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Estrada

Road
Jonathas Ramos de Castro1

Deserto amplo e vazio. Sem mais vida. Sem mais morte. No chão e abaixo mais nada. No
céu e acima mais nada. A estrada não tem princípio nem fim. Não se pode mais determinar
o sentido e a direção da estrada: esqueceu-se a posição dos pontos cardeais visto a longa
ausência do sol e o desaparecimento das bússolas. E os automóveis todo dia atropelam
alguém embora já não exista mais ninguém no deserto e não seja mais possível distinguir
os dias dos dias eis que desapareceram os calendários e esqueceram-se os números. Os
corpos atropelados permanecem onde caíram ou são empurrados para a margem da
estrada pelos automóveis que vêm atrás. Ninguém nunca os busca. Ao longe os corpos
que ainda vivem estão parados em pé olhando a estrada com olhos vazios embora já não
haja mais vida no deserto e seja um fato que os corpos já há muito tempo estejam
nascendo sem olhos dada sua inutilidade na escuridão e isso embora seja também um fato
que os corpos já há muito tempo tenham se tornado estéreis. A cada hora muito embora
essa palavra já não signifique mais nada além de uma lembrança confusa partem dois ou
três corpos em direção à estrada embora como se disse já não se saiba mais contar. E não
o fazem por obrigação ou por vontade própria pois já ninguém mais sabe o que significam
essas palavras embora como se disse já não exista mais ninguém no deserto. Os corpos
que vão ficam para sempre na memória dos corpos que ficam muito embora já não haja
mais memória e já ninguém mais use a palavra sempre.

1
Doutorando em Filosofia do Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). E-
mail: jonathas.r.castro@hotmail.com

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