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FORTALEZA
2018
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………………2
2 O FILME………..………………………….…………………………………………2
3 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS……………………………………………………..4
4 OUTRAS HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS……………..…………………..………6
4.1. TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA…….8
4.2 TRANSTORNO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL (PRAGMÁTICA).…………7
5 SISTEMAS CLASSIFICATÓRIOS E A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO..8
6 VISÃO ANALÍTICA COMPORTAMENTAL DO TEA – ANÁLISES
FUNCIONAIS……………….………………………………………………………….9
7 INTERVENÇÕES……………………………………………………………….….13
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….15
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………….16
2
1 INTRODUÇÃO
2 O FILME
O Jogo da Imitação (2014) é um filme conta a história de Alan Turing, matemático
que, no período da Segunda Guerra Mundial, fez parte de uma equipe selecionada por
autoridades britânicas para decifrar as mensagens passadas pela Enigma, a máquina de
criptografia utilizada pelo exército alemão.
O filme apresenta três momentos da vida de Alan Turing: sua adolescência, o período
que viveu da Segunda Guerra e alguns anos pós-guerra. Nas três fases retratadas, é possível
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notar uma grande dificuldade que Turing tem no trato social. Em um diálogo inicial com o
comandante Denniston, fica claro que ele apresenta certo desdém por autoridades e por outras
pessoas que considera intelectualmente inferiores a ele. Além disso, é alguém de difícil
convivência por ser arrogante, introvertido e por não entender ironias e piadas, visto que
compreende tudo em seu sentido estritamente literal.
Em determinado momento do filme, Turing busca a autorização de Winston
Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido da época, para ser nomeado líder da equipe de
decodificação. Apesar de almejar a posição, ele não parece interessado em causas
humanitárias ou patrióticas e sim no desafio matemático a ser cumprido de acordo com suas
regras.
Por sua nova posição, a relação do protagonista com seus colegas de trabalho, que já
era difícil, piora e, ao longo de boa parte do longa-metragem, é marcada por muitos conflitos
devido à falta de compreensão na comunicação entre ambos os lados e à inflexibilidade de
Turing quanto aos afazeres de todos. Ainda, nas cenas de flashbacks de sua adolescência, é
possível notar que a dificuldade de relacionamento é algo antigo na vida dele, que sempre foi
considerado "diferente" pelos outros alunos da escola em que estudava, sofrendo bastante
bullying.
Contudo, nem todas as pessoas eram distanciadas por Alan Turing. Quando jovem,
recebeu bastante apoio de um colega de turma que se tornou um bom amigo e o grande amor
de sua vida, Christopher Morcom. Quando mais velho, ao fazer uma seleção de novas
pessoas que fariam parte do Projeto Enigma, conheceu Joan Clarke, que tornou-se uma
importante amiga, por quem apresentava muito afeto, ainda que de um jeito diferente do
convencional.
Joan Clarke foi uma pessoa fundamental para que Turing conseguisse se aproximar
dos outros membros da equipe, ensinando-o algumas maneiras de interagir com outras
pessoas em um grupo. Assim, ele logo conquista a amizade dessas pessoas que o cercam, que
passam a entender melhor a sua forma diferente de agir com os outros ao seu redor, bem
como a valorizar os seus pequenos esforços de aproximação. Essa melhoria na relação de
todos contribui para um melhor trabalho em equipe. Após muitos acontecimentos, Alan
consegue, por fim, quebrar o Enigma, ao desenvolver uma máquina para decodificar o
código.
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Apesar de ter salvado tantas vidas, ele não conseguiu salvar a si mesmo. Por ser
homossexual numa época em que isso era considerado crime, foi apartado da sociedade,
sendo condenado por "indecência" e submetido à castração química. Num estado profundo de
depressão, Alan Turing cometeu suicídio, pouco antes de completar seus 42 anos de idade.
3 HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS
apenas informando que iam almoçar: mais uma cena que mostra a dificuldade de Alan Turing
com a comunicação social.
Com relação ao critério B, Turing apresenta um interesse restrito e repetitivo por
resolver problemas e decifrar códigos, afirmando em sua reunião com Denniston que gosta de
resolver problemas, que passa grande parte do seu tempo respondendo palavras cruzadas, por
exemplo, e que estava lá porque a Enigma era o problema mais difícil do mundo.
Quanto ao critério C, a infância de Turing não aparece, mas, quando adolescente, ele
já apresenta sintomas característicos de TEA e chega a comentar com Christopher que sua
mãe sempre o considerou um "patinho feio", para dizer que ele só era deslocado, porque era
mais especial que os outros e não sabia.
No que concerne ao D, Alan Turing sofria bastante em várias áreas da vida, inclusive
em seu trabalho no grupo de decodificação da Enigma. Apesar de ser extremamente
competente para o trabalho ao qual foi designado, sofreu bastante preconceito, sendo,
inclusive, acusado de traição, apenas por apresentar comportamentos atípicos. Há uma cena,
no filme, em que Denniston e alguns soldados aparecem revistando as coisas de Turing,
afirmando que ele é um agente duplo, por ser "arrogante e ter problema em suas relações
pessoais".
Ainda, em relação a E, as perturbações não são melhor explicadas por outros
transtornos como de transtorno do desenvolvimento intelectual, visto que ele não apresentava
nenhum problema de raciocínio, solução de problemas, aprendizagem ou déficit intelectual.
Também não é explicado pelo atraso global do desenvolvimento, já que não apresenta de
forma alguma um vocabulário reduzido, frases limitadas, discurso prejudicado ou
capacidades linguísticas abaixo do esperado para sua idade (DSM, 2014).
Dessa forma, o personagem apresenta apenas três dos oito sintomas e não quatro (ou
mais), necessários para que possa ser diagnosticado com TPOC, e, por isso, essa hipótese
diagnóstica pode ser descartada em nossa análise.
(B). Ainda que a infância de Alan não apareça, como foi mencionado antes, há uma cena do
filme em que ele relata a visão de sua mãe, que desde sempre o via como um garoto
"diferente", o que pode se aproximar do critério C. Contudo, é pelo critério D que essa
hipótese diagnóstica é descartada: os sintomas de Alan, que vão além desses, são melhor
explicados pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA).
seu período escolar, por exemplo, ele sofria bullying pelos seus colegas e, na presença deles,
também respondia isolando-se, o que evitava os aversivos de ser trancado e sufocado, de
apanhar, ser motivo de chacota etc.
Para este trabalho, por questões didáticas, vamos realizar o recorte (dentro da classe
mais ampla de respostas de isolar-se socialmente) da resposta de isolar-se no trabalho, na
qual o filme dá mais enfoque e traz informações mais detalhadas. Assim, é possível perceber,
em algumas cenas, o quanto a presença de terceiros afeta o trabalho desenvolvido por Alan.
Um exemplo claro disso é quando os soldados chegam no seu escritório revirando e
bagunçando todos os seus pertences, estudos e escritos desenvolvidos; o que é muito
aversivo, ou quando os mesmos soldados entram no local onde a máquina está sendo
desenvolvida e a desligam, antes que ela termine de processar as informações; outro exemplo
é o de quando seus colegas de trabalho voltam-se a ele gritando que a culpa era dele por não
estarem progredindo no andamento do desvendamento da Enigma e tentam atirar objetos para
destruir a sua máquina. Isso tudo é operação motivadora (estimulação aversiva) para a sua
resposta de isolar-se das pessoas, enquanto trabalha.
Dado esse contexto, na presença de companheiros de trabalho ou soldados,
principalmente quando dão opiniões sobre o que ele está fazendo; ele se isola e, como
consequência, pode organizar e encaminhar melhor o seu trabalho, sem empecilhos, o que
provavelmente mantém esse comportamento, como pode ser observado na Tabela 1.
Tabela 2. Análise funcional da classe de respostas "dizer que os amigos não são
inteligentes"
A outra classe de respostas que será analisada está dentro da classe mais ampla de
engajar-se em atividades de interesse restrito, que também é característica do TEA e
apresenta uma problemática para a vida do sujeito a partir do momento em que ele se priva de
outros reforçadores ao evitar outras atividades. Assim, o recorte que fizemos concentra-se a
resposta de “trabalhar compulsivamente no Projeto Enigma”, e o filme deixa muito claro que
Turing passa todo o seu dia se dedicando à construção da sua máquina, não se
desconcentrando do seu objetivo.
Dessa forma, vale ressaltar que o contexto em que se passa o filme e o motivo de se
desvendar o mistério da máquina é a Segunda Guerra Mundial e todas as mortes, atrocidades
e perdas que esse momento histórico carrega, ou seja, uma estimulação extremamente
aversiva que poderia funcionar como uma operação motivadora desse comportamento. Nesse
sentido, o grande problema, considerado impossível por outras pessoas, poderia ter a função
de estímulo discriminativo para a resposta trabalhar restritamente na resolução da Enigma e,
como consequência, ser reforçado pela própria resolução do problema (reforço natural), bem
como pelo término mais cedo da guerra, retirando a estimulação aversiva de contexto.
(Tabela 3)
7 INTERVENÇÕES
Os autores Lord e Rutter (2002) apontam que toda intervenção nesse âmbito deve se
pautar em alvos básicos incluindo o desenvolvimento social e comunicativo, o
aprimoramento do aprendizado e de capacidades de resolução de problemas, com foco na
ampliação das experiências no cotidiano. Nesse sentido um dos métodos terapêuticos mais
indicados em casos de TEA, é a Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior
Analisys – ABA) , que funciona definindo operacionalmente os déficits e excessos
comportamentais dos indivíduos e construindo um plano terapêutico, que é testado na prática.
Assim, possíveis reforçadores (arbitrários) são contingenciados às respostas desejáveis e
retirados nas indesejáveis (punição negativa). (SILVA, 2005)
Outra técnica que poderia ser empregada é o Treino de Habilidades Sociais (THS),
compreendendo as etapas de avaliação e intervenção, visando identificar os déficits e
excessos comportamentais, suas consequências e contextos em que ocorrem e respostas
emocionais concomitantes que expliquem a não emissão de comportamentos socialmente
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habilidosos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999; FALCONE, 2002). Para a instalação
desses novos comportamentos, utiliza-se estratégias como instruções, ensaios
comportamentais, modelação, modelagem, feedback verbal e em vídeo, tarefas de casa,
solução de problemas, relaxamento (CABALLO, 2003; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999)
e, em caso de intervenções grupais, vivências (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001c, 2001d).
Essas intervenções poderiam mostrar-se interessantes à medida que colaborassem para
uma melhora na qualidade de vida do indivíduo em questão, proporcionando um melhor
envolvimento social em diversas áreas de sua vida, como, por exemplo, a profissional e a
afetiva, que foram mais fortemente abordadas no filme e pareciam ser contextos de
sofrimento para Turing em alguns momentos, por não apresentar comportamentos tão
desejáveis a esses ambientes.
Assim, ao aprender a relacionar-se melhor com as pessoas, bem como ao entrar em
contato com novas contingências e, assim, novos reforçadores, Turing pode se ver saindo de
uma situação de isolamento e de restrição e repetição dos mesmos padrões comportamentais,
ampliando, assim, o seu repertório individual de relação com o mundo, e apresentando
comportamentos mais adaptativos ao meio. Isso pode ajudar reduzindo o seu sofrimento e das
pessoas ao seu redor, que poderão compreendê-lo melhor e prestar suporte e apoio,
mutuamente.
Algo parecido acontece no filme, quando Joan o ensina algumas maneiras de agir com
as pessoas. Ela diz a Alan que ele deve ser amigável e mostra operacionalmente como ele
pode fazer isso, para que assim, gostem dele. Ele apresenta tentativas de mudança e de maior
contato social com os colegas de trabalho, que percebem esses comportamentos de forma
bem positiva e todos passam relacionar-se de maneira saudável e respeitosa, o que mostra que
o desenvolvimento dessas habilidades é extremamente benéfico para Turing e para as pessoas
com quem se relaciona em diversos contextos.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, este trabalho foi bastante importante por possibilitar reflexões a respeito da
visão diagnóstica médica dos transtornos mentais e da visão analítica-comportamental, que
apesar de não negar fatores biológicos, tem como foco a análise dos fatores ambientais de
modo preponderante na determinação de comportamentos tidos como desadaptados
socialmente. Assim, a análise do comportamento não entende nenhum comportamento como
"anormal" ou "psicopatológico", visto que todos são selecionados por contingências, sendo
adaptados às mesmas (BANACO; ZAMIGNANI; MEYER, 2010, p. 175-191).
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Álvaro Cabral; NETO, Francisco Lotufo. A nova classificação americana para os
transtornos mentais–o DSM-5. Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva,
v. 16, n. 1, 2014.
DEL PRETTE, Zilda AP; DEL PRETTE, Almir. Psicologia das habilidades sociais: terapia
e educação. Vozes, 1999.
DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira; PRETTE, DEL. Almir. Psicologia das relações
interpessoais: vivência para o trabalho em grupo. Petropolis, RJ. Vozes, 2001.
GOULART, Paulo; DE ASSIS, Grauben José Alves. Estudos sobre autismo em análise do
comportamento: aspectos metodológicos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental
e Cognitiva, v. 4, n. 2, 2002.
Lord C, Rutter M. Autism and pervasive developmental disorders. In: Rutter M, Taylor E,
Hersov L. Child and adolescent psychiatry: modern approaches. 4rd ed. Oxford, UK:
Blackwell Publishing; 2002. p. 569-93.