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Apostilhas de Introdução à Filosofia

(Brevíssimo Curso de Filosofia Tomista)

Professor Pe. José Josivan Bezerra de Sales


Recife, 2005
Noção da Filosofia
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“A fé e a razão são como as duas asas pelas quais o homem se eleva em busca da
verdade”, assim começa a encíclica do Papa João Paulo II que nos fala de uma verdade
essencial na vida do homem. Deve notar-se que essas duas asas permitem ao homem voar e
sem qualquer uma das duas ele não poderá elevar-se acima do superficial na vida. Nosso
interesse de fundamentar nossa fé com um bom estudo nos leva a não esquecer que a fé,
como dom sobrenatural de Deus se firma sobre o que é natural a todo homem, a
inteligência. Todo homem pero mero fato de sê-lo é racional, já o dizia a definição de
homem dada por Aristóteles “animal rationale”, o homem é animal racional, e por ser
racional o homem e “todo homem, busca naturalmente conhecer”, conhecer a verdade que é
o objeto de todo conhecimento autêntico.

No nosso breve estudo da filosofia deveremos mergulhar com grande paixão nas
profundidades que a razão nos proporciona, pois isso nos será de grande importância para
ter uma fé que seja passível de raciocínio; para argumentar com aquelas pessoas que não
tem fé, aquelas verdades que ainda que nos tenham sido proporcionadas pelo dom da fé
como depósito de fé, são verdades de razão natural, logo acessíveis a qualquer pessoa de
boa vontade que se interesse verdadeiramente pela busca da verdade. Também não
podemos esquecer nosso interesse prático e próximo que é de conhecer algo da filosofia
para que ela nos cumpra aquele requisito medieval de ser a “ancilla Theologiae”, escrava da
Teologia, sua servidora.

Contudo, nem por isso a disciplina que estudamos tem menor dignidade que sua
senhora. A filosofia, ou como poderíamos chamá-la de forma descontraída, Sofia, é uma
serva, mas de nobre estirpe e galharda presença, não cede nem se inclina facilmente de
forma servil. Para conseguir seu auxilio, faz-se necessário um profundo respeito e
paciência, para aproximar-se dela pouco a pouco, quase que lhe fazendo a corte, somente
assim ela nos revelará sus segredos. Devemos estar dispostos a suar a fronte e franzir a testa
muitas vezes, para cavilar sobre seus problemas. Somente aquele que de verdade se
apaixona por Sofia poderá conseguir dela todo o auxílio que pode, abundantemente nos dar.

Significado da Filosofia

O nome filosofia vem da Grécia antiga e significa amor pela sabedoria, pois o
filósofo não é aquele que possui a sabedoria, mas que a ama, e isto implica uma situação de
constante busca, o resultado, mais que possuí-la é deixar ser possuído pela sabedoria, pois
no caso da verdade, nós não chegamos a ser donos dela, mas ela torna-se dona de nós.

Ciência, causas

A Filosofia se configura com ciência e isto é um espinho ou entrave que causa


muitas queixas; sobretudo no mundo positivista em que estamos, também nós brasileiros
temos uma carga de positivismo que influi até nos símbolos de nossa nação. Muitas vezes
somente se admite como ciência aquilo que se move na área experimental, ou seja, o que é
passível de observar-se sob a lente do microscópio. Entretanto devemos apoiar-nos sobre o
conceito clássico de ciência para ver que a ciência envolve não somente o observável pelos
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sentidos, mas o que partindo deles nos eleva mais além do meramente sensível. Aristóteles
já dizia “nada há no intelecto que antes não tenha passados pelos sentidos”, mas não
ficamos estagnados no mundo sensível. O mesmo Aristóteles definia a ciência com um
“conhecimento certo pelas causas” (cognitio certa per causas).

Conhecer as coisas por sua razão de ser é a ciência, logo vemos que a ciência é um
conhecimento, ou seja, é algo humano, pois somente os homens podem ter conhecimentos
reflexos, um conhecimento certo, que foi buscado e alcançou a realidade das coisas, e foi
até a razão de ser delas. O que chamamos de causas, é aquilo que produziu a coisas em seu
ser, a suas razão primordial de ser. Neste sentido muitos dos seres que investigamos pelas
ciências encontram sua razão de ser mais além do mundo sensível e no caso de querermos
restringi-los ao mundo puramente sensível, nos veríamos chamados ao fracasso, pois
deveríamos admitir que não tem razão de ser ou são um sem sentido.

Cada uma das ciências busca conhecer parte da realidade, pois o conhecimento de
todas as coisas transborda a capacidade do homem e, mais ainda de um homem concreto,
de modo que cada ciência dedica-se a um aspecto concreto da realidade, no caso da
filosofia isto não acontece. Não é que a filosofia aborde tudo, mas ela toca todos os temas,
nada lhe escapa. No âmbito filosófico o todo é estudado de forma estritamente filosófica e
não se mescla o campo de estudo tomando as coisas que pertencem às ciências
experimentais. Vejamos um exemplo: a Medicina estuda o homem, a Antropologia cultural
também estuda o homem e a antropologia filosófica o estuda igualmente, mas a visão mais
ampla que se tem do homem é a que nos da a filosofia, ela o estuda em toda sua amplitude
de horizonte, mas nas suas características essenciais. A Medicina o estudará desde o ponto
de vista da patologia, a antropologia cultural desde as manifestações de sua cultura, a
filosófica desde seu mesmo ser. O que é o homem é a pergunta estritamente filosófica.

Isto é o que se estuda nos manuais clássicos como objeto material e objeto formal.
O objeto material é aquilo que é estudado o objeto formal sob que aspecto estudamos
aquela realidade

Conhecimento espontâneo e conhecimento científico

Como vimos acima, a filosofia é um conhecimento, é ciência, mas por ser ciência é
antes conhecimento, por isto mesmo em nome da ciência não devem ser desprezados
aqueles conhecimentos que são tidos como não científicos, e por isso mesmo de um valor
inferior. Nem todos os conhecimentos que usamos na nossa vida são científicos, pois
muitos deles nos vem por tradição ou muitas outras formas de conhecer. E até mesmo o
conhecimento científico tem sua origem e base no conhecimento vulgar ou espontâneo.

O conhecimento espontâneo é aquele que nos vem pela experiência direta e


repetição dos fatos que acabamos assimilando como um cabedal de informações que nos
dão certa visão do mundo, esse conhecimento espontâneo pode ser chamado também
experiencial, pois nos vem da simples observação dos fatos, de sua repetição sem ir às
causas essenciais de tal fato.
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O conhecimento científico vai às causas e não se satisfaz com uma resposta simples,
ainda que seja verdadeira como são as respostas dadas pelo conhecimento espontâneo.
Busca a razão de ser das coisas, sua explicação e para isso certamente usa dos
conhecimentos proporcionados pela experiência espontânea, mas vai mais além e se detém
numa observação mais profunda do ser das coisas, utiliza mesmo de meios materialmente
desenvolvidos pela técnica para poder apurar a causa das coisas.

Certamente esta busca pelas causas se dá de forma direcionada ao seu objetivo e por
isso mesmo segue um método próprio e bem concreto, de tal modo que não se atinge toda a
realidade do ser que se busca conhecer, nem poderia nutrir-se tal ambição, pois como diz
Santo Tomás “até mesmo numa mosca há mais realidade da que o homem possa conhecer”.
Nesse sentido a filosofia nos proporciona uma visão sobremaneira interessante, pois dá um
panorama muito amplo da realidade que permite conjugar todos os conhecimentos num
sistema unitário. Isto é, uma visão conjunta de toda a gama da realidade que se estrutura em
torno ao âmago do ser e que se ramifica nas ciências concretas que examinam cada aspecto
da realidade sob uma diversidade imensa de formas de observação.

Filosofia como ciência do ente

Podemos dizer então que a filosofia é uma ciência, mas ciência do ente, isto é, como
o que estuda é estudante, e o que caminha caminhante, tudo aquilo que é, é ente, a filosofia
vai estudar tudo aquilo que é, e tudo aquilo que é enquanto que é tal o qual realidade; neste
sentido nenhuma coisa escapa a esta ciência nem nenhum aspecto essencial das cosias fica
fora de sua observação.

Filosofia como assombro

Mas se observamos com um olhar distraído parece ser que o objeto da filosofia é
aquilo que nos é mais evidente: a realidade que está diante de nós e que contemplamos
todos os dias. Assim como podemos transcender a rotina da normalidade que
corriqueiramente envolve nossas vidas? Uma atitude primordial de todo filósofo é o
assombro. Assombro diante da realidade que a muitos pode parecer clara e transparente,
mas que para aquele que se pergunta o profundo sentido da realidade pode não estar tão
claro.

Todos os homens e mulheres têm algo diante de si, diante de seu rosto, que é o
nariz, mas dificilmente se põe atenção nesta parte do corpo, a não ser que se esteja diante
do espelho, pois ainda que nos acompanhe aonde vamos, ele está colocado de forma tão
tranqüila, e não atrapalha para nada, que seria até estranho aperceber-se dele a cada
instante. Somente quando se põe a atenção nele, se toma consciência da sua presença,
quando se indaga sobre ele. A mesma coisa pode passar com a realidade, está sempre
diante de nós de modo tão cotidiano que não a percebemos como problema, ou seja,
questionamento importante, o porquê da existência, parece pergunta para homens de outra
época ou de outra realidade e modo de pensar, mas justamente o assombro daquela pessoa
que afirma, “-eu tenho nariz!”, ainda que ele sempre tivesse estado lá, daquela pessoa que
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se assombra diante da beleza de uma rosa, da consciência de si mesmo, ou em maior escala,


da pergunta sobre o sentido da vida, sobre o não ser, sobre a justiça e a injustiça, sobre o
bem e o mal, a verdade e a sua ausência.

Outra atitude interessante de todo filósofa é o que se poderia chamar da “fofoca”


filosófica, ou seja, em linguagem mais erudita a tradição. Como já havia sido dito, nem
todo conhecimento nos vem por nossa própria experiência. Muito do que sabemos o
sabemos porque outras pessoas nos passaram informações muito valiosas e variadas. O
assombro é de grande importância para não se acostumar, mas esse assombro leva sempre
às perguntas, e as perguntas exigem respostas, respostas que devemos buscar por nós
mesmos, mas que já foram buscadas por muitas outras pessoas em diversos lugares e
culturas; em variadas situações históricas. Essa amplitude de formas de ver também nos é
de grande valia. O que uma pessoa conhece não pode ficar guardado, mas deve
implementar o fundo comum de conhecimentos da Humanidade. Somos levados a expandir
nossas experiências e a contar nossos descobrimentos, assim pela fofoca filosófica, ou seja,
por essa tradição no sentido de entrega dos conhecimentos adquiridos se acolhe o que
outros já chegaram a conhecer e se passa adiante, ainda mais aprofundado, o que nós
mesmos chegamos a conhecer.

Sabedoria na vida humana

Podemos afirmar então que a filosofia não é somente ciência, mas sabedoria, pois
não dá respostas unicamente a aspectos ou partes da realidade, mas nos da um
conhecimento de totalidade que nos permite unificar nossos saberes e ter uma visão de
mundo para a nossa orientação. Com efeito, a sabedoria é aquela virtude que nos permite
uma visão do mundo unificado e total e isto a filosofia nos proporciona.

Saber radical

A filosofia é também um saber radical. No sentido etimológico, radical vem de


radix, raiz. Com o conhecimento filosófico buscamos ir às causas mais essenciais e ultimas
de toda a realidade e assim buscamos a raiz das coisas. Não somente no sentido etimológico
devemos observa-la; no sentido comum, radical significa algo que envolve todo o ser de
algo e a filosofia também atua deste modo. Quando se estuda uma ciência experimental
aquilo não nos envolve totalmente. É algo intelectual com o qual nos podemos envolver até
certo ponto dependendo de que ciência seja. Mas a filosofia proporciona uma visão do
mundo, e não é uma ciência somente teórica, mas implica uma visão prática e práxica da
realidade. Quem sabe como as coisas realmente são em seu ser mais íntimo é levado a atuar
em consonância com o ser e a realidade das coisas. Não pode ficar apático diante de tal
realidade conhecida.

Pergunta pelo sentido e problema da verdade


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Uma das perguntas essenciais da qual depende todo o caminho filosófico é acerca
da verdade, se ela existe, e do seu sentido mais real. Isto influi decisivamente na vida do
homem, pois lhe projeta uma visão na qual se fundamentará para atuar de uma forma ou
outra. O que muitas vezes se ouve chamar de “filosofia de vida” tem muito a ver com isso.
De tal modo eu vejo o mundo, pois conseguintemente eu atuarei em conformidade com o
que eu penso.

A verdade vai constituir-se deste modo não somente em problema gnosiológico,


mas um problema vital que deve encontrar suas raízes na metafísica, e ramificar de modo
especial na ética.

Pergunta pela causa

Outra pergunta importantíssima da filosofia é a pergunta pela causa. Vimos que a


ciência é um conhecimento certo pelas causas. Justamente isto de “certo” é seu aspecto
veritativo, ou seja, de verdade. As causas que se buscam na filosofia, e pelas quais ela
adquire seu estatuto científico, não são as causas próximas, mas as últimas causas ou mais
essenciais. A causa mais profunda e que dá razão de ser às coisas. Não me satisfarei
somente com uma explicação superficial da realidade, mas buscarei o porquê.

Neste sentido e com todas estas aclarações introdutórias podemos definir a filosofia
como a ciência de todas as coisas por suas causas últimas à luz da razão natural
(philosophia est scientia omnium rerum, per causas ultimas, sub lumine rationis naturaliter
comparata). Este último excerto que aclara a luz natural da razão é posto para distinguir da
Filosofia da Teologia, pois as duas versam sobre a totalidade do ser, mas a Teologia usa da
luz da fé, da razão iluminada pela fé, enquanto a filosofia usará somente da razão. Isto quer
dizer claramente que a Teologia vai muito mais além da Filosofia, pois conta com mais
fontes de conhecimentos, e mais ainda, com uma potencia maior, por outro lado na
Filosofia há uma vantagem, pois a Teologia vai fudamentar-se sobre Revelação, que não é
comum a todos os homens, pois nem sempre alcança a todos, e nem todos tem o dom da fé.
Mas todo homem, pelo mero fato de ser homem tem a luz natural da razão que lhe constitui
em sua mesma humanidade.

Estrutura do saber filosófico

O saber filosófico versa sobre todas a realidade, mas vai estruturar-se ao redor do
seu objeto primordial que é o ser. Tudo o que é, é (é ente). Deste modo todas as ciências
encontrarão seu ponto de conexão na filosofia, pois tudo é tratado nela. Por isso se afirma
que a filosofia é a mãe de todas as ciências, pois alberga sobre sua casa todos os saberes e
lhes da uma coesão e unidade.

Unidade e multiplicidade
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Esta unidade não nega a multiplicidade. Pela variedade de conhecimentos é


impossível que uma só pessoa abarque a todos. Por isso as ciências foram se fragmentando
em estudos de partes da realidade. Assim todas as ciências proporcionam informação e
apoio para a filosofia, pois todas versam sobre a realidade e a estudam baixo seu aspecto
formal próprio. Toda a multiplicidade de ciências encontra seus fundamentos não na
mesma ciência, mas na filosofia. Contudo a filosofia se subdivide em varias ciências
concretas que pode estruturar-se de variadas formas.

Caráter interdisciplinar

O caráter interdisciplinar tanto da filosofia como das outras ciências não deve ser
esquecido. Neste mundo positivista muitas vezes se pensa que a respostas de um problema
está numa ciência concreta, isolada de todas as outras, e não se tem uma visão de mundo
unitário, mas de um mundo repartido em variados compartimentos estancados e
incomunicáveis. Somente um conhecimento que seja interdisciplinar será um conhecimento
que realmente dê razão da totalidade do mundo. Assim podemos notar que tanto a filosofia
abarca os problemas da outras ciências e nos da uma luz para julgá-las desde fora, como os
problemas postos pelas ciências concretas nos levam a buscar respostas que na verdade não
estão nessas ciências, mas que vai além e somente podem encontrar solução na filosofia.

Divisão

Há varias formas de dividir a Filosofia, mas seguiremos uma muito simples.

Primeiramente colocaremos a ciência lógica como porta de entrada ou ciência


propedêutica da filosofia. A Lógica nos vai proporcionar os elementos para um bom
raciocínio e todos os instrumentos para um bom uso da mente no processo de
conhecimento.

Em seguida podemos ver a filosofia sistemática, e a História da Filosofia, a história


nada mais é do que uma disciplina auxiliar que nos pode ajudar estudando os pensamentos
de vários filósofos. Mas o de grande importância é realmente a filosofia sistemática, que
nos vai proporcionar a visão unitária do mundo que buscamos.
Por sua vez a filosofia sistemática pode dividir-se em teórica e prática, se bem que
exata divisão é muito imperfeita.

A filosofia teórica ou especulativa trata do conhecimento em vista do mesmo


conhecimento. Buscamos saber não para atuar diretamente, mas pelo mesmo desejo de
conhecer a realidade. Logicamente o conhecimento da realidade vai condicionar, ou
melhor, refletir-se em nosso atuar, mas de um conhecimento procurado pelo mesmo amor
ao conhecimento. Aristóteles dizia no começo de sua metafísica que “todo homem busca
naturalmente conhecer”, e essa busca natural do homem se revela nesse ponto da filosofia.

A filosofia prática por sua vez trata o atuar humano e é buscada tendo certamente
uma vertente teórica, mas seu fim é conhecer como se deve atuar, ou como deve ser a
forma correta de aplicar-se em busca do bem.
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A filosofia teórica se divide por sua vez em três partes, a Gnosiologia ( ou Teoria do
Conhecimento ou Epistemologia), a Metafísica e a Teodicéia (ou Teologia Natural). A
Filosofia Prática dividi-se em Filosofia do Fazer (ou Arte) e Filosofia do Agir (ou Ética). A
Ética dividi-se em Ética Geral e Ètica Especial que é chamada de Ética Social ou Filosofia
Social ou Política.

Lógica: ciência propedêutica

Lógica é a ciência do bom uso da razão para alcançar a verdade, sem erro, com
facilidade e com ordem. A lógica vai proporcionar meios para que o nosso raciocínio seja
realizado de forma segura e ordenada, desta forma as complicações que podem surgir de
um pensamento complexo podem ser vistas de forma mais objetiva para chegar a
resoluções aceitáveis.

Como base da filosofia devemos aceitar três princípios. Os princípios são aquelas
verdades que são compreensíveis a todo intelecto por sua mesma evidência e que servem
para fundamentar e ser o cimento onde construímos nossas edificações cognoscitivas.

Principio de não-contradição: algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo sob o mesmo
aspecto. Este princípio implica que o que é ao pode ser seu contraditório. Duas afirmações
que se contradigam frontalmente não podem ser ambas verdadeiras.

Principio de identidade: o que é, é o que é. Este princípio confirma a identidade do ser,


cada coisa é algo concreto e não outra coisa. Uma vez conhecida com certeza e sem erro
não podemos duvidar que aquilo seja o que é.

Principio do terceiro excluído: entre o ser e o não ser não há termo médio. Este princípio
vem confirmar o anterior afirmando que não existe um ser e não ser no mesmo instante e
aspecto; logicamente podemos admitir que as coisas mudem ou mesmo que sob aspetos
diferentes as coisas difiram, mas não há mediação no ser intrínseco de algo.

A partir dessa base podemos afirmar que a busca do conhecimento se vê confirmada


em que o objeto buscado pode ser alcançado, existe de fato, lei que no permitem conhecer
algo que não será sua negação em outro conhecimento.
Para facilitar o procedimento da lógica podemos estabelecer que de uma forma ou
outra, todo conhecimento pode ser expresso por meio de silogismos (um silogismo é uma
forma típica de um raciocínio).

Por exemplo:

Sócrates é homem
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Todo homem é mortal


Logo, Sócrates é mortal.

Vemos a simplicidade e claridade deste raciocínio e podemos tirar dele varias lições.

Conceito: Vemos neste silogismo vários conceitos (Sócrates, homem, mortal). Todos este
conceitos são resultados de um processo intelectual, que veremos mais tarde em que
chegamos a compreender a realidade da qual falamos quando pronunciamos estes nomes.

Juízo: o uso técnico da palavra juízo denota uma afirmação ou uma negação de um
predicado respeito a um sujeito. Quando afirma que Sócrates é homem, estou fazendo um
juízo afirmativo, estou unindo o sujeito Sócrates ao predicado homem e afirmando a
relação entre ambas realidades, na verdade a identidade entre ambas realidades. Se eu
dissesse que Sócrates não é homem, mas outra coisa, eu estaria negando, seria um juízo
negativo no qual eu estaria separando este predicado daquele sujeito.

Raciocínio: Esse silogismo é um raciocínio, na verdade todo silogismo é um raciocínio,


mas nem todo raciocínio é um silogismo. Raciocínio é o processo pela qual a partir de
alguns conhecimentos eu os relaciono com ou outros fazendo um pequeno sistema ou
elaboração de idéias oi conceitos. O silogismo é esta forma de raciocinar em que organizo a
partir de duas premissas uma conclusão antes desconhecida. Tenho a primeira premissa (o
juízo no silogismo pode ser chamado premissa) conhecida e uma segunda premissa também
conhecida que ser relacionam entre si, destas duas premissas eu tiro uma conclusão que
vem realmente como conseqüência lógica dessas duas premissas anteriores, assim eu tenho
um silogismo. O raciocínio pode ser elaborado de forma silogística ou não, pode
simplesmente surgir ouras leis ou omitir partes do silogismo porquê já os considero
compreendidos e assimilados.

Como vimos, a lógica nos proporciona elementos para facilitar o processo de


conhecimento, mas pelo uso das palavras, podemos cair em vários equívocos. Na verdade a
lógica trata deste uso das palavras, pois as palavras são como alças dos conceitos, pelas
quais usamos os conceitos.

Há dois tipos de erros principais no uso das palavras que faz que pensemos que algo
que é errado seja verdade, porque nos é apresentado com aparências de verdade. Isto se
chama na filosofia sofisma ou falácias, elas são formas de apresentar um erro ou falsidade
como se fosse uma verdade ou devendo ser aceita em termos de verdade.

Podemos dividir de forma sumamente simples os sofisma em duas espécies.


Aqueles que sua falsidade é intrínseca, ou seja, lhe vem desde dentro e aqueles que sua
falsidade é extrínseca, ou seja, lhe vem desde fora.

Vejamos alguns sofismas intrínsecos


* sofismas de palavras:
O cão ladra
Ora, cão é uma constelação.
Logo uma constelação ladra.
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Aqui se dá o erro por um uso indistinto da palavra cão, quando corresponde na


verdade a duas realidades diferentes.

*sofisma de acidente ou generalização:


Esse remédio não faz efeito:
Logo, os remédios não servem para nada.
Aqui se generaliza algo que é particular.

Vejamos alguns sofismas extrínsecos:


*Argumento ad autoritatem
Você chegou atrasada no seu trabalho,
sou seu patrão
e você ficará meia hora depois do expediente.

*argumento ad hominem
O senhor fala que os católicos são pessoas de moral,
mas eu sei que o senhor abandonou sua mulher e filhos

Métodos da Filosofia

Experiência
A experiência nos vai proporcionar muitos dados interessantes para o estudo
filosófico, mas a experiência é mais própria das ciências experimentais que justamente vão
proporcionar, a partir de seus métodos conclusões que vão questionar ou certificar nossas
certezas filosóficas.

Indução: A indução é um raciocínio pelo qual o intelecto humano, de dados singulares


insuficientes, tira uma verdade universal.

Dedução: é o raciocínio pelo qual a partir de remissas certas, se infere uma conclusão
logicamente resultante delas. Esse é o meio ordinário pelo qual se desenvolve a ciência
filosófica.

O primeiro processo e de suma importância na Filosofia é o processo de abstração


pelo qual desmaterializamos a realidade à medida que avançamos no conhecimento dela
para chegar a um conceito ou idéia da mesma que goze de imaterialidade e universalidade.

Para conhecer bem o processo de abstração vamos nos reportar a alguns


conhecimentos da Antropologia filosófica. Dizia Aristóteles que nada está no intelecto que
antes não tenha passado pelos sentidos (nihil est in intellectu quod prius non fuerit in
sensibus).

O processo de conhecimento começa nos sentidos externos que são a visão, o tato, o
paladar, o olfato, a audição, entre outros possíveis. Estes sentidos - que tem seu órgão
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correspondente - sentem, percebem as sensações de cor, percepções tácteis, de gosto, de


odor e de som, respectivamente. Mas todas estas sensações que nos vêm pelos sentidos
externos não vêm unidas, pois cada um destes sentidos tem a tarefa de perceber o que lhe é
próprio, mas não os unifica.

Há, pois, um sentido interno que é o que unifica as sensações proporcionadas pelos
sentidos externos e que nos diz que o odor de rosa pertence àquele objeto que tem aquela
cor rósea, que ao tato proporciona uma sensação de maciez, etc.; este sentido interno se
chama sentido comum ou sensório comum.

As informações unificadas pelo sentido comum são armazenadas em “gavetas” ou


arquivos que nos permitem recordar aquelas sensações externas ainda que não estejamos
diante do objeto que as proporcionou, este sentido é a memória.
Podemos misturar recordações da memória, criando objetos que nunca vimos na
realidade, posso juntar o azul do céu ao conceito de rosa e imaginar uma rosa azul, este
sentido é a imaginação ou fantasia.

Um último sentido interno e mais superior é a cogitativa, ou estimativa nos animais


irracionais. Nos irracionais ela serve para julgar da apetência ou rejeição, da sua relação de
conveniência respeito ao ser que estima. No homem, a cogitativa serve para algo mais, para
culminar o processo de abstração, que foi iniciado de maneira muito tímida pelos sentido
externos e internos (notemos que eles já vão deixando a materialidade das coisas de lado no
seu processo de percepção), a cogitativa acaba por negar toda concreção ao objeto que está
sendo conhecido e assim termina um processo negativo, nega não somente a materialidade,
mas elimina a cor, o odor, a lembrança concreta, ou seja, do lugar e tempo onde se viu tal
objeto e somente deixa uma fagulha do objeto. A este fantasma do objeto o chamaremos de
espécie, ou fantasma, refere-se a o que está diante de nós e que buscamos conhecer.

A cogitativa proporciona assim o que chamamos de espécie expressa ou expressada,


a completa desmaterialização do ente que se busca conhecer, desligado de todas as suas
características sensíveis.

A partir de então partimos dos sentidos para a faculdade realmente intelectiva. Não
podemos negar que a cogitativa se aproxima muito da inteligência, pois ela é o sentido
interno mais alto e que mais se aproxima da inteligência. A inteligência ou razão ou mente
já não é um sentido, já não tem um órgão no qual resida, ainda que tenha como órgão de
atuação direto o cérebro, pois é a partir dele que os sentidos externos e internos coadunam
os resultados das percepções que tiveram. A espécie expressa vai imprimir-se na
inteligência que é uma luz.

Os medievais costumavam dividir em intelecto paciente e o intelecto agente;


contudo mais que dois intelectos ou duas partes do intelecto devemos compreender que são
duas formas de atuar do mesmo e único intelecto.

O intelecto paciente recebe aquela espécie expressa que se imprime nele tal qual
uma tábua de xilogravura molhada de tinta se imprime no papel quando é pressionada
contra ele. A inteligência que é luz e por isso se chama intelecto agente vai tomar aquilo
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que foi proporcionado pelos sentidos e vai assumi-lo como seu, afirmando que tal coisa é o
que é. Vai dar-lhe ma existência pensada. O mais importante é que essa luz proporciona
que aqueles dados sejam assumidos como o um conceito de algo real, pois recordemos que
o processo de conhecimento começou na realidade, pelos sentidos.

Nada e está no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos. Mas uma vez
passado pelos sentido eu posso me desvencilhar da realidade concreta para compreender a
essência ou âmago das coisas e compreender que são tal coisa, desligada de todas as suas
concreções materiais. De aí que o conceito ou idéia, que é o resultado ou conclusão do
processo intelectivo possua duas notas principais que são a imaterialidade e a
universalidade.

Pela imaterialidade vemos que o processo de abstração chegou ao seu término,


deixando de lado todas as concreções materiais, houve uma total desmaterialização do ente
e pela universalidade vemos que o conceito de tal coisa pode ser aplicado a todas as coisas
que lhe convém; isto é possível por sua imaterialidade já que ficamos somente com a
essência do ente conhecido.

Mas o processo de conhecimento não acaba no puro mundo da idéias ou essências


abstratas, todavia há o que chamamos de conversio ad phantasmatha, ou volta à realidade.
Uma vez tendo o conceito no intelecto, cada vez que pensamos em tal conceito o pensamos
de forma concreta e voltamos com ele à realidade, sabendo então que o conceito não é algo
irreal, mas corresponde à realidade que conhecemos. A existência ou ser o conceito é uma
existência meramente pensada. Mas não é uma invenção do homem, e sim término do
processo cognoscitivo que nos leva a conhecer a realidade e não ao outra coisa.

Estrutura do processo cognoscitivo

Para facilitar uma visão o processo pelos qual a partir dos sentidos se chega à
concepção de um entendimento da realidade, preparamos um simples esquema figurativo:
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Intelecto Agente
INTELECTO
RAZÃO OU MENTE conceito ou
idéia
IntelectoPaciente

espécie
impressa

espécie
expressa
Conver-
sio ad
phantas-
cogitativa matha

ou

volta à
realidade

SENTIDOS memória imagina-


INTERNOS çâo

sentido comum

tato visão
SENTIDOS
EXTERNOS paladar olfato audição

impressões sensíveis

REALIDADE
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O problema da verdade

Todos o homens buscam naturalmente conhecer. Isto foi escrito por Aristóteles no
começo da sua Metafísica. E logicamente não se busca conhecer qualquer coisa, mas a
verdade. O que o homem busca e tem sede ao fim das contas é da verdade. Esse é então o
objeto do nosso intelecto, o que ele busca conhecer. A filosofia tem essa vantagem de tocar
em algo que todo homem, pero mero fato de sê-lo, tem, o desejo da verdade. Verdade que
poder ser conhecida por todos, pois todos têm o instrumento necessário para buscar esse
objeto, todos tem o intelecto que é das faculdades da alma que configura o homem como
homem. Com efeito, o homem é animal racional, animal que pensa e pensa para alcançar a
verdade das coisas e a verdade sobre si mesmo.

Santo Agostinho completa dizendo que no inteiro do homem habita a verdade (in
interiore homine habitat veritas), assim a verdade não está longe do homem e ele pode, e
deve buscá-la. Entretanto nesse caminho há que se entender que se trata quando falamos da
verdade. Poderíamos dizer como muitos, que a verdade depende de cada um. Cada um tem
um óculos de uma cor que distorce as coisas de tal modo que a minha verdade pode não ser
a verdade de outra pessoa; mas assim a verdade estaria mais no âmbito da opinião, é o que
eu acho, não seria a verdade mas “minha verdade” com letra bem diminuta.

Pode alguém concluir que a verdade não existe, mas é um resultado sociológico
pela qual algumas pessoas que tem poder querem passar para os outros uma visão pessoal
do mundo, mas que não é universal.

Temos que dar uma resposta à pergunta sobre a verdade. Depois de conhecer o final
do processo de conhecimento podemos definir a verdade como a adequação do intelecto
com a realidade, ou seja, se o que eu penso está de acordo com o que é na realidade aí
existe a verdade. Veritas est adaequatio intellectus cum re.

Somente se admitimos que o homem pode conhecer a realidade e que o resultado de


seu processo cognoscitivo não é uma elucubração irreal ou um sonho da razão; e também
admitimos os princípios primordiais da filosofia como são o de não contradição e os outros,
que por sinal são evidentes, ou seja, não são passíveis de discussão, compreenderemos que
o homem pode conhecer a verdade, e deste modo a verdade não será minha verdade
pessoal, mas a correspondência de meu intelecto com a realidade, e a realidade é uma só,
assim toda e qualquer pessoa que buscar conhecer a realidade e chegar a conhecê-la de fato,
tem de chegar necessariamente a conclusões universais. Essas conclusões universais, não
há que entende-las como um consenso entre toda a humanidade que admita sua veracidade,
mas sim que qualquer pessoa com esforço e de boa vontade pode chegar às mesmas
conclusões e, mais ainda, pode prosseguir o processo racional seguido pelo outro,
reconhecendo nele uma lógica e correção interior, deduzindo assim a mesma conclusão.

Isto é fácil no conhecimento do singular e concreto. Cada vez que avançarmos no


nosso objeto se verá mais complexa a questão, mas sempre permanecerá o mesmo
princípio.
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Não devemos nos esquecer que não possuímos a verdade, mas a verdade acaba por
nos possuir e que como a filosofia é uma ciência radical que implica a existência, quando se
trata de verdades vivenciais em que a moral está implicada, a vontade negativa pode turvar
a razão para que ela não queira ver a realidade ou queira afirmar que ela não é como é.

Devemos ter grande honestidade até diante de nós mesmos, mas também diante dos
outros. A verdade é tal, ainda que nos doa ou doa aos outros, pois a realidade é um a só
para todos. Há que buscar conhece-la e atuar em conseqüência com nossa razão, pois o
homem é animal racional, justamente por ser racional é homem.

Noções de Metafísica

Depois de estudar brevemente os fundamentos da ciência propedêutica da Filosofia,


isto é a Lógica, e adentrar-nos no estudo do conhecimento humano pela Gnosiologia,
estamos em condições de iniciar o estudo do objeto da Filosofia, o ente.

De fato, a busca do conhecimento é sempre busca de conhecer aquilo que é, o ente.


Assim nosso próximo passo é estudar o que nos tratados clássicos se vem chamando de
Ontologia ou Metafísica. Ainda que estes dois nomes se usem como sinônimos, há uma
diferença entre eles.
A Ontologia é a ciência do ente, e assim estuda tudo aquilo que é, configura-se,
pois, como uma ciência teórica ou especulativa. A Ontologia, conforme dividem alguns
manuais abarcaria a Gnosiologia –ciência do conhecimento-, a Metafísica –ciência do ente-
e a Teodicéia –ciência da Causa última do ente- . Outros manuais apontam que a Ontologia
deixaria de fora a Gnosiologia, pois não trata diretamente um ente que é, mas o conhecer.
Assim poderíamos identificar a Ontologia com a Metafísica, ou seja, a ciência do que é.
Outros autores preferem resumir a Metafísica como a ciência do ente deixando sua
causa de fora. Deste modo a Teodicéia seria uma ciência a se.

Preferimos manter este último esquema ainda sem bitolar-nos nem nos deixarmos
prender absolutamente por ele. O importante será entender que Ontologia é a ciência do
ente, do que é. E Metafísica trata daquilo que é.

A explicação do termo metafísica tem originariamente o sentido de que Aristóteles


escreveu vários livros sobre a Física, o mundo material, e outros livros sobre o que vai mais
além do mundo material. Estes livros foram colocados após os livros da Física, sendo
chamados de Meta Ta Física, ou Metafísica. Desta origem se explica bem o sentido da
Metafísica, que é uma ciência que explica o que está por trás ou por embaixo da realidade
como seu substrato mais interno, e que normalmente não é percebido nem estudado pelas
ciências positivas, já que observam aquela realidade observável pelos sentidos e
experiência. Não é que o metafísico seja inexistente ou somente uma criação mental, ao
contrário, é o mais real e que está em toda a realidade.
Todas as ciências que estudam a realidade tomam os resultados da Metafísica como
seus pontos de partida, mas não discutem estes pontos de partida, pois esta discussão é
propriamente uma questão metafísica, ou seja filosófica, e seria estender-se muito, e ainda
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mais extrapolar seu terreno avançar nestas discussões. Mas necessariamente devem
explicita ou implicitamente recorrer uma e outra vez a esses pressupostos filosóficos.

Ser e Existir (Ato de ser e Existência)

Vamos entrar no estudo daquilo que é. Iniciaremos essa busca do saber para
conhecer o que é. Devemos nos lembrar que é um estudo teórico ou especulativo. É a parte
teórica da filosofia que vai tratar deste assunto.
Como aquele que estuda é estudante, e aquele que vive é vivente, aquele que é, é
ente. Tudo o que é, é ente. E aquilo que não é não é. Essas afirmações se baseiam no
principio de não contradição e são evidentes.
O que existe tem existência, ou seja, está aí (ex-stare). Assim todas as coisas que
são entes existem. Existe o homem, existe uma pedra, existe meu pensamento. E todos têm
uma mesma existência, é claro que se diferencia a existência do homem em relação à
existência do pensamento, pois a existência do homem é uma existência real, e a existência
do meu pensamento, por exemplo, o pensamento de uma rosa azul somente existe no meu
pensamento e não existe na realidade, mas tem existência, está aí.
Por isto podemos distinguir a existência do ser. Todos os entes têm existência, e
todos os entes têm ser, mas enquanto a existência diz referencia somente a estar ai, o ser diz
referencia ao nível de existência, por assim dizer, ou melhor, ao nível de perfeição com que
determinado ser existe. O homem tem mais ser que a pedra, pois existe com maior
perfeição que aquela, a pedra existe é, ou seja, tem ser com maior perfeição que o
pensamento da rosa azul, pois seu ser é próprio enquanto o ser da rosa azul somente é ser
pensado. Entre várias pedras algumas tem mais perfeição que outras, são mais belas, mais
fortes, de aí que podemos dizer que todas as pedras que existem, existem, (seguimos assim
o princípio de identidade), mas nem todas são da mesma forma, nem com a mesma
perfeição, umas tem mais perfeição que outras, ou seja, algumas são mais que outras, seu
ser é superior ou inferior umas às outras.
No nível da existência todas existem igualmente, no nível do ser há uma escala de
perfeições.

Forma e Matéria

O ente tem uma variabilidade imensa, pois tudo o que é, é ente. Mas há algo que
todos tem.
Todo ente tem forma, ou seja, tem algo que faz com que ele seja isto e não seja
outra coisa. Que é o que faz com que a cadeira seja cadeira e não seja mesa se as duas são
fabricada com o mesmo material? A resposta é a forma da mesa não é a forma da cadeira.
Não devemos, contudo entender o termo forma como se diz no sentido ordinário.
Aqui nos estamos movendo no âmbito filosófico e os termos haverá que entende-los nesse
contexto. Assim a forma não poderá ser confundida com o formato ou contorno; ainda que
sejam semelhantes. Não é ter o formato da cadeira que faz com que a cadeira seja cadeira,
pois duas cadeiras poderão ter os formatos muito diferentes uma da outra e, no entanto as
duas permanecerão sendo cadeira. Posso ter uma cadeira simples e uma cadeira barroca, e
as duas serão cadeira, posso ter uma cadeira com três pernas e outra com quatro, mas as
duas serão cadeira. Posso ter uma cadeira de madeira e outra de alumínio, mas as duas
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serão cadeira. Assim o que faz com que a cadeira seja cadeira e não seja outra coisa, isso é
a forma.
O principio de não contradição implica que a forma é tal ou qual, ou seja, enquanto
um ente é tal ente e não é destruído sua forma não muda, ainda que mude um pouco o seu
formato.
Vejamos o caso de um arbusto. Ainda que tenhamos um arbusto silvestre e depois
um hábil jardineiro venha poda-lo e fazer dele um arbusto em forma de triângulo
eqüilátero, ou de ursinho, continuaremos com um arbusto, pois mudou o formato, mas a
forma permanece a mesma. Outra coisa seria se chegasse não um jardineiro, mas um
lenhador e talasse o arbusto e fizesse dele lenha para a fogueira de São João, não teríamos
mais um arbusto, pois haveria perdido o que fazia ele ser um arbusto e não oura coisa, a sua
forma.
Normalmente a forma está unida à matéria (o substrato material do ente) que é a
sua parte sensível, observável pelos sentidos, que recebendo tal o qual forma configura tal o
qual ente. Vejamos de novo o caso da cadeira, da lenha e do arbusto. Basicamente a matéria
é a mesma, se excetuarmos as folhas do arbusto, a ainda e pregos da cadeira, todas têm o
mesmo substrato material que são aqueles átomos de carbono, hidrogênio, etc, que
configuram a madeira. Assim são indistintos, somente ao ter cada um sua forma própria que
faz com que seja tal coisa, tal ente, podemos distingui-las. O termo matéria se identifica
com o que normalmente chamamos matéria na linguagem ordinária, mas em algum caso
pode nos confundir. Vejamos o caso do vento, podemos imaginar que ele não tem matéria,
mas na prática o vento será o movimento do ar, e o ar é material, assim que o vento será o
ar em movimento: seu substrato material ou matéria será composto dos átomos que compõe
aquele ar, oxigênio, partículas de poeira, etc.

Não existe a matéria sozinha sem forma. O que é informe na linguagem ordinária
tem forma de informe, isso é uma abstração que era chamada na Idade Média de matéria
pura. Mas pode existir a forma sem matéria. É o caso de Deus, dos espíritos puros (os
anjos), da alma do homem, separada de seu corpo, e do conceito ou idéia, que é o resultado
do processo de abstração, que como vimos, desmaterializa o ente.

A forma, por ser o que realmente caracteriza o ente como tal ente é o co-princípio
principal do ente e também podemos chamá-la de forma substancial, pois é o que
substancializa o ente, ou seja, lhe faz subsistir. Quando falamos em forma substancial ou
simplesmente forma, pensamos –filosoficamente- em oposição à matéria, mas existe um
termo que pode ser tomado como sinônimo de forma e não tem a conotação de oposição à
matéria, na verdade nem toca a questão da existência de matéria ou não num determinado
ente.
É o termo essência ao qual nos estamos referindo. Essência na linguagem filosófica
tem muito a ver com a linguagem ordinária que tomou este termo filosófico e fez dele um
termo muito usado para designar a realidade mais interior das coisas, e é isto que de
verdade revela a essência, a essência é a forma, a realidade do ser que o configura como tal
ente e não outro.
Todos os ente obram ou operam de acordo com seu modo de ser, aí encontramos
outro sinônimo da palavra essência, pois ela é o modo de ser de tal ente. Como dizíamos a
cada ente opera de acordo com seu modo de ser, normalmente os gatos não voam e os
passarinhos não miam, mas ao contrário, cada ente opera de acordo com seu modo de ser
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próprio. De aí podemos dizer que cada ente opera de acordo com sua natureza; esta é a
essência em quanto principio de operações. Ou seja, essência e natureza são sinônimos, mas
natureza diz algo mais, diz referência direta à operatividade do ente. De novo temos que ter
cuidado do sentido ordinário das palavras. Natureza não é o verde das plantas nem as cores
do arco-íris, mas sim o modo de algo obrar, obrar de algo em conformidade com seu ser
mais íntimo. Assim a natureza de uma tesoura é cortar, ainda que ela seja algo artificial.

Ato e Potência

Devemos distinguir um pouco mais a realidade do ser. Quando estudamos algo o


estudamos porque queremos conhecê-lo, e queremos conhecê-lo porque é. Assim podemos
dizer que tudo o que é, é; e tudo o que não é não é, entre o ser e o não ser não há meio
termo.
Contudo sabemos que há coisas que poderiam ser e não são, mas com o concurso de
outras coisas podem chegar a sê-lo, por exemplo, um pedaço de madeira pode ser uma
bengala, mas faz falta que um marceneiro o alguém no estilo a trabalhe, um rapaz pode ser
professor, somente faz falta que estude e se diplome.
Assim a estas coisas que não são, mas podem sê-lo dizemos que estão em potência
de sê-lo. Não é que não existam, pois já existem sendo outra coisa: um pedaço de madeira
ou um simples rapaz. Assim a potência sempre se dá em algo que já existem anteriormente.
Em algo que já é, ou seja, que já é em ato. Podemos concluir que a potência se relaciona
com o ato. Ato é aquilo que já é e potencia a qualidade daquilo que pode ser, mas não é,
sem significar que não seja em absoluto, pois já é algo.

Podemos dizer que uma essência pensada pode estar em potência de existir de fato,
e colocada na existência por outro ato passa a existir de fato.
O marceneiro que pensa como vai fazer a bengala toma a madeira, que é matéria
com uma forma substancial própria, a forma de madeira, e lhe dá outra forma, a forma que
trazia na sua inteligência. Essa forma é a forma de bengala que passa a existir de fato, a
estar em ato na realidade.

Podemos tirar algumas conclusões:

a) Uma coisa não é perfeita enquanto não está em ato; agir e produzir alguma coisa, quer
dizer, realizar um ato; ora, não é possível dar o que não se tem.
b) O ser é ser na proporção em que está em ato: agir e produzir alguma coisa, quer dizer,
realizar um ato; ora, não é possível dar o que não se tem.
c) Todo ser capaz de transformação é composto de potência e ato: de ato, porque tem
presente um estado determinado; de potência, porque é suscetível de receber um outro
estado.
d) A potencia não pode passar de ato a não ser sob a ação de um ser em ato, porque o
menos não dá o mais; todo efeito tem uma causa proporcionada.

Substância e Acidentes

Tudo o que é existe, tem existência, assim podemos dizer que os seres existem, têm
sua existência, e subsistem, ou seja, não precisam de outro para existir no momento. Um
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pensamento, que é um ente de razão, pois somente existe na inteligência, mas não na
realidade se tiramos o indivíduo que o pensa, tiramos sua existência. No caso dos seres que
tem existência real não acontece isto, pois não precisam de um apoio tão forte e próximo,
pois tem sua existência em si mesmos, ou seja, subsistem, por isso a eles se dá o nome de
substancia (aquilo que existe por si m esmo e não por outro).

Quando falamos que a forma substancial é o co-principio principal da cada ente


quisemos dizer que justamente a forma substancial faz com que o ente subsiste como tal ou
qual ente. O que é substância existe por si mesmo. A substância é a realidade permanente
de cada ente, é o principal dele, pois faz com que seja tal ou qual.

Podemos dizer que várias cadeiras diferentes têm a mesma forma substancial ou a
mesma substância, pois todas são cadeira, mas podemos ver que eles são diferentes entre si
e não somente pela matéria que é própria de cada uma delas, mas pela cor, pelo peso, pela
textura, pela localização, etc.
Todas essas características dos entes que existem nele como atos e que poderiam
mudar sem que os entes deixassem de ser aqueles entes que são, os chamamos de acidentes.
E de novo temos que fazer um esforço para não confundir a linguagem cotidiana com a
linguagem filosófica. Acidente não é na filosofia um contratempo, e nem mesmo algo
acidental, que é assim, mas poderia ser totalmente diferente; é verdade que alguns acidentes
são assim, mas outros estão muito mais unidos à substancia do que pode fazer-nos crer esta
terminologia.
Diz-se que os acidentes também são formas, mas formas acidentais, assim fazem
parte em certo sentido da forma substância, pois nela subsistem, mas não são a substância
nem mesmo a forma substancial. Por outro lado não são a matéria, ficam por assim dizer do
lado oposto, ou seja, como já repetimos, do lado da forma.
Os acidente se caracterizam por não ser em si mesmo, mas ser em outro. São
atribuídos à substancia como o predicado é atribuído ao sujeito.

Há nove acidentes recolhidos por Aristóteles em sua famosa Metafísica:

Algo é branco, preto, feliz, alegre, etc. qualidade


Algo é grande, pesado, etc. quantidade
Algo está próximo, afastado, é pai de, é filho relação
de, etc
Algo bate, fala, nada, etc. ação
Algo apanha, ouve, se molha, etc. paixão
Algo está em Recife, na Boa Vista, nesta lugar
sala, sobre a cadeira, etc.
Algo está em pé, deitado, sentado, etc. situação ou posição
Algo foi construído em 1990, estou no mês tempo
de junho, etc.
Algo está vestido, armado, molhado, etc. hábito
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Esses nove acidentes com a substância fazendo um grupo de dez, são os chamados
dez categorias ou predicamentos. Categorias porque são formas de categorizar a realidade e
predicamentos porque são formas de predicar das coisas reais suas características.

Antes pudemos dizer que há coisas que estão em potência e por isso mesmo podem
chegar a estar em ato. Mas somente chegam ao ato se houver algo que as impulsione a tal.
Nada surge ao acaso absoluto, nem do nada, se não houver uma força que o tire do
nada ou que o faça vir de algo que já é. Assim o que dá origem a algo, ou seja, aquilo de
qual alguma coisa procede é chamado de princípio, alguns princípios são causas, ou seja,
aquilo de que uma coisa depende quanto a sua existência. O efeito é o produto da ação
causal.

A análise da causa revela três elementos ou condições.

a) A causa deve ser realmente distinta de seu efeito.


b) Causalidade não se confunde com atividade: agir não é necessariamente causar ou
produzir.
c) O efeito deve depender realmente da causa, pois é por uma causa que é produzido.

Causa condição e ocasião.

São diferentes as três: a condição é o que permite que a causa produza seu efeito,
seja como instrumento ou como meio o arco é para o violinista a condição da melodia que
vai tocar, seja afastando os obstáculos ( o pianista deve afinar o seu piano se quer tocar
bem).
A ocasião é uma circunstância acidental, que cria condições favoráveis para a ação
(o bom tempo é condição favorável para um passeio). Nem a condição mais favorável nem
a condição sine qua non podem ser confundidas com a causa propriamente dita.

Os quatro tipos de causa

Há quatro tipos de causa: eficiente, material, formal e final. São elas as quatro
maneiras em que algo pode contribuir para produzir alguma coisa.

Causa eficiente é aquela que, pro sua ação física, produz o efeito. O escultor é causa da
estátua, como estátua. Poder ser principal ou instrumental, essencial ou acidental, primeira
ou segunda, física ou moral.

A causa eficiente principal age por usa própria força (o escultor); a instrumental a
serviço da principal (o cinzel e o martelo do escultor).
A causa essencial produz aquilo para qual existe (a operação que cura o doente), a
acidental produz um efeito aleatório (a operação que mata um doente).
A causa primeira é o principio primeiro. A causa secundária age por intermédio de
outra causa.
A causa física determina por influxo fisco. A moral determina apenas moralmente.
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Causa material é a matéria de que uma coisa é feita, que dizer, o que concorre para a
constituição de um composto como sua parte intrínseca determinável. Num composto a
matéria é o principio determinável, o que se determina, enquanto a forma é o princípio
determinante, que determina.

Causa formal é sinônimo de forma, uma vez que a forma é aquilo que concorre para a
constituição de um composto como parte intrínseca determinante e especificadora. É assim
que a alma humana, se acrescendo ao corpo faz dele um ser humano.

Causa final é aquilo porque o efeito é produzido. É o termino da ação, na ordem da sua
execução e é o principio da ação na ordem da intenção. O que se move para obrar se move
por algo e é isso o que chamamos de causa final.

Sujeito subsistente

Chamamos sujeito subsistente ou suppositum aos entes concretos com todas as suas
perfeições ou características, ou seja, o ente concreto, não a essência abstrata. Designamos
então como ente a tudo o que tem ser, a matéria e a forma, a substancia e os acidentes, etc.,
mas em sentido principal e próprio ente é o sujeito subsistente, ou seja, o que subsiste, o
que existe em si mesmo de um modo completo e distinto de qualquer outra realidade.

O sujeito subsistente que poderíamos definir como “um todo individual que subsiste
num único ato de ser e que é incomunicável”, tem algumas propriedades que devemos
estudar agora.

a) Individualidade: pois somente existem os entes singulares, não existem na realidade


entes universais.
b) Subsistência: não subsiste tudo o que é individual, por exemplo, os acidentes;
somente subiste a substancia individual que chamamos indivíduo.
c) Incomunicabilidade: é resultado das duas características anteriores. Não pode ser
participado por outros. Já uma forma acidental sim o pode, por exemplo, o azul,
pode ser de vários seres, mas este indivíduo somente pode ser dele mesmo.

A Pessoa

Quando temos um sujeito subsistente que é de natureza racional, a este chamamos


pessoa.
Santo Tomás toma a definição de Severino Boécio e diz que a pessoa é substancia
individual de natureza racional. Justamente este suppositum (ou hipóstasis no grego) que
goza, portanto de individualidade, subsistência e incomunicabilidade é o que configura a
pessoa quando há uma racionalidade neste suppositum.
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A pessoa designa toda a realidade que subsiste, enquanto a palavra essência ou


natureza aponta para o que há de comum com outros seres da mesma espécie, mas concreto
é verdadeiramente o suppositum ou hipostasis, enfim, a pessoa.

Porque uma metafísica aristotélico-tomista.

Podemos inquirir porque nos dedicamos a estudar uma metafísica aristotélico-


tomista e não outra qualquer.
A resposta é sumamente simples. Primeiramente por sua característica mais inerente
que é o realismo moderado. Este realismo nos proporciona aproximar-nos das coisas
sabendo que existem, e que são algo de certo modo estável, e assim nos dá a confiança de
buscar um conhecimento que seja real, baseado na realidade e não uma criação ou quimera
da inteligência humana.
Também pelo caminho cognoscitivo desta metafísica que vê o conhecimento
humano como aquela capaz de alcançar a verdade das coisas porque elas têm uma verdade
em si mesmas.
Ainda é uma metafísica que não se fecha à transcendência, mas está aberta a, como
o conhecimento, buscar horizontes cada vez mais amplos.

Logo, não podemos ignorar que a Teologia tem em seus mestres mais exímios o
Aquinate, e seu estilo de fazer teologia é o que guia de certa maneira a teologia clássica até
hoje, de tal modo que a Teologia católica se expressa - ainda que não se resuma - em
termos desta forma de pensamento, pois vê no realismo a forma mais natural de olhar para
a realidade.

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