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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 1

__________________________GÊNESE E EVOLUÇÃO: AS PRINCIPAIS


IDÉIAS E CONTRIBUIÇÕES PARA A SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA

Desde sempre, a Geografia tem sua identidade associada à aventura


das explorações. Descobridores, viajantes, cosmógrafos são, por isso,
os legítimos antecessores dos geógrafos acadêmicos surgidos no final
do século XIX. (Castro; Gomes; Corrêa, 1997, p.7).

1. A Geografia Pré - Científica

Para se explicar e conhecer a evolução do pensamento geográfico,


desde seus primórdios, é mister retomar-se a preocupação que o homem possuía
(e possui), sobre a distribuição dos fenômenos na superfície da terra.
É, pois, relevante destacar o que se entende como período pré-científico.
Esse segundo Andrade (1987, p.20) é aquele em que:

[...] os povos primitivos, considerando-os como os que viveram na pré-


história, vemos que eles, mesmo sem possuírem a escrita, transmitindo
os conhecimentos através da versão oral e dos desenhos em rochas e
em cavernas, passadas de geração a geração, tinham uma concepção
de vida e uma cultura, ambas impregnadas de idéias geográficas.

Os povos primitivos, mesmo sem domínio da escrita, eram conhecedores


dos fenômenos da natureza, retirando dela os elementos e mecanismos,
necessários a sua sobrevivência. Detiam, pois, estreita relação com a natureza,
onde os aspectos naturais como clima, solo, vegetação, hidrografia, entre outros,
tornavam-se essenciais a sua sobrevivência.
Assim, no processo de movimentação dos grupos humanos, na sua busca
de meios para subsistência e proteção, o homem foi deixando vestígios,
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aumentando seu conhecimento sobre a superfície da terra, acumulando


informações e transmitindo-as às gerações futuras. Esse período remonta ao
início das sociedades até o advento do conhecimento da escrita.
Desta forma, as idéias geográficas eram repassadas através de
informações orais e/ou desenhos, localizando os lugares e registrando os fatos,
onde os mesmos aconteciam ou nas suas proximidades. É exemplo disto, os
desenhos de animais, os quais significavam que o mesmo era caça (entenda-se
aqui sobrevivência), nesse ou naquele lugar expresso no desenho, (ANDRADE,
1987).
Pode-se dizer então, que um dos fatos mais característicos da pré-
história é o deslocamento, o movimento dos grupos humanos. Desde épocas
remotas o homem se espalhou por todos os espaços habitáveis. Testemunha
essa mobilidade os achados pré-históricos como os esqueletos, objetos
trabalhados, utensílios, gravuras rupestres, entre outras, as quais materializam,
nos lugares, a onipresença do homem em todas as áreas da terra, mesmo as
mais desfavoráveis como as desérticas, (ANDRADE, 1987).
Portanto, de acordo com Andrade (1987, p. 18) “[...] a movimentação dos
grupos humanos”, ocorria em busca de áreas mais férteis, pastagens mais ricas,
enfim melhores condições de sobrevivência. Essa “migração” ou mobilidade
destes grupos humanos ocorria tanto por terra como por mar.
Para a Geografia essa característica de migração da população, ou seja,
o movimento dos grupos humanos é importante, pois foi, através dela, que os
conhecimentos sobre a superfície terrestre aumentavam e se expandiam. Aos
poucos, iam-se buscando novos “pontos” (lugares) no mapa. Expandiam-se os
descobrimentos de novas áreas e, conseqüentemente, se desenhava o “globo
terrestre”.

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1.1. Povos Primitivos

Conforme Closier (1972, p.13-14), é importante considerar que:

Ora a aventura – qualquer que seja o seu motor: lucro, curiosidade,


necessidade – é, de fato, o prólogo, a primeira etapa da Geografia. É,
para além do horizonte habitual, a beleza movediça do mar, o silêncio
parado das estepes abrasadas de sol, a pitoresca ossatura das
gigantescas montanhas; é a teimosa e dura vontade do pioneiro, a
penosa marcha do explorador obstinado, a inflexível confiança do
navegador impelido para o largo. Esta ida constante às “regiões
estranhas“ é, para nós, a herança implícita da instável humanidade
primitiva.

Percebe-se que a mobilidade dos povos primitivos tinha uma finalidade


básica, ou seja, a busca de sua subsistência uma vez que estes viviam de
atividades como a caça, a pesca, a coleta e eventualmente de uma agricultura de
subsistência. Entravam em contato com a natureza retirando dela os elementos
necessários à sobrevivência. Deste modo, Andrade (1987, p.21) destaca que
eles: “Conheciam o mecanismo das estações, fazendo migrações, às vezes de
longos percursos a fim de acompanharem os animais silvestres que utilizavam
como alimentos ou para colherem os frutos de determinada área”.
Dedicando-se a atividade guerreira e da caça, os povos primitivos
moviam-se continuamente no espaço, com o intuito de identificar a direção e a
distância percorrida. Ambas, eram de vital importância para a sua sobrevivência.
Baseado nestas informações pode-se afirmar que o conhecimento geográfico,
deste período, pode ser interpretado como o das preocupações sobre o ‘‘onde’’.
Neste contexto, esses povos passaram a desenvolver seus
conhecimentos conforme suas prioridades e necessidades para apreenderem o
domínio da superfície da terra, surgindo assim, os primeiros registros, ou seja,
"os mapas". Pode-se dizer então, que os mapas originaram-se da necessidade
de comunicação entre os homens e também da exigência de se conhecer as
diferentes porções da superfície terrestre que neste período da história da
humanidade era bastante significativo.

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A representação dos caminhos precede a escrita e, suas informações são


registradas através de mapas, que auxiliaram exploradores e viajantes no
processo de expansão do horizonte geográfico, sendo que para Rainz (1974,
p.11) "[...] fazer mapas é uma aptidão inata da humanidade".
Os povos primitivos tinham uma concepção religiosa, dominada por um
Deus superior e faziam correlação entre a Terra em que viviam e os astros que
observavam no firmamento – o sol, a lua, as estrelas – admitindo sistemas de
mundo nos quais estes astros eram encarados como os próprios deuses ou como
a materialização dos mesmos. Assim, não se pode afirmar que eles fizessem ou
cultivassem uma ciência geográfica, mas em seu saber prático, na sua
experiência, e com sua mitologia, suas crenças, eles cultivavam idéias de ordem
geográfica e lançaram as sementes que no futuro seriam desenvolvidas em uma
ciência, em um saber científico, mesmo em um mundo ainda isolado pela rigidez
imposta pelo desconhecido e com fronteiras muito restritas.
Os povos mais antigos exploravam racionalmente o sentido de orientação
na Superfície da Terra, expressando-o através de esboços ou mapas
rudimentares, que os auxiliavam em seu deslocamento, tendo em vista atender
às necessidades de subsistência ou às atividades guerreiras.
Os deslocamentos ou as migrações do homem primitivo ou dos grupos
humanos, na superfície da terra, para atender às necessidades ou impulsos de
qualquer natureza, caracterizam o início do processo de formação do
conhecimento geográfico de cunho popular da vivência individual ou coletiva.
Entre os povos primitivos que registravam o espaço em que viviam,
destacam-se, a saber:

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1.1.1. Os Povos das Ilhas de Marshall

Estes povos utilizavam-se de


mapas formados por conchas dispostas
sobre uma rede de folhas de palmas
que tinham a finalidade de orientar a
navegação, onde cada concha
correspondia a uma ilha e a retícula
ortogonal representava o mar livre, ou
seja, os caminhos para se chegar de um
ponto a outro da porção conhecida da
superfície terrestre. (Ferreira ; Simões,
1986)

1.1.2. Esquimós

Esses povos faziam demarcações precisas sobre mapas com


representações exatas dos fenômenos geográficos. Suas delimitações coincidem
de modo surpreendente com as
cartas hidrográficas atuais desta
área. Apresentam um estágio
avançado para a "cartografia"
deste período. Destacam-se, entre
as suas contribuições, a escala
exata das distâncias,
demonstrando a preocupação
geográfica, ou seja, a localização
absoluta dos fenômenos da
superfície terrestre.

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1.1.3. Astecas

Povoavam o planalto
mexicano e caracterizavam-se
pelo espírito guerreiro e
conquistador, tendo dominado
vários povos para formar um
grande império.De modo
distinto dos esquimós, os
astecas se preocupavam mais
em representar fatos históricos
do que detalhes topográficos
(geográficos). (Simões ;
Ferreira, 1986).
1.1.4. Babilônios

Esses povos confeccionaram o


mapa mais antigo que se tem
conhecimento. Segundo Ferreira ;
Simões (1986, p. 31), esses
mapas constituíam-se: [...] de uma
pequena placa de argila,
representando o vale de um rio,
provavelmente o Eufrates, com
uma montanha de cada lado e
desaguando por um delta de três
braços. O Norte, o Leste e o Oeste
estão assinalados com círculos
com inscrições.
Também a eles, deve-se a divisão do círculo em graus. Assim, pode-se
dizer que os babilônios deram grande ênfase a estudos ligada a matemática,
contribuindo para o aperfeiçoamento dos estudos ligados a cartografia.

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1.1.5. Povos Incas

Suas cidades se localizavam em pontos estratégicos tanto no que diz


respeito a alimentação, quanto ao aspecto militar.
Tinham noções dos movimentos de rotação e translação da terra bem
como da importância da orientação para o entendimento dos fenômenos
geográficos.
Para controlar os povos vencidos, construíram estradas empredadas com
vários quilômetros, partindo da capital em direção aos quatro pontos cardeais,
como a que ligava Cuzco a Quito.

1.1.6. Povos Polinésios

Denominados “fenícios do mundo oriental”, são estes, entre todos os


povos chamados primitivos, os maiores navegadores.
Por se dedicarem a atividades ligadas a pesca desenvolveram os seus
conhecimentos para a navegação destacando sua preocupação com a direção
dos ventos, as correntes marinhas e a intercomunicação entre as diversas ilhas.
Conheceram as rotas do mar e registraram concretamente as suas experiências,
em cartas marítimas que traçavam com a ajuda de fibras entrançadas e de
conchas.

1.1.7. Considerações gerais sobre o período da Pré-História e Povos


Primitivos

Entre os povos primitivos a concepção que se tinha da terra é que ela se


constituía em forma de disco e flutuaria em um mar, com a abóbada celeste por
cima. Os primitivos procuraram, portanto, representar os lugares onde estavam.

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Esta representação aparece-nos como a primeira tentativa geográfica da


humanidade. (Ferreira ; Simões, 1986)
No período da pré-história pode-se dizer que os conhecimentos
geográficos eram bastante restritos e a sua contribuição esteve ligada a questões
de localização. A pergunta "onde", começa a despertar, cada vez mais, o
interesse desses povos. Tal preocupação é justificada, pois é este um período em
que se iniciam os intercâmbios culturais, e também, a necessidade da localização
voltada principalmente, para a sobrevivência.
Para a Geografia, a resposta à pergunta "onde" e “o que existe neste
lugar” são fundamentais. Portanto, esta passa a ser fornecida, com certo rigor,
pois, era possível localizar, com determinada precisão, num mapa, os lugares
(pontos) da superfície terrestre até então descobertos.
Enfatiza-se também que entre as contribuições mais significativas destes
povos pode-se destacar o desenvolvimento da Geografia ligada: (a) Geografia
Matemática a qual enfatizava a astronomia (pontos cardeais), a geometria
(latitude e longitude) e, (b) Geografia Descritiva, a qual procurava descrever o
solo, a topografia, o clima, a hidrografia e determinados aspectos da cultura
(população). (ANDRADE, 1987)
Este período caracterizou o conhecimento geográfico através de
informações sobre a superfície terrestre. Não havia geógrafos, o conhecimento
era desenvolvido principalmente por filósofos, naturalistas e historiadores que se
referiam ao conhecimento geográfico segundo seus entendimentos.

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1.2. A GEOGRAFIA NA IDADE ANTIGA

A Geografia é notoriamente a Cinderela das ciências. Apesar de ser


uma das mais antigas, ela tem sido tratada, a não ser em anos recentes,
com inadequado e total desrespeito não merecido. As modernas
universidades não estão sozinhas na relutância em aceitá-la cheia de
honras acadêmicas. Os Antigos, com toda a sua sabedoria, não
puderam se enganar quanto a sua importância. (Kimble, 2000, p.3)

1.2.1. A Contribuição dos Povos Orientais

A Idade Antiga abrange o período em que surgiram os primeiros grandes


assentamentos humanos, e o uso da escrita, vai de mais ou menos 4.000 a.C.,
até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476.
Neste período, as idéias geográficas prosseguem dentro da visão
descritiva e empirista. Assim, os povos orientais contribuíram para o
desenvolvimento da Geografia através de conhecimentos práticos, das
observações e da visão "in loco" dos fenômenos que ocorrem na Terra.
Paralelamente, essa expansão é decorrente das relações comerciais que se
intensificam entre os povos. Essa ganha expressividade através da difusão da
navegação principalmente no mar Mediterrâneo, mar Negro, costa Atlântica da
Europa e costa Norte Africana.
Dentre os povos orientais destacam-se os fenícios, mesopotâmicos,
egípcios e chineses.
Deste modo, os "avanços" de cada civilização estiveram ligados a aptidão
e necessidades dos mesmos. Pode-se exemplificar esse fato, com os povos
fenícios, os quais nos legaram conhecimentos náuticos e descobertas de novos
termos geográficos, devido a sua vocação comercial. Essa atividade
proporcionava o contato entre os vários povos e distintos lugares, fazendo com
que o intercâmbio cultural fosse expandido. Navegantes e comerciantes são
denominações atribuídas a esses povos. Orientavam-se de dia pelo sol e à noite,
pela estrelas das quais conheciam seu movimento aparente. Conheciam também
as correntes marítimas e os ventos predominantes de cada região. Desta forma,

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aperfeiçoaram a arte náutica e introduziram uma nova mentalidade em povos


distantes, pela venda de produtos que o intercâmbio comercial por eles realizado
permitia.
Já os egípcios e os mesopotâmicos contribuíram com estudos descritivos
dos aspectos físicos no que diz respeito ao desenvolvimento da hidrografia fluvial
e a geometria. Tais contribuições estão ligadas as suas atividades, ou seja, a
prática da agricultura nas várzeas dos rios. Os mesopotâmicos contribuíram
também, para o desenvolvimento da astronomia: cálculo dos eclipses; elaboração
dos signos do zodíaco; estudo dos equinócios e solstícios; estudo do movimento
periódico dos planetas entre outros. E os egípcios influenciaram nas ciências em
geral através da geometria.
Por outro lado, os povos chineses, destacaram-se na cartografia fazendo
descrições geográficas de rios, lagos, cidades, etc. Contribuíram com as
indicações precisas de distância, de altitude e com as divisões retilíneas
quadrículas para localizar os diversos lugares na superfície terrestre. Os mapas
chineses alcançaram, para essa época, um nível de precisão bastante elevado e
detendo certo grau de cientificidade, respeitada por um longo período.
Neste contexto, é interessante resgatar Andrade (l987, p.23), quando o
mesmo enfatiza que: “Os conhecimentos acumulados pelos povos orientais
seriam depois utilizados pelos gregos, quando se tornaram um povo dominante,
de conquistadores para elaborarem os conhecimentos básicos que deram à
ciência moderna”.

1.2.2. O Conhecimento Geográfico Grego

As idéias geográficas sistematizadas remontam a Antigüidade Clássica


com os gregos. Foram eles que denominaram “Geografia”, os conhecimentos
sobre a superfície da terra.
A civilização grega se estruturou segundo Nunes (1989, p.21): “[...] nos
últimos cinco séculos antes de Cristo [...] e desenvolveram uma das mais
notáveis civilizações do mundo e sua influência cultural se faz notar em todo o
Ocidente".
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Essa influência é decorrência da expansão política, comercial e marítima


dos gregos resultante da expansão do horizonte geográfico o que permitiu o
registro sistematizado referentes aos conhecimentos ligados a esse ramo do
saber.
De acordo com Sodré (1977), a Grécia foi importante por ter colocado,
em destaque, os conhecimentos geográficos devido a presença de elementos
significativos no seu espaço como: a) estar situada numa posição privilegiada -
sul da Europa, próximo da Ásia e África: região de contato entre Ocidente e
Oriente; b) ter sido o centro da sociedade escravista da época; c) ter recebido e
ultrapassado a herança cultural dos fenícios e d) ser o centro de gravidade do
mundo deste período histórico. Pode-se dizer então, que esses fatores permitiram
avanços no conhecimento geográfico passando da fase da "coleta" a fase da
"sistematização" e, desta, aos primeiros ensaios de teorização do que seria, mais
tarde, a ciência geográfica.
O avanço dos conhecimentos ocorreu através do intercâmbio comercial
entre os diversos povos da época. No entanto, salientam-se, os estudos ligados a
astronomia e a geometria. Tais conhecimentos evidenciaram, a preocupação com
os aspectos ligados a localização dos lugares e esta permaneceu como
preocupação central do conhecimento geográfico até o século XVIII.
Desta forma, a localização e a representação dos lugares com maior
precisão num mapa estiveram centradas nos conhecimentos ligados à astronomia
e a geometria, que buscavam responder a pergunta "onde" indagação básica
desse período para o conhecimento geográfico.
Assim, sabendo-se "onde" se localizavam os lugares, o qual era
importante para a expansão comercial, passou-se a também a identificar "o que"
existia nesses lugares. Surge deste modo, uma outra preocupação referente aos
aspectos geográficos, ou seja, "o que" existe nestes lugares. Portanto “onde” e “o
que” são indagações que vão nortear e caracterizar a preocupação geográfica
nesta fase.
Neste contexto, as respostas a cerca dos lugares, do onde, e do que
existe nos lugares, foram fornecidas pelos viajantes e comerciantes que
descreveram aspectos diversos da sociedade e da natureza.

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Deste modo, são estruturadas as bases do conhecimento geográfico


deste período o qual estava assentado sobre: a Geografia Matemática - ligada a
astronomia e a geometria, e a Geografia Descritiva - resultante da descrição do
mundo conhecido.
Há que se destacar que o pensamento geográfico, dessa época, estava
baseado na observação cuidadosa, quer dos lugares visitados como dos vividos
e, também, nas conclusões tiradas a respeito da superfície terrestre.
Inegavelmente, dos gregos, tem-se uma contribuição muito rica. Eles
criaram o verdadeiro mapa, ao darem uma “ordem geográfica” à descrição
desordenada existente. Isso foi possível graças a um pensamento especulativo
puramente nacional, divulgador de sua cultura e do seu caráter religioso.
Na verdade, as observações levaram à descrição de lugares,
mapeamento dos fatos existentes e à organização em categorias significativas.
Essa Geografia, embrionária e compiladora, chegaram até a desenvolver teorias
explicativas do mundo imediatamente conhecido.

1.2.2.1. Os Principais Gregos e suas contribuições

A Civilização Grega contribuiu com o conhecimento geográfico, através


dos trabalhos de filósofos e estudiosos que de acordo com Sodré (1977, p.17),
legaram a Geografia: "Materiais geográficos, termos geográficos e,
principalmente, a definição desses elementos iniciais do conhecimento”.
Entre os principais Gregos salientam-se:
- Anaximando de Mileto: relato de viagens (primeiro mapa).
- Anaxímenes: princípio de geocentrismo.
- Heródoto: (484-425 a.C) filósofo e historiador grego, é considerado o pai da
História e da Geografia, por ter sempre enquadrado a história dos povos no
contexto geográfico. Suas crônicas são estudadas como primórdios da Geografia
Regional e retratavam os mais diferentes e distantes países. São conhecidas
suas viagens a Fenícia, ao Egito e a Babilônia. Colocou os conhecimentos

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históricos no contexto geográfico. Teceu considerações sobre relações


deterministas entre o meio e o homem.
- Erastóstenes: contribuição à Geografia Matemática. Postulava a imagem
geométrica da terra, calculando sua circunferência e estabelecendo o sistema de
coordenadas (latitude e longitude) sobre o qual se dispunham os mares e terras.
Primeiro autor da obra intitulada Geografia.
- Tales de Mileto: desenvolveu estudos sobre a localização e descrição dos
lugares. Preocupou-se com a física terrestre (forma, dimensão e posição da Terra
no espaço) e a esfericidade da Terra que embora fosse controlada pela Igreja
também já era difundida por Mileto.
- Pitágoras: conceitos de esfericidade da terra, movimentos de rotação da terra,
zonação climática do globo, mecanismos de eclipses da lua.
- Ptolomeu: desenvolveu a teoria do sistema planetário geocêntrico.
- Aristóteles: considerava a terra esférica, e para confirmar sua teoria, apresentou
o fato de que a terra projetava na lua uma sombra redonda durante os eclipses.
- Estrabão: (64 a.C a 21 d.C), foi grande viajante, tendo descrito várias partes do
mundo conhecido em sua obra Geographica, que sobreviveu a Idade Média e foi
considerado o mais importante dos escritos antigos sobre a Geografia. Estrabão
via na Geografia “uma disciplina multifária”, não apenas no tocante a atividade
dos estadistas e comandantes como também no que diz respeito ao
conhecimento tanto do céu como das coisas na terra e no mar. É creditada aos
alexandrinos a origem da palavra Geografia, e estes consideravam Homero autor
dos poemas épicos Ilíadas e Odisséia, como o primeiro Geógrafo.
Pode-se dizer então que o desenvolvimento do conhecimento geográfico
estava alicerçado na Geografia Astronômica e Matemática com cunho descritivo
significativo, vinculado em obras de filósofos, historiadores e médicos e que
projetaram de acordo com (Sodré, 1977, p.17): "[...] a concepção de mundo em
que se refletiam as condições do escravismo, na fase em que esse modo de
produção teve a Grécia como cenário principal".
Percebe-se pelas contribuições destes povos, que os primeiros filósofos
não incidiram sobre o mundo interior da alma, mas sobre o sensível e
experimental do mundo exterior. A filosofia grega se propôs a resolver o enigma

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do mundo, considerando-o no seu conjunto e permitindo o surgimento de várias


escolas.

1.2.3. O Conhecimento Geográfico Romano

No transcorrer dos séculos II e I a. C os romanos conquistaram a Grécia


e todas as áreas adjacentes ao Mediterrâneo alcançando o Oriente Médio até o
mar Negro e Cáspio e na Europa até o Reno, organizando o maior Império até
então conhecido.
O declínio da sociedade grega esteve vinculado à concepção
determinista das desigualdades sociais onde a expansão mercantil militar levava
a necessidade de legitimar a dominação e a exploração evidenciando-se, desta
forma, as contradições desta sociedade.
Deslocou-se, assim, o centro do poder político-econômico e social para
Roma que imprimiu novas diretrizes ao conhecimento científico. Deste modo, a
Geografia era concebida e objetivava a descrição e a localização dos diversos
territórios que constituíam o Império Romano e abordava aspectos ligados à
circulação de pessoas, mercadorias e os problemas fronteiriços.
O conhecimento geográfico desenvolvido pelos romanos não aprofundou
os aspectos especulativos (teóricos) iniciados pelos gregos visto que, a sua
preocupação era eminentemente pragmática, pois tinham necessidade de
conhecer todos os aspectos relativos ao Império o que lhes permitia um maior
controle sobre o espaço terrestre e, conseqüentemente a sua dominação.
Os romanos preocupados com a expansão e organização do Império
deixaram aos gregos a tarefa de acumular os conhecimentos geográficos.

Entre os romanos destacam-se as contribuições de:

Pompônio e Plínio

Eles descreveram os lugares e as culturas de povos e territórios anexados.


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Os Romanos tiveram como preocupações principais:


- Descrever aspectos geográficos ligados a sua principal atividade – o
comércio;
- Vias de acesso às rotas comerciais (água e terra);
- Importância das cidades (crescimento) maior parte portuária;
- Povos, etnias (os romanos explicavam as etnias dos povos), território;
- Problemas fronteiriços (limites) cuidavam os territórios conquistados;
- Problemas agrários (trabalhadores – latifundiários). Ex. Tibério, Caio
Graco – reforma agrária;
-
- Expansão do cristianismo
- Religião oficial católica;
- Roma – centro;
- Igreja – monges, toda a unidade está na Bíblia Sagrada (imposição);
- Cartografia antiga passa a ser reformulada (anexação de novos territórios);
- Navegações – descreviam as rotas marítimas
- Informações sobre os aspectos naturais (montanhas, rios, etc)
- Formação de núcleos populacionais

1.2.3. Considerações sobre o conhecimento Geográfico na Idade Antiga

Esta primeira fase da evolução do conhecimento geográfico reflete a


preocupação com o "onde" e “o que" existe nos lugares. Desta forma, de acordo
com Sodré (1977, p.18): “[...] a Geografia, na Antigüidade, valeu pelos passos
dados, seja no sentido da informação sobre a superfície da terra, seja no sentido
do dimensionamento, da quantificação, da localização relativa dos pontos".

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1.3. A GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA

A Idade Média compreende o fim do Império Romano do Ocidente (476


a.C) até 1453 com a tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos.
Ressalta-se que entre as principais causas do retrocesso científico desse
período está a decadência do Império Romano, a invasão dos povos Bárbaros e
difusão do cristianismo.
Essa fase é delineada a partir do êxito histórico do cristianismo que
domina esse período e, simultaneamente, a decadência do mundo antigo,
configurada na decadência dos grandes impérios dos quais o Império Romano é
é o principal exemplo.
Foi durante a Idade Média que a filosofia assimilou as idéias platônicas
em um pensamento elaborado pelos neoplatônicos e desenvolveu uma filosofia
de ser à luz da revelação divina. Com isso, houve mudanças radicais a respeito
da concepção do desenvolvimento do espaço. Até essa época, especulava-se a
respeito do homem e do mundo vivido, como forma de conhecer e compreender
as coisas da natureza e o homem em si, porém, por toda a Idade Média,
predominaram raciocínios apriorístico, baseados na revelação divina.
O conhecimento científico medieval passou por uma regressão,
justificada pelo dogmatismo da fé cristã, que impedia a livre indagação intelectual
e tudo o que contrariasse a doutrina cristã. Assim, a visão de mundo
desenvolvida pelos gregos foi sendo substituída.
Os poucos avanços que a Geografia conheceu, nesse período, vinham do
mundo islâmico, assimilando dos conhecimentos gregos. Os povos islâmicos
realizaram algumas correções e aprofundamentos nos conteúdos de épocas
anteriores, como a Geografia Histórica de Ibn Khaldun (1332-1406), que, a
despeito da riqueza de seu conteúdo, só seria conhecida do Ocidente, no século
XIX. A obra desse erudito, segundo opinião de muitos geógrafos, supera em
muito a Geografia de Heródoto, ao tecer considerações e deduções a respeito
das ligações entre a vida nômade dos povos pastoris e a forma política de sua
organização.

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Neste sentido, é importante resgatar as palavras de Nunes (1989, p.38),


quando afirma que: "[...] é a partir do século V que se inicia um novo tempo e um
novo mundo, mundo no qual a igreja organiza tudo e produz um imaginário social
que lhe garante o real domínio tanto ideológico quanto real e político".
Foi nesse período que se desenvolveu uma filosofia do ser à luz da
revelação divina predominando raciocínios apriorísticos. Neste contexto, pode-se
dizer então que o conhecimento científico medieval passou por uma regressão,
justificada pelo dogmatismo da fé de cristo, que impedia a livre indagação
intelectual e tudo o que contrariasse a doutrina cristã. Assim, a visão do mundo
desenvolvida pelos gregos foi substituída.
A partir desse momento a Europa passa a vivenciar uma nova estrutura
econômica, política e social substituindo o sistema escravocrata pelo sistema
feudal. Esse novo sistema se caracterizou pelo isolacionismo, que buscava
resolver os problemas a partir da auto-subsistência do feudo. Deste modo, deixa
de existir a mobilidade que se verificava na Antigüidade e o descobrimento de
outras áreas, que não o feudo, torna-se cada vez menor.
A Europa que ressurge após as guerras provocadas pelas invasões de
povos diversos, é um mundo relativamente pouco povoado, subdivido em
grandes áreas isoladas, que tem dificuldade de comunicação, as quais vieram a
se tornar politicamente independentes, instaurando-se o regime feudal. Este
regime caracteriza-se pelo isolacionismo, ou seja, os feudos que sobrevivem a
partir de sua auto-subsistência.
A igreja se transforma, não só no maior poder, mas no único poder
centralizado. Parte da religião as respostas para as questões existenciais, pois
as interpretações bíblicas ocupam os espaços da filosofia e da ciência. Religião
aliada ao poder econômico constituía-se no poder maior, alicerçada numa
ideologia que lhe garantia legitimidade. As diferenças eram aceitas como elas se
fizessem parte das leis naturais ou das determinações divinas, e por isso,
inquestionáveis.
Ao mesmo tempo em que a Europa Cristã em termos de desenvolvimento
científico se encontrava estagnada, os muçulmanos, sobretudo os Árabes,
expandiam o seu império estendendo-se ao norte da África até a Península
Ibérica.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 18

Em função do comércio e influenciados por motivos religiosos os Árabes


expandiram a rede de transporte dinamizando a circulação interna do império e
mantendo contato com a Europa Cristã.
Devem-se aos árabes o resgate e a continuidade do conhecimento grego,
além dos estudos relativos às condições naturais, recursos a serem explorados,
instituições e costumes dos povos dominados.
Ressalta-se que a sua preocupação centralizava-se na expansão
comercial e eram na sua maior parte, observadores, descrevendo a sociedade, a
natureza e a exploração de seus recursos, refletindo o momento histórico em que
viviam.
Deve-se, também aos árabes, contribuições ligadas a localização, a
geometria e a astronomia.
A partir do século XIV os turcos conquistaram províncias do império
árabe. No século XV dominam Constantinopla, o que representou o fim do
Império Bizantino. Este fator repercutiu na diminuição do intercâmbio que os
árabes mantinham com os cristãos, interrompendo o comércio via Mediterrâneo,
entre o Ocidente e o Oriente.

Na idade média as respostas às indagações geográficas passam a ser dadas


pela interpretação da fé, ou seja, todas as verdades estão descritas na Bíblia.
Assim o “onde” passa a ser respondido de acordo com a Bíblia e não mais
através do conhecimento geográfico. Tal declínio do conhecimento é justificado
pelo poder que a igreja detém nesse período. Além disso, também o imobilismo
populacional foi responsável pelo desaparecimento das viagens que tanto vinham
contribuindo para a expansão do conhecimento geográfico (o sistema feudal
dificultava as viagens impossibilitando novas descobertas).

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 19

1.4. O RENASCIMENTO E A EXPANSÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO

Com o domínio dos turcos na região mediterrânea o comércio que se


desenvolvia com o oriente foi dificultado. A partir de então, buscam-se novos
caminhos para a prática mercantil. Neste contexto, é que estão inseridas as
grandes viagens de circunavegação, com o objetivo primordial de desenvolver o
comércio.
No século XIV, o grupo mercantil Ibérico estimula a busca de rotas
comerciais via marítima. Desse modo, ocorre uma expansão dos conhecimentos
técnicos, principalmente ligados a representação dos lugares e a navegação,
destacando-se o aperfeiçoamento da bússola, do astrolábio e das caravelas de
largo velame e bordas altas.
Os progressos do Renascimento passaram a refletir a realidade atuante
do homem em relação à natureza. O conhecimento do mundo através da
experiência, desenvolvido por Roger Bacon (1214?-1294), foi chamado de
ciência do concreto.
De acordo com Sodré (1977, p.21), os conhecimentos deste período
podem ser caraterizados como:

[...] conhecimentos de natureza geográfica, ligados à expansão


mercantil dos fins do medievalismo, ampliando o chamado mundo
conhecido. Essa ampliação atinge seu limite maior quando, no fim do
século XV, Vasco da Gama chega à Índia, após contornar a África,
abrindo roteiros, que no século seguinte, se tornaram conhecidos. É a
época em que Colombo chega a América e Cabral chega ao Brasil.

Nessa fase histórica tem início a organização de um novo sistema


político, econômico e social, denominado de pré-capitalismo, que compreende o
período entre os séculos XII ao XV. É considerada a fase de transição entre o
feudalismo e o capitalismo. Caracteriza-se pela produção para o mercado, trocas
monetárias, preocupação com o lucro e pela inexistência de relações de trabalho
assalariado.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 20

Para o conhecimento geográfico este período é expressivo pois, destaca-


se, a expansão do espaço até então conhecido, tem-se a dominação da
configuração da terra e apreensão da superfície terrestre.
Neste sentido, é importante ressaltar que os progressos do
Renascimento passaram a refletir a realidade atuante do homem em relação a
natureza. O conhecimento do mundo através da experiência.
Expande-se e consolida-se a burguesia, que praticava o comércio e,
conseqüentemente, contribuiu para o desenvolvimento das cidades. Essa classe
opõe-se aos interesses do sistema feudal dando importância ao dinheiro, a
propriedade da terra que, para esse intento, uniram-se aos reis absolutos,
participando ativamente do processo de unificação das Nações. Essa classe
passou a apoiar o desenvolvimento das expedições contribuindo para a
descoberta de novas terras e rotas comerciais, (SODRÉ,1977).
A partir do século XV até o século XVIII, estrutura-se o Capitalismo
Comercial, como modo de produção, caracterizado pelo trabalho assalariado,
onde o comércio torna-se a atividade econômica mais importante, tendo na
exploração colonial a finalidade de gerar riquezas para a metrópole e para a
burguesia metropolitana. As expedições científicas passam, a partir desta fase, a
ter um caráter mais científico, enriquecendo a ciência com importantes
informações sobre os oceanos, o clima, a geologia, a antropologia e a economia.
Assim, no final do século XVIII, tinha-se o conhecimento da distribuição
dos continentes e dos oceanos e informações das condições naturais dos
mesmos. Portanto, o mapa mundi se amplia mediante as novas descobertas.
A representação da superfície da terra passa a ser executada com maior
precisão, destacando-se as contribuições das projeções de Bahaim e Mercator.
É nessa fase que a burguesia e o Estado passam a dar maior importância
ao conhecimento científico, visando à exploração das novas terras, alicerçado
nas suas aspirações comerciais.
A transição da Geografia medieval para a moderna se processou
lentamente. Havia necessidade de se fazer um considerável trabalho preliminar,
o que fez com que, a nova maneira de encarar os fatos apenas gradativamente
penetrasse na Geografia.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 21

Até esse momento (século XVII) os trabalhos ditos geográficos se


restringiam, em sua maioria, em compilações de dados surgindo, gradativamente,
uma nova maneira de elaborar os conhecimentos geográficos.
Destacam-se duas obras gerais, sobre a abordagem geográfica, que são
consideradas testemunhas da transição da época medieval e o princípio do
período moderno. Estas obras são: Introdução à Geografia Universal, de
Cluverius - que trata de assuntos referentes à Geografia matemática e da
descrição dos países, estabelecendo um padrão para o estudo da Geografia
Regional, o qual foi seguido durante muito tempo. A outra obra é a Geografia
Geral, de Bernard Varenius - a qual não se limitou a descrever a superfície da
terra, baseando-se somente na observação e nas informações disponíveis, mas
procurou explicar a origem dos fenômenos e das formas que modelavam a sua
superfície. Sua maior contribuição está ligada ao fato de haver unido a Geografia
Geral (matemática), à Geografia Descritiva (humanística e literária), em uma só
totalidade e de haver realizado tanto a descrição como a interpretação das
formas e fenômenos descritivos, indicando relações de causa e efeito.
Para seus estudos, Varenius dividiu sua obra em três partes: Absoluta:
descrevia a terra como um todo, abordando a sua forma, tamanho, etc.; (b)
Relativa ou Planetária: trata da relação da terra com outros astros e (c)
Comparativa: elaborou a descrição geral da terra localizando relativamente os
lugares. Tratava também dos princípios da navegação. Varenius deu início a uma
segunda obra denominada "Geografia Espacial", onde apenas a subdividiu: a)
propriedades da Astronomia, abordando, inclusive, aspectos do clima; b)
propriedades terrestres - descrição do relevo, vegetação e vida animais nos
diversos países e c) propriedades humanas - descrevendo aspectos ligados a
população, comércio e sistema de governo (SODRÉ, 1977).
No contexto filosófico, com a expansão comercial através da burguesia,
abriram-se novos horizontes, estimularam-se as ciências, contestaram-se os
dogmas religiosos medievais, criando-se novos caracteres libertadores, novas
significações.
Concebe-se o mundo a partir de novas categorias de apreensão da
realidade e do homem em sociedade, essas assentadas no princípio da

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 22

experiência, baseado nos paradigmas da racionalidade, da natureza e da


experiência.
Outra contribuição significativa para o avanço do conhecimento
geográfico são as concepções originadas das formulações filosóficas de Kant.
Para o autor a Geografia seria uma ciência empírica apoiada na
observação e nas sensações. Passando a defini-la como a síntese dos
conhecimentos sobre a natureza. Considera-se, desse modo, a Geografia como
uma ciência de síntese, estudando os fatos nas suas relações espaciais (visão
corológica).
Conforme Ferreira; Simões (s/d, p. 58) é importante destacar que:

"Para Kant, a Geografia é um conhecimento empírico, na medida em


que, como ciência, deriva das experiências do homem. Mas é mais do
que conhecimento comum, porque sistematiza e classifica os fatos e,
além disso, está circunscrita a superfície da terra".

As contribuições de Cluverius, Varenius e Kant foram importantes para o


processo de sistematização da Geografia e para o avanço da ciência.
Colaboraram com o conhecimento geográfico enfatizando como o mesmo deveria
ser entendido nesse período.
A partir do século XVIII, estrutura-se uma nova fase passando do
capitalismo comercial para o industrial. Esse novo sistema surge com a
Revolução Industrial inglesa e é caracterizada pela produção industrial, sendo
esta a principal fonte geradora de capital.
A compreensão do Capitalismo Industrial (séc. XVIII-XX) deve ser
entendida no quadro mais amplo da formação da sociedade capitalista e no plano
mais restrito, das revoluções burguesas.
Com a Revolução Industrial as relações sociais são redefinidas,
ocorrendo uma sociedade com gerações e estruturas novas, onde se consolida,
definitivamente, o modo de produção capitalista, que passa a ser identificado ao
mundo da industrialização, afirmando-se as características básicas do
capitalismo: progresso técnico continuado, capitais mobilizados para o lucro e
separação mais clara entre uma burguesia possuidora de bens de produção e
dos assalariados.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 23

A partir da Revolução Industrial, onde a indústria é a principal atividade


econômica, estruturou-se uma nova forma de agir, através da qual, a sociedade
se apropria e transforma a natureza, revolucionando o processo de urbanização
e abrindo novas temáticas para a Geografia via interpretação das relações
espaciais.

Resumo:
Informações da ação do homem sobre a natureza.

- Distribuição terra e água (rotas comerciais)


- Distribuição da população, ecúmeno e anecúmeno
- Origem dos continentes e dos mares.

Principais contribuições:

- Não há uniformidade na superfície terrestre (descontinuidade)


- Conturbação no século V e VI (império romano ocidental)
- Intercâmbio (Árabes)
- Temas desenvolvidos: Localização, geometria, astronomia – Viagens
Instrumentos: (astrolábio, pólvora, bússola)
- Continuidade e resgate da contribuição grega;
- Estudos ligados às condições naturais, costumes de povos dominados,
etc.

Destacam-se:
- Al - Idrisi: descrição de viagens e zonas climáticas.
- Ibm Batuta: estudos, demonstrando zonas tórridas.
- Ibm Khaldun: vida nômade

Idade Moderna

- Aumento da influência da burguesia;


- Crescimento das cidades com fins comerciais;
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- Busca de riquezas e a insatisfação do intercâmbio entre Ocidente e


Oriente provocou o desenvolvimento cultural e a difusão de instrumentos
que teriam grande importância nas transformações econômicas e sociais
nos séculos XVII e XIX;
- Grande revolução no conhecimento geográfico: é a expansão
extraordinária do espaço conhecido, rejeição de série de conhecimentos
sobre crenças a respeito da superfície terrestre;
- A expansão do território conhecido repercutiu primeiro sobre a cartografia
que foi transformada e aperfeiçoada: Informações sobre as superfícies
marinhas e costas e os conhecimentos astronômicos, náuticos e
meteorológicas (correntes, marés, ventos)
- Constatação da terra que é redonda – geóide;
- Formulação do sistema solar – Teoria do Heliocêntrico;
- Século XVII conhecimentos esparsos eram numerosos e tinham adquirido
profundidade.
- Século XIX (século das luzes) teve início uma grande revolução econômica
que consolidaria o domínio da burguesia e do modo de produção
capitalista.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 25

1.5. PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS DA SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA

Até o final do século XVIII o conhecimento geográfico não se encontrava


sistematizado, com unidade temática. Esse conhecimento encontrava-se disperso
e consistia conforme Moraes (1981, p.34), em apenas:

Relatos de viagens, escritos em tom literário, áridos relatórios


estatísticos de órgãos de administração, obras sintéticas, agrupando os
conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais e catálogos
sistemáticos sobre os continentes e os países do globo.

O processo de sistematização dos conhecimentos geográficos ocorreria


na Alemanha através das publicações das obras de Alexandre Von Humboldt e
Karl Ritter. A sistematização só vai ocorrer no início do século XIX, pois pensar a
Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um certo
número de condições históricas, que somente nesta época estarão
suficientemente estruturadas, baseando-se no processo de avanço e domínio das
relações capitalistas de produção. (Moraes, 1981).
Destaca-se, desta forma, que os pressupostos geográficos foram: (a)
conhecimento efetivo da extensão real do planeta; (b) Geografia Unitária.
O primeiro destes pressupostos seria o conhecimento efetivo da extensão
real do planeta. Pois, de acordo com Moraes (1989, p.17):

... A condição de realização desse pressuposto calcava-se na


constituição do espaço mundial de relações. A consciência da
magnitude real da superfície terrestre (em termos de sua forma,
dimensão, subdivisão e limites) representava o patamar mínimo para o
afloramento da reflexão sistematizada sobre esse espaço concreto.

Outro pressuposto para o aparecimento da Geografia Unitária, residia no


aprimoramento das técnicas de representação (cartografia), pois era o
instrumento por excelência do geógrafo.
Esses pressupostos foram se objetivando no movimento da constituição
do modo de produção capitalista. Esta gestação ocorreu na fase de transição do
período feudal para o capitalista.

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Nesta fase, ocorreu a constituição de uma economia mundializada,


centrada na Europa, onde, havia a necessidade de além da descoberta, efetivar a
apropriação dos novos territórios e a sua incorporação ao sistema produtivo do
centro difusor.
Estas condições haviam se constituído no próprio processo de formação,
avanço e domínio das relações capitalistas. Alicerçada pela burguesia, sendo
essa classe a que agia e pensava no sentido de transformar a ordem social
existente.
Pode-se dizer então que o processo de sistematização do pensamento
geográfico, em outras palavras, a constituição da Geografia moderna, inicia-se na
primeira metade do século XIX. Localiza-se, assim, no crepúsculo do período
histórico do pensamento burguês, isto é, num momento em que ainda se
colocava para os representantes dessa classe o estimulo de explicar o mundo,
uma postura de efetivamente conhecer o real. (Gomes, 1989).
Apenas os pressupostos materiais não seriam suficientes para explicar a
sistematização da Geografia. Era necessário um aprofundamento em nível
teórico, esse fornecido pelo aprimoramento do pensamento filosófico e científico
originado nos pensadores políticos do iluminismo, sendo os porta-vozes de novas
ideologias da classe dominante (a burguesia).
Outra colaboração para o conhecimento geográfico foi a Teoria da seleção
das espécies de Darwin, divulgada nos fins do séc. XIX. Segundo Darwin, a
seleção natural se realiza através da luta entre as espécies, ou seja, vencem as
mais capazes e aptos. Para a Geografia essas idéias vão ser importantes, pois
justificam a diferença entre as classes sociais, entre os povos conquistados e os
conquistadores, justifica também toda a dominação no período colonial
(metrópole x colônia)

PRINCÍPIOS GEOGRÁFICOS (Moraes, 1989)

 Princípio da unidade terrestre: a terra é um todo que só pode ser


compreendida numa visão de conjunto.

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 Individualidade dos lugares: cada lugar tem uma feição que lhe é própria
a qual não se reproduz de modo igual em outro lugar.
 Atividade: tudo na natureza está em constante dinamismo.
 Conexão: todos os elementos da superfície terrestre e todos os lugares se
inter-relacionam.
 Comparação: a diversidade de lugares só pode ser apreendida pela
contraposição das individualidades.
 Extensão: todo o fenômeno manifesta-se numa porção variável e possível
de ser delimitada.
 Localização: Cada lugar tem uma localização única.

Considerações parciais

Na Pré-história, na Antigüidade e na Idade Média, a Geografia era


utilizada principalmente para desenhar roteiros percorridos, para indicar recursos
e alimentos disponíveis na natureza, para observar e analisar os astros, para
identificar relações meteorológicas. Neste sentido, confundia-se, muitas vezes,
com a cartografia e com a astronomia. Já na Idade Moderna, verifica-se a busca
de explicações mais profundas para as relações entre a superfície terrestre e os
astros, entre as condições natural-físicas e as humanas ou da sociedade. Já na
Idade Contemporânea, ao se tornar um ramo autônomo do conhecimento, a
Geografia aparece muito ligada a explicações de fenômenos físicos e bastante
comprometida com interesses políticos. Percebe-se assim, uma evolução que
passa da pura preocupação com a descrição à procura de explicações para os
fenômenos observados e causas de sua distribuição. Passando da descrição à
explicação ela adquire o caráter de ciência e ao trabalhar com fenômenos físicos,
biológicos e humanos justifica sua ambição de ser ciência de síntese. (Pereira,
1989).

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 28

_____________________________GEOGRAFIA CLÁSSICA, GEOGRAFIA


VELHA OU GEOGRAFIA TRADICIONAL

A Geografia é uma ciência – pouco importa para o momento o sentido


que se atribua ao termo – a um tempo bastante antiga e muito recente.
(Dresch, 1980, p. 5).

2.1. CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS

O desejo de realizar uma ciência positiva, isto é, apoiada apenas na


observação dos fatos, é uma aspiração que procede do século XVIII, e
desenvolveu-se sobre tudo a partir dos estudos de Física de Newton, que
defendia a Filosofia da experimentação, segundo a qual o conhecimento deve
resultar da observação, do cálculo e da comparação dos resultados, de modo a
permitir a elaboração de leis. A procura da causa dos fenômenos deixou de ser
uma procura apenas da razão, para se assentar na experimentação.
O fim do século XIX e o início do século XX (1920) podem ser
considerados marcos cronológico, uma vez que, nesse período, as ciências em
geral viveram grandes transformações. O fator responsável por essas mudanças
está alicerçado na concepção filosófica positivista, na qual tanto o saber quanto o
conhecimento passaram por um processo de sistematização e compartimentação
em que foram delimitados e definidos os objetos e os métodos de cada ramo
científico.
Pode se dizer que a influência do positivismo no mundo científico foi
extraordinariamente sensível durante o período dos últimos cem anos.
Estabelecido por Augusto Comte (1798 – 1857) durante a década de 1830, na
França, como um conceito, foi posteriormente caracterizado por esse autor como
princípio metafísico. (Gregory, 1985).
Neste contexto, é interessante destacar segundo Gregory (1985, p. 46)
que:

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 29

As abordagens positivistas forneceram os fundamentos para o que veio


a ser amplamente conhecido como método científico, dependente da
construção de generalizações empíricas, enunciados com características
de lei, que relacionam o fenômeno que pode ser reconhecido
empiricamente... o positivismo conheceu um ímpeto enorme com o
advento da obra Origem das Espécies, de Darwin.

Percebe-se, portanto, que a influência das ciências biológicas e sociais


foi muito significativa no campo geográfico, causando debates de fundamental
importância para a Geografia ainda em fase de consolidação. Adiantando um
pouco a ordem das idéias, é possível dizer que, da influência e do confronto com
as ciências naturais e sociais de então (sobretudo devido ao Darwinismo),
reforçou-se o caráter ambientalista da Geografia, ou seja, o estudo das relações
entre o homem e o meio. Como resultado, eclodiu o confronto doutrinário
determinismo versus possibilismo, na procura de definir um objeto de estudo
específico para a Geografia, o qual contribuiria para assegurar o seu status de
ciência.
O verdadeiro objetivo do positivismo consiste, antes de tudo, em observar
(ver) para prever, em estudar (analisar) o que é, a fim de concluir, baseado nisto,
como será considerado sempre o dogma da invariabilidade das leis naturais.
(Capel, 1981).
No plano filosófico, o positivismo propõe-se a explicações abrangentes
do mundo, compreensão de todos os fenômenos do real, afirmação das
possibilidades da razão humana e aceitação de uma nova ordem. Tais
proposições se formularam a partir do racionalismo e liberalismo, que exaltam a
natureza, a lei do meio natural e do regional.
Assim, a Geografia buscou, na concepção filosófica e nos pressupostos
metodológicos advindos do positivismo, a explicação de todos os fenômenos
universais através do emprego exclusivo do método empírico ou da verificação
experimental. Desta maneira, estudava os fatos e suas relações considerando o
percebido pelos sentidos exteriores. De acordo com Moraes (1987, p. 22), “... tal
concepção aparece na Geografia através da máxima – a Geografia é uma ciência
empírica pautada na observação”.
O positivismo surgiu como ideologia no processo histórico de substituição
do Estado Monárquico, pelo Estado Burguês, que defendia a harmonia do corpo

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 30

social unificado organicamente como corpo político, constituindo-se no


analogismo orgânico e no naturalismo, os alicerces da nova ordem estabelecida,
e que foram incorporadas pela ciência.
Na concepção filosófica e metodológica advinda do positivismo é que a
Geografia teve assentadas as suas orientações gerais. Os postulados positivistas
foram uma das bases, sobre o qual o pensamento geográfico foi constituído.
Segundo Ribeiro Jr. (1986, p.16), o positivismo pode ser entendido como:

[...] uma filosofia determinista que professa, de um lado o


experimentalismo sistemático e, de outro, considera anticientífico todo o
estudo das causas finais. Assim, admite que o espírito humano é capaz
de atingir verdades positivas ou de ordem experimental, mas não
resolve as questões metafísicas, não verificadas pela observação e pela
experiência.

Como pensamento filosófico busca a explicação de todos os fenômenos


universais através do emprego exclusivo do método empírico ou da verificação
experimental. Assim, estuda os fatos e suas relações, fator esse somente
percebido pelos sentidos exteriores.
O positivismo na sua essência não admite a separação entre o mundo
físico e o mundo do espírito, entre as ciências da natureza e do homem, e possui
regras fundamentais: (a) a observação é a única base do conhecimento; (b) o
estudo dos fenômenos deve basear-se apenas no que é observável, renunciando
a qualquer especulação sobre a sua origem e seu destino; (c) as leis positivistas
destinam-se a prever.
Deste modo, o positivismo se desenvolveu graças ao grande progresso
das ciências naturais, particularmente das biológicas e fisiológicas. Tenta-se
aplicar os princípios e os métodos destas ciências à filosofia, como solução para
os problemas do mundo e da vida.
Na utilização dos métodos das ciências naturais, o positivismo compara a
superfície terrestre com um organismo vivo. É o organicismo, uma fase do
positivismo, onde se supõe que as mesmas leis que ordenam o corpo humano,
podem ser utilizadas para situações do espaço geográfico. A partir da
investigação das leis científicas que dominam esse espaço. Assim, a Geografia
moderna estaria alcançando a positividade prática e a metodológica. Mas para

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 31

isso precisava adotar os princípios das ciências naturais como: observação,


localização, descrição, experimentação, extensão, e outros, que são conhecidos
como Princípios Geográficos.
Na concepção positivista, todos os fatos geográficos, deveriam ser
experimentados, ser positivos, ser visíveis. Admite-se, que somente através da
observação e experimentação, únicas fontes do conhecimento será possível
chegar-se a contribuições relevantes para esta ciência.
O evolucionismo é outra fase do positivismo, vinculada com a teoria da
evolução das espécies, de Darwin. Essa corrente vai estudar as sociedades
através de analogias biológicas, procurando a comparação de suas estruturas e
funções com a vida orgânica. Na visão desta corrente, o evolucionismo quando
aplicado aos fenômenos geográficos, leva a uma idéia de fatalismo, ou seja, os
fatores geográficos vão ser vistos como a própria vida, em que se nasce, vive e
morre. No fatalismo evolucionista, os homens não interferem no processo
histórico, tornando-se dependentes dos processos naturais.
Considera-se o funcionalismo outra fase do positivismo, que surge mais
tarde e concretiza-se no final do século XIX, procurando encontrar a essência da
ciência geográfica e romper com as analogias orgânicas. Criticam-se os
analogismos entre a Geografia e a perspectiva organicista – fatalista.
Nesta visão, o termo função, em Geografia, surgiu com a preocupação de
conhecer o espaço geográfico ou a superfície terrestre. O funcionalismo trata os
problemas de forma empírica, como é próprio do positivismo, estudando relações
entre os elementos geográficos, cabendo ao Geógrafo a reconstrução, a
reprodução concreta encontrada na realidade.
Segundo Leclerc apud Camargo & Bray (1984, p.19-20), o funcionalismo
“... vai modificar o sistema político da época, de um colonialismo imperialista e
partindo das dificuldades do imperialismo do mundo, a Geografia o utiliza como
fonte, o que vai de encontro com os governos coloniais que desejam conhecer
melhor as regiões colonizadoras“.
O funcionalismo vai trabalhar com o método positivista e a abordagem
sistêmica - organicista.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 32

Segundo Moraes (1981), a unidade do pensamento geográfico tradicional


adviria do fundamento comum tomado ao Positivismo, manifesto numa postura
geral, profundamente empirista e naturalista.

OBS: Paradigmas da Geografia Tradicional


 Determinismo Geográfico: Na relação homem x meio ambiente, a
natureza é o agente determinante. O meio determina as ações do
homem. Originou-se na Alemanha.
 Possibilismo Geográfico: Na relação homem x meio ambiente, o
homem tem papel fundamental na organização espacial. Originou-se na
França.
- O meio natural não é a causa necessária, mas possível, é relativo, fornece um
conjunto de possibilidades cujo desenvolvimento dependerá do estágio de
desenvolvimento técnico de determinada sociedade.
- a técnica entra em confronto com o homem
- Com o possibilismo a Geografia ultrapassa o perigo de se dividir em Geografia
Física e Geografia Humana e passa a ser uma ciência ponte que se situa entre
as ciências naturais e exatas (estudos decritivos somente físicos e estudos
decritivos somente humanos).

2.1.1. Esquema geral do Positivismo

 ORGANICISMO: Utilização dos métodos das ciências biológicas e


naturais e a comparação entre a superfície terrestre e um organismo vivo;

 EVOLUCIONISMO: Baseado na "Teoria do Evolucionismo" de Darwin.


Estuda-se a sociedade através de analogias biológicas, procurando compará-la
em estrutura e função a vida orgânica;

 FUNCIONALISMO: Trata de problemas que envolve uma


consideração estritamente empírica das relações entre os elementos geográficos.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 33

As bases da Geografia científica estão assentadas sobre o positivismo.


Os seus postulados serão os patamares sobre o qual se ergue o pensamento
geográfico tradicional.

Figura 5: Comparação entre os postulados positivistas e os geográficos

POSTULADOS POSITIVISTAS
1. Redução da realidade ao
POSTULADOS GEOGRÁFICOS
mundo dos sentidos.
1. A Geografia é uma ciência
2. Idéia da existência de um
empírica pautada na observação.
único método de interpretação
comum a todas as ciências. Não
2. A Geografia é uma ciência de
aceitação da diferença de
contato entre o domínio da
qualidade entre o domínio das
natureza e o da humanidade.
Ciências Humanas e das
Ciências Naturais.
3. A Geografia é uma ciência de
3. Hierarquização das Ciências.
síntese.

ORG: Bezzi, M. L. & Marafon, G. J. 1992.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 34

2.2. O PROCESSO DE SISTEMATIZAÇÃO E A ESCOLA ALEMÃ DA


GEOGRAFIA

O processo de sistematização na Geografia teve início na Alemanha, a


qual inexistia enquanto Estado Nacional e, consequentemente, sem unidade
econômica e política. Entretanto, o caráter tardio da penetração das relações
capitalistas nesse país, não rompeu a ordem vigente, isto é, não ocorreu uma
Revolução Democrática Burguesa, estando o poder ligado a aristocracia agrária.
A burguesia só se desenvolverá a sombra do Estado, e de um Estado
comandado pela aristocracia agrária. Esse momento histórico, iniciado no século
XIX, vai ascender nas classes dominantes alemãs à idéia da unificação nacional.
A sistematização geográfica na Alemanha alimentou-se de temas ligados
ao domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional
entre outros, que denotavam preocupação com a unificação do Estado Alemão
onde a questão do espaço era primordial.
Assim, a sistematização ocorreu a partir da reflexão e pesquisas de dois
alemães: Alexandre Von Humboldt, naturalista e viajante e Karl Ritter, historiador
e filósofo. Ambos vivenciaram o início do processo da unificação do Estado
Alemão. Foram esses cientistas que formularam as bases teóricas e
metodológicas que deram a Geografia uma unidade, o "status" de ciência, no
século XIX.

2.3. PRINCIPAIS ESTUDIOSOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O PROCESSO DE


SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA

1) Alexandre Von Humboldt (1769-1859) – de formação naturalista,


realizou muitas viagens, as principais obras são "Quadros da Natureza" e
"Cosmos".
Para ele, a Geografia, era como a parte terrestre da ciência do cosmo,
isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos a terra.
A Geografia seria uma ciência eminentemente sintética, preocupada com a

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 35

conexão entre os elementos e buscando através dessa conexão, a causalidade


existente na natureza.
Seu método de estudo propunha o "empirismo raciocinado", isto é,
intuição a partir da observação. O geógrafo deveria contemplar a paisagem de
uma forma quase estética. A paisagem causaria no observador uma "impressão"
a qual combinada com a observação sistemática dos seus elementos
componentes e filtrada pelo raciocínio lógico, levaria a explicação, à causalidade
das conexões contidas na paisagem observada.
Humboldt não possuía um intuito sistematizador explícito. Sua obra
desenvolve-se fora da escala das disciplinas, possuindo uma perspectiva
enciclopédica, um tom sintético estranho às ciências particulares. Além disso,
seus juízos, objetivos e argumentos transitam constantemente entre o domínio da
indagação filosófica e o da consideração científica. Mesmo sem conseguir
realizar a união entre estes dois domínios, Humboldt chega a falar que sua
Geografia é uma Filosofia da Natureza com base empírica, atribuindo-lhe, assim,
também caráter de ciência; a Geografia seria uma reflexão sobre conhecimentos
dados pela observação ordenada do mundo - o método por ele definido de
empirismo raciocinado atesta tal intuito. (Moraes, 1989, p. 203 )
Tinha como técnicas de análise a observação, a descrição e a
representação.
2) Karl Ritter (1779 - 1859) sua formação era filosófica e histórica. A
principal obra foi "Geografia Comparada".
Ele entendia que a Geografia deveria estudar os arranjos individuais e
compará-los. Cada arranjo abarcaria um conjunto de elementos, representando
uma totalidade, onde o homem seria o principal elemento.
A proposta de Ritter é por esta razão antropocêntrica (o homem é o
sujeito da natureza), regional (aponta para o estudo de individualidade),
valorizando a relação homem-natureza.
A obra de Ritter contém preocupações de cunho metodológico. Seu
método de estudo estava baseado na análise empírica, para ele é necessário
conhecer de "observação em observação".
As observações ritterianas, por outro lado, possuíam deliberado caráter
normativo, isto é, um assumido intuito sistematizador. Ritter se propõe
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 36

explicitamente a constituir uma Geografia, por isso dedica-se a delimitar seu


campo, a localizá-la entre as ciências, a subdividi-la, a padronizar seus
conceitos, a gerar, enfim normas para o procedimento dos geógrafos. Na sua
proposta a Geografia é expressamente definida como ciências das relações
terrestres espaciais, assim, não há possibilidade de polêmicas em localizá-la no
plano do conhecimento científico, pois se trata explicitamente, para ele, de uma
disciplina científica autônoma e específica. (Moraes, 1989, p. 204)
Influenciados pelos fundamentos positivistas e pela incorporação de
métodos das ciências naturais, que estavam mais avançados em relação às
ciências humanas, Humboldt e Ritter propõem princípios para a Geografia, e
entre eles cabe destacar: contato direto com o objeto de estudo, através da
observação; precisão e controle na coleta do material a ser analisado e a procura
de explicações científicas.
A obra destes dois autores compõe a base da Geografia Tradicional.
Todos os trabalhos posteriores, vão se remeter às formulações de Humboldt e
Ritter, seja para aceitá-los, contestá-los ou refutá-los.
Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai
ocorrer com as formulações de Ratzel. Esse autor vivenciou a constituição real
do Estado Nacional Alemão, em conseqüência sua Geografia foi um instrumento
poderoso da legitimação dos desígnios expansionistas do Estado Alemão, onde o
conhecimento do mundo e o aprofundamento das relações entre sociedade e
natureza eram, pois, de grande importância para os grupos dominantes, que
aspiravam a união nacional, unificação política em um primeiro estágio e a
disputa pelo domínio do mundo extraeuropeu em um segundo estágio.
3) Friedrich Ratzel (1844 - 1904), de formação naturalista, baseou-se nos
postulados de Darwin incorporando o evolucionismo a Geografia. Sua obra
principal foi a "Antropogeografia".
Para ele a Geografia estudava as influências que as condições naturais
exercem sobre a humanidade. Além disso, a Geografia deveria utilizar-se de
outras ciências para entender a sociedade, pois a natureza influenciaria a própria
constituição social e atuaria na possibilidade de expansão de um povo.

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Figura 6: Estrutura do pensamento Ratzeliano

Neste sentido, comparava a sociedade é um organismo que mantém


as relações duráveis com o solo, manifestadas, por exemplo, nas necessidades
de moradia e alimentação. Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior seria
para a sociedade, a necessidade de manter a sua posse. É por essa razão que a
sociedade cria o Estado, ou seja, "quando a sociedade se organiza para defender
o território, transforma-se em Estado".
Seu método de estudo privilegia a análise empírica, pautada na
observação e descrição, destacando a visão naturalista.
A relação entre Estado e espaço foi um dos pontos privilegiados por
Ratzel, elaborando a teoria do Espaço Vital.
Suas principais contribuições estão ligadas a Teoria do "Espaço Vital".
Assim, Ratzel entendia que o "espaço vital" representava uma proporção de
equilíbrio entre uma população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis
para suprir suas necessidades, definindo assim suas necessidades de progredir
e suas premências territoriais. Sua teoria legitima o imperialismo Bizmarkiano.
A principal contribuição de Ratzel para a ciência Geográfica foi o
Determinismo Geográfico, o qual considerou o homem como um elemento
passivo da paisagem. Criou a doutrina do determinismo geográfico, onde o
homem é o produto do meio.
No estudo das relações homem-meio explicar-se-ia as diferenciações
culturais e econômicas ao longo da superfície da terra. Essa doutrina estava
baseada no positivismo e nas idéias de Darwin, priorizando a relação homem x
meio.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 38

Tal como os organismos necessitavam de se adaptar ao meio, para


poderem sobreviver, também o homem necessita de adaptar o seu modo de vida
ao ambiente em que vive.
As teses deterministas, apesar de seu simplismo foram bastante
divulgadas, e aparecem com freqüência no ideário do pensamento conservador
(teorias da indolência do homem tropical, do subdesenvolvimento como fruto da
tropicalidade).
A Geografia estudaria as características naturais da superfície da terra e
consideraria o efeito dessas características sobre o homem e suas atividades. As
teses deterministas incorreram na mais completa naturalização da história
humana.
Os principais precursores foram E. Semplee e Huntington. No que se
refere à constituição da Geopolítica (dominação dos territórios, referentes à ação
do Estado sobre o espaço).
Essa concepção operacionalizava e legitimava o imperialismo, isto é,
discorriam sobre as formas de defender, manter e conquistar os territórios. Os
principais representantes foram Kjellnen, Mackunder, Haushafen.
Quanto a questão ambientalista a natureza não é vista mais como
determinação, mas como suporte da vida humana, mantém-se a concepção
naturalista. O ambientalismo se desenvolveu modernamente apoiado na
ecologia.
Ratzel teve grande peso para a evolução do pensamento geográfico. A
própria Geografia francesa é uma resposta às formulações de Ratzel. Sua maior
contribuição é de ter trazido para o debate geográfico, os termos políticos e
econômicos, colocando o homem no centro das análises. Com ele, foram fixadas
as bases para uma divisão mais radical entre Geografia Humana e Geografia
Física.
Pode-se dizer que as principais contribuições de Ratzel foram o espaço
vital, o determinismo geográfico, a geopolítica e o ambientalismo. Todas essas
linhas foram fundamentais para o aprofundamento da Geografia. Além disso, as
fontes de estudos ligadas a Ratzel foi a história, espaço, a distribuição da
população e os estudos de áreas.

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2.4. A ESCOLA FRANCESA

No final do século XIX, o eixo do discurso da ciência geográfica desloca-


se da Alemanha para a França, onde os postulados de Ratzel são questionados
por Paul Vidal de La Blache (1845 a 1918).
Para compreendermos a proposta para a ciência geográfica de La
Blache, é necessário entendermos o contexto do desenvolvimento histórico
francês, segundo Moraes, (1981, p.61-62):

A França foi o país que realizou, de forma mais pura, uma revolução
burguesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a
burguesia instalou seu governo, dando ao Estado a feição que mais
atendia a seus interesses... a centralização do poder estava garantida
pela prática da monarquia absoluta. Isto havia propiciado a formação de
uma burguesia sólida, com aspirações consolidadas, e com uma ação
nacional. Esta classe formulou e comandou uma transformação radical
da ordem existente, implantando o domínio total das relações
capitalistas... Nesse processo o pensamento burguês gerou propostas
progressistas, instituindo uma tradição liberal no país.

Alemanha e França disputavam no último quartel do século XIX a


hegemonia pelo controle continental da Europa, sendo uma disputa entre
imperialismos. Essa disputa culminou com a guerra franco-prussiana, em 1870,
na qual a Prússia saiu vencedora. A França perde territórios importantes para a
sua industrialização - Alsácia e Lorena - onde se localizavam importantes
reservas de carvão. Foi nesse período que a Geografia se desenvolve na França,
com o apoio do Estado Francês. Desse modo, a Geografia como disciplina, foi
colocada em todas as séries do ensino básico. Sendo criadas também as
cátedras e os institutos de Geografia.
De acordo com Moraes, (1981, p. 64), é importante destacar que: “A
guerra havia colocado para a classe dominante francesa, a necessidade de
pensar o espaço, de fazer uma geografia que deslegitimasse a reflexão
geográfica alemã e, ao mesmo tempo, fornecesse fundamentos para o
expansionismo francês”.

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No plano do desenvolvimento das idéias, surge no final do século XIX, o


historicismo, postulando que as ciências humanas diferenciam-se das ciências
naturais e não podem aplicar seus métodos. Deve-se compreender o homem
através do estudo de casos concretos e únicos.
Neste contexto histórico e das críticas de Paul Vidal de La Blache à
Ratzel alicerça-se a escola francesa de Geografia.

Quadro 2: Paralelo dos principais enfoques analisados por Ratzel e La Blache.

RATZEL LA BLACHE
1. Agente social de análise: o 1. A análise: homem abstrato do
Estado. liberalismo.
2. Neutralidade do discurso
2. Politização explícita do científico (legitimação do
discurso (imperialismo alemão). imperialismo francês). Ciência
distante do interesses sociais,
3. Caráter naturalista, concepção envolvida em um manto de
fatalista e mecanicista da relação neutralidade.
entre os homens e a natureza. 3. Defendeu o componente
criativo na ação humana,
valorizou a história, postura
relativista.

ORG: Bezzi, M, L. & Marafon, G. J. 1992.

Para La Blache o objeto da geografia era o estudo da relação homem x


natureza na perspectiva da paisagem.
Colocou o homem como um ser ativo, que sofre influência do meio,
porém que atua sobre este, transformando-o, essas idéias originam a doutrina
possibilista.

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A principal contribuição da escola francesa para a ciência geográfica foi o


possibilismo, doutrina que considera o homem como um agente que atua no
meio, cria formas sobre a superfície terrestre, e a natureza passa a ser vista
como possibilidades para a ação humana. Com o possibilismo a Geografia
ultrapassa o perigo de se dividir em geografia física e humana e passa a ser uma
ponte entre as ciências naturais e humanas. Desta forma, o homem foi o
resultado da obra geográfica, ou seja, indicava-se no estudo do meio o lugar
apropriado do homem.
Uma das principais obras de La Blache é o Tratado de Geografia da
França, além de outras. Foi responsável também pela revista Annales de
Géographie. Como instrumento de análise utilizou-se o trabalho de campo,
valorizando a intuição (descrição). Além disso, ao geral contrapôs o regional -
estudos de campo limitados a pequenas regiões, levando em conta os aspectos
físicos e a eles sobrepondo os humanos e econômicos. Trabalhou, também, com
a cartografia como técnica privilegiada da pesquisa e da reflexão geográfica.
Para La Blache a análise geográfica se daria através da observação de
campo, indução a partir da paisagem, particularização da área estudada e do
material levantado e a classificação das áreas e dos gêneros de vida. Elegeu
como método de trabalho o indutivo (do particular para o geral) e tinha seus
estudos baseados na filosofia do positivismo (funcionalismo).
O funcionalismo foi buscar nos fatos geográficos a própria essência da
ciência geográfica e romper com as analogias orgânicas que procuravam
assimilar à superfície terrestre a um organismo vivo. Tratava de problemas que
envolvem uma consideração empírica das relações entre elementos geográficos.
Os principais conceitos utilizados em suas obras foram: (a) Gênero de vida –
entendido como o conjunto de técnicas, hábitos, usos e costumes que permitiam
ao homem utilizar os recursos naturais disponíveis. Os gêneros de vida
exprimiam uma relação entre a população e os recursos, uma situação de
equilíbrio, construída historicamente pela sociedade; (b) região uma escala de
análise, uma unidade espacial, dotada de uma individualidade, em relação as
suas áreas limítrofes.
O espaço em que se sintetizam o ambiente natural e o aproveitamento
que o homem faz do meio, passou a ser o estudo de uma região com uma
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estrutura própria: (1) localização; (2) análise do meio físico; (3) formas de
ocupação e atividades humanas; (4) processo de integração do homem com o
ambiente.
As La Blache sucederam-se inúmeros discípulos, que continuaram com
as suas idéias e elaboraram numerosas monografias regionais:
- Emannuel de Martonne - escreveu a obra "Geografia Física"
- Jean Brunhes - escreveu a obra "Geografia Humana"
- Camille. Vallaux - escreveu sobre a Geografia histórica e a Geografia
política.
- Max. Sorre - escreveu a obra "Fundamentos da Geografia Humana".
- Le Lannou - concebeu a Geografia como eminentemente regional.
- Andre Cholley - procurou retomar a unidade entre Geografia física e
humana.

Segundo Moraes, (1981, p.82), é importante destacar que:

... a seqüência Vidal de La Blache-Sorre-Le Lannou e Cholley mostrou


uma continuidade de fundamentos e concepções...teve na geografia
regional, sua principal objetivação...tratou-se do estabelecimento de fato
de uma geografia humana, explicitamente dedicada ao estudo de
fenômenos humanos (a humanização do meio, a organização humana
do espaço).

De forma geral, pode-se afirmar que orientações gerais da Geografia


Clássica Francesa, seriam, de acordo com Amorin Filho (1982, p.9) e Andrade,
(1987, p.74) assim caracterizadas: (1) ênfase na inter-influência homem/meio
físico, meio físico/homem; (2) eleição dos lugares ou regiões como objeto
privilegiado do estudo geográfico; (3) ênfase sobre a análise da interação
(conexão) do maior número possível de fenômenos na região ou no lugar
estudado; (4) importância atribuída à análise do visível, da fisionomia (paisagem),
para a explicação geográfica; (5) importância atribuída às contribuições históricas
para a explicação geográfica; (6) escolha da cartografia como técnica privilegiada
da pesquisa e da reflexão geográfica, tendo em vista seu poder de sintetizar as
relações regionais que se quer estudar; (7) escolha do encaminhamento indutivo
como metodologia adequada para a geografia; (8) posição política conservadora,

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encoberta pela neutralidade científica. Para La Blache a Geografia estudaria os


lugares, a paisagem e não o povo.
No final do século XIX e início do século XX, viveram dois geógrafos que
contribuíram de modo diverso dos geógrafos tradicionais, pois apresentaram
posicionamento divergente dos representantes da Geografia Tradicional. Elisée
Reclus , francês e Piotr Kropotkin, russo, ambos colocaram-se contra a estrutura
do poder, negaram a validade do Estado, adotaram idéias de reformas sociais
radicais e defenderam as classes menos favorecidas. Embora positivistas,
adotaram algumas categorias marxistas e abriram perspectivas a uma visão
libertária.

ELISÉE RECLUS - Para ele, os geógrafos deveriam fazer uma análise a


partir dos princípios: (a) a sociedade encontra-se dividida em classes sociais; (b)
a diferença de classes provoca luta entre as classes sociais e (c) há uma
tendência ao aperfeiçoamento individual e a melhoria das estruturas sociais em
face ao aperfeiçoamento progressivo do homem.
OBRAS: A Terra, O homem e a terra; e a Nova Geografia Universal.

PIOTR KROPOTKIN - Preocupava-se com o papel a ser desempenhado


pela Geografia no processo educativo, e dizia que o ensino e a ciência não eram
neutros. Manteve-se fiel ao positivismo, acreditava no fim do Estado e admitia
que a Geografia era uma ciência da natureza, dividindo-a em quatro grandes
ramos: (a) estudaria as leis que determinam a distribuição das terras e das
águas; (b) estabelecimento das leis que explicam a formação das montanhas,
rios e outros elementos naturais; (c) distribuição dos animais e da vegetação na
superfície terrestre e (d) distribuição dos homens na superfície terrestre.
Paralelamente ao desenvolvimento da Geografia francesa na primeira
metade do século XX, na Alemanha ela é realimentada através das contribuições
de Alfred Hettner (1859-1941), que relendo Kant, revive suas concepções e
passa a considerar a Geografia como uma ciência que estuda o espaço tendo a
mesma, conforme Ferreira & Simões, (s/d, p.77-78):

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 44

uma característica corológica, tal como a história tem uma característica


temporal. E, por ser corológica, tem como objetivo conhecer o caráter
dos países ou regiões, mediante a compreensão da coexistência dos
diversos reinos da natureza nas suas diferentes formas.

Tinha como preocupação fundamental banir da Geografia o dualismo


entre Geografia Física e Geografia Humana. No entanto, Hettner acabou
reforçando, o segundo dualismo, ao identificar uma Geografia geral e uma
Geografia especial ou regional dando maior ênfase a última.
Neste sentido, Amorin Filho (1982, p. 9), destaca que:

O conceito mais importante proposto por Hettner é o de landchaft


geographie... que cobre diferentes significados, possuindo maior
importância para a geografia o de 'Região e Paisagem'... para Hettner, o
espaço concreto (a paisagem) e a diferenciação regional desse espaço
constituem o objeto privilegiado da geografia.

Hettner tinha como preocupação questões relativas ao método da


Geografia, preocupações essas que se estenderam a outros geógrafos e a outros
países e, suas idéias são retomadas por Richard Hartshorne (1899) geógrafo
americano preocupado com a natureza da Geografia.
Para Hartshorne, a Geografia se definia por métodos próprios
entendendo a mesma como uma ciência que se dedica ao estudo da
diferenciação espacial da superfície da terra, das suas diferenças regionais e da
associação de fenômenos diversos num espaço concreto.
Resgata-se, mais uma vez Moraes (1981, p. 87), quando o mesmo afirma
que:

O método especificamente geográfico viria do fato dessa disciplina


trabalhar o real em sua complexidade, abordando fenômenos variados
estudados por outras ciências. O estudo geográfico não isolaria os
elementos, ao contrário, trabalharia com suas inter-relações... deixou de
procurar um objeto da geografia entendendo-a como um 'ponto de vista.

Entre as publicações deste geógrafo destacam-se: A Natureza da


Geografia e Propósitos e Natureza da Geografia nas quais o autor formula suas
propostas (Geografia ideográfica e Geografia nomotética) e conceitos (área de
integração).

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 45

Para Hartshorne área é considerada uma parcela da superfície terrestre


diferenciada pelo observador, que a delimita por seu caráter. A área seria
construída no processo de investigação. O caráter de cada área seria dado pela
integração dos fenômenos inter-relacionados. Desta forma, a análise deveria
buscar a integração do maior número possível de fenômenos relacionados.
(Moraes, 1981).
Salienta-se que Hartshorne propôs para a Geografia duas formas de
análise: Geografia ideográfica e Geografia nomotética.
Na Geografia ideográfica a análise deveria buscar a integração do maior
número possível de fenômenos inter-relacionados. Busca do caráter da área
enfocada. Análise singular e unitária, conhecimento profundo de determinado
local. Esta abordagem é concretizada nos trabalhos pontuais dos estudos
geográficos. Cita-se, como exemplo, a análise de um município, de uma bacia
hidrográfica, de um bairro, entre outros. São os conhecidos estudos de casos tão
comuns na Geografia.
Por outro lado, na Geografia nomotética, a análise deveria ser
generalizadora, apesar de parcial. Análises tópicas em várias regiões
possibilitaram a Geografia regional maior desenvolvimento, abrindo a perspectiva
de se trabalhar com inúmeros elementos, permitindo a possibilidade do uso da
quantificação e da computação em Geografia, pois se buscava através desta
abordagem a formulação de teorias e leis visando à cientificidade e a formação
de um corpus teórico para a ciência geográfica.
Com esse autor, surge outra corrente no pensamento geográfico,
denominada racionalista, devido sua menor carga empírica em relação as
anteriores (determinismo e possibilismo), privilegiando o raciocínio dedutivo.
Pode-se considerar Hartshorne como geógrafo de transição entre a
Geografia Tradicional e a Nova Geografia.

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2.4.1. Características da Geografia Tradicional ou Geografia Clássica

Entre as principais características que orientam a Escola Tradicional ou


Clássica da Geografia, destacam-se:

OBJETO DE ESTUDO: no contexto da Geografia Tradicional conforme


Christofoletti, (1983, p. 2), “[...] várias propostas foram assentadas, que podem
ser englobadas no conjunto da diferenciação areal e no das relações entre o
homem e o meio".
No que diz respeito a preposição na diferenciação areal, o objeto da
Geografia liga-se a estudos de diferenciação de áreas, individualidade dos
lugares e descrição das paisagens. Tais preocupações foram expressas por
diversos autores, como:
Emmanuel de Martonne - "[...] a Geografia moderna encara a distribuição à
superfície do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas
dessa distribuição e as relações locais desses fenômenos".
Paul Vidal de La Blache - "[...] A Geografia é a ciência dos lugares e não dos
homens".
Alfred Hettener - "[...] ciência corológica da Terra ou a ciência das áreas e dos
lugares terrestres em termo de suas diferenças e de suas relações espaciais".
Richard Hartshorne - "[...] a Geografia tem por objetivo proporcionar a descrição e
a interpretação, de maneira precisa, ordenada e racional, do caráter variável da
superfície terrestre da Terra"
A outra preocupação com o objeto de estudos da Geografia Tradicional,
salientada por Christofoletti (1983), está ligada a relação homem X meio.
Salientam-se como autores nesta visão:
Friederich Ratzel - estuda das influências dos fatores físicos sobre as atividades
humanas.
Conforme Christofoletti (1982, p. 12), pode-se afirmar que: "Embora
houvesse acordo de que a superfície terrestre era o domínio específico do
trabalho geográfico, essas definições e a prática geográfica estavam eivadas de
contradições dicotômicas".

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Portanto, pode-se dizer que a Geografia Tradicional apresentou


dicotomias ligadas a questão do seu objeto de estudo e de método de análise.
Dentro das dicotomias apresentadas na Geografia destacam-se:

FÍSICA
OBJETO
HUMANA
GEOGRAFIA
GERAL
MÉTODO
REGIONAL

MÉTODO DE ANALISE: Escolha do encaminhamento indutivo como metodologia


adequada para a Geografia, baseado no empirismo. Assim, os fenômenos
geográficos são interpretados partindo dos fatos para as idéias, da observação
para a generalização e do particular para o geral.

ABORDAGEM: Ideográfica
Encara os acontecimentos como únicos. Na literatura geográfica esse
procedimento favoreceu o estudo do mesmo tipo de fenômeno em lugares os
mais diversos e a expansão da Geografia Regional (monografias regionais).

ESPAÇO DE ANÁLISE: Espaço absoluto


Utilização do sistema convencional de coordenadas, utilizando as
latitudes e longitudes para descrever a localização absoluta dos lugares.

TÉCNICAS DE ANÁLISE: Observação, trabalho de campo, descrição,


representação (cartografia)
A Geografia se assenta na observação, se ordena por reflexão dos fatos
observados, chegando-se a comparação e síntese.

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A observação é o instrumento do conhecimento geográfico por


excelência.
A representação cartográfica é o instrumento analítico e a síntese final da
pesquisa geográfica.

FILOSOFIA NORTEADORA: Positivismo

Segundo LOWY (1987, p.17), o positivismo está assentado em um certo


número de premissas:
A sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis,
independentes da vontade e da ação humanas; na vida social, reina uma
harmonia natural;
A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente assimilada pela
natureza e ser estudada pelos mesmos métodos e processos empregados pelas
ciências da natureza.
As ciências da sociedade, assim como as da natureza, devem limitar-se à
observação e à explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, neutra, livre
de julgamento de valor ou ideologias, descartando previamente todas as pré
noções e preconceitos.

Principais fases do positivismo: Organicismo, Evolucionismo, Funcionalismo.

DOUTRINAS:

 DETERMINISMO: estudo das influências que as condições naturais


exercem sobre a humanidade. A natureza é o agente ativo.
 POSSIBILISMO: considera o homem como um agente que atua no meio,
cria formas sobre a superfície terrestre, e a natureza passa a ser vista
como possibilidades para a ação humana.
 RACIONALISMO: valoriza a dedução em detrimento do empirismo.

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Considerações Gerais:

Pode-se dizer que a Escola Tradicional ou Clássica da Geografia,


contribuiu para a elaboração da ciência geográfica, nos legando um corpo de
conhecimentos sistematizados, com fundamentos teórico-metodológicos que
embasam a análise geográfica. Contribuiu também com o desenvolvimento das
técnicas de descrição e de representação.
De forma geral a Geografia desse período (séc. XIX até metade do séc.
XX) se caracterizou pelos seus fundamentos positivistas, sua visão naturalista e
empírica na qual a descrição da realidade deveria priorizar a relação de
elementos físicos e humanos que resulta na estruturação de um espaço, que é a
síntese da ação múltipla, diferenciada e relacional destes elementos. (Gomes,
1997).
Há que se considerar também que o período em que a Geografia
Tradicional foi mais influente foi marcado pelos estudos ideográficos,
comprometidos com fatos únicos, com a descrição e com a síntese regional. Não
se priorizavam as leis, as teorias e as explicações gerais. No máximo, algumas
generalizações eram realizadas.
Neste sentido, é importante salientar conforme Gomes (1997, p. 15), que
nesta fase do conhecimento geográfico se estruturou uma das grandes ilusões da
Geografia, que é a de ser considerada uma ciência de síntese, pois:

A primeira grande ilusão perdida a ser assinalada é a ciência de


síntese... difundida no final do século XVIII e ao longo do século XIX... a
terra, em seu conjunto, em sua complexa organização, remonta
inúmeros fatores de ordem física e social, mas apresenta um resultado
global visível e sintético em sua face. Em outras palavras a imagem da
terra, sua aparência ou as de suas partes (regiões, paisagem, estados),
pode revelar um complexo jogo de interações de fatores e elementos do
qual ela, a aparência é o resultado – síntese.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 50

2.5. REFERÊNCIAS

AMORIM FILHO, O. B. As Geografia Universais e a passagem do milênio.


Geografia & Ensino, UFMG, v. 3,n. 9, p.18-34, 1988.

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____________________________________ NOVA GEOGRAFIA, GEOGRAFIA


TEORÉTICA, GEOGRAFIA QUANTITATIVA OU GEOGRAFIA PRAGMÁTICA

... a mudança de uma disciplina envolve a insatisfação com o(s)


paradigma(s) e a preparação de uma alternativa aceitável... (Johnston,
1986, p. 72)

3.1. O MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO DA GEOGRAFIA

As transformações ocorridas nos métodos de investigação e nos objetivos


da Geografia, no período entre as duas guerras mundiais e posteriormente
ocasionaram mudanças metodológicas na ciência Geográfica.
Essas mudanças teriam que originar como de fato ocorreram, rupturas
com os paradigmas da Geografia Tradicional, que tão forte se faziam sentir no
seio da comunidade Geográfica e que eram repassados à sociedade através de
trabalhos científicos, relatórios, assessorias e, principalmente, através das
universidades (pesquisa e ensino) que emergiam.
Pode-se dizer então, que as novas manifestações e/ou aprofundamentos
se inserem em um contexto amplo, ou seja, na mudança da base filosófica e
metodológica dos estudos geográficos. Essas alterações vêm somar-se, então,
às críticas à Geografia Tradicional.
A produção e incorporação de novas idéias, dentro da cadeia infinita do
conhecimento, se fazem pela revisão crítica do passado. E aqui a crítica tem uma
conceituação precisa. No seu processo de elaboração, não se dá a destruição do
que existe. Há, sim, o entendimento de que, a partir de mudanças espaciais,
ocorreu a superação de conceitos, ou melhor, que foi preciso vesti-lo com roupas
adequadas à moda desse novo período, através de uma nova formulação ou da
incorporação de novos termos ou conceitos.
Assim, a revisão crítica, longe de destruir o que existe, permite um passo
à frente na investigação e compreensão da realidade. Essa superação implica um
conhecimento cumulativo e dinâmico, embora transitório, uma vez que os
aspectos filosóficos e metodológicos incorporados a uma ciência permitem

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 54

explicá-la em determinado tempo e lugar. E é assim, que permanentemente


percebe-se a dinâmica, característica peculiar de todas as ciências.
Nessa perspectiva essa nova linha de pensamento foi conduzida pelas
necessidades de expansão do capital monopolista em nível internacional e
intranacional. Assim, os Estados modernos, desde a Segunda Guerra Mundial,
viram-se levados a adotar procedimentos técnicos indispensáveis ao
desenvolvimento de políticas de planificação nos seus respectivos territórios.
Foram criados novos conceitos ou incorporados outros (emprestados de
outras ciências), que vieram contribuir para uma maior cientificidade geográfica,
em uma ciência até então carente de paradigmas, teorias e modelos explicativos
da realidade. Foi então necessário fornecer a esta ciência um sentido operativo,
e não apenas descritivo.
Em outras palavras, não se poderia ficar limitado aos métodos e
imprecisões da análise espacial realizada pela Geografia Tradicional, nem à
observação de campo que a filosofia positivista entronizava como a forma de
perceber a realidade objetiva, porém sem a base estatística para prover as
generalizações que o método indutivo sugeria e sem a base teórica ou filosófica
que a justificasse. Introduziram-se, então, a Matemática e a Estatística aos
estudos geográficos como instrumentos de análise, testes, inferências e até
mesmo como base de organização da pesquisa regional, buscando-se um maior
rigor metodológico fornecido pelo método dedutivo. A racionalidade instrumental
permitia o tratamento de processos mais complexos e de grande importância para
o desenvolvimento da ciência geográfica. Ou seja, a Nova Geografia surgiu na
procura de adequar a Geografia aos novos tempos, superar as dicotomias e os
procedimentos metodológicos.
Essas reflexões apontam para evidências de que era necessário
ocorrerem mudanças tanto filosóficas quanto metodológicas na ciência
geográfica, a fim de que ela viesse a se inserir em um novo momento histórico
que se fazia eminente.
Neste sentido, o movimento de renovação da Geografia se delineou no
final da década de cinqüenta, ocorrendo primeiramente nos EUA e, logo após, na
Grã-Bretanha.
Esse movimento ocorreu segundo Moraes (1981, p.93) devido:
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 55

[...] ao rompimento de grande parte dos geógrafos com relação à


perspectiva tradicional. Há uma crise de fato da Geografia Tradicional, e
esta enseja a busca de novos caminhos, de nova linguagem, de novas
propostas, enfim, de uma liberdade maior de reflexão e criação.

Além disso, a renovação da Geografia ocasionou uma confrontação,


onde de acordo com Capel (1981, p.367):

geógrafos, cuantitativos y “cualitativos” se enfrentaron acremente en una


confrontación en la que se oporian teorias, métodos y técnicas de
investigación; y por encima de ello, dos concepciones diferentes del
trabajo científico.

As causas dessa mudança de paradigmas podem ser encontradas,


segundo Amorin Filho (1985, p.15-16), quando ele enfatiza: (a) frustração
provocada pelo fato de se tornar cada dia mais evidente que os instrumentos
conceituais e metodológicos disponíveis eram incapazes de solucionar problemas
que se acreditava pudessem ser resolvidos pela Geografia; (b) conhecimento de
trabalhos, produzidos por cientistas de outras áreas, e constatação que a
pesquisa geográfica se encontrava cada vez mais distanciada da produção da
maior parte de outras ciências.
Outras razões também contribuíram para a mudança e transformação dos
paradigmas que até então orientavam a ciência geográfica, destacando-se: (a)
desenvolvimento do modo de produção capitalista. O capitalismo passa da fase
concorrencial, para a fase monopolista articulado através do desenvolvimento
tecnológico (período técnico científico), onde se propunha a ação do Estado na
ordenação e regulação da vida econômica através do planejamento territorial e,
(b) com o desenvolvimento do modo de produção e a revolução tecnológica,
houve alterações no espaço agrário – industrialização da agricultura,
ocasionando o êxodo rural e o aumento da urbanização, segundo Moraes (1981,
p.95): “[...] o espaço terrestre se globalizara nos fluxos e nas relações
econômicas; vivia-se o capitalismo das empresas multinacionais, dos transportes
e das comunicações interoceânicas”.
A partir desse movimento, se gestou uma nova escola geográfica – Nova
Geografia (Geografia Pragmática, Geografia Teorética ou Geografia Quantitativa)

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 56

que procurou explicitamente ser uma ciência positiva que trabalhava com a
explicação científica e a formulação de leis gerais.
As discussões a respeito da Nova Geografia surgiram nos EUA, Grã-
Bretanha e Europa e tem início com o artigo de Fred K. Schaefer de 1953
“Excepcionalismo em Geography”, seguido pelo trabalho de Ian Burton de 1963 “
A Revolução Quantitativa e Teorética da Geografia”.

3.2. CARACTERÍSTICAS DA NOVA GEOGRAFIA

FILOSOFIA NORTEADORA

O desenvolvimento das ciências é caracterizado por fases e, em cada


uma delas, predomina determinada corrente filosófica que expressa a concepção
teórica ordenadora de cada ciência, balizando a formulação de seus problemas e
de suas pesquisas. Com o surgimento de novos problemas (e a tarefa
fundamental da ciência é buscar responder às dificuldades que constantemente
são impostas à sociedade), pouco a pouco se formalizam novas teorias,
enfrentando-se, assim, os desafios que a sociedade vai oferecendo.
Em decorrência disso, um novo paradigma substitui o antigo,
direcionando a ordenação e a explicação dos fenômenos nas diversas escalas. O
novo movimento que emerge na Geografia é decorrente das distintas influências
filosóficas assimiladas e das mudanças sociais, políticas e econômicas que se
produzem no espaço em um determinado tempo.
Portanto, primeiramente buscaram-se novos pressupostos teóricos na
filosofia, ou seja, o enriquecimento de novos paradigmas foi assegurado ao se
sobrepor ao positivismo empírico um positivismo lógico.
Assim, a Nova Geografia tem como filosofia o Neopositivismo,
Positivismo ou Empirismo Lógico, que adota a linguagem dada pela Matemática e
pela Estatística. Tal linguagem, comum a todas as ciências, expressará
resultados de modo claro, matematizado. A Geografia e outras ciências

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 57

ressurgiram, então, com sólida base neopositivista contemporaneamente às


transformações que atingiram o conjunto das ciências sociais.
Nesse momento histórico, era preciso reconstruir não apenas a
paisagem, o observável, que fora dizimado pela guerra; era preciso,
simultaneamente a isso, emitir para a sociedade a idéia de que o Estado estava
aparelhado para assisti-la. Então, o Estado passou a desenvolver pesquisas e
estudos em campo, aplicando-lhes métodos estatísticos de análise e
classificação ou regionalização. Assim, passaram a ser definidos espaços
delimitados pela natureza, em cada um dos quais os traços físicos comuns
direcionavam as atividades econômicas do lugar, havendo, portanto, um estreito
imbricamento entre características físicas e econômicas. Desse modo, ao se
classificar ou regionalizar um território, já havia, de parte do Estado, a
preocupação de subsidiar o planejamento regional.
Pode-se afirmar então que a partir da década de 1950 a euforia
quantitativa alcançou seu apogeu, e a Geografia conheceu uma profunda
transformação, que deu origem à revolução quantitativa e da qual emergiu a
Nova Geografia. A Geografia é, então, envolvida por um movimento de
renovação, que advém, principalmente, do rompimento de grande parte de
Geógrafos em relação à corrente tradicional. Buscam-se novos caminhos, novos
métodos, novo objeto, nova abordagem, novos conceitos para enriquecer uma
Geografia que nasce com o nome de Nova Geografia (New Geography).
Desta forma, a filosofia neopositivista considera segundo Ferreira &
Simões (s/d, p.81) que:

todo conhecimento assenta-se na experiência; o neo-positivismo é


profundamente anti-idealista e exclui todos os problemas metafísicos;
deve-se existir uma linguagem comum a todas as ciências; a
investigação científica e os seus resultados devem ser expressos de
uma forma clara o que exige o uso da matemática e da lógica; recusa de
um dualismo científico entre as ciências naturais e as ciências sociais.

O movimento neopositivista em geral segue de perto o desenvolvimento


da física e passa a considerar que existe uma indeterminação entre a previsão e
os conhecimentos futuros. Assim, dá maior importância a probabilidade do que a
relação determinista causa-efeito.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 58

Essa maré positivista vai valorizar a aplicação de sistemas lógicos sobre


o empírico. Assim, todas as aproximações que se baseavam na intuição, na visão
qualitativa, vão ser superadas, ou seja, vão ser alimentadas pela lógica formal.
Valoriza-se, nesse momento histórico, a construção de modelos, supondo-se que
eles explicariam melhor os problemas científicos e contribuiriam, assim, com a
busca de teorias mais gerais, como é a Teoria Geral dos Sistemas.

OBJETO DE ESTUDO O objeto de estudo da Nova Geografia é a organização do


espaço, que segundo Christofoletti (1983, p.12):

Ao estabelecer a organização espacial como objeto da Geografia, surge


o consenso para se criar a sua unicidade e precisar o vocabulário,
superando dicotomias que há muito tempo vem sendo alimentadas na
literatura.

Por organização espacial entende-se a estrutura dos elementos e os


processos que explicam o funcionamento de qualquer espaço organizado.
A Geografia, através da organização do espaço, procura estabelecer
critérios para a análise do mesmo, considerando a escala dos fenômenos a
serem analisados, os elementos componentes das estruturas e a classificação
dos fatos geográficos. Pois, segundo Christofoletti (1982, p.82), pode-se
considerar que: “[...] o sistema da organização espacial é composto de elementos
e relações (processos)”
Desta forma, o conhecimento de como o território está organizado e se
modifica assume importância para a Geografia, onde deve considerar: (a) a
estrutura da organização espacial, os fluxos relacionados aos processos físicos,
sociais e econômicos e como os mesmos interagem; (b) as características das
interações homem – meio ambiente; (c) as características sociológicas e
econômicas de cada época; (d) as forças de ação que interferem na estrutura e
dinâmica da organização; (e) os limites territoriais das organizações espaciais
são mutáveis e que pode haver alterações dos mesmos.
De acordo com Christofoletti (1983, p.17), “[...] a organização espacial é
unidade integrada, ela é composta por diversos elementos que se expressam na
estrutura espacial, que se interagem pelos fluxos de matéria e energia”.

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MÉTODO DE ESTUDO: A Nova Geografia passa a considerar a metodologia


científica como paradigma para os estudos geográficos. Deste modo, traz um
maior rigor no enunciado e na verificação de hipóteses, como também, nas
explicações dos fenômenos geográficos.
Valoriza-se desta forma, a necessidade de um maior rigor na preparação
teórica do pesquisador a qual auxiliará a parte prática alicerçada com a
realização de um projeto de pesquisa, contendo as etapas que o mesmo deverá
desenvolver ao longo de seu trabalho.
Desta forma, a organização de um determinado espaço deverá ser
analisada através de teorias e leis admitindo a existência de métodos científicos
para os estudos geográficos.
Se as teorias são a chave da realidade, o objetivo é a elaboração das
mesmas, e não a coleta de dados ou observação direta. É das teorias que se
parte, formulando hipóteses que podem ser verificadas mediante a investigação
empírica. A mudança foi radical: a observação, o trabalho empírico, aparece
agora no final e não no princípio, como acontecia com o método indutivo,
característico da Geografia Tradicional.
Nesse sentido, a Nova Geografia definiu como método de análise o
dedutivo. Este método estuda a realidade partindo do geral para o particular, das
idéias para os fatos e da generalização para a observação.

ESPAÇO DE ANÁLISE: Durante muito tempo o espaço foi encarado em termos


absolutos, e a localização dos lugares era feita utilizando-se as coordenadas
geográficas, que não mudam com o tempo (espaço absoluto da Geografia
Tradicional).
Com o avanço da tecnologia e a partir da Teoria da Relatividade, ocorrem
mudanças na concepção da localização, pois, de acordo com Oliveira (1976,
p.59), pode se dizer que:

Em Geografia, a descrição relativa tornou-se aquela que diz respeito à


posição em relação a outras localidades ou outras unidades de medida.
Assim, a localização não é necessariamente expressa em graus, mas
em outros valores. As medidas podem ser definidas em termos de
velocidade, custo, tempo, percepção, distância e acessibilidade.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 60

As localizações relativas mudam no espaço – tempo, e para a Nova


Geografia, que estuda as organizações espaciais, o espaço relativo tornou-se
importante e a representação espacial transformou-se com as inovações,
exigindo um aprimoramento das técnicas de representação do espaço.
Neste sentido, é importante resgatar Santos (1988, p.26), quando o
mesmo se refere ao espaço relativo sendo aquele que:

põe em relevo as relações entre objetos e que existe somente pelo fato
de esses objetos existirem e estarem em relação uns com os outros.
Assim, se tivermos três localidades A, B, C, estando os dois primeiros
fisicamente próximos, ao passo que C está longe mas dispõe de
melhores meios de transporte para A, é possível dizer, em termos
relativos espaciais, que as localidades A e C estão mais próximas entre
si do que A de B.

Portanto, o espaço relativo passa a ser definido pela acessibilidade,


pelas condições de transportes, pela existência de meios de comunicação e, de
todas as inovações que este período técnico-científico-informacional coloca a
disposição no espaço geográfico.

TÉCNICAS DE ANÁLISE: A Nova Geografia trouxe a necessidade do emprego


de técnicas quantitativas nos estudos geográficos, reforçando deste modo a
necessidade de fornecer a essa ciência um caráter de linguagem científica,
interdisciplinar e universal.
As técnicas quantitativas são fundamentais para a coleta e na análise dos
dados, orientando a mensuração, a amostragem, a descrição e a representação
no teste das hipóteses e das inferências, a classificação e a análise multivariada
das relações e das tendências das distribuições espaciais. Em suma, são
instrumentos básicos para a formação técnica do geógrafo.
As técnicas são um meio que devem ser englobados e orientados “por
uma visão filosófica da Nova Geografia” que se baseia na Teoria dos Sistemas e
nos princípios gerais e quase universais da análise estrutural.
A Nova Geografia utiliza as técnicas quantitativas, ou seja, matemática –
estatísticas, pois as mesmas fornecem sub-resultados objetivos e científicos que,
através do mapeamento (espacialização das informações) são colocadas em uma
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 61

visão espacial, fundamental na pesquisa geográfica, para serem em seguida


interpretadas dentro de uma abordagem conceitual anteriormente escolhida, mas
que, deverá priorizar os padrões espaciais.
Entre as técnicas mais utilizadas para a análise geográfica, destacam-se:
medidas de tendência central (média, mediana e moda); medidas de variabilidade
ou dispersão (amplitude total de variação, desvio padrão e variância); técnicas de
regressão e correlação; índice de Gini; curva de Lorenz; análise fatorial; entre
outras.
Além das técnicas quantitativas devem se acrescentar as preocupações
ligadas com o Sistema de Informações Geográficas (SIG), cartografia digital e,
demais técnicas de geoprocessamento. Soma-se a isto, também, os softwares
específicos que contribuem para o armazenamento de dados, facilitando as
pesquisas geográficas.
Destaca-se também o uso de modelos para o Planejamento Urbano,
Regional, Ambiental e Rural.

ANÁLISE DE SISTEMAS EM GEOGRAFIA: A visão sistêmica incorporada à


Nova Geografia através da aplicação da Teoria dos Sistemas aos estudos
geográficos, segundo Christofoletti (1982, p.19):

serve ao geógrafo como instrumento conceitual que lhe facilita tratar dos
conjuntos complexos, como os da organização espacial... serve também
para melhor exatidão o setor de estudo dessa ciência, além de propiciar
oportunidade para considerações críticas de muitos de seus conceitos.

Entende-se por Sistema conforme Christofoletti apud Hall e Fagen (1979,


p.1): “como o conjunto dos elementos e das relações entre eles e entre os seus
atributos”.
Os sistemas são compostos por elementos ou unidades, relações,
atributos entrada (input) e saída (output).

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Figura 05: Representação esquemática de um sistema, assinalando os


elementos (A, B, C e D) e suas relações, assim como o evento entrada e o
produto saída.

A análise de Sistemas em Geografia parte do princípio fundamental de


que o estudo dos sistemas é o da conectividade, onde a realidade é complexa
nas ligações entre suas variáveis, e um sistema, compreende um conjunto de
elementos, um conjunto de ligações (relações) entre esses elementos e, um
conjunto de ligações entre o sistema e seu ambiente. (Johnstow 1986, p.156).
Na verdade, na idéia sistêmica, o espaço geográfico não pode ser visto
como um simples agregado, mas, sim, como um conjunto articulado de acordo
com os princípios sistêmicos. De acordo com tais princípios, a organização
aborda o fenômeno espacial, e não o caso único. Assim, a forma, a estrutura e a
função serão vistos como meio para alcançar a compreensão das leis e teorias
que possam explicar o espaço.
Dessa forma, na Nova Geografia não há interesse por fatos isolados, mas
pelos padrões espaciais que os fenômenos geográficos apresentam. Busca-se,
portanto, uma visão sistêmica. Segundo Capel (1981, p. 381), há a concepção da
ciência geográfica como "[...] a ciência que se refere à formulação das leis que
regem a distribuição espacial de certas características da superfície da terra".
Cabe, então, à ciência explicar e formular leis gerais que, consequentemente,
corporificam-se em teorias.

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Para Harvey (1969, p. 451), um sistema compreende três componentes:


"[...] (1) um conjunto de elementos; (2) um conjunto de ligações (relações) entre
seus elementos; e (3) um conjunto de ligações entre o sistema e seu ambiente".
Desse modo, os sistemas podem ser classificados, respectivamente, em
abertos e fechados, de acordo com a circunstância de troca ou não de energia
com o exterior.
Berry (1964) utiliza os conceitos da Teoria Geral dos Sistemas para
conceber o processo espacial, partindo da noção de que a análise espacial, que
é o objeto da Geografia, está circunscrita ao ecossistema do qual o homem é a
parte central e dominante. É, assim que a Geografia se diferencia das outras
ciências sociais, porque nenhuma delas examina essa mesma parte do sistema
ecológico com a visão de sua distribuição ou integração espacial, e se diferencia
das outras ciências espaciais como a Geologia, a Meteorologia, etc., porque
estuda a perspectiva espacial sob o ângulo da atividade humana.
A Nova Geografia, tendo como objeto de estudo as organizações
espaciais, passou a utilizar a abordagem sistêmica, na qual os fenômenos de
análises são considerados como resultado de uma relação entre os diversos
elementos e atributos que compõem a organização espacial. O fenômeno
geográfico não é mais estudado como o único, mas, como um processo (sistema)
onde as variáveis se articulam resultando em apreensão de organizações
espaciais distintas.
As organizações espaciais, conforme Christofoletti (1983, p.17): “[...] são
compostas por dois sub-sistemas: sub-sistema socioeconômico que representa a
organização espacial gerada pelas atividades humanas e o sub-sistema
geosistema que corresponde à organização espacial do meio ambiente físico”.
O sub-sistema socioeconômico organizado através das atividades
humanas sobre o espaço, ou seja, em decorrência do trabalho do homem sobre
determinado espaço. Como exemplo, destaca-se a organização industrial,
agropecuária e urbana.
O sub-sistema Geossistema está relacionado com a organização dos
sistemas naturais e ambientais.
Inserida sob a ótica sistêmica, a Nova Geografia debruçou-se, e não
poderia ser diferente sobre as transformações que sempre ocorreram e
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 64

continuavam a acontecer no espaço. A sua tarefa, naquele momento, era


explicitar de modo lógico, as soluções necessárias para a reorganização do
espaço. Foi preciso efetuar levantamentos, desenvolver planejamentos regionais
com auxílio de técnicas quantitativas, para que a Geografia sugerisse soluções
para questões como o aquecimento da economia, a reconstrução pós-guerra, o
êxodo rural, a industrialização. Era, enfim, um novo contexto sócio-político-
econômico, que precisava ser fortificado e legitimado, para que houvesse
continuidade na sua expansão e consolidação. Assim, as reorganizações
espaciais refletem um conjunto organizado, cujas estruturas resultam de decisões
e fluxos de acordo com a escala dos fenômenos analisados.

USO DE MODELOS EM GEOGRAFIA: O uso de modelos em Geografia está


relacionado com a verificação das teorias e com o uso de sistemas, sendo a
construção dos mesmos, conforme Christofoletti (1982:19): “pode ser
considerada como estruturação seqüencial de idéias relacionadas com o
funcionamento do sistema”.
Deste modo, segundo Chorley e Haggett (1975, p.5), pode se dizer que:

os modelos são necessários, portanto, por constituírem uma ponte entre


os níveis de observação e o teórico e tratam da simplificação, redução,
concretização, experimentação, ação, extensão, globalização,
explicação e formação da teoria.

Na Geografia, são utilizados diversos modelos para explicar os padrões


espaciais, entre eles: o modelo da tipologia da agricultura de Kostrowicki, difusão
espacial de Haggett, modelo da localização Industrial de Weber, modelo dos
pólos de crescimento de Perroux, a teoria das Localidades Centrais de Christaller
e a Teoria da Propagação das Ondas de Inovação de Hagerstrand, entre outros.
Os modelos reforçam a preocupação da Nova Geografia com o
planejamento, contribuindo com a proposição de alternativas para se atingir uma
efetiva regionalização do desenvolvimento e também a necessidade da Geografia
se inserir com as demais ciências procurando dinamizar o desenvolvimento
integrado.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 65

A Nova Geografia utiliza modelos espaciais como sendo, de acordo com


Ferreira e Simões (s/d, p.84-85):

resultantes da atividade do homem, a escalas locais, regionais,


nacionais ou globais e dos processos que levam à existência desses
modelos como objeto da geografia. Os modelos podem ter várias
características: ou serem descrições da realidade ou fórmulas
matemáticas, ou descrição que assemelham os processos geográficos a
outros processos.

OS ADJETIVOS MAIS UTILIZADOS PARA A NOVA GEOGRAFIA

 Geografia Quantitativa - expressa a aplicação intensiva das técnicas


estatísticas e matemáticas nas análises geográficas.
Foi a característica que primeiro se salientou na Nova Geografia, sendo,
muitas vezes, empregada com o sentido de renovação, ligando-se apenas ao fato
da aplicação de técnicas quantitativas, não se apresentando a interpretação
geográfica, isto é, apenas uma aplicação de técnicas quantitativas aos dados
geográficos. Isso ocorreu no período inicial da estruturação dessa Nova Escola
Geográfica. Entretanto, na atualidade, a quantificação é entendida como meio e
não um fim em si mesmo.
Salienta-se que as técnicas quantitativas não excluem outras técnicas de
pesquisa geográfica, como por exemplo, o trabalho de campo e a interpretação
de cartas ou fotografias aéreas, ao contrário, a utilização de ambas enriquecem
as análises geográficas.

 Geografia Teorética – salienta o aspecto teórico e metodológico da


Geografia, subentendida como imprescindível para toda a análise quantitativa.
Engloba também, os processos de abstração necessários às etapas da
metodologia científica e da explicação espacial.
Na Nova Geografia são feitas críticas, como a de que a utilização de
modelos é insuficiente para explicar a realidade, e a não preocupação com os
problemas sociais, pois para Morais (1981, p.108) a Nova Geografia:

desenvolve-se uma tecnologia de intervenção na realidade ... o


tecnicismo é uma versão moderna da ideologia da neutralidade

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 66

científica, em última instância, o planejamento sempre serve para a


manutenção da realidade existente.

Entre os autores que contribuíram com a Nova Geografia destacam-se:


Manley, Ian Burton, William Bunge, Peter Haggett, David Harvey, Richard
Hartshorne, Speridion Faissol, Horácio Capel, entre outros.
No Brasil, destacam-se, nesta escola, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e a Universidade Estadual de São Paulo – Unesp/Rio Claro,
que passam a divulgar a produção desta nova contextualização geográfica
através da Revista Brasileira de Geografia (IBGE) e do Boletim de Geografia
Teorética e da Revista Geografia (Unesp/Rio Claro).

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

A década de 50 foi marcada na Geografia, sobretudo nos países de


língua inglesa, pela denominada revolução teorética - quantitativa, de base
eminentemente lógico – positivista. Nasce assim a Nova Geografia, que procurou
aprofundar a investigação geográfica, buscando a relação existente entre os
fenômenos. A abordagem regional, determinada pelas inter-relações dos
fenômenos naturais e sociais sobre a unidade territorial, enfatizava os estudos de
área. Foi por isso que se destacaram as questões regionais fortemente ligadas
ao planejamento do território e investiu-se nas questões relativas aos
desequilíbrios regionais, com o objetivo de superá-las.
Foi necessário colocar nos estudos geográficos um sentido operativo,
não apenas descritivo. Esse caráter técnico foi buscado na matemática e na
estatística. Introduziu-se então a base estatística aos dados geográficos e estes
servirão como instrumento de análise, de teste, de inferências e até mesmo como
base de organização das pesquisas, buscando-se um maior rigor metodológico
fornecido pelo método dedutivo. A racionalidade instrumental permitia o
tratamento de processos mais complexos e de grande importância para o
desenvolvimento da ciência Geográfica.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 67

3.3. REFERÊNCIAS

BRAY, S. C. O pensamento e o método na obra de Pierre Monbeig. Análise dos


trabalhos produzidos no Brasil nas décadas de 30 e 40. Revista de Geografia,
Rio Claro, v.2, p. 83-90, 1983.

CAPEL, H. Filosofia Y Ciência en la Geografia Contenporânea. Una


Introdução a la Geografia. Barcelona, Barca Nova: Temas Universitários, 1981.

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Janeiro, v.2, maio, p. 9-26, 1943.

CERON, A. O. Classificação Espacial e Regionalização. Boletim de Geografia


Teorética, Rio Claro, v. 7, n. 14, p. 9-45, 1977.

CHORLEY, R. Y. Modelos Sócio-econômicos em Geografia. São Paulo e Rio


de Janeiro: EDUSP/ Livros Técnicos e Científicos Editora S. A. 1975.

CHRISTOFOLETTI, A. A Análise Dinâmica de Sistemas Espaciais. Geografia,


Rio Claro, v. 5, n. 9-10, p.107-109, 1980.

_____. Análise de Sistemas Espaciais. Boletim de Geografia Teorética, Rio


Claro, v. 2, n. 23-24, p.80-82, 1982.

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_____. Análise Quantitativa em Geografia. Geografia, Rio Claro, v. 1, abr, p.


109-111, 1976.

_____. Análise Quantitativa em Geografia. Boletim de Geografia Teorética, Rio


Claro, v. 8, n. 16, p. 81-83, 1978.

_____. As Características da Nova Geografia. Geografia, Rio Claro, v. 1, n. 11,


abr, p.31-33, 1976.

_____. Aspectos da Análise Sistêmica em Geografia, Geografia, Rio Claro, v. 3,


n. 6, out., p. 1-31, 1978.

_____. Construção de Modelos Matemáticos em Geografia. Boletim de


Geografia teorética, Rio Claro, v. 11, n. 21-22, p.81-83, 1981.

_____. Geografia Regional. Geografia, Rio Claro, v. 13, n. 25, abr, p. 163-
167,1988.

_____.O Uso de Modelos na Geografia. Geografia, Rio Claro, v. 1, n. 2, out.,


p.114-116, 1976.

_____. Programação Matemática Aplicada à Geografia e ao Planejamento.


Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 26, p. 91-92, 1983.
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_____. Quantificação em Geografia. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro,


v. 13, n. 26, p.90-91, 1983.

COLE, J. P. Quantitative Geography: Tecniques and Theories in Geography.


London, John Wiley Sons, 1970. 692 p.

DEMKO, D. Problemas de Mensuração em Modelos Geométricos, da Percepção


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mar/abr., p. 3-15, 1972.

FAISSOL, S. Planejamento e Geografia: Exemplos da Experiência Brasileira.


Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, IBGE, v. 2, p. 85-98, 1988.
(Número Especial)

_____. Regiões Nodais/Funcionais: Alguns Comentários Conceituais e


Metodológicos. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, IBGE, v. 37,
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_____. Teorização e Quantificação na Geografia. Revista Brasileira de


Geografia, IBGE, Rio de Janeiro, v. 34, n. 145-164, jan./mar., 1972.

_____. Um Modelo de Análise Regional Para Fins de Planejamento Econômico:


Integração de Sistemas de Regiões Formais e Funcionais. Revista Brasileira de
Geografia, Rio de Janeiro, IBGE, v. 35, n. 1, p. 71-85, jan./mar., 1973.

GALVÃO, M. V., FAISSOL, S. A Revolução Quantitativa e seus Reflexos no


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Regionalização: Amostragem Sistemática por Grade de Pontos. Boletim Paulista
de Geografia, São Paulo, v. 6, n. 11, p.81-84, 1976.

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Geografia, Rio Claro, v. 3, n. 16, p.33-73, out., 1978.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 70

________________________GEOGRAFIA RADICAL, GEOGRAFIA CRÍTICA


GEOGRAFIA NOVA OU GEOGRAFIA MARXISTA

Esse meio técnico – científico que inclui saber é o suporte da produção


do saber novo, faz com que os outros espaço se tornem apenas os
espaços do fazer. Os espaços comandados pelo meio técnico científico
são os espaços do mandar, os outros são os espaços do obedecer.
(Santos, 1994, p. 106)

4.1. A GEOGRAFIA RADICAL: ANTECEDENTES

Paralelo ao movimento de renovação da Geografia estruturou-se uma


nova escola geográfica, que questionou os procedimentos metodológicos da
Geografia Tradicional, o uso excessivo de técnicas quantitativas aos estudos
geográficos, e as propostas teórico-metodológicas da Nova Geografia.
Esta nova escola propõe novas metodologias e filosofias alternativas em
relação ao positivismo, dando-lhe uma orientação de caráter mais
antropocêntrica.
A Geografia Radical emergiu nos Estados Unidos em um ambiente
conturbado, ligado a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, da crise da
poluição e da urbanização, priorizando os processos sociais, inseridos nas
formações socioeconômicas espaciais.
Desse modo, a Geografia Crítica se estabelece e se manifesta alimentada
no rescaldo da Nova Geografia, através das discordâncias feitas às novas
concepções teórico-metodológicas daquela escala geográfica, como também
condena muitos aspectos da Geografia Tradicional.
A partir da década de 70, as ciências, de um modo geral, são chamadas à
prática social. A Geografia teve que se inserir nesse movimento, uma vez que
estava sendo acusada de acrítica, ideológica e conservadora. No bojo dessas
transformações, deu-se início a um processo de críticas radicais que, em grande
parte, coincidiu com uma aceitação do discurso marxista. Ocorre então a
incorporação de novos paradigmas à Geografia.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 71

Esse novo direcionamento na Geografia, ou seja, a Geografia Crítica,


nasce paralelamente com outras tendências geográficas: a Geografia
Humanística e a Geografia Cultural. São novos eixos que trazem no seu bojo
preocupações com a questão regional e podem ser considerados como
alternativas recentes para aprofundar as temáticas geográficas.
O fato é que no começo da década de 70, ocorriam, no âmbito interno da
Geografia, insatisfações diante dos pressupostos teóricos e metodológicos
fornecidos pela Nova Geografia. Tal descontentamento foi evidenciado por
geógrafos que até então defendiam o neopositivismo, entre eles, Willian Bunge e
David Harvey. Ambos consideravam que as modificações trazidas pela Nova
Geografia não respondiam às necessidades que se impunham à Geografia em
face das transformações ocorridas no mundo. Era necessário então buscar
caminhos alternativos para se explicar os novos fatos que se destacavam, ou
seja, as desigualdades, as contradições que eram criadas nos vários quadros
regionais.
As razões da ruptura com a Nova Geografia devem-se à concepção de
que a Geografia deveria ser uma ciência preocupada com os problemas sociais
e, por isso, deveria aprofundar as relações sociedade x natureza, tendo como
objeto a realidade social, os fenômenos da natureza interessam apenas enquanto
encarados quanto recursos ou restrições para a vida humana. A Geografia não
discutirá mais os processos naturais em si, mas a natureza como elemento a ser
utilizado e apropriado pelo homem.
Essa Geografia abrangeu um grande número de geógrafos norte
americanos, que desenvolveram, segundo Capel (1981, p. 434):

Los trabajos teóricos e informativos sobre los mecanismos económicos


básicos de la sociedad capitalista, sobre la relación dialéctica entre
desarrollo y dependencia por otro, contribuyron a difundir entre os
geógrafos los enpogues marxistas ó marxianos.

Deste modo, a bibliografia geográfica ligada a certos temas começaram a


experimentar uma significativa transformação.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 72

4.2. CARACTERÍSTICAS DA GEOGRAFIA RADICAL

FILOSOFIA NORTEADORA E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

A Geografia Crítica buscou no pensamento marxista as concepções que


estruturaram essa nova escola geográfica.
Assentado no método dialético desenvolveu seus estudos e pesquisas.
A Geografia crítica possui o seu suporte teórico-metodológico no
Materialismo Dialético.
Desse modo, mister se faz, ter nítida a diferenciação entre o Materialismo
Histórico e o Materialismo Dialético.

Materialismo Histórico

De acordo com Trivinos (1987, p.51), o materialismo histórico, “[...] é a


ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a
vida da sociedade, da sua evolução histórica e da prática social dos homens, no
desenvolvimento da sociedade.
Com o materialismo histórico ocorrerem mudanças significativas na
interpretação da realidade, a partir da força das idéias e destacando conceitos
como: ser social, meio de produção, formação socioeconômica.

Materialismo Dialético

O materialismo dialético tem como princípios básicos, a matéria, a


dialética e a prática social, além de propor uma teoria revolucionária para o
proletariado e buscar explicações coerentes, lógicas racionais para os
fenômenos da natureza e da sociedade, segundo Trivinos (1987, p.51), o
materialismo dialético é: “[...] uma concepção científica da realidade, enriquecida
com a prática social da humanidade. [...] e mostra como se transforma a matéria e
como se realiza a passagem das formas inferiores às superiores”.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 73

A concepção materialista da realidade apresenta três categorias


fundamentais: (a) materialidade do mundo – todos os fenômenos e processos são
materiais; (b) matéria é anterior ao pensamento e (c) O pensamento não existe
separado da realidade material, por ser um reflexo desta.
Deste modo, a dialética estabelece que a realidade material e o
pensamento só existem sob forma de movimento (dinâmica do pensamento, dos
fenômenos, dos processos...).
A dialética materialista ressalta os aspectos que se referem às formas do
movimento universal e as conexões que se observam entre elas.
A dialética possui quatro leis fundamentais, que são:

1) Ação recíproca a da unidade polar ou tudo se relaciona.

Segundo Lakatos; Marconi (1988, p.96), esta lei tem como:

idéia fundamental, segundo a qual o mundo não deve ser considerado


como um complexo de coisas acabadas, mas como um complexo de
processos em que as coisas, na aparência estáveis, do mesmo modo
que os seus reflexos intelectuais no nosso cérebro, as idéias, passam
por uma mudança ininterrupta de devir e decadência, em que,
finalmente, apesar de todas as inúmeras frentes e retrocessos
momentâneos, em desenvolvimento progressivo acaba por se fazer
hoje.

A dialética considera a dinâmica das coisas, dos objetos, portanto os


entende como um processo em constante transformação, em movimento.
Tanto a sociedade quanto a natureza, são organizadas por fenômenos
interligados entre si, e em constante reorganização impostas pelos movimentos
(dinâmica) que ocorre no espaço geográfico.

2) Lei da mudança dialética, negação da negação ou tudo se transforma.

Toda a dinâmica dos fenômenos ocorre por meio das contribuições ou


mediante as negações de uma coisa, essa negação diz respeito ao
desenvolvimento das coisas, gerando a sua transformação.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 74

Essa lei da dialética se estrutura da seguinte forma: (a) Tese: ponto de


partida (proposição positiva); (b) Antítese: nega a primeira proposição (tese); (c)
Síntese: é a negação da Tese e da Antítese por meio de uma proposição positiva
superior, resultante de uma dupla negação.
O processo da dupla negação cria novas coisas ou propriedades: uma
nova forma que suprime e contém ao mesmo tempo as primitivas sociedades.
Com esta lei segundo Lakatos; Marconi (1988, p. 99): “quem diz dialética
não diz só movimento, mas também, autodinamismo.”

3) Lei da passagem da quantidade à qualidade.

Essa lei analisa os fenômenos através de uma mudança contínua, lenta


ou descontínua, através de saltos.
De acordo com Lakatos; Marconi (1988, p. 99):” [...] a mudança das
coisas não pode ser indefinidamente quantitativa: transformando-se, em
determinado momento, sofre mudança qualitativa. A quantidade transforma-se em
qualidade”.

4) Lei da interpenetração dos contrários, contradição ou luta dos contrários.

Toda a realidade é movimento, e o mesmo sendo universal, assume as


formas quantitativas e qualitativas, necessariamente ligadas entre si e que se
transformam uma na outra.

Segundo Mendonça (1985, p.42), é importante enfatizar que:

De acordo com essa lei todos os aspectos não podem ser


compreendidos, sendo que as coisas não podem ser compreendidas
isoladamente; elas fazem parte de um contexto. As coisas todas
possuem dois lados, sendo que um dos lados prevalece e sua oposição
se constitui em uma unidade.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 75

MÉTODO DIALÉTICO

Definição do fenômeno como um


Conjunto integrado de processos

Análise das contradições


Negação e negação da negação

Análise das mudanças contínuas

Explanação sobre o “motor” da mudança


“interpretação dos contrários”

ESPAÇO DE ANÁLISE

Para a Geografia crítica, o espaço é considerado como sendo, relacional,


que de acordo com Santos (1988, p.226): “[...] há o espaço relacional, onde o
espaço é percebido como conteúdo e representando no interior de si mesmo
outros tipos de relações que existem entre os objetos”.

Deve-se considerar o espaço como totalidade, e não ser estudado como


sendo a adição de partes menores. O espaço é total e uno.
Neste sentido, Santos (1985, p.01) considera o espaço relacional como
sendo aquele que:

uma instância da sociedade, ao novo titulo que a instância econômica e


a instância cultural-ideológica (...) A essência de espaço é social. Nesse
caso, o espaço não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos
geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a natureza. O
espaço é tudo isso, mais a sociedade: cada fração da natureza aluga
uma fração da sociedade atual.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 76

OBJETO DE ESTUDO

A análise do espaço na Geografia Crítica requer a utilização de


categorias. Essas categorias segundo Santos (1985, p.50-51), são forma, função,
estrutura e processo.

A forma é o aspecto visível, exterior, de um objeto. Têm-se como exemplo


uma casa, um bairro, uma cidade, uma rede urbana. Todas elas são formas
espaciais em diferentes escalas. Segundo Santos (1985, p. 50), a forma, “refere-
se, ao arranjo ordenado de objetos, a um padrão. Tomada isoladamente, temos
uma mera descrição de fenômenos ou de um de seus aspectos num dado
instante do tempo”.
A noção de função implica uma tarefa, atividade ou papel a ser
desempenhado pelo objeto criado. Assim, este tem um aspecto exterior visível –
a forma e desempenha uma atividade, a função. Habitar, viver o cotidiano, a vida
em suas variadas facetas, trabalho, compras, lazer, visitar parentes e consumir
em outras cidades são algumas das funções associadas, respectivamente, à
casa, ao bairro, à cidade e a rede urbana.
De acordo com Santos (1985, p. 50) a função, “[...] sugere uma tarefa ou
atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa”.
Já o termo estrutura, esta ligado ao relativo modo como os objetos estão
organizados, refere-se não a um padrão espacial, mas à maneira como estão
inter-relacionados entre si. Diferentemente da forma, a estrutura não constitui
algo que tenha uma exterioridade imediata. Ela é invisível, estando subjacente à
forma, é uma espécie de matriz onde a forma é gerada. Estrutura é a natureza
social e econômica de uma sociedade em um dado momento do tempo.
Para Santos (1985, p. 50), a estrutura, “[...] implica a inter-relação de
todas as partes de um todo, o modo de organização ou construção”.
E, o processo é definido como uma ação que se realiza continuamente,
visando um resultado qualquer, implicando tempo e mudança. Os processos
acontecem dentro de uma dada estrutura social e econômica. Com isto, estamos
dizendo que processo é uma estrutura em seu movimento de transformação.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 77

Ou seja, para Santos (1985, p. 50), processo “[...] pode ser definido como
uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer,
implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança.
Além das categorias de análise, SANTOS (1985, p.06) considera que o
espaço seria constituído dos seguintes elementos:

(a) Os homens: elementos do espaço, seja na qualidade de fornecedores


ou candidatos de trabalho; (b) As firmas: têm como função essencial a produção
de bens, serviços e idéias; (c) As instituições: produzem normas, ordens e
legitimações; (d) O meio ecológico: é o conjunto de complexos territoriais que
constituem a base física do trabalho humano e, (e) Infra-estruturas: são o
trabalho humano materializado e geografizado na forma de casas, plantações
caminhos, etc.

Figura 6 - Esquema Metodológico

1. Instrumental Teórico – Teoria,


proposição que ajuda a entender o
mundo, seleção de categorias analíticas
explicativos.
2. Instrumental empírico – Realidade
3. Instrumental Técnico – Representação
cartográfica

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 78

Considerações parciais

A partir de 70, pode-se dizer que há um pluralismo conceitual para a


Geografia. A Geografia Crítica, fundamentada no materialismo histórico e
dialético, como também as tendências atuais da Geografia são chamadas para
fornecer novos enfoques aos estudos geográficos.
Enfatizam-se as condições concretas e físicas do capitalismo, submetido
a parâmetros econômicos (modo de produção, divisão do trabalho), acumulação
do capital, entre outros. Têm-se assim, uma rede de processos de acumulação do
capital interligados, que definem as bases territoriais. Busca-se também entender
a regionalização da reprodução da força de trabalho, cuja lógica relaciona a
região de mercados de trabalho com a organização espacial da população e com
a regionalização dos processos políticos e ideológicos de dominação, usados
para manter as relações de produção.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 79

4.3. REFERÊNCIAS

ADAS, M. Geografia e Tecnoburocacia. Boletim Paulista de Geografia. São


Paulo, fev., p. 53 - 61, 1977.

BADIOU, A. ; ALTUSSER, L. Materialismo Histórico e Materialismo Dialético.


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CAPEL, H. Filosofia Y Ciência en la Geografia Contenporânea. Una


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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 81

______________________________________5.TENDÊNCIAS NA GEOGRAFIA

Não se pode esquecer que muitas ortodoxias hodiernas foram heresias


no passado. Não se deve olhar para o passado, que possibilita o
presente, com desprezo, como se nada mais devesse ser feito, como se
todas as revoluções no pensar e conviver já tivessem sido realizadas,
como se não houvesse mais o que pensar – pensar algo novo continua
sendo não só um desafio como também uma possibilidade de
libertação... (Campos, R. R. de, 2001, p. 33)

OS NOVOS DESAFIOS À CIÊNCIA GEOGRÁFICA

As tendências na Geografia apresentam-se como novas frentes para a


investigação do conhecimento geográfico. Elas emergem da necessidade de
novos problemas que são colocados no cotidiano e, portanto desafiam o
pesquisador.
Neste contexto, os principais direcionamentos das tendências buscam
explicar os fatos geográficos mais significativos na atualidade e, constituem-se,
em linhas de vanguarda na pesquisa geográfica.
O objetivo da investigação geográfica é o espaço. Entretanto, este surge
com novas conotações as quais passam a exigir novas formas de interpretação
do real relacionado com os fatos externos e internos apresentando características
espaciais e locacionais.
É importante salientar que o acréscimo de novos temas de pesquisa, o
retomar e o refazer análises através do uso de novas perspectivas são sintomas
que geralmente demonstram a vitalidade e a dinâmica de uma ciência.
Neste contexto, apresentamos as principais tendências para que se possa
trabalhar de forma mais ampla com o objeto da Geografia e delinear aquelas
mais condizentes com as problemáticas atuais.

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Principais Tendências Geográficas:

- Geografia do Turismo.
-
- Geografia Humanística, da Percepção ou Comportamental.
-
- Geografia Idealista.
-
- Geografia da Religião.
-
- Geografia Cultural.
-
- Geografia Médica.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 83

_______________________________________5.1. GEOGRAFIA DO TURISMO

Os estudos que tratam da Geografia do Turismo têm início a partir de


1960, intensificando-se em 1970. A ciência geográfica tem nesta abordagem uma
ampla linha de temáticas a ser desenvolvida, destacando-se, principalmente, o
ecoturismo, o turismo rural entre outras.
No âmbito acadêmico, ligado principalmente a pesquisas de extensão
universitária, procura-se compreender a diversidade da paisagem natural e,
também, entender as transformações da ação antrópica. Portanto, não se pode
esquecer-se de atrelar o belo ao funcional, ou seja, preservar a natureza através
de parques, praças, áreas verdes de lazer, etc.
Neste sentido, é importante entender que o turismo é,
incontestavelmente, um fenômeno econômico, político, social e cultural dos mais
expressivos das sociedades pós-modernas. Movimenta, em nível mundial, um
enorme volume de pessoas e de capacidades, inscrevendo-se materialmente de
forma cada vez mais significativa ao criar espaços diversificados.
O turismo é certamente um fenômeno complexo, uma prática social, uma
frente pioneira, um processo civilizatório, um sistema de valores, um estilo de
vida – um produtor, consumidor e organizador de espaços – uma indústria, um
comércio uma rede imbricada e aprimorada de serviços.
O objeto de estudo dessa tendência geográfica é identificar os distintos
potenciais turísticos como elemento de organização do espaço; analisar os
entraves do turismo no desenvolvimento de um país, de uma região, de um
município ou de um bairro; estudar o ecoturismo (trilhas ecológicas) e o turismo
rural entre outros.
Desta forma, os aspectos a serem estudados são tanto os naturais como
a vegetação, o relevo, a hidrografia, o clima. Por outro lado os aspectos humanos
são o povo do lugar, a cultura, a música, os hábitos, a culinária, entre outros.
Pode-se dizer então que as preocupações que norteiam o pesquisador
estão ligadas aos seguintes tópicos:
a) Os planejadores de novos pólos e centros turísticos devem respeitar as
peculiaridades dos locais;
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 84

b) Para a realização do desenvolvimento do turismo devem ser levantados dados


e analisada a realidade turística na área em questão mediante propostas
concretas dentro de um enfoque geográfico com o intuito de proporcionar melhor
aproveitamento do seu potencial e de um reordenamento territorial ali existente;
c) Proporcionar contato com a paisagem e seus signos, ou seja, a culinária,
festas, música, literatura, artesanato e conversa com seus habitantes;
d) Preservar a natureza evitando um turismo predatório;
e) Oferecer toda a infra-estrutura para a realização do mesmo. Ex: Transporte
rodoviário adequado; Postos de informação.
f) Valorizar os atributos cênicos da paisagem e a história local. Ex: Estrutura da
rede de hotéis, pousada, entre outras.
g) Incrementar a rede de restaurantes, bares, lugares de lazer;
h) Cuidar a questão do lixo.
Assim, em um mundo globalizado, o turismo apresenta inúmeras
modalidades, sob diversas fases evolutivas, podendo ocorrer no país, em escalas
regionais ou locais, expandindo-se em nível planetário, nas cidades; nos campos;
nas praias, nas montanhas; nas florestas, e nas savanas.
De forma planejada ou espontânea o turismo está subordinado as
políticas públicas, à iniciativa privada ou à parceria de ambas. É nesse contexto
que autores como Adyr Rodrigues, Sílvio Bandeira de Mello, Pedro Pinchas
Geiger, Amália Ines G. de Lemos, entre outros, editam obras com uma visão
turística ora diferenciada pelas diversidades dos lugares, ora recheadas pela
visão do autor. Desta forma, o Brasil, com uma visão turística de sol e mar pode
ser segmentado a outras visões turísticas.
O potencial turístico do Brasil é reconhecido mundialmente, embora seja
modelado pelo “sol e pela praia”, também apresenta outros segmentos. Deste
potencial, surge o turismo rural que juntamente com o ecoturismo tem
apresentado um enorme crescimento territorial, não desconsiderando qualquer
região do país.
Destaca-se que o interesse por essa modalidade de turismo surge da
confluência de dois fatores: o crescimento da população urbana que se concentra
em áreas metropolitanas densamente povoadas e, de outro, a necessidade de

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 85

inovar as atividades econômicas no meio rural, o qual tem passado por dinâmicas
e rápidas mudanças.
É importante deixar claro que um grande número de proprietários e
empreendedores rurais sentem e manifestam a necessidade de diversificação
das atividades agrárias, baseadas originalmente na agricultura, pecuária,
extrativismo e silvicultura. A modernização do campo trás transformações
principalmente para a agropecuária tradicional, busca a incorporação de novas
tecnologias que asseguram maior produtividade da terra e do trabalho. Com isso
surgem novos modelos de exploração agrária, adaptadas às exigências do
mercado.
Neste contexto, é importante destacar que as propriedades que não
conseguem se inserir nesta nova estrutura, entram em colapso econômico e
social, necessitando de novos direcionamentos, muitas vezes, completamente
diferentes das atividades tradicionais. Como exemplo contemporâneo deste
fenômeno pode ser destacado a mudança de atividades das antigas fazendas
cafeeiras do Sudeste brasileiro. Nessas áreas, novos usos do território, baseados
no rico patrimônio histórico – arquitetônico, têm propiciado criativos
empreendimentos de turismo e de lazer rurais.
Para uma análise mais detalhada deste fenômeno no ramo da ciência
geográfica, preocupada com a análise territorial do fenômeno turístico e de seus
desdobramentos econômicos, sociais, ambientais e culturais é importante
destacar todas as transformações e questionamentos que dinamicamente
ocorrem neste ramo, visto a influência dos mesmos.

5.1.1. O Turismo como um patrimônio de desenvolvimento local

A resistência de indivíduos, grupos e movimentos sociais em face de sua


descaracterização cultural correspondem, na maior parte das vezes, à reinvenção
da autenticidade da sua matriz cultural, a revalorização do sentido de lugar à
medida que à vida social se complexificam e globaliza.
Nesse contexto, o interesse pelo patrimônio (arquitetônico, urbanístico,
histórico e cultural), antes circunscrito a uma minoria culta e tradicionalista, tende
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 86

a tornar-se um eixo estruturante da memória coletiva da atual geração de adultos


e, simultaneamente, um produto de consumo turístico cada vez mais popular.
Turismo e patrimônio entrecruzam-se porque a indústria turística soube
responder rapidamente à crescente valorização social e política da diversidade
cultural, promovendo a mercadorização do passado e da memória, reinventando
tradições e lugares, convertendo o patrimônio histórico e cultural (e também
paisagístico e ambiental) em um recurso econômico, criador de emprego e
gerador de riquezas. A noção de patrimônio como recurso para o
desenvolvimento do turismo vem, na verdade, a ser uma construção recente e
está intimamente associada à especificidade que lhe permite fazer do espaço
onde se localiza um lugar diferente de todos os outros, transformando-o numa
atração turística que combina elementos tão diferenciados como a arquitetura, o
artesanato, as festas, entre outros bens não materiais que lhe estão associados,
ensejando a experiência da descoberta, de exotismo, de auto-realização e de
evasão do cotidiano.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 87

5.1.2. REFERÊNCIAS

BECKER, B. Políticas e Planejamento do Turismo no Brasil. In. YÁZIGI, E.;


CARLOS, A. F. A. ; CRUZ, R. de C. da.(org.). Turismo, Espaço, Paisagem e
Cultura. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1999. p.181 – 192.

BLOS, W. O Turismo Rural e o Desenvolvimento Local: A Experiência de


Lajes – SC. 1999, 95f. Dissertação (Mestrado em Extensão Rural) Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1999.

CRUZ, R. de C. A. da. Introdução à Geografia do Turismo. 2 ed. São Paulo:


Roca, 2003.

FERRARA, L. D. A. O Turismo dos Deslocamentos Virtuais. In YÁZIGI, E.;


CARLOS, A. F. A. ; CRUZ, R. de C. da.(org.). Turismo, Espaço, Paisagem e
Cultura. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1999. p. 15 – 24.

______. Turismo e Geografia: Reflexões Teóricas e Enfoques Regionais. 2 ed.


São Paulo: HUCITEC, 1999.

______. Geografia e Turismo: Notas Introdutórias. Revista do Departamento de


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FRÈMONT, A. A região, espaço vivido. Coimbra: Livraria Almeida, 1976.

RODRIGUES, A. A. B. Turismo e Espaço: Rumo a um conhecimento


transdisciplinar. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1999

TUAN, Y. F. Topofilia, um estudo da percepção, atitudes e valores do meio


ambiente. São Paulo: Difel, 1980.

VIEIRA, M. L., & OLIVEIRA, L. de. Imagem turística. Geografia, Rio Claro, vol.
25, n. 1, Abr., p. 23 – 35, 2000.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 88

__________________________________ 5.2 GEOGRAFIA HUMANÍSTICA, DA


PERCEPÇÃO OU COMPORTAMENTAL

Esta tendência tem seu período concretizado a partir da década de


1960/1970 tendo como filosofia norteadora a Fenomenologia ou Fenomenologia
Existencial, sendo que esta valoriza a consciência de cada sujeito – descreve o
mundo de maneira como é visto na idéia, na consciência, na concepção que cada
indivíduo tem do mundo que o cerca. É o estudo da essência voltada em
apreender e compreender como cada indivíduo percebe o mundo que o rodeia,
valorizando a experiência. Tal como o positivismo preocupa-se em descrever a
experiência vivida.
A Fenomenologia é a filosofia que descreve o fenômeno geográfico a
partir da percepção e experiência dos indivíduos que convivem com o fenômeno,
no tempo e no espaço, e o interpretam segundo leis do seu conhecimento ou da
sua consciência. Estuda a essência sem a preocupação de analisá-la ou
solucioná-la.

5.2.1. Conceitos Principais

Esta tendência geográfica trabalha com conceitos como espaço e lugar.


Entende como lugar àquele em que o indivíduo se encontra ambientado, no qual
está integrado. Ele faz parte de seu mundo, dos seus sentimentos e afeições. É o
centro de significância ou um foco de ação emotiva do homem. Yi Fu Tuan (1974)
propôs o termo topofilia que compreende um estudo da percepção, atitudes e
valores do meio ambiente o espaço e o lugar definindo-o como o “elo afetivo
entre a pessoa e o lugar ou quadro físico“. Nesse contexto, têm-se o espaço
geográfico como um complexo de idéias.
A percepção visual, o movimento e o pensamento se combinam para dar
ao nosso sentido característico de espaço, possibilitando a capacidade para
reconhecer e estruturar a disposição dos objetos. Na visão humanística deve-se
considerar a cultura, perceber o espaço de acordo com as pessoas que o

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constroem. Enfatizar o “Eu cultural” – Entender cultura (cultura – língua,


costumes, religião)
O reconhecimento dos objetos implica o reconhecimento de intervalos e
relações de distância entre os objetos e, pois, de espaço.
Neste contexto o conceito de espaço é importante e envolve um complexo
de idéias. A percepção visual, o movimento e o pensamento se combinam para
dar o nosso sentido característico de espaço, possibilitando a capacidade para
reconhecer e estruturar a disposição dos objetos. O reconhecimento dos objetos
implica o reconhecimento de intervalos e relações de distância entre os objetos
do espaço. A integração espacial faz-se mais para dimensão afetiva que métrica.
Estar junto, estar próximo, não significa a proximidade física, mas o
relacionamento afetivo com outra pessoa ou outro lugar.
A região é outro conceito evidenciado por essa tendência, pois os
aspectos mais significativos, de cada indivíduo, estão materializados em um
determinado recorte espacial, ou seja, em uma região. Salienta-se principalmente
a região cultural.
Esta tendência também dá ênfase à criança, conseqüentemente com o
futuro da humanidade, daí a ação que vem sendo desenvolvida junto as
atividades de ensino e aproximação de geógrafos da percepção e do
comportamento com os estudos realizados por Piaget e seus discípulos. Procura
enfatizar e valorizar o espaço vivido do elemento humano.
A Geografia da Percepção também se preocupa com o design urbano, isto
é, com o desenho das cidades e com as relações internas existentes nelas.
Realiza trabalhos em comum com arquitetos e urbanistas, considerando
problemas de circulação, de transportes, de abastecimento, de saneamento e de
segurança. Priorizam-se as relações intra-urbanas (preservação).
Outra temática é o problema ecológico – o capitalismo agrava os danos à
natureza e a degradação ambiental. Essa linha, preocupa-se na defesa do meio
ambiente, defendendo a criação de parques e reservas, preservação de bairros
históricos, de plantas e animais em extinção.
O Objeto de estudo é espaço vivido e existencial de cada pessoa.
Trabalha com a experiência, a emoção vivida pelo indivíduo.

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5.2.2. As áreas de Estudo

Também é dada ênfase a criança e, consequentemente, com o futuro da


humanidade, daí a ação que vem sendo desenvolvida junto às atividades de
ensino e a aproximação dos geógrafos da percepção e do comportamento com os
estudos realizados por Piaget e seus discípulos.
Preocupação com o design urbano, isto é, com o desenho das cidades e
com as relações internas existentes nelas. Trabalhos em comum com arquitetos e
urbanistas considerando problemas de circulação, de transporte, de
abastecimento, de saneamento e de segurança. Priorizam-se as relações intra-
urbanas.
Problema Ecológico – O capitalismo agravava a natureza e a
degradação ambiental. Essa linha preocupa-se na defesa do meio ambiente,
defendendo a criação de parques e reservas, a preservação de plantas e animais
em extinção. Não são contra a ordem estabelecida, mas enfocam caminhos de
preservação ao meio natural, e por isso considerados pelos mais radicais de
conservadores. Seu objeto de estudo é o espaço vivido e existencial de cada
pessoa. Trabalha com a experiência, a emoção vivida pelo indivíduo. Valoriza a
experiência do indivíduo ou do grupo destacando e enfatizando os valores
pessoais, que os indivíduos tenham vivenciado e adquirido no cotidiano da vida.
Valoriza a descrição vivida de uma região. Para a retratação de uma região, leva-
se em conta a essência do lugar.
É importante destacar os autores mais expressivos desta tendência
como os estrangeiros Yi Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph e David
Lowenthal. No Brasil merece destaque Lívia de Oliveira.

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5.2.3. REFERÊNCIAS

BUTTIMER, A. Aprendendo o dinamismo do mundo vivido. Perspectivas da


Geografia. São Paulo: Difel, 1985. p. 165 – 194.

CHISTOFOLETTI, A. Introdução a Geografia comportamental. Boletim de


Geografia Teorética. Rio Claro, v. 10, n. 20, p. 69 – 71, 1980.

MACHADO, L. M. C. P. Reflexões sobre a abordagem perspectiva no estudo da


paisagem. Geografia. Rio Claro, v. 11, n. 21, abr., p. 143 – 147, 1986.

OLIVEIRA, L. de. Contribuição dos estudos cognitivos à percepção geográfica.


Geografia. Rio Claro, v. 2, n. 3, abr., p. 51 – 61, 1977.

_____. Paisagens e Geografia humanística. Geografia. Rio Claro, v. 13, n. 25,


abr., p. 162 – 173, 1988.

TUAN, Y. F. Geografia humanística. Perspectivas da Geografia. São Paulo:


Difel, 1980.

_____. Espaço e lugar: perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 92

_________________________________________5.3. GEOGRAFIA IDEALISTA

Tem seu período alicerçado nas décadas de 1970/1980 e embasa-se na


filosofia idealista. Essa filosofia fornece ao geógrafo uma explanação que o
permite obter um relato completo da natureza especial de comportamento do
Homem.
Reformulando os pensamentos das pessoas cuja ação ele deseja
explicar, capacita o pesquisador a explicar as ações humanas de maneira crítica
sem teoria. Assim seu objeto de estudo é procurar entender o pensamento
subjacente a ele. Entender o repensamento. Explicar os padrões de paisagens
repensando os pensamentos das pessoas que os criaram. Analisar as ações
interiores e exteriores de uma ação humana:
Exterior: compreende todos os aspectos de uma ação passível de descrição em
função de corpos e de seus movimentos.
Interior: é o pensamento subjacente aos seus aspectos observáveis.
Assim o geógrafo humano idealista preocupa-se em compreender o
desenvolvimento da paisagem cultural da Terra ao revelar o pensamento que jaz
atrás dele.
Pode-se dizer que na visão idealista a Geografia Humana deriva sua
autonomia, como um campo da pesquisa geográfica, do fato de que está
amplamente relacionada com as ações racionais e produtos da mente humana.
Ao procurar explicar a atividade do homem sobre a Terra, entretanto, o
geógrafo idealista estará diretamente interessado nos aspectos racionais da
experiência humana.
É necessário conhecer o completo conhecimento cultural e as
circunstâncias específicas dos indivíduos para interpretar seus pontos de vista.
Sua abordagem é ideográfica, enfocando mais a história que o espaço, e, neste
contexto, destaca-se como representante Leonard Guelke.
Por outro lado sua área de estudo compreende a Geografia Regional,
onde a paisagem toma-se o ponto principal. Assim a idéia de La Blache, de que

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 93

uma paisagem é uma medalha inserida na imagem do povo que a criou, ainda
atualmente é válida.
Os Geógrafos devem se interessar pelos aspectos da vida, tais como
imagens e simbolismos, valor e significado, uma vez que a religião é um aspecto
de vida que permite a investigação desses temas.
A dialética da relação entre religião e meio ambiente. O Geógrafo
argumenta que é necessário, por um lado, mostrar a influência da religião sobre
as pessoas, sua civilização, seus costumes, por outro lado, devem ser
mencionadas as circunstâncias externas que levam a modificação da religião
considerada
Interferindo no espaço, o referencial espaço via religião. Ex. Meca,
Jerusalém, Nossa Senhora Aparecida do Norte, Fátima, Vaticano, Nossa
Senhora Medianeira, Juazeiro do Norte
Principais autores desta tendência: na França: Cal Sauer, Pierre
Deffontaines (década de 50) e Paul Claval. No Brasil – Zeny Rosendahl – Espaço
e Religião. Uma abordagem geográfica.

5.3.1. REFERÊNCIAS

CHISTOFOLETTI, A. Abordagem idealista para a Geografia histórica. Boletim de


Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 26, p. 88 – 90.1983.

GUELKE, L. Uma alternativa idealista na Geografia humana. Perspectivas da


Geografia. São Paulo: Difel, 1985. p. 195 – 212.

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_______________________________________5.4. GEOGRAFIA DA RELIGIÃO

Tem seu período a partir da década de 1960, fortemente inspirado pela


Geografia Cultural da Escola de Berkeley. Seu objeto de estudo é atribuído ao
Estudo Geográfico da Religião e a preocupação com a experiência religiosa de
indivíduos e grupos sociais.
Seus tópicos de estudo podem ser analisados de uma forma mais
detalhada, pois, no Brasil, a contribuição de sociólogos e antropólogos é
expressiva abordando, sobretudo o catolicismo, protestantismo e os cultos afro-
brasileiros. Também a diversidade dos fenômenos religiosos e as inúmeras
hipóteses sugeridas ao explicar a expansão de diferentes religiões no espaço e
no tempo. Segundo Buttiner o aspecto Geográfico Social - preocupa-se em
encontrar um equilíbrio entre religião, estrutura social e estrutura econômica.
Os geógrafos devem se tornar cientes da religião e seus efeitos através
do aprendizado em outros ramos de estudos religiosos; só então, podem fornecer
contribuições valiosas. Eles também devem se interessar pelos aspectos da vida,
tais como imagem e simbolismo, valor e significado, uma vez que a religião é um
aspecto da vida que permite a investigação desses temas. A dialética da relação
entre religião e ambiente. O geógrafo argumenta que é necessário, por um lado,
mostrar que influência a religião tem sobre as pessoas, sua civilização, seus
costumes; por outro lado, devem ser mencionadas as circunstâncias externas que
levam à modificação da religião considerada.
Como autores franceses destacam-se Carl Sauer, David Sopher, Pierre
Deffontaines (década de 50), o qual escreveu: Geographie et Religions. Já
Maximilien Sorre abordou a influência do meio nas atividades religiosas,
juntamente com os políticos e econômicos. Por outro lado Paul Claval contribuiu
na tarefa de explorar o universo das representações mentais, buscando
compreender como essas representações se inserem na paisagem e na
organização do espaço. No Brasil a autora Zeny Rosendahl, é uma pioneira
nesses estudos destacando-se a obra denominada; Religião - Uma abordagem
geográfica.
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Como exemplo de estudos destaca-se a força propulsora do sagrado na


organização espacial, ainda que periodicamente, nos locais de peregrinação,
acentuando a relação Geografia e religião.
Os núcleos rurais, como o Santuário de Nossa Senhora da Abadia do
Muquém - em Goiás - passa de 200 habitantes para 60 mil durante o tempo
sagrado. Já as pequenas cidades em áreas rurais como Santa Cruz dos Milagres
e São Francisco das Chagas em Canindé, Ceará, em áreas de difícil acesso,
transformaram-se em função da religião. Por outro lado as cidades santuário
entre centros metropolitanos como Nossa Senhora Aparecida em Aparecida/SP,
eixo Rio - São Paulo abriga grandes multidões nos dias sagrados de seus
padroeiros. Por razões diferentes de localização as cidades santuários nos
Centros Metropolitanos apresentam freqüência permanente de devotos. Ex:
Santo Antônio – RJ, São Judas Tadeu – SP e Nossa Senhora Medianeira - Santa
Maria. Como exemplo de grande porte destaca-se Meca e Jerusalém.

5.4.1. Conceitos Principais

Espaço-Sagrado: é um campo de forças e de valores que eleva o homem


religioso acima de si mesmo, que o transporta para um meio distinto daquele no
qual transcorre sua existência. Relaciona-se com a divindade. O ato da
manifestação do sagrado é indicado pelo termo hierofania, que etimologicamente
significa algo de sagrado que se revela. Assim, o ser humano ao aceitar a
hierofania experimenta um sentimento religioso em relação ao objeto sagrado,
isto é, adoração de algo sagrado que ele contém e que o distingue dos demais.
Como exemplo tem-se a adoração da cruz. (Rosendahl, 1996)
Espaço-Profano: constitui-se naquele espaço ao “redor” do espaço
sagrado. O comércio e o lazer estão no espaço profano. (Rosendahl, 1996)
Hierópolis ou cidades-santuário: refere-se às cidades que possuem uma
ordem espiritual predominante e marcada pela prática religiosa da peregrinação
ou romaria ao lugar sagrado. Nestas cidades, as funções urbanas são, em muitos
casos, fortemente especializadas e associadas à ordem sagrada: suas funções
básicas são de natureza religiosa. (Rosendahl, 1996)

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 96

Hierofania: termo proposto por Mircea Eliade (1962) para designar a


manifestação do sagrado em objetos ou pessoas. A materialização do sagrado
pode ocorrer em grutas, colinas, rios... e que, simbolicamente, origina o lugar
sagrado, consagrando o espaço, tornando-o qualitativamente forte, demarcado e
diferenciado. (Rosendahl, 1996)
Santuário: entende-se por santuário aqueles lugares considerados
sagrados por uma dada população regional, nacional ou de vários países. Estes
lugares sagrados, por sua vez, estão focalizados, via de regra, em templos
associados a uma hierofania. (Rosendahl, 1996)
A igreja participa de um espaço diferente da rua onde ela se encontra. A
porta que se abre para o interior da igreja significa o limite que separa os dois
espaços, indicando, ao mesmo tempo, a comunicação, a passagem do espaço
profano para o espaço sagrado. Essa passagem vem acompanhada de inúmeros
ritos: fazem-se reverências, variados gestos que exprimem seus sentimentos.
(Rosendahl, 1996)

5.4.2. RELIGIÃO: um espaço geográfico

A temática da religião vem, no Brasil, apresentando um interesse cada


vez mais intenso entre os cientistas sociais. Destaca-se que o tema é pouco
investigado pelos geógrafos, a despeito da importância do sagrado e de sua
espacialidade para a geografia.
As relações entre Geografia e Religião aparentemente são dois temas
que não apresentam ligações, mas, no entanto, ambas são duas práticas sociais
em primeira instância. Também deve ser ressaltado que o homem sempre fez
geografia, mesmo que não o soubesse ou que não reconhecesse formalmente tal
disciplina. Por outro lado à religião sempre foi parte integrante da vida do homem,
como se fosse uma necessidade integrante para este entender a própria vida.
Assim, Geografia e Religião encontram-se através da dimensão espacial,
a primeira porque analisa o espaço e a Segunda porque como fenômeno cultural,
ocorre espacialmente.
Dando continuidade, este estudo pretende contribuir para a geografia da
religião, mostrando o sagrado como elemento de caracterização e diferenciação
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 97

de lugares, atribuindo um significado que os desvincula da esfera do econômico,


levando-os para a esfera do simbólico.
Assim, evidencia-se o conceito de espaço sagrado e espaço profano em
sua versão geográfico, isto é, em sua dimensão espacial. Deseja-se sugerir uma
maneira particular de olhar as cidades em relação a seu contexto cultural,
estabelecendo um elo entre religião e organização funcional e espacial das
cidades. Persistindo na temática do estudo do sagrado como mais uma via de
acesso à compreensão do urbano, apresenta-se, por fim, uma possível tipologia
de hierópolis do catolicismo brasileiro.
Para efeito de atualidade é importante destacar que atualmente multidões
se dirigem ao encontro do sagrado, muito embora vivam em tempos profanos.
Tópicos de estudo – no Brasil a contribuição de sociólogos e antropólogos
é expressiva abordando, sobretudo o catolicismo, protestantismo e os cultos afro-
brasileiros. Misticismo (exemplifica da Bahia). Diversidade dos fenômenos
religiosos e as inúmeras hipóteses sugeridas ao explicar a expansão de
diferentes religiões no espaço e no tempo. Movimento religioso – via um Deus.

5.4.3. REFERÊNCIAS

CORRÊA, R. L. & ROSENDAL, Z. (Org). Paisagem, tempo e cultura. Rio de


Janeiro : Ed. da UERJ, 1998. 123p.

_____. Religião, Identidade e Território. Rio de Janeiro: UERJ, 2001.

MOURA, O. As idéias católicas no Brasil: direçõesdo pensamento católico do


Brasil no século XX. São Paulo: Convívio, 1978.

RICHTMANN, F. P. O sentido da Cultura Cristã. São Paulo: Helderr, 1968.

ROSENDAL, Z. Espaço & Religião: Uma abordagem geográfica. Rio de Janeiro :


Ed. da UERJ, 1996. 89p.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 98

________________________________________5.5. GEOGRAFIA CULTURAL

5.5.1. Gênese e evolução da Geografia Cultural: Alemanha, França e Estados


Unidos

Os estudos inerentes à Geografia Cultural devem considerar, inicialmente,


seus primórdios em três países, nos quais surgiram e desenvolveu-se as
pesquisas relativas a esta temática. Neste sentido, destacam-se: a Alemanha,
com Friedrich Ratzel (1844-1904), A França, com Paul Vidal de La Blache (1845-
1918) e os EUA, com Carl Sauer (1889-1975).1
Considera-se que, a introdução do termo “Geografia Cultural” deve-se a
Ratzel, no ano de 1880 através da obra intitulada Culturgeographie der
vereinigten staaten von nord-amerka unter besonderer berückschtigung der
wirtschftlichen verhältnisse.2
O interesse deste autor pela temática deve-se a sua aproximação com
Moritz Wagner (zoologista darwiniano), em 1870, que acreditava no papel das
migrações na evolução dos seres vivos. Ratzel descobre, então, a Geografia e na
volta de uma viagem aos EUA, defende o doutorado cuja temática central era a
migração chinesa na Califórnia. É nomeado titular em Munique (1875) e, a partir
desta experiência, escreve a obra referida acima.
Posteriormente, no período que compreende 1882-1891, elabora a obra
“Antropogeografia”, na qual propõe descrever as áreas onde vivem os homens e
as mapear; estabelecer as causas geográficas da distribuição do homem na
superfície terrestre, definir a influência da natureza sobre o homem.
Neste sentido, Ratzel estudou as migrações, acreditando que estas eram
limitadas pelo meio. Assim, torna-se evidente o cunho determinista de suas
pesquisas.

1
As informações relativas ao surgimento da Geografia Cultural nestes três países estão baseadas
no Capítulo I, da obra intitulada, A Geografia Cultural, de Paul Claval.
2
A Geografia Cultural dos Estados Unidos do Norte com ênfase especialmente voltada para as
suas condições econômicas.
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Definiram-se dois termos para os estudos culturais: naturvölker, ou povos


primitivos, para designar aqueles povos sem técnicas desenvolvidas e,
kulturvölker, ou povos civilizados, os quais desenvolveram técnicas mais
avançadas.
Salienta-se que, essas técnicas dizem respeito às práticas agrícolas
principais atividades econômicas naquele momento, e que permitiram diferenciar
os povos a partir de certo nível de desenvolvimento.
Ratzel dedica, então, os anos de 1880 aos fundamentos culturais de
diferenciação regional da Terra, com três volumes dedicados à Etnografia
(völkerkunde), publicados entre 1885 e 1888. Nessa obra, dois volumes são
dedicados aos povos primitivos e um aos povos ditos civilizados do Antigo e do
Novo Mundo.
A Geografia Cultural concebida por Ratzel inclui a cultura, mas esta é
analisada sob os aspectos materiais: artefatos usados pelo homem na sua
relação com o espaço. A cultura tem um alcance político na sua obra, há uma
seleção das sociedades pelo espaço, onde o Estado exerce papel central.
Pode-se dizer que, nesta primeira Geografia Cultural alemã enfatizaram-se
as paisagens como expressão dos grupos étnicos, onde se assimilava a
dimensão cultural da paisagem. A atenção voltava-se para a parte material da
cultura (utensílios e técnicas), no entanto, negligenciava os conhecimentos e
valores.
Cabe ressaltar também a Geografia Cultural desenvolvida nos EUA, com
Carl Sauer, fundador da Escola de Berkeley. Este autor dinamizou a Geografia
Cultural estadunidense cerca de trinta anos após os primeiros trabalhos alemães.
Enfatizou em seus estudos as populações indígenas dos EUA,
principalmente do sudeste, bem como o passado pré-colombiano do México, com
grande influência do pensamento geográfico alemão.
Para Sauer, a Geografia trata da inter-relação dos grupos culturais com o
sítio, que se exprime nas diversas paisagens da Terra, sendo a Geografia o que
se vê na Terra (concepção material), portanto, também ignorando as dimensões
subjetivas da cultura. Fez inúmeras críticas em relação às civilizações modernas,
por serem estas indiferentes à natureza.

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Partindo do princípio que A marca cultural na paisagem dura muito tempo,


a Geografia Cultural desenvolvida nos EUA valorizou essencialmente o passado.
A partir dessa afirmação, a Escola de Berkeley pôde reconstruir o que era
a América na véspera da descoberta. Os estudos voltaram-se para o passado
indígena e, também, direcionados a colonização.
Tal situação originou uma preocupação ecológica, a partir de 1930,
principalmente, através da invasão de plantas exóticas vindas da Europa com os
colonos e, também, da devastação da cultura indígena, da fauna e da flora
nativas.
Percebe-se que, o desenvolvimento da Geografia Cultural na Alemanha e
nos EUA seguiu pelo mesmo caminho, ou seja, considerava apenas a parte
material da cultura, o que se vê. No entanto, negligenciava os conhecimentos e
valores culturais.
Em síntese, Sauer (2003, p. 22-23), diz que “A Geografia Cultural se
interessa, portanto, pelas obras humanas que se inscrevem na superfície
terrestre e imprimem uma expressão característica. A área cultural constitui-se,
assim, um conjunto de formas interdependentes e se diferencia funcionalmente
de outras áreas”.
Assim, nos EUA a Geografia Cultural ganhou identidade com Sauer e seus
discípulos, baseando-se no historicismo, valorizando o passado e nas
sociedades tradicionais e não-urbanas. (CORREA; ROSENDAHL, 2003).
É neste contexto que se destaca a dimensão da cultura da Geografia
Humana francesa. Na concepção de La Blache, a Geografia tinha como
preocupação analisar e explicar as relações entre os grupos humanos e meio
ambiente que habitavam, assim como sua adaptação às condições ambientais.
Considerava que esta adaptação se concretizava através do modo ou
gênero de vida, que abarcava os aspectos materiais, via desenvolvimento de
técnicas, assim como alemães e estadunidenses, mas também os hábitos dos
povos. Este último, pertence a esfera cultural.
La Blache nunca falou em cultura, mas as idéias culturais tinham como
foco central na pesquisa. Para o autor, os migrantes transportavam consigo seus
hábitos, através da técnica, com possibilidade de inovação, daí o possibilismo
geográfico, mais a força do hábito.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 101

Dentre seus discípulos, destacam-se: Albert Demangeon, com a análise da


paisagem (gênese) alterada pela ação humana (principalmente das regiões
industriais do norte da Europa); Jean Brunhes, cuja atenção voltou-se para a
cultura, uma vez que, explorava os fatores históricos e etnodemografia; Pierre
Deffontaines, que trabalhou com Brunhes por dez anos e desenvolveu grande
interesse pelo folclore e a Etnografia rural das regiões onde trabalhou (inclusive o
Brasil). Sendo assim, desenvolveu grande interesse pelas manifestações visíveis
da cultura na superfície terrestre. (CLAVAL, 2003).
Também se sobressaem Roger Dion com estudos relativos a evolução das
paisagens rurais na França, principalmente, com a vinha; Xavier de Planhol, com
pesquisas semelhantes a Dion, porém, com ênfase maior para as construções no
campo e; Eric Dardel, cujas pesquisas partiam do pressuposto que a Geografia
tinha que explorar o sentido da presença humana na superfície terrestre.
(CLAVAL, 2003).
De certa forma a forma, a França, com La Blache e seus discípulos
proporcionaram outra visão de cultura3 para a Geografia, pois segundo Claval
(1999, p. 40), os franceses:

[...] imaginavam com a noção de gênero de vida, um instrumento


flexível, que evite colocar entre parênteses tudo aquilo que se passa
entre os homens e a paisagem. Consideravam mais facilmente os
componentes sociais e ideológicos da cultura e mostram-se sensíveis
graças a Jean Brunhes e a Pierre Deffontaines, aos ensinamentos da
Etnografia e dos estudos folclóricos.

Em síntese, os estudos culturais nestes três países contribuíram para a


construção de um corpo teórico para a Geografia Cultural, ao mesmo tempo em
que suas deficiências originavam críticas, tanto de geógrafos sauerianos, como
de outras correntes.

3
O conceito de cultura e tudo mais que este abarca, mantiveram um intenso debate no âmbito
das Ciências Sociais, desenvolveram-se paralelamente na Alemanha e na França. A principal
divergência teórica entre os pesquisadores centrava-se no significado de “cultura”. Enquanto na
Alemanha utilizava-se o termo kultur, a França recusava essa denominação preferindo o termo
civilização. Deve-se a este fato a ausência do conceito científico de cultura no início da pesquisa
francesa. Salienta-se que, a Sociologia, como disciplina científica teve sua origem na França e, a
Etnografia, reduzia-se a um ramo desta, com predomínio da “questão social” em vez da “cultura”.
(CUCHE, 2002). Pode-se dizer que, a Geografia Cultural também seguiu por este caminho,
justificando, assim, a ausência da palavra cultura, contrapondo a tradição alemã.
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Salienta-se que, a Geografia Cultural nestes moldes foi praticada até 1970,
quando se acentuavam as críticas, dentre as quais se sobressaem: a ênfase
dada a dimensão material da cultura; o conceito de cultura adotado e por
considerar a cultura como algo externo ao indivíduo.
Para Correa; Rosendahl (2003), a cultura neste momento era tida como
uma entidade supra-orgânica, com suas próprias leis pairando sobre os
indivíduos, considerados como mensageiros da cultura, sem autonomia.
Portanto, era uma concepção individualista e, considerada e, considerava
a cultura como algo externo ao indivíduo. Embora se tenha indicado essas
críticas, é importante destacar que a Geografia Cultural desenvolvida neste
período deixou uma considerável herança para as futuras pesquisas na área,
tanto que sua presença ainda se faz sentir atualmente, principalmente, através de
seus autores mais expressivos.

5.5.2. O movimento de renovação da Geografia Cultural

A Geografia Cultural, a partir da década 1970 passou por um processo de


renovação em virtude das críticas sofridas. Este processo foi motivado por um
conjunto de mudanças em escala mundial, que na concepção de Mitchell (2000)
apud Correa; Rosendahl (2003, p. 12), referem-se ao fim da Guerra Fria, a
ampliação das migrações para os países centrais, as mudanças econômicas e as
novas formas de entender a realidade que se tornava cada vez mais complexa.
Ressalta-se, também, que no processo de renovação diversas influências
se fizeram presentes, dentre as quais a própria tradição saueriana e o legado
vidaliano, as filosofias do significado (fenomenologia) o relacionamento com as
humanidades e a Geografia Social. (CORREA; ROSENDAHL, 2003).
Fez-se necessário, então, redefinir o conceito de cultura utilizado pela
Geografia Cultural, fim de suprir e renovar a base teórica das pesquisas, desta
linha temática.
Neste sentido, na concepção de Correa; Rosendahl (2003, p. 13) a
concepção de cultura:

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 103

[...] é redefinida e liberada da visão supra-orgânica e do culturalismo, na


qual a cultura é vista segundo o senso comum e dotada de poder
explicativo. É vacinado também contra a visão estruturalista, na qual a
cultura faria parte da “superestrutura”, sendo determinada pela “base”. A
cultura é vista como um reflexo. Uma mediação e uma condição social.
Não tem poder explicativo, ao contrário, necessita ser explicada.

Assim, somou-se a concepção de cultura a dimensão não-material desta,


valorizando o significado e a subjetividade. Cosgrove (1998) considera a cultura
como um conjunto de práticas compartilhadas comuns a um grupo social,
transmitida através de gerações.
Têm-se como resultado da renovação, inúmeros caminhos a serem
seguidos, visando contribuir para a análise da ação do homem sobre a superfície
terrestre. Consideram-se, agora, os aspectos materiais (dados pela técnica) e os
aspectos imateriais (crenças e valores), o presente e o passado e, as diversas
escalas de análise, cabendo ao pesquisador defini-las.

5.5.3. A Geografia Cultural no Brasil

No Brasil, a Geografia Cultural, teve incorporação tardia e seus estudos já


se orientaram por um corpo teórico renovado. As pesquisas brasileiras nesta
linha de pensamento datam de meados da década de 1990 e, encontra no Brasil
um excelente campo de pesquisa.
Tal fato deve-se, basicamente, a heterogeneidade cultural brasileira, fruto
de longos processos de povoamento e colonizador. A Geografia Cultural tem, no
País, uma extensa gama de “problemáticas” a serem pesquisadas, oriundas do
mosaico étno-cultural que forma a cultura brasileira.
Neste sentido, Corrêa; Rosendahl (2003) propõe quatro grandes temas para
as pesquisas culturais: paisagem cultural, região cultural, religião e a cultura
popular, sendo que estes não são mutuamente excludentes.
Um grande impulso para estes estudos foi a criação do NEPEC, em 1993,
na UERJ e, posteriormente, com o periódico intitulado Espaço e Cultura (1995),
que atestam o interesse cultural no País. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2003).
Este núcleo de pesquisa, sediado no Rio Janeiro, tem contribuído
significativamente para a difusão da Geografia Cultural no Brasil, seja através do
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 104

periódico ou de simpósios e palestras específicos sobre a temática em questão.


Porém, outros centros de ensino do País também desenvolvem pesquisas e
produzem o conhecimento cultural, o que pode ser visto nos trabalhos publicados
em congressos e encontros de Geografia.
Dentre os autores mais expressivos desta linha temática destacam-se:
Roberto Lobato Corrêa (UFRJ) e Zeny Rosendahl (UERJ), com diversas
publicações. Corrêa dedica-se a Geografia Urbana e a Geografia Cultural, já
Rosendahl enfatiza a Geografia da Religião, porém, em conjunto, organizam
obras que reúnem importantes atrativos relativos a cultura.
Neste contexto, pode-se observar que, a Geografia Cultural brasileira dá os
primeiros passos, se comparada aos países pioneiros nessas pesquisas, que a
mais de um século desenvolviam estudos. Porém, constitui-se numa contribuição
à Ciência Geográfica brasileira, pois amplia seus horizontes de pesquisa,
agregando bases teórico-metodológicas bem consolidadas em outros países.

5.5.4. REFERÊNCIAS

BEZZI, M. L. As distintas abordagens sobre o conceito de região. Área de


conhecimento de Geografia, n. 4, p. 52-54, 2001.

_____ Região como foco de identidade cultural. Geografia, v. 27, n. 1, p. 5-19,


2002.
CLAVAL, P. A Geografia Cultural. Tradução: Luiz Fugazzola Pimenta; Margareth
Afeche Pimenta. Florianópolis: Ed. da UFSC,1999.

COSGROVE, D. E. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas


paisagens humanas. In: CÔRREA, R. L .; ROSENDHAL, Z. (Org.). Paisagem,
tempo e cultura. Rio de Janeiro: Ed. da UERJ, 1998, p. 92-123.

CUCHE, D. A noção de cultura nas ciências sociais. Tradução: Viviane


Ribeiro. 2. ed. Bauru: Ed. da EDUSC, 2002.

OLIVEN, R. G. A parte e o todo: A diversidade cultural no Brasil-Nação.


Petrópolis: Vozes, 1992.
SILVA, S. A. da. Lugar, Paisagem e Território no Ensino de Geografia.
Fortaleza: Premius, 2003. p. 46-52.

WAGNER, R. L.; MIKESELL, M. W. Os temas da Geografia Cultural In: CÔRREA,


R. L .; ROSENDHAL, Z. (Org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro:
Bertand Brasil, 2003. p. 27-62.
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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 105

___________________________________________5.6. GEOGRAFIA MÉDICA

A Geografia Médica é uma proposta inovadora dentro do campo das


Ciências Geográficas e Ciências Médicas, mas seus antecedentes remontam a
Antigüidade. Há registros e descobertas arqueológicas que mostram que a
doença tem estado presente desde os tempos mais remotos. Entretanto, esta foi
área de interesse da Medicina há pelo menos 500 anos. O estudo das relações
entre as enfermidades, com as condições ambientais foi uma das reflexões
médicas desde os tempos de Hipócrates, universalmente venerado como o Pai
da Medicina.
Conforme Lacaz, (1972), a Geografia Médica nasceu com Hipócrates e,
portanto, com a própria história da Medicina, quando aproximadamente 480 a.C.,
publicou sua famosa obra “dos Ares, das Águas e dos Lugares”, na qual realiza
explicações determinísticas.

5.6.1. Objeto de Estudo

Compreender as relações que existem entre o meio ambiente e a saúde


humana.
É através dela que se entende a distribuição e a prevalência das
diferentes moléstias no espaço geográfico. Lacaz (1996) define como sendo a
disciplina que estuda a geografia das doenças, isto é, a patologia à luz dos
conhecimentos geográficos. Os primeiros trabalhos no clima como principal
desencadeador ou inibidor das doenças mais conhecidas.
Resulta da interligação dos conhecimentos geográficos e médicos,
mostrando, assim, a importância do meio geográfico no aparecimento e
distribuição de uma determinada doença.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 106

5.6.2. Importância e Períodos

Esta tendência ao buscar a identificação dos locais de ocorrência das


doenças, procura descrever e explicar as diferenças existentes na superfície
terrestre e a relação da humanidade com o meio.

O Primeiro Período

Baseado essencialmente nas idéias de Hipócrates, ou seja, relações


determinísticas. Buscava verificar os fatos que impulsionaram os estudos da
Geografia Médica, através dos conhecimentos das moléstias. Avança com o
surgimento das grandes navegações e com a descoberta de novos países nos
séculos XVI e XVII.

O Segundo Período

Entre os séculos XVIII e XIX, período caracterizado pela espacialização.


Surgem as topografias médicas com a finalidade de atender uma série de
fenômenos epidêmicos dos EUA e na Inglaterra.
Entre os autores deste período destacam-se: Hoffmann (1746), Bordier
(1884), Davidson (1982).

O Terceiro Período

Inicia-se no final do século XIX até a metade XX. É conseqüência da


revolução científica ligada a Revolução Pasteuriana (Pasteur). Os trabalhos de
Pasteur vieram para alterar a velha tradição hipocrática. Quando se atribuíram as
doenças exclusivamente a penetração e multiplicação de uma bactéria, nada
mais do que isto.
Dessa forma, fica explicado o declínio de importantes obras da Geografia
Médica. Com destaque para alguns autores: Piery, Max Sorre e Daniel Cracke.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 107

O Quarto Período

A partir da década de 70, define-se o quarto período aliado ao


reaparecimento da Geografia Médica. Ressurge o interesse pela análise dos
problemas de saúde relacionados com o meio ambiente.
Entre os autores salientam: Jacques May, Mayer e Jones.

No Brasil

A evolução do estudo da Geografia Médica no Brasil foi relativamente


pouco estudada. Sendo mais cultivada antes da era pasteuriana com os
trabalhos de Sigaud (1832), considerado como o primeiro médico geógrafo
brasileiro. Também Pereira (1876) e Brasil (1877).
Pessoa (1960), ao definir a Geografia Médica diz que esta tem por fim o
estudo da distribuição e da prevalência das doenças na superfície da terra, bem
como, de todas as modificações que nelas possam advir da influência dos mais
variados fatores geográficos e humanos.

Abordagem

A associação que foi é evidente neste estudo refere-se ao “determinismo


geográfico”, que se conserva até hoje sob a dominação de “determinismo
ambiental”. As relações da Geografia com a saúde eram entendidas em geral
com influências da natureza, ou seja, clima, relevo, água e solos.
Os estudos da Geografia Médica devem ser entendidos dentro da
perspectiva ambiental, cujas condições do tempo e do clima são provocadoras de
certos sintomas e enfermidades. (vento norte, neblina e nevoeiro, entre outros).
Com a era microbiana, foram ficando escassos os textos, destacando
apenas estudos gerais de autores como: Andrade (1909), Gonzaga (1925),
Ferreira (1935), Siqueira (1954). E como a obra pioneira Lacaz, em 1972 publica
o livro Introdução a Geografia Médica do Brasil.

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_________________________________________________________ Historiografia da Ciência Geográfica 108

Após a época pasteuriana, a Geografia Médica perdeu importância e


surgiram estudos ligados à bioclimatologia e climatologia médica.

5.6.3. REFERÊNCIAS

FARINHA, Tagarra Mariuza. Mapeamento das causas de óbito por bairros no


distrito sede de Santa Maria, RS. 1999. 84F. Monografia (Especialização em
Interpretação de Imagens Orbitais e Suborbitais) –Universidade Federal de Santa
Maria. Santa Maria,1999.

_____. Relações entre tipos de tempo e as doenças do aparelho


respiratório. Santa Maria, Centro de Ciências Naturais e Exatas, UFSM.,
1993,71p. Monografia (Licenciatura em Geografia) –Universidade Federal de
Santa Maria. Santa Maria,1993.

PARAGUASSU, Alberto Carlos. Geografia Médica ou Saúde: Espaço e Doença


na Amazônia Ocidental. Porto Velho: EDUFRO, 2001, 280p.

_____. Sanologia: Nova concepção da saúde do ser humano. Porto Velho:


EDUFRO, 2002, 125p.

SARTORI, Barros Maria. Clima e percepção. 2000. 227f. Tese (Doutorado em


Geografia)- Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

LEMOS, Jureth; LIMA, Samuel. In: A Geografia Médica e as doenças infecto


parasitárias, 2002. Disponível em: <http::// www.ig.ufu.br/revista/volume 06/>.
artigo 05- vol 06. pdf. Acesso em: 11 dez. de 2006.

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QUADRO 1: RESUMO DAS ESCOLAS GEOGRÁFICAS

ESCOLAS

CARACTERÍSTICAS GEOGRAFIA NOVA GEOGRAFIA

TRADICIONAL GEOGRAFIA CRÍTICA

Período

Objeto de estudo

Método de análise

Filosofia norteadora

Doutrina teorias

Espaço de análise

Abordagem

Técnicas de análise

Dicotomias

Autores
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QUADRO 2: RESUMO DAS TENDÊNCIAS GEOGRÁFICAS

TENDÊNCIAS

CARACTERÍSTICAS TURISMO HUMANÍSTICA IDEALISTA

Período

Objeto de estudo

Método de análise

Filosofia norteadora

Doutrina teorias

Espaço de análise

Abordagem

Técnicas de análise

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Dicotomias
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QUADRO 3: RESUMO DAS TENDÊNCIAS GEOGRÁFICAS

TENDÊNCIAS

CARACTERÍSTICAS RELIGIÃO CULTURAL MÉDICA

Período

Objeto de estudo

Método de análise

Filosofia norteadora

Doutrina teorias

Espaço de análise

Abordagem
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Técnicas de análise
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