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OS FUNDAMENTOS DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA

FUNDAMENTOS

Josemária da Silva Patrício

Resumo

Este trabalho consiste em apresentar os fundamentos do Conhecimento de Inteligência, ao


contemplar a possibilidade, a origem e a essência deste. O fato de a razão humana ser ou não
capaz de representar adequadamente a realidade é o cerne de uma reflexão fundamental para
legitimar o Conhecimento. Dessa forma, analisa-se a interpretação das várias correntes filosófi-
cas que influenciam o Conhecimento de Inteligência, as quais são instrumentos de um perma-
nente debate acerca dos critérios para validá-lo. O empirismo, o racionalismo, o fenomenologismo,
o intuicionismo, o materialismo dialético, o pragmatismo, o estruturalismo, o construtivismo e
pós-modernismo são algumas das abordagens filosóficas determinantes para a construção da
Teoria do Conhecimento. A discussão a respeito de quais aspectos seriam preponderantes – a
experiência ou a razão, a realidade ou a consciência, o sujeito ou o objeto, entre outros –
também é importante para definir qual seria o arcabouço teórico apropriado para fundamentar
a produção do Conhecimento na Atividade de Inteligência.

E ste trabalho objetiva argumentar so-


bre os fundamentos do Conhecimento
de Inteligência, os quais suscitam diver-
estudos sobre a relação da consciência e
a realidade e se a nossa mente é capaz de
conhecer e representar adequadamente o
sas indagações, sendo uma delas a mundo que nos circunda. Esses estudos
absorção, pela Atividade de Inteligência, envolveram filósofos como Platão,
das mesmas questões da filosofia que Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino,
versam sobre a possibilidade, a origem e Descartes, Locke, Kant, Husserl,
a essência do conhecimento. Heidegger, Sartre, Foucault, Jacob
Bazarian e Marilena Chauí.
Considerando que os pensadores das
questões fundamentais da filosofia se de- Também foram pesquisados os fundamen-
dicaram e se dedicam à busca da verdade tos teóricos produzidos pelo Serviço Na-
do conhecimento, o que os leva a optar cional de Informações (SNI) para compre-
por diversos caminhos e inúmeras varian- ender as razões pelas quais os
tes que traduzem o interesse de cada seg- doutrinadores da época buscaram exata-
mento das ciências particulares e das cul- mente esses fundamentos que até hoje são
turas em geral, diante de tal diversidade utilizados. Tendo encontrado uma apre-
de entendimento, passei a procurar junto sentação da Teoria do Conhecimento com
a alguns pensadores - antigos, modernos explicações das várias concepções que
e pós-modernos - que desenvolveram compõem esta teoria, e mais o seguinte:

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Josemária da Silva Patrício

Na Atividade de Informações, a produção Segundo filósofos modernos, os funda-


do conhecimento final é feita, inicialmente, mentos do conhecimento são estudados
pela apreensão dos fatos através dos
sentidos externos; posteriormente, aqueles
pela filosofia. Tais fundamentos refletem
sofrerão um processo de elaboração mental as circunstâncias em que ocorrem as for-
do analista. Dentro desse enfoque, a mulações de teorias, as quais traduzem a
Atividade de Informações enquadra-se realidade dos cenários de cada época. Por
dentro do intelectualismo
intelectualismo, na medida em isso, a primeira indagação deste trabalho
que o informe é o relato, a observação ou
é a que o título sugere: FFundamentos
undamentos do
o registro de um fato (logo, é empírico) e a
informação é resultante da integração e Conhecimento de Inteligência.
processamento de todos os informes
disponíveis sobre o assunto (portanto, é um A pr odução de Conhecimento de Inteli-
produção
processo racional). A posição do analista gência utiliza uma metodologia baseada
de informações, na produção do nas regras cartesianas e esse conheci-
conhecimento, deve ser objetiva mento deve ser ver dadeir
verdadeir
dadeiroo ou pr ovável,
provável,
(eliminando todo o subjetivismo ou opiniões
particulares e pessoais que possam ser
fundamentando suas conclusões em evi-
introduzidas em suas indagações) e dências contidas nas frações significati-
caracterizada por um realismo crítico
crítico, ou vas destacadas nos fatos e situações em
seja, admitindo a possibilidade da existência produção. O pr
produção. ofissional de inteligên-
profissional
de um engano ou erro no julgamento da cia, usando a metodologia adotada, for for--
realidade dos fatos, irá questioná-los
incessantemente, buscando o
mula uma imagem impar cial e objetiva
imparcial
convencimento sobre a verdade dos em sua mente que deverá cor responder
corresponder
mesmos. A pesquisa efetuada pelo analista, totalmente ao objeto (fato ou situação).
durante as atividades desenvolvidas para a Este é o discurso contido nos
produção do conhecimento, caracteriza-se ensinamentos da Escola de Inteligência
pelo ceticismo metódico
metódico, pois que os
(Esint) (grifo nosso).
informes deverão ser escoimados ou
decantados de seus falsos valores. Por outro
lado, ao elaborar a sua informação, o O mencionado discurso estaria fundamen-
analista não pode deixar de levar em conta tado na Doutrina Nacional de Inteligên-
o pragmatismo dos seus trabalhos, cia, a qual dispõe sobre os fundamentos
preocupando-se com o grau de utilidade em seu preâmbulo:
que o conhecimento final produzido irá ter
para quem vai dele se utilizar. Segundo o
resumo visto sobre a Teoria do Para garantia de sua eficácia, a Doutrina
Conhecimento filosófico, podemos Nacional de Inteligência adota como
estabelecer as relações de analogia com o fundamentos, de um lado, a teoria de
Conhecimento da Atividade de sentido especulativo e universal e, de
Informações. (QUEIROZ NETO, 1984, p. outro, a própria realidade em suas
10, grifo nosso). dimensões interna e externa. Do primeiro
fundamento, a teoria, derivam pro-
Com estes dados, foi possível estabele- posições situadas predominantemente no
cer uma trajetória de argumentos para plano do dever ser; do segundo,
reflexão e obtenção do que se procura realidade, emergem preceitos que se
sobre as questões do conhecimento e so- colocam basicamente na ordem do ser.
O correto entrosamento dessas pro-
bre esse modo tão singular de produção
posições e desses preceitos garante à
de conhecimento que se dá no âmbito da Doutrina Nacional de Inteligência caráter
Atividade de Inteligência, e assim poder de atualidade e praticidade. (SISTEMA...,
atingir o objetivo proposto. 2004, p. 12).

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

O teor do discurso e a teoria de sentido de representação de fatos e situações pro-


especulativo e universal referida na dou- duzidas pela mente especializada do pro-
trina me levam a considerar alguns aspec- fissional de Inteligência, e considerando
tos. A mencionada teoria revela um am- a missão atribuída à Atividade de Inteli-
plo leque de possibilidades, porém, im- gência, conforme o conceito supracitado,
precisas ao não indicar nominalmente qual deve-se entender a importância da ado-
o referencial teórico que fundamenta a ção de fundamentos filosóficos que sus-
produção de conhecimentos, fato que não tentem um arcabouço teórico condizente
ocorre com o discurso - baseado no con- com os interesses desta atividade. Para
teúdo da nota de aula denominada Pro- argumentar sobre esses fundamentos,
dução de Conhecimentos - no qual se necessário se faz lembrar um pouco da
identifica, de forma explícita, fundamen- história e do conteúdo da teoria adotada
tos da Teoria do Conhecimento formula-
pela Inteligência para melhor visualizar a
da no século XVII, sistematizada por John
razão da escolha.
Locke e inspirada no racionalismo, afir-
mando a capacidade que o homem tem
de conhecer a realidade que o circunda.
Com uma posição de
mediação entre o
Outro aspecto e que resulta desta
constatação, é o de explicitar em que con-
racionalismo e o empirismo,
siste a Teoria do Conhecimento, para de- sur giu uma orientação
surgiu
pois identificar sua correlação com o dis- epistemológica denominada
curso e assim verificar quais fundamentos
são utilizados pela Atividade de Inteligên- Intelectualismo afirmando
cia. Para compreendermos como estes fun- que o conhecimento tem a
damentos seriam utilizados e o porquê da participação de ambos, pois
sua adoção, é necessário em primeiro lu-
gar definir o que é Inteligência. enquanto o racionalismo
xistência
participa com a eexistência
A doutrina preconiza que Inteligência é:
de juízos necessários ao
[...] o exercício permanente de ações pensamento e com validade
especializadas orientadas para obtenção
de dados, produção e difusão de
universal, o empirismo
conhecimentos, com vistas ao sustenta que retira os
assessoramento de autoridades
governamentais, nos respectivos níveis e elementos desses juízos
áreas de atribuição, para o planejamento,
a execução e o acompanhamento das
xperiência.
da eexperiência.
políticas de Estado. Engloba, também, a
salvaguarda de dados, conhecimentos, Uma Teoria do Conhecimento é formula-
áreas, pessoas e meios de interesse da da a partir das necessidades que o ho-
sociedade e do Estado. (SISTEMA..., mem tem de garantir a sua sobrevivência,
2004, p. 15). o que ocasiona questões de ordem práti-
Por se tratar da produção de conhecimen- ca e do pensamento, considerando que
tos deste cabedal e objetivá-lo verdadei- para fazer frente ao mundo que o rodeia,
ro, imparcial, oportuno e útil, resultante primeiramente precisa compreendê-lo e

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conhecê-lo, para então sobreviver. Isso A Teoria do Conhecimento, a partir do


leva o homem a produzir mecanismos século XVII, passou a nortear as ciências
suficientes às suas necessidades cada vez particulares, apresentando-se como mais
mais crescentes e a se indagar o que mais um ramo da filosofia e priorizando o su-
poderá fazer a respeito. Desse processo jeito do conhecimento ao afirmar sua ca-
surgiram, ao longo do tempo, as ques- pacidade cognoscente para conhecer uma
tões identificadas e estudadas pela filoso- realidade exterior ao seu pensamento e
assim atingir a verdade do conhecimento.
fia, o que ensejou a formulação de teori-
as sobre o conhecimento. No século XVII, No entanto, essa visão racional, conside-
ocorreu uma sistematização, com rada um marco para a filosofia e as diver-
metodologias e procedimentos, sob uma sas ciências particulares, não passou in-
posição filosófica de princípios e funda- cólume por mudanças e transformações
mentos racionalistas, para encontrar res- de cenários com circunstâncias peculia-
postas às questões da possibilidade, da res às épocas, que ensejaram o apareci-
origem e da essência do conhecimento, mento de teorias, doutrinas, escolas e
validando-o. pensamentos vários, para concordar ou
discordar sobre o que se formulava a res-
Abordar unilateralmente a Teoria do Co- peito do conhecimento, sob a ótica do
nhecimento que fundamenta o Conheci- interesse de cada segmento. Aliás, os
mento de Inteligência sem mencionar al- pensadores do século XVIII chegariam à
gumas existentes no universo filosófico, conclusão de que não existiria verdade
ou pelo menos as mais utilizadas e co- universal, por isso, cada segmento deve-
nhecidas, bloqueia a compreensão daquilo ria procurar a verdade do tipo de conhe-
que se quer mostrar e também impossi- cimento do seu interesse, apagando as-
bilita a amplitude necessária à consecu- sim a concepção que predominava desde
ção do objetivo a alcançar. os gregos com a ideia absoluta e o espíri-
to absoluto do medievo.
Para não estabelecer uma longa faixa de
As questões da Teoria do Conhecimento,
tempo que possa levar a digressões não
ou seja, as mesmas desde que o homem
objetivadas por este trabalho, começarei
passou a descobrir a si mesmo antes de
pela formulação da Teoria do Conheci- perguntar sobre o mundo, permaneceram
mento que, ao ser sistematizada, possi- como objetos de questionamento para a
bilitou saltar da gangorra filosófica elaboração de novos pensamentos, à épo-
metafísica desde Sócrates para uma esta- ca. Isso porque a influência medieval era
bilidade epistêmica, a qual permaneceu consistente, pela forte presença do cristia-
inconteste até meados do século XX, nos nismo que até então respondia a todos os
efervescentes anos sessenta, quando o questionamentos com a verdade do misté-
movimento pós-moderno, com suas crí- rio divino. Os pensadores modernos, ao
ticas ao estabelecido, apresentou uma constatarem a separação estabelecida en-
negação total da teoria do conhecimen- tre Deus e o homem, pelo cristianismo,
to, ocasionando uma aparente ruptura em face do pecado original, se depararam
epistemológica. com um grande problema: pode o homem,

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

um pecador, conhecer a realidade que o mento de várias concepções, principal-


cerca com seus misteriosos objetos a co- mente por pensadores com posição céti-
nhecer? A resposta dos filósofos moder- ca e suas variantes absolutas e relativas.
nos foi que poderiam, sim, e por intermé-
dio da razão humana. Assim, estabelece- Com uma posição de mediação entre o
ram que o homem passasse a ser o sujeito racionalismo e o empirismo, surgiu uma
e o objeto do seu conhecimento. orientação epistemológica denominada
Intelectualismo afirmando que o conhe-
... sobre essa questão há cimento tem a participação de ambos, pois
enquanto o racionalismo participa com a
dois entendimentos opostos: existência de juízos necessários ao pen-
o entendimento que nega samento e com validade universal, o
a possibilidade de empirismo sustenta que retira os elemen-
tos desses juízos da experiência.
conhecermos, como o
ceticismo e suas variantes, e Porém, pela visão da Teoria do Conheci-
o entendimento que afirma mento, somos capazes de conhecer. Nos-
sa consciência tem uma atividade sensí-
que podemos conhecer
conhecer,, vel e intelectual, com um poder de análi-
como o das doutrinas se e síntese e representação dos objetos
dogmáticas e as materialistas. por intermédio de ideias e de avaliação,
bem como de interpretação desses obje-
Daí, a razão passou a fundamentar o co- tos, por meio de juízos, e não por meio
nhecimento e René Descartes, com o da luz divina (na visão do cristianismo),
Cogito ergo sum e a Dúvida metódica, como até então se acreditava.
desenvolveu todo um trabalho voltado à
razão, cujos princípios permanecem, con- Somente no final do século XIX, Edmund
forme se vê, quando da elaboração de Husserl, da escola alemã, apresentou uma
qualquer conhecimento, pois sempre ana- nova abordagem do conhecimento, pela
lisamos as causas que podem nos levar a fenomenologia, para descrever a Teoria
errro, ou seja, os preconceitos e a veloci-
er do Conhecimento em âmbito geral, o que
dade com que concluímos sobre algo sem representou de forma mais contundente,
verificar se os juízos emitidos são verda- diante das várias concepções reinantes, a
deiros. Concomitantemente, John Locke sistematização efetuada por Locke. A
concluiu que todos os princípios do co- fenomenologia visa descrever todos os
nhecimento derivam da experiência, res- fenômenos, os materiais, naturais, ideais,
ponsável pela existência das nossas ideias, culturais, do conhecimento e das realida-
enquanto Descartes afirmava que o co- des, e considera o fenômeno como a pre-
nhecimento deriva da razão, por opera- sença real das coisas reais diante da cons-
ções do nosso intelecto. ciência, daquilo que se apresenta direta-
mente a ela. Também se propõe afirmar a
Surgiram então duas perspectivas diferen- prioridade do sujeito do conhecimento
tes para a Teoria do Conhecimento. Es- com consciência reflexiva diante dos ob-
sas perspectivas resultaram no apareci- jetos, aos quais intenciona, visa, pro-

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curando apreender as características e de- a imagem do objeto na sua mente que o


terminações destes objetos, o que é é, e nessa determinação pelo objeto há
basilar a todo conhecimento. Por isso, a receptividade do sujeito a respeito dele,
fenomenologia não afirma que o homem objeto, em razão da intencionalidade. Ao
possa conhecer a realidade em toda a sua mesmo tempo se apresenta uma espon-
essência, e sim somente tal como apare- taneidade do objeto a respeito da ima-
ce e se apresenta a sua consciência e o gem em formação, na qual a mente terá
faz por intermédio de representações ou uma participação criadora na sua repre-
afigurações. sentação, isto porque o sujeito lhe dá sig-
nificado, com a intencionalidade. Toda-
Assim, a metodologia fenomenológica, via, quando determina o sujeito, o objeto
considerando a capacidade de o homem mostra-se independente, transcendental,
conhecer um fenômeno exterior à sua pois todo conhecimento visa a um objeto
consciência e definindo o conhecimento independente da consciência cognos-
como relação do sujeito com o objeto, cente, por isso todos os objetos do
destaca que este se constitui de três ele- conhecimento são transcendentes, reais
mentos: o sujeito cognoscente, fonte de ou ideais. Os reais são os dados na expe-
intencionalidades; o objeto a conhecer,
riência externa ou interna, e os ideais são
independente do seu pensamento; e a
os meramente pensados e mesmo assim
imagem formada pela mente do sujeito,
possuem um ser em si, uma
correspondente ao objeto. Portanto, o
transcendência. Como na matemática e
processamento do fenômeno do conhe-
as operações aritméticas com os núme-
cimento ocorre da seguinte maneira: na
relação, a função do sujeito é apreender, ros, eles existem, mas são objetos ideais
captar o objeto, o qual tem a função de e não reais.
ser apreendido pelo sujeito. Essa apreen-
Consequentemente, na visão feno-
são figura para o sujeito como uma saída
menológica, ocorre o fenômeno do co-
de sua própria esfera para invadir a esfera
nhecimento quando o sujeito capta as
do objeto, apreendendo as determinações
determinações do objeto e com isso for-
ou as propriedades deste. Nisto, o obje-
ma uma imagem do mesmo e, para efe-
to não é arrastado para a esfera do sujei-
to, ele permanece independente, não sen- tivar esse conhecimento, a imagem de-
do nele que ocorre uma alteração pela verá corresponder totalmente ao obje-
função cognitiva. É no sujeito que houve to, pois se assim não for, teremos ape-
alteração com o surgimento da imagem nas um erro, não do objeto, mas ocorri-
contendo as determinações do objeto, do na mente do sujeito. Contudo, essa
para o qual esse fato se apresenta como descrição do processo do conhecimen-
um alastramento das suas determinações to pelo método fenomenológico não ex-
no sujeito, ocasionando uma preponde- plica e nem interpreta o conhecimento,
rância do objeto sobre o sujeito, tornan- apenas descreve o fenômeno ocorrido,
do-o determinado e ele, o objeto, cabendo à Teoria do Conhecimento fazê-
determinante. lo, o que nos reporta às indagações que
dizem respeito à possibilidade, a origem,
Porém, com isso, o sujeito não passa a a essência, os tipos do conhecimento e
ser um simples determinado, mas apenas o critério da verdade.

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

Cabendo à Teoria do Conhecimento a in- podemos conhecer, como o das doutri-


terpretação filosófica do fenômeno do co- nas dogmáticas e as materialistas.
nhecimento, vejamos sob a visão de ou-
tras concepções que, quiçá, possibilite Os céticos absolutos negam que o sujei-
ampla condição de avaliação do por que to seja capaz de apreender o objeto, ali-
se julgaria como mais apropriada a Teoria ás, o desconhecem e concentram toda sua
do Conhecimento para fundamentar o atenção nos fatores subjetivos do conhe-
Conhecimento de Inteligência. Conside- cimento humano. Suas variantes relativas
remos que todas as teorias ou entendi- negam parcialmente a possibilidade de
mentos acerca do conhecimento come- conhecer a verdade em determinados
çam questionando seus elementos sobre campos e na sua totalidade, ou seja, o
a possibilidade de conhecer, o que dá homem só pode conhecer a aparência das
sequência à abordagem das demais ques- coisas e não a sua essência. Só podería-
tões da filosofia sobre o conhecimento. mos conhecer a manifestação exterior da
coisa em si (o objeto) como se apresenta
Estabelecida a essência do à nossa consciência, sendo tarefa do nos-
so pensamento dar forma e ordem nessas
conhecimento como relação sensações, conforme Kant. Por isso, não
entre o sujeito e o objeto, conhecemos a sua essência e sim a re-
conforme afirma o presentação, revestida dos elementos sub-
jetivos nos quais a enquadramos, o que
materialismo filosófico, podemos ver no ceticismo relativo de
resta-nos saber a origem do Kant, no positivismo de Comte e na
conhecimento. Saber se os fenomenologia de Husserl, representan-
do as variadas formas do ceticismo.
sentidos, a razão e a intuição
participam do conhecimento
conhecimento.. O entendimento que afirma a possibilida-
de de conhecer se manifesta no
Se existe possibilidade do conhecimento, dogmatismo e no materialismo filosófico.
ou seja, se a nossa mente é capaz de co- A doutrina dogmática, com sua crença de
nhecer e refletir de forma adequada so- conhecer a verdade absoluta, de forma
bre o que nos rodeia, se é capaz de efeti- imediata e direta por meios empíricos,
vamente captar o objeto, conhecer a sua racionais ou suprarracionais, ignora des-
verdade - essa dúvida também poderá se modo o conhecimento como uma re-
ocorrer na Atividade de Inteligência, ao lação entre o sujeito e o objeto. Quanto
perguntarmos se o profissional de Inteli- ao materialismo filosófico e sua variante,
gência pode chegar à verdade dos fatos e o materialismo dialético, revelam-se como
situações utilizando o modelo da Teoria mediadores entre o ceticismo relativo e o
do Conhecimento pela descrição dogmatismo, ao afirmarem da existência
fenomenológica -, sobre essa questão há real do mundo exterior refletido por nos-
dois entendimentos opostos: o entendi- sa consciência, e distinguindo o objeto
mento que nega a possibilidade de co- do sujeito cognoscente. Afirmam também
nhecermos, como o ceticismo e suas va- e principalmente que a matéria é anterior
riantes, e o entendimento que afirma que à consciência, e nossas sensações, re-

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presentações e conceitos são reflexos das derante no conhecimento, se a realidade


coisas que existem, independentemente ou a consciência, o sujeito ou o objeto,
da nossa consciência. se a consciência é um reflexo e reprodu-
ção do objeto, ou o objeto é um reflexo e
Destacados alguns entendimentos sobre uma reprodução da consciência, dois seg-
a capacidade do sujeito conhecer ou não, mentos doutrinários, o idealismo e o ma-
pergunta-se em que consiste o conheci- terialismo, nos apresentam os seguintes
mento, a sua essência, que relação há entendimentos: o idealismo e suas vari-
entre o sujeito e o objeto, o que constitui antes (objetiva e subjetiva) afirmam que o
questão fundamental para a filosofia e as sujeito determina o objeto. A variante
atividades em geral, e que nos arrasta à objetiva afirma que o que prepondera é a
questão do centro de gravidade no fenô- ideia absoluta universal, a von-
absoluta, o espírito universal
meno do conhecimento: o que prepon- tade universal existentes antes da nature-
dera, o sujeito ou o objeto? Essa também za e dos homens e teria criado o mundo,
seria uma preocupação crucial para a Ati- sendo que todas as coisas materiais são
vidade de Inteligência, considerando que seus produtos, o que podemos
hoje nos deparamos, pelo menos no mun- exemplificar por Platão, com o Mito da
do ocidental e em relação a diversas ati- caverna, e Hegel, com seu Demiurgo. A
vidades, com um conflito de mentalida- variante subjetiva apregoa o eu absoluto
des. Esse conflito resultaria do fato de que da consciência do sujeito individual, afir-
algumas instituições com atividades se- ma que toda realidade está encerrada na
culares de Estado veem o conhecimento sua consciência, sendo a matéria uma ideia
como uma criação fundamentada por prin- que dela fazemos, é uma construção da
cípios e modelos já estabelecidos, sendo consciência.
o objeto o elemento preponderante do
conhecimento, crença vigente à época das Contrapondo-se a esse entendimento, o
formulações. Hoje temos uma geração materialismo filosófico nos afirma que há
formada sob a orientação de outra posi- objetos reais e independentes do pensa-
ção filosófica para a qual o elemento pre- mento, que a matéria é anterior à consci-
ponderante do conhecimento é o sujei- ência, que é o reflexo ou produto da ma-
to, e acreditando ser o conhecimento téria. Ao materialismo filosófico se atri-
uma construção do homem interagindo bui resolver cientificamente o problema
com seu meio social e as diferenças ali fundamental da essência do conhecimen-
existentes. to ao mostrar que o mundo é material
por natureza, considerando o ser (obje-
Da essência do conhecimento precisamos to) como matéria, e que nossas sensações
estabelecer o referido centro de gravida- e ideias são imagens do mundo exterior.
de. O aspecto nevrálgico da preponde-
rância nos apresenta entendimentos an- Estabelecida a essência do conhecimento
tagônicos e, considerando o fator huma- como relação entre o sujeito e o objeto,
no, nunca deixarão de sê-lo, só restando conforme afirma o materialismo filosófi-
a cada atividade optar pela interpretação co, resta-nos saber a origem do conheci-
mais apropriada aos seus fins e interes- mento. Saber se os sentidos, a razão e a
ses. Responder qual o elemento prepon- intuição participam do conhecimento. Vis-

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

to pela ótica de cada um desses elemen- olhar apreende imediatamente o objeto,


tos, teremos o empirismo, o racionalismo, é uma experiência externa que se baseia
intuicionismo e o materialismo dialético. nos juízos que temos nas leis lógicas do
O empirismo, espécie que tem como úni- pensamento. Essa apreensão imediata do
ca fonte do conhecimento a experiência objeto se dá sob as formas da intuição
recebida pelos sentidos e que acredita sensível, intuição mística e a intelectual.
suficiente para conhecer a verdade, tem
como forma de conhecimento a sensa- Vistas algumas questões detectadas na
ção, a percepção e a representação. descrição fenomenológica do conheci-
mento, estas nos direcionam para a gran-
O racionalismo defende que a fonte do de questão da validade do conhecimen-
conhecimento é a razão, o pensamento to: a verdade, e o critério utilizado para
abstrato. Afirma que os sentidos nos en- lhe atribuir a certeza. O conceito de ver-
ganam e, portanto, não podem produzir dade, como a concordância do conteúdo
um conhecimento verdadeiro, logicamente do pensamento com o objeto, constitui a
necessário e universalmente válido, o qual concepção transcendente de verdade, no
só pode ser alcançado pela razão. entanto, há o conceito da imanência que
afirma ser a verdade a concordância do
O Intuicionismo afirma que é possível pensamento consigo mesmo, e nada existir
conhecer a verdade sem os sentidos e a exterior à consciência. Portanto, manifes-
razão, mas por uma faculdade irracional tam-se assim os segmentos idealistas e
ou sobrenatural chamada intuição. materialistas, bem como os aspectos sub-
jetivos e objetivos da verdade. O idealis-
O materialismo dialético, apesar de afir-
mo subjetivo versa sobre o conceito
mar serem o empirismo, racionalismo e
imanente de verdade, e o objetivo, sobre
intuicionismo unilaterais, propõe uma sín-
a concepção transcendente.
tese dos três, como partes na elaboração
do conhecimento, que é um processo Não podemos ignorar, todavia, a doutri-
dialético. Essas referências podem ser na denominada e conhecida por
identificadas no discurso da Atividade de pragmatismo, afirmando um entendimen-
Inteligência. to oposto à corrente que defende a
transcendência. Segundo esta doutrina, o
Ao apresentar os diversos entendimentos
conhecimento é verdadeiro quando pro-
sobre a origem do conhecimento nos vem
duz resultados práticos e eficazes, sendo
a indagação sobre seus tipos e formas,
seu critério de verdade a utilidade. O
pelo menos os mais conhecidos, que são
pragmatismo ignora o conhecimento
o racional discursivo e o intuitivo. No ra-
como relação do sujeito e objeto.
cional discursivo, a consciência serve-se
de diversas formas de operações mentais, Como podemos afirmar, a certeza da ver-
como a ideia (ou conceito), juízo e racio- dade é incumbência dos critérios e há
cínio, relacionando o objeto a outros, várias concepções para atribuir essa cer-
comparando e tirando suas conclusões. teza, a saber: o critério da autoridade (uti-
É um conhecimento mediato. No tipo in- lizado pela teologia), o da evidência (de-
tuitivo, o conhecimento é imediato, o fendido pela teoria do conhecimento e a

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inteligência), o da ausência de contradi- Contudo, todas essas concepções acerca


ção (idealismo subjetivo), da utilidade do conhecimento humano vigoraram
(pragmatismo, materialismo dialético) e incontestes aproximadamente até meados
o da prova (ciências particulares). O cri- do século XX, principalmente para a ati-
tério da evidência, como o mais conhe- vidade científica e instituições seculares
cido e aceito, é visto como plena clare- de estado e alguns pensadores. Até hoje,
za da verdade e a certeza é o estado sub- seja qual for a teoria que sistematiza a
jetivo que a acompanha. Porém, não é produção do conhecimento, ela se orien-
um critério último de verdade, pois fa- ta pelos mesmos princípios diante da pro-
tores como a ignorância, ilusões dos sen- blemática de interesse, ou seja, de fato
tidos, paixões e preconceitos podem le- ou situação ou qualquer objeto a conhe-
var a uma falsa evidência, precisando, cer. O homem planeja o que vai fazer,
portanto, de outro critério para atribuir coleta o material necessário, avalia suas
à verdade uma certeza. fontes, interpreta e busca o que todos
querem: o conhecimento considerado
O critério da evidência nos lembra uma verdadeiro. A base para esses procedi-
questão bastante controversa para a Ati- mentos e entendimentos é a razão huma-
vidade de Inteligência, a imparcialidade. na, em que os pensadores modernos
Pode o sujeito conhecer de forma im- acreditaram.
parcial? Argumenta-se o seguinte: no
processo do conhecimento, o sujeito Norteando o Conhecimento
apreende as determinações ou proprie- de Inteligência com seus
dades do objeto e a imagem formada fundamentos, esta teoria
deverá corresponder totalmente a este
objeto e, como este é transcendente ao influencia não somente a
sujeito, portanto, a imagem formada não metodologia utilizada pela
deverá conter o já existente no pensa- Atividade de Inteligência
mento do sujeito e sim corresponder
somente às propriedades que são apre-
na sua pr odução, mas
produção,
endidas do objeto, o que resultaria numa também nas questões da
imagem imparcial, ou o mais próximo sua identidade; do perfil
possível da mesma. do profissional; e do
profissional;
Utilizando também da argumentação do produto
pr oduto final do pr ocesso
processo
materialismo filosófico e dialético, do su- de pr odução.
produção.
jeito ser capaz de conhecer a verdade
objetiva, que afirma a apreensão do obje- Mas, o tempo é inexorável com as ideias,
to com suas determinações e característi- em razão de ocasionar mudanças e, por
cas essenciais, é possível a imparcialida- conseguinte, acarretar novos pensamen-
de, argumento aceito até pelos céticos tos diante dos desafios. A descontinuidade
relativos. Somente na concepção idealis- corrente na filosofia, a herança dos es-
ta subjetiva a concordância do pensamen- combros materiais e mentais da Segunda
to é consigo mesmo e não com o objeto. Guerra Mundial, a bipolaridade

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

subsequente, o estado pós-industrial, os construído, e questionar todas as formas


modelos existentes não correspondendo que nos conceituaram como sujeito e in-
mais às necessidades e expectativas da divíduo, principalmente junto às ciências
sociedade e da ciência, a cibernética e o humanas, das quais os modelos formula-
novo modelo de comunicação, o capital dos não nos ser viriam mais. As
financeiro gerindo a política e a econo- metodologias e procedimentos baseados
mia, a formação de movimentos sociais, num modelo racional discursivo passari-
o Construtivismo, a Gestalt, as ambições am ao modelo similar ao construtivista e
imperialistas, ensejaram, nos anos sessen- sem fundamentos prontos.
ta a oitenta, uma postura de negação e
angústia diante da sensação de que o que Como evidência da mencionada ruptura,
se acreditava ou foi levado a acreditar, usarei as questões da Teoria do Conheci-
estava errado e não mais servia para a mento como parâmetro da crucial
sociedade, considerando o que houve e discordância à mentalidade moderna e às
o que estava ocorrendo no mundo. afirmações do discurso pós-moderno por
destacados arautos. Quanto à possibili-
Assim, as bases e os valores racionalistas dade do conhecimento, o ser humano não
implantados desde o século XVII que conhece ou não precisa conhecer a reali-
nortearam a filosofia e as ciências foram dade que o cerca, ele a constrói, pois a
negados. Do racionalismo ao empirismo, base racional e todo o discurso moderno
do idealismo ao materialismo dialético. seria, nesta nova visão, um disfarce para
Não se ignorou, mas também não se de- o exercício da dominação dos homens,
fendeu as bandeiras do estruturalismo e por isso a negação a sistemas prontos que
do construtivismo. Aconteceu uma rup- induzem a pensar o que se quer que pen-
tura epistemológica e estabeleceu-se o se. A essência do conhecimento, que é a
pós-modernismo como uma posição fi- relação do sujeito e o objeto, foi consi-
losófica discordante. Entre seus pensado- derada sem fundamento, pois tanto a fi-
res mais conhecidos, destacam-se Sartre, losofia quanto as ciências são construções
Michel Foucault, François Lyotard, Gilles subjetivas de seus objetos, os quais nada
Deleuze, Jaques Derrida e Bruno Latour, mais são do que os resultados de opera-
os quais negaram todas as teorias, valo- ções teóricas e técnicas, considerando que
res, conceitos, doutrinas, enfim, tudo o que os cientistas não observam as realidades,
constitui o universo filosófico moderno. mas as constroem. Portanto, os objetos
independentes do sujeito não existem, são
As propostas pós-modernas partem da apenas construções teóricas.
determinação de romper e descronstruir
criticamente o modelo epistemológico Daí podem ser identificados reflexos do
que estava em vigor, bem como questio- idealismo e a sua concepção imanente de
nar fundamentos que girem em torno de verdade (a concepção imanente de ver-
verdades, recusar o dogmatismo da ciên- dade é defendida por uma parcela signifi-
cia, isto é, recusar a ideia de que a ciên- cativa de pensadores pós-modernos),
cia é uma representação da realidade tal porém, aí não há construção interativa
como é em si mesma e adotar a ideia de nenhuma, pois a apreensão do objeto pela
que o objeto científico é um modelo mente do sujeito corresponde ao conteú-

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Josemária da Silva Patrício

do da própria mente, sendo este um pro- Por conseguinte, passando por


cesso individual. A filosofia e o próprio descontinuidades e rupturas ou propos-
conhecimento, passaram a ser considera- tas de ruptura na história do conhecimen-
dos uma criação feita pela linguagem, as- to, os períodos mais marcantes da filoso-
sim como a literatura, onde não se diz fia nos legaram pelo menos quatro siste-
como as coisas são, elas são criadas, e esse mas que revolucionaram o pensamento
entendimento é reflexo do estruturalismo. humano, notadamente no milênio anteri-
or, que foram a metafísica grega, a teolo-
A origem do conhecimento não é conce- gia do medievo, a teoria do conhecimen-
bida como no modernismo, pois o ho- to moderna e a concepção pós-moderna
mem não é um animal racional com livre do conhecimento.
vontade, ele é passional, se move por ins-
tintos e por isso instituiu uma ordem social A visão das diversas concepções, doutri-
para reprimir seus desejos e paixões, pro- nas e teorias versando sobre a essência,
posição diametralmente oposta ao pen- possibilidade, origem, tipos, formas e cri-
samento moderno. A verdade do conhe- tério de verdade do conhecimento, pos-
cimento como correspondência da ima- sibilita a oportunidade de constatar que,
gem formada, cujo critério é a evidência, do discurso da Atividade de Inteligência
não seria apropriada, considerando que e do disposto em sua doutrina, podería-
o conhecimento, seja qual a espécie, só é mos afirmar quais fundamentos da Teoria
válido se for útil e eficaz para a obtenção do Conhecimento foram utilizados para a
dos fins desejados por quem conhece, não
formulação de uma peculiar teoria do
importando que fins sejam esses.
conhecimento de Inteligência.
O discurso que reveste essa concepção
Esta afirmação pode ser verificada ao iden-
de critério da verdade pode ser identifica-
tificarmos fundamentos do materialismo
do no pragmatismo e no materialismo
filosófico na afirmação de que o profissi-
dialético, se bem que os pensadores da
onal de Inteligência pode produzir conhe-
escola de Frankfurt, que foram os últimos
a abandonar a versão comunista do mate- cimentos pela metodologia com a qual
rialismo dialético, nada levaram ou contri- trabalhamos, dirimindo a questão da pos-
buíram com esta doutrina para o pós-mo- sibilidade do conhecimento. Também se-
dernismo, considerando que os pós-mo- riam fundamentos oriundos do materia-
dernos também negaram o socialismo apa- lismo dialético e do intelectualismo as
rentemente em razão do modelo russo. explicações sobre a origem do conheci-
mento como conjugação do racionalismo
Todavia, as concepções, os conceitos, as e empirismo, que compõem a represen-
significações, proposições e enunciados, tação de fatos ou situações; que seria dos
segundo a linguagem de Foucault, logo fundamentos identificados na descrição
tiveram discordâncias, isto é, o mesmo fenomenológica da Teoria do Conheci-
fenômeno ocorrido à teoria do conheci- mento e no realismo crítico, a explicação
mento, e a pós-modernidade passou a ser sobre a essência do conhecimento como
denominada de neo-capitalismo, lógica relação do sujeito e objeto e que este pre-
cultural do capitalismo tardio, pondera sobre aquele; que o tipo de co-
modernidade líquida, neo-conservadora nhecimento que se produz é identificado
em combate aos ideais iluministas. com o racional ou abstrato; e as formas

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Os fundamentos do Conhecimento de Inteligência

que utilizamos conferem com as do co- julgado uma delas, a Teoria do Conheci-
nhecimento racional (conceito ou ideia, mento sob a visão fenomenológica, a mais
juízos e raciocínios). adequada ao objetivo a que se propõe, em
face das correlações já mencionadas.
Assim, se entendermos como teoria o
conjunto de concepções, fundamentos, Essas correlações também se prendem ao
conceitos, metodologias e demais proce- fato de que, se a produção de conheci-
dimentos formando uma singular posição mentos de inteligência objetiva represen-
filosófica que sustenta a existência da Ati- tar a realidade, portanto, sob uma posi-
vidade de Inteligência enquanto produ- ção cética relativa, não possibilitaria facil-
tora de conhecimentos e diretamente mente a utilização de metodologias fun-
norteia o exercício da atividade, a Teoria damentadas em teorias de construção
do Conhecimento passaria a ser a mais interativa do conhecimento (diferindo de
apropriada, pela correlação aos interes- várias ciências particulares), em razão dos
ses de objetivos e sobrevivência desta ati- fins a que se destina o mencionado co-
vidade, dando a validade necessária ao nhecimento. Obviamente, não é impossí-
conhecimento produzido. vel, mas ainda não se vê claramente que
processo pós-moderno seria adequado
Norteando o Conhecimento de Inteligên-
para representar fatos e situações que já
cia com seus fundamentos, esta teoria in-
ocorreram, ocorrem e poderão vir a ocor-
fluencia não somente a metodologia utili-
rer, mostrando deles a verdade (para a
zada pela Atividade de Inteligência na sua
Atividade de Inteligência), por evidência,
produção, mas também nas questões da
sua identidade; do perfil do profissional; e sem cair em erro ou possível dispersão
do produto final do processo de produ- resultantes apenas da cosmovisão de cada
ção. Por conseguinte, não podemos atri- profissional e assim se distanciar do fato
buir a responsabilidade de todo o proces- em si, sem utilidade para o usuário.
so somente às regras cartesianas, aponta-
Consequentemente, ao final destes argu-
das como inspiradoras da metodologia uti-
mentos, os quais representam os objetos
lizada, considerando que só temos em
pesquisados e não o conteúdo da minha
mente os princípios contidos nas mesmas
quando da aplicação da metodologia, e não consciência, pode-se constatar que, para
da atividade como um todo. a Atividade de Inteligência, as questões
da filosofia acerca do conhecimento não
A Atividade de Inteligência com a atribui- se transformaram em problemas por ra-
ção de produzir conhecimentos sobre fa- zão da crença na posição filosófica ado-
tos e situações constantes da realidade, tada. A certeza dessa crença seria deriva-
objetivando assessorar as decisões gover- da dos valores e concepções funda-
namentais em benefício do Estado e da mentadores considerados apropriados ao
sociedade, teria que adotar um arcabouço exercício da Atividade de Inteligência e
teórico apropriado que fundamentasse o para esta vigentes, apenas, passando a
exercício da atividade. Para escolha, teve a serem discutidos e discordados quando
seu dispor desde a metafísica grega e a te- da comparação com a posição filosófica
ológica, a teoria moderna e a concepção pós-moderna, de discurso oposto ao que
pós-moderna do conhecimento. E teria utilizamos.

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Josemária da Silva Patrício

Referências

BAZARIAN, Jacob. O problema da verdade. São Paulo: Alfa-Ômega, 1994.


BRASIL. Serviço Nacional de Informações. Coletânea L. Brasília: SNI, 1984. nº 51 e 57.
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FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
––––––. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
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Nacional de Inteligência: bases comuns. Brasília: Abin, 2004. 44 p.

100 Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 5, out. 2009.

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