariedade a esses fatos poderá ser válido, pois de acordo com o mo-
delo traçado no ordenamento, mas será ineficiente (ineficaz!), pois inegavelmente
caracterizará ofensa ao contraditório antes desenvolvido (perempção e coisa julgada)
ou já iniciado (litispendência) ou que deveria ser observado noutra espécie de juris-
dição (arbitragem).
Convém assinalar que a ineficiência do procedimento poderá ser relevada se o
instrumento, embora neste aspecto defeituoso, atingiu o resultado desejado;210 ou
seja, se embora ineficiente foi ele efetivo.
Tem-se a ineficácia estrita do ato processual quando este, por alguma causa ju-
rídica ou fática, temporária ou permanente, não produz ou deixa de produzir seus
efeitos típicos. Como procurou se demonstrar neste estudo, por razões de ordem
prático-jurídicas, a imperfeição do ato – em relação ao modelo legal para a sua exis-
tência e sua validade – pode não derivar da sua ineficácia. Todavia, ainda que perfei-
to, pode o ato ser ineficaz quando (item 5.9): a) tenha sido realizado por quem não
tinha o poder processual de praticá-lo; b) tenha sido cumprido intempestivamente;
c) tenha sido realizado fora do lugar procedimental que lhe é próprio.
Essas situações de ineficácia processual estrita podem ser designadas como de
inadmissibilidade.211 Já se defendeu em sede doutrinária, que a inadmissibilidade se
caracteriza por apenas atingir ao ato em si mesmo, sem se comunicar aos demais atos
sucessivos do procedimento.212 Todavia, não parece adequado esse entendimento
porque o ato processual integra o procedimento e, como tal, poderá sim “contagiar”
os atos que se seguem, tornando-os também, por derivação, sem efeito.

208
Fredie Didier Jr., embora trate os requisitos objetivos negativos ou extrínsecos como sendo do processo,
reconhece serem, na verdade, requisitos “de validade do próprio processo, enquanto procedimento” (Pres-
supostos processuais e condições da ação, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 173).
209
Por todos, José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008,
p. 543.
210
José Roberto dos Santos Bedaque, Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros,
2006, p. 207.
211
Francesco Carnelutti apontou que a figura da inadmissibilidade era pouco elaborada pela doutrina, as-
sim como a lei não costuma distinguir os casos em que se produz mera inadmissibilidade em lugar de nulida-
de (Instituições do processo civil, v. 1, Campinas: Servanda, 1999, p. 585).
212
Francesco Carnelutti, Instituições do processo civil, v. 1, Campinas: Servanda, 1999, p. 584. Adota esse
entendimento, Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Embargos de declaração, RePro no 102, São Paulo: RT, abr./
jun. 2001, p. 100 (ao que parece, o mencionado autor se equivocou ao tomar a lição como sendo de Piero
Calamandrei).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 137

A ineficácia estrita deve ser compreendida dentro da ideia de que não há ato
jurídico absolutamente ineficaz. Isto significa que mesmo um ato em princípio ine-
ficaz ou inadmissível pode produzir efeitos, mesmo os típicos, até e ainda que sua
ineficácia seja reconhecida pela autoridade competente. Um exemplo poderá aclarar
o que se está dizendo. O recurso de embargos de declaração poderá ter sido inter-
posto fora do prazo legal, intempestivamente. Sua inadmissibilidade, portanto, não
exercerá nenhuma influência no prazo para outro recurso do próprio embargante,
isto é, não haverá aí, para o embargante, o efeito interruptivo de que trata a lei (CPC,
art. 538).213 No entanto, deve-se considerar interrompido o prazo em relação à par-
te contrária que, além de não estar obrigada, dificilmente terá como tomar conheci-
mento da intempestividade do ato do embargante, porque durante o processamento
e julgamento dos embargos é comum não ter vista dos autos, o que lhe dificulta
a aferição da tempestividade do ato e, portanto, não pode vir a ser prejudicada.214
Tem-se, assim, uma ineficácia relativa. Em suma, um ato processual ineficaz pode ge-
rar algum efeito perante o procedimento, o que dependerá de decisão da autoridade
judicial competente.215
Também são ineficazes os atos convencionais das partes (CPC, art. 158), rela-
tivos à disposição de seus direitos e deveres processuais ou ao próprio direito ma-
terial, enquanto dependentes de decisão ou homologação judicial para adquirir sua
eficácia.
Quanto às modalidades de ineficácia do ato processual, aplica-se in totum o
apresentado para a ineficácia do ato jurídico em geral (item 5.5).

213
José Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao Código de Processo Civil, v. V, 7. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1998, p.  550-551. STJ, AgRg no REsp 396.422/BA, Rel. Min. Nilson Naves, Sexta Turma, j. em 11/11/2008, DJe
19/12/2008.
214
Nesse mesmo sentido, Antonio Janyr Dall’Agnol Junior, Embargos de declaração, RePro no 102, São Pau-
lo: RT, abr./jun. 2001, p. 100 e Luis Guilherme Aidar Bondioli, Embargos de declaração, São Paulo: Saraiva,
2007, p. 175. No entanto, a jurisprudência do STJ tem se firmado em sentido diverso. Tem entendido, por
exemplo, que os embargos de declaração não interrompem o prazo para a parte contrária interpor recurso
de embargos de declaração do mesmo acórdão, vale dizer, que o prazo para embargos de declaração é
comum: 2a Seção, EDcl nos EDcl no CC 36.933/SE, Rel. Mino Nancy Andrighi, j. em 24/03/2004, DJ 19/04/2004;
REsp 633.434/RJ, Rel. Min. Paulo Gallotti, Sexta Turma, j. em 22/03/2005, DJ 06/03/2006; REsp 709.735/RS,
Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta Turma, j. em 02/06/2005, DJ 20/06/2005; AgRg nos EDcl no REsp 840.515/
MG, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, j. em 19/10/2006, DJ 16/11/2006; EDcl nos EDcl no REsp 717.621/
SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 12/06/2007, DJ 22/06/2007 e REsp 898.055/SP, Rel. Min.
José Delgado, Primeira Turma, j. em 14/08/2007, DJ 03/09/2007. Logo, ainda que não pareça correto, por
enquanto continua adequada a conclusão de Sandro Marcelo Kosikoski: “a solução mais indicada para
o problema consiste na fiscalização quanto à tempestividade dos embargos declaratórios intentados pela
parte adversa” (Manual dos recursos cíveis, 3. ed., Curitiba: Juruá, 2007, p. 316).
215
O STJ já decidiu, excepcionalmente, que pode ato judicial ser eficazmente praticado fora de sua ordem
procedimental, visando, com isso, evitar a nulidade do procedimento a partir dali: REsp 153.329/AL, Rel. Mina
Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 23/05/2000, DJ 02/10/2000; REsp 890.136/PE, Rel. Min. Francisco Falcão,
Primeira Turma, j. em 27/03/2007, DJ 19/04/2007 e REsp 759.763/RS, Rel. Mina Denise Arruda, Primeira Turma,
j. em 24/06/2008, DJe 04/08/2008.
138 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

5.12 MODOS PARA O RECONHECIMENTO DA INEFICÁCIA


DO ATO PROCESSUAL

A ineficácia do ato processual poderá se dar por ato voluntário da parte interes-
sada ou mediante reconhecimento judicial.
Destarte, o ato processual da parte ou em benefício dela pode, por sua vonta-
de, tornar-se sem efeito. Assim ocorre, por exemplo: i) na desistência da ação (CPC,
art. 158, parágrafo único); ii) na renúncia ao prazo estabelecido exclusivamente em
seu favor (CPC, art. 186); iii) na desistência do recurso (CPC, art. 501); iv) na
substituição da penhora (CPC, art. 656); v) na desistência do adquirente diante da
oposição de embargos à 2a fase (CPC, art. 746, § 1o) etc. Mesmo os atos bilaterais,
enquanto não homologados judicialmente, podem ser revogados pelas partes, tor-
nando-os ineficazes.
O reconhecimento judicial, por sua vez, poderá ser feito em qualquer fase do
processo, mediante atividade de ofício do próprio juiz, como também pode ser pro-
vocado por qualquer das partes ou terceiros por meio de simples petição, recurso
(sem esquecer dos casos de retratação de decisão: arts. 285-A, § 1o, 296, 523, § 2o,
529) ou incidente, assim como, em caso de ter havido o encerramento do processo
em que o ato foi praticado, mediante ação autônoma.
Em se tratando de ineficácia da sentença, tal qual ocorre em caso de inexistên-
cia, ela permanece mesmo depois do trânsito em julgado ou do decurso de prazo da
ação rescisória.216 Aliás, sequer é necessário o ajuizamento de ação com fim exclusivo
de obter o reconhecimento da ineficácia. Pode a ineficácia ser reconhecida de forma
incidenter tantum (CPC, art. 469, III) em ação autônoma relacionada com o direito
material discutido.217

216
Sobre o tema, leciona Cândido Rangel Dinamarco: “Se a sentença é ineficaz, não produzindo tais efeitos
típicos (e tal é o sentido da ineficácia da sentença em estudo), a conclusão é que não pode haver coisa
julgada material sobre ela. Não se tornam imutáveis os efeitos que não chegaram a existir (...)” (Litisconsórcio,
4. ed., Ed. Malheiros, 1996, p. 292). Ver, também, Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo:
RT, 2005, p. 338.
217
É ineficaz a sentença contra quem, tendo título de domínio registrado, não foi citado para a ação de
usucapião. Poderá, em consequência, ajuizar ação reivindicatória, não sendo necessário o prévio ajuiza-
mento de ação rescisória contra aquela sentença. Neste sentido: STF, RE 96.696/RJ, Rel. p./ acórdão Min.
Alfredo Buzaid, Primeira Turma, j. em 22/10/1982, DJ 17/12/1982 (RTJ 104/826); STF, Pleno, AgR no EDv no RE 96.696,
Rel. Min. Djaci Falcão, j. em 26/10/1983, DJ 09/12/1983 (RTJ 108/732); STF, RE 101.289/PR, Rel. Min. Carlos Ma-
deira, Segunda Turma, j. em 21/03/1986, DJ 18/04/1986 (RTJ 118/198) e RT 660/93. Admitindo que a referida
ineficácia seja discutida em ação rescisória: RT’s 635/283 e 660/84. Na verdade, tal como já se assinalou para
o reconhecimento da inexistência, é admissível a fungibilidade entre ação rescisória e ação declaratória,
ainda que mediante remessa da ação ao juízo competente. Na jurisprudência, colhem-se casos em que,
não obstante tratando de ineficácia, a ação rescisória foi admitida: STJ, AR 3.502/RS, Rel. Des. Convocado do
TJ/RS Vasco Della Giustina, Segunda Turma, j. em 24/06/2009, DJe 03/08/2009 e TJPR, 17a CC, AR 586.070-0,
Rel. Des. Lauri Caetano, j. em 22/06/2011.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 139

A doutrina218 e a jurisprudência219 reconhecem a natureza declaratória do pro-


nunciamento judicial que trata da ineficácia. É aplicável à espécie, portanto, o art. 4o
do Código de Processo Civil, porque “declarar ineficácia é declarar inexistência de
efeito ou de efeitos”.220
Mas é possível, ao lado da eficácia declaratória, se apresentar também a eficácia
constitutiva negativa ou desconstitutiva, quando se fizer necessário o desfazimento,
ainda que parcial, dos efeitos do ato declarado ineficaz? Poder-se-á, também, se veri-
ficar uma eficácia executiva e/ou mandamental, a fim de que as partes sejam restituí-
das ao estado em que se achavam antes da ineficácia do ato?
Inicialmente, convém lembrar que é assente o entendimento de que a sentença
declaratória esgota por si mesma todas as virtualidades de proteção jurisdicional, dis-
pensando nova atuação jurisdicional,221 especialmente quando for negativa, em que
é maior o grau de efetividade estabelecido pela certeza proporcionada.222

218
Na verdade, quando se delimita que a ação declaratória tem por principal objeto uma relação jurídi-
ca, isso engloba a relação por completo, incluindo-se, portanto, os efeitos da relação jurídica ou o seu
modo de ser, no que se inclui sua eficácia ou ineficácia. Referência a tal possibilidade, de forma direta ou
meramente exemplificativa, se encontra em: Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado das ações,
t. 2, Campinas: Bookseller, 1999, p. 87-88, Tratado de direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 45
e Comentários ao Código de Processo Civil, t. I, 5. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 140-141; Torquato
Castro, Ação declaratória, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1942, p. 64-65; Celso Agrícola Barbi, Ação declara-
tória principal e incidente, 7. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 79; Alfredo Buzaid, A ação declaratória
no direito brasileiro, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1986, p. 157; João Batista Lopes, Ação declaratória, 4. ed.,
São Paulo: RT, 1995, p. 59; Nelson Jobim, A sentença e a preterição de litisconsorte necessário, Revista da
Ajuris no 28, jul. 1983, p. 44; Flávio Luiz Yarshell, Tutela jurisdicional meramente declaratória, RePro no 76, São
Paulo: RT, out./dez. 1994, p. 51; Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São
Paulo: Malheiros, 2001, p. 223; Marcos Bernardes de Mello, Teoria do fato jurídico – plano da eficácia/1a
parte, 1. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 33; Araken de Assis, Eficácia da coisa julgada inconstitucional,
Relativização da coisa julgada. Org. Fredie Didier Jr., 2. ed., Salvador: JusPodivm, 2006, p. 41, nota 59; Daniel
Francisco Mitidiero, Comentários ao Código de Processo Civil, t. I, São Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 120
e O problema da invalidade dos atos processuais no direito processual civil brasileiro contemporâneo,
Visões críticas do processo civil brasileiro, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 60; Sandro Gilbert
Martins, A defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica, 2. ed., São Paulo:
RT, 2005, p. 269, nota 74; Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria geral do direito civil, 3. ed., Coimbra: Almedina,
2005, p. 591; Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Teoria e prática da tutela jurisdicional, Rio de Janeiro: Foren-
se, 2008, p. 145 e Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, Código de Processo Civil comentado artigo por
artigo, São Paulo: RT, 2008, p. 99.
219
No STJ colhem-se os seguintes julgados: REsp 97.928/RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, Terceira Turma, j.
em 13/08/1996, DJ 29/10/1996; REsp 40.344/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. em
23/09/1997, DJ 03/11/1997; REsp 111.965/RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Rel. p/ acórdão Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, Terceira Turma, j. em 29/09/1999, DJ 08/03/2000 e REsp 684.958/PR, Rel. Mina Nancy Andrighi,
Terceira Turma, j. em 03/04/2008, DJe 15/04/2008.
220
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. XXVIII, Campinas: Bookseller, 2003,
p. 374.
221
Uma vez que atuam exclusivamente no plano jurídico-normativo. São ditas satisfativas ou autossuficientes
(Luiz Guilherme Marinoni, Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo: RT, 2004, p. 149-151).
222
Torna inoperante a vontade do vencido, simplesmente pela certeza jurídica que impõe, como salienta
Flávio Luiz Yarshell, Tutela jurisdicional meramente declaratória, RePro no 76, São Paulo: RT, out./dez. 1994,
p. 52.
140 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Não obstante isso, como assinalado antes (item 5.10) a sentença tem aptidão
não apenas para gerar o efeito que lhe é preponderante, mas também outros.223 As-
sim, não é de causar estranheza que a sentença meramente declaratória possa desen-
cadear efeitos desconstitutivos e/ou mandamentais e/ou executivos (é o que se tem,
por exemplo, na ação revocatória, item 6.10.1). Ademais, não pode escapar que da
decisão declaratória emanam efeitos concretos e suscetíveis de justificar atividade a
ela sucessiva, ainda que não se trate de (própria) atividade de execução.224
Ainda em reforço à conclusão de que a sentença declaratória é apta a produzir
efeitos no mundo empírico, é de lembrar que tem sido admitida a antecipação de
efeitos práticos que decorrem da futura declaração (assim como da constituição ou
desconstituição). Não correspondem esses efeitos exatamente aos que resultam da
tutela reclamada e sim da situação jurídica a se formar com a prestação dessa tutela.
São efeitos que se costuma designar como indiretos ou reflexos da tutela postulada,
de nítida e preponderante atuação no plano fático.225
Disso permite concluir que a procedência do pedido declaratório negativo legi-
tima a prática de atos jurídicos ao abrigo e em conformidade com o seu conteúdo,
ainda que, para tanto, não seja necessária a intervenção da função propriamente exe-
cutiva do Poder Judiciário.226 A rigor, uma vez reconhecida a ineficácia de um ato
processual, os sujeitos que atuam no processo devem praticar atos de acordo com
a definição judicial, independentemente de atos executivos. Todavia, o não atendi-
mento espontâneo ao comando da sentença poderá permitir a realização de atos que
tenham por fim realizar no mundo dos fatos o comando dessa sentença.

223
Ver tabelas de eficácia das ações declarativas em Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado das
ações, t. 2, Campinas: Bookseller, 1999, p. 89-93.
224
Celso Agrícola Barbi, Ação declaratória principal e incidente, 7. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 129;
João Manoel de Arruda Alvim, Tratado de direito processual civil, v. 1, 2. ed., São Paulo: RT, 1990, p. 426-428 e
João Batista Lopes, Ação declaratória, 4. ed., São Paulo: RT, 1995, p. 64-65.
225
No sentido do texto, Donaldo Armelin, Realização e execução das tutelas antecipadas, Inovações sobre o
direito processual civil: tutelas de urgência, coord. José Manoel de Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim, Rio
de Janeiro: Forense, 2003, p. 513-514. Também reconhece a possibilidade de antecipação dos efeitos prá-
ticos decorrentes do pedido declaratório João Batista Lopes (Tutela antecipada no processo civil brasileiro,
4. ed., São Paulo: RT, 2009, p. 79-85). Luiz Guilherme Marinoni também admite, mas com ressalvas (Antecipa-
ção da tutela, 9. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 59-66).
226
A eficácia executiva, em sentido amplo, engloba todo ato de realização de um direito no mundo fático.
Todavia, tem se dado à execução um sentido mais restrito, próprio, quando essa atividade se opera a partir
de um direito já reconhecido pelo Estado-juiz ou pressuposto por outros mecanismos assim tipificados em
lei. É o que se tem na atividade voltada a satisfazer a obrigação contida num título executivo. Ao lado dessa
atividade, existem também outras de realização do mundo dos fatos. Há aquelas que se prefere designar de
mera efetivação, quando o procedimento é direcionado a garantir a satisfatividade de determinado direito
cuja existência ainda não foi plenamente reconhecida, como se dá nas liminares de modo geral (Donaldo
Armelin, Realização e execução das tutelas antecipadas, in: Inovações sobre o direito processual civil: tutelas
de urgência, coord. José Manoel de Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim, Rio de Janeiro: Forense, 2003,
p. 511). Há também a chamada execução imprópria, quando a atividade a ser realizada no mundo dos fatos
não impõe uma invasão ao patrimônio da parte executada (José Roberto Neves Amorim e Sandro Gilbert
Martins, Direito processual civil, Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p. 448).
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 141

Com efeito, não é demais assinalar que o interesse na declaração de ineficácia


de um determinado ato processual é obter a certeza jurídica de que aquele ato não
produziu (ou não deveria ter produzido!) qualquer efeito, ou seja, que a parte inte-
ressada não estava sujeita a qualquer situação jurídica ou prática decorrente daquele
ato processual. Logo, procedente a pretensão a tal declaração negativa, os efeitos ju-
rídicos e fáticos eventualmente verificados até então deverão ser desfeitos por com-
pleto ou cessarem, o que poderá ensejar efeitos desconstitutivos e/ou mandamentais
e/ou executivos.
Tratando-se de declaração que atua no plano da eficácia, não parece possível
defender o contrário, porque se o ato foi declarado ineficaz, nenhum efeito prático-
-jurídico dele decorrente poderá persistir.227 Na verdade, integrando o ato processual
uma cadeia de atos (procedimento), a eficácia dos demais atos a ele subsequentes de-
pende de sua própria eficácia e, uma vez declarada sua ineficácia, os demais atos da
série poderão ser afetados e, se o forem, perderão igualmente sua eficácia.
Tal situação não deve parecer estranha. Há casos, contemplados ou não na lei
processual, em que se verifica o fenômeno descrito.
Na atividade de execução, em que são mais relevantes e presentes os efeitos ve-
rificados no mundo sensível dos fatos, inúmeros são os exemplos. Quando o juiz re-
conhece a inexistência de citação do executado (CPC, art. 475-L, I, e art. 741, I),
na verdade declara a ineficácia da sentença condenatória e, por conseguinte, os atos
executivos até o momento já realizados perdem o efeito. Acaso o título executivo
judicial provisório sofra qualquer alteração pelo recurso pendente, a sua execução
provisória fica sem efeito, “restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados
eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento” (CPC, art. 475-O, II).
Tornada sem efeito a arrematação (CPC, art. 694, § 1o), a execução retoma seu na-
tural prosseguimento, igualmente retornando todos (arrematante, exequente e exe-
cutado) ao estado em que se encontravam antes dela.
Parcela da doutrina atribui à sentença dos embargos à execução (o que também se
pode aplicar à impugnação ao cumprimento de sentença) natureza desconstitutiva,228
justamente porque, em última análise, a sua procedência provoca o desfazimento, no
todo ou em parte, da atividade executiva já operada com base no título executivo.
Também há quem a reconheça como mandamental,229 por apenas modificar os efei-

227
Ao analisar o art. 158 do CC/1916, atual art. 182 do CC/2002, Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda des-
taca: “Se o ato jurídico é nulo, a decisão já pode mandar restituir, não só condenar a restituir. Idem se foi
declarado ineficaz o ato. Em ambas as espécies, não há, propriamente, condenação a restituir” (Tratado de
direito privado, t. IV, Campinas: Bookseller, 2000, p. 314, grifado).
228
Por todos, ver Eduardo Talamini, Embargos do executado, RePro no 93, São Paulo: RT, jan./mar. 1999, p. 105.
229
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado das ações, t. 7, Campinas: Bookseller, 1999, p. 125 e
Comentários ao Código de Processo Civil, t. V, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 151. Cabe citar trecho
desta última referência: “a ação de modificação não diz respeito à não existência, nem à não validade da
sentença que se quer executar. Tão somente à interpretação, ou versão, da sua eficácia. (...) Pretendeu-se
142 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

tos executivos. Todavia, sua natureza é eminentemente declaratória, por reconhecer a


ineficácia do título executivo em relação ao embargante (impugnante).230
Portanto, declarada a ineficácia do ato no mesmo processo em que este foi pra-
ticado, caberá ao juiz, independentemente de provocação, determinar o que deverá
ser realizado para que o ato produza os efeitos desejados (ratificação, realização de
novo ato etc.), se a causa da ineficácia comportar sanação; ou, do contrário, direcio-
nar as condutas que os demais sujeitos deverão respeitar e/ou adotar para desfazer
o que havia se operado ou para que o ato deixe de produzir efeitos. Retomando o
processo o estado que merece estar a partir da ineficácia declarada do ato processual,
caberá ao juiz dar o prosseguimento que o processo comportar a partir dali.
Para o escorreito atendimento da(s) parte(s) ao comando judicial a fim de que se
restitua o statu quo ante, deve o magistrado fazer mão das medidas estabelecidas nos
arts. 461 e 461-A, ambos do CPC. Isso, contudo, não exclui o direito de a parte in-
teressada pretender, mediante liquidação nos próprios autos ou por meio de inciden-
te, obter eventuais perdas e danos que tenha sofrido (CPC, art. 475-O, I e art. 811).
Se a declaração de ineficácia for deduzida em ação autônoma, os efeitos da pro-
cedência do pedido serão os mesmos (desconstitutivos e/ou executivos e/ou man-
damentais), independentemente de pedido certo e determinado, embora não se
duvide que o autor provavelmente os cumulará na inicial.231

que ação de modificação fosse constitutiva (...); porém ainda ignoravam tais juristas a existência das ações
mandamentais. Trata-se de ação mandamental contra a interpretação ou versão da eficácia da sentença –,
tal como os embargos de terceiro e os do executado”.
230
Sandro Gilbert Martins, A defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica,
2.  ed., São Paulo: RT, 2005, p. 140, com mais referências na nota 78 e Gelson Amaro de Souza, Efeitos da
sentença que acolhe embargos à execução de sentença por falta ou nulidade de citação, RePro no 93, São
Paulo: RT, jan./mar. 1999, p. 292 e Efeitos da sentença que julga os embargos à execução, São Paulo: MP,
2007, p. 94. O próprio Eduardo Talamini no texto referido na nota anterior assinala: “Daí a usual classificação
dessa sentença como desconstitutiva – o que é correto, desde que não se ignore que, ao lado da desconsti-
tuição, por vezes, se apresenta com igual relevo o efeito declaratório” (Embargos do executado, RePro no 93,
São Paulo: RT, jan./mar. 1999, p. 105). Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda nega que a queda dos atos
executivos até então verificados decorra da eficácia declaratória da sentença dos embargos, diz: “O título é
necessário, e a sentença que acolhe os embargos do devedor, no concernente ao mérito, é mandamental,
com eficácia declarativa; porém, a queda dos atos executivos adiantados não deriva da sentença com
eficácia declarativa, e, sim, da incompletabilidade do adiantamento, efeito que só persistiria se completado
(= se não acolhidos os embargos do devedor). A sentença que os acolhe declara implicitamente essa incom-
pletabilidade; portanto, estar realizada a condição resolutiva (= não pode completada a eficácia executiva)”
(Tratado das ações, t. 7, Campinas: Bookseller, 1999, p. 121). Em suma, sustenta o autor, que o título executivo
tem uma carga de executividade que permite adiantar efeitos executivos, mas essa carga é incompleta e
é dependente de uma condição: de a defesa na execução não ser procedente. Se procedente a defesa, a
eficácia adiantada esvai-se, porque não se completou e não mais se pode completar.
231
Vale lembrar aqui o argumento de que o efeito executivo da sentença pode nascer independentemente
de pedido condenatório. Além dos já mencionados exemplos da execução provisória (CPC, art. 475-O, I)
e do processo cautelar (CPC, art. 811) citados no texto, pode-se citar o da ação que julga procedente pedido
de resilição de contrato de promessa de compra e venda que, segundo a jurisprudência, admite atividade
executiva para a entrega da coisa, independentemente de ter havido pedido explícito a respeito, pois a
obrigação de restituir o bem é efeito necessário e natural da resolução do compromisso. No STF: RE 99.339/
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 143

Quanto à ineficácia do processo ou do procedimento, embora os mecanismos


sejam os mesmos dispostos para a declaração do ato processual ineficaz, será sem-
pre dependente de uma decisão judicial, porque sendo uma atividade pública, não é
dado às partes sponte sua deliberarem sobre a ausência de seus efeitos.

5.13 SÍNTESE DA PROPOSTA DE TEORIA GERAL DA


EFICÁCIA PROCESSUAL

Feita toda essa exposição, é chegado o momento de apresentar a síntese da aná-


lise da eficácia no âmbito processual que, como assinalado ao início (item 1.4), é o
principal intento deste trabalho.
Compreender a eficácia jurídica processual é importante não apenas para distin-
gui-la dos planos da existência e da validade do ato processual, como também para
dominar quais são as (prováveis) consequências imputadas ao ato jurídico processual,
além de reconhecer e distinguir essas consequências de outras que não têm nele sua
fonte, assim como delimitá-las no tempo, no espaço, em extensão, em relação aos
sujeitos sobre quem incide etc.
Como visto, é a teoria geral do Direito que fornece a grande gama dos funda-
mentos que permite desenvolver a análise da eficácia jurídica no processo civil, em
que pese mereçam ser procedidos alguns ajustes, dadas as particularidades do ato e
da relação jurídica processual, que se inserem no contexto de direito público.
Não apenas por razões didáticas, procurou-se definir a dimensão da eficácia no
processo, no procedimento e no ato processual em si considerado. Destarte, a estru-
tura processual é construída a partir desses três pilares que, embora evidentemente
conexos e vinculados, apresentam nuances de análise distinta e, portanto, ensejam
diferentes limites teóricos e práticos em relação à eficácia.
Daí por que se preferiu denominar a eficácia do processo como efetividade proces-
sual, significando que o processo será eficaz se a tutela jurisdicional prestada for apta
a dirimir os conflitos de interesses ou a afastar os obstáculos surgidos no meio social.
Nessa definição, como se percebe, predomina o enfoque social do conceito de eficácia.
Analisada a eficácia no âmbito do modelo de procedimento, preferiu-se desig-
ná-la como eficiência processual. A eficácia do procedimento foi construída segundo
a premissa de que conforme varie o Direito que esteja a exigir uma tutela jurisdicional

DF, Rel. Min. Sydney Sanches, Primeira Turma, j. em 31/05/1985, DJ 21/06/1985 (RTJ 114/693). No STJ: REsp 9.020/
GO, Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Turma, j. em 21/05/1991, DJ 17/06/1991 e REsp 18000/RJ, Rel. Min. Sálvio
de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. em 18/05/1993, DJ 07/06/1993. Para maior entendimento da matéria,
remete-se, uma vez mais, aos textos de Teori Albino Zavascki, Sentenças declaratórias, sentenças condenató-
rias e eficácia executiva dos julgados, RePro, no 109, São Paulo: RT, jan./mar. 2003, p. 45-56 e Fredie Didier Jr.,
Sentença constitutiva e execução forçada, RePro, no 159, São Paulo: RT, maio 2008, p. 65-76.
144 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

mediante o processo, este deve ser desenvolvido tendo em conta as peculiaridades


desse mesmo Direito. Logo, a eficácia do modelo de procedimento depende de sua
elaboração por normas processuais que assegurem um “modo de ser” equilibrado,
isto é, sem perder de vista o escopo a ser alcançado no caso concreto, apresente-se
seguro e previsível, com formas simples, um custo baixo e que permita seu desenrolar
com o menor gasto de tempo possível. Todavia, a eficiência do procedimento não se
resume apenas ao seu modelo legal, dependendo ainda da capacitação dos operado-
res do Direito em geral e também da estrutura judiciária.
Em relação ao ato processual em si considerado é que se ocupou da eficácia pro-
cessual stricto sensu, para compreender propriamente as consequências prático-jurí-
dicas que esse ato produz perante a cadeia procedimental e, como tal, para o alcance
do escopo do processo. Para isso, concluiu-se que o ato processual, para produzir a
eficácia (interna) dele esperada, precisa respeitar três fatores: a) tenha sido realizado
por sujeito com poder processual de praticá-lo; b) tenha sido cumprido com respeito
ao limite de tempo que é dado para sua realização; c) tenha sido realizado no lugar
procedimental que lhe é próprio.
Também se definiu o efeito processual como sendo toda e qualquer alteração
operada no mundo prático-jurídico que tenha por fonte o ato processual. Concluiu-se
que o ato processual apresenta as mesmas modalidades eficaciais que tem o ato jurí-
dico em geral, sem prejuízo de serem identificadas outras que lhe sejam específicas.
Ainda quanto aos efeitos do ato processual, defendeu-se ser possível sua modulação
em qualquer grau de jurisdição, quando isto se mostrar necessário.
Depois de definido o aspecto positivo do conceito de eficácia (efetividade,
eficiência e eficácia stricto sensu), foi possível identificar as causas que emprestam o
caráter negativo ao conceito, ou seja, definiu-se a inefetividade, a ineficiência e a ine-
ficácia processual. Neste passo, fez-se questão de assinalar, que não deve ser consi-
derada a ineficácia estrutural do ato processual, isto é, aquelas decorrentes de vícios
na sua formação (inexistência ou invalidade). A ineficácia do ato processual deve ser
apenas tomada a partir de seu próprio plano de análise.
Concluiu-se que quando a ineficácia atinge o ato final do procedimento não está
sujeita à coisa julgada material. Daí que se apontou ser possível por vários modos,
dentro do processo ou mediante ação autônoma, declarar a ineficácia processual do
ato processual, assim como se sustentou que essa declaração pode ensejar, excepcio-
nalmente, efeitos desconstitutivos e executivos.
Ainda em relação à eficácia do ato processual, é preciso enfrentar as situações
apresentadas no capítulo 2 para as quais se formularam alguns questionamentos.
A eficácia jurídica, embora não seja usual, pode ser meramente qualificadora de
um ato processual, servindo, pois, de sua característica.232 Quando se sustenta, por

232
Fica, assim, respondida a indagação feita ao final do item 2.5. A mesma conclusão é alcançada por Lou-
rival Vilanova, Causalidade e relação no direito, 4. ed., São Paulo: RT, 2000, p. 119.
Processo, procedimento e ato processual: o plano da eficácia 145

exemplo, que o pronunciamento do juiz será sentença, não apenas quando possua
o conteúdo dos arts. 267 e 269 do CPC, mas, ainda, quando também ponha fim a
uma das fases (cognitiva ou executiva) do processo, a eficácia extintiva está qualifi-
cando o ato do juiz como sendo sentença. O mesmo pode acontecer com a ineficá-
cia, como se tem na fraude à execução (CPC, art. 593).
Todavia, não parece ser correto entender que identificar o ato processual como
eficaz ou ineficaz corresponda a uma classificação desse ato.233 Com efeito, a eficácia
ou ineficácia é um mero estado que o ato processual se encontra, não gerando por
isso uma categoria que permita agrupá-lo em série. Na verdade, a existência, a vali-
dade e a eficácia são planos do mundo jurídico em que o fato jurídico pode ou não
se desenvolver.
No que toca ao respeito à forma do ato e a sua eficácia, não há dúvida de que a
ineficácia do ato possa decorrer da inobservância ao modelo legal. No entanto, tal
consequência está intimamente relacionada com a validade do ato e não apenas com
a sua eficácia. Portanto, defeitos quanto à forma podem prejudicar a eficácia do ato
(ineficácia estrutural), mas tal situação não é própria do plano da eficácia do ato: não
se trata de uma ineficácia estrita.234 Em outras palavras, não há correspondência entre
perfeição do ato e eficácia: pode haver defeito no ato e não haver ineficácia e pode
haver ineficácia e não haver defeito no ato.235
Quanto à relação do tempo e lugar com o ato processual, já se concluiu que es-
ses elementos não integram a estrutura do ato em si, mas condicionam seus efeitos,
razão pela qual se apontou que sua análise pertence ao plano da eficácia do ato.236
Portanto, quando o ato processual não atender às exigências de tempo e lugar, po-
derá não produzir seus efeitos típicos, isto é, ser ineficaz.237

233
Responde-se, com isso, o questionamento feito ao final do item 2.6.
234
Assim se responde à questão feita ao final do item 2.7.
235
Neste sentido, ver Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 191-193 e José de
Oliveira Ascensão, Direito civil teoria geral, v. 2, 2. ed., Coimbra: Coimbra Ed., 2003, p. 366.
236
Ver item 4.7.
237
Desse modo se responde ao questionamento feito ao final do item 2.8. A mesma conclusão é alcançada
por Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. II, São Paulo: Malheiros, 2001, p. 606.
6 EFICÁCIA E INEFICÁCIA NO
ÂMBITO DO PROCESSO CIVIL

6.1 INTRODUÇÃO
Nos capítulos anteriores, especialmente no último, como forma de justificar e
exemplificar muitos fundamentos utilizados e conclusões alcançadas na análise da
eficácia e/ou ineficácia aplicada ao direito processual civil, foram arroladas situações
verificadas no processo a elas relacionadas.
Neste capítulo, essas e outras situações serão enfrentadas não apenas para refor-
çar o que já foi dito, como também para esclarecer que a expressão eficácia pode estar
sendo empregada noutros contextos em cada caso.

6.2 CITAÇÃO COMO FATOR DE EFICÁCIA


Quando foram enfrentadas as questões inerentes ao plano da existência (item
3.4), afirmou-se que a inexistência de citação do réu não torna inexistente o proces-
so, pois não há como negar que existe processo apenas entre o autor e o juiz, isto
é, ainda que incompleta a relação jurídica processual. Mais que isso, demonstrou-se
que o processo pode ter sido extinto sem que nele tenha havido a citação do réu e,
ainda assim, não só existiu, mas produziu efeitos não só em face do autor, mas do
próprio réu (por exemplo, autoriza-se o início da fase de cumprimento de sentença
contra o réu condenado).
Logo, embora seja realmente bastante firme o entendimento perante a doutrina
pátria1 de que a citação é pressuposto processual de existência do processo, não se
comunga de tal posição.

1
Sem pretender esgotar as referências, pode-se mencionar: Egas D. Moniz de Aragão, Comentários ao Có-
digo de Processo Civil, v. II, 9. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 261-263; José Manoel de Arruda Alvim,
148 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Destarte, a citação não pode ser pressuposto processual de existência se é ato


que deverá ser realizado depois de já formado o processo.2
É de se aceitar a posição daqueles autores3 que defendem que a citação é fator de
eficácia do processo em relação ao réu, nos termos dos arts. 219 e 263, do Código
de Processo Civil.
Na verdade, quando se identifica que a citação está relacionada com a comu-
nicação ao réu de que existe uma demanda contra ele proposta, assim como com a
oportunidade que lhe é dada de participar deste processo, está-se reconhecendo que
a finalidade última da citação é a de permitir que o Estado-juiz venha, de forma legí-
tima, impor sobre a esfera jurídica do réu os efeitos advindos desse processo.
A previsão legal do caput do art. 214 do Código de Processo Civil que estabe-
lece ser a citação do réu indispensável para a “validade do processo” e, portanto, jus-
tifica a postura de alguns autores apontarem a citação como pressuposto de validade
do processo,4 deve ser compreendida como vinculada ao imperativo do contraditório.

Manual de direito processual civil, v. 1, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 535; Ernane Fidélis dos Santos, Manual
de direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 37; Amílcar de Castro, Do procedimento
de execução, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 299; Vicente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, v. 2,
18. ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 31; Teresa Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença,
5. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 49; Nelson Luiz Pinto, Ação de usucapião, São Paulo: RT, 1987, p. 81, nota 134;
Roque Komatsu, Da invalidade no processo civil, São Paulo: RT, 1991, p. 163; Nelson Nery Junior e Rosa Maria
de Andrade Nery, Código de Processo Civil comentado, 6. ed., São Paulo: RT, 2002, p. 593, nota 5 ao art. 267;
Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva, Teoria da inexistência no direito processual civil, Porto Alegre: Sergio
Fabris, 1998, p. 51; André de Luizi Correia, A citação no direito processual civil brasileiro, São Paulo: RT, 2001,
p. 95; Patrícia Miranda Pizzol, A competência no processo civil, São Paulo: RT, 2003, p. 125; Juliana Demarchi,
Ato processual juridicamente inexistente – mecanismos predispostos pelo sistema para a declaração da ine-
xistência jurídica, Revista Dialética de Direito Processual no 13, São Paulo: Dialética, abr. 2004, p. 50; Eduardo
Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 338-345; Marcos Vinicius Rios Gonçalves, Novo
curso de direito processual civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 109; Marcelo Abelha Rodrigues, Manu-
al de direito processual civil, 4. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 162; Eduardo Arruda Alvim, Direito processual civil,
2. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 166; Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil,
v. 1, São Paulo: Saraiva, 2007, p. 395; e José Miguel Garcia Medina e Teresa Arruda Alvim Wambier, Processo
civil moderno, v. 1, São Paulo: RT, 2008, p. 94-95.
2
José Carlos Barbosa Moreira, Sobre pressupostos processuais, in: Temas de direito processual civil (quarta
série), Ed. Saraiva, 1989, p. 84; Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. III, São
Paulo: Malheiros, 2001, p. 504; e João Batista Lopes, Curso de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Atlas,
2005, p. 104.
3
Nelson Jobim, A sentença e a preterição de litisconsorte necessário, Revista da Ajuris no 28, jul. 1983, p. 41-
45; José Maria Rosa Tesheiner e Lucas Pereira Baggio, Nulidades no processo civil brasileiro, Rio de Janeiro:
Forense, 2008, p. 122; Araken de Assis, Eficácia da coisa julgada inconstitucional, Relativização da coisa
julgada. Org. Fredie Didier Jr., 2. ed., Salvador: JusPodivm, 2006, p. 41; Donaldo Armelin, Flexibilização da coi-
sa julgada, Linhas mestras do processo civil, coord. Hélio Rubens Batista Ribeiro Costa, José Horácio Halfeld
Rezende Ribeiro e Pedro da Silva Dinamarco, São Paulo: Atlas, 2004, p. 148; José Roberto dos Santos Bedaque,
Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 217; e Gelson Amaro de Souza,
Efeitos da sentença que julga os embargos à execução, São Paulo: MP, 2007, p. 223.
4
Por exemplo: Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. III, 3. ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 207; José Carlos Barbosa Moreira, O novo processo civil brasileiro, 20. ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2000, p. 27; Milton Sanseverino e Roque Komatsu, A citação no direito processual civil,
São Paulo: RT, 1977, p. 105; Adroaldo Furtado Fabrício, Réu revel não citado, “querela nullitatis” e ação resci-
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 149

Sendo assim, como apontado antes (item 5.8), tal previsão legal diz respeito à eficiên-
cia do procedimento e, em última análise, à eficácia do processo. Portanto, tal dispo-
sição legal não infirma o que aqui defendido, ao contrário, confirma-o.
É exclusivamente à luz do plano da eficácia que se compreende o estabelecido
no art. 219, § 6o, do Código de Processo Civil. Segundo tal dispositivo legal, caso
tenha a sentença apreciado o mérito em favor do réu não citado,5 depois do trânsito
em julgado desta decisão ocorrerá sua citação, justamente para que esse réu possa
gozar dos benefícios dessa sentença. Ou seja, ainda que réu não tenha efetivamente
participado do processo, pode ele aproveitar-se dos efeitos do processo, desde que,
para tanto, tome ciência da existência deste processo e de seu resultado, ainda que tal
comunicação somente ocorra depois do trânsito em julgado. Portanto, mesmo que
o contraditório não tenha sido exercido pelo réu, pode tal situação não lhe acarretar
prejuízo e, por isso, ainda que o procedimento tenha sido ineficiente, não deixará
o processo de lhe ser eficaz.6 Nesta hipótese, poder-se-ia falar em eficácia secundum
eventum litis.
Não se nega que, enquanto não for reconhecida a inexistência ou a nulidade se-
guida da revelia desse ato citatório o processo poderá produzir efeitos para o réu que
“aparentemente” foi validamente citado; o que se dá por inexistir neste caso é ine-
ficácia automática, exigindo-se, portanto, que a ineficácia seja declarada por decisão
judicial. Todavia, ao réu é permitido, a qualquer tempo e por qualquer meio (dentro
ou fora do processo), alegar e demonstrar que não foi citado ou que a citação foi nula
e daí sua revelia. Com isso, poderá barrar os efeitos do processo em que nele não foi,
rigorosamente, parte.
Como se vislumbra, ainda que não haja consenso doutrinário, o mais adequado
é resolver os problemas inerentes ao sujeito que não foi vinculado como parte no
processo no plano da eficácia.

sória, RePro no 48,São Paulo: RT, out./dez. 1987, p. 33 (apenas no caso de litisconsórcio passivo necessário o
autor trata como sendo caso especial de ineficácia, op. cit., p. 34-35); e João Batista Lopes, Curso de direito
processual civil, v. 1, São Paulo: Atlas, 2005, p. 104.
5
Muito embora o dispositivo legal guarde relação apenas com a hipótese de solução da causa com fun-
damento na prescrição, parece ser possível estendê-la a outras que igualmente equivalham à sentença de
mérito (CPC, art. 269) e nas quais tenha sido proferida sentença sem que o réu já estivesse citado.
6
A mesma conclusão é alcançada por José Roberto dos Santos Bedaque, em Efetividade do processo e
técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 484-489. Eduardo Talamini, embora reconheça a possibi-
lidade de duplo enfoque sobre a questão: inexistência ou ineficácia da sentença contra o réu revel ou não
citado, defende que o melhor é enquadrá-la na inexistência e o faz por duas razões. A primeira é a de que
o conceito teórico de processo se confunde com o de relação jurídica processual trilateral, de sorte que, se
inexiste essa relação, inexiste o processo. A segunda, de ordem prática, é a de que o réu revel cuja citação foi
nula ou inexistiu não tem como ratificar o processo de que não participou, para que assim lhe sobrevenham
os efeitos da sentença e a autoridade da coisa julgada; daí por que não se trata de ineficácia (Coisa julga-
da e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 342-343). Tais “ressalvas” (como prefere o mencionado autor) não
ficam imunes à crítica. Como foi exposto no item 3.4.2, é possível separar a noção de processo da de relação
jurídica processual; e, quanto à ratificação da eficácia, não há óbice, nem mesmo legal, que a impeça de
ocorrer ou não, conforme o interesse ou o prejuízo do réu.
150 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

6.3 DA INEFICÁCIA DA DECISÃO PROFERIDA NA AUSÊNCIA


DO LITISCONSORTE NECESSÁRIO

Em conformidade com o que sustentado no item precedente, ao regular o cha-


mado litisconsórcio necessário, o Código de Processo Civil, no caput do art. 47, es-
tabeleceu que a eficácia da sentença “dependerá da citação de todos os litisconsortes
no processo”. Interpretando-se a contrario sensu o dispositivo legal, tem-se que, sem
a presença de todos os litisconsortes necessários, a sentença será ineficaz. Daí porque,
verificada a ausência de algum litisconsorte necessário, o juiz tem o dever de ordenar
ao autor que providencie a citação dos ausentes, sob pena de extinção do processo
sem resolução de mérito (CPC, art. 47, parágrafo único).
Não obstante a manifesta opção feita pelo legislador brasileiro, há na doutrina
ainda quem divirja quanto ao regime jurídico da sentença proferida sem a presença
integral dos litisconsortes necessários. Aliás, o debate não é exclusivo da doutrina
nacional.7 Além da opção da ineficácia, há quem entenda que o regime jurídico da
sentença prolatada na ausência e na preterição de litisconsorte necessário deve ser,
em relação a ele, o da inexistência8 ou o da invalidade.9
A despeito da discussão doutrinária, tomando-se as razões já declinadas no item
precedente (item 6.2), a sentença proferida em face de só alguns litisconsortes neces-
sários deverá ser tida como ineficaz perante os sujeitos que não foram devidamente
citados.10

7
Ver Nelson Jobim, A sentença e a preterição de litisconsorte necessário, Revista da Ajuris no 28, jul. 1983,
p. 36-39. Frise-se que o debate é ainda atual. Entre os autores italianos, por exemplo, enquanto Crisanto
Mandrioli sustenta que a hipótese é de inexistência (Corso di diritto processuale civile, 10. ed., Torino: Giappi-
chelli, 1995, p. 325); Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo defendem ser caso de invalidade
(Lezioni sul processo civile. Bologna: Il Mulino, 1995, p. 365); e Andrea Proto Pisani aponta ser hipótese de ineficá-
cia (Lezioni di diritto processuale civile, 2. ed., Napoli: Jovene, 1996, p. 326).
8
Ernane Fidélis dos Santos, Manual de direito processual civil, v. 1, 11. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 76; Teresa
Arruda Alvim Wambier, Nulidades do processo e da sentença, 5. ed., Ed. RT, 2004, p. 520; Eduardo Talamini,
Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 346; Marcos Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de direito
processual civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 158; e Cassio Scarpinella Bueno, Partes e terceiros no
processo civil brasileiro, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2006, p. 134-137.
9
Enrico Tullio Liebman, Nulidade da sentença proferida sem citação do réu, in: Estudos sobre o processo
civil brasileiro, São Paulo: Saraiva, 1947, p. 181-186; José Carlos Barbosa Moreira, Litisconsórcio unitário, Rio de
Janeiro: Forense, 1972, p. 232; Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo
Civil, t. II, 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 47 e Comentários ao Código de Processo Civil, t. XI, 2. ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2002, p. 77; Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2007, p. 126; Mathias Lambauer, Do litisconsórcio necessário, São Paulo: Saraiva, 1982, p. 146;
João Batista Lopes, Curso de direito processual civil, v. 1, São Paulo: Atlas, 2005, p. 203; e Marcos Destefenni,
Curso de processo civil, v. 1, São Paulo: Saraiva, 2006, p. 167.
10
Alcançam essa mesma conclusão: Nelson Jobim, A sentença e a preterição de litisconsorte necessário, Revis-
ta da Ajuris no 28, jul. 1983, p. 41-45; Cândido Rangel Dinamarco, Litisconsórcio, 4. ed., São Paulo: Malheiros, 1996,
p. 286-290; José Manoel de Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, v. 2, 12. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 102-
103; Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, 9. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 166;
José Roberto dos Santos Bedaque, Código de Processo Civil interpretado, São Paulo: Atlas, 2004, p. 155; e Daniel
Francisco Mitidiero, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1, São Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 282.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 151

E qual o regime da sentença para os litisconsortes que foram citados?


Há quem entenda que a sentença para eles será nula.11 Também há quem enten-
da que a ineficácia de que trata o texto legal (CPC, art. 47) atinge a todos os litis-
consortes, indistintamente, sendo caso, pois, de uma ineficácia absoluta.12 Há ainda
quem analise a situação divisando se o litisconsórcio necessário é unitário ou simples:
naquele a sentença também é ineficaz para os sujeitos citados (ineficácia absoluta);
neste a sentença é eficaz para os sujeitos citados (ineficácia relativa).13
Esta última solução é a que se afigura a mais condizente com a função instru-
mental e a finalidade prática do processo. Logo, em se tratando de litisconsórcio ne-
cessário unitário, em que a decisão precisa, por força da comunhão dos interesses em
disputa, uma decisão uniforme/una, a eventual falha que acarrete a não participação
de todos os litisconsortes poderá importar numa sentença que será ineficaz a todos
os sujeitos que formam o litisconsórcio.14 Do contrário, admitindo-se que a deci-
são possa ser diferente entre os sujeitos que compõem o litisconsórcio, isto é, sendo
caso de litisconsórcio necessário simples, é possível conceber que a decisão somente
será ineficaz para aqueles que não participaram do processo e plenamente eficaz para
aqueles que dele participaram regularmente.15
No caso de litisconsórcio necessário unitário, a ausência de um dos sujeitos po-
derá importar numa eficácia absoluta quando a sentença tiver sido favorável ao li-
tisconsorte ausente. Numa situação como essa, não há razão para que o processo
retroceda se a decisão não lhe poderá ser melhor, o que certamente apenas implicaria
maior custo de tempo, dinheiro etc.16 Com efeito, parece possível conceber que o li-
tisconsorte preterido poderá se aproveitar plenamente da eficácia da decisão que lhe
foi favorável porque a finalidade do preceito do art. 47 do CPC não é outra senão

11
Marcos Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de direito processual civil, v. 1, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 158.
12
Adroaldo Furtado Fabrício, Réu revel não citado, “querela nullitatis” e ação rescisória, RePro no 48, São Pau-
lo: RT, out./dez. 1987, p. 34-35.
13
Eduardo Talamini, Coisa julgada e sua revisão, São Paulo: RT, 2005, p. 346-347. José Carlos Barbosa Moreira
aventou hipótese similar, apenas considerando que, no caso de litisconsórcio necessário unitário, a sentença
seria nula para os litisconsortes citados e, no caso de litisconsórcio necessário simples, a sentença seria para
eles válida e eficaz (Litisconsórcio unitário, Rio de Janeiro: Forense, 1972, p. 233).
14
STJ, REsp 97.928/RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, Terceira Turma, j. em 13/08/1996, DJ 29/10/1996.
15
É o que pode se verificar na usucapião, como leciona Fábio Caldas de Araújo: “O dispositivo [art. 942 do
CPC] exige ato complexo na medida em que a citação formará litisconsórcio passivo necessário-simples.
O proprietário em cujo nome esteja registrado o imóvel litigioso deverá ser citado obrigatoriamente. Caso o
autor não providencie o ato, e mesmo assim obtenha sentença favorável, será caso de ineficácia do julga-
do que não poderá atingir a quem não foi parte no processo, passível de arguição por ação declaratória”
(O usucapião no âmbito material e processual, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 300). Diante da ineficácia da
sentença, a parte não citada poderá adotar as medidas judiciais que entender cabíveis para assegurar seu
direito real, independentemente de ação rescisória, tal como o uso de ação reivindicatória: STF, RE 96.696/RJ,
Rel. p./ acórdão Min. Alfredo Buzaid, Primeira Turma, j. em 22/10/1982, DJ 17/12/1982 (RTJ 104/826) e RT 660/93.
16
Não há que se falar de legitimação extraordinária na hipótese, pois, se assim fosse, qualquer resultado,
favorável ou contrário, deveria ser imposto ao réu ausente ou revel.
152 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

a de proteger aquele que ficou de fora do processo.17 Do contrário, se a decisão lhe


foi prejudicial e sua participação poderá produzir decisão em sentido diverso, a ine-
ficácia absoluta poderá ser por ele suscitada. Diga-se novamente: é o que se poderia
designar como eficácia secundum eventum litis.18
Tratando-se de ineficácia absoluta, tanto o litisconsorte citado como o não cita-
do será legítimo a se opor à sentença, o que poderá ser feito a qualquer tempo e por
qualquer meio (item 5.12) que vise declarar tal ineficácia.

6.4 DA EFICÁCIA DA PRECLUSÃO

Como se procurou evidenciar anteriormente (item 2.9), não há processo capaz


de atender de maneira eficiente à sua finalidade se prescindir da chamada preclusão,19
que será usada numa medida mais rígida ou flexível conforme preferir o legislador.
Consoante à finalidade da preclusão, é consenso na doutrina que ela se limita,
apenas, ao processo em que se verificou (endoprocessualmente), ou seja, sua força
vinculativa só alcança os sujeitos que tiverem intervindo no mesmo processo.20
Convém frisar que a impossibilidade da prática do ato processual pela parte ou o
impedimento de ser provocado novo pronunciamento sobre o já decidido pelo juiz
não é efeito da preclusão, mas é a própria preclusão.21 O efeito da preclusão é a inad-
missibilidade do ato processual praticado em sua ofensa.22

17
No mesmo sentido, Mário de Camargo Sobrinho, Do litisconsórcio e seus efeitos, São Paulo: Interlex, 2002,
p. 110.
18
Sidnei Amendoeira Jr. afasta a extensão da coisa julgada secundum eventum litis. Diz: “Nessa hipótese,
nem precisamos falar em extensão da coisa julgada, ou seja, se a ação for julgada procedente, os demais
litisconsortes nem teriam mais interesse processual em futura ação para o mesmo fim. E, se a ação for julgada
improcedente, como a coisa julgada não os atinge, podem propor nova demanda visando o mesmo fim”
(Direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, São Paulo: Atlas, 2007, p. 275).
19
Antônio Alberto Alves Barbosa, Da preclusão processual civil, 2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 38. Sobre o tema,
esclarece Humberto Theodoro Júnior: “Com efeito, sendo da essência da garantia do devido processo legal,
o compromisso com a rápida e justa composição dos litígios, seria mesmo impensável uma relação proces-
sual arbitrariamente movimentada, sem limites temporais e lógicos para a prática dos atos que a compõem
e que condicionam o provimento jurisdicional esperado pelos litigantes” (A preclusão no processo civil, RT
no 784, São Paulo: RT, fev. 2001, p. 11).
20
Celso Agrícola Barbi, Da preclusão no processo civil, Revista Forense no 158, Rio de Janeiro: Forense, mar./abr. 1955,
p. 66; Antônio Alberto Alves Barbosa, Da preclusão processual civil, 2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 175; José Frederico
Marques, Instituições de direito processual civil, v. 2, Campinas: Millennium, 2000, p. 349; Manoel Caetano Ferreira
Filho, A preclusão no direito processual civil, Curitiba: Juruá, 1991, p. 70; Teresa Arruda Alvim Wambier, Os
agravos no CPC brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 474; Humberto Theodoro Júnior, A preclusão no pro-
cesso civil, RT no 784, São Paulo: RT, fev. 2001, p. 24; Daniel Amorim Assumpção Neves, Preclusões para o juiz,
São Paulo: Método, 2004, p. 54-55; e Maurício Giannico, A preclusão no direito processual civil brasileiro, São
Paulo: Saraiva, 2005, p. 80.
21
Teresa Arruda Alvim Wambier, Os agravos no CPC brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 475 e Maurício
Giannico, A preclusão no direito processual civil brasileiro, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 70.
22
No mesmo sentido, Heitor Vitor Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 155-158.
Antônio Alberto Alves Barbosa, embora não se aprofunde no tema, afirma que a preclusão distingue-se da
inadmissibilidade (Da preclusão processual civil, 2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 54).
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 153

Vale dizer, a análise da preclusão remonta ao plano da eficácia do ato processual,


mas isso não significa a completa ineficácia do ato, como é assente na doutrina.23
Destarte, o ato processual praticado de forma preclusa é ineficaz, mas essa inefi-
cácia pode não ser total, nem absoluta.24
Com efeito, quando foi tratado da eficácia do ato processual (item 5.9) aponta-
ram-se alguns casos que, a rigor, seriam inicialmente taxados como situações alcan-
çadas pela preclusão, mas que certamente produzem efeitos no processo.
Há casos que seriam de preclusão temporal, mas nos quais se observa a produção
de alguns efeitos (ineficácia parcial), ou apenas para alguns dos sujeitos do processo
(ineficácia relativa). Na primeira hipótese, tem-se a juntada extemporânea da contes-
tação, cujos documentos que a acompanharam podem permanecer nos autos e, com
isso, auxiliar o juiz não só na análise das questões de direito, mas também nas de fato.
Pode-se citar como exemplo da segunda hipótese o recurso de embargos de declara-
ção interposto de forma intempestiva por um dos litigantes, que poderá acarretar a
interrupção do prazo para os demais recursos do litigante adversário.
Em se tratando de preclusão consumativa, seria de se imaginar que não haveria
como emendar (corrigir) uma petição apresentada ou decisão judicial proferida que
não estivesse assinada pelo advogado ou pelo juiz. Todavia, não se vislumbra tal óbi-
ce para que tal falha seja devidamente sanada.25 Vale dizer, ainda que o ato já tenha
sido consumado, isto não impede sua eventual complementação.26 Ainda pode-se
lembrar que, mesmo estabelecendo o diploma legal (CPC, art. 396) que a prova do-
cumental deve ser produzida com a inicial pelo autor e com a contestação pelo réu,
tem-se admitido a juntada posterior de documentos, mesmo em sede de recurso.27
Embora se pudesse imaginar que o ato de recorrer seria incompatível (CPC,
art. 503) com o ato de renúncia (CPC, art. 502) manifestado pela mesma parte antes

23
Por exemplo: Manoel Caetano Ferreira Filho, A preclusão no direito processual civil, Ed. Juruá, 1991, p. 60;
Humberto Theodoro Júnior, A preclusão no processo civil, RT no 784, São Paulo: RT, fev. 2001, p. 25 e Heitor Vitor
Mendonça Sica, Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 155.
24
José Roberto dos Santos Bedaque já propôs seja “repensada a afirmação de que os atos preclusos são
totalmente destituídos de eficácia” (Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006,
p. 140). Assim se responde à segunda indagação feita ao final do item 2.9.
25
Heitor Vitor Mendonça Sica defende a tese de que “o ato inadequado quanto à forma (em sentido estrito)
pode, sim, ser emendado, desde que dentro do prazo, já que não se pode cogitar, in casu, a preclusão
consumativa” (Preclusão processual civil, São Paulo: Atlas, 2006, p. 124). Em outras palavras, somente se teria
preclusão consumativa quando o ato fosse validamente praticado. José Roberto dos Santos Bedaque adota
tal posição (Efetividade do processo e técnica processual, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 144-146).
26
O entendimento de que a emenda do ato nunca é possível diante da preclusão consumativa, tendo sido ele
praticado válida ou invalidamente, prevalece no STJ, a exemplo: AgRg no Ag 77182/SP, Rel. Min. Adhemar Ma-
ciel, Sexta Turma, j. em 03/06/1996, DJ 17/02/1997; EDcl no REsp 186.008/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixei-
ra, Quarta Turma, j. em 25/05/1999, DJ 28/06/1999; AgRg no REsp 761.238/SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, Terceira Turma, j. em 24/08/2006, DJ 18/12/2006 e AgRg no Ag 800.488/PE, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta
Turma, j. em 21/11/2006, DJ 05/02/2007.
27
No STJ, colhem-se os seguintes arestos: REsp 61.829/SP, Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Turma, j. 01/04/1997, DJ
09/06/1997; REsp 181.627/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 18/03/1999, DJ 21/06/1999
e REsp 466.751/AC,Rel. Min. Luiz Fux, Décima Turma, j. 03/06/2003, DJ 23/06/2003.
154 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

de prolatada a decisão que ensejaria o recurso objeto do referido ato de disposição,


portanto, alcançado pela preclusão lógica, tal recurso poderá ser excepcionalmente ad-
mitido quando a decisão foi proferida com error in procedendo, isto é, quando o pro-
nunciamento desconsiderar as disposições que deram causa à renúncia prévia.28 Nesta
hipótese, portanto, o recurso deverá ser admitido e produzirá todos os seus efeitos.
Em suma, em que pese a preclusão ser mecanismo adotado para tornar mais efi-
ciente o procedimento, sua adoção não pode perder de vista a finalidade última do
processo. De sorte que, mesmo precluso, o ato poderá cumprir sua função, ainda
que em parte e somente perante alguns sujeitos, assim como poderá, conforme o
caso, ensejar o suprimento de sua eventual atipicidade, desde que nenhum prejuízo
acarrete à parte adversária ou ao próprio procedimento.

6.5 DA EFICÁCIA DA ALIENAÇÃO DA COISA OU DO


DIREITO LITIGIOSO
O tema da alienação da coisa ou do direito litigioso por ato inter vivos e a título
particular não tem despertado, na doutrina nacional, especial interesse.29 A matéria é
regulada no art. 42 do Código de Processo Civil que, na verdade, torna claro que a
litispendência – surgida a partir da citação ou do comparecimento espontâneo do réu –
não impede a alienação da coisa ou do direito a respeito do qual se controverte na cau-
sa.30 Resta, pois, determinar de que modo a alienação repercute na relação processual.
Interessa, mais especialmente, aferir se é verdadeira a noção, prevalente em doutri-
na31 e em jurisprudência,32 de que essa alienação é ineficaz perante o processo pendente.
Procedendo-se a uma análise atenta do sistema legal, especialmente do previsto
no mencionado art. 42 do Código de Processo Civil, não parece ser possível alcançar

28
Nelson Nery Junior, Teoria geral dos recursos, 6. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 411.
29
Assim assinalou Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 1, São Paulo: RT,
2000, p. 181. A obra de referência continua sendo de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa
litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, passim.
30
Segundo Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, define-se direito controvertido como sendo “só aquele que
seja envolvido pela demanda pendente, em correlação com o futuro provimento jurisdicional. Tal correla-
ção, mais precisamente, está na possibilidade de que a sentença, a ser proferida, atinja o bem ou o direito
adquirido, pendente a lide, porque é a sentença o momento cristalizador e superador” (Alienação da coisa
litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 63).
31
Sobre o tema, escreveu José Manoel de Arruda Alvim: “Não há, em rigor, que se falar em anulabilidade e,
menos ainda, em nulidade do negócio de direito privado, pois a anulabilidade/nulidade seria representada
pela ocorrência de um vício da vontade do mesmo, o que inocorre na espécie. O que há de se considerar, em
realidade, é a ineficácia do negócio de direito privado, em detrimento dos resultados obtidos no processo. A
eficácia do Direito Material cede diante da eficácia da sentença, na medida em que conflitem os resultados, de
uma e outra, na ordem prática da fruição do direito do alienado ou cedido, e, de outra parte, a titularidade desse
direito, pelo vencedor no processo” grifos do original (Tratado de direito processual civil, v. 2, 2. ed., São Paulo: RT,
1996, p. 726-727). De acordo com Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, essa também teria sido a conclusão de José
Maria Rosa Tesheiner e Emilio Betti (Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro; Forense, 1984, p. 22, nota 49).
32
No STJ: REsp 3.410/PR, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. 13/11/1990, DJ 25/02/1991 e
RMS 17.713/AC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quarta Turma, j. em 23/09/2008, DJe 28/10/2008.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 155

outra conclusão que não seja a de que a transferência da coisa litigiosa ou do direito
litigioso é plenamente existente, válida e eficaz, tanto no plano do direito material
como no do processual. Realmente, não há como se falar em ineficácia da alienação
perante o processo pendente na medida em que o próprio texto legal permite que o
sucessor ingresse em juízo, substituindo o alienante ou cedente (CPC, art. 42, § 1o);
ou, quando menos, admite que o sucessor intervenha no processo como assistente
do alienante ou cedente (CPC, art. 42, § 2o); assim como admite que esse sucessor
se valha dos meios recursais de impugnação contra o que foi decidido nestes autos
(CPC, art. 499, § 1o). Portanto, considerar como ineficaz a alienação no processo
seria tratar o adquirente sempre “como terceiro, quando, por definição, a sucessão
implica unidade entre a figura do alienante e do adquirente”.33
Com efeito, a transferência do objeto litigioso é fenômeno que pode repercutir
no plano processual, alterando a posição das partes, afetando os poderes, faculdades,
expectativas e ônus do alienante, do sucessor e da parte adversária.34
O fato de o texto legal (CPC, art. 42, § 3o) estabelecer que a sentença terá efi-
cácia perante o sucessor (contra ou a seu favor), ainda que este não tenha intervindo
no processo, o que poderá mesmo decorrer de ele sequer ter conhecimento da exis-
tência da lide pendente (portanto, mesmo ele estando de boa-fé),35 não é bastante
para caracterizar a ineficácia da alienação no processo. Na verdade, tal previsão tão só
demonstra que a ratio legis é resguardar a parte adversária,36 que não poderá sofrer
qualquer prejuízo pelo ato operado pela outra parte.
Portanto, ao contrário do entendimento que tem prevalecido em âmbito dou-
trinário e jurisprudencial, a alienação da coisa ou direito litigioso é eficaz no plano
processual, tanto que os efeitos do processo recairão sobre o sucessor.

6.6 DA INEFICÁCIA DO ATO EM FRAUDE À EXECUÇÃO E DO ATO


DE ALIENAÇÃO DE BEM PENHORADO/ONERADO
Tema que suscita comparação com o analisado no item precedente é o da aliena-
ção37 em fraude à execução ou de ato de bem penhorado/onerado.

33
A passagem transcrita, assim como a posição defendida no texto, está em consonância com as lições
de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 22 e 179.
34
A esse respeito, ver Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984,
p. 178-209.
35
Em tal situação, é de se reconhecer que ocorreu a chamada legitimação extraordinária. Ver Carlos
Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 184-185. José Manoel
de Arruda Alvim Netto lembra que “alienando o réu, pendente demanda reivindicatória contra ele movida,
o bem imóvel, objeto material do litígio (mesmo sem inscrição [da referida ação no registro imobiliário]) a
um terceiro, este, necessariamente, fica submetido à eficácia da sentença” (O terceiro adquirente de bem
imóvel do réu, pendente ação reivindicatória não inscrita no registro de imóveis, e a eficácia da sentença em
relação a esse terceiro, no direito brasileiro, RePro no 31, São Paulo: RT, jul./set. 1983, p. 193).
36
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 22.
37
A palavra alienação, como assinala José Eli Salamacha, deve ser entendida no sentido mais abrangen-
te possível, incluindo-se toda transferência de bens, onerosa ou gratuita, promessa irretratável de venda,
156 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Tendo em conta o estabelecido nos arts. 592 e 593 do Código de Processo


Civil, entende-se que a fraude à execução, conforme José Sebastião de Oliveira

tem por finalidade coibir e tornar ineficaz a prática de atos fraudulentos de dispo-
sição ou oneração de bens, de ordem patrimonial, levados a efeito por parte de
quem já figura no polo passivo de uma relação jurídica processual, como legitimado
ordinário passivo (devedor demandado) visando com isso impedir a satisfação da
pretensão deduzida em juízo por parte do autor da demanda (credor demandante),
configurando verdadeiro atentado à dignidade da Justiça, cuja atividade jurisdicio-
nal já se encontrava em pleno desenvolvimento (CPC, art. 600).38

A diferença entre a alienação de coisa ou do direito litigioso e a fraude à exe-


cução é que, enquanto naquela transfere-se posição suscetível de ser alcançada pela
sentença a ser proferida na fase de conhecimento, na fraude à execução transfere-se
a coisa ou o direito que a sentença no processo de conhecimento ou o título extra-
judicial já definiu não pertencer ao alienante ou que é possível de ser alcançada por
algum ato de execução forçada.39
Outra diferença reside na ineficácia que marca o ato in fraudem executionis.
Destarte, é consenso tanto em doutrina40 quanto em jurisprudência,41 que o ato em
fraude à execução é ineficaz no âmbito processual.

processo simulado, dação em pagamento, renúncia à herança e partilha de bens em separação ou divórcio
consensual; assim como a oneração, que diz respeito a dar em penhor, hipoteca, anticrese, instituir usufruto
etc. (Fraude à execução, São Paulo: RT, 2005, p. 140).
38
José Sebastião de Oliveira, Fraude à execução, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1988, p. 64.
39
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 136.
40
Por exemplo: Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. IX, 2. ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 348-349; Alcides de Mendonça Lima, Comentários ao Código de Processo Civil,
v. VI, t. II, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 557; Sálvio de Figueiredo Teixeira, Fraude de execução, RT no 609,
São Paulo: RT, jul. 1986, p. 8; Yussef Said Cahali, Fraude contra credores, 4. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 359; Vi-
cente Greco Filho, Direito processual civil brasileiro, v. 3, 19. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 47; Cândido Rangel
Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. IV, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 376-379; Araken de
Assis, Manual da execução, 11. ed., São Paulo: RT, 2007, p. 244; Teori Albino Zavascki, Comentários ao Código
de Processo Civil, v. 8, São Paulo: RT, 2000, p. 273; Leonardo Greco, O processo de execução, v. 2, Rio de Janeiro:
Renovar, 2001, p. 39; Humberto Theodoro Júnior, A fraude execução e o regime de sua declaração em juízo,
RePro no 102, São Paulo: RT, abr./jul. 2001, p. 76-79 e Fraude a credores e fraude de execução, Revista Síntese de
Direito Civil e Processual Civil no 11, Porto Alegre: Síntese, maio/jun. 2001, p. 152-154; José Sebastião de Oliveira,
Fraude à execução, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1988, p. 82-85; Gelson Amaro de Souza, Fraude à execução e o
direito de defesa do adquirente, São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2002, p. 230-231; José Eli Salamacha, Fraude
à execução, São Paulo: RT, 2005, p. 150-153; Frederico Fontoura da Silva Cais, Fraude de execução, São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 143; Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Curso de processo civil, v. 3, São Paulo:
RT, 2007, p. 262; João Batista Lopes, Curso de direito processual civil, v. III, São Paulo: Atlas, 2008, p. 46; Cassio
Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil, v. 3, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 220; Fredie
Didier Jr., Leonardo José Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira, Curso de direito processual
civil, v. 5, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 313 e Ricardo Chemale Selistre Peña, Fraude à execução, Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2009, p. 120-121.
41
No STF: RE 84.585/RJ, Rel. Min. Thompson Flores, Segunda Turma, j. em 05/10/1976, DJ 12/11/1976 (RTJ 86/550). No
STJ: REsp 119.854/SP, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, Primeira Turma, j. em 06/05/1999, DJ 23/08/1999; REsp 150.430/MG,
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 157

Na verdade, verificada a fraude à execução, ela não torna o processo ineficaz. O


que pode ser considerado ineficaz é o ato de alienação ou de oneração do bem, como
negócio jurídico extraprocessual.42
Destarte, reconhece-se a ineficácia relativa do ato: apenas perante o credor que é
parte no processo em que a fraude à execução foi verificada, permanecendo válido e
eficaz o negócio jurídico entre o devedor alienante e o terceiro adquirente. Portanto,
a ineficácia em questão não beneficia outros credores do alienante, somente sendo o
ato em fraude à execução inoponível à parte que, segundo o processo, sofreu prejuízo.
De outro lado, tal ineficácia é parcial porque a transferência ou o gravame ope-
rado não deixa de ser válido e eficaz, apenas não exime que o bem alienado/onera-
do responda pelas obrigações de quem o aliena. Daí ser possível igualmente atestar
tratar-se de uma ineficácia inicial, pois o bem continua sujeito aos atos executivos
como se jamais tivesse ocorrido a alienação ou o gravame, a fim de que possa ser sa-
tisfeita a dívida.43
Como se observa, uma vez declarada a fraude à execução,44 o bem por ela atin-
gido continua sujeito aos efeitos do processo, de sorte que a transferência realizada
pelo alienante/devedor nenhum efeito produz em relação ao credor (contraparte).
A ineficácia do ato de transferência em fraude à execução perante o processo
evidencia-se na medida em que o adquirente não tem legitimidade para intervir no
processo, seja como assistente seja como substituto do alienante.45
Questão intrincada é saber se, uma vez reconhecida a fraude à execução, a ine-
ficácia da alienação atinge, em consequência, as sucessivas ou posteriores transferên-
cias do bem.46 Não há dúvida de que o art. 615-A do Código de Processo Civil foi

Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, j. em 29/02/2000, DJ 10/04/2000; REsp 219.036/RS, Rel. Min. Ari
Pargendler, Terceira Turma, j. em 26/08/2002, DJ 18/11/2002 e REsp 1085933/SP, Rel. Mina Eliana Calmon, Se-
gunda Turma, j. em 03/02/2009, DJe 26/02/2009.
42
Gelson Amaro de Souza, Fraude à execução e o direito de defesa do adquirente, São Paulo: Ed. Juarez de
Oliveira, 2002, p. 73.
43
A respeito da ineficácia, parcial, relativa e inicial da fraude à execução, por todos, ver Cândido Rangel
Dinamarco, Fraude contra credores alegada nos embargos de terceiro, in: Fundamentos do processo civil
moderno, v. 1, 3. ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 550-562 e 575-577.
44
Os requisitos necessários para a declaração da fraude à execução variam conforme a hipótese legal des-
crita no art. 593 do Código de Processo Civil. Em termos gerais, devem estar presentes os seguintes requisitos:
a) ato de alienação ou oneração de bem do patrimônio do devedor; b) a existência de demanda pendente
contra o alienante ao tempo do ato de disposição realizado; c) a frustração do meio executório por meio do
ato de disposição realizado; e, d) a ciência por parte do adquirente ou beneficiado pelo ato de disposição
da existência da demanda contra o alienante.
45
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 137.
46
Sobre o tema, Frederico Fontoura da Silva Cais faz breve apanhado das diversas posições e conclui: “pen-
samos que nas hipóteses de alienações sucessivas, em que não é possível saber com precisão se os subad-
quirentes agiram ou não de boa-fé, parece mais justo que o juiz se posicione em favor do credor exequente
do que em favor dos subadquirentes, visto que aquele já acionou o Judiciário em seu socorro e, se não
obtiver a tutela executiva, nada mais lhe restará fazer; enquanto os suadquirentes, mais especificamente o úl-
timo, caso venha a ter o bem adquirido penhorado e, posteriormente, alienado em juízo, perdendo-o de vez,
158 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

introduzido pela Lei no 11.382/2006 com o objetivo de proporcionar ampla publi-


cidade da existência da demanda e, com isso, evitar a fraude pelo devedor. Averbada
que seja a existência da ação ou da execução extrajudicial é o quanto basta para que
todas as alienações subsequentes sejam tornadas ineficazes (§ 3o). Todavia, não ado-
tada tal providência, a tendência dos tribunais, especialmente do Superior Tribunal
de Justiça, é a de proteger o adquirente de boa-fé e assim preservar a eficácia do ato
alienatório praticado pelo devedor e seus sucessores no curso da demanda. Por con-
seguinte, para que se configure a fraude à execução e se declare a ineficácia do ato
também perante os subadquirentes, exige-se a prova de sua ciência da existência da
demanda em trâmite promovida pelo credor contra o alienante, ainda que este seja o
primeiro sujeito da cadeia dos atos de alienação.47
A despeito de posição crescente na doutrina,48 no sentido de que o reconheci-
mento da fraude à execução depende de postulação do credor interessado, mediante
procedimento incidente ao processo, portanto, com respeito ao prévio contraditório
do terceiro adquirente, tem prevalecido na praxe forense a pura e simples declaração
de ineficácia no bojo do próprio processo – em geral, no curso da atividade de exe-
cução –, sem manifestação prévia do devedor ou do terceiro adquirente ou beneficia-
do com o ato de oneração, podendo ainda, ser decretada de ofício pelo magistrado.
Reconhecida a fraude e atingido o bem alienado, impõe-se a intimação de todos
os envolvidos por essa decisão, especialmente o alienante e o adquirente ou o benefi-
ciado pelo gravame (CPC, arts. 615, II, 619 e 698), que poderão exercer o contradi-
tório, ainda que postecipado,49 mediante recurso de agravo de instrumento ou outra
ação ou incidente oportuno (embargos à execução, embargos de terceiro, ação decla-
ratória autônoma, impugnação ao cumprimento de sentença, exceção de pré-executi-
vidade etc.) e, assim, poderá a decisão de ineficácia ser revista.
Situação peculiar é a da alienação de bem penhorado ou sujeito a outra medi-
da judicial constritiva (por exemplo: arresto, sequestro, hipoteca judicial etc.), que

ainda conservará a possibilidade de se ressarcir do prejuízo havido por meio de ‘ação de perdas e danos’
em face daquele que lhe alienou ou bem, ‘de sorte que a cadeia dominial sucessória, em ordem inversa,
chegue ao terceiro que adquiriu diretamente do executado e com ele componha suas perdas e danos’, se,
é claro, isso ainda for possível” (Fraude de execução, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 160-162).
47
Neste sentido, a advertência de José Eli Salamacha, Fraude à execução, São Paulo: RT, 2005, p. 198-200.
48
Araken de Assis, Manual da execução, 11. ed., São Paulo: RT, 2007, p. 260-261; Humberto Theodoro Júnior, A
fraude de execução e o regime de sua declaração em juízo, RePro no 102, São Paulo: RT, abr./jul. 2001, p. 85-
86; Gelson Amaro de Souza, Fraude à execução e o direito de defesa do adquirente, Ed. Juarez de Oliveira,
2002, p. 217-230; Fredie Didier Jr., Leonardo José Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira,
Curso de direito processual civil, v. 5, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 310-311; e Ricardo Chemale Selistre Peña,
Fraude à execução, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 116-117.
49
Cabe lembrar que, noutra oportunidade, se defendeu que o contraditório na execução se apresenta de
forma plena, tendo as partes ampla informação e poder de reação aos atos executivos, mesmo que esse
momento seja posterior à realização dos atos ou das decisões e mesmo que essa reação, por vezes, tenha
restrições quanto à verticalidade da cognição (Sandro Gilbert Martins, A defesa do executado por meio de
ações autônomas – defesa heterotópica, 2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 81-82).
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 159

por vezes é equiparada, senão mesmo confundida, com a da fraude à execução.50


Há quem entenda não ser correto tal entendimento, por defender que a alienação de
bem penhorado não se sujeita ao mesmo regime da fraude à execução, nem aos mes-
mos requisitos.51 Numa situação como essa, o bem já está vinculado a um processo e
o gravame que pesa sobre ele vai perdurar e persegui-lo nas mãos de quem quer que
seja, pouco importando que o devedor esteja ou não em estado de insolvência.52 To-
davia, para tanto, será preciso comprovar a ciência do gravame pelo terceiro, razão
pela qual é fundamental dar-se a máxima publicidade do ato de constrição (em rela-
ção a bens imóveis: CPC, art. 659, § 4o, e Lei no 6.015/1973, art. 167, I, “2”, “5”
e “7”). A tendência, pois, tal como salientado antes, é presumir a boa-fé do terceiro
adquirente, recaindo sobre o credor o ônus de provar que ele tinha ciência ou de-
veria ter a ciência da existência do gravame sobre o bem.53 Seja como for, é pacífico
na doutrina pátria54 que a alienação importa ineficácia – nos mesmos moldes da que
ocorre nos casos de fraude à execução: relativa, parcial e inicial – por se tratar de ato
de disposição que atenta contra uma situação processual de natureza pública, violan-
do a função jurisdicional que o Estado exerce no processo.

6.7 DA EFICÁCIA PROBATÓRIA

Para que o processo possa viabilizar a aplicação de uma norma abstrata a um caso
concreto, é essencial que se investiguem os fatos e os reconstruam o mais próximo
do que realmente aconteceu. Daí a importância da prova para o processo: proporcio-
nar o conhecimento dos fatos alegados pelos sujeitos que nele atuam.55

50
João Batista Lopes, Curso de direito processual civil, v. III, São Paulo: Atlas, 2008, p. 47.
51
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Curso de processo civil, v. 3, São Paulo: RT, 2007, p. 262.
52
Fredie Didier Jr., Leonardo José Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira, Curso de direito
processual civil, v. 5, Salvador: JusPodivm, 2009, p. 311.
53
Nesse sentido, por todos, ver Teori Albino Zavascki, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 8, São
Paulo: RT, 2000, p. 287-288.
54
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 139; Yussef Said
Cahali, Fraude contra credores, 4. ed., São Paulo: RT, 2008, p. 368; Cândido Rangel Dinamarco, A execução na refor-
ma do Código de Processo Civil, in: Fundamentos do processo civil moderno, v. 2, 3. ed., São Paulo: Malheiros, 2000,
p. 1.169; Teori Albino Zavascki, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 8, São Paulo: RT, 2000, p. 286; Humberto
Theodoro Júnior, A fraude execução e o regime de sua declaração em juízo, RePro no 102, São Paulo: RT, abr./jul. 2001,
p. 86; José Eli Salamacha, Fraude à execução, São Paulo: RT, 2005, p. 174-175; Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz
Arenhart, Curso de processo civil, v. 3, São Paulo: RT, 2007, p. 262; e Fredie Didier Jr., Leonardo José Carneiro
da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira, Curso de direito processual civil, v. 5, Salvador: JusPodivm,
2009, p. 313.
55
Depois de enfrentar a questão inerente à verdade e ao discurso associado ao processo, Luiz Guilherme
Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart esboçam a seguinte definição de prova: “é todo meio retórico, regulado pela
lei, dirigido a, dentro dos parâmetros fixados pelo direito e de critérios racionais, convencer o Estado-juiz da
validade das proposições, objeto de impugnação, feitas no processo” (Manual do processo de conhecimen-
to, 5. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 267).
160 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Os contornos sobre o tema probatório não são exclusivos do processo civil, em-
bora nele encontrem maior e mais precisa regulação de seu regime de produção, pois
no processo é que a prova cumprirá seu importante papel.56
A Constituição Federal assegura às partes, ainda que implicitamente, o direito
de provar, que “compreende as prerrogativas de buscar a prova e a ela ter acesso; de
requerê-la, de tê-la admitida; de participar da respectiva produção; e, finalmente, de
obter a correspondente valoração”.57 Vale dizer, designa o direito de atuar concreta-
mente na formação do convencimento do juiz a propósito dos fatos, através de todos
os meios disponíveis e, quanto melhor seja o desempenho probatório realizado no
processo, tende a ser maior a qualidade da justiça ofertada pelo Estado.
Na verdade, segundo Eduardo Cambi,

o reconhecimento da existência de um direito constitucional à prova implica a ado-


ção de um critério da máxima virtualidade e eficácia, o qual procura admitir todas
as provas que sejam hipoteticamente idôneas a trazer elementos cognitivos a respeito
dos fatos da causa, dependentes de prova, procurando excluir as regras jurídicas que
tornem impossível ou excessivamente difícil a utilização dos meios probatórios.58

É a luz dessa orientação que se interpreta o sentido e o alcance, por exemplo, do


disposto no art. 332 do Código de Processo Civil e no art. 32 da Lei no 9.099/1995.
Todavia, o direito de provar não é absoluto.59 O sistema jurídico pode impor
certas proibições e limitações60 por diversas razões (temporais, formais, culturais,

56
As discussões a respeito da natureza material ou processual da prova podem ser encontradas em Herme-
negildo de Souza Rego, Natureza das normas sobre prova, São Paulo: RT, 1985, passim e Maricí Giannico, A
prova no Código Civil – natureza jurídica, São Paulo: Saraiva, 2005, passim. Ao enfrentar o tema, esclareceu
Moacyr Amaral Santos: “Na sistemática do direito brasileiro, que no tocante se filia ao sistema do direito
francês, belga e italiano, os princípios referentes à prova se incluem no direito material e no direito formal.
Entram na esfera do direito civil a determinação das provas e a indicação tanto do seu valor jurídico quanto
das condições de sua admissibilidade. Ao direito processual cabe estabelecer o modo de constituir a prova
e de produzi-la em juízo. Daí as disposições relativas à essência das provas, à sua admissibilidade, aos seus
efeitos, às pessoas que devem ministrá-las, por isso que pertencem ao direito substancial, estarem incluídos
os códigos de direito privado, como no Código Civil, arts. 129 e 144, enquanto que as regras propriamente
relativas ao modo, tempo e cautelas da sua constituição e produção se acharem indicadas no Código de
Processo Civil, arts. 208 a 262 e outros” (Prova judiciária no cível e no comercial, v. 1, 3. ed., São Paulo: Max
Limonad, s.d., p. 48, sendo que as referências legais são ao CC/1916 e ao CPC/1939). Segundo informa José
Carlos Moreira Alves, foi esta a orientação seguida no projeto que deu origem ao CC/2002 (A parte geral do
projeto do Código Civil brasileiro, 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 164-166, notas 8 e 193, nota 11).
57
Flávio Luiz Yarshell, Antecipação da prova sem o requisito da urgência e direito autônomo à prova, São
Paulo: Malheiros, 2009, p. 210. Sobre o tema, ver Eduardo Cambi, Direito constitucional à prova no processo
civil, São Paulo: RT, 2001, passim.
58
Eduardo Cambi, A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo: RT, 2006, p. 35.
59
Eduardo Cambi, A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo: RT, 2006, p. 32.
60
A esse respeito, assinala Eduardo Cambi que “o legislador não pode introduzir deliberadamente regras
de exclusão probatória, mas que todo limite deve estar sujeito a uma específica justificação racional, a qual
deve ser suficiente para superar a importância do princípio da liberdade da prova para o sistema processu-
al” (A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo: RT, 2006, p. 36). Convém destacar, ainda, que as
restrições probatórias poderão ser também impostas judicialmente, no caso concreto.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 161

lógicas etc.) a fim de evitar o ingresso de determinado meio de prova em juízo. É


exemplo de proibição a utilização de prova ilícita (CF/88, art. 5o, LVI).
Logo, de acordo com Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart

as regras sobre prova não regulam apenas os meios de que juiz pode servir-se para
‘descobrir a verdade’, mas também traçam limites à atividade probatória, tornando
inadmissíveis certos meios de prova, resguardando outros interesses (como a inti-
midade, o silêncio etc.) ou ainda condicionando a eficácia do meio probatório à
adoção de certas formalidades (como o uso de instrumento público).61

Sobre o tema é bastante frequente a expressão eficácia probatória. Estando o ato


de instrução inserido na cadeia procedimental de qualquer processo, este ato igual-
mente produzirá efeitos. No que consiste, então, essa eficácia probatória?
Em linhas gerais, o procedimento probatório possui quatro momentos decisi-
vos com relação à prova: proposição, deferimento, produção e valoração.62 O pri-
meiro momento, o da proposição ou requerimento, tem sido bipartido em outros
dois: a indicação genérica dos meios de prova que as partes pretendem produzir, que
ocorre para o autor na inicial e para o réu na contestação e, depois, a especificação
individualizada e justificada dos meios de prova pretendidos, que costuma se dar an-
tes da realização da audiência preliminar – entenda-se: antes do saneamento do pro-
cesso. No segundo momento, o do deferimento ou admissão, o juiz defere/admite,
ou não, as provas que serão produzidas. No terceiro momento haverá a produção da
prova, onde efetiva e oportunamente ela será realizada nos autos. Por último a prova
será valorada, o que costuma ser feito no próprio ato decisório final, mediante a per-
suasão racional do juiz, nos termos do art. 131 do Código de Processo Civil.
Como se percebe, os três primeiros momentos completam a parte propriamen-
te procedimental da instrução, aparelhando o processo com aquilo que permitirá
persuadir o magistrado, com determinado grau de certeza, de que os fatos alegados
e controversos na causa provavelmente são verdadeiros. Em suma: está fornecida a
prova no sentido de elemento de prova63 (é o seu aspecto objetivo). Porém, até aí
ainda não há prova no sentido subjetivo, isto é, somente com a valoração da prova é
que se terá a convicção que se formou no espírito do julgador sobre os fatos da causa.

61
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, citando observação de Giovanni Verde, Manual do proces-
so de conhecimento, 5. ed., São Paulo: RT, 2006, p. 259.
62
Moacyr Amaral Santos, Prova judiciária no cível e no comercial, v. 1, 3. ed., São Paulo: Max Limonad, s.d.,
p. 339; Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, Manual do processo de conhecimento, 5. ed., São Pau-
lo: RT, 2006, p. 294-295; João Batista Lopes, A prova no direito processual civil, 3. ed., São Paulo: RT, 2007, p. 53-55
e 60-61; Cassio Scarpinella Bueno, Curso sistematizado de direito processual civil, v. 2, t. 1, São Paulo: Saraiva,
2007, p. 250; André Almeida Garcia, Prova civil, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 36-37; e Flávio Luiz Yarshell, Anteci-
pação da prova sem o requisito da urgência e direito autônomo à prova, São Paulo: Malheiros, 2009, p. 233.
63
Moacyr Amaral Santos, Prova judiciária no cível e no comercial, v. 1, 3. ed., São Paulo: Max Limonad, s.d.,
p. 339.
162 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Disso resulta lógico que a prova, inicialmente, deve se submeter a um juízo de


admissibilidade que, sendo positivo, admitirá sua atuação como elemento probató-
rio no processo. Se o juízo for negativo, a prova não poderá ingressar no processo
(ou deverá dele ser desentranhada). Esse juízo de admissibilidade deverá recair, in-
clusive, sobre a regular observância do devido processo legal na sua produção, o que
poderia compreender uma ideia ampla de eficácia processual da prova. Somente de-
pois de admitida a prova, deverá ser analisada a extensão de seu valor probatório, ou
seja, seu conteúdo, que lhe dá a eficácia probatória propriamente dita. Uma prova
que venha a ser inadmitida posteriormente ao seu ingresso no processo (por exem-
plo: a ilicitude da prova venha ser reconhecida após a sua produção nos autos) não
deve formar a convicção do juiz, ou seja, não pode ser valorada, porque não possui
eficácia probatória, devendo mesmo ser desentranhada dos autos e inutilizada para
fins decisórios.64 Embora a análise quanto à eficácia da prova apresente duplo sen-
tido: um quanto à sua admissibilidade e, outro, quanto à sua valoração, a expressão
eficácia probatória guarda relação com a força persuasiva que terá na formação da
convicção do juiz.65
Neste sentido, por exemplo, a confissão é admitida como meio que pode dispen-
sar a produção de outras provas sobre o fato confessado (CPC, art. 334, II). Porém,
ela não terá essa eficácia se o fato a que disser respeito for relativo a direito indisponí-
vel (CPC, art. 351) ou quando guarde relação com fato que a lei exija outro tipo de
prova específica (CPC, art. 353, parágrafo único). Também será ineficaz a confissão
quando feita por quem não poderia dispor dos direitos relacionados aos fatos confes-
sados (CC/2002, art. 213 e CPC, art. 350, parágrafo único).
De igual modo, não se pode negar a possibilidade do documento eletrônico ser
admitido como meio de prova. Porém, sua eficácia probatória será avaliada e definida
consoante uma série de outras características relacionadas com a credibilidade desse
documento, especialmente quanto à garantia de sua integridade e autenticidade; de
sorte que, na ausência dessas, vislumbrando-se incerteza e insegurança no ambiente

64
Eduardo Cambi afirma que caso o magistrado valore prova que devia ter sido inadmitida, a decisão é
nula (A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo: RT, 2006, p. 119). No mesmo sentido, STJ: RMS
8.327/MG, Rel. Min. Vicente Leal, Sexta Turma, j. em 24/06/1999, DJ 23/08/1999. Flávio Luiz Yarshell, a seu tur-
no, lembra da posição de Santiago Sentís Melendo [La prueba – Los grandes temas del derecho probatorio,
p. 228-229] que preconiza “não bastar excluí-la dos autos, sendo imprescindível impedir que julgue aquele
que travou contato com a mesma” (Antecipação da prova sem o requisito da urgência e direito autônomo à
prova, São Paulo: Malheiros, 2009, p. 260).
65
Segundo Eduardo J. Couture, “o tema da avaliação da prova procura resposta para a pergunta: ‘que efi-
cácia têm os diferentes meios de prova estabelecidos pelo direito positivo?’ (...) Trata-se de determinar, com
a máxima exatidão possível, como gravitam, e que influência exercem os diferentes meios de prova, sobre
a decisão que o magistrado tem de proferir” (Fundamentos de direito processual civil, Campinas: Red, 1999,
p. 178). No mesmo sentido, José Carlos Barbosa Moreira, Alguns problemas atuais da prova civil, in: Temas de
direito processual (quarta série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 155.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 163

virtual em que teve origem o documento eletrônico, ele não terá força determinante
na formação do convencimento do juiz. 66
Aliás, em se tratando de prova documental, a lei estabelece ser maior sua eficá-
cia probatória, isto é, ser maior a chance do que consta no documento estar con-
forme a verdade, na medida em que haja maior certeza quanto à sua autenticidade
(por exemplo: CPC, arts. 364, 367, 368, 369, 372, 373 e 374), quanto à sua forma
(por exemplo: CPC, arts. 365, 383, 384 e 385) e quanto ao seu conteúdo (CPC,
arts. 387 e 388).
Em que pese a valoração da prova – e, portanto, a definição sobre a eficácia pro-
batória – seja ato exclusivo do juiz, que tem poderes para formar sua convicção de
forma livre, desde que motivada (CPC, art. 131), o sistema jurídico contempla, ain-
da que de forma bastante restrita, eficácias probatórias tarifadas, isto é, preestabele-
cidas pela lei. Nessas, a prova tem um valor inalterável e constante e, por isso, o juiz
não tem qualquer margem de liberdade para apreciação da prova, senão fazê-lo em
conformidade da eficácia que a lei lhe atribui. O exemplo clássico é o da exigência de
respeito à forma solene para alguns atos, por instrumento público (CPC, art. 366),
sem a qual, portanto, o ato não será considerado provado.
Não obstante o juízo de valoração da prova (de sua eficácia) deva seguir o de
sua admissibilidade, na prática, o juízo de admissibilidade acaba por absorver e
antecipar a análise sobre a eficácia da prova.67 Vale dizer, a prova somente será ad-
missível se, desde logo, não houver dúvida quanto à possibilidade de ela produzir
efeitos na esfera do livre convencimento do juiz. Assim, por vezes, no exercício do
seu livre convencimento, antevendo que a prova não teria qualquer eficácia, o juiz
não a admite.68
É o que pode ocorrer com as provas atípicas que tenham como fonte indícios
que auxiliam na formulação de inferências quanto aos fatos da causa. Há uma ten-
dência de somente admitir essa prova atípica depois que se constate, ainda que su-
mariamente, um alto grau de eficácia do indício desses fatos indiretos, isto é, que
repouse neles um alto grau de relevância probatória na relação de inferência.

66
Antônio do Passo Cabral, A eficácia probatória das mensagens eletrônicas, RePro no 135, São Paulo: RT,
maio de 2006, p. 120-124.
67
Talvez por isso, por mais de uma vez, Eduardo Cambi reconheça que a noção de admissibilidade da prova
esteja vinculada à questão da validade e da eficácia (A prova civil – admissibilidade e relevância, São Paulo:
RT, 2006, p. 34 e 118).
68
Por várias vezes o STJ reformou decisões que cercearam o direito à prova, justamente por não terem sido
elas admitidas no juízo a quo por fundamentos que, em última análise, guardavam relação com sua eficácia:
REsp 184.293/ES, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, j. em 10/08/1999, DJ 06/09/1999;
REsp 184.439/ES, Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Turma, j. em 02/03/2000, DJ 01/08/2000; REsp 260.903/ES, Rel.
Min. Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, j. em 10/06/2003, DJ 01/09/2003; REsp 760.206/MS, Rel. Min. Carlos
Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, j. em 14/12/2006, DJ 16/04/2007 e REsp 798.079/MS, Rel. Mina Nancy
Andrighi, Trigésima Turma, j. em 07/10/2008, DJe 23/10/2008.
164 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Segundo Danilo Knijnik,

Na verdade, se se quiser construir um direito probatório de corte racional, a dis-


tinção dos planos é fundamental e deve ser mantida firme. A questão do juízo de
admissibilidade de um meio de prova nada diz respeito com o livre convencimento
do julgador. Tampouco pode ser qualificada como uma simples questão de fato. Ao
contrário, o juízo de admissibilidade de uma determinada prova é questão de direito,
e é preliminar à entrada em funcionamento do princípio do livre convencimento.
Somente depois de afirmada a admissibilidade de uma prova, ou seja, selecionadas
as provas que poderão ser acessadas pelo julgador e pelas partes, é que se passa à sua
avaliação, medida no plano da convicção judicial e, aí sim, à luz do livre convenci-
mento, não antes. De outra parte, uma vez utilizada pelo julgador, indevidamente,
na formação de sua livre convicção, prova que era inadmissível, o procedimento está
juridicamente viciado, porque a ideia segundo a qual seria possível verificar a exis-
tência de elementos independentes na fundamentação demonstra-se irrealizável e
até mesmo contrária ao próprio princípio da persuasão racional.69 (grifos do original)

Em conclusão, a eficácia probatória e sua relação com o livre convencimento


motivado do juiz não deve influir no juízo de admissibilidade da prova. A valoração
da prova mediante esse livre convencimento é operação que somente ocorre depois
da seleção do material que irá compor o objeto desse exercício (juízo sucessivo ao de
admissibilidade), algo, de resto, extremamente óbvio.
Quanto ao livre convencimento motivado (CPC, art. 131), tem-se entendido
não significar um convencimento propriamente livre.70 Está sujeito às regras de ló-
gica e a certos postulados jurídicos, no sentido de se afastar o subjetivismo e, assim,
evitar arbitrariedades por parte do magistrado.71
Embora seja difícil, ou até mesmo impossível, traçar um esquema abstrato que
permita estabelecer um modo para a apreciação da prova e, assim, quantificar a efi-
cácia probatória, é ao menos possível fornecer pautas ou diretrizes de caráter objeti-
vo que auxiliem nesta tarefa. Uma sugestão interessante é a utilização dos chamados
standards ou modelos de constatação dos fatos.72 Trata-se de uma teoria “que nos
diga quando, ou sob que condições, os elementos de juízo disponíveis são suficientes

69
Danilo Knijnik, A prova nos juízos cível, penal e tributário, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 21.
70
José Carlos Barbosa Moreira, Alguns problemas atuais da prova civil, in: Temas de direito processual (quar-
ta série), São Paulo: Saraiva, 1989, p. 155.
71
Moacyr Amaral Santos pontifica: “O juiz, não obstante aprecie as provas livremente, não segue as suas
impressões pessoais, mas tira a sua convicção das provas produzidas, ponderando sobre a qualidade e vis
probandi destas; a convicção está na consciência formada pelas provas, não arbitrária e sem peias, e sim
condicionada a regras jurídicas, a regras da lógica, a regras de experiência, tanto que o juiz deve mencionar
na sentença os motivos que a formaram” (Prova judiciária no cível e no comercial, v. 1, 3. ed., São Paulo: Max
Limonad, s.d., p. 347). Ver, ainda, Danilo Knijnik, A prova nos juízos cível, penal e tributário, Rio de Janeiro:
Forense, 2007, p. 15-19.
72
A teoria sobre os modelos de constatação foi desenvolvida no plano nacional por Danilo Knijnik, A prova
nos juízos cível, penal e tributário, Rio de Janeiro: Forense, 2007, passim.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 165

para que se repute racional aceitar uma proposição como verdadeira no âmbito do
raciocínio decisório”.73 Segundo esse modelo de valoração das provas, esses critérios
devem ser postos em discussão para que as opções valorativas do juiz e das partes se-
jam conhecidas, debatidas em contraditório e, em sendo o caso, corrigidas. Assim a
liberdade a que se cuida deve ser objetiva e não subjetiva.74

6.8 DA EFICÁCIA DO TÍTULO EXECUTIVO


A tutela jurisdicional executiva visa à satisfação de um direito por meio da res-
pectiva proteção, o que tem lugar quando esse resultado prático não foi realizado
por aquele que em primeiro lugar deveria fazê-lo, ou seja, o obrigado. Consiste a
tutela jurisdicional executiva na imposição de medidas que, com ou sem o concurso
de vontade do obrigado, produzam resultado prático igual (ou o mais coincidente
possível) àquele que o obrigado não quis produzir.75
Essa forma de tutela jurisdicional, dependendo da opção legislativa,76 pode ser
prestada mediante processo autônomo, como também por meio de fase inserida em
um processo qualquer.
Enquanto a maioria da doutrina entende que é o título executivo que tem por fun-
ção criar condições para essa atividade executiva,77 há quem reconheça que, ao lado dos
títulos executivos, existem provimentos jurisdicionais igualmente executivos, mas que
não se constituem verdadeiro título executivo (por exemplo: o provimento executivo
oriundo da ação monitória e o provimento que defere tutela antecipatória).78
É de se insistir na ideia já desenvolvida79 de que o título executivo é noção que
deve ser exclusivamente aplicada para aquelas obrigações de natureza extrajudicial, ou

73
Danilo Knijnik citando lição de Jordi Ferrer Beltrán [Prueba y verdad en el derecho, Madrid: Marcial Pons,
2002, p. 88], (A prova nos juízos cível, penal e tributário, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 34).
74
Danilo Knijnik sugere quatro modelos de constatação, dois (os primeiros a seguir mencionados) de apli-
cabilidade no âmbito do processo civil e dois no âmbito do processo penal. Conclui: “é necessário que a
decisão judicial enuncie, fundamentalmente, o modelo de constatação de que se vale para formar o juízo
de fato – preponderância de prova, prova clara e convincente, prova acima da dúvida razoável e prova in-
compatível com qualquer hipótese que não a da acusação – viabilizando que esse critério seja conhecido,
justificado e, obviamente, submetido ao contraditório enquanto capítulo essencial do julgamento” (grifos do
original) (A prova nos juízos cível, penal e tributário, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 45).
75
Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de direito processual civil, v. IV, São Paulo: Malheiros, 2004, p. 33.
76
Marcelo Lima Guerra, Direitos fundamentais e a proteção do credor na execução civil, São Paulo: RT, 2003,
p. 32-33 e José Carlos Barbosa Moreira, Sentença Executiva?, in: Temas de direito processual (nona série), São
Paulo: Saraiva, 2007, p.186-189.
77
Enrico Tullio Liebman, Processo de execução, 4. ed., São Paulo: Saraiva, 1980, p. 19-22; Cândido Rangel
Dinamarco, Execução civil, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 1997, p. 470; Araken de Assis, Manual da execução,
11. ed., São Paulo: RT, 2007, p. 146; Sérgio Shimura, Título executivo, 2. ed., São Paulo: Método, 2005, p. 140 e
Teori Albino Zavascki, Processo de execução – parte geral, 3. ed., São Paulo: RT, 2004, p. 263-270.
78
José Miguel Garcia Medina, Execução civil – princípios fundamentais, São Paulo: RT, 2002, p. 81-93.
79
Sandro Gilbert Martins, A defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica,
2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 43-62.
166 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

seja, não há processo autônomo de execução sem título executivo. Quanto aos provimen-
tos judiciais, é mesmo natural que possam impor, ainda que em menor grau, alguma
alteração no mundo fático, com ou sem a concorrência da vontade do devedor, o que
poderá ocorrer ainda que o provimento não se apresente como título executivo.
Assim, a noção de eficácia executiva deveria ser avaliada apenas sobre o enfoque
exclusivo do título executivo extrajudicial que dá ensejo a um novo e autônomo pro-
cesso de execução.
Nesse sentido, a eficácia executiva do título executivo extrajudicial está na
tipicidade,80 isto é, no suporte fático reconhecido pela norma jurídica como necessá-
rio para o desencadeamento da atividade executiva, dotado de eficácia abstrata, que
permite a realização dessa atividade independentemente de qualquer averiguação a
respeito da existência do crédito nele contido.
Quanto aos provimentos judiciais, não há qualquer necessidade desse elemen-
to normativo81 ou de catalogação legal de atribuição de eficácia executiva, porque,
como visto (item 5.10), as decisões judiciais podem ensejar diversos efeitos, entre
eles, o executivo, em maior ou menor escala. Melhor dizendo, a tutela jurisdicional
plena – sob a ótica da relação direito material e processo –, sem dúvida, pode não ter-
minar com a prolação da decisão judicial, podendo exigir a continuidade necessária
para que o bem da vida em objeto realmente seja entregue ao cidadão que buscou
no Estado a resolução de seu conflito. Nesses casos, o objeto final do processo não
deve ser localizado no provimento judicial que define o direito, mas sim na execução,
isto é, na sua realização.
Constata-se, pois, que há decisões judiciais que exigem uma atividade jurisdicio-
nal complementar82 ou de repercussão física.83 São, por isso, não satisfativas ou não
autossuficientes.84 É possível, portanto, reunir num mesmo e amplo gênero todas as
sentenças que impliquem atuação prática (material, concreta) no mundo dos fatos.85
Tais sentenças debelam crises de cooperação86 (ou de adimplemento ou de prestação),

80
Por todos, ver Sérgio Shimura, Título executivo, 2. ed., São Paulo: Método, 2005, p. 362-368.
81
Ferdinando Mazzarella, Contributo allo studio del titolo esecutivo, Milano: Giuffrè, 1965, p. 16.
82
José Carlos Barbosa Moreira, Questões velhas e novas em matéria de classificação das sentenças, in:
Temas de direito processual (oitava série), São Paulo: Saraiva, 2004, p. 138-139.
83
José Carlos Barbosa Moreira empregou a expressão apenas para sentenças condenatórias, Tendências
na execução de sentenças e ordens judiciais, in: Temas de direito processual (quarta série), São Paulo: Sa-
raiva, 1989, p. 217.
84
Luiz Guilherme Marinoni, Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo: RT, 2004, p. 149-151.
85
Sandro Gilbert Martins, Princípio da inafastabilidade (CF/1988, art. 5 o, XXXV) e a classificação das senten-
ças, in: Processo e constituição – estudos em homenagem ao Professor José Carlos Barbosa Moreira, coord.
Luiz Fux, Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2006, p. 584.
86
Humberto Theodoro Júnior, seguindo lição de Proto Pisani, explica que uma crise de cooperação é “gera-
da pela conduta de alguém que obstaculiza o direito subjetivo material de outrem, seja no plano de direito
pessoal seja no plano de direito real”, não importando que a falta de cooperação seja de forma ativa ou
passiva (Novos rumos do Direito Processual Civil: efetividade da Jurisdição e classificação das ações – ação
executiva lato sensu – tutela de urgência, Revista Dialética de Direito Processual, no 26, maio 2005, p. 33 e 55).
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 167

formulando uma regra concreta a ser cumprida por quem violou ou ameaçou o di-
reito de outrem.
De nada importa para este grupo de sentenças a forma como será realizado o di-
reito, se por meios coercitivos ou de sub-rogação – com ou sem o concurso de vonta-
de do adversário –, se no mesmo processo ou se em processo autônomo, como ainda
ocorre (CPC, art. 475-N, parágrafo único). Referidos meios, assim como as senten-
ças, são técnicas para uma adequada prestação jurisdicional cuja variação depende
da natureza (fazer ou não fazer) ou do objeto (coisa ou dinheiro) da conduta a ser
cumprida.87 Importa que esses meios adotados produzam resultado prático igual (ou
o mais coincidente possível) àquele que o direito exige.
Neste contexto, não fossem os casos de equiparação (sentença arbitral, senten-
ça penal etc.), os títulos executivos judiciais sequer precisariam ser previstos em lei.

6.9 DA EFICÁCIA DOS PROVIMENTOS CAUTELARES


E ANTECIPATÓRIOS

Como já dito alhures, conforme entendimento de Sandro Martins,

é intuitivo que o drama maior da realização do Direito, qualquer que seja seu ramo,
é sempre vivido no processo, para o qual o sistema jurídico democrático programou
a função relevantíssima de debater e pacificar os conflitos de interesse. (...) Sendo a
missão do processo a solução dos conflitos sociais, proporcionando paz e harmonia
aos indivíduos, deve estar aparelhado com mecanismos capazes para não somente
se limitar aos âmbitos das simples declarações, mas também traduzir providências
práticas que, de forma efetiva para cada caso concreto, possibilitem a satisfação do
direito. 88

Com o objetivo de assegurar essa efetividade (eficácia) do processo, as normas


processuais (constitucionais e infraconstitucionais) contemplam diferentes mecanis-
mos que podem ensejar provimentos que produzam imediatos efeitos, preponde-
rantemente fáticos, parcial ou integralmente. Esses provimentos poderão encontrar
amparo em razões diversas de urgência, de evidência e até de sanção.

87
Segundo Cândido Rangel Dinamarco, “essa diversidade não é um mal, porque constitui fruto da inevitável
ligação do sistema executivo, como também do sistema geral do processo, à variedade das situações da
vida lamentadas pelo exequente, e das soluções que o direito substancial promete para a solução de cada
uma delas. É rigorosamente inerente ao sistema da tutela jurisdicional a variação das tutelas segundo as
situações desfavoráveis a debelar e os resultados a obter, com a legítima recepção de elementos jurídico-
-materiais para a composição das técnicas ou mesmo de certos conceitos processuais” (Instituições de direi-
to processual civil, v. IV, São Paulo: Malheiros, 2004, p. 403).
88
Sandro Gilbert Martins, A defesa do executado por meio de ações autônomas – defesa heterotópica,
2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 26.
168 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Entre esses provimentos, estão os identificados como cautelares e antecipató-


rios, através dos quais se busca garantir a eficácia da decisão judicial final, impedindo
que o decurso do tempo venha a frustrar as consequências práticas, concretas, que se
esperam da tutela jurisdicional, vista como um todo. Realmente, esses provimentos
prestam uma tutela diferenciada, cuja aptidão é melhor distribuir o ônus do tempo
no processo, evitando ou pelo menos minimizando o que se conhece como o dano
marginal89 emergente da duração do processo.90 Com efeito, a mera leitura dos dis-
positivos legais contemplados no diploma processual (CPC, arts. 273, 461, § 3o,
807, 808, 811 e 1.039)91 não deixa dúvida quanto a essa característica teleológica.
Todavia, embora os provimentos cautelares e antecipatórios apresentem essa fi-
nalidade comum, eles apresentam igualmente distinções importantes e, ao que pa-
rece, uma delas, talvez a principal, é sentida justamente no plano da eficácia desses
provimentos. É essa particularidade que se pretende aqui explorar.
Mesmo nesse campo comum em que ambos os provimentos, cautelares e de an-
tecipação, se empenham em combater a força corrosiva do tempo no processo, não
há como negar que o modo de atuação de cada um desses provimentos é diferente.
E essa diferença de atuação dos provimentos reside na constatação de que o de-
curso do tempo pode se apresentar nocivo de maneiras distintas. Há casos em que
os danos causados pelo tempo vão diretamente ao sujeito de direitos, impedindo-o
de receber o bem a que tem direito ou privando-o do bem por tempo superior ao
razoável. Em outros casos, o mal é causado diretamente ao processo e só indireta-
mente atinge o sujeito.92
Os provimentos antecipatórios combatem a primeira face negativa do tempo aci-
ma mencionado, produzindo efeitos que atingem diretamente a vida das pessoas de
sorte que, ainda pendente o processo, “oferecem a algum dos sujeitos em litígio o
próprio bem pelo qual ele pugna ou algum benefício que a obtenção do bem poderá

89
A denominação é de Ítalo Andolina, “Cognizione” ed “esecuzione forzata” nel sistema della tutela giurisdi-
zionale, Milano: Giuffrè, 1983, p. 17.
90
Donaldo Armelin, Realização e execução das tutelas antecipadas, in: Inovações sobre o direito proces-
sual civil: tutelas de urgência, coord. José Manoel de Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim, Rio de Janeiro:
Forense, 2003, p. 506. Em texto escrito muito tempo antes, já esclarecia Donaldo Armelin ter surgido “a tutela
jurisdicional cautelar como uma garantia adicional à eficácia da prestação da tutela jurisdicional satisfativa,
e, inclusive, algumas vezes, como meio de assegurar a própria justiça no processo como manutenção do
equilíbrio entre os litigantes” (A tutela jurisdicional cautelar, Revista da Procuradoria Geral do Estado de São
Paulo no 23, jun. 1985, p. 116).
91
Convém frisar que em todos esses dispositivos se observa menção expressa a efeitos ou eficácia ou inefi-
cácia, não apenas do próprio provimento antecipatório ou cautelar, assim como do provimento final/prin-
cipal. Outros dispositivos encontrados em legislação específica apresentam as mesmas características de
finalidade e de redação, a exemplo: Lei no 8.069/1990, art. 213, § 1o (Estatuto da Criança e do Adolescente);
Lei no 8.078/1990, art. 84, § 3o (Código de Defesa do Consumidor); Lei no 10.741/2003, art. 83, § 1o (Estatuto do
Idoso) e Lei no 12.016/2009, art. 7o, III (Lei do Mandado de Segurança).
92
Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 56-57.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 169

proporcionar-lhe”.93 Daí por que, no provimento antecipatório, ser bastante comum a


coincidência entre o que este concede à parte e o que esta busca a título de tutela final.
Por sua vez, os provimentos cautelares resistem ao mal que o tempo pode causar
ao processo, visando “evitar que o passar do tempo prive o processo de algum meio
exterior que poderia ser útil para o correto exercício da jurisdição e consequente pro-
dução, no futuro, de resultados úteis e justos”.94 Para ser mais claro: o sujeito de di-
reitos que detenha uma pretensão à constituição, ou à declaração, ou à condenação,
ou ao mandamento, ou à execução, tem, a par delas todas, desde que ocorra uma
situação de urgência, uma pretensão de assegurá-las, sem realizá-las diretamente, que
é a pretensão à segurança, cujo remédio jurídico se perfaz mediante um provimento
cautelar.95 Essa situação de urgência pode pôr em risco apenas a certificação do direi-
to (ameaça de perda de uma prova, por exemplo) ou a execução do próprio direito
(diante a dissipação ou deterioração dos bens destinados à execução).
É de notar, portanto, que, enquanto o provimento antecipatório está compro-
metido com a decisão final, que terá que ser favorável ao sujeito para quem o provi-
mento antecipatório foi destinado, uma vez que, do ponto de vista fático, o que se
fez foi transferir no tempo, antecipando, a eficácia da futura decisão de procedência;
o provimento cautelar se apresenta neutro em relação ao desfecho do processo ao
qual está vinculado (CPC, art. 796), pois sua eficácia cuida apenas de prevenir riscos
que possam impedir o êxito de uma eficácia executiva futura do processo principal,
isto é, conserva sem realizar.96
Em suma: enquanto o provimento cautelar tem a eficácia de assegurar, o anteci-
patório tem a eficácia de satisfazer; ou, como já se tornou clássico dizer: enquanto a
antecipação satisfaz para garantir, a cautelar garante para satisfazer.97
Ocorre satisfação jurídica, em grau mínimo, quando se obtém a declaração de
existência do direito ou da pretensão e, em grau máximo, quando esse mesmo direi-
to ou pretensão já reconhecido existente é realizado no plano prático, espontanea-
mente ou mediante atividade executiva.98

93
Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 58.
94
Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 58.
95
Rogério Aguiar Munhoz Soares, Tutela jurisdicional diferenciada, São Paulo: Malheiros, 2000, p. 162.
96
Em sentido similar, mas distinguindo liminar de cautelar, Betina Rizzato Lara, Liminares no processo civil,
2. ed., São Paulo: RT, 1994, p. 22-24 e Sérgio Shimura, A eficácia das medidas liminares, in: Repertório de juris-
prudência e doutrina sobre liminares, coord. Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 1995, p. 106.
97
Essa distinção constitui verdadeira pedra de toque e, entre nós, foi inicialmente destacada por Francisco
Cavalcanti Pontes de Miranda: “A pretensão à segurança, à medida cautelar, por seu próprio nome, deixa
de atingir a satisfação” (Comentários ao Código de Processo Civil, t. XII, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003,
p. 357). O maior divulgador dessa concepção foi Ovídio A. Baptista da Silva, Teoria da ação cautelar, RePro
no 59, São Paulo: RT, jul./set. 1990, p. 190.
98
Por todos, ver Victor A. A. Bomfim Marins, Tutela cautelar, Curitiba: Juruá, 1996, p. 71-85.
170 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Um provimento cautelar não produz satisfação jurídica, que fica reservada para
ser produzida no processo ao qual aquele guarda referibilidade, vez que no âmbito
cautelar sequer se debate acerca da existência do direito. Daí por que se concebeu
que a eficácia do provimento cautelar é um minus em relação à eficácia do provi-
mento principal, não havendo como estabelecer grau de equivalência entre esses
provimentos.99
A satisfação gerada no provimento antecipatório também não é uma satisfação
jurídica, mas é uma satisfação fática ou social. Ainda que em caráter precário, a an-
tecipação satisfaz ao proporcionar um proveito material ao sujeito, concedendo-lhe
o uso ou a fruição de um bem ou de uma situação que lhe é vantajosa e que coinci-
de com o resultado da pretensão definitiva. E se antecipa porque era essa satisfação
que estava sob risco, dado que a demora nesse proveito poderia desencadear um
dano. Vale dizer, com a antecipação, em alguma medida, a pretensão do sujeito foi
satisfeita.100
Diante dessa distinção de eficácias entre os provimentos cautelares e antecipa-
tórios, para se definir a correta utilização deles, na prática, o operador do processo,
especialmente o magistrado, deveria se questionar do seguinte: o que se pretende é
buscar o bem da vida ou apenas conservá-lo para momento futuro? Se a resposta

99
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, t. XII, 2. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2003, p. 18.
100
Entre outros, entendem que o provimento de antecipação satisfaz, enquanto o cautelar assegura: José
Carlos Barbosa Moreira, A antecipação da tutela jurisdicional na reforma do Código de Processo Civil,
RePro no 81, São Paulo: RT, jan./mar. 1996, p. 200; Kazuo Watanabe, Tutela antecipatória e tutela especí-
fica das obrigações de fazer e não fazer (arts. 273 e 461 do CPC), Reforma do Código de Processo Civil,
coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira, São Paulo: Saraiva, 1996, p. 38; Egas Dirceu Moniz de Aragão, Alte-
rações no Código de Processo Civil: tutela antecipada, perícia, in: Reforma do Código de Processo Civil,
coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira, São Paulo: Saraiva, 1996, p. 236-237; Victor A. A. Bomfim Marins, An-
tecipação da tutela e tutela cautelar, in: Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, coord. Teresa
Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 1997, p. 569; Teori Albino Zavascki, Antecipação da tutela, São Pau-
lo: Saraiva, 1997, p. 46-48; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, v. 1, t.  II, 6. ed., Rio de Ja-
neiro: Forense, 2008, p. 12-18; Luiz Guilherme Marinoni, Antecipação da tutela, 9. ed., São Paulo: RT, 2006,
p. 131-138; Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, A tutela de urgência e o direito de família, São Paulo: Saraiva, 1998,
p. 12-20 (com a ressalva de que este autor entende que a antecipação é efeito jurídico e não mero efeito fáti-
co, p. 14); Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, v. 1, 47. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 420; João Batista Lopes, Tutela antecipada no processo civil brasileiro, 4. ed., São Paulo: RT, 2009, p. 73; Edu-
ardo Melo de Mesquita, As tutelas cautelar e antecipada, São Paulo: RT, 2002, p. 284; Márcio Louzada Carpe-
na, Do processo cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 91-96; Luiz Gustavo Tardin, Fungibilidade
das tutelas de urgência, São Paulo: RT, 2006, p. 90-95; Bruno Vasconcelos Carrilho Lopes, Tutela antecipada
sancionatória, São Paulo: Malheiros, 2006, p. 46-47 e Roberto Eurico Schmidt Junior, Tutela antecipada de
ofício, Curitiba: Juruá, 2007, p. 76-79. Em sentido diverso, reconhecendo que as cautelares também podem
satisfazer, ainda que provisória e faticamente: Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil,
v. VIII, t. I, 6. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 8-11; Marcelo Lima Guerra, Estudos sobre o processo cautelar,
São Paulo: Malheiros, 1995, p. 98; José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e tutela antecipada: tute-
las sumárias e de urgência (tentativa de sistematização), São Paulo: Malheiros, 1998, p. 117-118; José Manoel
de Arruda Alvim, Anotações sobre alguns aspectos das modificações sofridas pelo processo hodierno entre
nós, RePro no 97, São Paulo: RT, jan./mar. 2000, p. 68-72 e Alcides Munhoz da Cunha, Comentários ao Código
de Processo Civil, v. 11, São Paulo: RT, 2000, p. 413-452.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 171

é condizente com a primeira hipótese, será o caso de antecipação; se com a segunda,


o provimento será cautelar.101
Entretanto, a dificuldade de se responder a essa questão em determinadas situa-
ções da vida e o risco do direito material acabar prejudicado, fez o legislador incor-
porar no diploma processual a possibilidade de fungibilidade entre os provimentos
cautelar e antecipatório (CPC, art. 273, § 7o). A redação do dispositivo seguiu a ló-
gica acima referida de que a cautelar é um minus em relação à antecipação, pois ape-
nas conserva e não satisfaz e, assim, definiu que ao juiz será dado conceder o menos
(cautelar), quando se tenha pretendido o mais (antecipação), respeitadas as exigên-
cias para tanto, como não poderia ser diferente.102 Portanto, uma interpretação literal
do dispositivo não admite manobra inversa: conceder o mais (antecipação), quando
se tenha pretendido o menos (cautelar).103
Malgrado tal entendimento, orientando-se pelo princípio do acesso à ordem ju-
rídica justa (CF/88, art. 5o, XXXV), que assegura efetividade da tutela jurisdicional
e pela noção de instrumentalidade do ato do processo, no que é mais importante o
escopo do que a forma, a maioria da doutrina vem sustentando ser de mão-dupla a
fungibilidade entre os provimentos cautelar e antecipatório.104, 105
Não parece que a fungibilidade em sentido contrário ao previsto na lei (CPC,
art. 273, § 7o) altere a natureza e a distinção entre as eficácias dos provimentos

101
Márcio Louzada Carpena, Do processo cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 95-96.
102
Colhem-se no STJ: AgRg no REsp 734.316/AL, Rel. Min a Denise Arruda, Primeira Turma, j. em 16/02/2006, DJ
13/03/2006 e REsp 1.011.061/BA, Rel. Min a Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 24/03/2009, DJe 23/04/2009.
103
Defendem, por exemplo, a inviabilidade da fungibilidade de mão dupla: José Manoel de Arruda Alvim,
Notas sobre a disciplina da antecipação da tutela na Lei 10.444, de 07/05/2002, RePro no 108, São Paulo:
RT, out./dez. 2002, p. 110; Eduardo Melo de Mesquita, As tutelas cautelar e antecipada, São Paulo: RT, 2002,
p. 427; Jean Carlos Dias, Tutelas de urgência: princípio da fungibilidade, Curitiba: Juruá, 2003, p. 182-184 e Rita
de Cássia Corrêa Vasconcelos, Princípio da fungibilidade, São Paulo: RT, 2007, p. 313.
104
Sem pretender esgotar as referências, pode-se citar: Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das
medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 60-61; Joaquim Felipe Spa-
doni, Fungibilidade das tutelas de urgência, RePro no 110, São Paulo: RT, abr./jun. 2003, p. 87-90; Márcio Lou-
zada Carpena, Do processo cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 105-111; Cassio Scarpinella
Bueno, Tutela antecipada, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 123-127; Luiz Gustavo Tardin, Fungibilidade das tutelas
de urgência, São Paulo: RT, 2006, p. 172-175; Eduardo de Avelar Lamy, Princípio da fungibilidade no processo
civil, São Paulo: Dialética, 2007, p. 132-136; Guilherme Freire de Barros Teixeira, Teoria do princípio da fungibili-
dade, São Paulo: RT, 2008, p. 181-183 e Sidnei Amendoeira Jr., Fungibilidade de meios, São Paulo: Atlas, 2008,
p. 177-180. Aliás, essa posição já era encontrada em alguns autores mesmo antes da reforma operada pela
Lei no 10.444/2002, a exemplo: José Carlos Barbosa Moreira, As reformas do Código de Processo Civil: condi-
ções de uma avaliação objetiva, in: Temas de direito processual (sexta série), São Paulo: Saraiva, 1997, p. 89;
Humberto Theodoro Júnior, Tutela antecipada, in: Aspectos polêmicos da antecipação de tutela, coord.
Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 1997, p. 201; Alcides Munhoz da Cunha, Comentários ao Código
de Processo Civil, v. 11, São Paulo: RT, 2000, p. 436; Araken de Assis, Fungibilidade das medidas inominadas
cautelares e satisfativas, RePro no 100, São Paulo: RT, out./dez. 2000, p. 52-56 e Eduardo Talamini, Tutela relativa
aos deveres de fazer e de não fazer, São Paulo: RT, 2001, p. 366-369.
105
No STJ, aplicando a fungibilidade em sentido inverso do previsto na redação do art. 273, § 7o: REsp 653.381/
RJ, Rel. Mina Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 21/02/2006, DJ 20/03/2006 e REsp 627.759/MG, Rel. Mina
Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 25/04/2006, DJ 08/05/2006.
172 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

antecipatórios (satisfação) e cautelares (conservação). Tal como ocorre noutras hi-


póteses de fungibilidade, o juiz apenas está autorizado a proporcionar a tutela con-
forme a exigência da situação fática que lhe foi demonstrada, sem que, com isso,
esteja alterando a substância do que foi pedido: uma medida urgente. Na verdade,
é preciso aceitar que, nesta como em outras situações também previstas em lei, tem
se dado poder ao juiz para determinar a solução que entender ser mais adequada ao
caso concreto, para o que basta que a parte deduza pedido neste sentido. Em suma,
nas hipóteses de urgência, a eficácia de conservação ou satisfação da medida urgente
poderá ser modulada pelo juiz conforme as exigências da situação que se lhe apresen-
te nos autos.
É também pelo fato de o provimento cautelar ter eficácia de assegurar o processo
principal e o antecipatório ter eficácia de satisfazer faticamente o direito para uma das
partes, que não parece possível admitir que esse último possa ser deferido sem provo-
cação da parte interessada, como ocorre naquele (CPC, art. 798). Com efeito, se o
provimento antecipatório impõe uma situação de vantagem imediata a uma das par-
tes em relação ao bem da vida controvertido, a concessão deste benefício, ainda que
precariamente, dependerá do interessado em manifestar a pretensão de obtê-lo.106, 107
De outro lado, é consenso que a eficácia do provimento, seja cautelar ou ante-
cipatório, perdura enquanto se mostre útil em minimizar os malefícios do tempo do
processo. Nascem, por assim dizer, a serviço e a espera de um provimento definitivo.
Destarte, esses provimentos não são idôneos para regular definitivamente a relação
de direito material controvertida e, por isso, dependem de uma confirmação (pela
procedência do pedido principal) para que tenham sua eficácia mantida. Trata-se de
característica comum de ambos os provimentos: a provisoriedade.108
Nesse particular, o diploma processual foi mais explícito ao regular os provimen-
tos cautelares (CPC, arts. 805, 806, 807 e 808), cuja extensão é admitida para os
provimentos antecipatórios.109

106
Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 78-79. Em sentido contrário, José Roberto dos Santos Bedaque, Tutela cautelar e
tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência (tentativa de sistematização), São Paulo: Malheiros, 1998,
p. 351-353 e Roberto Eurico Schmidt Junior, que defende que, em se tratando de direito absolutamente in-
disponível, cumpre ao juiz conceder a antecipação de tutela (Tutela antecipada de ofício, Curitiba: Juruá,
2007, p. 145).
107
STJ, REsp 193.298/MS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Rel. p/ acórdão Min. Ari Pargendler, Terceira Turma, j. em
13/03/2001, DJ 01/10/2001 (no voto do Min. Waldemar Zveiter restou assinalado que a antecipação não pode
ser concedida de ofício, o que também foi estendido para a sua revogação, pelo que foi vencido).
108
Sobre o tema, assinalou Donaldo Armelin quanto às cautelares, mas que é aplicável aos provimentos an-
tecipatórios: “tal provisoriedade é teleológica, no sentido de se reportar à própria finalidade dessa prestação
jurisdicional, e não intrínseca, que resulta da possibilidade de sua revisão dentro do processo, característica
normal de toda prestação jurisdicional sujeita à retratação ou reexame” (A tutela jurisdicional cautelar, Revis-
ta da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo no 23, jun. 1985, p. 122).
109
Cândido Rangel Dinamarco, O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do processo civil, São
Paulo: Malheiros, 2003, p. 75-77; Luiz Gustavo Tardin, Fungibilidade das tutelas de urgência, São Paulo: RT,
2006, p. 173 e Sidnei Amendoeira Jr., Fungibilidade de meios, São Paulo: Atlas, 2008, p. 180.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 173

Em verdade, a eficácia desses provimentos pode ser cessada, quando a parte dei-
xar de realizar ato que lhe era próprio (CPC, art. 808, I e II); poderá ser revogada
ou modificada quando as razões que justificam sua permanência não mais se fizerem
presentes ou se mostrarem diferentes do que inicialmente havia se demonstrado,
respectivamente.110
No que respeita à cessação da eficácia dos provimentos cautelares ou antecipa-
tórios, há entendimento doutrinário111 de que a perda dessa eficácia se opera de for-
ma automática (ipso jure), prescindindo de qualquer ato judicial declaratório. Sem
embargo disso, em que pese ope legis, é de se entender que a cessação da eficácia
de tais provimentos não se dará sem prévia decisão judicial, especialmente quando,
na prática, para a perda dos efeitos for necessária ordem judicial que comunique tal
situação e assim seja possível a adoção das medidas cabíveis (cancelamento de re-
gistro, levantamentos etc.).112 A decisão declaratória de cessação da eficácia pode-
rá ser provocada pela parte interessada, assim como poderá ser dada ex officio pelo
julgador e retroagirá à data do seu deferimento, para que se retome o status quo
ante. Todavia, ainda que praticado o ato da parte interessada (tanto para a propo-
situra da demanda principal quanto para a execução do provimento) além do pra-
zo legal (isto é, intempestivamente), se a ineficácia não havia sido ainda declarada
pelo juiz, poderá tal ato precluso ser suficiente para fazer convalescer os efeitos do
procedimento.113
Questão ainda inerente à cessação da eficácia, que mais diretamente diz respei-
to aos provimentos cautelares, mas que pode ser suscitada nos antecipatórios – es-
pecialmente quando se admita que este pode ser concedido em ação processada
como cautelar preparatória (CPC, art. 273, § 7o) – e que também apresenta debate
em doutrina e jurisprudência, é saber se a cessação da eficácia impõe a extinção do

110
Márcio Louzada Carpena, Do processo cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 281-282.
111
Em verdade, a doutrina costuma seguir, nesse aspecto, Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Comen-
tários ao Código de Processo Civil, t. XII, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 70. Assim, por exemplo, Alcides
Munhoz da Cunha, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 11, São Paulo: RT, 2000, p. 740 e Eduardo
Arruda Alvim e Angélica Arruda Alvim, Notas para uma teoria geral do processo cautelar, in: Inovações sobre
o direito processual civil: tutelas de urgência, coord. José Manoel de Arruda Alvim e Eduardo Arruda Alvim,
Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 108.
112
Ovídio A. Baptista da Silva, Comentários ao Código de Processo Civil, v. XI, 2. ed., São Paulo: Letras Jurí-
dicas, 1986, p. 237-238; Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil, v. VIII, t. I, 6. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 1994, p. 230; Marcos Afonso Borges, Ação Cautelar preparatória – preliminares de cessação
de eficácia da liminar e de nulidade da sentença – mérito – aplicação do princípio constante do § 2o do
art. 249 do CPC, RePro no 72, Ed. RT, out./dez. 1993, p. 231 e Sérgio Shimura, Arresto cautelar, 2. ed., São Paulo:
RT, 1997, p. 398-399.
113
Sérgio Shimura, Arresto cautelar, 2. ed., São Paulo: RT, 1997, p. 399. Trata-se, portanto, de mais um exemplo
de ato processual precluso que produz efeitos (item 6.4). Aliás, convém assinalar que o desrespeito do prazo
pode ter ocorrido por justo motivo (CPC, art. 183) que, se demonstrado, é motivo bastante para afastar a
ineficácia imposta pela lei.
174 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

processo114 ou apenas retira do provimento sua eficácia, sem prejuízo da continuida-


de do processo.115
O não cumprimento do ônus previsto nos incisos I e II do art. 808 do Có-
digo de Processo Civil enseja tão só a cessação da eficácia do provimento liminar-
mente concedido e não a extinção do processo, que deve prosseguir, para que ao
final seja extinto, com ou sem resolução de mérito.116 A perda da eficácia do provi-
mento liminar se impõe para que não se imponha uma restrição ao réu que perdu-
re indefinidamente,117, 118 mas por si só não retira o interesse na prestação da tutela
jurisdicional mediante apreciação do pedido feito na inicial. Aliás, parece que a ne-
cessidade de novo fundamento de fato prevista no parágrafo único do mencionado
art. 808 não combina com a natureza da eficácia do provimento cautelar, que atende
ao processo e não diretamente à parte. Vale dizer, se há um interesse público na efe-
tividade do processo, que inclusive autoriza sua concessão ex officio (CPC, art. 798),
não há por que sujeitar a eficácia de um provimento que tem por fim assegurá-
-lo a uma situação diferente daquela já apresentada nos autos. Tal restrição poderia

114
Neste sentido, por exemplo: José Frederico Marques, Manual de direito processual civil, v. IV, São Paulo: Saraiva,
1976, p. 371; Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil, v. VIII, t. I, 6. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1994, p. 231; Edson Ribas Malachini, Cessação da eficácia da medida cautelar e extinção do processo, Gênesis
Revista de Direito Processual Civil no 1, Curitiba: Gênesis, jan./abr. 1996, p. 7-17 e Márcio Louzada Carpena, Do pro-
cesso cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 282-287. No STJ: REsp 58.350/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, Terceira Turma, j. em 10/12/1996, DJ 17/03/1997; REsp 81.861/DF, Rel. Min. Peçanha Martins,
Segunda Turma, j. em 05/05/1998, DJ 03/08/1998; REsp 201.042/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direi-
to, Terceira Turma, j. em 30/09/1999, DJ 16/11/1999 e Corte Especial, EREsp 327.438/DF, Rel. Min. Peçanha
Martins, j. em 30/06/2006, DJ 14/08/2006.
115
Com este entendimento, entre outros: José Joaquim Calmon de Passos, Comentários ao Código de Proces-
so Civil, v. X, t. I, São Paulo: RT, 1984, p. 159; José Carlos Barbosa Moreira, Medida cautelar liminarmente con-
cedida e omissão do requerente em propor a tempo a ação principal, in: Medidas cautelares, Porto Alegre:
Sergio Fabris, 1989, p. 97; Sérgio Shimura, Arresto cautelar, 2. ed., São Paulo: RT, 1997, p. 332-333 e Luiz Guilherme
Marinoni e Daniel Mitidiero, Código de Processo Civil comentado artigo por artigo, São Paulo: RT, 2008, p. 759.
No STJ: REsp 162.379/PR, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, j. em 04/11/1999, DJ 05/06/2000; REsp
58.535/SP, Rel. Mina Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 02/03/2000, DJ 03/04/2000 e REsp 327.380/RS, Rel.
Min. Antonio Pádua Ribeiro, Segunda Seção, j. em 22/05/2002, DJ 04/05/2005.
116
Embora, em casos excepcionais, tal como destaca José Carlos Barbosa Moreira, se vislumbre que o objeto
da cautelar possa se perder com a perda da eficácia do provimento liminar (Medida cautelar liminarmente
concedida e omissão do requerente em propor a tempo a ação principal, Medidas cautelares, Porto Alegre:
Sergio Fabris, 1989, p. 98).
117
Segundo Cândido Rangel Dinamarco, “constituiria uma truculência transferir radicalmente do deman-
dante para o demandado os males do decurso do tempo, sujeitando-o a um sacrifício por tempo indefinido
e permitindo-se ao demandante a escolha do momento de postular a medida principal e a determinação
do tempo de espera que bem lhe aprouvesse” (O regime jurídico das medidas urgentes, in: Nova era do pro-
cesso civil, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 76).
118
Tornou-se consenso que, quanto à hipótese do inciso I do art. 808 do CPC, somente as medidas cons-
tritivas é que perdem sua eficácia, ou seja, aquelas que importam invasão ou sacrifício da esfera do réu,
tendo, portanto duração indeterminada aquelas que não têm essa característica como a antecipação de
prova, a justificação, o protesto, as notificações, a exibição de documento etc. (ver nota 6 ao art. 808 de
Theotonio Negrão, Código de processo civil e legislação processual em vigor, 41. ed., São Paulo: Saraiva,
2009, p. 993).
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 175

até ser aplicada aos provimentos antecipatórios, cuja finalidade está mais atrelada
a um interesse particular da parte, o que constituiria verdadeira sanção contra o
demandante.119
Concedido o provimento antecipatório ou cautelar, este é suscetível de revoga-
ção ou modificação, mesmo de ofício pelo julgador,120 nos seguintes casos:121 i) jul-
gamento de recurso interposto contra a decisão concessiva; ii) prolação de sentença
definitiva que julgue extinto sem resolução de mérito ou que, no mérito, julgue im-
procedente o pedido principal, no todo ou em parte; iii) alteração do quadro fático
submetido ao juiz pelas partes e em razão do qual foi concedido o provimento; iv)
alteração do quadro probatório relativo à mesma situação de fato e do grau de cog-
nição do juiz; e v) mudança de convencimento do juiz quanto ao cabimento do pro-
vimento, ainda que sem alteração do quadro fático ou do quadro probatório.

6.10 A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL COMO MECANISMO


QUE GARANTE A EFICÁCIA DE DECISÕES JUDICIAIS

A reclamação constitucional é o meio mediante o qual se leva ao Supremo Tri-


bunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça a notícia da usurpação de sua
competência ou desobediência a julgado seu, cometida por juiz ou tribunal infe-
rior (CF/88, art. 102, I, l e art. 105, I, f); ou, apenas ao Supremo Tribunal Fede-
ral, no caso de desacato cometido pelos demais órgãos do Poder Judiciário ou pela
Administração Pública, direta ou indireta, de súmula vinculante editada por esta cor-
te (CF/88, art. 103-A, § 3o).
Embora a Constituição Federal apenas faça referência ao remédio no âmbito
das citadas cortes Superiores, cujos respectivos Regimentos Internos tratam da ma-
téria (STF, arts. 156 et seq. e STJ, arts. 187 et seq.), não é difícil encontrar previsão
da reclamação em outras normas, estendendo sua competência para outros Tribu-
nais. Na Justiça Militar, por exemplo, há lei federal que tratou de estabelecê-la: Lei
no 8.457/1992, art. 6o, I, f, cumulada com as normas do Código de Processo Penal
Militar, arts. 584 a 587, permitindo o seu uso para o fim de preservação da integrida-
de da competência e autoridade dos julgados do Superior Tribunal Militar. Também
se encontra previsão similar no Regimento Interno de alguns Tribunais, como se ve-
rifica no Tribunal Superior do Trabalho (arts. 196 a 200), no do Tribunal Superior

119
Neste sentido: Galeno Lacerda, Comentários ao Código de Processo Civil, v. VIII, t. I, 6. ed., Rio de Janeiro: Fo-
rense, 1994, p. 231; Edson Ribas Malachini, Cessação da eficácia da medida cautelar e extinção do processo,
Gênesis Revista de Direito Processual Civil no 1, Curitiba: Gênesis, jan./abr. 1996, p. 9 e Márcio Louzada Carpe-
na, Do processo cautelar moderno, Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 284.
120
STJ, REsp 193.298/MS, Rel. p/ acórdão Min. Ari Pargendler, Terceira Turma, j. em 13/03/2001, DJ 01/10/2001.
121
Por todos, ver Marcelo Lima Guerra, Estudos sobre o processo cautelar, São Paulo: Malheiros, 1995, p. 45-61.
176 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Eleitoral (art. 15, V c/c art. 94), no do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
(arts. 659 a 666) e no do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (arts. 248 a 253).
A matéria da competência das demais cortes de Justiça para o julgamento de
reclamação foi ventilada perante o Supremo Tribunal Federal (ADIn 2.212/CE),
tendo o órgão Pleno, por maioria, julgado improcedente a ação direta de inconsti-
tucionalidade, isto é, entendeu pela possibilidade de se estender a competência do
julgamento da reclamação aos demais tribunais inferiores.
Não obstante a divergência doutrinária sobre a sua natureza jurídica (incidente
processual – sucedâneo recursal – remédio processual sem natureza recursal – caráter
correicional) a doutrina mais atual atribui à reclamação a natureza jurídica de ação,
de cognição exauriente.122 Todavia, no julgamento da ADIn 2.212/CE acima citada,
o Supremo Tribunal Federal acabou por firmar o entendimento de que a reclamação
situa-se no âmbito do direito constitucional de petição (CF/88, art. 5o, XXXIV).
Seja como for, seu procedimento está disciplinado na Lei no 8.038/90 (arts. 13
a 18), que lhe atribui rito similar ao do mandado de segurança.123
Quer na hipótese de preservação da competência invádida, quer na decisão des-
cumprida ou contrariada, manifesta-se a ideia superior e ampla, da afirmação da
autoridade dos tribunais de superposição sobre os juízos e tribunais aos quais se so-
brepõem, na estrutura judiciária do país.
Entre as funções que cumpre a reclamação, interessa aqui dar ênfase à de garan-
tir a autoridade dos julgados das cortes de Justiça.124
Em que pese se possa concluir que a simples existência da reclamação no siste-
ma jurídico, com essa função, ateste que as decisões judiciais são ou podem vir a ser

122
Assim, por exemplo, Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Reclamação constitucional no direito brasileiro, Porto
Alegre: Sergio Fabris, 2000, p. 459-461; Gisele Santos Fernandes Góes, A reclamação constitucional, in: Aspec-
tos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 8, coord.
Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2005, p. 130; Leonardo José Carneiro da
Cunha, Natureza jurídica da reclamação constitucional, in: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e
de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 8, coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim
Wambier, São Paulo: RT, 2005, p. 333 e Leonardo Lins Morato, Reclamação e sua aplicação para o respeito da
súmula vinculante, São Paulo: RT, 2006, p. 109-112.
123
Marcelo Navarro Ribeiro Dantas, Reclamação constitucional no direito brasileiro, Porto Alegre: Sergio
Fabris, 2000, p. 485; Gisele Santos Fernandes Góes, A reclamação constitucional, in: Aspectos polêmicos e
atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 8, coord. Nelson Nery
Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2005, p. 134; Leonardo José Carneiro da Cunha, Natu-
reza jurídica da reclamação constitucional, in: Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros
meios de impugnações às decisões judiciais, v. 8, coord. Nelson Nery Junior e Teresa Arruda Alvim Wambier,
São Paulo: RT, 2005, p. 333 e Leonardo Lins Morato, Reclamação e sua aplicação para o respeito da súmula
vinculante, São Paulo: RT, 2006, p. 112.
124
Cabe lembrar, como o faz Flávio Luiz Yarshell, “que a reclamação somente se afigura cabível em relação
a decisões não transitadas em julgado. Havendo trânsito em julgado, não pode a reclamação fazer as vezes
de ação rescisória, que, portanto, apresenta-se como via processual adequada para a desconstituição da
decisão que, indevidamente, modificou – e, nessa medida, rescindiu – a outra anteriormente prolatada ”
(Ação rescisória – juízos rescindente e rescisório, São Paulo: Malheiros, 2005, p. 85).
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 177

descumpridas,125 é fato que a desobediência à ordem judicial e, portanto, a desmora-


lização do Judiciário, é mais que um risco, é uma realidade. Daí a necessidade de se
procurar corrigir o desvio com mecanismos aptos e céleres.
Essa referida hipótese de seu cabimento, a afronta a preceito ditado pela Corte,
já se disse antes (item 2.9), demonstra que as decisões dos tribunais de superposição
operam em face dos juízes e tribunais locais o fenômeno de preclusão judicial hie-
rárquica, consistente em impedi-los de voltar a decidir sobre o que já haja sido supe-
riormente decidido. Ainda quando se trate de matéria ordinariamente insuscetível de
precluir, cabendo ao juiz o poder-dever de voltar a ela sempre que haja pertinência e
mesmo que já se tenha pronunciado a respeito (CPC, art. 267, § 3o), essa liberdade
de atuação deixa de existir se sobre ela já houver um pronunciamento superior sobre
o tema.126
Somente será caso de se reputar atentatória à autoridade do Tribunal superior
quando estiverem presentes os seguintes requisitos cumulativos: (i) que o juiz ou
tribunal inferior haja emitido um preceito prático conflitante com aquele, ou seja,
portador de uma eficácia que visasse a excluir a eficácia da decisão superior; (ii) que
o pedido ou o requerimento sobre o qual o juiz ou tribunal inferior se manifes-
tou haja sido formulado pela parte com apoio no mesmo fundamento já rejeitado
superiormente.127
Como se observa, enfim, a reclamação funciona aqui como forma de proteção a
ultrajes à eficácia das decisões dos tribunais.128
Julgada procedente a reclamação, o ato atacado será declarado totalmente inefi-
caz. Todavia, talvez não baste suprimir os efeitos do desacato, sendo necessário im-
por o cumprimento da decisão superior ou da súmula vinculante, pelo que parece
certo concluir que, em casos como este, se identifica uma eficácia dobrada. Além de
ser eficaz para si mesma, serve para tornar eficaz, também, um outro provimento ju-
risdicional anterior ou uma súmula vinculante, que foram desobedecidos.129

125
É Marcelo Navarro Ribeiro Dantas quem fez essa meditação, Reclamação constitucional no direito brasilei-
ro, Porto Alegre: Sergio Fabris, 2000, p. 493-518.
126
Cândido Rangel Dinamarco, A reclamação no processo civil brasileiro, in: Aspectos polêmicos e atuais
dos recursos cíveis e de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 6, coord. Nelson Nery Junior e
Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2002, p. 104.
127
Cândido Rangel Dinamarco, A reclamação no processo civil brasileiro, in: Aspectos polêmicos e atuais
dos recursos cíveis e de outros meios de impugnações às decisões judiciais, v. 6, coord. Nelson Nery Junior e
Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo: RT, 2002, p. 110.
128
Sobre o tema, leciona Leonardo Lins Morato: “A reclamação aumenta a eficácia decisória dos julgados,
conferindo-lhes maior força por ocasião do respectivo cumprimento (...) A reclamação tem a ver, antes de
tudo, com a efetividade do processo, porque não se pode falar em processo efetivo sem que se garanta a
autoridade das decisões judiciais” (Reclamação e sua aplicação para o respeito da súmula vinculante, São
Paulo: RT, 2006, p. 234).
129
Leonardo Lins Morato, Reclamação e sua aplicação para o respeito da súmula vinculante, São Paulo: RT,
2006, p. 240.
178 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Portanto, embora sobressaia o caráter mandamental da reclamação, por restabele-


cer a eficácia do comando não cumprido, nela se insere, também, a declaração de que
houve um ato de desobediência que deve, desde então (ex tunc), ser reputado ineficaz.

6.11 CASOS DE INEFICÁCIA DO ATO JURÍDICO DE DIREITO


MATERIAL NO PROCESSO CIVIL130
A par das ineficácias do ato processual, merecem ser enfrentadas algumas hipó-
teses em que, mediante atividade processual, se trata da ineficácia de ato jurídico rea-
lizado no plano do direito material.
O trato dessas hipóteses ajudará a compreender o regime da ineficácia apresen-
tado para o ato processual.

6.11.1 Ação revocatória no direito falimentar


Estando na iminência da insolvência – com dificuldades no fluxo de caixa tan-
to para receber quanto para realizar pagamentos, com retração nas linhas de crédito
que financiem sua atividade, com redução da demanda dos produtos e serviços que
oferece – o empresário pode ser levado a praticar atos ou manobras ilícitas, senão ao
menos temerárias, seja para evitar a quebra ou para contornar suas consequências ou,
até, para satisfazer a alguns credores mais exigentes.131
Contra esses atos e visando a proteção dos credores é que o sistema legal con-
templa a ação revocatória.
A expressão revocatória deriva do verbo revocar, que significa chamar para trás,
chamar novamente, mandar voltar.132 Entendida a etimologia da palavra, fica mais
fácil compreender o objetivo da ação revocatória: que é o de retirar a eficácia de de-
terminados atos praticados pelo devedor, voltando-os para trás, mas tão somente em
relação à massa falida, a fim de recompor e ampliar o acervo da massa, com a apreen-
são dos bens correspondentes ao ato ineficaz.

130
Não são poucos os casos de ineficácia presentes especialmente no âmbito do direito civil, cujo reflexo
poderá ser sentido em sede processual. Francisco Pereira de Bulhões Carvalho identifica os seguintes casos:
“a)  atos em geral praticados sem direito de representação; b) atos de administração irregulares do tutor
ou do pai; ou do cônjuge; c) contratos relativos a coisa alheia; d) contratos sobre coisa indivisa; e) atos
praticados com simulação; f) atos praticados com fraude a credor; g) atos que, para adquirirem eficácia,
necessitam de ser complementados mediante autorização de terceiro, ou de registro; h) ato praticado pelo
relativamente incapaz, sem assistência do seu representante legal” (Ineficácia do ato jurídico e a reforma do
Código Civil, Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara no 12, 1966, p. 8). O
referido autor trata um por um dos casos apontados (op. cit., p. 8-79).
131
Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas, São Paulo: Sarai-
va, 2005, p. 344-345; Waldo Fazzio Júnior, Nova lei de falência e recuperação de empresas, São Paulo: Atlas,
2005, p. 307 e Yussef Said Cahali, Fraude contra credores, 4. ed.,São Paulo: RT, 2008, p. 515.
132
Rubens Requião, Curso de direito falimentar, v. 1, 15. ed., São Paulo: Saraiva, 1993, p. 191.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 179

É de se frisar, portanto, que por meio da ação revocatória não se retira a validade
nem a eficácia do ato praticado entre os sujeitos que o celebraram, mas apenas o tor-
na inoponível à massa e enquanto durar a falência. Trata-se, pois, de uma ineficácia
relativa e parcial. Relativa, porque somente referente aos credores da massa, e par-
cial, porque só se estende ao que possa ser lesivo aos credores.133 Sendo assim, com
o término da falência e subsequente extinção das obrigações do empresário devedor,
as relações entre aquele que veio a falir e o terceiro que com ele contratara retomam
sua vigência quanto ao remanescente do bem ou do valor objeto da revocatória.
Esse meio de proteção aos credores, embora coexista com outros contemplados
na legislação civil e processual civil, opera, sem dúvida, de modo mais eficiente. E, as-
sim o é, há bastante tempo. Tem-se notícia de dispositivo que assegura proteção similar
à atual desde o § 19 do Alvará de 13/11/1756, e depois: nos arts. 29 a 35 do Decre-
to no 917, de 1890; nos arts. 35 a 41 da Lei no 859, de 1902; nos arts. 55 e 56 da Lei
no 2.024, de 1908 e nos arts. 52 e 53 do Decreto-Lei no 7.661, de 1945.134
A atual lei de regência da falência (Lei no 11.101/2005) permite a revocatória
de atos sem ou com intenção de lesar os credores (arts. 129 e 130).135 A lei ainda
esclarece expressamente que mesmo os atos praticados com base em decisão judicial
(por exemplo: bens que foram objeto de arrematação ou de bens alienados median-
te autorização judicial) também podem ser declarados ineficazes (art. 138), desde
que não se tratem de atos previstos e realizados na forma definida no plano de re-
cuperação judicial (art. 131).136, 137 Além dessas hipóteses de ineficácia, continua em

133
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. XXVIII, Campinas: Bookseller, 2003,
p. 368.
134
Ricardo José Negrão Nogueira, Ineficácia e revogação de atos praticados antes da falência, Direito fa-
limentar e a nova lei de falências e recuperação de empresas, coord. Luiz Fernando Valente de Paiva, São
Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 489-490.
135
Segundo Fábio Ulhoa Coelho, as hipóteses do art. 129 são de ineficácia objetiva, porque independem
de perquirição sobre as intenções dos sujeitos, enquanto as do art. 130 são de ineficácia subjetiva, porque
dependem da perquirição do conluio fraudulento (Comentários à nova lei de falências e de recuperação de
empresas, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 346).
136
Sobre o tema, assinala Sérgio Campinho: “Para a lei, portanto, é indiferente a forma com que o ato se
revista; ela o encara em si e em suas consequências. (...) O escopo da lei reside, portanto, na salvaguarda
dos interesses dos credores, cujo prejuízo possa resultar de ato do falido, ainda que formalmente perfeito e,
até mesmo, quando sancionado por sentença, desde que fraudulento ou objetivamente ineficaz em relação
à massa falida” (Falência e recuperação de empresa – o novo regime da insolvência empresarial, Rio de
Janeiro: Renovar, 2006, p. 373).
137
Segundo a redação do parágrafo único do art. 138 da Lei no 11.101/2005, declarada a ineficácia do ato
praticado com base em decisão judicial, “ficará rescindida a sentença que o motivou”. Tal disposição não
significa que, como a primeira leitura pode fazer parecer, restará ofendida ou anulada a coisa julgada oriun-
da da decisão havida noutro processo. Bem observou Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, a interpreta-
ção adequada ao dispositivo deve ser: a declaração do ato pode ocorrer embora para sua prática houvesse
precedido sentença de eficácia executiva ou mandamental, ou se houvesse originado de transação ou
medida constritiva. A sentença, portanto, não é óbice para que a ineficácia seja declarada e, em isso ocor-
rendo, a decisão que transitou em julgado não fica rescindida, mas sem a eficácia que teria contra a massa
falida (Tratado de direito privado, t. XXVIII, Campinas: Bookseller, 2003, p. 424-426). No mesmo sentido, Ricar-
do José Negrão Nogueira: “não há rescisão da sentença anterior, nem violação da coisa julgada, mas tão
180 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

vigor aquela prevista na Lei das Sociedades por Ações (Lei no 6.404/1976, art. 45,
§ 8o).138
Os casos de ineficácia listados no art. 129 da Lei no 11.101/2005, segundo o
momento de sua ocorrência, podem ser agrupados em quatro espécies:139 i) atos pra-
ticados dentro do termo legal (incisos I, II e III); ii) atos praticados no período de
dois anos antes da declaração de falência (incisos IV e V); iii) atos nos quais não se
leva em consideração o elemento temporal (inciso VI);140 e iv) atos praticados após
a declaração de falência (inciso VII). Como se observa, portanto, embora os atos
atingidos sejam em grande parte anteriores à falência, não se excluem atos praticados
depois da decretação da quebra.
Segundo o parágrafo único desse mesmo art. 129, a ineficácia dos atos nele con-
templados poderá ser declarada de ofício pelo juiz nos autos principais da falência,
assim como, ainda nos próprios autos da falência, mediante provocação do adminis-
trador judicial, do agente do Ministério Público ou de qualquer credor interessado.
Além disso, a ineficácia poderá ser declarada em sentença de qualquer ação de conhe-
cimento, principal ou incidental, seja a massa falida autora ou ré, desde que suscitada
na petição inicial ou na defesa.
A ineficácia prevista no art. 130 da Lei no 11.101/2005, por sua vez, apresen-
ta fórmula genérica que depende da demonstração que o falido ou o representante
legal da sociedade falida e o terceiro contratante agiram com fraude e no intuito de
prejudicar os credores da massa ou frustrar os objetivos da falência. Nesses casos, é
irrelevante a época em que foi praticado o ato, próxima ou distante da decretação
da falência.141 Por sua vez, a declaração de ineficácia com fundamento no citado
art. 130 somente poderá se dar por meio de ação revocatória, não se admitindo for-
ma diversa (art. 132).
Segundo a disciplina da Lei no 11.101/2005, a ação revocatória é de compe-
tência do mesmo juízo da falência e obedecerá ao rito comum ordinário previsto no

somente óbice à irradiação de seus efeitos em razão da nova realidade concursal” (Ineficácia e revogação
de atos praticados antes da falência, in: Direito falimentar e a nova lei de falências e recuperação de empre-
sas, coord. Luiz Fernando Valente de Paiva, São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 511).
138
Sérgio Campinho, Falência e recuperação de empresa – o novo regime da insolvência empresarial, Rio
de Janeiro: Renovar, 2006, p. 368 e Francisco Cláudio de Almeida Santos, A ação revocatória na nova lei de
recuperação de empresas e de falências, in: A nova lei de falências e de recuperação de empresas – Lei
n o 11.101/05, coord. Paulo Penalva Santos, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 337.
139
Ricardo José Negrão Nogueira, Ineficácia e revogação de atos praticados antes da falência, in: Direito
falimentar e a nova lei de falências e recuperação de empresas, coord. Luiz Fernando Valente de Paiva, São
Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 493-494.
140
Em sentido diverso, Francisco Cláudio de Almeida Santos sustenta que a referida hipótese do inciso VI do
art. 129 está sujeita ao prazo decadencial de 4 (quatro) anos, previsto no art. 178, II, do Código Civil (A ação
revocatória na nova lei de recuperação de empresas e de falências, in: A nova lei de falências e de recupe-
ração de empresas – Lei n o 11.101/05, coord. Paulo Penalva Santos, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 336 e 345).
141
Rubens Requião, Curso de direito falimentar, v. 1, 15. ed., São Paulo: Saraiva, 1993, p. 193 e Fábio Ulhoa Coe-
lho, Comentários à nova lei de falências e de recuperação de empresas, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 354-355.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 181

Código de Processo Civil (art. 134); poderá ser proposta de forma concorrente pelo
administrador judicial, pelo representante do Ministério Público ou por qualquer
credor da massa no prazo de 3 (três) anos da decretação da falência (art. 132); pode-
rá ser promovida contra todos os que venham a figurar no ato ineficaz, ou todos que
por efeito do ato foram pagos, garantidos ou beneficiados, incluindo seus herdeiros
ou legatários e contra qualquer terceiro adquirente que tenha conhecimento que o
direito foi criado pela intenção fraudulenta do devedor, incluindo os herdeiros ou
legatários desse terceiro (art. 133).
A decisão revocatória, seja fundada nos casos listados no art. 129 ou tenha por
fundamento o art. 130, tem indiscutível natureza declaratória.142, 143 Como está
consagrado em doutrina, o que se ataca por meio da revocatória é a fraude.144 Por
conseguinte, todo ato fraudulento, prejudicial ao credor, não é nulo, mas ineficaz ou
inoponível aos credores do devedor alienante.145
A declaração da ineficácia do ato, por óbvio, não beneficia o devedor/falido
nem seus coobrigados.146 O que se pretende por meio dessa declaração é a certeza de
que o ato é inoponível à massa, ou seja, que o efeito do ato não atinge os credores
falenciais. Declarada a ineficácia do ato, portanto, volta-se para trás, restaurando a

142
Segundo Rubens Requião, “esse é o segredo da ação revocatória na falência, cuja sutileza nem todos
facilmente de pronto percebem” (Curso de direito falimentar, v. 1, 15. ed., São Paulo: Saraiva, 1993, p. 191).
Não há dúvida de que em ambas, as previsões atuais dos arts. 129 e 130 (equivalentes aos arts. 52 e 53 da
legislação revogada), embora apresentem condições distintas, têm resultado o mesmo: a ineficácia do ato
perante a massa. Identificam a natureza declaratória da decisão: Jayme Leonel, Da ação revocatória no
direito de falência, São Paulo: RT, 1942, p. 22-23; Wilson de Souza Campos Batalha e Silvia Marina Labate Bata-
lha, Falências e concordatas, São Paulo: LTr, 1991, p. 31-34; Yussef Said Cahali, Fraude contra credores, 4. ed.,
São Paulo: RT, 2008, p. 598-600 e Fábio Ulhoa Coelho, Comentários à nova lei de falências e de recuperação
de empresas, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 346.
143
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda defendia que, nas hipóteses do art. 52 da lei revogada, ha-
via declaração e, no caso do art. 53, a sentença era constitutiva negativa (Tratado de direito priva-
do, t. XXVIII, Campinas: Bookseller, 2003, p. 368-369 e 405). A par disso, no entanto, o próprio Pontes de
Miranda reconhecia que o que se desconstitui é apenas a eficácia (op. cit., p. 406-407), daí por que
concluía que “o fim que tem a ação revocatória falencial é o mesmo que se aponta à ação de ineficá-
cia relativa” (op. cit., p. 431). Seguiam à luz da legislação revogada ou ainda seguem este entendimento
para a legislação atual: José da Silva Pacheco, Processo de falência e concordata, 5. ed., Rio de Ja-
neiro: Forense, 1988, p. 426; Nelson Abrão, Da ação revocatória, 2.  ed., São Paulo: Leud, 1997, p. 105;
Carlos Roberto Claro, Revocatória falimentar, 3. ed., Curitiba: Juruá, 2005, p. 108 e 132; Waldo Fazzio
Júnior, Nova lei de falência e recuperação de empresas, São Paulo: Atlas, 2005, p. 313; e Ricardo José
Negrão Nogueira, Direito falimentar e a nova lei de falências e recuperação de empresas, coord. Luiz Fernando
Valente de Paiva, São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 490-491.
144
Jayme Leonel, Da ação revocatória no direito de falência, São Paulo: RT, 1942, p. 8.
145
Por todos, ver Alvino Lima, A fraude no direito civil, São Paulo: Saraiva, 1965, p. 88-116. Depois de analisar
todas as teorias acerca da natureza jurídica da revogação dos atos fraudulentos, conclui o referido autor: “a
ação revocatória ou pauliana não é uma ação de responsabilidade civil, como não é uma ação de nulida-
de ou de anulação do ato fraudulento. É uma ação de inoponibilidade do ato fraudulento contra o credor,
proclamando a sua ineficácia relativa ao mesmo credor; restaura-se, pois, a garantia patrimonial do credor,
tal como realmente existia antes do ato fraudulento, assegurando ao credor a satisfação de seus interesses
decorrentes do seu crédito” (op. cit., p. 115-116).
146
Waldo Fazzio Júnior, Nova lei de falência e recuperação de empresas, São Paulo: Atlas, 2005, p. 322.
182 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

situação anterior (Lei no 11.101/2005, art. 136, caput). Com isso, a ação concur-
sal alcança os bens estejam onde estiverem, ainda que na posse de terceiro, possibi-
litando (em tese) que os débitos do devedor/falido venham a ser quitados por esse
patrimônio recuperado pela decisão revocatória.147 Portanto, a revocatória tutela os
credores ou o crédito da falência. Não há, pois, falar-se em natureza constitutiva ne-
gativa da decisão, porque não se pretende invalidar o ato, apenas recuperar para o
patrimônio da massa o que foi ineficazmente dela retirado.
Essa finalidade de retorno ao status quo ante visa permitir a recomposição do ati-
vo do devedor/falido em favor dos credores, daí por que impõe o efeito restitutório.
Logo, a decisão revocatória se caracteriza pelo binômio: ineficácia + restituição.148
O objeto do ato declarado ineficaz é direcionado a voltar ao acervo do patrimônio
da massa – seja em espécie, com todos os acessórios, seja em dinheiro, pelo valor de
mercado –, para responder pelas dívidas do falido (Lei no 11.101/2005, art. 135).
A declaração de ineficácia do ato tem, portanto, uma grande carga de executividade
e/ou mandamentalidade.149
Com o escopo de viabilizar a restituição dos bens em poder de terceiros,
ou seja, de resguardar os interesses da massa, está o juiz autorizado pela lei (Lei
no 11.101/2005, art. 137), a ordenar medidas cautelares ou antecipatórias, para o
que aplicáveis as normas processuais comuns. Tal disposição é comum tanto aos ca-
sos do art. 129 quanto para a ação do art. 130.
Caso o bem inexista ou seja impossível a sua arrecadação, o réu da ação revoca-
tória responderá com bens particulares no valor pelo qual a causa for julgada.150
Por último, convém assinalar que a ação revocatória pode subsidiariamente ser
invocada nas liquidações extrajudiciais de instituições financeiras, tendo em conta o
disposto no art. 15, § 2o, da Lei no 6.024/1974.151
Os aspectos processuais da ação ou da decisão revocatória, especialmente a pos-
sibilidade da ineficácia ser conhecida de ofício, de forma incidental ou mediante ação
autônoma e sua eficácia declaratória + restitutória, podem e devem ser plenamente
aplicados para as declarações de ineficácia de ato processual (item 5.12).

147
Carlos Roberto Claro, Revocatória falimentar, 3. ed., Curitiba: Juruá, 2005, p. 98.
148
Waldo Fazzio Júnior, Nova lei de falência e recuperação de empresas, Ed. Atlas, 2005, p. 313 e 322.
149
Ver Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. XXVIII, Campinas: Bookseller,
2003, p. 375-381.
150
Luiz Tzirulnik, Direito falimentar, 7. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 201. Assegura a lei (Lei n o 11.101/2005,
art. 136, § 3o), ao terceiro de boa-fé, a ação de perdas e danos, a todo o tempo, contra o falido. Por exclu-
são, portanto, o terceiro de má-fé não terá igual direito. Sobre a extensão da responsabilidade do terceiro
segundo a sua boa ou má-fé, Ver Jayme Leonel, Da ação revocatória no direito de falência, São Paulo: RT,
1942, p.128-130.
151
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de direito privado, t. XXVIII, Campinas: Bookseller, 2003,
p. 374-375 e Fernando Orotavo Neto, Das liquidações extrajudiciais de instituições financeiras – manual do
liquidado, Rio de Janeiro: Lerfixa, 2002, p. 121-122.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 183

6.11.2 Desconsideração da pessoa jurídica


É comum conceituar as pessoas jurídicas como sendo entidades a que a lei em-
presta personalidade, atribuindo-lhes prerrogativa de serem sujeitos de direitos e de
obrigações. Por conseguinte, atuam na vida jurídica com personalidade diversa da
dos indivíduos que as compõem.
Todavia, não é de hoje que se identificou estar este conceito em crise152 de na-
tureza sistemática, porque, além das pessoas jurídicas abrigadas pelo sistema, outros
grupamentos não dotados de personalidade jurídica agem e atuam em esferas pró-
prias de relações jurídicas (como, por exemplo: condomínios e massa falida), mas
também, e, principalmente, de natureza funcional, que pelos usos indevidos fazem
desviar a pessoa jurídica de seus fins originais, transmudando-se em instrumentos
realizadores de fins diversos das suas finalidades.153
Foi diante desta crise funcional que surgiu a doutrina da desconsideração da per-
sonalidade jurídica.
Este fenômeno desconsiderativo deve ser tomado, segundo Marçal Justen
Filho,

para indicar a ignorância, para um caso concreto, da personificação societária. Vale


dizer, aprecia-se a situação jurídica tal como se pessoa jurídica não existisse, o que
significa que se trata a sociedade e o sócio como se fossem uma mesma e úni-
ca pessoa. Atribuem-se ao sócio ou à sociedade condutas (ou efeitos jurídicos da
conduta) que, não fosse a desconsideração, seriam atribuídos (respectivamente) à
sociedade ou ao sócio.154

Depois de vir sendo sistematicamente aplicada pela jurisprudência e estudada


pela doutrina, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica incorporou-se ao
direito posto, como, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor (art. 28),155
a Lei Antitruste (Lei no 8.884/1994, art. 18) e a Lei do Meio Ambiente (Lei
no 9.605/1998, art. 4o), sendo também incluída no texto legal do Código Civil de
2002 (art. 50). Segundo se observa do texto deste último dispositivo legal citado, a
desconsideração da pessoa jurídica tem lugar quando for utilizada abusivamente, seja

152
José Lamartine Correa de Oliveira, A dupla crise da pessoa jurídica, São Paulo: Saraiva, 1978, passim.
153
Teresa Arruda Alvim Wambier, A desconsideração da pessoa jurídica para fins de partilha e a prova dos
rendimentos do cônjuge-varão, na ação de alimentos, pelo nível da vida levada por este, Direito de Família,
v. 3, coord. da mesma autora, São Paulo: RT, 1996, p. 179-180.
154
Marçal Justen Filho, Desconsideração da personalidade societária no direito brasileiro, São Paulo: RT, 1987,
p. 52-55.
155
Sobre o tema, ver Flávia Lefèvre Guimarães, Desconsideração da personalidade jurídica no Código do
Consumidor – aspectos processuais, São Paulo: Max Limonad, 1998, passim e STJ, REsp 279.273/SP, Rel. p/
acórdão Mina Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 04/12/2003, DJ 29/03/2004.
184 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

por ter sido desviada dos seus fins para servir de instrumento ou cobertura à prática
de atos ilícitos ou abusivos de sócio,156 seja mediante confusão patrimonial.157
Ainda que encontre fundamento legal, é firme o entendimento da doutrina158 e
da jurisprudência159 no sentido de que a desconsideração é medida excepcional.
No caso de qualquer das hipóteses descritas no referido art. 50 do Código Ci-
vil ser anterior à propositura da ação pelo lesionado, sem embargo de opiniões no
sentido de se tratar de litisconsórcio passivo facultativo eventual,160 parece possível
mesmo sustentar, ainda que o autor formule pedidos subsidiários (CPC, art. 289),
que, no caso da pretensão (ou uma delas, mesmo a sucessiva) ser a de desconsiderar
a pessoa jurídica para que se atinja de algum modo o(s) seu(s) sócio(s), nesta a hi-
pótese é de um litisconsórcio passivo necessário e unitário, entre empresa e sócio(s).
A sentença que desconsidera pessoa jurídica possui várias eficácias. Inicialmen-
te declara, para aquele caso concreto, a suspensão episódica da eficácia de seu ato

156
Na doutrina pátria, o tema foi enfrentado pela primeira vez em 1959, por Rubens Requião, em conferência
proferida na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, onde asseverou: “Ora, a doutrina
da desconsideração nega precisamente o absolutismo do direito da personalidade jurídica. Desestima a
doutrina esse absolutismo, perscruta através do véu que a encobre, penetra em seu âmago, para indagar
de certos atos dos sócios ou do destino de certos bens. Apresenta-se, por conseguinte, a concessão da
personalidade jurídica com um significado ou um efeito relativo, e não absoluto, permitindo a legítima pe-
netração inquiridora em seu âmago. Ora, assim há de ser. Se a personalidade jurídica constitui uma criação
da lei, como concessão do estado objetivando, como diz Cunha Gonçalves, ‘a realização de um fim’ nada
mais procedente do que reconhecer ao Estado, através de sua justiça, a faculdade de verificar se o direito
concedido está sendo adequadamente usado. A personalidade jurídica passa a ser considerada doutri-
nariamente um direito relativo, permitindo ao juiz penetrar o véu da personalidade para coibir os abusos
ou condenar a fraude, através de seu uso” (Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica, RT
no 410, São Paulo: RT, dez. 1969, p. 15).
157
Esclarece Calixto Salomão Filho: “A confusão de esferas caracteriza-se em sua forma típica quando a
denominação social, a organização societária ou o patrimônio da sociedade não se distinguem de forma
clara da pessoa do sócio, ou então quando formalidades societárias necessárias à referida separação não
são seguidas” (O novo direito societário, 3. ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 221). Para Fábio Ulhoa Coelho:
“Segundo a formulação objetiva, o pressuposto da desconsideração se encontra, fundamentalmente, na
confusão patrimonial. Se, a partir da escrituração contábil, ou da movimentação de contas de depósito
bancário, percebe-se que a sociedade paga dívidas do sócio, ou este recebe créditos dela, ou o inverso,
então não há suficiente distinção, no plano patrimonial, entre as pessoas. Outro indicativo eloquente de
confusão, a ensejar a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, é a existência de bens de
sócio registrados em nome da sociedade, e vice-versa” (Curso de direito comercial, v. 2, 5. ed., São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 43-44).
158
Fábio Ulhoa Coelho assinala: “a desconsideração deve ter necessariamente natureza excepcional, epi-
sódica, e não pode servir ao questionamento da subjetividade própria da sociedade. Esse é o sentido da
ressalva de Serik ao seu primeiro princípio e do segundo, em que insiste no descabimento da desconside-
ração quando não caracterizada especificamente a fraude na manipulação da forma da pessoa jurídica.
Quer dizer, não se justifica o afastamento da autonomia da pessoa jurídica apenas porque um seu credor
não pôde satisfazer o crédito que titulariza” (As teorias da desconsideração, in: Desconsideração da perso-
nalidade jurídica em matéria tributária, coord. Heleno Taveira Torres e Mary Elbe Queiroz, São Paulo: Quartier
Latin, 2005, p. 265-266).
159
STJ, REsp 347.524/SP, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, j. em 18/02/2003, DJ 19/05/2003.
160
Flávia Lefèvre Guimarães, Desconsideração da personalidade jurídica no Código do Consumidor – aspec-
tos processuais, São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 129; Osmar Vieira da Silva, Desconsideração da persona-
lidade jurídica – aspectos processuais, Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 175-176 e Fredie Didier Júnior, Regras
processuais no Código Civil, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 11-12.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 185

constitutivo para, em seguida, condenar (responsabilizar) o sócio ou mesmo direta-


mente executá-lo, de modo a buscar, no seu patrimônio, bens que respondam pela
dívida contraída pela empresa. Neste aspecto, apresenta-se indivisível a relação jurí-
dico-material posta como objeto do processo, para as quais se tem reconhecido a ne-
cessariedade do litisconsórcio, uma vez que se exige o contraditório para que possa a
eventual decisão projetar efeitos sobre todos os envolvidos. Em outras palavras: ou a
desconstituição da pessoa jurídica se opera e atinge a empresa e o(s) sócio(s), ou tal
desconsideração não se opera, não atingindo nenhum dos envolvidos.
Assim, caso manejada a demanda com essa causa de pedir (desconsideração da
pessoa jurídica) sem a respectiva integração do polo passivo por todos, empresa e
sócio(s), é caso de o juiz determinar sua integração (CPC, art. 47, parágrafo único).
Todavia, não se nega ser possível que a questão da desconsideração da personali-
dade jurídica surja no curso do feito – de conhecimento ou de execução –, por razões
supervenientes ao ajuizamento da demanda, hipótese em que, pelas mesmas razões
acima, impõe-se o “chamamento” do(s) sócio(s), para a formação ulterior do litis-
consórcio necessário. Na verdade, surgirá um cúmulo objetivo antes não deduzido,
para o qual, por força do vínculo, exigirá a formação do respectivo cúmulo subjeti-
vo. Será caso, pois, de cumulação sucessiva, objetiva e subjetiva. Logo, a integração
do(s) sócio(s) somente será admitida por provocação do interessado, sendo vedada a
sua imposição de ofício pelo juiz (o sistema legal não contempla a intervenção obri-
gatória ex officio ou iussu iudicis).161 Terá que ser formado um incidente cognitivo,
no qual será oportunizada a defesa do(s) sócio(s), com a finalidade única de declarar
a ineficácia da pessoa jurídica perante o interessado e, assim, permitir alcançar a esfe-
ra jurídica e patrimonial do(s) sócio(s). Durante o processo de conhecimento, pode-
-se cogitar do uso de uma ação declaratória incidental, na qual, excepcionalmente,
estar-se-ia permitindo a inclusão de sujeito diverso dos existentes na demanda prin-
cipal – o(s) sócio(s) –, o que decorreria, porém, da peculiaridade da situação, isto é,
do fato desta ineficácia decorrer de ato praticado pelo(s) próprio(s) sócio(s), ou em
razão dele(s). Na execução, o interessado formularia ação incidental com o mesmo
fim. Somente não se cogita, nessa última, da extensão da coisa julgada material, mas
de sua produção, uma vez que, na execução, a sentença meramente põe fim a uma
atividade eminentemente material e, portanto, não produz coisa julgada material.162
Não obstante a exigência da obrigatória participação do(s) sócio(s) para efeitos
do provimento que desconsidera a pessoa jurídica, nada impede que o juiz, num ou
noutro caso, adote medidas de caráter urgente, que atinjam o patrimônio ou a esfera
do(s) sócio(s), sem a prévia formação da relação processual (autônoma ou incidente)

161
Sobre o tema, em que pese a alteração da legislação processual, ver Moacyr Lôbo da Costa, A interven-
ção iussu iudicis no processo civil brasileiro, São Paulo: Saraiva, 1961, passim.
162
Sobre a ausência de coisa julgada material na execução, ver Sandro Gilbert Martins, A defesa do execu-
tado por meio de ações autônomas, 2. ed., São Paulo: RT, 2005, p. 185-196.
186 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

entre eles, com o fim de acautelar ou antecipar efeitos da tutela pretendida, pois pos-
teriormente o contraditório será exercido por este(s).
Pode-se, ainda, cogitar da aplicação do art. 50 do Código Civil de 2002 por
provocação do réu, contra a empresa autora. O réu pode suscitar a aplicabilidade do
dispositivo em sede de contestação, como mero fato impeditivo do direito do autor.
Imagine-se, pois, que o réu reclame a desconsideração da sociedade autora, cuja ma-
téria, então, seria uma questão prévia – preliminar ou prejudicial – em relação à pre-
tensão da empresa autora. Seria preliminar, por exemplo, quando o réu alegasse uma
das hipóteses descritas no texto legal, pleiteando ao juiz que reconhecesse a ilegitimi-
dade ativa da parte, o que acarretaria a extinção do feito sem julgamento de mérito;
noutra hipótese, agora prejudicial, aproveitando o mesmo argumento, o réu estivesse
pleiteando a improcedência do pedido. Nestas hipóteses, a questão seria incidente
(CPC, art. 469, III), e como o sócio não teria sua esfera jurídica atingida, não seria
necessária a formação do litisconsórcio. Todavia, poder-se-ia admitir, a exemplo do
que dito antes, se fosse do interesse do réu, que este utilizasse a ação declaratória in-
cidental; hipótese em que, excepcionalmente, se admitiria o ingresso do(s) sócio(s)
no polo da demanda incidental.
Como se observa, toda vez que se pretender aplicar o art. 50 do novo Código
Civil com força de coisa julgada material, parece ser caso de tratar os que por detrás
da pessoa jurídica estão como partes no processo de aplicação do dispositivo.163
Do exposto, resta evidente que a utilização da teoria da desconsideração da pes-
soa jurídica tem por fim imediato a declaração de ineficácia da pessoa jurídica para
aquele determinado caso.164, 165 A pessoa jurídica desconsiderada não é extinta, liqui-

163
Essa também é a conclusão que alcança André Pagani de Souza, Desconsideração da personalidade
jurídica– aspectos processuais, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 85.
164
Sobre o tema, assinalou Rubens Requião: “O mais curioso é que a ‘disregard doctrine’ não visa a anular
a personalidade jurídica, mas somente objetiva desconsiderar no caso concreto, dentro de seus limites, a
pessoa jurídica, em relação às pessoas e os bens que atrás dela se escondem. É o caso de declaração de
ineficácia especial da personalidade jurídica para determinados efeitos, prosseguindo todavia a mesma
incólume para seus outros fins legítimos” (Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica, RT
no 410, São Paulo: RT, dez. 1969, p. 14, grifo nosso). Na doutrina nacional, identificam a natureza jurídica da
desconsideração como ineficácia da pessoa jurídica, entre outros: Marçal Justen Filho, Desconsideração
da personalidade societária no direito brasileiro, São Paulo: RT, 1987, p. 83-89; Fábio Ulhoa Coelho, Curso de
direito comercial, v. 2, 5. ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 40; Calixto Salomão Filho, O novo direito societário,
3. ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 238; Osmar Vieira da Silva, Desconsideração da personalidade jurídica
– aspectos processuais, Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 105; Gilberto Gomes Bruschi, Aspectos processuais
da desconsideração da personalidade jurídica, São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2004, p. 33-37; Fredie Didier
Júnior, Regras processuais no Código Civil, 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2008, p. 6; J. Hamilton Bueno, Desconsi-
deração da personalidade jurídica. Doutrina e jurisprudência. Aspectos materiais e processuais, in: Impactos
processuais do direito civil, coord. Cassio Scarpinella Bueno, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 89; Guilherme Cal-
mon Nogueira da Gama, Desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, São Paulo: Atlas, 2009, p. 9;
e André Pagani de Souza, Desconsideração da personalidade jurídica – aspectos processuais, São Paulo:
Saraiva, 2009, p. 45.
165
Só para exemplificar, em sede jurisprudencial, cita-se parte da ementa do aresto do STJ, REsp 158.051/RJ,
Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, j. em 22/09/1998, DJ de 12/04/99, referente a caso que chocou o país:
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 187

dada ou invalidada pela desconsideração. Apenas alguns efeitos de seu ato constitu-
tivo deixam de ser produzidos no caso em julgamento (em relação a um ato, a uma
série de atos ou a um determinado espaço de tempo), permanecendo eficaz a perso-
nalização societária perante terceiros, assim como serão plenamente válidos e inteira-
mente eficazes os demais atos praticados pela empresa.
Vale dizer, não se trata de retirar a eficácia de um ato jurídico, mas de tornar
ineficaz a personalidade jurídica da sociedade episodicamente. Desse modo, os atos
praticados pela empresa cuja personificação foi desconsiderada continuam válidos e
eficazes. A aplicação da teoria da desconsideração ignora os efeitos da personificação
societária, alterando o regime jurídico relacionado aos sujeitos envolvidos na prática
do ato, submetendo os efeitos deste ao(s) sócio(s).

6.11.3 Indisponibilidade de bens na ação de improbidade e na


liquidação extrajudicial de instituições financeiras166
Como corolário da moralidade administrativa, tem-se a probidade administra-
tiva entendida como o “dever do agente público de servir à coisa pública, à Admi-
nistração, com honestidade, com boa-fé, exercendo suas funções de modo lícito,
sem aproveitar-se do Estado, ou das facilidades do cargo, quer para si, quer para
terceiros”.167
A Lei no 8.429, de 02/06/1992, regulamentou a matéria – segundo estabelecia
o art. 37, § 4o, da Constituição Federal – e contemplou, basicamente, três catego-
rias de atos de improbidade administrativa: i) que importem enriquecimento ilícito
(art. 9o); ii) que provoquem prejuízo ao erário público (art. 10); e iii) que atentem
contra os princípios da administração pública (art. 11).
Entre as sanções previstas já no texto constitucional está a indisponibilidade dos
bens daquele que cometeu o ato de improbidade o que, nos termos do art. 7o da ci-
tada lei, poderá ocorrer nos casos de enriquecimento ilícito e de prejuízo ao erário
público, esclarecendo o parágrafo único deste dispositivo que a indisponibilidade re-
cairá sobre bens que, na hipótese de enriquecimento ilícito, caracterizem o acréscimo

naufrágio do “BATEAU MOUCHE IV”, onde consta (grifado): “... 2. Acolhimento da ‘teoria da desconsideração
da personalidade jurídica’. O juiz pode julgar ineficaz a personificação societária, sempre que for usada com
abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros.(...)” No mesmo sentido: STJ, REsp 63.652/SP, Min.
Barros Monteiro, Quarta Turma, j. em 13/06/2000, DJ 21/08/2000.
166
Além dessas hipóteses de indisponibilidade, pode-se ainda citar outras: Lei no 6.435/1977, art. 71 (lei que
regula as entidades de Previdência Privada); Lei no 8.212/1991, art. 53, § 1o (ao regular a execução judicial da
dívida ativa da União); Lei no 8.397/1992, art. 4o (Medida Cautelar Fiscal); Lei no 9.656/1998, art. 24-A (Lei dos
Planos Privados de Assistência de Saúde); Lei no 11.101/2005, arts. 82, § 2o e 103 (nova Lei de Falências); Código
Tributário Nacional, art. 185-A e a insolvência civil prevista no art. 752 do Código de Processo Civil. Em todas
essas situações é plenamente aplicável o que desenvolvido no texto.
167
Marcelo Figueiredo, Probidade administrativa, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 2004, p. 40.
188 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

patrimonial dele resultante168 e, na hipótese de prejuízo, assegurem o integral ressar-


cimento do dano.169 Em qualquer dos casos, portanto, não se trata de uma indispo-
nibilidade ilimitada.
Segundo se observa do texto legal, a indisponibilidade dos bens poderá ser me-
dida adotada ainda na fase de inquérito, isto é, de investigação e apuração do ato
de improbidade (o caput do art. 7o menciona indiciado). Seja como for, deverá ser
sempre medida a ser obtida no plano judicial, de forma preparatória ou inciden-
tal170 à ação que tenha por fim o ressarcimento civil dos danos decorrentes do ato de
improbidade.
É consenso doutrinário171 que a medida judicial de indisponibilidade de bens
tem natureza cautelar, isto é, visa assegurar condições para o futuro ressarcimento
civil, pelo que, para seu deferimento, liminar ou por sentença, o órgão judicial deve
atestar uma situação emergencial (periculum in mora) e elementos fáticos e jurídicos
(fumus boni juris) que, mesmo em cognição sumária, sejam suficientes para justificar
a medida provisória.172
Por sua vez, nos termos do art. 36 da Lei no 6.024/1974, o legislador igualmen-
te previu a indisponibilidade de bens dos ex-administradores de instituição financei-
ra submetida ao regime de intervenção ou liquidação extrajudicial, como forma de
assegurar aos credores da massa o pagamento de seus créditos, o que perdurará “até
apuração e liquidação final de suas responsabilidades”.
Tal indisponibilidade atinge os bens de todos aqueles que tenham estado no
exercício das funções de administradores da instituição financeira nos doze meses

168
Em caso de enriquecimento ilícito, somente é possível tornar indisponível bens que representem acréscimo
ao patrimônio depois da realização do ato. Neste sentido, no STJ têm-se os seguintes arestos: RMS 6.182/DF,
Rel. p/ acórdão Min. Adhemar Maciel, Segunda Turma, j. em 20/02/1997, DJ 01/12/1997; REsp 196.932/SP, Rel.
Min. Garcia Vieira, Primeira Turma, j. em 18/03/1999, DJ 10/05/1999 e AgRg no REsp 422.583/PR, Rel. Min. José
Delgado, Primeira Turma, j. em 20/06/2002, DJ 09/09/2002.
169
Nesta hipótese, como o fundamento é o integral ressarcimento do dano causado, não há óbice que
sejam atingidos bens adquiridos antes da vigência da Lei no 8.429/1992, ou antes da prática ímproba ense-
jadora da apuração.
170
STF, AI 409.843-2/MG AgR, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, j. em 15/04/2003, DJ 06/06/2003 e STJ,
REsp 469.366/PR, Rel. Mina Eliana Calmon, Segunda Turma, j. em 13/05/2003, DJ 02/06/2003.
171
Marcelo Figueiredo, Probidade administrativa, 5. ed., São Paulo: Malheiros, 2004, p. 67-68; da obra coletiva
Improbidade administrativa – questões polêmicas e atuais, 2. ed., coord. Cassio Scarpinella Bueno e Pedro
Paulo de Rezende Porto Filho, tem-se: Carlos Mário Velloso Filho, A indisponibilidade de bens na Lei 8.429, de
1992, p. 121-122; Enrique Ricardo Lewandowski, Comentários acerca da indisponibilidade liminar de bens
prevista na Lei 8.429, de 1992, p. 184-186; Evane Beiguelman Kramer, Considerações acerca do sequestro de
bens de que trata a Lei 8.429/92: enfoque da questão sob a ótica da execução da sentença condenatória,
p. 189-191; Flávio Cheim Jorge e Marcelo Abelha Rodrigues, A tutela processual da probidade administrativa
(Lei 8.429, de 1992), p. 225-226; Flávio Luiz Yarshell, Lei 8.429, de 1992: ação cautelar sem correspondente
‘ação principal’?, p. 231-242; e Sergio Ferraz, Aspectos processuais na lei sobre improbidade administrativa,
p. 416-419.
172
Do STJ: MC 7.233/MT, Rel. Mina Denise Arruda, Primeira Turma, j. em 27/04/2004, DJ 17/05/2004; REsp 821.720/
DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, j. em 23/10/2007, DJ 30/11/2007 e REsp 929.483/BA, Rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 02/12/2008, DJ 17/12/2008.
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 189

anteriores ao ato de intervenção ou liquidação extrajudicial (art. 36, § 1o), bem


como poderá ser estendida a bens de gerentes e conselheiros fiscais que, por ato cul-
poso ou doloso, também realizado nos últimos doze meses, tenham concorrido para
a intervenção ou para a liquidação (art. 36, § 2o, a) e a bens de terceiros que, ainda
nos doze meses anteriores à edição do decreto interventivo ou liquidatório, tenham
realizado ato simulado de transferência ou alienação de bens com o fim de evitar os
efeitos da lei (art. 36, § 2o, b).
Para efetivar a indisponibilidade de bens de que trata a Lei no 6.024/1974, seu
art. 38 autoriza que se dê ampla publicidade à medida, mediante comunicação ao
registro público competente e às Bolsas de Valores. E, nos termos do parágrafo úni-
co do mencionado dispositivo legal, depois de recebida a comunicação, a autoridade
competente está impedida de tomar qualquer conduta em relação ao bem indispo-
nível que constitua transferência, alienação, negócio, registro etc. Não obstante o
silêncio da Lei no 8.429/1992, que regulou a improbidade administrativa, é de se
admitir providências de igual sentido quando deferida a indisponibilidade de bens
do agente ímprobo.173
A indisponibilidade de que trata a Lei no 6.024/1974, tal como aquela prevista
nos casos de improbidade administrativa, encontrará limite na responsabilidade es-
timada de cada sujeito para com o prejuízo verificado.174 Não é, portanto, ilimitada.
Estabelece, ainda, a Lei no 6.024/1974 que a indisponibilidade dos bens não
alcança os bens considerados inalienáveis ou impenhoráveis pela legislação em vigor
(art. 36, § 3o),175 assim como, aqueles que, comprovadamente, foram alienados, ce-
didos, transferidos, gravados etc. anteriormente à data da decretação da intervenção
ou da liquidação extrajudicial (art. 36, § 4o).176
Convém destacar que, em ambas as situações, embora o objetivo da indisponibi-
lidade de bens seja, em última análise, a mesma, assegurar o ressarcimento do dano
verificado, enquanto na improbidade se atribui à indisponibilidade natureza de san-
ção, nas intervenções e liquidações extrajudiciais de instituições financeiras, a indis-
ponibilidade não tem esse caráter, funcionando, apenas, como mero instrumento de
garantia de eficácia do processo instaurado para tal fim.

173
Em sentido análogo: STJ, REsp 38.615/SP, Rel. Min. Fontes de Alencar, Quarta Turma, j. em 22/03/1994, DJ
25/04/1994.
174
Fernando Orotavo Neto, Das liquidações extrajudiciais de instituições financeiras – manual do liquidado,
Rio de Janeiro: Lerfixa, 2002, p. 167.
175
STJ, REsp 100.658/RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, j. em 07/04/1999, DJ 10/04/2000.
176
O STJ tem decidido de forma diferente nos casos de improbidade, não aplicando as restrições citadas:
REsp 806.301/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em 11/12/2007, DJe 03/03/2008; AgRg no REsp 895.608/PR,
Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, j. em 15/05/2008, DJe 27/05/2008; AgRg no REsp 956.039/PR, Rel.
Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, j. em 03/06/2008, DJe 07/08/2008 e REsp 840.930/PR, Rel. Min. Eliana
Calmon, Segunda Turma, j. em 16/09/2008, DJe 07/11/2008.
190 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

Traçadas as linhas gerais da indisponibilidade de bens previstas em ambos os


diplomas legais citados, passa-se a analisar o fenômeno do ponto de vista do plano
da eficácia.
A indisponibilidade dos bens visa à proibição de alienar, negociar, transacionar,
dispor de bens e valores do sujeito que cometeu o ato de improbidade administrati-
va ou que figure como ex-administrador da instituição financeira liquidada naquele
período legal anterior ao ato interventivo ou liquidatório. Trata-se, pois, de uma res-
trição e não de uma perda do direito de propriedade, com o propósito evidente de,
por algum tempo, fazer permanecer os bens no patrimônio do sujeito, com vista de,
no futuro, e se for o caso, estes bens responderem pelos danos causados pelo pro-
prietário. Essa restrição, no entanto, não impede o uso e o gozo do bem pelo sujeito;
apenas retira, como é óbvio, a disponibilidade sobre o bem.
A indisponibilidade de bens corresponde, inegavelmente, à inalienabilidade177 e,
como tal, deve ser interpretada. Embora distintas pela maneira de suas instituições
(enquanto a inalienabilidade decorre de liberalidade, a indisponibilidade decorre de
decisão judicial) e dos interesses tutelados (na indisponibilidade é o de garantir o
ressarcimento de um dano), suas finalidades e efeitos são exatamente os mesmos:
a indisponibilidade retira do proprietário, por algum tempo, o direito de volun-
tariamente alienar ou onerar o bem, a qualquer título, que ficará “paralisado” em
seu patrimônio.
A paralisação, portanto, é integral do bem, o que significa dizer que acarreta a
sua impenhorabilidade e a sua incomunicabilidade, tal como prescreve o art. 1.911
do Código Civil. Com efeito, o que não pode ser alienado também é impenhorável,
está fora do comércio – para utilizar expressão antes contida no texto do art. 69 do
CC/1916 –, uma vez que de nada adianta suportar apreensão judicial que, futura-
mente, não poderá ser expropriado para satisfazer a obrigação. Ademais, permitir
o contrário seria burlar a restrição de inalienabilidade (indisponibilidade), porque,
embora o proprietário do bem gravado não o possa transferir por ato próprio, lhe
seria permitido contrair dívidas pelas quais responda o bem independentemente do
gravame.178

177
Está a se referir à cláusula de inalienabilidade (CC/2002, arts. 1.848 e 1.911) que poderá ser estabelecida
pela vontade dos que a tanto interessam, seja por ato inter vivos, seja causa mortis. A respeito do tema,
ver Eugênio Carlos Callioli, Cláusulas restritivas: inalienabilidade, impenhorabilidade, incomunicabilidade,
RT no 627, São Paulo: RT, jan. 1988, p. 69-82; Martha Heloísa Winkler da Costa e Silva Vianna, Das cláusulas
restritivas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade, RT no 660, São Paulo: RT, out. 1990,
p. 70-82 e Eduardo de Oliveira Leite, Comentários ao novo Código Civil, 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2003,
p. 268-277 e 492-496.
178
O STJ tem decidido com temperamentos a questão, admitindo a penhora sobre bens indisponíveis, desde
que em benefício dos próprios credores beneficiados pela indisponibilidade: REsp 200.183/SP, Rel. Min. Ruy
Rosado de Aguiar, Quarta Turma, j. em 18/05/1999, DJ 28/06/1999; REsp 201.882/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, Terceira Turma, j. em 16/08/1999, DJ 04/10/1999; REsp 113.039/MG, Rel. Min. Barros Monteiro,
Quarta Turma, j. em 06/12/1999, DJ 28/02/2000; REsp 204.668/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Eficácia e ineficácia no âmbito do processo civil 191

A indisponibilidade de bens determinada por meio de decisão judicial179 nos ca-


sos de improbidade administrativa ou nos de liquidação extrajudicial de instituição
financeira estará sempre subordinada a uma condição: à plena apuração da respon-
sabilidade do proprietário. Deve-se entender, portanto, que a indisponibilidade terá
fim quando ocorrer o pagamento definitivo de todos os credores, no caso da liqui-
dação, ou quando tiver sido ressarcido plenamente o dano, no caso da improbidade.
Da indisponibilidade resulta, necessariamente, a ineficácia da alienação ou one-
ração do bem pelo proprietário.180
Portanto, é plenamente aplicável aqui o que dito antes para a alienação de bem
penhorado (item 6.6). Estando o bem já vinculado a um processo, a indisponibili-
dade que pesa sobre ele vai perdurar e persegui-lo nas mãos de quem quer que seja.
Todavia, para tanto, será preciso comprovar a ciência da indisponibilidade pelo ter-
ceiro, razão pela qual é fundamental dar-se a máxima publicidade ao ato de indis-
ponibilidade. A tendência, pois, tal como salientado antes, é presumir a boa-fé do
terceiro adquirente, recaindo sobre o interessado o ônus de provar que o terceiro
tinha ciência ou deveria ter a ciência da existência da indisponibilidade do bem. Por-
tanto, a alienação de bem indisponível importa ineficácia – nos mesmos moldes da
que ocorre nos caso de fraude à execução: relativa, parcial e inicial –, por se tratar
de ato de disposição que atenta contra uma situação processual de natureza pública,
violando a função jurisdicional que o Estado exerce no processo.

Quarta Turma, j. em 21/03/2002, DJ 29/04/2002 e REsp 757.598/MG – Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, j. em
17/05/2007, DJ 31/05/2007.
179
Não é demais assinalar que a Constituição Federal de 1988 consagra a propriedade como direito fun-
damental (art. 5o, XXII) e garante que ninguém poderá ser dela privado de forma arbitrária, sem o devido
processo legal (art. 5o, LIV).
180
Excepcionalmente pode-se admitir a alienação do bem indisponível, tal como previsto no parágrafo úni-
co do art. 1.911 do CC/2002: por desapropriação de bens ou mediante sub-rogação autorizada judicialmen-
te. Além disso, poder-se-ia imaginar o juiz autorizar a alienação, ainda que sem sub-rogação, em casos de
necessidade alimentar ou tratamento de saúde (Eugênio Carlos Callioli, Cláusulas restritivas: inalienabilida-
de, impenhorabilidade, incomunicabilidade, RT no 627, São Paulo: RT, jan. 1988, p. 75).
CONCLUSÕES

Ao término deste livro, chega-se às seguintes conclusões:


1. Embora processo e procedimento apresentem distinções, não há por que se-
parar a noção de procedimento da de processo, ainda mais quando o sistema norma-
tivo revela que há entre eles uma relação de inclusão e, por isso mesmo, é possível
examinar o processo a partir do procedimento.
2. A organização do procedimento, isto é, a regulação da relação concatena-
da entre os atos praticados no curso do processo, empresta à atividade racionali-
zação, ordem, previsibilidade e eficiência prática; além de servir de freio aos impulsos
de todos aqueles que atuam no processo, proporcionando-lhes uma participação
isonômica.
3. A eficiência do funcionamento do sistema processual depende do ato proces-
sual em si considerado e do conjunto e da sequência que formam (procedimento);
tudo isso analisado à luz dos resultados que deles emanam e de sua adequação aos
efeitos desejados.
4. No processo somente se realizam atos processuais, que são espécies de ato
jurídico. Não é correto reconhecer a existência de fatos jurídicos processuais e de
negócios jurídicos processuais. Os acontecimentos que independem da vontade dos
sujeitos que o integram (fatos jurídicos) e as manifestações de vontade unilateral ou
bilateral dirigidas a um fim (negócios jurídicos) projetam efeitos no processo por
meio de atos inseridos no procedimento, ou seja, tais fatos ou negócios jurídicos se-
rão sempre objeto de atos processuais; serão, portanto, “processualizados”.
5. Define-se ato processual como sendo aquele que somente pode ser volunta-
riamente praticado no processo, por qualquer sujeito presente ou estranho à relação
194 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

jurídica processual, que integre o conjunto de atos ligados entre si em razão de um


efeito final, que também deverá ser processual.
6. Como nem todo ato realizado no processo é ato processual, pode-se distin-
guir ato do processo de ato processual, aquele sendo gênero de que este é espécie.
Não são atos processuais e, portanto, são atos do processo, aqueles que, mesmo rea-
lizados no curso do processo, não integram o procedimento e, portanto, não exer-
cem qualquer influência sobre o processo. Assim, a processualidade que dá nota ao
ato e permite denominá-lo como processual e não meramente como do processo é a
sua inserção no procedimento e o consequente efeito que produz no processo, inde-
pendentemente do sujeito que o realiza.
7. Embora cada ato processual tenha exigências próprias para sua realização e
efeito, elas são desprezadas para a determinação de suas características, visto que es-
sas são concebidas segundo a relação de um ato com outro, ou seja, à luz da noção
de procedimento.
7.1. Nesse passo, três são as características do ato processual: i) a interligação;
ii) a vinculação; e iii) a interdependência. A interligação identifica que o ato proces-
sual não se apresenta de maneira isolada no processo, integrando sempre o proce-
dimento. A vinculação destaca que os atos estão ajustados tendo em conta o fim
comum a que se destinam, isto é, os atos vinculam-se por provocar e preparar o
efeito final a ser alcançado ao término do procedimento (unidade de finalidade). A
interdependência demonstra a estrutura fechada do procedimento, em que um ato é
dependente de outro que lhe é anterior assim como exercerá influência sobre aquele
que lhe será posterior; ou seja, diz respeito à sucessão dos atos em que um é causa
e/ou efeito do outro.
8. O ato processual apresenta uma classificação subjetiva, a partir do sujeito que
o pratica no processo e uma classificação objetiva, que em sentido amplo espelha a
repercussão que o ato produz no processo. Embora o diploma processual nacional
tenha adotado a classificação subjetiva (CPC, arts. 158 a 171), o critério objetivo é
considerado de maior rigor científico, por classificar o ato sem deixar de considerá-lo
na perspectiva do procedimento ou de suas fases; além de ser mais didática, por faci-
litar a compreensão do processo a partir do procedimento.
9. Por meio da forma, o ato é introduzido no processo, comunicando-se e trans-
mitindo-se aos demais sujeitos que nele atuam, ou seja, passa da esfera intelectual de
quem o cumpre ao âmbito da realidade objetiva, gerando expectativas de comporta-
mento entre esses sujeitos e, assim, produzindo efeitos e influenciando o desenvol-
vimento do procedimento.
9.1. A forma do ato processual deve ser considerada relativa, pois dependendo
da disciplina positiva a ela inerente, revela-se a maneira como o ato deve se exteriori-
zar, isto é, as solenidades a serem observadas na sua celebração (o modo como deve
Conclusões 195

ser praticado), como também estabelece o seu conteúdo e outros fatores externos
(lugar e tempo).
9.2. O diploma processual pátrio contemplou o princípio da instrumentalidade
das formas (CPC, art. 244) cuja orientação permite concluir que o respeito à forma
deve ser medido pela possibilidade de o ato atingir o mesmo fim ainda que sob outra
forma. Com vistas a aproveitar ao máximo os atos processuais, importa menos o ato
em si e mais a sua finalidade.
9.3. Como um importante e eficaz instrumento de combate à rigidez das for-
mas processuais, merece destaque o princípio da fungibilidade, aqui entendido como
uma tolerância aos atos que não se apresentem conforme o padrão legal, isto é, apro-
veitando-os como se correspondessem ao mecanismo processual adequado, empres-
tando-lhes o mesmo resultado.
9.4. A previsão da forma dos atos processuais está relacionada: i) com a maneira
como os sujeitos devem atuar no curso do processo, estabelecendo, portanto, o limi-
te de suas atividades; ii) com as consequências do ato processual, garantindo que este
cumpra sua finalidade prevista na lei; iii) com a comunicação dos sujeitos que operam
no processo; iv) com a documentação dos atos processuais e, v) com a possibilidade
de controle sobre os atos processuais.
10. A preclusão contribui para a eficiência do procedimento, porque permite
que os atos processuais sejam realizados com estrita obediência da regularidade for-
mal e da ordem prefixada em lei, com vistas a alcançar a prestação da tutela jurisdi-
cional em tempo razoável e sem retrocessos, acréscimos ou supressões.
10.1. A preclusão pode atingir atos das partes e do juiz. São modalidades tradi-
cionais de preclusão dirigida às partes: a) temporal, decorrente da não realização do
ato no prazo ou termo fixados na lei processual (CPC, art. 183); b) lógica, oriun-
da da incompatibilidade da prática de um ato processual com outro já realizado; e
c) consumativa, que ocorre quando o ato já foi validamente praticado e, por isso
mesmo, não mais poderá sê-lo. Em relação ao juiz, são duas as modalidades de pre-
clusão: i) judicial funcional e ii) judicial hierárquica. Em ambas o juiz está impedido
de redecidir questões já resolvidas; no entanto, na primeira hipótese, o impedimento
diz respeito às questões incidentais já enfrentadas pelo próprio juízo e que restaram
irrecorridas e, na segunda, as questões foram definidas por órgãos hierarquicamente
superiores, impedindo, pois, sua reapreciação em instância inferior.
11. O procedimento diz respeito ao modo como se desenvolve o processo e é
composto por um complexo de atos que se sucedem, formando diversas fases, até a
prestação da tutela jurisdicional. O procedimento corresponde a um esquema for-
mal que preestabelece todo o caminho a ser percorrido até o seu término anormal
ou, preferencialmente, mediante a prestação da tutela jurisdicional quanto ao méri-
to, não só definindo as posições ativas e passivas dos sujeitos que atuam no processo,
196 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

mas também a forma e o tempo, além da ordem em que os atos processuais devem
se apresentar nesse percurso.
11.1. Embora o sistema procedimental brasileiro seja rígido, isto é, imponha
observar rigorosamente as fases previamente determinadas em lei, não se admitindo
que a ordem dos atos seja alterada pelas partes ou pelo juiz, a doutrina sustenta não
se poder descartar que se promova alguma alteração no modelo procedimental tra-
çado pelo legislador, quer pelas partes quer pelo juiz. Trata-se de nítida tentativa de
flexibilização do procedimento, fundada na constatação de que a rigidez formal se
apresenta incompatível com os contornos atuais do processo, em que deve prevalecer
o resultado sobre a forma. Na verdade, a mencionada flexibilização do procedimento
fundamenta-se no princípio da instrumentalidade das formas, ampliado para não só
alcançar os atos da série, mas todo o procedimento. No entanto, é preciso que essa
flexibilização, desde que admitida em norma processual, observe critérios e, assim,
ocorra de maneira equilibrada, não gerando insegurança e, ainda, mantendo um mí-
nimo de previsibilidade aos litigantes, evitando-se que os fins justifiquem os meios.
12. A análise do ato processual considerado em si e da sua interligação com ou-
tros atos da série – que permite avaliar o próprio processo, a relação jurídica proces-
sual e o procedimento – pode ser feita à luz dos planos da existência, da validade e
da eficácia.
13. Ao se falar em existência no plano processual, quatro são os ângulos de análi-
se possíveis: a) a existência do processo; b) a existência da relação jurídica processual;
c) a existência do procedimento e, d) a existência do ato processual.
13.1. A investidura de jurisdição é o único pressuposto que não é examinado no
interior do próprio processo, sendo-lhe, necessariamente prévio, sem o qual, por-
tanto, não há como se falar em processo. Portanto, somente inexistirá processo se
o procedimento não tiver sido desenvolvido perante órgão investido de jurisdição.
13.2. A noção de processo deve ser separada da de relação jurídica processual,
porque esta surge daquele. A relação processual vai se formando gradualmente de-
pois do início do processo, sendo que, para se considerar existente a relação jurídi-
ca processual exigem-se dois elementos: a existência de processo e a existência de
citação do réu.
13.3. A existência do procedimento se confunde com a existência do processo,
ou seja, basta que a atividade jurisdicional seja desencadeada, por provocação ou por
atividade de ofício do juiz, para que se tenha a existência do procedimento.
13.4. A existência do ato jurídico processual pressupõe a presença dos seguin-
tes elementos essenciais: sujeito, objeto e forma. A inexistência do ato processual,
seja ele qual for, jamais importará em inexistência do procedimento ou do processo.
Para que o ato processual seja reconhecidamente inexistente, faz-se necessário um
pronunciamento judicial que assim o declare. O ato processual inexistente pode ser
sanado mediante seu suprimento por outro, pois o procedimento é uma cadeia de
Conclusões 197

atos cuja ausência de um ato poderá tornar irregular o prosseguimento do processo


dali para frente.
14. No plano processual, é possível analisar a validade do procedimento e do ato
processual. Não se pode discutir a validade do processo e da relação jurídica proces-
sual, pois eles apenas existem ou não existem, carecendo de utilidade perquirir se são
válidos ou não.
14.1. A validade do procedimento depende da perfeição de cada ato processual
isolado que o integra e da perfeição do contexto global dos atos, cujo conjunto não
pode ser suprimido ou alterado. Seja como for, não pode haver a nulidade de todo
o procedimento.
14.2. Para que seja reputado válido, o ato processual deverá obedecer às exigên-
cias qualitativas dos seus elementos essenciais: sujeito, objeto e forma.
14.3. Somente se poderá falar em invalidade processual depois de uma aprecia-
ção judicial. Até a manifestação jurisdicional, o ato pode ser desconforme o seu mo-
delo legal, mas jamais se pode dizê-lo nulo. Ou seja, o sistema legal trabalha com a
presunção de que todo ato processual é válido até que se decida em sentido contrá-
rio, de maneira fundamentada. E, para que o ato seja invalidado, embora seja neces-
sário e importante avaliar a conduta praticada de forma atípica, é ainda mais relevante
avaliar as consequências dessa atipicidade perante o procedimento (CPC, art. 244).
Toda e qualquer invalidade, mesmo aquelas que tradicionalmente se admite o juiz
conhecer de ofício, somente podem ser decretadas após prévio debate com as partes,
sob pena de violação ao princípio do contraditório.
14.4. Em que pese o esforço doutrinário, calcado no sistema positivo, de catalo-
gar as nulidades, não há como se aceitar a existência de uma progressiva gradação de
vícios que, mesmo depois de identificados, não apresentam uma definição precisa e
segura, nem mesmo se sujeitam a um tratamento uniforme. Por isso, é mais correto
apenas tratar do gênero nulidade.
14.5. Todo ato processual atípico, seja proveniente de atividade da parte ou do
juiz e de seus auxiliares, está sujeito ao exame de sua validade.
14.6. A invalidação é a decisão judicial pela qual se eliminam ou se desfazem um
ato processual e os demais dele dependentes (CPC, art. 248, 1a parte), por terem
sido produzidos em dissonância com a ordem jurídica e terem comprometido os fins
do procedimento ou do processo. O juiz ou tribunal poderá invalidar o ato proces-
sual ou o procedimento, quando provocado ou de ofício, dependendo da reação do
ordenamento jurídico com relação ao ato processual viciado e seus efeitos. Segun-
do se infere do próprio sistema jurídico-positivo, são pressupostos que condicionam
a invalidação: a) a existência de um vício no ato ou no procedimento que macule
seus fins perante o processo (CPC, art. 244); b) que a nulidade não seja imputável
a quem pede sua declaração (CPC, art. 243); c) não tenha ocorrido a preclusão, a
prescrição ou a decadência, isto é, o decurso de tempo não seja um obstáculo ao
198 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

reconhecimento da nulidade (CPC, art. 245); d) que o ato processual inválido não
tenha sido sanado.
15. O estudo sistemático dos planos da existência, da validade e da eficácia no
âmbito processual, seguindo a mesma sorte do que se observa em outros ramos do
Direito, não se apresenta suficientemente amadurecido, razão pela qual ainda é fre-
quente o baralhamento dos conceitos e das expressões terminológicas, além da im-
precisão de seus contornos. Tal estado negativo reflete-se de forma mais sensível no
plano da eficácia, cujo objeto (os efeitos) costuma ser estudado dentro dos outros
planos ou mesmo fora do ambiente técnico-jurídico (sociológico, por exemplo).
15.1. O estado de incerteza terminológica da doutrina decorre especialmente
da falta de clareza na individuação do conceito de ineficácia, porque os vícios do ato
jurídico são sentidos no plano da eficácia e, por isso mesmo, não raro se identifica a
nulidade ou a inexistência com base na negação de efeitos.
15.2. Não parece que o tema da eficácia tenha recebido um tímido desenvol-
vimento doutrinário. Talvez tenha sido pouca a sua divulgação ou a atenção a ele
dispensada, o que até aqui impediu uma melhor compreensão de sua importância e
aplicação.
15.3. É consenso que a eficácia não apresenta um conceito unívoco, sendo que
dois de seus enfoques interessaram mais para sua análise em âmbito processual: i) o
conjunto das consequências/efeitos imputados pelas normas jurídicas processuais ao
ato jurídico processual, isoladamente considerado ou em série; e ii) a efetiva realiza-
ção dessas consequências no meio social a que se destina.
15.4. Não apenas por razões didáticas, procurou-se definir a dimensão da eficá-
cia no processo, no procedimento e no ato processual em si considerado. Destarte,
a estrutura processual é construída a partir desses três pilares que, embora evidente-
mente conexos e vinculados, apresentam nuances de análise distinta e, portanto, en-
sejam diferentes limites teóricos e práticos em relação à eficácia.
15.5. A eficácia do processo denomina-se efetividade processual, significando
que o processo será eficaz se a tutela jurisdicional prestada for apta a dirimir os confli-
tos de interesses ou a afastar os obstáculos surgidos no meio social. Nessa definição,
como se percebe, predomina o enfoque social do conceito de eficácia.
15.6. Analisada a eficácia no âmbito do modelo de procedimento, é de designá-la
como eficiência processual. A eficácia do procedimento foi construída segundo a
premissa de que, conforme varie o Direito que esteja a exigir uma tutela jurisdicional
mediante o processo, este deve ser desenvolvido tendo em conta as peculiaridades
desse mesmo Direito. Logo, a eficácia do modelo de procedimento depende de sua
elaboração por normas processuais que assegurem um “modo de ser” equilibrado,
isto é, sem perder de vista o escopo a ser alcançado no caso concreto, apresente-se
seguro e previsível, com formas simples, um custo baixo e que permita seu desenrolar
com o menor gasto de tempo possível. Todavia, a eficiência do procedimento não se
Conclusões 199

resume apenas ao seu modelo legal, dependendo ainda da capacitação dos operado-
res do Direito em geral e também da estrutura judiciária.
15.7. A violação ao contraditório não deve ser tomada como uma nulidade, mas
como uma ineficácia que visa preservar a esfera jurídica daquele que dele não parti-
cipou. Na verdade, tal ofensa caracteriza a ineficiência do procedimento em que se
verificou.
15.8. Em relação ao ato processual, é de se falar em eficácia processual stricto sen-
su, para compreender propriamente as consequências prático-jurídicas que esse ato
produz perante a cadeia procedimental e, como tal, para o alcance do escopo do pro-
cesso. Para o ato processual produzir a eficácia (interna) dele esperada precisa respei-
tar três fatores: a) ter sido realizado por sujeito com poder processual de praticá-lo;
b) ter sido cumprido com respeito ao limite de tempo que é dado para sua realização;
c) ter sido realizado no lugar procedimental que lhe é próprio.
15.9. O poder processual para a prática do ato para as partes e terceiros é aferi-
do pela legitimidade que é a capacidade específica para a prática de determinado ato.
A legitimidade ad causam poderá ser bastante para aferir se o ato praticado é eficaz,
mas, por vezes ainda, será necessário avaliar outros fatores, tais como o momento em
que o ato foi praticado perante a cadeia procedimental. Por sua vez, em relação ao
juiz, a competência e a imparcialidade são os fatores de eficácia do ato judicial.
15.10. Ato intempestivo é, em princípio, ato ineficaz. Essa ineficácia oriunda
de ato intempestivo pode não ser total, uma vez que o ato pode produzir eficácia
parcial.
15.11. A exigência de o ato processual ser praticado no lugar procedimental que
lhe é próprio guarda relação com as suas características: interligação, vinculação e
interdependência. Cada ato processual é realizado para integrar o procedimento (in-
terligação) e, por isso mesmo, todos projetam efeitos à série para provocar e preparar
o efeito final a ser alcançado ao término do procedimento (vinculação). Daí por que
um ato é dependente de outro que lhe é anterior assim como exercerá influência so-
bre aquele que lhe será posterior (interdependência). Assim, como o procedimento
se desenvolve mediante uma sucessão de atos em que um é causa e/ou efeito do ou-
tro, é importante que o ato seja praticado na ordem (no lugar) previamente estabe-
lecida a fim de que a cadeia procedimental avance sem falhas.
15.12. A eficácia dos atos processuais não tem como pressuposto indispensável
a sua própria existência e validade. Daí que é possível falar em eficácia do ato proces-
sual inexistente ou inválido.
15.13. Desde que se aceite a existência de condições legais, é mesmo possível
vislumbrar a existência e a aceitação pelo sistema positivo, de atos processuais con-
dicionais, sejam atos das partes ou decisões ou sentenças. Os atos das partes podem,
ainda, mais raramente, estar sujeitos à condição voluntária.
200 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

15.14. Define-se o efeito processual como sendo toda e qualquer alteração opera-
da no mundo prático-jurídico que tenha por fonte o ato processual.
15.15. O ato processual apresenta as mesmas modalidades eficaciais que tem
o ato jurídico em geral, sem prejuízo de serem identificadas outras que lhe sejam
específicas.
15.16. Ainda quanto aos efeitos do ato processual, é possível sua modulação em
qualquer grau de jurisdição, quando isto se mostrar necessário.
15.17. Qualquer que seja a sorte da demanda (procedente, improcedente ou
extinta sem resolução de mérito), os efeitos substanciais da constituição do devedor
em mora e da interrupção da prescrição, vinculados ao ato citatório, não podem ser
infirmados. Tais efeitos somente não ocorrerão em caso de extinção sem resolução
de mérito, no caso de a citação ter sido nula (CC, art. 202, I) ou a causa da extinção
ter sido o abandono da causa pelo autor.
15.18. O processo será inefetivo quando não for eficaz no sentido social, isto é,
quando o processo não proporcionar a paz social entre os litigantes.
15.19. A ineficiência do procedimento pode ser atribuída ao legislador e ao
próprio juiz, toda vez que se verificar que o procedimento, em abstrato (enquanto
norma processual) ou em concreto (aplicado pelo magistrado no caso em concreto),
impediu, impede ou impedirá de assegurar a plenitude das garantias do devido pro-
cesso legal, em especial a realização do contraditório.
15.20. Também será hipótese de ineficiência do procedimento a presença da-
queles fatos que a doutrina identifica como impeditivos: perempção, litispendência,
coisa julgada material e convenção de arbitragem, que são costumeiramente aponta-
dos como requisitos de validade objetivos negativos ou extrínsecos do processo, ou
também chamados de pressupostos processuais negativos.
15.21. Tem-se a ineficácia estrita do ato processual quando ele, por alguma causa
jurídica ou fática, temporária ou permanente, não produz ou deixa de produzir seus
efeitos típicos. A ineficácia é um momento em que o ato não produziu ou deixou de
produzir o efeito esperado. Em outras palavras, a ineficácia decorre de uma inapti-
dão funcional do ato que, embora existente e válido, devido a uma causa que pode
posteriormente desaparecer, não produz ou deixa de produzir seus efeitos típicos.
15.22. O ato processual poderá ser ineficaz quando: a) tenha sido realizado por
quem não tinha o poder processual de praticá-lo; b) tenha sido cumprido intem-
pestivamente; c) tenha sido realizado fora do lugar procedimental que lhe é pró-
prio. Essas situações de ineficácia processual estrita podem ser designadas como de
inadmissibilidade.
15.23. A ineficácia estrita do ato processual deve ser compreendida dentro da
ideia de que não há ato jurídico absolutamente ineficaz. Isso significa que um ato em
princípio ineficaz ou inadmissível pode produzir efeitos, mesmo os típicos ou outros
Conclusões 201

que não sejam aqueles relativos ao seu fim, até e ainda que sua ineficácia seja reco-
nhecida pela autoridade competente.
15.24. A ineficácia do ato processual poderá se dar por ato voluntário da parte
interessada ou mediante reconhecimento judicial. O reconhecimento judicial poderá
ser provocado pelo interessado, assim como poderá se dar ex officio.
15.25. O pronunciamento judicial que trata da ineficácia do ato processual tem
natureza declaratória. Esse comando judicial terá por fim restituir as partes ao statu
quo ante, o que permitirá, além da eficácia declaratória, eficácias de natureza des-
constitutiva, mandamental e executiva.
15.26. A citação é fator de eficácia do processo em relação ao réu, nos termos
dos arts. 219 e 263, do Código de Processo Civil.
15.27. A sentença proferida em face de só alguns litisconsortes necessários de-
verá ser tida como ineficaz perante os sujeitos que não foram devidamente citados.
Em se tratando de litisconsórcio necessário unitário, em que a decisão precisa, por
força da comunhão dos interesses em disputa, uma decisão uniforme/una, a even-
tual falha que acarrete a não participação de todos os litisconsortes poderá importar
numa sentença que será ineficaz a todos os sujeitos que formam o litisconsórcio. Do
contrário, admitindo-se que a decisão possa ser diferente entre os sujeitos que com-
põem o litisconsórcio, isto é, sendo caso de litisconsórcio necessário simples, é pos-
sível conceber que a decisão somente será ineficaz para aqueles que não participaram
do processo e plenamente eficaz para os que deste participaram regularmente. Seja
como for, caso o litisconsorte preterido tenha sido beneficiado pela decisão, poderá
se aproveitar plenamente da eficácia dela emanada; é o que se poderia designar como
eficácia secundum eventum litis.
15.28. O efeito da preclusão é a inadmissibilidade do ato processual praticado
em sua ofensa. Mas isso não significa a completa ineficácia do ato praticado em vio-
lação à preclusão, porque essa ineficácia pode não ser total, nem absoluta.
15.29. A transferência da coisa litigiosa ou do direito litigioso é plenamente exis-
tente, válida e eficaz, tanto no plano do direito material como no processual.
15.30. O ato em fraude à execução ou de alienação de bem penhorado/onera-
do é ineficaz no âmbito processual. A ineficácia do ato é relativa: apenas perante o
credor que é parte no processo em que a fraude à execução foi verificada, permane-
cendo válido e eficaz o negócio jurídico entre o devedor alienante e o terceiro adqui-
rente. É, ainda, uma ineficácia parcial, porque a transferência ou o gravame operado
não deixa de ser válido e eficaz, apenas não exime que o bem alienado/onerado res-
ponda pelas obrigações de quem o aliena. Também é uma ineficácia inicial, pois o
bem continua sujeito aos atos executivos como se jamais tivesse ocorrido a alienação
ou o gravame, a fim de que possa ser satisfeita a dívida.
202 PROCESSO, PROCEDIMENTO E ATO PROCESSUAL

15.31. A eficácia probatória guarda relação com a força persuasiva que terá
na formação da convicção do juiz e, por isso, sua análise integra o momento de
sua valoração. O juízo de valoração da prova (de sua eficácia) deve seguir o de sua
admissibilidade.
15.32. A tipicidade, isto é, a atribuição pela lei processual a suporte fático por ela
reconhecido como necessário para o desencadeamento da atividade executiva, é algo
que somente deveria ser analisado no âmbito dos títulos executivos de natureza ex-
trajudicial. Os provimentos judiciais poderão ter sempre, em maior ou menor escala,
eficácia executiva, independentemente de catalogação legal.
15.33. O provimento cautelar tem eficácia de assegurar o processo principal e o
antecipatório tem eficácia de satisfazer faticamente o direito para uma das partes. A
eficácia do provimento, seja cautelar ou antecipatório, perdura enquanto se mostre
útil em minimizar os malefícios do tempo do processo.
15.34. O não cumprimento do ônus previsto nos incisos I e II do art. 808 do
Código de Processo Civil enseja tão só a cessação da eficácia do provimento liminar-
mente concedido e não a extinção do processo, que deve prosseguir, para que a final
seja extinto, com ou sem resolução de mérito.
15.35. A reclamação funciona como forma de proteção a ultrajes à eficácia das
decisões dos tribunais.
15.36. A decisão revocatória, seja fundada nos casos listados no art. 129 ou
tenha por fundamento o art. 130, ambos da Lei no 11.101/2005, tem por fim, me-
diante decisão declaratória, retirar a eficácia de determinados atos praticados pelo
devedor, voltando-os para trás, mas tão somente em relação à massa falida, a fim de
recompor e ampliar o acervo da massa, com a apreensão dos bens correspondentes
ao ato ineficaz.
15.37. A utilização da teoria da desconsideração da pessoa jurídica tem por fim
imediato a declaração de ineficácia da pessoa jurídica para aquele determinado caso.
Alguns efeitos de seu ato constitutivo deixam de ser produzidos no caso em jul-
gamento (em relação a um ato, a uma série de atos ou a um determinado espaço
de tempo), permanecendo eficaz a personalização societária perante terceiros, assim
como serão plenamente válidos e inteiramente eficazes os demais atos praticados pela
empresa.
15.38. A indisponibilidade de bens determinada por meio de decisão judicial
nos casos de improbidade administrativa (CF/88, art. 37, § 4o e Lei no 8.429/1992,
art. 7o) ou nos de liquidação extrajudicial de instituição financeira (Lei no 6.024/1974,
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proprietário.
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