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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

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Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano

Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano

Wander Pereira

Publicado em 05/2014. Elaborado em 05/2014.

O  presente  artigo  procurou  analisar  e  discutir,  do  ponto  de  vista  epistemológico,  a  Criminologia
Crítica, sob um viés marxiano, como instrumento de investigação do crime.

Introdução

No campo da Filosofia da História do Direito almejando traçar caminhos teórico­filosóficos para estabelecer uma análise pautada em
uma  vertente  teórica  marxiana  que  surgiu  no  âmbito  do  Direito,  a  “Criminologia  Crítica”[1]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn1)  , este artigo tem o objetivo de
entender: Quais as características dos comportamentos criminalizados?  Quem são os sujeitos e criminalizados pela sociedade? E,
finalmente, qual a razão do fracasso histórico do sistema penal brasileiro em conter a criminalidade? A hipótese aqui levantada é a de
que, o entendimento das causas desses problemas não podem ser encontrados sem que se considere a filosofia como campo do saber
capaz  de  nos  auxiliar  na  compreensão  dessas  questões,  e  mais  especificamente,  o  legado  filosófico  de  Karl  Marx.  Isso  porque,  a
filosofia  é  a  área  do  saber  que  analisa  os  problemas  humanos  em  sua  totalidade  e  não  apenas  em  seus  aspectos  particulares,  por
conseguinte é ela que fornece amparo teórico para compreender, em todos os seus aspectos, o fenômeno da criminalidade.

A Criminologia é um campo do saber jurídico cuja atuação se desenvolve de maneira multidisciplinar, já que ela se utiliza de várias
epistemologias  como  a  ética,  a  filosofia,  a  história,  o  próprio  direito  e  as  escolas  sociológicas[2]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn2)  para  sua  fundamentação  e,
por  conseguinte,  para  a  análise  do  aumento  da  incidência  dos  crimes.  É  um  ramo  de  investigação  que  visa  desvendar  o  crime
problematizando­o, estudando sua origem no conflito social que é onde se relacionam os elementos subjetivos como autor, vítima,
testemunhas, instigadores, auxiliadores, etc.

Para  se  entender  o  processo  de  instituição  do  que  é  o  crime  e  das  políticas  criminais  recorreremos,  a  corrente  denominada
Criminologia Crítica e, a partir dos preceitos de Marx, buscaremos evidenciar a relação dialética existente entre o modo de produção
da vida material e o modo de pensar dos homens no sistema capitalista. Importante ressaltar, que o filósofo alemão discorrera em seu
Prefácio para a crítica da economia política (1849), sobre esta interrelação infra­superestrutural nos seguintes termos:

na  produção  social  da  própria  vida,  os  homens  contraem  relações  determinadas,  necessárias  e
independentes  de  sua  vontade,  relações  de  produção  estas  que  correspondem  a  uma  etapa
determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações
de  produção  forma  a  estrutura  econômica  da  sociedade,  a  base  real  sobre  a  qual  levanta  uma
superestrutura  jurídica  e  política,  e  à  qual  correspondem  formas  sociais  determinadas  de
consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social,
político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é
o seu ser social que determina sua consciência. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as
forças  produtivas  materiais  da  sociedade  entram  em  contradição  com  as  relações  de  produção
existentes ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade
dentro das quais aquelas até então se tinham movido (MARX, 1987, pp. 29­30).

Em termos marxianos, isso implica dizer que os problemas investigados pela criminologia têm sua gênese na base material e não na
superestrutura capitalista, na superestrutura jurídico­política, por isso o filósofo alemão afirma:

relações jurídicas, tais como forma de estado, não podem ser compreendidas nem a partir de si
mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo
contrário, elas se enraízam nas relações materiais de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel
sob o nome de ‘sociedade civil’ (bürgerleeche Geselleschaft), seguindo os ingleses e franceses do
século  XVIII;  mas  que  a  anatomia  da  sociedade  burguesa  (bürgerleeche  Geselleschaft)[3]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn3)
deve ser procurada na Economia Política (MARX, 1987, p. 29).

Como  se  vê,  estabelecer  a  análise  com  fulcro  na  filosofia  e  de  maneira  orientada  pela  vertente  da  criminologia  crítica  exigirá  a
consideração da relação dialética entre os problemas gerados pelo modo como os homens estabelecem suas relações na produção da
vida material, ou seja, pela vida social real e os problemas políticos, jurídicos e espirituais.

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

Acreditamos que a utilização do método dialético do materialismo histórico será capaz de nos fazer entender o modus operandi das
instituições jurídicas e políticas do Estado capitalista e, em especial, a criação da lei penal e o funcionamento do sistema de justiça
criminal. Daí o motivo de utilizarmo­nos do método marxiano, que é fundado a partir do princípio da contradição de objetos sociais e
no  conflito  antagônico  da  relação  capital/trabalho  assalariado  das  formações  sociais  capitalistas.  Tal  metodologia  servirá  como
instrumento de investigação dos mecanismos de controle social do Estado, estabelecidos pelo sistema legal e efetivados pelos sistemas
de repressão judicial, administrativo e policial.

Valendo­se desse princípio metodológico pode­se comprovar a existência de uma natureza seletiva do sistema de justiça criminal,
visto que, percebe­se uma seletividade da lei penal voltada para a proteção dos interesses das classes dominantes, e a atuação da
justiça penal se concentra na repressão das classes marginalizadas do processo laboral, reforçando a unidade interna entre o modo de
produção e as relações políticas de poder do Estado e as formas jurídicas.

É  precisamente  isso  que  se  pretende  demonstrar,  ou  seja,  a  importância  da  análise  crítica  do  problema  da  criminalidade  e  a
ineficácia das políticas criminais. Isso será possível mediante a investigação das causas da criminalidade que, ao nosso ver tem a sua
origem  nas  relações  sociais  de  produção,  apontar  perspectivas  de  revisão/reformulação  do  sistema  penal  brasileiro,  com  vistas  a
diminuição do índice de criminalidade e por consequência os problemas sociais e políticos oriundos desse fenômeno, tais como a
superpopulação carcerária, os homicídios, entre outros.

Nisso  residiu  a  importância  desta  pesquisa,  que  uma  vez  empreendida,  poderá  servir  de  fundamento  para  outros  estudos  com
temáticas  sobre  a  criminalidade  e    segurança  pública,  no  âmbito  da  Criminologia  Crítica.  Soma­se  a  isso,  a  possibilidade  de
contribuir  com  uma  nova  forma  de  análise  dos  problemas  sobre  os  quais  se  debruçam  essa  vertente  jurídica,  já  que  os  estudos
empreendidos a partir da filosofia podem apontar que esses fenômenos sociais não podem ser investigados apenas pelos seus efeitos,
mas especialmente, a partir de suas causas e princípios constitutivos.

A  Criminologia  Crítica  se  diferencia  da  criminologia  tradicional,  porque  esta  última  realiza  propostas  e  indicações  técnicas  de
mudanças normativas da legislação penal com fundamento em disfunções identificadas por critérios de eficiência ou efetividade do
controle do crime e da criminalidade, ou seja, ela analise esses fenômenos jurídico­sociais tomando por base os seus efeitos e não suas
causas. Nessa perspectiva, a filosofia pode apontar os princípios e fundamentos geradores dos fenômenos tratados por esse campo do
saber jurídico criminal e contribuir com uma análise rigorosa e sistematizada desses problemas na seara do Direito e especialmente
na supracitada corrente teórica, colaborando para o entendimento de suas causas, que uma vez detectadas poderão ser minimizadas e
contribuir com a diminuição do genocídio social advindo do atual sistema penal brasileiro, forjado na relação infra­superestrutural,
e, por isso, instituído com a finalidade de manter uma ordem social opressiva e desigual.

A criminalidade e a segurança pública têm mobilizado a opinião pública, por afetar toda a população brasileira independentemente
de  classe,  religião,  etnia,  sexo,  estado  civil  e  cultura.  Assim,  torna­se  premente  conhecer,  a  partir  de  fundamentos  filosóficos,  o
fenômeno da criminalidade; e compreender as questões que envolvem esse problema generalizado. Assim, para analisar o crime na
sociedade contemporânea é necessária uma investigação sistemática, aprofundada e rigorosa tendo vertentes teóricas a filosofia da
historia do direito, a criminologia crítica e o legado marxiano.

A Filosofia e a Criminologia

Para  realizar  a  interface  entre  a  Criminologia[4]


(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn4)  e  a  Filosofia  devemos
conhecer a divisão e classificação didática da Criminologia, que inicialmente foi chamada de Clássica ou tradicional quando a partir
de seus estudos creditou ao indivíduo o livre arbítrio, e com isso este passou a ser responsável pelos seus atos. Era um método abstrato­
filosófico  (pois  o  contratualismo  é  uma  realidade  histórica),  definia  o  crime  como  um  fato  jurídico  (violação  de  um  direito);
destacando que o criminoso possuía livre arbítrio. Tal entendimento era pautado por alguns princípios, entre eles, o da legitimidade
do  Estado  que  é  o  detentor  do  poder  para  reprimir  a  criminalidade,  também  enfatizou  os  princípios  do  bem  e  do  mal,  (o
comportamento  delituoso  representa  o  mal,  a  sociedade,  o  bem);  da  culpabilidade  (o  fato  punível  é  a  expressão  de  uma  atitude
interior do sujeito); da prevenção, (a pena não só tem a função de “retribuir”, mas também de “prevenir” o crime, tendo por principio
a igualdade por meio da qual a realidade penal se aplica de igual maneira a todos os autores de delitos; do interesse social, (que é o
principio  do  ordenamento  penal  que  protege  os  interesses  comuns  a  todos).  Posteriormente,  surgiria,  juntamente  com  a  Escola
Positiva  Italiana,  a  Criminologia  Científica,  e  com  ela  o  crime    passou  a  ser  objeto  de  investigação  científica.  O  Positivismo  é
considerado a primeira escola de Criminologia propriamente dita. Com a Revolução Industrial no século XIX, o desenvolvimento do
capitalismo e das ciências naturais, bem como o aumento da criminalidade, nasce o estudo científico do crime e, principalmente, do
criminoso.

A antropologia de Cesare Lombroso (1835­1909) afirmou a existência do criminoso nato como sendo um ser inferior, atávico, que não
evoluiu, com características iguais a uma criança ou a um louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores.
Sendo  assim,  desenvolveu  a  teoria  do  “criminoso  nato”,  segundo  a  qual  uma  parte  dos  criminosos  já  nascia  com  uma  espécie  de
disfunção  patológica  que  o  levaria,  invariavelmente,  à  prática  do  crime.  Para  ele  tal  disfunção  se  exteriorizava  na  aparência  e  no
comportamento do sujeito.

Temos também a sociologia criminal de Enrico Ferri (1856­1929), conhecido com pai da moderna sociologia criminal. Para ele o
delito é resultante de diversos fatores: individuais, físicos e sociais. Esse autor entende a criminalidade como fenômeno social. Outro
registro  importante  para  a  criminologia  foi  o  positivismo  moderado  de  Rafael  Garófalo  (1852­1934),  que  apesar  de  discordar  de
Lombroso em alguns pontos, reconheceu o significado e a relevância de determinados dados anatômicos. Para ele, o criminoso possui
um déficit na esfera moral da personalidade, transmissível de forma hereditária e com conotações degenerativas.

Outra teoria que merece destaque na criminologia foi intitulada Teoria da Anomia, elaborada com base nos estudos dos autores Emilé
Durkheim  (1858­1917)  e  Robert  king  Merton  ([1910]­2003),  essa  vertente  enfatiza  que  o  desvio  é  um  fenômeno  normal  de  toda
estrutura  social.  E  somente  quando  são  ultrapassados  determinados  limites,  o  fenômeno  do  desvio  se  torna  patológico.  A
desproporção que pode existir entre os fins culturalmente reconhecidos como válidos e os meios, á disposição dos indivíduos para
alcançá­los, está na origem do comportamento desviante.

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

A criminologia se apresenta diante do universo científico como uma ciência do ser, nesse sentido, não pratica a lógica dedutiva formal
do dever ser, em que o resultado é simples somatório de alguns ou múltiplos fatores. Aos estudos iniciais de Garófalo, Lombroso e
Ferri, sobre o crime e o comportamento criminoso, foram acrescidos os ensinamentos de Durkheim sobre a normalidade do crime. Da
“Escola  de  Chicago”[5]  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn5)  com
suas teorias ecológicas do crime e da criminalidade, vieram a noção de controle social e algumas propostas de intervenção como a
“tolerância  zero”.  Edgar  Morin  (1921­)  com  sua  teoria  dos  sistemas  complexos,  amenizou  a  polêmica  entre  os  defensores  do  livre
arbítrio  e  os  deterministas.  Com  os  estudos  do  advogado  israelense  Benjamim  Mendelson,  por  volta  de  1945,  a  vítima  passou  a
merecer maior atenção dos estudiosos do crime, desmitificando a ideia clássica de que o problema do crime se resumia a uma luta
juridicamente balizada entre o Estado e o particular.

Para realizar o estudo da criminalidade atual e tecer uma análise marxiana do aumento aparente do crime, necessário se faz perceber
que o homem conhece a história e é capaz de defini­la na parte e no todo, visualizando a participação do particular no universal na
tessitura  da  história,  sem  que  necessariamente  precise  ir  de  encontro  às  filosóficas  perspectivas  éticas  da  contemporaneidade.  A
citada  teoria  parece  abarcar  o  instigante  problema  do  contexto  de  incerteza  e  angústia,  que  faz  surgir,  por  vezes,  um  discurso
demagógico propondo como solução para o problema do incremento da criminalidade a elevação das penas para os crimes violentos,
por pensar que apenas o aumento das penas e a repressão resolver a questão da criminalidade.

A  teoria  Criminológica  Crítica  abarca  uma  variedade  de  outras  teorias,  que  apresentam  como  denominador  comum,  o  foco  em
processos sociais de larga escala. O conceito de “conflito social” consubstancia o escopo para compreendermos como se estruturam
estes  processos.  Entre  elas,  destaca­se  a  teoria  do  conflito  social  que  confirma  seu  caráter  interdisciplinar  apresentando  também
raízes clássicas na sociologia, reportando­se a autores como Max Weber (1864­1920) e Georg Simmel ([1858]­[1918]), por meio de uma
divisão da sociedade em torno de alianças e lutas entre grupos que dispunham de poder político, poder social e prestígio. Autores
como Randall Collins (1941­), Ralf Gustav Dahrendorf (1929­2009) e Alfred Lewis Coser ([1913]­[2003]) também estudaram como a
assimetria do poder entre grupos em uma sociedade resulta em conflitos por meio dos quais uma minoria é mais influente e luta para
manter sua posição.

A Criminologia Crítica tem como referência os escritos de Marx que concebe as fontes do poder como resultantes fundamentalmente
do controle dos recursos econômicos, desta sorte, Richard Quinney (1934­) e Young em suas pesquisas procuraram localizar o crime
no contexto de uma economia capitalista. Eles entendem que não somente o crime é determinado amplamente pelo comportamento
dos poderosos, que criminalizam aquilo que mais ameaça suas posições, mas que o próprio Estado opera para proteger os interesses
dos  economicamente  poderosos[6]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn6) .

Importante trazer a baila alguns elementos do contexto histórico do surgimento da Criminologia Crítica, destacando que ela surgiu em
um período de efervescência política, marcado por movimentos sócio­econômico­culturais de ação radical e reação conservadora,
podendo  ser  identificada  no  marxismo,  quando  da  tentativa  de  unir  práxis  e  teoria,  tecendo  uma  crítica  ao  liberalismo  e  à
neutralidade científica. Nessa concepção, ao analisar a relação entre o crime e a classe dominante percebemos que o sistema jurídico
é um instrumento criado para assegurar os interesses da classe dominante por meio do uso da força e da violência, evitando que as
classes dominadas se tornem uma ameaça perigosa. Para esta teoria as taxas de crime em muitos Estados podem ser consideradas o
reflexo da extensão da coação das classes dominantes na tentativa de se manterem no governo, controlando os meios de produção
valendo­se do Estado como seu instrumento de dominação.

A supracitada Teoria defende que os interesses básicos da classe dominante visam preservar a ordem capitalista existente e, para isso,
se utilizam do sistema legal para impedir toda e qualquer ameaça à ordem estabelecida. O comportamento individual nesta teoria era
considerado  uma  execução  das  posições  de  classe,  e  a  coletividade,  em  luta,  movia  a  história  em  que  a  sociedade  capitalista  era
marcada pelo conflito de interesses das classes antagônicas, assim, por vezes essa corrente marxista apontavam tendências criminosas
nas  classes  sociais  baixas  e,  por  outro  lado,  a  classe  dominante  tentando  controlar  a  criminalidade  para  manutenção  do  próprio
sistema capitalista.

De acordo com a Criminologia Crítica, o controle do crime no Estado capitalista não está no controle direto do sistema jurídico, mas
atua  por  meio  de  mecanismos  do  Estado  que  tem  o  papel  de  defender  e  sustentar  os  interesses  da  classe  dominante,  tornando  o
controle do crime uma forma de promoção da sociedade capitalista, constituindo o Estado por vários elementos, tais como: o governo,
a  administração,  os  militares,  a  polícia  entre  outros.  Nesse  caso  a  administração  do  Estado  se  dá  por  sistemas  burocráticos  e
departamentos voltados para a administração das atividades econômicas, culturais e sociais, ficando as forças coercitivas do Estado
exercidas pela polícia com atribuição operacional de controlar a violência.

A minoria detentora dos meios de produção é constituída por pessoas que ocupam posições de liderança dentro das instituições que
detêm o poder, o controle do crime na sociedade capitalista é exercido por agências escolhidas pela classe dominante para manterem
a ordem. Os interesses da classe dominante são assegurados pela prevenção de qualquer desafio à estrutura moral e econômica.

As análises empreendidas nos  permitem constatar que para a Criminologia Crítica as armas do controle social estão nas mãos da
classe dominante, sendo o controle do crime uma ideia associada a aplicabilidade da prática da lei que é elaborada, articulada e
concretizada de acordo com a vontade da classe detentora dos meios de produção.

A Criminologia Crítica possibilita a interpretação do comportamento individual como uma execução das posições de classe, os atores
que movem a história são as classes e suas contradições, a coletividade em luta, a relação central que organiza a sociedade capitalista é
o conflito inconciliável de interesses das duas classes antagônicas. Assim, aponta tendências criminosas nas classes sociais baixas,
enquanto a classe dominante busca controlar a criminalidade no intuito de preservar o próprio capitalismo.

Baseando­se na filosofia da história do direito, podemos traçar uma criminologia crítica capaz de expor o controle do crime no Estado
Capitalista, e, nesse sentido a teoria contemporânea indica que a classe dominante não esta no controle direto do sistema legal, mas
atua por meio de mecanismos instrumentais fornecidos pelo Estado. Nesse contexto, o papel do Estado na sociedade capitalista é
defender os interesses da classe dominante, o controle do crime se torna o maior esquema do Estado na promoção e manutenção da
sociedade  capitalista.  A  constituição  do  Estado  por  seus  vários  elementos:  o  governo,  a  administração  os  militares,  a  polícia,  o

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

judiciário, além dos escalões intermediários compõe o corpo burocrático e os departamentos voltados para o exercício econômico,
social  e  cultural,  manejando  as  forças  coercitivas,  principalmente,  o  uso  das  polícias  no  controle  da  violência,  essas  instituições
repousam o poder do Estado e é nelas que o poder é manejado pela classe que exerce a liderança dentro de cada instituição forjando­
se uma minoria detentora do poder.

De acordo com a teoria da Criminologia Crítica, os trabalhadores também têm interesse na noção de justiça social e querem o retorno
concreto pelo seu exercício laboral de forma a terem uma vida digna, dessa forma, se posicionam contrários aos que obtêm uma
riqueza por meio da exploração da mais­valia. Para essa corrente criminológica a ideologia burguesa é marcada por tirar proveito
afirmando que todos serão recompensados de acordo com sua utilidade e mérito, destacando a punição daqueles que não seguirem as
regras, aspirando uma aceitação como se fosse de interesse universal.

O sistema de controle atua por distribuição judicial de recompensas ligadas as punições estabelecidas e estruturadas influenciando a
família, e a construção da personalidade do indivíduo, reforçando a cultura no sentido de castigar o desvio e o dissenso, essa cultura
contém e reproduz o conhecimento da desumanidade e desemprego, reforçando o estigma da prisão que promoverá o isolamento do
indivíduo desviante e impossibilitará sua reinserção social, a criminologia crítica apresenta a contemporaneidade e continuidade dos
mecanismos da máquina de controle: origem da conformidade, a minúcia incessante da punição à rebelião na situação de emprego
da violência do Estado para controle da ordem social.

O caráter inter e multidisciplinar da filosofia permite pensar a história do direito como o modo de ver, pensar e agir, e mostrar que os
fatos e elementos normativos são antagonismos axiológicos e conflitos ideológicos que constroem as relações jurídicas. A partir da
perspectiva filosófica proposta, a ciência da história não deve ser dividida em história da natureza e história dos homens. É justamente
o argumento de que haja uma dicotomia entre ambas que levará Marx a criticar o sistema hegeliano que por meio da ideologia inverte
as relações de vida real, pois, para ele somente a partir da vida real de um povo é possível identificar o desenvolvimento dos reflexos
deste  processo  de  vida.  Para  Marx,  estes  dois  aspectos  não  podem  se  separar  enquanto  existirem  homens,  posto  que,  o  mais
importante  é  a  história  dos  homens,  a  “ideologia  se  reduz  ou  a  uma  concepção  deturpada  ou  a  uma  completa  abstração  dela.  A
ideologia é, ela mesma, apenas um dos aspectos desta história” (MARX, 1984, p. 11).

Nos  dizeres  de  Maria  Socorro  Ramos  Militão[7]


(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn7) :

em diversos momentos de sua obra Marx reitera que no lugar dos conhecimentos parcelares – que
só reproduzem o esfacelamento do mundo burguês – se faça a reprodução conceitual do todo. Isso
porque, para o filósofo alemão, a sociedade não pode ser compreendida pelas visões parcelares do
economista, do sociólogo, etc., já que ela é uma totalidade viva e articulada. Uma passagem que
ilustra  essa  defesa  da  totalidade  é  aquela  em  que  Marx  afirma  que  a  superestrutura  não  tem
história, ou seja, ela não possui uma história própria, autônoma, movida por leis próprias. Assim,
por exemplo, a arte não se desenvolve sozinha: movida por forças internas. Ao contrário disso, ela
expressa o movimento geral da sociedade, porque se desenvolve numa relação dialética com as
transformações  ocorridas  na  vida  social,  na  base  material,  e  não  por  um  desenvolvimento
autônomo da literatura.

Por conseguinte, o crime deve ser analisado em suas raízes, a partir do modo como os homens desenvolvem suas relações sociais na
produção  da  sua  vida  material  e  não  no  seu  modo  de  pensar  (em  seus  aspectos  ideológicos),  já  que  este  é,  em  última  instância,
determinado por essas relações sociais. Por conseguinte, o entendimento dos motivos que levam os homens ao crime deve ser buscado
na  inter­relação  dialética  entre  a  estrutura  e  a  superestrutura  material.[8]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn8)

À luz de uma Criminologia Crítica, é possível entender que a “verdade é o todo” reiterado por seus aspectos contraditórios e históricos
da realidade. Assim, para compreender a realidade histórica e seu devir como um processo contraditório, a realidade não se submete
a  redução  de  nenhuma  de  suas  partes,  ou  seja,  não  pode  ser  confundida  com  os  seus  momentos,  posto  que  é  histórica.  Assim,
também,  podemos  entender  a  História  do  Direito  fundamentalmente  como  a  história  dos  valores  que  consubstanciaram  a
estruturação  dos  conteúdos  jurídicos;  tornando  objeto  do  conhecimento  filosófico  do  Direito  a  categoria  (Valor)  da  justiça,
entendendo o Direito como um fenômeno histórico­cultural que se apresenta concomitantemente na forma de poder, liberdade e
tempo na ordenação das ações humanas para a realização de seus fins na seara do Estado.

O mundo contemporâneo, o Estado e o Direito são marcados e orientados historicamente pelos valores reconhecidos politicamente e
positivados  pelo  sistema  jurídico,  devendo  ser  estudados  observando­se  as  instituições  como  um  todo,  em  suas  várias  facetas  e
dimensões histórico­culturais. De certo, o culturalismo Jurídico fornece inúmeros elementos de estudo do desenvolvimento histórico
do Direito, vislumbrando­se que o sentido e os valores da cultura condicionam o ordenamento jurídico, o qual é influenciado por sua
civilização – entendendo­se esta como uma entidade cultural ampla ­, que não estabelece objetivos políticos. Neste aspecto, o Direito
considera o Estado como sendo a parte concreta que move a História e agrega valores provenientes da civilização. É ele que a mantem
a  ordem,  a  justiça  e  a  soberania  e  promove  uma  identificação  entre  estes  elementos.  Sobre  essa  questão,  Horta  e  Ramos  (2009)
afirmam que, uma vez “tomado por sistema um conjunto ordenado de elementos, a civilização seria (...) o repertório organizado dos
seus  elementos  culturais,  o  que  pressupõe  uma  consciência  avançada  de  si  (...),  capaz  de  ordenar  suas  próprias  partes”[9]
(file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftn9) .

Contudo, ao considerá­lo desse modo, os interpretes do Direito desconsideram o fato de que é a base material, a estrutura, que ergue
sobre si mesma uma superestrutura, ou seja, um modo de pensar a luz dos interesses dessa estrutura. Esquece­se que, em termos
marxianos,  o  Estado  e  o  Direito  estão  na  superestrutura,  por  isso  não  são  fundantes  de  uma  sociedade,  mas  instituições  que  dão
sustentação jurídica ao modo de produzir a vida material.

Desta maneira, não se pode afirmar que o estudo crítico tem respostas imediatas ao problema criminal, como, equivocadamente,
existia na criminologia de base etiológica. Nada obstante seja necessário realizar a (re)construção dos fatos sociais a médio e longo
prazos  na  pesquisa  por  respostas  reais  ao  problema  da  criminalidade.  Sendo  assim,  deve­se  procurar  definir  o  plano  de  atuação

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político­criminal, verificando qual é a sua relação com a criminologia crítica e sua atuação no sistema penal. Para tanto, a política
criminal pode ser analisada como os princípios que orientam a ação política de combate a criminalidade. Com o uso dessa técnica
será possível dar instrumentos e valores ao legislador/intérprete do direito, justificando politicamente as escolhas estatais no combate
ao crime.

Pautando­se  nos  pressupostos  apresentados  é  possível  analisar  a  realidade  brasileira  a  partir  da  teoria  da  Criminologia  Crítica,
identificando  as  causas  estruturais  da  criminalidade,  a  fim  de  sugerir  elementos  filosófico­sociais  consistes  para  uma  necessária
reforma  no  sistema  penal  brasileiro  capaz  de  reduzir  a  superpopulação  carcerária.  Paira  na  sociedade  o  senso  comum  de  que  os
crimes ocorrem devido a falta de punição, e, por isso normalmente os populares clamam e acreditam na solução por meio de penas
graves.  Contudo,  pesquisas  criminológicas  apontam  que  a  prevenção  dos  delitos  está  relacionada  à  crença  de  punição  efetiva  do
Estado. Desta sorte, discussões apontando para diminuição da maioridade penal e constituição de penas mais graves não diminuem
os índices da criminalidade.

As penas impondo a segregação do indivíduo criminoso da sociedade poderiam ter uma força coerciva caso o Estado tivesse uma
atuação efetiva. Contudo, o Direito penal deverá ser a última ratio e a pena de detenção e reclusão deverá ser imposta em último caso.

Parafraseando (ROXIN, 1998, p.45) a pena deve ser analisada em consonância a outras funções preventivas, sendo assim, para esse
autor a prevenção geral e especial seriam instrumentais, para tentar desenvolver no condenado condições de ressocialização, esses
pressupostos se justificam por atenderem ao requisito da teoria da pena corresponde à realidade e consiga superá­la deve dar gênese
a uma ordem que evidencie um direito penal somente terá força preventiva geral se mantiver a individualidade de quem está sob sua
ação.

Para ROXIN, o Direito Penal não se justifica por si só. Ele deve ser meio de se tentar diminuir a intervenção do Estado sobre os direitos
individuais. Nesse sentido os atos da sociedade na tentativa de transformar a personalidade do criminoso poderão ser benéficos para a
mesma. Sendo assim, a imposição de penas deve ser um último recurso para tentar resolver problemas que as demais searas não
solucionaram.

Para (FERRAJOLI, 2002, p. 271) a pena somente se justifica se for menor, menos aflitiva, menos arbitrária que outras reações não
jurídicas,  que,  é  lícito  supor,  se  produziriam  na  sua  ausência,  e  desse  modo,  o  monopólio  estatal  do  poder  punitivo  é  tanto  mais
justificado quanto mais baixos forem os custos do direito penal em relação aos custos de uma anarquia punitiva É de se salientar,
ainda, que aqui novamente se registra a dicotomia de finalidades gerais do Direito Penal. Vê­se ­ em especial quanto à possibilidade
de imposição de penas ­ que o Direito Penal apresenta uma função preventiva dúplice negativa seja a prevenção geral dos delitos e
por outro lado evitar a aplicação de penas arbitrárias, caracterizando uma tensão dialética delimitada no confronto dos interesses
coletivos de segurança e os direitos individuais. Essa tensão é positiva para o sistema penal, indicando uma necessidade de equilíbrio
de disposições normativas e atuações práticas em torno dos interesses coletivos e individuais.

Parafraseando  (GOMES,  1999,  p.30)  o  sistema  prisional  é  um  produto  caro  e  reconhecidamente  não  ressocializa.  Devido  a
superpopulação  carcerária  a  prisão  dessocializa,  desumaniza  de  forma  cruel  cortando  o  vínculo  do  indivíduo  com  a  sua  família,
trabalho,  educação,  colocando­o  em  uma  escola  do  crime.  Isto  posto,  é  mais  do  que  necessário  que  se  inove  o  sistema,  com  a
implementação de novas medidas.

Os estudos desenvolvidos pela Criminologia crítica indicam que o grande problema do sistema penal é a superpopulação de presos –
que  agrava  todos  os  outros  problemas.  O  Brasil,  que  possui  a  quarta  maior  população  carcerária  do  mundo  e  cujo  índice  de
crescimento do número de encarcerados é o maior verificado atualmente, possui como marca a superlotação generalizada de suas
unidades  prisionais,  acrescido  de  um  sem  limite  de  precariedades  institucionais.  Hoje,  a  população  carcerária  de  mais  de  meio
milhão de pessoas, sendo que destas, menos de 1/3 ainda não obteve uma condenação pelo ilícito que lhes é imputado.

Consequência disso é que a suposta função ressocializadora do sistema penitenciário, a qual paradoxalmente seria feita ao largo do
convívio em sociedade, torna­se escancaradamente falha: mais de 60% dos presos primários retornam à prisão, o que significa um
dos índices de reincidência mais altos do planeta. Com respostas pouco ou nada eficientes na contenção de ilícitos pelo Estado, não é
de hoje, portanto, que a estrutura de um sistema criminal calcado no encarceramento das massas vem ruindo.

Em  momento  algum  se  questiona  a  lógica  do  encarceramento  ou  suas  prováveis  consequências:  ao  contrário,  quando  estas  são
evidenciadas  em  episódios  como  o  de  Pedrinhas,  ecoa  o  silêncio  das  autoridades,  como  o  do  ministro  da  Justiça,  José  Eduardo
Cardozo, que até o momento sequer se posicionou sobre a situação. Dados da ONU mostraram que dos 550 mil presos do país, 217 mil
estão presos em caráter provisório. Soma­se a isso o fato de que boa parte dos detentos condenados ao regime aberto ou semiaberto
cumpre a pena em regime fechado, o que contribui –e muito– para o quadro de superlotação dos presídios.

Ao  apostar  na  ostensiva  contenção  de  setores  marginalizados,  o  Estado  é  responsável  pela  produção  de  uma  crescente  população
carcerária,  o  que  inevitavelmente  leva  a  uma  também  crescente  demanda  de  criação  de  novos  presídios.  E  não  por  mera
conveniência, a privatização do cárcere surge como solução atrativa para a construção e prestação dos serviços nas unidades. Não à
toa  o  Estado  do  Maranhão,  chefiado  por  Roseana  Sarney,  destinou  74  milhões  de  reais  à  terceirização  ilícita  de  mão­de­obra  nos
presídios do estado em 2012.

Além do Maranhão, Estados como São Paulo e Minas Gerais já contam com unidades prisionais geridas pela iniciativa privada. O
custo de um preso ou presa varia entre 2 a 4 mil reais mensais para os governos. Custo alto. O Paraná, por exemplo, desistiu do modelo
adotado no presídio de Guarapuava ao constatar um aumento de quase 80% nos custos. Expor a questão em termos econômicos é
importante para desfazer o mito de que a privatização das unidades prisionais acarreta diminuição de custos para o Estado, mas, para
além disso, é preciso atentar para o fato de que a criação de novos presídios ou a privatização não deve ser a diretriz principal no
combate à superlotação e ao caos penitenciário brasileiro.

Além  disso,  a  inserção  das  penitenciárias  na  lógica  de  mercado  se  converge  em  mais  uma  forma  de  desumanização  do  detento,
contribuindo para o quadro de violações de direitos individuais. A grande aprovação da sociedade à severidade punitiva faz da prisão
o local em que se materializa não só a punição, como a vingança. E, nas sistemáticas violações aos direitos humanos, torna­se palco de
exceção à legalidade.

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

A invisibilização constante das situações de barbárie presenciadas no cotidiano das cadeias, em que os setores marginalizados seguem
sendo o alvo preferencial de nossa política de segurança pública, tem como pano de fundo a demonização de um perfil idealizado do
agente criminoso. Quem encarna a figura do "bandido" pertence à parcela da sociedade que só entra no sistema jurídico enquanto
réu, reincidente, criminoso; e não como sujeito de direitos.

Negros compõem 60% da população carcerária brasileira, da qual 58% são jovens entre 18 e 29 anos e 77% não passaram do Ensino
Fundamental, o que mostra o presídio como verdadeiro mecanismo de detenção e criminalização da população pobre, jovem e negra.
Nesse sentido, cabe ressaltar a dificuldade dos mais pobres em ter acesso à assistência jurídica, quadro que também concorre para a
ocorrência de rebeliões internas com vistas a exigir melhores condições para o cumprimento das penas.

É preciso salientar, ainda, que o mecanismo de criminalização da população jovem e negra da periferia se expressa também nos
altíssimos  números  de  homicídios  e  violências  policiais  sofridos  por  essa  parcela  da  população,  como  o  caso  recente  ocorrido  na
periferia  de  Campinas,  em  que  12  pessoas  menores  de  30  anos  foram  mortas  por  policiais  militares.  Tal  episódio  escancara  a
incompatibilidade de uma polícia militarizada – ou seja, treinada para combater e eliminar o inimigo – com um Estado democrático
de direito.

O  sistema  carcerário  brasileiro  é  inegavelmente  falido,  inflado,  e  incapaz  de  suportar  a  grande  demanda  e  de  realizar  os  seus
propósitos de ressocialização. Muito pelo contrário, tais ambientes hoje são, na realidade, berços e oportunidades de aperfeiçoamento
de esquemas criminosos. Muito embora o cenário seja de esgotamento, o que se observa é uma cruzada cada vez maior por mais
encarceramento e um injustificável recrudescimento da máxima segundo a qual "bandido bom é bandido morto".

Questões cruciais como o excesso de presos em caráter provisório, a inconveniência da privatização de presídios e a política de drogas
são apenas alguns pontos nos quais deve se debruçar qualquer um que queira propor soluções para o novelo de problemas que a
política de encarceramento do Brasil virou.

Por outro lado, o conhecimento de que o cárcere é incapaz de ressocializar, mas capaz de neutralização temporária e de inserção
definitiva em carreiras criminosas, não significa que a Criminologia crítica feche os olhos para os problemas do sistema carcerário.
Ao contrário de variantes críticas como o neo­realismo, que admite a neutralização e a retribuição justa, ou o idealismo de esquerda,
que repropõe a ressocialização para evitar a retribuição,23 a Criminologia crítica considera indispensável a reintegração social
do  condenado  não  através  do  cárcere,  mas  apesar  do  cárcere  –  e  a  mudança  semântica  de  ressocialização  para
reintegração social, ao deslocar a atenção do condenado para a relação sujeito/comunidade, não é gratuita: significa reintegrar o
condenado em sua classe e nas condições de luta de classes.24 A Criminologia crítica sabe que cárceres melhores não existem – e,
por isso, propõe a abolição do sistema carcerário25 –, mas também sabe outras coisas: que toda melhora das condições de vida do
cárcere deve ser estimulada, que é necessário distinguir entre cárceres melhores e piores, que não é possível apostar na hipótese de
quanto pior, melhor. Por tudo isso, o objetivo imediato é menos melhor cárcere e mais menos cárcere, com a maximização dos
substitutivos penais, das hipóteses de regime aberto, dos mecanismos de diversão e de todas as indispensáveis mudanças humanistas
do  cárcere.  III  As  propostas  de  reforma  da  legislação  penal  O Direito  Penal  mínimo  contém  princípios  que  definem  os
fundamentos  do  programa  de  política  criminal  da  Criminologia crítica,  organizados  em  duas  categorias  principais:  a)  princípios
jurídicos;  b)  princípios  políticos.  Considerando  esses  princípios,  o  programa  de  reforma  penal  da  Criminologia  crítica  propõe
mudanças  em  duas  direções  principais:  a)  no  sistema  de  justiça  criminal,  um  programa  de  descriminalização  e  de
despenalização radicais; b) no sistema carcerário, um programa de descarcerização radical, com a máxima humanização das
condições de vida no cárcere.

1. Propostas de redução do sistema de justiça criminal

1.1. Descriminalização. O programa de descriminalização da Criminologia crítica é o seguinte: Primeiro, a descriminalização é
indicada em todas as hipóteses (a) de crimes punidos com detenção, (b) de crimes de ação penal privada, c) de crimes de ação penal
pública condicionada à representação e (d) de crimes de perigo abstrato – sob os seguintes fundamentos: a) violação do princípio de
insignificância,  por  conteúdo  de  injusto  mínimo,  desprezível  ou  inexistente;  b)  violação  do  princípio  de  subsidiariedade  da
intervenção penal, como ultima ratio da política social, excluída no caso de suficiência de meios não­penais; c) violação do princípio
de idoneidade da pena, que pressupõe demonstração empírica de efeitos sociais úteis, com exclusão da punição no caso de efeitos
superiores  ou  iguais  de  normas  jurídicas  diferentes;  d)  violação  do  primado  da  vítima,  que  viabilizaria  soluções  restitutivas  ou
indenizatórias em lugar da punição.

Segundo, a descriminalização é indicada nos crimes sem vítima, como o auto­aborto (art. 124, CP), o aborto consentido (art. 125,
CP), a posse de drogas (art. 16, L. 6368/76) e outros crimes da categoria mala quia prohibita, sob os seguintes fundamentos: a)
violação  do  princípio  de  lesão  de  bens  jurídicos  individuais  definíveis  como  direitos  humanos  fundamentais;  b)  violação  do
princípio de proporcionalidade concreta da pena, porque a punição agrava o problema social, ou produz custos sociais excessivos,
em condenados das classes sociais subalternas, objeto exclusivo da repressão penal.

Terceiro, a descriminalização é indicada nas hipóteses de crimes qualificados pelo resultado, como a lesão corporal qualificada pelo
resultado  de  morte  (art.  129,  §  3o,  CP),  sob  o  fundamento  de  violação  do  princípio  de  responsabilidade  penal  subjetiva,  como
imputação  de  responsabilidade  penal  objetiva  originária  do  velho  versari  in  re  illicita  do  direito  canônico,  incompatível  com  o
Estado Democrático de Direito. Quarto, a descriminalização é indicada nas hipóteses do direito penal simbólico, especialmente em
crimes ecológicos e tributários, substituídos por ilícitos administrativos e civis dotados de superior eficácia instrumental e social.

1.2. Despenalização. As propostas de despenalização do programa de reforma penal da Criminologia crítica são as seguintes: a)
primeiro, extinguir o arcaico sistema de penas mínimas previsto em todos os tipos legais de crimes, abolido em legislações penais
modernas por violar o princípio da culpabilidade e contrariar políticas criminais humanistas: a) viola o princípio da culpabilidade
em casos de necessária fixação de pena abaixo do mínimo legal – por circunstâncias judiciais ou legais –, hipóteses em que a pena é
ilegal,  porque  não  constitui  medida  da  culpabilidade;  b)  contraria  políticas  criminais  humanistas  fundadas  nos  efeitos
desintegradores, dessocializadores e criminogênicos da prisão;

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

b) segundo, reduzir a pena máxima de todos os tipos legais de crimes subsistentes, inspirados em concepção de política criminal
troglodita anterior a Beccaria, que somente atribuía poder desestimulante do crime à 9 certeza da punição – e não à gravidade da
pena,  como  ainda  pensa  o  legislador  brasileiro;  c)  terceiro,  as  hipóteses  de  substitutivos  penais  ou  de  extinção  da  punibilidade
devem ser redefinidas na direção da mais ampla despenalização concreta, com o objetivo de evitar os efeitos negativos do cárcere,
com  ênfase  nos  seguintes  institutos  jurídicos:  a)  o  perdão  judicial;  b)  a  conciliação;  c)  a  transação  penal;  d)  a  suspensão
condicional da pena; e) a prescrição, mediante (a) redução dos prazos de prescrição da pretensão punitiva, de natureza arbitrária,
(b) desconsideração das causas de interrupção da prescrição retroativa, impossíveis em processos mentais retrospectivos baseados
no fluxo imaginário do tempo e (c) institucionalização legal da prescrição retroativa antecipada, por razões de economia processual
e de pacificação social; e) extensão legal, por interpretação analógica in bonam partem,  da  extinção  da  punibilidade  dos  crimes
tributários pelo pagamento, aos crimes patrimoniais comuns nãoviolentos, nos casos de ressarcimento do dano ou de restituição da
coisa;

e) quarto, a despenalização parcial é indicada na hipótese dos crimes hediondos (Lei 9.072/90), mediante cancelamento da ilegal
agravação dos limites penais mínimo e máximo dos crimes respectivos, sob os seguintes fundamentos: a) violação do princípio da
resposta penal não contingente, pelo qual a lei penal deve ser resposta solene a conflitos sociais fundamentais, gerais e duradouros,
com debates exaustivos do Poder Legislativo, partidos políticos, sindicatos e outras organizações da sociedade civil; b) violação do
princípio de proporcionalidade abstrata, em que a pena deve ser proporcional ao dano social do crime.

2. Propostas de humanização do sistema penal

2.1. Em primeiro lugar, é indispensável e urgente despovoar o sistema carcerário mediante radical descarcerização realizada por
ampliação das hipóteses de extinção, de redução ou de desinstitucionalização da execução penal, em especial nos seguintes casos:

a) promover, em todas as modalidades de livramento condicional, a redução  do tempo de cumprimento de pena, pela natureza
arbitrária dos prazos legais, assim como a extinção  dos  pressupostos  gerais subjetivos  de  comportamento  satisfatório  e  de  bom
desempenho no trabalho, por sua natureza idiossincrática e arbitrária;

10  b)  reformular  a  remição  penal  mediante  redução  da  equação  de  3  dias/trabalho  =  1  dia/pena  para  1  dia/trabalho  =  1
dia/pena,  pela  carência  de  fundamento  científico  do  critério  legal,  por  um  lado,  e  admissão  de  equivalência  entre  trabalho
produtivo e trabalho  artesanal  para  efeito  de  remição penal,  no  caso  de  inexistência  de  trabalho  produtivo  ou  equivalente  na
instituição penal, por outro (art. 126 e §§, LEP); c) revitalizar o regime aberto, mediante ampliação do limite da pena aplicada para
concessão do benefício – de 4 (quatro) para  6 (seis) u 8 (oito) anos, por exemplo –, com correspondentes alterações nos regimes
semi­aberto e fechado (art. 33, §2o, a, b, c, CP), para evitar os efeitos negativos da prisão, além da economia de custos;

d) acelerar a progressão de regimes na execução da pena, mediante redução  do  tempo  mínimo  de cumprimento de pena no


regime  anterior  –  de  1/6  (um  sexto)  para  1/10  (um  décimo)  ou  1/12  (um  doze  avos)  da  pena,  por  exemplo  –,  tendo  em  vista  a
natureza arbitrária desses limites mínimos, além de reduzir os efeitos negativos da prisão, por um lado, e excluir o requisito subjetivo
de bom desempenho no trabalho (art. 112, LEP) igualmente por sua natureza arbitrária e idiossincrática, por outro.

2.2. Em segundo lugar, garantir o exercício de direitos legais e constitucionais do condenado, como forma de compensação oficial
pela  injustiça  das  condições  sociais  adversas,  insuportáveis  e  insuperáveis  da  maioria  absoluta  dos  sujeitos  selecionados  para
criminalização  pelo  sistema  penal,  mediante  prestação  dos  seguintes  serviços  públicos:  a)  instrução  geral  e  profissional,  como
condição  de  promoção  humana;  b)  trabalho  interno  e  externo,  como  condição  de  dignidade  humana;  c)  serviços  médicos,
odontológicos e psicológicos especializados, como condição de existência humana.

2.3. Em terceiro lugar, revogar o execrável regime disciplinar diferenciado da Lei 7.210/84, com a redação da Lei 10.792/03, que
viola o princípio de humanidade e os princípios constitucionais de dignidade do ser humano e de proibição de penas cruéis.

Essas  propostas  da  Criminologia  crítica  podem  servir  de  base  para  um  projeto  democrático  de  reforma  da  legislação  penal
brasileira, com imediata e necessária redução do genocídio social produzido pelo sistema penal, instituído para garantir uma ordem
social desigual e opressiva fundada  na  relação  capital/trabalho assalariado.  Mas  é  impossível  concluir  sem  dizer  o  seguinte:  a
Criminologia crítica também sabe que a única resposta para o problema da criminalidade é a democracia real, porque nenhuma
política criminal substitui políticas públicas de emprego, de salário digno, de moradia, de saúde e, especialmente, de escolarização
em massa – infelizmente, impossíveis no capitalismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, pode­se inferir que a criminalidade não pode ser observada pontualmente, analisando somente a incidência do
indivíduo no fato típico, ilícito e culpável. O envolvimento de um indivíduo com o crime é uma consequência das mazelas sociais que
afligem as classes subalternas, que se encontram subjulgadas pelos exploradores da mais­valia marxiana.  É evidente que a grande
maioria dos comportamentos criminalizados, à luz da Criminologia Crítica, são aqueles que de alguma forma podem abalar o poder
da minoria abastada da sociedade, detentora do capital e exploradora da força de produção das massas, que sem estudo e educação
de qualidade, se veem obrigadas a vender sua força de trabalho como única forma de manter sua subsistência. Mas é lógico que tal
fato fica mascarado sob a alegação do governo de que determinadas condutas são crime e ensejam uma retribuição porque atentam
contra o Estado democrático de Direito.

Mas como falar em um Estado Democrático de Direito, em que as maiorias mal são alfabetizadas? As estatísticas mostram que o acesso
a educação básica no Brasil é muito deficiente, e que as populações menos abastadas têm muita dificuldade de acesso ao ensino.
Ademais, a população negra, ainda sofre com a segregação apesar das “ações afirmativas” do governo, na tentativa de concertar o
problema atacando a “ponta do iceberg”.

Pode­se dizer que os sujeitos criminalizados são em sua maioria negros, que compõem 60% da população carcerária brasileira, da
qual 58% são jovens entre 18 e 29 anos e 77% não passaram do Ensino Fundamental, o que evidencia que presídio é uma verdadeira
fábrica de criminalização da população pobre, jovem e negra. Vale ressaltar que a falta de condições financeiras enseja uma grande

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

dificuldade do acesso à assistência jurídica, o que também contribui sobremaneira com a deflagração de rebeliões internas visando
melhores condições para o cumprimento das penas.

Quanto  ao  fracasso  do  sistema  penal  brasileiro  em  conter  a  criminalidade,  verifica­se,  em  um  primeiro  momento,  que  o  grande
problema do sistema penal é a superpopulação de presos – que agrava todos os outros problemas. O Brasil, que possui a quarta maior
população carcerária do mundo e cujo índice de crescimento do número de encarcerados é o maior verificado atualmente, possui
como marca a superlotação generalizada de suas unidades prisionais, acrescido de um sem limite de precariedades institucionais. Ao
invés de procurar resolver o problema da criminalidade, promovendo uma igualdade de condições financeiras a toda a população,
possibilitando  o  acesso  igualitário  à  educação,  trabalho,  moradia,  alimentação  e  lazer,  o  governo  quer  resolver  o  problema
encarcerando os indivíduos transgressores da lei penal, literalmente enfiando os criminosos em um buraco em que a única saída é o
real envolvimento com o crime, para que eles possam se defender do submundo que é o sistema carcerário brasileiro, que, apesar das
diversas políticas de reinserção do delinquente à sociedade, só ataca o problema no fim, sem poder reparar todo o dano e sofrimento
do indivíduo ao longo de sua vida.

Assim, são propostas diversas medidas para que se possa atenuar o problema enquanto a base não é consertada. Entre elas, merecem
destaque as propostas de JUAREZ CIRINO TAVARES, no sentido de melhorar e humanizar o sistema carcerário no Brasil, pautado
nos ideais da Criminologia Crítica:

A descriminalização dos  crimes  punidos  com  detenção,  nos  crimes  sem  vítima,  de  ação  penal  privada,  de  crimes  de  ação  penal
pública  condicionada  à  representação  e  de  crimes  de  perigo  abstrato,  com  o  fundamento  de  que  tais  crimes  teriam  conteúdo  de
injusto mínimo, desprezível ou inexistente.

A  despenalização  dos  crimes  com  penas  mínimas,  previsto  em  todos  os  tipos  legais  de  crimes,  abolido  em  legislações  penais
modernas por violar o princípio da culpabilidade e contrariar políticas criminais humanistas. A redução da pena máxima de todos
os  tipos  legais  de  crimes  subsistentes,  inspirados  em  concepção  de  política  criminal  troglodita  anterior  a  Beccaria,  que  somente
atribuía poder desestimulante do crime à certeza da punição – e não à gravidade da pena, como ainda pensa o legislador brasileiro. A
aplicação de substitutivos penais, como o perdão judicial, a conciliação, a transação penal, a suspensão condicional da pena, a
prescrição, mediante redução dos prazos de prescrição da pretensão punitiva, de natureza arbitrária, e desconsideração das causas
de interrupção da prescrição retroativa, impossíveis em processos mentais retrospectivos baseados no fluxo imaginário do tempo e,
principalmente, institucionalização legal da prescrição retroativa antecipada, por razões de economia processual e de pacificação
social.

Por fim, faz­se imprescindível que se promova uma humanização do sistema penal, primeiramente, com o despovoamento do sistema
prisional, feito a partir de extinções, reduções ou desinstitucionalizações das execuções penais, promovendo reduções do tempo de
cumprimento da pena, reformulação da remição penal, valorizando o trabalho, de forma que 1 dia/trabalho seja igual a 1 dia/pena,
revitalização o regime aberto, mediante ampliação do limite da pena aplicada para concessão do benefício – de 4 (quatro) para 6
(seis) u 8 (oito) anos, por exemplo –, com correspondentes alterações nos regimes semi­aberto e fechado (art. 33, §2o, a, b, c, CP), 
aceleração da progressão de regimes na execução da pena, mediante redução do tempo mínimo de cumprimento de pena no
regime anterior – de 1/6 (um sexto) para 1/10 (um décimo) ou 1/12 (um doze avos) da pena, por exemplo.

Deve­se  também  garantir  o  exercício  de  direitos legais  e  constitucionais  do  condenado,  como  forma  de  compensação  oficial  pela
injustiça  das  condições  sociais  adversas,  insuportáveis  e  insuperáveis  da  maioria  absoluta  dos  sujeitos  selecionados  para
criminalização pelo sistema penal, com a instrução geral e profissional, como condição de promoção humana, trabalho interno e
externo,  como  condição  de  dignidade  humana,  serviços  médicos,  odontológicos  e  psicológicos  especializados,  como  condição  de
existência humana.

Tais apontamentos e propostas da Criminologia crítica podem basearem um projeto democrático de  reforma  da  legislação  penal


brasileira, para que haja uma redução do genocídio social produzido pelo sistema penal, que atualmente se demonstra um instituidor
de uma ordem social desigual e opressiva fundada na relação capital/trabalho assalariado.

A Criminologia  crítica  aponta  que  a  solução  para  o  a  criminalidade  é  a  democracia real,  uma  vez  que  nenhuma  das  políticas
criminais,  por  mais  realistas  e  aparentemente  capazes  de  melhorar  o  problema,  são  capazes  de  substituir  políticas  públicas  que
demonstrem preocupação do governo com as classes subalternas, como ofertas de emprego, de salários decentes, de moradia bem
estruturada, com energia e saneamento básico, oferta de saúde de qualidade, e principalmente, de escolarização básica para que
todos sejam capazes de atingir níveis superiores de ensino, e passem a não ter tempo para a prática de quaisquer crimes.

IV ­ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref1)  Parafraseando


BARATTA,  Alessandro.  Che  cosa  é  La  criminologia  crítica?  In:  Dei  delitti  e  dele  Pene,  1991,  n.1,  p.  59.  Atualmente,  a
Criminologia  Crítica  é  o  produto  da  integração  da  teoria  do  conflito  de  classes  do  marxismo,  que  desenvolveu  um  modelo  de
compreensão dos processos objetivos das relações sociais de produção e distribuição da riqueza material, com a teoria da interação
social do labeling approach, que criou um modelo de compreensão dos processos subjetivos de construção social da criminalização.

[2]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref2)  Entre  estas,


podemos citar a moderna sociologia criminal que comporta duas vertentes: a Européia – ligada a Émile Durkheim (em especial a sua
teoria  da  anomia,  da  normalidade  do  delito  no  contexto  sócio­cultural);  e  a  Norte­americana  –  ligada  a  Escola  de  Chicago  (que
admite a existência de subculturas criminais, conforme Cliford Shaw). É na sociologia criminal que nasce a escola da criminologia
crítica entre outras correntes teóricas como as teorias da Ecológica, das subculturas, da reação social, do etiquetamento (rotulagem).

[3]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref3)  Para  Hegel  a


sociedade civil (bürgerleeche Geselleschaft) “se apresenta como a síntese da família, e o Estado surge como a síntese de ambos, como
união dos respectivos princípios. A sociedade civil é o campo onde os indivíduos, como pessoas privadas, buscam a satisfação de seus
interesses. Marx, ao contrario, distingue a concepção hegeliana de sua própria: a “‘sociedade civil’” corresponde ao nível onde se dá ‘o
relacionamento dos possuidores de mercadoria’, ‘as relações materiais de vida’ ou ‘metabolismo social’. Ela constitui a anatomia ou a
base da estrutura social” (MARX, 1987, p. 29).

[4]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref4)  Em  sentido


etimológico, a “Criminologia” é um termo derivado do Latim CRIMEN, que significa “acusação, indiciamento, ofensa”, em junção
com o termo Grego LOGOS,  cujo  sentido  é  “palavra”,  “estudo”.  CRIMEN  vem  do  verbo  CERNERE, “decidir, escolher, peneirar”,
relacionado  com  o  Grego  KRINEIN,  “separar,  julgar,  decidir”,  do  Indo­Europeu  KREI­,  “peneirar,  distinguir,  discriminar”.  A
origem da palavra Criminologia é, pois, greco­latina e foi usada pela primeira vez por Raphael Garófalo (Itália, 1851­1934).

[5]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref5)  Destaca­se  nesta


escola  o  funcionalismo  em  psicologia,  a  sociologia  urbana;  ecologia  humana,  as  formas  sociológicas  da  psicologia  social  que
receberam  o  nome  de  behaviorismo  social  e  interacionismo  simbólico  produzindo  contribuições  relevantes  até  os  nossos  dias,  ao
analisar a relação indivíduo­comunidade e a interpretação explicada como método, no tocante ao estudo da linguagem: os fatores que
interferem na comunicação. A Escola aborda os estudos em antropologia urbana tendo o meio urbano com foco de análise principal;
e, ainda, os estudos sobre a origem das favelas, a proliferação do crime e da violência e o aumento populacional do início do século
XX.

[6]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref6)  QUINNEY,


Richard.  O  controle  do  crime  na  sociedade  capitalista:  uma  filosofia  crítica  da  ordem  legal.  In:  TAYLOR,  Ian;  WALTON,  Paul;
YOUNG, Young. (Org.). Criminologia crítica. Tradução Juarez Cirino dos Santos e Sérgio Tancredo. Rio de Janeiro: Graal, 1980.

[7]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref7)  MILITÃO,  M.  S.  R.


Algumas ponderações sobre a ontologia de György Lukács. Educação e Filosofia. No prelo.

[8]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref8)  A  sociologia


marxista gira em torno de dois conceitos: Infraestrutura: é composta pelos meios materiais de produção (meios de produção e força de
trabalho);Superestrutura:  é  que  compreende  as  esferas  política,  jurídica  e  religiosa,  ou  seja,  as  instituições  responsáveis  pela
produção ideológica (formação das ideias e conceitos) da sociedade.

[9]{C}  (file:///G:/GARY/ARTIGO%20CRIMINOLOGIA%20CR%C3%8DTICA%2012%20DE%20MAIO%20DE%202014.docx#_ftnref9)  HORTA,  José  Luiz


B.; RAMOS, Marcelo Maciel. Entre as veredas da cultura e da civilização. In: Revista Brasileira de Filosofia, 2009, p. 259.

Autor

Wander Pereira

Pós­Doutorado  em  Criminologia,  Pós­doutorado  em  História  do  Direito:  Filosofia  e  Constituição.
Doutor e Mestre pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Especialista em Direito e Processo
do  Trabalho,  em  Direito  Público  e  Filosofia  do  Direito.  Cirurgião­dentista  CRO22510,  Advogado
OABMG109559  graduações  pela  UFU.  Professor  visitante  do  Pós­Doutorado  da  UFU.  Professor  de
Direito pro tempore da Faculdade de Direito, da Faculdade de Administração e da Faculdade de Ciências Contábeis, todas
da UFU. Professor de Direito nas Faculdades ESAMC e UNIPAC, Professor de Direito na Pós­Graduação da PUC­MINAS.

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18/09/2016 Filosofia da História do Direito: a criminologia crítica e o legado marxiano ­ Jus Navigandi

https://jus.com.br/imprimir/28565/filosofia­da­historia­do­direito­a­criminologia­critica­e­o­legado­marxiano 13/13

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