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BACHARELADO EM DIREITO

ANÁLISE EM FACE A FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DO


ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS NO ÂMBITO DA OEA

CURITIBA
2018
1
BACHARELADO EM DIREITO

ANÁLISE EM FACE A FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DO


ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS NO ÂMBITO DA OEA

CURITIBA
2018
2
GABRIEL LOPES MIRANDA DA SILVA

ANÁLISE EM FACE A FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DO


ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS NO ÂMBITO DA OEA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Bacharelado em Direito pelo centro
Universitário OPET, como requisito parcial para a
obtenção do devido Título.

Orientador: Professor Doutor Sérgio Augusto Kalil

CURITIBA
2018

3
CENTRO UNIVERSITARIO OPET

CURSO DE DIREITO

O Trabalho de Conclusão de Curso

ANÁLISE EM FACE A FLEXIBILIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DO ESGOTAMENTO DOS


RECURSOS INTERNOS NO ÂMBITO DA OEA

elaborado por Gabriel Lopes Miranda da Silva e aprovado pela BANCA DE


AVALIAÇÃO, foi aceito como pré-requisito para a obtenção do certificado do Curso de
Bacharelado em Direito.

Data da Aprovação: Local, Data

Membro da Banca

Orientador Sérgio Augusto Kalil

4
TERMO DE COMPROMISSO

O aluno Gabriel Lopes Miranda da Silva abaixo assinado, do curso de Bacharelado


em Direito, Turma........, do Centro Universitário OPET, declara que o conteúdo do
Trabalho de Conclusão de Curso intitulado ANÁLISE EM FACE A FLEXIBILIZAÇÃO
DO PRINCÍPIO DO ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS NO ÂMBITO DA
OEA, é autêntico e original.

Curitiba,......................... de 2018

Gabriel Lopes Miranda da Silva

5
ESTE TRABALHO É A CONCLUSÃO
NÃO SOMENTE DESTA GRADUAÇÃO,
MAS TAMBÉM A CONCLUSÃO DE
DIVERSOS ESFORÇOS POR PARTE DE
MINHA MÃE BEM COMO AMIGOS, EM
QUE ACREDITARAM E FORAM A
MINHA FORÇA ATÉ ESTE PRESENTE
MOMENTO.

6
RESUMO

A luz das diretrizes fundamentais dos Direitos Humanos, é conceituado as diversas


fontes do que seriam as melhores apropriações de entendimento do tema em
conformidade com diversos doutrinários. Bem como é tratado de forma breve e
sintética a estruturação dos Direitos Humanos e a evolução dos Direitos Humanos no
decorrer da história mundial e no âmbito nacional contidos nas Constituições
Brasileiras desde 1824 a 1988, comparando por fim, uma breve exposição do Pacto
de São José da Costa Rica concomitantemente a Constituição Brasileira de 1988.
Após, é tratado eventos históricos que desencadearam a criação da OEA, bem como
a exposição das principais conferências desde 1826 até a conferência que deu origem
a criação da OEA, em 1951 com o pacto de Bogotá. É tratado de forma direta artigo
por artigo do pacto de Bogotá, expondo os objetivos da OEA e as suas diretrizes
funcionais. Por fim, em último capítulo, é tratado a evolução histórica do princípio do
esgotamento dos Recurso Internos bem como a cláusula de reserva do Estado, os
problemas atuais no Brasil que aferem a eficácia da Justiça e ao princípio protetor de
denegação de justiça. Com base nesta coleta de dados, o trabalho tem por objetivo e
conclui-se em último capítulo a tese de Cançado Trindade na qual ele versa sobre a
possibilidade, à luz dos direitos humanos, na flexibilização do princípio do
esgotamento dos recursos internos em paralelo com a denegação de justiça para se
alcançar um ampliamento de socorro ao judiciário. Tem se como metodologia o uso
de livros, sites, artigos, tendo-se como maior base bibliográfica para a construção do
tema os livros de Cançado Trindade e Flávia Piovesan bem como André de Carvalho.
Conclui-se na leitura deste trabalho o entendimento de Cançado Trindade em uma
justiça mais ampla e aberta para favorecer a todos, retirando os entraves jurisdicionais
brasileiros em busca de uma justiça mais célere e justa.

Palavras-chave: Carta de São José da Costa Rica; Pacto de Bogotá; Organização


dos Estados Americanos; OEA; Cançado Trindade; Flávia Piovesan; Direitos
Humanos; Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos; Denegação de Justiça;
Morosidade Jurisdicional; Cláusula de Reserva; Flexibilização do Princípio do
Esgotamento dos Recursos Internos; Direito Internacional.

7
ABSTRACT

In the light of fundamental Human Rights guidelines, the various sources of what would
be the best appropriations of understanding the theme in accordance with various
doctrines are conceptualized. As well as brief and concise treatment of the structure of
human rights and the evolution of human rights in the course of world history and
national scope contained in the Brazilian Constitutions from 1824 to 1988, comparing
at last a brief exposition of the Pact of Saint Joseph of Costa Rica concomitantly with
the Brazilian Constitution of 1988. Afterwards, it deals with historical events that
triggered the creation of the OAS, as well as the exhibition of the main conferences
from 1826 until the conference that gave rise to the creation of the OAS in 1951 with
the pact of Bogota. It is addressed directly article by article of the pact of Bogotá,
exposing the objectives of the OAS and its functional guidelines. Finally, the last
chapter deals with the historical evolution of the principle of exhaustion of domestic
remedies, as well as the reservation clause of the State, the current problems in Brazil
that assess the effectiveness of justice and the principle of denial of justice. Based on
this data collection, the objective of this work is to conclude in the last chapter the
Cançado Trindade thesis in which it deals with the possibility, in the light of human
rights, to make the principle of exhaustion of domestic remedies more flexible in
parallel with the denial of justice in order to achieve a widening of relief to the judiciary.
It has as a methodology the use of books, websites, articles, having as a major
bibliographic basis for the construction of the theme the books of Cançado Trindade
and Flávia Piovesan as well as André de Carvalho. It is concluded in the reading of
this work the understanding of Cançado Trindade in a wider and open justice to favor
all, removing the Brazilian jurisdictional obstacles in search of a faster and just justice.

Keywords: Carta de São José da Costa Rica; Pact of Bogota; Organization of


American States; OAS; Cançado Trindade; Flávia Piovesan; Human rights; Principle
of Exhaustion of Domestic Remedies; Denial of Justice; Jurisdictional delinquency;
Reservation Clause; Flexibility of the Internal Exhaustion Principle; International right.

8
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

- OEA: ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS


- CIDH: COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
- COIDH (CORTEIDH): CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
- CIDI: CONSELHO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL
- CNJ: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
- FUNAG: FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO
- ONU: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

9
SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................ 12
1. Capitulo 1 ............................................................................................................. 14
1. Conceito de Direitos Humanos ......................................................................... 14
1.1. A Estruturação dos Direitos Humanos......................................................... 16
1.3. Principais Marcos Históricos dos Direitos Humanos ................................... 18
1.3.1. Evolução Histórica das Constituições Brasileiras ..................................... 20
1.3.1.1. Constituição de 1824 ....................................................................... 20
1.3.1.2. Constituição de 1891 ....................................................................... 20
1.3.1.3. Constituição de 1934 ....................................................................... 21
1.3.1.4. Constituição de 1937 ....................................................................... 22
1.3.1.5. Constituição de 1946 ....................................................................... 23
1.3.1.6. Constituição de 1967 ....................................................................... 23
1.3.1.7. Constituição de 1969 ....................................................................... 24
1.3.1.8. Constituição de 1888 ....................................................................... 25
1.4. A Reconstrução da Democracia Pós-Ditatorial ........................................... 25
1.5. Posicionamento constitucional Interno em Face aos tratados Internacionais
.................................................................................................................... 31
1.6. Pacto de San José da Costa Rica ................................................................. 2
2. Capitulo 2 ............................................................................................................. 33
2. Eventos que Desencadearam a Criação da OEA ............................................. 33
2.1. Das Conferências ........................................................................................ 33
2.1.1. Conferência de Washington – 1889 a 1890 ............................................. 34
2.1.2. Conferência na Cidade do México – 1901 a 1902 ................................... 35
2.1.3. Conferência em Rio de Janeiro - 1906 ..................................................... 35
2.1.4. Conferência na Cidade de Buenos Aires – 1910 ..................................... 36
2.1.5. Conferência na Cidade de Santiago - 1923 ............................................. 36
2.1.6. Conferência na Cidade de havana - 1928 ................................................ 37
2.1.7. Das Conferências Pré e Pós Segunda Guerra Mundial – 1933 a 1947 ... 38
2.1.8. Conferência de Bogotá (1948) a Caracas (1954) ..................................... 38
2.2. Da Estruturação da Carta da OEA .............................................................. 39
2.2.1. Natureza, Propósito e Princípios – Artigo 1º ao 3º ................................... 40
2.2.2. Membros da OEA – Artigo 4º ao 9º .......................................................... 41

10
2.2.3. Direitos e Deveres Fundamentais dos Estados Membros da OEA – Artigo
10º ao 21º................................................................................................ .43
2.2.4. Solução Pacífica de Controvérsias – Artigos 24º ao 27º .......................... 43
2.2.5. Segurança Coletiva – Artigos 28º ao 29º ................................................ 44
2.2.6. Desenvolvimento Integral – artigos 30º ao 52º......................................... 44
2.2.7. Dos Órgãos da OEA – Artigo 53º ............................................................. 44
2.2.8. A Assembleia Geral – Artigos 54º ao 60º ................................................. 45
2.2.9. A reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores – Artigos 61º
ao 69º ....................................................................................................... 46
2.2.10. Os Conselhos da Organização – Artigos 70º ao 79º............................ 47
2.2.11. Do Conselho Permanente – Artigos 80º ao 92º ................................... 47
2.2.12. Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral – Artigos 93 ao
98º ............................................................................................................ 48
2.2.13. Comissão Jurídica Interamericana – Artigos 99º ao 105º .................... 49
2.2.14. Comissão Interamericana de Direitos Humanos – Artigo 106º ............ 49
2.2.15. Secretária-Geral – Artigos 107º ao 121º .............................................. 50
2.2.16. Conferência Especializada – Artigos 122º ao 123º .............................. 51
2.2.17. Organismos Especializados – Artigos 124º ao 130º ............................ 51
2.2.18. Artigos finais da Carta de Bogotá – Artigos 131º ao 146º .................... 52
2.3. Considerações Finais em Respeito à Carta de Bogotá ............................... 53
3. Capitulo 3 ............................................................................................................. 55
3. Breve Síntese Histórica sobre a Regra do Esgotamento dos Recursos Internos
.......................................................................................................................... 55
3.1. As Exceções do domínio Reservado dos Estados e do Não-Esgotamento dos
Recursos Internos ....................................................................................... 56
3.2. Supressão do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos a Luz dos
Direitos Humanos e Demais Preceitos da OEA .......................................... 60
3.3. Dos Problemas Domésticos que Afetam a Eficácia da Justiça Brasileira .... 61
3.4. Da teoria de Cançado Trindade quanto ao tema Esgotamento dos Recursos
Internos e a sua Flexibilização .................................................................... 66
4. Considerações Finais ........................................................................................ 72
5. Referência Bibliográfica .................................................................................... 74

11
INTRODUÇÃO

Verifica-se no decorrer da história a profunda evolução dos Direitos Humanos,


ficando deste modo até mesmo os princípios clássicos norteadores do Direito
Internacional influenciados e moldados a uma maior flexibilização para melhor
atender, de forma mais humanitária, o socorro a justiça. Deste modo, o presente
trabalho de conclusão de Curso analisará sobre a flexibilização da aplicabilidade do
uso do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos sob fundamentações
humanitárias, ora, o direito de supressão de determinados recursos de nossa justiça
nacional em face ao alcance de justiça internacional, tema proposto e desenvolvido
por Augusto Cançado Trindade.

Tal discussão percorre em maior intensidade no âmbito internacional, apesar do


tema afetar diretamente a justiça Brasileira. Deste modo, a maior parte referencial
bibliográfico parte de Doutrinadores que tratam de temas correlacionados a justiça
internacional. Com base em alguns artigos e livros, a maior base deste trabalho tem
como fonte as doutrinas apregoadas por André de Carvalho Ramos, Flávia Piovesan,
Leslie Bethell, Valério de Oliveira MazzuolI, e por fim e como base principal as obras
de Augusto Cançado Trindade, que aborda de forma celebre diversos temas de
desenvolvimento humanitário na justiça internacional e nacional.

O primeiro capitulo tratará ao tema voltado aos Direitos Humanos, iniciando em


sua conceituação exponencial por diversos Doutrinadores, dando-se assim um norte
inicial na construção do trabalho. O abordamento histórico sobre a construção dos
Direitos Humanos e deverás importante para uma melhor compreensão do tema,
sendo tratado inicialmente com os principiais marcos históricos no âmbito mundial na
história bem como tratado na história de cada Constituição promulgada no Brasil e as
suas peculiaridades em face aos Direitos Humanos, ou seja, será tratado a evolução
dos Direitos Humanos por meio das Constituições. Em face a Ditadura decorrente no
Brasil, será tratado o tema da reconstrução da democracia expressa em nossa Carta
Magna de 1988 em paralelo a receptividade de tratados internacionais voltados aos
direitos humanos, principalmente a carta de São José da Costa Rica.

O capitulo dois aborda questões históricas e estruturais para melhor entender o


que seria a OEA, como surgiu, sua estruturação, objetivos, princípios, etc.. Iniciando-

12
se dos eventos históricos nos quais desencadearam a primeira conferência dos
Estados Americanos, e de forma detalhada todas as conferências desde 1826 a 1954,
com a finalização com a Carta de Bogotá, instrumento de suma importância para o
funcionamento da OEA. Será verificado nestas conferências o entendimento politico
entre os Estados Americanos no decorrer da histórica, tendo-se por fim uma
harmonização do que trata os Direitos Humanos. Em mesmo capitulo será abordado
artigo por artigo do pacto de Bogotá, exposto o esqueleto da OEA, seu funcionamento,
objetivos, princípios, órgãos e etc.

Por fim, em ultimo capitulo será abordado inicialmente o surgimento e evolução


histórica do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos, a exceção do domínio
reservado dos Estados e do Não Esgotamento dos Recursos Interno bem como a
possibilidade de supressão do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos
aplicado pela OEA a luz dos Direitos Humanos. Possuindo todas estas matérias, será
abordado o tema final desta obra explicando inicialmente os problemas domésticos
que afetam a eficácia da Justiça Brasileira e por fim, a teria de Augusto Cançado
Trindade sobre a flexibilização do uso do Principio do Esgotamento dos Recursos
internos na jurisdição da OEA no que concerne o acesso do indivíduo.

Como será visto, o próprio Cançado Trindade expõe que tal tema é de grande
discussão, não possuindo uma consolidação firme em sua pratica, apesar de perdurar
tal discussão desde o início do século passado. Porem a OEA, como será tratado mais
adiante, tem usado de forma moderna tal aplicação de flexibilização do Princípio do
Esgotamento dos Recursos Internos para o acesso do indivíduo perante o tribunal da
OEA, diferente de outros tribunais internacionais como a da União Europeia. Concluirá
que tal tema busca alcançar a eficácia da justiça, deixando de lado a morosidade e
alcançando o objetivo de forma célere, porquanto tal trabalho tem por objetivo expor
que existe a possibilidade de percorrer outros caminhos para evitar a morte da justiça
em face ao inimigo tempo, bem como será concluído que esta mutação não é dana
mais do que a reação de diversas desigualdades sociais e injustiças que assolam as
Américas a séculos.

13
1. CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
Os Direitos Humanos é uma concepção moderna derivado da refinação de
diversos fatores históricos do período das grandes guerras mundiais, porém antes
desta formulação moderna, primeiramente o termo era chamado de “direitos do
homem”, após, quando inseridas nas Constituições dos Estados, passou a ser
conhecidos como “direitos fundamentais”. A concepção na qual conhecemos
atualmente como “direitos humanos” surgiu com a inserção na lavratura da declaração
de direitos do homem e do cidadão de 1789, na França1. Cito trecho abaixo desta
declaração:

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo


em vista que a ignorância, o esquecimento ou desprezo dos direitos do
homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos
Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis
e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em
todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus
direitos e seus deveres [...]2

Como qualquer direito existente, o mesmo não surge do nada, sempre ficando
dependente de determinadas insatisfações e lutas para o seu nascimento. O mesmo
não se difere da declaração datada do dia 26 de agosto de 1789, França-Paris, ora
que tais palavras foram o prólogo para o estopim da revolução francesa.

Em continuidade trago como conceito inicial de Direitos Humanos o artigo 1º da


referida carta, sendo esta: “Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As
distinções sociais não podem fundamentar-se na utilidade comum”. Este artigo é
preciso em dizer que o homem é igual universalmente, independentemente de sua
origem ou em que acredita ou desacredita, ficando claro o objetivo em que o espírito
desta declaração tenta representar.

Em termos mais modernos, trago a frente o entendimento de André de Carvalho


Ramos, no qual ele diz tratar-se “de um conjunto mínimo de direitos necessários para
assegurar uma vida ao ser humano baseado na liberdade e na dignidade 3”. Em
continuidade, Joaquim Herrera Flores dita que “Os direitos humanos compõem uma

1 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 38-39;
2 A declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Disponível em:
<https://www.senat.fr/lng/pt/declaration_droits_homme.html> 27/04/2018;
3 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. op. cit. p. 27.

14
racionalidade de resistência, na medida em que traduzem processos que abrem e
consolidam espaços de luta pela dignidade da pessoa humana4”.

Segundo Erival da Silva Oliveira, é conceituado que:

De modo abrangente, pode-se entender que os direitos humanos


correspondem a todas as normas jurídicas externas e internas que visam
proteger a pessoa humana, tais como tratados, convenções, acordos ou
pactos internacionais bem como as Constituições dos Estados e suas normas
infraconstitucionais.5

Fernanda Barcellos de Almeida, em sua obra Teoria Geral dos Direitos


Humanos, também esclarece que:

Estes são ressalvas, restrições ou imposições ao poder político, escritas em


declarações, dispositivos legais e mecanismos privados e públicos,
realizados para fazer respeitar e concretizar as condições de vida que
possibilitem a todos os seres humanos manter e desenvolver suas qualidades
peculiares de inteligência, dignidade e consciência, e permitir a satisfação de
suas necessidades materiais e espirituais. 6

Alexandre de Moraes declara que os Direitos Humanos se colocam como


“previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de
consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno
desenvolvimento da personalidade humana7”. Bem como José Sebastião. Fagundes
Cunha, declara que:

Os Direitos Humanos são uma ideia política baseada na moral e intimamente


relacionada com os conceitos de justiça, igualdade e democracia. Expressão
do relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma
sociedade e entre indivíduos e Estados. Os Direitos Humanos devem ser
reconhecidos em todos os Estados, grandes ou pequenos, pobres ou ricos,
independentemente do sistema social e econômico adotados.8

Por fim, João Batista Herkenhoff declara em seu entendimento, como


conceituação de Direitos humanos:

Direitos do homem são, na modernidade, entendidos como os direitos


fundamentais que o ser humano possui pelo fato de ser homem ou mulher,
por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São

4 Joaquín Herrera Flores, Direitos Humanos, Interculturalidade e Racionalidade de Resistência. p.7.


5 OLIVEIRA, Erival da Silva. Direito Constitucional: Direitos Humanos. 2ª ed. 2011. ver. e atual. Editora
Revista dos Tribunais. p.15.
6 Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1996, p. 24.
7 MORAES, Alexandre. Direitos Humanos Fundamentais. Coleção Temas Jurídicos – Vol. 3. São Paulo:

Atlas, 1998. 2ª Edição. P.20


8 Âmbito Jurídico: Artigo Direitos Humanos em face da Dignidade da pessoa humana.

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9524>
Acesso em: 23/04/2018.
15
direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo
contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e
garantir.9

Em conclusão, são muitos os conceitos e entendimentos do que é os Direitos


Humanos, ora que é difícil valorar um conceito primo em face ao real valor humana,
porquanto sempre haverá a necessidade de colocar na balança o contraponto
contextual social e histórico bem como diversos outros requisitos necessários. Porém,
com estes poucos conceitos trazidos à baila, conseguimos ter uma noção conceitual
do que é Direitos Humanos.

1.2. A ESTRUTURAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Os Direitos Humanos é tema que percorre em voga em nosso ordenamento


jurídico Brasileiro e internacionalmente a muitos anos e ocasionando profundas
discussões, com o objetivo de se entender e principalmente pautar a sua
aplicabilidade. Ora que tal tema diverge há séculos e é sempre matéria de discussão
em diversas searas do direito e na política. Em base, os direitos humanos se
sustentam em um tripé, sendo estes a liberdade, igualdade e a dignidade. Com todas
essas diretrizes, e com diversas obras e estudos a respeito, é difícil valorar o que é
dignidade da pessoa humana, porém, conforme capítulo anterior, com os conceitos
expostos, possuímos um norte.

Em geral, o conceito não se valora seguido de uma premissa certa e estável,


deve-se colocar sempre o contexto social e histórico, porquanto tal fato influencia em
sua essência e aplicação. Segundo André de Carvalho Ramos, é defendido a tese de
que tal tema em questão exprime o direito de exigir de terceiros, determinadas
obrigações, podendo ser ao Estado ou um ente em particular. Em continuidade, ele
divide sob forma estrutural a seguinte formula: direito-pretensão (dever); direito-
liberdade (ausência de direito); direito-poder (sujeição); direito-imunidade
(incompetência)10

Seguindo os exemplos exposto em seu livro, primeiramente, o direito-pretensão


se baseia basicamente no direito de prestação do Estado ou ente particular, no qual

9 Curso de Direitos Humanos – Gênese dos Direitos Humanos. V.1. São Paulo: Acadêmica, 1994. p.
30
10 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo : Saraiva, 2014. p. 24.

16
decorre artigo 208, l, da Constituição Federal de 1988, definindo o direito à educação
fundamental de modo gratuito, sendo ao todo um direito a algo, um direito pré-
determinado, em suma um dever. O direito-liberdade, em resumo, consiste na
ausência do direito, tendo como exemplo pautado por André de Carvalho no artigo 5º,
VI, da CF de 1988, colocando o Estado em uma posição laica, ficando a critério do
indivíduo a escolha religiosa ou não, tudo baseado na ausência legal e em resultado,
gerando a liberdade religiosa exercida no Brasil. Em continuidade, o direito-poder, ora
sujeição, é o condicionamento imposto pelo Estado em atender determinada vontade
do cidadão em determinadas situações, exemplo do direito a um advogado e a
assistência da família quando alguém é privado de liberdade, em conformidade com
o artigo 5º, LXIII, da CF de 1988. E por fim o direito-imunidade, incompetência,
consistente ao fato de impedimento de determinada ação e tendo como exemplo o
artigo 5º, LVI, da CF de 1988, no qual é dito a impossibilidade de autoridade judiciária
em realizar a prisão quando o indivíduo não ter sido pego em flagrante e delito ou por
ordem escrita e fundamentada, surgindo assim a imunidade do Estado ou ente
particular na restrição de determinadas ações conforme lei11.

Outro ponto aludido por André de Carvalho é o fato de que os Direitos Humanos
possuem valores essenciais, sendo estes: universalidade, essencialidade,
superioridade normativa (preferencialidade) e reciprocidade. Ele expõe que:

A universalidade consiste no reconhecimento de que os direitos humanos são


direitos de todos, combatendo a visão estamental de privilégios de uma casta
de seres superiores. Por sua vez, a essencialidade implica que os direitos
humanos apresentam valores indispensáveis e que todos devem protegê-los.
Além disso, os direitos humanos são superiores a demais normas, não se
admitindo o sacrifício de um direito essencial para atender às “razões de
Estado”; logo, os direitos humanos representam preferências
preestabelecidas que, diante de outras normas, devem prevalecer12”.

Tirando o fato de que sempre haverá tropeços de interesses pessoais na


humanidade, André tenta conceituar um direito humanitário acima de qualquer
categoria ou catalogação, nação ou raça. língua ou lei e etc., um direito universal, com
base nos direitos fundamentais que deveriam ser empregados sem haver obstáculos
a todas as pessoas, trazendo paz no mundo.

11 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 25-26.
12 Ibid. p. 25.
17
A estruturação dos direitos humanos consiste também como subjetiva ou
objetiva. A subjetiva é forma pautada na contrapartida do Estado ou ente particular ou
de ambos. Quanto à objetiva, pode a mesma ser ativa ou passiva, ou seja, na
realização de determinadas ações ou na omissão da mesma13.

André de Carvalho traz uma reflexão importante quanto a valoração dos Direitos
Humanos, ora que em uma tentativa de conciliar tudo, gera-se certos problemas. O
primeiro se ajusta no simples fato de todos terem o “direito a ter direito”. A segunda
consequência é o conglomerado de direitos que se chocam, ou seja, o direito à vida
versus direito ao aborto, direito de propriedade versus direito ao meio ambiente
equilibrado, direito à liberdade jornalística versus direito à vida privada e etc.. Surge
assim o complexo entendimento para que se aplique a integração social em paralelo
a tantos outros interesses que, ao todo, merecem ser ouvido, porém a harmonia deve
prevalecer14.

1.3. PRINCIPAIS MARCOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS HUMANOS

A história em volta dos Direitos Humanos é deveras extensa, tendo seu início em
meados do século VIII e II a.C.15, porém será limitado o presente trabalho em
determinados pontos históricos relevantes a finalidade tratada aqui, ora OEA. Dentre
os principais marcos históricos, seriam estes o Iluminismo, Revolução Francesa e o
período dentre a Primeira e Segunda Guerra Mundial.

O período Iluminista deixou evidente a preocupação, entre os pensadores, em


deixar a existencial humano em primeiro plano em face à sociedade. Dos principais
pensadores são esses: John Locke em seu tratado sobre o governo, Jean-Jacques
Rousseau em sua obra Contrato Social, Thomas Hobbes em seu livro O Leviatã,
Charles-Louis de Secondat – Montesquieu - na obra O Espírito das Leis e dentre
outros. Tais pensadores plantaram a semente em que, ao brotar, encadeou o
surgimento da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, bem como
seguida da Revolução Francesa16.

13 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 25.
14 Ibid. p. 26.
15 Ibid. p. 29.
16 Ibid. p. 35 a 37;

18
Um pouco mais a frente, ocorre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, fato do
qual fez com que o mundo repensa-se em suas ações de forma drástica.
Primeiramente, a Primeira Guerra Mundial fora evento em que, pela primeira vez,
móvel grande parte do mundo em face a um conflito geopolítico imperialista que
desencadeou milhões de mortes de soldados e civis. Outro fato importante foi o
grande choque humanitário ao fato de ter surgido formas de matar novas e mais
eficazes, porém desumanas, sendo as principais delas a metralhadora e as bombas
de gás.

A Segunda Guerra Mundial fora acima de tudo uma Guerra ideológica,


proveniente de assuntos oriundos da Primeira Guerra Mundial bem como a questões
financeiras globais que ecoavam da crise mundial da década de 30. Possuindo
tecnologia para tanto, tal guerra fora mecanizada a ponto de ter aferido números
maiores de mortes do que da guerra anterior, bem como a mortes programadas de
forma logística nos campos de concentração nazistas e soviéticos.

Todos começaram a pensar no existencialismo e na continuidade do homem ao


fim da Segunda Grande Guerra. Com o espelho de tais fatos, foi realizado a
Conferência de São Francisco em 1945, no qual nascera a Organização das Nações
Unidas (ONU). E constando incompleto o rol do que seriam os direitos humanos, em
1948, em Paris, foi assinado a Declaração Universal de Direitos humanos (conhecida
também como Declaração de Paris)17. Tais cartas possuem um espírito humanitário
como núcleo, com a repulsa a qualquer ato contra a humanidade como ocorrerá entre
as grandes guerras. Deve ficar claro que estas cartas, acima de tudo, possuem a
intenção não só na proteção do homem mais sim em dispositivos que garantam a
própria existência do mesmo, porquanto ficou claro por meios das guerras que o
homem por si só possui a disposição de autodestruição se não haver medidas de
prevalências da paz. Dentre esse período pós-guerra, surgiu também a Carta de São
José da Costa Rica (1959), bem como o protocolo de Bogotá, tema do qual será
tratado minuciosamente mais à frente.

17 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 43;
19
1.3.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

É importante frisarmos a evolução histórica de nossas constituições para se ter


uma ideia de como o Brasil se portou em face aos problemas oriundos dos Direitos
Humanos. Da constituição de 1824 à de 1969. Deste modo, em cada tópico é sempre
importante ter em mente que, apesar de existente leis que visavam princípios e direitos
sociais, estas não eram as leis de primeiro plano no quesito aplicabilidade.

1.3.1.1. CONSTITUIÇÃO DE 1824

Tal carta foi outorgada por D. Pedro l, apelidada como Carta Imperial, adotada
sob o regime quadripartite. A formação de tal sistema governamental foi ideia dada
por Benjamin Constant, no qual dividia o governo entre o poder Legislativo, Executivo,
Judiciário e Moderador. O poder Moderador consiste em um controle supremo das
demais repetições do governo, sendo administrada e governada pelo imperador 18.

O artigo 179 da Constituição do império do Brasil de 1824, dita que: “A


inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por
base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Império, pela maneira seguinte”. Tem se aí os primeiros ditames de
direitos civis e políticos aos cidadãos Brasileiro. porém, tudo isso não deixou de ser
uma grande máscara que acobertava a escravidão, voto censitário e a exclusão
feminina vigente na época. Há também a questão eclesiástica, do qual era tido como
religião oficial o Catolicismo Apostólico Romano, não sempre permitido culto de outra
natureza19.

1.3.1.2. CONSTITUIÇÃO DE 1891

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 1891,


adotou como sistema de governo a República e a divisão de poderes de Montesquieu:
Poder legislativo, Executivo e Judiciário. Em continuidade, em seu artigo 72, é dito:
“Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e à
propriedade...” bem como ao artigo 78 “A especificação das garantias e direitos

18 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo : Saraiva, 2014. p.334;
19 Op. cit. loc. cit.
20
expressos na Constituição não exclui outras garantias e direitos não enumerados, mas
resultantes da forma de governo que ela estabelece e dos princípios que consigna” 20.

O fato de que, sendo a constituição que se resultou de uma revolução


republicana que ocorrerá em 15 de novembro de 1889, liderado pelo Marechal
Deodoro, não excluiu as inúmeras atrocidades cometidas pelos futuros Presidentes
Marechais, com base de tais ações serem provenientes dos grandes agros
cafeicultores e agros pecuaristas de nosso País. É importante salientar o fato de que
tal levante republicano ocorreu inspirado no positivismo que estava em moda na
época, porém os conflitos e interesse pessoais tornaram grandes barreiras para
aplicação de uma democracia de fato, e a dignificação da pessoa humana. Em suma
as ideias eram bonitas, mas a aplicabilidade era outra realidade. Outro ponto
importante é o fato dos grandes anos de dor e sofrimento de uma cultura ruralista e
escravocrata na época, ora que apesar da escravidão ter sido abolida, a concepção
de escravidão era aplicada sob outras formas, como a descriminação social ou o
trabalho análogo à escravidão contra os imigrantes e demais cidadãos 21.

O primeiro presidente, Marechal Deodoro da Fonseca, mesmo em seu governo


provisório e no definitivo, não deixou nada lhe impedir em usar a própria Constituição
para eliminar determinados inimigos e garantir empregos ministeriais e
governamentais a seus parentes. Em mesmo período, ocorreram conflitos importantes
na história brasileira que resultou de milhares de mortes na ostensiva contra a
Revolução Federativa, Revolta de Canudos, e a fome assolada pela hiperinflação de
um governo instável e corrupto e etc. De qualquer forma o Brasil taxou tais normas
humanitárias em suas constituições, pelo menos como ato simbólico22.

1.3.1.3. CONSTITUIÇÃO DE 1934

Tal constituição manteve o sistema de Governo da Constituição anterior, salvo


por algumas exceções. De tais alterações as mais importantes foram à adoção do

20 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo : Saraiva, 2014. p.334;
21 Schmidt, Paulo. Guia politicamente incorreto dos presidentes da República. 1º Edição. São Paulo:
LeYa, 2016. p. 18 a 24;
22 Ibid. p. 29 a 31.;

21
voto secreto, bem como aumento do poder executivo, definiu direitos políticos e
sistema eleitoral.

Em seu Título III (Declaração de Direitos), foram aplicados diversos direitos


políticos e civis. Ocorrerá aí a inovação em seu capítulo IV (Da Ordem Econômica e
Social), do qual surgiram vários direitos sociais, exemplo do artigo 121 referentes aos
famosos direitos trabalhistas. Desta última parte foi inspirada na Constituição alemã
de Weimar de 1919. Mas em base, dentre todos, o que mais se destaca é o direito a
voto para as mulheres e o reconhecimento de direitos aos trabalhadores 23.

1.3.1.4. CONSTITUIÇÃO DE 1937

Promulgada pelo Presidente Getúlio Vargas, em 1937, é famosa pelo título


“Constituição Polaca”, resultante de ter sido escrita com inspiração a Constituição da
Polônia, na época, exalando um tom fascista24.

Apesar do artigo 122 e seguintes (Dos Direitos e Garantias Individuais) e dos


direitos decorrentes do artigo 123 expressarem direitos de caráter humanitário, tais
artigos entram em choque com o artigo 123, do qual é expresso à supremacia do
Estado acima de tudo e de todos25. As constituições do Getúlio Vargas acobertaram
uma aplicação política na época baseada em inúmeras perseguições políticas e
sociais. Um exemplo de tal governo está descrito no livro Memórias do Cárcere26,
escrito por Graciliano Ramos, do qual conta com detalhes a sua prisão e tratamento
desumano pautado em acusações do qual desconhecia bem como provenientes de
seus ideais políticos comunistas27.

23 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p.344.
24 Ibid. loc. cit.
25 Ibid. loc. cit.
26 Livro Memórias de um cárcere, de Graciliano Ramos. Disponível em:
<https://drive.google.com/viewerng/viewer?url=http://ler-
agora.jegueajato.com/Graciliano+Ramos/Memorias+do+Carcere+(67)/Memorias+do+Carcere+-
+Graciliano+Ramos?chave%3D1677cfea7cb1b4e721f78316a481fd9c&dsl=1&ext=.pdf>.Acesso em:
23/04/2018;
27 Schmidt, Paulo. Guia politicamente incorreto dos presidentes da República. 1º Edição. São Paulo:

LeYa, 2016. p.p.140 a 150;


22
1.3.1.5. CONSTITUIÇÃO DE 1946

No governo tampão de Eurico Gaspar Dutra, sucessor de Getúlio e ex-ministro


de guerra do governo, foi o momento no qual surgirá a Constituição de 1946. Ora que
adentramos no Estado Novo, sendo instaurada a nova ordem Democrática Brasileira.
Em seu artigo 141, foi numerado o rol dos direitos e garantias individuais, e a cláusula
dos direitos decorrentes previstos no artigo 144, sendo um ato importante como à
retomada do direito à greve do artigo 158, do qual foi excluído da Constituição de
1937, e demais direitos sociais28.

Porém no governo Dutra, foi deixado de lado a aplicação de normas Trabalhistas


impostas na Constituição de 1934, tornando-se letra morta em muitas regiões do País
na época, bem como tomou medidas moralistas como o fechamento dos Cassinos
conforme decreto de 30 de abril de 1946, e o fechamento do partido PCB. Ora,
medidas em desacordo com princípios Constitucionais e princípios Humanitários29.

1.3.1.6. CONSTITUIÇÃO DE 1967

Decorreu-se alguns presidentes até que se chegasse à nova era brasileira, a


ditadura militar. A várias vertentes que dizem que o golpe se resultou da aclamação
do povo que não aguentava mais a instabilidade civil do País e a inerente guerra entre
os Brasileiros, provenientes do governo João Goulart, ou de uma vontade militar
decorrente de interesses externos, mais em suma o golpe de 1964 ocorreu e a
Ditadura Militar foi instaurada30. A Constituição promulgada em 1967 no governo do
General Castelo Branco foi carta que acabou de vez com tudo que se estava tentando
se estabelecer no tocante Direitos humanos. O Artigo 150 da referida constituição
previu rol de direitos humanitários, porém, no artigo 151 é dito que “Aquele que abusar
dos direitos individuais previstos nos §§ 8º, 23. 27 e 28 do artigo anterior e dos direitos
políticos, para atentar contra a ordem democrática ou praticar a corrupção, incorrerá
na suspensão destes últimos direitos pelo prazo de dois a dez anos, declarada pelo
Supremo Tribunal Federal, mediante representação do Procurador-Geral da
República, sem prejuízo da ação civil ou penal cabível, assegurada ao paciente a mais

28Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo : Saraiva, 2014. P. 344-345;
29 Schmidt, Paulo. op. cit. p.159 a 161;
30 Ibid. p. 226 a 227;

23
ampla, defesa”. Em suma o Estado se posicionou em referido artigo e demais leis
contra a ameaça explícita em face dos inimigos do regime31.

1.3.1.7. CONSTITUIÇÃO DE 1969

A próxima Constituição de 1969 manteve o mesmo enfoque da anterior, porém


com uma complementação do famoso Al-5, tal ato vigorou até dezembro de 197832.
Em sumo caracterizou as ações mais duras e arbitrárias que o regime produziu,
punindo de forma desenfreada qualquer um que se caracteriza inimigo do regime.
Dentre essas ações, as principais foram o poder do presidente em fechar o Congresso
Nacional e as Assembleias legislativas; o poder do presidente em assumir poder
legislativos, por meio de decretos-lei; a permissão do governo, sob pretensão à
segurança nacional, de intervir em estados e municípios e colocar interventores sob a
administração pública; censura prévia de música, cinema, teatro e televisão bem como
a censura à imprensa; a ilegalidade de reuniões políticas não autorizadas; suspensão
do uso de habeas-corpus por crimes de motivação política; poder de declarar
suspensivos os direitos políticos de qualquer cidadão; etc.

Tais poderes resultaram, no regime do presidente Castelo Branco a cassação


de dois mil políticos, 312 decretos-lei e 3.746 atos punitivos33. Este prólogo somente
foi o início de um extenso regime que perdurou 21 anos, do qual resultou de muitas
mortes sem justificativas e torturas e censuras. É famoso o caso do jornalista Vladimir
Herzog34, que em outubro de 1975, e do metalúrgico Manuel Fiel Filho, três meses
após, terem se enforcado na cadeia segundo a versão oficial, mais em verdade
torturados e mortos. De forma gradual e lenta os militares foram perdendo a força
devido à hiperinflação econômica e o sangue derramado a demasia. João Figueiredo
finalizou o governo ditatorial, entregando a faixa presidencial ao poder constituinte 35.

31 Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p.345.
32 Ibid. p.345.
33 Schmidt, Paulo. Guia politicamente incorreto dos presidentes da República. 1º Edição. São Paulo:

LeYa, 2016. p.230;


34 Vide o caso 12.879, Relatório n.º 71/2015, julgado pela OEA. Disponível em:
<http://www.oas.org/es/cidh/decisiones/corte/2016/12879FondoPt.pdf>. Acesso em 23/04/2018
35 Schmidt, Paulo. Guia politicamente incorreto dos presidentes da República. 1º Edição. São Paulo:

LeYa, 2016. p. 232 a 242;


24
1.3.1.8. CONSTITUIÇÃO DE 1988

Com todos esses períodos de negligência no tocante aos Direitos Humanos, o


Congresso Constituinte (1985-1987) teve como maior preocupação criar uma Carta
Cidadã na tal deixasse bem claro a posição Estatal na prevalência dos Direitos ao
Homem. Tal sentimento é proveniente dos 20 anos de ditadura, resultando da criação
de dispositivos Constitucional que impossibilitam qualquer retomada de atos
praticados neste regime anterior, bem como garantia de direitos políticos e cidadãos
suprimidos pelos militares. É nesse momento que foi introduzido dispositivos na
constituição de adotavam leis de proteção humanitárias já praticados no âmbito
internacional, como o artigo 5º, §2º a internacionalização dos direitos humanos e no
artigo 7º dos atos de Disposições Constitucionais Transitórias o Tribunal internacional
de direitos humanos que será tratado mais à frente36.

1.4. A RECONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA PÓS-DITATORIAL

Figura-se assim em tela o Brasil após 20 anos de ditadura. Com isso, é possível
imaginar o quão ferido a sociedade brasileira ficou após anos de luta. A Constituição
Federal de 1988 é nada mais e nada menos do que um novo pacto social, pacto de
reconciliação para uma nova era. Em termos históricos chega a se figurar como marco
na linha histórica do Brasil em rompimento para uma nova era. Tal constituição
alcançou direitos nunca antes almejados no Brasil, principalmente no que se trata dos
direitos humanos e direitos trabalhistas dispostos nos artigos 5º e 7º da referida carta
magna. Tais ditames, incrível que pareça se enraizaram na vida dos brasileiros,
tornando-se letras vivas e não morta no dia-dia. Basta ver a repercussão que se gerou
com a promulgação da reforma CLT37.

Vale ressaltar artigos da constituição que coloca em plano futuras promessas de


governança na melhorias e erradicação da fome, pobreza, desemprego, falta de maior
acesso a saúde, falta de acesso à uma melhor educação, não disposição de uma
eficaz segurança pública, economia ruim, preconceito de origem, raça, sexo, cor,

36Ramos, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2014. p.345.
37Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 85;
25
idade, desigualdade social, etc., enfocados no artigo 3º da CF/88. José Afonso da
Silva diz que:

É a primeira vez que uma Constituição assinala, especificamente, objetivos


do Estado brasileiro, não todos, que seria despropositado, mas os
fundamentais, e entre eles, uns que valem como base das prestações
positivas que venham a concretizar a democracia econômica, social e
cultural, a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana38.

Ou seja, nossa carta magna não é apenas uma constituição padrão, porém mais
do que isso, é carta que visa promessas, sonhos, e a tentativa de união de uma
sociedade melhor e mais unida. Com tudo, verifica-se que a maior intenção, ou pelo
menos resultado de tudo isso, é a dignificação da pessoa humana em primeiro plano
bem como o bem-estar da pessoa humana. Basta olharmos para as atrocidades
acometidas pelo antigo governo. Apesar de que uma econômica desenfreada e uma
má gestão, presente na política da vigência da nova constituição de 1988, traz mortes
e desgraças de outras formas, porém isso é uma outra discussão.

Existe aí um reencontro do princípio fundado por Kant, do qual traz à tona


preceitos de moralidade, dignidade, paz e direitos universais. Ora que o homem deve
existir como um fim em si mesmo e jamais com um meio, a ser arbitrariamente usado
para este ou aquele fim, conforme Kant. Por meio desta declaração o ser humano não
seja visto como uma coisa, um meio e sim prevaleça a dignidade da pessoa humana.
Segundo Kant só será possível tal preceito quando o ser humano se definir a um fim
em si mesmo, possuir valor intrínseco absoluto, a insubstituibilidade39. Verifica se que
nas normas Constitucionais encontra-se um pouco de Kant em cada palavra bem
como a Robert Alexy. Para Paulo Bonavides, “nenhum princípio é mais valioso para
compendiar a unidade material da Constituição que o princípio da dignidade da
pessoa humana40”. Seguindo essa premissa, Flávia Piovesan entende que :

Assim, seja no âmbito internacional, seja no âmbito interno (à luz do Direito


Constitucional ocidental), a dignidade da pessoa humana é princípio que
unifica e centraliza todo o sistema normativo, assumindo especial prioridade.
A dignidade humana simboliza, deste modo, verdadeiro superprincípio
constitucional, a norma maior a orientar o constitucionalismo contemporâneo,

38 José Afonso da Silva, Curso de direito constitucional, p. 93;


39 Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2013. p.p.88.
40 Paulo Bonavides, Teoria constitucional da democracia participativa, p. 233

26
nas esferas local e global, dotando-lhe de especial racionalidade, unidade e
sentido41.

Flávia Piovesan trás uma importante observação em respeito a Constituição de


1988, dizendo que:

Note-se que as Constituições anteriores primeiramente tratavam do Estado,


para, somente então, disciplinam os direitos. Ademais, eram petrificados
temas afetos ao Estado e não a direitos, destacando-se, por exemplo, a
Constituição de 1967, ao consagrar como cláusulas pétreas a Federação e a
República. A nova topografia constitucional inaugurada pela Carta de 1988
reflete a mudança paradigmática da lente ex parte príncipe para a lente ex
parte populi. Isto é, de um Direito inspirado pela ótica do Estado, radicado nos
deveres dos súditos, transita-se a um Direito inspirado pela ótica da
cidadania, radicado nos direitos dos cidadãos42.

O artigo 5º, §1º, reafirma em seu texto o princípio da aplicabilidade imediata das
normas Constitucionais, ou seja, é reforço de aplicação dos ideais de liberdade,
direitos e garantias fundamentais, conclui-se que não é uma simples norma, mas
norma que possui a sua força de aplicabilidade bem acentuada. Canotilho diz que:

Os direitos, liberdades e garantias são regras e princípios jurídicos,


imediatamente eficazes e actuais, por via direta da Constituição e não através
da auctoritas interpositio do legislador. Não são simples norma normarum
mas norma normata, isto é, não são meras normas para a produção de outras
normas, mas sim normas diretamente reguladoras de relações jurídico
materiais43.

Entende-se com o todo exposto o entendimento de que a nossa Constituição em


seus dispositivos trabalha para acompanhar assuntos pertinentes a proteção dos
direitos humanos em todos os âmbitos, não excluindo direitos dispostos no âmbito
internacional.

1.5. POSICIONAMENTO CONSTITUCIONAL INTERNO EM FACE AOS TRATADOS


INTERNACIONAIS.

Dentre muitas novidades trazidas a frente em nossa constituição, a nossa


também elenca princípios de abraçam direitos de defesa a dignificação humana
internacional. O artigo 4º da Constituição/88 traz a seguinte composição:

Inciso I da independência nacional; Inciso II da prevalência dos direitos


humanos; Inciso III da autodeterminação dos povos; inciso IV da não
intervenção; inciso V da igualdade entre os Estados; inciso VI da defesa da

41 Piovesan, Flávia. op. cit. p. 100


42 Ibid. p. 90.
43 José Joaquim Gomes Canotilho, Direito constitucional, p. 578.

27
paz; inciso Vll da solução pacífica dos conflitos; inciso Vlll do repúdio ao
terrorismo e ao racismo; inciso IX da cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade; inciso X da concessão de asilo político 44.

Flávia Piovesan traz um brilhante resumo dos posicionamentos internacionais do


Brasil nas Constituições anteriores, dos quais, até 1988 era delimitado somente a
assegurar os valores da independência e soberania do País (tema principal da
Constituição de 1824), a delimitar e proibir guerras e políticas de expansão de terras
bem como estimular a arbitragem internacional (Constituição de 1891 e de 1934) ou
do procedimento de aquisição de território (Constituição de 1934) ou a aplicação de
resoluções conflituosas por meios pacíficos (Constituição de 1946 e 1967)45. Um
resumo de tudo isso é uma citação que faço de Celso Lafer do qual:

Na experiência brasileira, o Império cuidou da independência e da


preservação da unidade nacional e a República, tendo consolidado as
fronteiras nacionais, afirmou a vocação pacífica do país, reconhecendo
progressivamente a importância da cooperação internacional para a
preservação da paz46.

É importante lembrar o contexto histórico, ora que, como dito acima, o império
se preocupava com a autonomia nacional e a não intervenção, a república a
conservação da Paz e a Constituição de 1988, de certa forma, aproveitou o
amadurecimento nacional para dar um passo do qual estávamos atrasados, sendo
este adentrar a política internacional. Em conclusão, trago à baila trecho do
Doutrinador Antônio Augusto Cançado Trindade do qual dita que:

Assim, a novidade do art. 5º (2) da Constituição de 1988 consiste no


acréscimo, por proposta que avancei, ao elenco dos direitos
constitucionalmente consagrados, dos direitos e garantias expressos em
tratados internacionais sobre proteção internacional dos direitos humanos em
que o Brasil é parte. Observe-se que os direitos se fazem acompanhar
necessariamente das garantias. É alentador que as conquistas do Direito
Internacional em favor da proteção do ser humano venham a projetar-se no
Direito Constitucional, enriquecendo-o, e demonstrando que a busca de
proteção cada vez mais eficaz da pessoa humana encontra guarida nas
raízes do pensamento tanto internacionalista quanto constitucionalista 47.

Nesta mesma linha, José Joaquim Gomes Canotilho posiciona-se dizendo que:

44 Constituição Federal de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> acesso em: 25/04/2018.
45 Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional / Flávia Piovesan. – 14. ed.,

rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013. p 92 - 93


46 Celso Lafer, prefácio ao livro de Pedro Dallari, Constituição e relações exteriores, p. XVII-XVIII. Para

uma análise detalhada dos princípios de relações exteriores nas Constituições brasileiras, ver
Constituição e relações exteriores, p. 23-55.
47 Antônio Augusto Cançado Trindade, A proteção internacional dos direitos, p. 631

28
As Constituições, embora continuem a ser pontos de legitimação,
legitimidade e consenso autocentrados numa 113/782 comunidade
estadualmente organizada, devem abrir-se progressivamente a uma rede
cooperativa de metanormas (‘estratégias internacionais’, ‘pressões
concertadas’) e de normas oriundas de outros ‘centros’ transnacionais e
internacionais (regionais e locais) ou de ordens institucionais intermediárias
(‘associações internacionais’, ‘programas internacionais’). A globalização
internacional dos problemas (‘direitos humanos’, ‘proteção de recursos’,
‘ambiente’) aí está a demonstrar que, se a ‘Constituição jurídica do centro
estadual’, territorialmente delimitado, continua a ser uma carta de identidade
política e cultural e uma mediação normativa necessária de estruturas
básicas de justiça de um Estado- Nação, cada vez mais ela se deve articular
com outros direitos, mais ou menos vinculantes e preceptivos (hard law), ou
mais ou menos flexíveis (soft law), progressivamente forjados por novas
‘unidades políticas’(‘cidade mundo’ ‘europa comunitária’, ‘casa europeia’,
‘unidade africana’48.

Conclui-se vertente seguida na atualidade é à adaptação de abertura das


normas internacionais para o âmbito interno, tornando parte da característica
constitucional de uma nação. O artigo 5º, §2º é norma que deixa claro a necessidade
de complementação de dispositivo infraconstitucional. Quem explica tal ponte é
Konrad Hesse, do qual dita que cabe a ordem constitucional aberta:

a) determinar os princípios diretores segundo os quais se deve formar a


“unidade política” e prosseguir a atividade estadual; b) regular o processo de
solução de conflitos dentro de uma comunidade; c) ordenar a organização e
o processo de formação da unidade política e da atuação estatal; de) criar os
fundamentos e normatizar os princípios da ordem jurídica global 49.

Ora que o exposto citado cria a dúvida quanto a forma hierárquica do qual essas
normas se posicionam, para ficar de forma clara, cito trecho expresso por Flávia
Piovesan, que expõe:

Propõe-se, nesse sentido, uma nova classificação dos direitos previstos pela
Constituição. Por ela, os direitos seriam organizados em três grupos distintos:
a) o dos direitos expressos na Constituição (por exemplo, os direitos
elencados pelo Texto nos incisos I a LXXVII do art. 5º); b) o dos direitos
expressos em tratados internacionais de que o Brasil seja parte; e, finalmente,
c) o dos direitos implícitos (direitos que estão subentendidos nas regras de
garantias, bem como os decorrentes do regime e dos princípios adotados
pela Constituição).50

Porém quando se trata de tratados de direitos humanos, a perspectiva


hierárquica muda de configuração, passando a ter papel constitucional, diferente das

48 José Joaquim Gomes Canotilho, Direito constitucional, p. 18.


49 Konrad Hesse, Grundzüge des Verfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, 12. ed.,
Heidelberg-Karlsruhe, 1980, p. 13, apud José Joaquim Gomes Canotilho, Constituição dirigente e
vinculação do legislador: contributo para a compreensão das normas constitucionais programáticas, p.
116
50 Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2013. p. 116.


29
demais como infraconstitucional. Vale citar o artigo 102, III, b, da Constituição Federal
do qual diz que “as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal”.
Concomitantemente o artigo 27 da Convenção de Viena protege esta aplicação,
alegando o não cabimento sob justificativas de prevalência da norma interna para
afastar cumprimento de tratado.

Os tratados internacionais não têm o poder para forçar a aplicação de normativas


de configuração constitucional interno, porquanto tal ação estaria versando na esfera
de base Constitucional do qual nem o próprio congresso possui poder tão liberal para
aferi-las. Porém, cabe a doutrina e ao STF interpretá-las, na luz da Constituição, qual
material em determinada situação possuem prevalência. De qualquer forma, trago a
frente Opinião Consultiva n. º 2 emitida pela Corte Internacional de Direitos Humanos,
de 2 de setembro de 1982:

Ao aprovar estes tratados sobre direitos humanos, os Estados se submetem


a uma ordem legal dentro da qual eles, em prol do bem comum, assumem
várias obrigações, não em relação a outros Estados, mas em relação aos
indivíduos que estão sob a sua jurisdição 51.

Nesta mesma linha, Flávia Piovesan entende que:

Esses argumentos sustentam a conclusão de que o direito brasileiro faz


opção por um sistema misto disciplinador dos tratados, sistema que se
caracteriza por combinar regimes jurídicos diferenciados: um regime aplicável
aos tratados de direitos humanos e outro aplicável aos tratados tradicionais.
Enquanto os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos — por
força do art. 5º, § 2º — apresentam hierarquia constitucional, os demais
tratados internacionais apresentam hierarquia infraconstitucional.52

Antônio Augusto Cançado expressa sua opinião a este respeito dizendo que:

Se para os tratados internacionais em geral, se tem exigido a intermediação


pelo Poder Legislativo de ato com força de lei de modo a outorgar às suas
disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento jurídico
interno, distintamente no caso dos tratados de proteção internacional dos
direitos humanos em que o Brasil é parte, os direitos fundamentais neles
garantidos, consoante os arts. 5º (2) e 5º (1) da Constituição brasileira de
1988, passam a integrar o elenco dos direitos constitucionalmente

51Juan Antonio Travieso. Derechos humanos y derecho internacional, p. 90


52Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2013. p.124.
30
consagrados e direta e imediatamente exigíveis no plano do ordenamento
jurídico interno.53

Sendo o Brasil signatário de Tratado Internacional que verse sobre Direitos


Humanos, alavanca a possibilidade de arguição de tais direitos de forma direta e não
indireta. Gera-se aí a questão se o ordenamento Brasileiro segue o sistema monista
ou dualista. Em resposta, Flávia Piovesan entende que:

Diante dessas duas sistemáticas diversas, conclui-se que o Direito brasileiro


faz opção por um sistema misto, no qual, aos tratados internacionais de
proteção dos direitos humanos — por força do art. 5º, § 1º —, aplica-se a
sistemática de incorporação automática, enquanto aos demais tratados
internacionais se aplica a sistemática de incorporação legislativa, na medida
em que se tem exigido a intermediação de um ato normativo para tornar o
tratado obrigatório na ordem interna.54

Em conclusão, sobre material que afere conflitos Constitucional e Normativas


internacionais no que verse Direitos Humanos, deveria sempre ser adotado o critério
mais favorável à vítima, ou seja, a que melhor proteja o indivíduo. Porém, sob toda a
tratativas expostas, não há de se negar que os tratados possuem efeitos positivos
para o amadurecimento ou pelo menos continuação de afirmação dos princípios de
proteção dos direitos humanos já existentes, expostos de plano de fundo em nossa
Constitucionais.

1.6. PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA

Conclui-se este capítulo com a exposição do Pacto de San José da Costa Rica,
carta na qual fez nascer o órgão responsável pelos direitos humanos e a sua
fiscalização e aplicação na OEA, a CIDH (COMISSÃO INTERAMERICANA DE
DIREITOS HUMANOS). Tal dispositivo possui um núcleo de proteção humanitária
paritária com a nossa Constituição, devido as duas serem o fruto de insatisfação
regional de mesmo escalão, ora que para constituição de 1988 é para o repúdio dos
20 anos de ditadura, a Carta de São José da Costa Rica é para o repúdio a
desigualdade social e crimes contra o ser humano praticados no âmbito regional das
Américas.

53 Antônio Augusto Cançado Trindade, A interação entre o direito internacional e o direito interno, p. 30
a 31.
54 Piovesan, Flávia op. cit. p.146.

31
Tal instrumento é de maior importância no sistema interamericano é a
Convenção Americana de Direitos Humanos. Foi assinada em San José, Costa Rica,
em 1969, entrando em vigor em 1978. Apenas Estados-membros da Organização dos
Estados Americanos têm o direito de aderir à Convenção Americana, que, até
dezembro de 2012, contava com 25 Estados-partes55.

Cabe ao Estado-membro a aplicação de todos os deveres estabelecidos da


referida carta, tratando-a em sua total plenitude, sem discriminação. Bem como se o
simples fato de consenso não for necessário, o exercício de medidas legislativas para
a devida adoção de direitos dentro do âmbito jurídico interno. Como expõe Thomas
Buergenthal:

Os Estados-partes na Convenção Americana têm a obrigação não apenas de


‘respeitar’ esses direitos garantidos na Convenção, mas também de
‘assegurar’ o seu livre e pleno exercício. Um governo tem,
consequentemente, obrigações positivas e negativas relativamente à
Convenção Americana. De um lado, há a obrigação de não violar direitos
individuais; por exemplo, há o dever de não torturar um indivíduo ou de não
privá-lo de um julgamento justo. Mas a obrigação do Estado vai além desse
dever negativo e pode requerer a adoção de medidas afirmativas necessárias
e razoáveis, em determinadas circunstâncias, para assegurar o pleno
exercício dos direitos garantidos pela Convenção Americana. Por exemplo, o
Governo de um país em que há o desaparecimento de indivíduos em larga
escala está a violar o art. 7º (1) da Convenção Americana, ainda que não
possa demonstrar que seus agentes sejam responsáveis por tais
desaparecimentos, já que o Governo, embora capaz, falhou em adotar
medidas razoáveis para proteger os indivíduos contra tal ilegalidade. 56[...]Os
Estados têm, consequentemente, deveres positivos e negativos, ou seja, eles
têm a obrigação de não violar os direitos garantidos pela Convenção e têm o
dever de adotar as medidas necessárias e razoáveis para assegurar o pleno
exercício destes direitos57”58.

55 Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 343.
56 Thomas Buergenthal, The inter-American system for the protection of human rights, 1984, p. 442
57 Ibid. p. 145
58 Piovesan, Flávia Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 14º ed., rev. e atual. São

Paulo: Saraiva, 2013. p.344


32
2. EVENTOS QUE DESENCADEARAM A CRIAÇÃO DA OEA:

A ideia de uma Organização dos Estados Americanos é uma concepção muito


mais antiga do que pensamos. De início podemos formular que as primeiras
manifestações ocorreram em meados de 1823, principalmente com a declaração
presidida pelo Presidente dos Estados Unidos da América James Monroe, do qual
apresentou perante o Congresso norte-americano medidas de combate contra a
colonização dos Estados LATINO-AMERICANOS. Naquele período, vários Estados
Latinos tinham recém se libertados, obtido a independência de Portugal e Espanha. A
doutrina Monroe tem como escopo um espírito libertador e revolucionário dos EUA,
muito proveniente do sentimento patriótico decorrente da recém guerra contra os
Britânicos na luta de sua independência, criando o lema “América para os
americanos”, vigente na cultura Americana59.

A Doutrina Monroe deixa claro o reconhecimento dos Estados recém-


independentes Latinos, bem como a neutralidade perante a Espanha e Portugal,
porém entende como não a favor em tentativas de colonizá-los novamente. Outro
ponto importante desta declaração é sobre o fato que tal pronunciamento foi de certa
forma uma advertência contra as ações aplicadas pela Santa Aliança, grupo criado na
Europa por volta de 1815, entre os Reinos da Rússia, Áustria e Prússia, sendo por
objetivo aplicações intervencionistas para o restante da Europa (como a Grécia) e
além dela (América do Sul) em face a restauração da monarquia e a sua defesa.60

Conforme visto na história, a Santa Aliança não durou muito tempo devido a
sistemáticas derrotas na Europa e nas Américas, se desfazendo logo em seguida pela
baixa moral. Nestas revoltas, grandes líderes Latino Americano abraçaram as
palavras pronunciadas pelo presidente Monroe, sendo um destes Simon Bolívar 61.

2.1. DAS CONFERÊNCIAS:

Vislumbra-se por meio das Conferências, desde a primeira até última recente, a
evolução e amadurecimento da OEA em vários quesitos por meio das discussões

59 Voltaire, Schilling. Estados Unidos e América Latina da Doutrina Monroe á Alca. 1º ed. Editora Leitura
XXI: 2002. passim.
60 Ibid. Loc. Cit.
61 Ibid. Loc. Cit.

33
dentre os Estados, sendo esses como jurídicos, sociais, econômicos e etc., ficam
evidente a importância de tal explicação neste presente trabalha de conclusão de
curso.

Simon Bolívar, em 1826, convidou os representantes de todos os Países das


Américas para a realização de uma reunião em prol da paz e segurança, das
conferências iniciais, tais ocorreram em Lima (1847), Santiago (1856), Lima (1864) e
Caracas (1883). Brasil e Estados Unidos não participaram destas conferências. Serão
expostas em ordem cronológica as conferências e as suas principais resoluções
dadas em cada uma delas a partir de 188362.

2.1.1. CONFERÊNCIA DE WASHINGTON – 1889 A 1890;

Das iniciativas iniciais de Simon Bolívar, gerou o fruto da primeira reunião dos
Estados Americanos, no qual ocorrerá em Washington em 1889. A ideia partiu do
Presidente James A. Garfield no qual designou ao seu secretário de Estado James G.
Blaine a convocação das 17 Repúblicas mais o Império Brasileiro para uma reunião
com o objetivo de promover soluções em face nas disputas comerciais inter-regionais.
Devido ao contratempo do assassinato do Presidente, a reunião foi designada para o
ano de 188963.

Os delegados não conseguiram chegar a um acordo em respeito às ideias


apresentadas por James G. Blaine, no que dizia respeito a mecanismos econômicos
inter-regionais, somente foi concordado na criação de uma União Internacional das
Repúblicas Americanas, com a sua respectiva sede. Vale frisar que o Brasil participou
desta reunião em dois momentos, parte inicial pela representação monárquica e,
quando houve a instauração da República, enviaram outro representante por parte da
República64.

62 BETHELL, Leslie. CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS. Disponível em: <


http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf> Acesso em: 03/04/2018, p. 1.
63 Ibid. p. 2.
64 ibid. loc. cit.

34
2.1.2. CONFERÊNCIA NA CIDADE DO MÉXICO – 1901 A 1902;

Com o intuito de se comemorar os 10 anos de funcionamento do Bureau da


União Internacional das Repúblicas Americanas, o presidente dos EUA William
McKinley formulou a proposta de uma segunda reunião dos Estados Americanos,
porém com sede fora dos Estados Unidos. Em convite, o México o aceitou, e por meio
de um contratempo com o assassinato do referido presidente, seu sucessor Theodore
Roosevelt manteve a iniciativa de McKinley.

Em data de 22 de outubro de 1901, no palácio Nacional da Cidade do México,


ocorreu a reunião dos referidos Estados. Dentre os participantes, o Brasil teve como
representante o jurista pernambucano José Higino Duarte Pereira, que morrera em 10
de dezembro daquele ano e não foi substituído. Das realizações, ficou aprovado o
arbitramento compulsório de disputas, o comércio interamericano e o direito
internacional. Nesta reunião, os Estados Latinos começaram a expressar
preocupação em face no intervencionismo dos Estados Unidos naquele período em
Cuba, no qual estava em luta de sua independência em face a Espanha, bem como a
anexação de Porto Rico pelos americanos e um protetorado em Cuba65.

2.1.3. CONFERÊNCIA NA CIDADE DE RIO DE JANEIRO – 1906;

Em 1905 a junta Governativa do Bureau Internacional, em proposta apoiada


pelos EUA e México, propôs a realização de próxima reunião em sede na América do
Sul. Em 6 de dezembro foi decidido como País sede o Brasil, e mesmo com oposição
da Venezuela e Argentina, a decisão foi mantida. Dos vinte e um Estados convidados,
Venezuela e Haiti não enviaram representantes66.

Em data de 25 de julho de 1906, no Palácio Monroe, ocorreu tal evento. Em sua


constituição, Joaquim Nabuco ficará como presidente da Conferência e como vice
Assis Brasil como secretário-geral. Os vices presidentes foram Elihu Root e barão do
Rio Branco67.

65 BETHELL, Leslie. CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS. Disponível em: <


http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf> Acesso em: 03/04/2018, p. 4.
66 Ibid. p. 5.
67 Ibid. loc. cit.

35
Das realizações, foram novamente discutidas as resoluções de arbitramento
compulsório, prevenção da intervenção armada para ressarcimentos de dívidas de
potências de fora, comercio, direitos autorais e patentes. Tal reunião foi ao fim, acima
de tudo, a manutenção de boas relações entre os Estados americanos. Ficou
estabelecido também a mudança de sede, para uma fixa nos EUA ao lado da casa
branca, do Bureau Internacional, ficando pronta e inaugurada às vésperas da quarta
Conferência em 191068.

2.1.4. CONFERÊNCIA NA CIDADE DE BUENOS AIRES – 1910;

A quarta Conferência, que ocorreu em 12 de julho de 1910, foi aprovada por


meio da ratificação do Bureau Internacional de decisão tomada na última conferência
para ser realizada na cidade de Buenos Aires. Devido a alguns conflitos naquele
período entre Bolívia contra Chile, Paraguai e Argentina, a reunião sofreu com a
ausência de vários Estados americanos. O clima não foi favorável devido a Argentina
se colocar como líder dos Estados latino americanos bem como a Argentina
demonstrar pretensões hostis aos EUA. Por fim tudo ficou estabilizado e o encontro
deu-se continuidade69.

Das discussões mantiveram-se as mesmas consolidações da reunião anterior,


porém de novidade, com os esforços do Advogado Chileno Alejandro Alvarez, na área
da saúde pública. Por fim, novamente houve mudanças de nomes dos títulos da
organização, passando a se chamar União de Repúblicas Americanas e do Bureau
para União Pan-Americana70.

2.1.5. CONFERÊNCIA NA CIDADE DE SANTIAGO – 1923;

Esta quinta conferência tardou a acontecer devido a eclosão da primeira guerra


mundial, porém em maio de 1915, na cidade de Washington, ocorreu a primeira
Conferência Financeira Pan-Americana. Com o fim da guerra, o presidente dos EUA
Woodrow Wilson estava em seus esforços para criação da Liga das Nações. Em 1922,
o diretor geral Leo Stanton Rowe enviou os convites aos Estados americanos,

68 BETHELL, Leslie. CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS. Disponível em: <


http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf> Acesso em: 03/04/2018, p.6.
69 Ibid. loc. cit.
70 Ibid. loc. cit.

36
ocorrendo no ano seguinte a quinta conferência em Santiago, Chile no dia 25 de
março71.

Dos Estados não participantes foram México, Bolívia e Peru, e como


representante do Brasil, o delegado Afrânio de Melo Franco, embaixador brasileiro na
Liga das Nações em Genebra, e Silvino Gurgel do Amaral, embaixador brasileiro no
Chile. Neste evento o clima de tensão em face dos EUA foi maior, devido às inúmeras
intervenções nos países na América Central e Caribe72.

Das realizações nesta conferência, ficou estabelecido o Pacto Gondra73, que


possui como objetivo evitar conflitos armados como ocorrerá entre Brasil contra
Paraguai. Por meio deste tratado, qualquer conflito deverá passar pelo crivo de
investigação a serem instalados em Washington e Montevidéu. Seria este ato uma
das primeiras desenvolturas na criação de um Tribunal Interamericano, ora OEA.

2.1.6. CONFERÊNCIA NA CIDADE DE HAVANA – 1928;

Ocorrendo na data de 16 de janeiro de 1928, na Universidade Havana, a


constituição de representantes desta conferência foram: discursos de abertura o
presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge, e pelo presidente cubano Gerardo
Machado; Charles Evans Hughes e Dwight Morrow, embaixador no México, chefiaram
a delegação americana; por parte do Brasil liderada por Raul Fernandes, e senador
José Matoso de Sampaio Correia e o deputado federal Lindolfo Collor 74.

Em evento, o clima de tensão contra o imperialismo crescente dos EUA chegou


ao seu ápice, em face a recém intervenção por parte dos EUA na Nicarágua (1926).
Bethel dita que, em seu entender, que “a Conferência de Havana pode ser
considerada como o marco do ponto mais baixo nas relações interamericanas durante
a Primeira República75”.

71 Ibid. loc. cit.


72 BETHELL, Leslie. CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS Disponível em: <
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf> 03/04/2018, loc. cit.
73 TRATADO PARA EVITAR O PREVENIR CONFLICTOS ENTRE LOS ESTADOS AMERICANOS

(TRATADO GONDRA) Disponível em: <http://www.oas.org/juridico/spanish/tratados/a-18.html>


03/04/2018;
74 BETHELL, Leslie. op. cit. p. 8 e 9.
75 Ibid. p.9.

37
2.1.7. DAS CONFERÊNCIAS PRÉ E PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - 1933 A
1947;

A sétima conferência ocorreu em Montevidéu em dezembro de 1933, a oitava


em Lima em dezembro de 1938. Entre estas duas conferências ocorreram uma
conferência especial intitulada “Conferência Interamericana para a Manutenção da
Paz” em Buenos Aires em dezembro de 1936, que contou com a presença do
presidente Franklin D. Roosevelt76.

Este encontro especial em 1936 ocorreu em face ao clima pré-guerra na Europa,


no intuito de entrelaçar boa aliança entre as Américas bem como, segundo Bethell:

Que a ameaça a qualquer nação americana seria considerada uma ameaça


ao conjunto das nações do continente. Além disso, foi aprovada a criação de
um mecanismo de consulta entre as repúblicas que imprimiria maior rapidez
a uma resposta conjunta diante de uma eventual ameaça. 77

Por fim, com o início da 2º Guerra Mundial, ocorreu encontro dos ministros das
Relações Exteriores americanos no Panamá (setembro e outubro de 1939); Havana
(junho de 1940) e Rio de Janeiro (janeiro de 1942). Com o fim da 2º Grande Guerra,
ocorreu à Conferência Interamericana sobre problemas da Guerra e Paz em
Chapultepec, na Cidade do México em fevereiro de 1945 bem como Conferência para
a Manutenção da Paz e da Segurança Continental no Rio de Janeiro, em agosto-
setembro de 194778.

2.1.8. CONFERÊNCIA DE BOGOTÁ (1948) E CARACAS (1954);

A nona conferência que ocorreu e Bogotá, em março e maio de 1948, foi o


momento de protocolo da Carta de Bogotá (Pacto de Bogotá), documento de origem
ao que conhecemos como OEA. Este evento fora de extrema importância comparado
aos demais eventos, porquanto foi um marco na consolidação de união dos Países
Latino Americano. A décima conferência, chamada de Primeira Conferência

76 BETHELL, Leslie. CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS. Disponível em: <


http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf> Acesso em: 03/04/2018, loc. cit.
77 A Era Vargas: dos anos 20 a 1945: Conferências Interamericanas. FGV CPDOC. Disponível em: <

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-
45/AGuerraNoBrasil/ConferenciasInteramericanas> acesso em: 03/04/2018.
78 BETHELL, Leslie. Op. Cit. p.10.

38
Interamericana, em Caracas em março de 1954, que possuiu como palco de
discussão as ditaduras vigentes em alguns Estados membros das américas.79

Em face ao Pacto de Bogotá, sua assinatura e entrada somente vigoraram em


data de 13 de dezembro de 1951, juntamente com a Carta da OEA assinada naquela
ocasião, outros tratados entraram em vigor, sendo o Tratado Americano de Soluções
pacíficas, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, o Convênio
Econômico de Bogotá e a Carta Internacional americana de garantias Sociais. As duas
últimas cartas não vingaram por falta de ratificação.

A Carta de Bogotá sofreu 4 reformas até então, sendo a primeira pelo protocolo
de Buenos Aires em 1967 (entrado em vigor em 1970), após com o Protocolo de
Cartagena das Índias em 1985 (com a entrada em vigor em 1988, conseguinte a
competência ampliada pelo Conselho Permanente e do Secretariado-Geral), a terceira
vez por meio do Protocolo de Washington em 1992 (Vigente desde 1997, introduzindo
carta de normas destinados a proteger o regime democrático) e por fim com o
Protocolo de Manágua em 1993 (Vigência a partir de 1996, sendo esta com normas
com o intuito em auxiliar o desenvolvimento regional). Fato curioso sobre a carta é
que, com a exceção da carta original de 1948, as demais reformas não foram
ratificadas por todos os Estados membros, gerando assim uma não uniformidade
jurisdicional entre os membros80.

2.2. DA ESTRUTURAÇÃO DA CARTA DA OEA:

Fica claro que de todas as conferências, o intuito inicial era a defesa da paz e
segurança entre os recém-Estados independentes, após as relações geopolíticas
entre seus membros (principalmente em face ao imperialismo norte americano). O
Pacto de Bogotá é um filtro de todos esses eventos, possuindo como núcleo os
Direitos Humanos.

A Carta de Bogotá é um tratado internacional multilateral aberto instituidor de


organização internacional. Aberto no sentido de qualquer estado Americano pode

79 La X Conferência Interamericana, Simón Alberto Consalvi. Disponível em:


http://runrun.es/opinion/historia/23647/la-x-conferencia-interamericana-caracas-1954.html. Acesso em:
03/04/2018.
80 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:

Editora RTP, 2011. p. 651 a 652


39
participar. O Pacto de Bogotá também possui a afirmação dada no artigo 52, §1º, da
Carta da ONU, no qual dita a possibilidade de criação de micro organizações em prol
de resoluções e apoio regional (Um artigo que possui a intenção de dar mais
autonomia aos Estados membros em suas resoluções regionais no quesito paz e
segurança. Não sobrecarregando a própria ONU).

Vislumbra-se que a Carta é dividida entre três partes, sendo do artigo 1º ao 52º
a dogmática e Princípios, do artigo 53º ao 130º a parte Orgânica, e por fim do artigo
131º aos 146º trata dos dispositivos transitórios81. Abaixo a exposição destes.

2.2.1. NATUREZA, PROPÓSITO E PRINCÍPIOS – ARTIGOS 1º AO 3º;

Conforme Mazzuoli, o artigo 1º e 2º consagram a natureza, propósito e princípios


do Pacto de Bogotá82, ora que os próprios artigos são autoexplicativos, valendo-se
assim citação do artigo 1º da Carta:

Os Estados americanos consagram nesta Carta a organização internacional


que vêm desenvolvendo para conseguir uma ordem de paz e de justiça, para
promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua
soberania, sua integridade territorial e sua independência. Dentro das Nações
Unidas, a Organização dos Estados Americanos constitui um organismo
regional.83

Consagra-se assim, como plano de fundo desta organização interamericana,


acima de tudo, a manutenção da Paz e Justiça. Ora que das duas balizadoras “Paz”
e “Justiça”, exprime-se diversas outras importantes manifestações da carta, como
erradicar a pobreza, promover a justiça, auxiliar no crescimento da economia dos
Países membros, evitar conflitos, proteger os Direitos Humanos e etc. Conclui-se
assim o artigo 1º e 2º a Natureza e Propósito da Carta de Bogotá.

Do artigo 2º, a Carta deixa claros seus Princípios no propósito em cumprir suas
obrigações regionais, como previamente exposto no parágrafo acima, na promoção
da Paz e Justiça, defende-se a promoção da Democracia, auxiliar na manutenção da
paz e evitar possíveis conflitos dentre os países membros e em caso de agressão, de

81 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 652.
82 Ibid. loc. cit.
83 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html>05/04/2018.
40
forma solidária, repelir, também no auxiliar do desenvolvimento de possíveis
problemas políticos, jurídicos ou econômicos, bem como promover o desenvolvimento
social, econômico e cultural, combater a pobreza e fome e por fim combater o excesso
armamentista dos países membros. Fica assim claro o real objetivo desta Carta, sendo
uma função de fato voltada na boa harmonia entre os Países membros e não
membros.

No artigo 3º são expostos os princípios que devem ser regidos pelos Estados-
membros84. Dos principais, consta o respeito entre os Estados, principalmente no
tocante Soberania, concomitantemente o dever de boa-fé e solidariedade. O respeito
na escolha do sistema política que ordenará a sistemática interna doméstica de cada
Estado é um direito previsto neste artigo, não podendo nenhum Estado interferir. A
eliminação da pobreza de qualquer espécie e a intolerância a guerra, bem como a
prevalência absoluta na resolução de qualquer conflito por meio pacífico (CIDH 85), a
promoção na desenvoltura econômica. Por fim, a prevalência do Homem em todos os
aspectos (respeito raça, nacionalidade, credo ou sexo e etc.)86.

2.2.2. MEMBROS DA OEA – ARTIGOS 4º AO 9º;

O capítulo III, em seu artigo 4º trata-se sobre a composição e configuração dos


membros. Neste modo, nas formas de ingresso, sua permanecia e sua exclusão. No
seu artigo 5º, é colocada a necessidade de ratificação do Estado Americano da Carta
da OEA para se tornar membro, após em seu artigo 6º fala sobre o procedimento de
aderência à OEA, para que o requerimento deve ser feita perante a Secretaria-Geral,
e será analisado a possibilidade de entrada ou não de tal Estado, vale frisar que um
dos importantes requisitos analisados nesta etapa é a verificação de que tal Estado
seja independente, bem como que o Estado que seja ciente das suas obrigações e
compromissos que assumira com a sua ratificação. Por fim, a Assembleia-Geral, após
recomendação do Conselho Permanente da Organização, determinará, com o voto
afirmativo de dois terços dos Estados-membros, se convém autorizar o Secretário-

84 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p.p. 653.
85 CIDH: Corte Interamericana de Direitos Humanos
86 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html acesso em: 05/04/2018.
41
geral a permissão para o Estado solicitante assine a Carta e deposite o respectivo
instrumento de ratificação, conforme artigo 7º87.

Uma curiosidade sobre a composição da OEA é de que: na sua criação em 1948


pelos fundadores, os mesmos foram ao total 21: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, EL Salvador, Estados
Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru,
Uruguai e Venezuela.. Após a incorporação a Carta entre 1967 e 1990, os novos
Estados membros foram: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Canadá.
Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Saint
Kitts e Nevis, Suriname e Trinidad e Tobago, totalizando-se 35 Estados membros88.
O artigo 8º traz uma complexa situação, intitulada como “redação misteriosa” segundo
Jean Arrighi, o artigo dita que

A condição de membro da Organização estará restringida aos Estados


independentes do Continente que, em 10 de dezembro de 1985, forem
membros das Nações Unidas e aos territórios não-autónomos mencionados
no documento OEA/Ser.P, AG/doc.1939/85, de 5 de novembro de 1985,
quando alcançarem a sua independência.

O problema gera-se, conforme Jean Michel Arrighi, no sentido de que:

No continente americano territórios ainda submetidos à tutela colonial, que


poderão, no futuro, ser novos Estados independentes, em condições de
solicitar seu ingresso na Organização. No entanto, há uma situação muito
especial, a das Ilhas Malvinas. A República Argentina considera essas ilhas
parte de seu território, ocupado de forma ilegítima pelo Reino Unido. Para
evitar a possibilidade de essas ilhas constituem um Estado independente, e
solicitarem o seu ingresso na OEA, a reforma da Cartagena de India
incorporou à Carta o artigo 8º, de redação misteriosa, o qual remete o leitor a
um documento de difícil acesso e complexa identificação burocrática 89

em continuidade, tal documento OEA/Ser.P, AG/doc.1939/85, de 5 de novembro de


1985, elaborado pelo secretariado geral da OEA, é intitulado como “Informação sobre
a Evolução constitucional dos Territórios Não Autônomos Situados no Continente
Americano e Outros Territórios Americanos vinculados a Estados Extracontinentais”,
e segundo Arrighi, tais Estados citados são

É estudada a situação dos territórios dependentes da Grã-Bretanha (Anguilla,


Bermudas, Ilhas Cayman, Ilhas Turks e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas e
Montserrat), da França (Guadalupe, Martinica, Guiana Francesa e Saint-

87 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Op. Cit. p. 654.


88 Jean Michel Arrighi. OU: Organização dos Estados Americanos, cit., p. 30.
89 Ibid. Loc. Cit.

42
Pierre e Miquelon) e dos vinculados à Holanda (Antilhas Holandesas,
integradas por Aruba; Bonaire, Curaçao; Saba; San Eustáquio e San Martin)”,
não havendo “menção alguma às Ilhas Malvinas, e por isso foi utilizado como
referência90.

Por fim, no artigo 9º, um membro da Organização que tenha seu Governo
democrático deposto a força, poderá ser objeto de análise para a sua suspensão no
direito de participação da OEA, por meio de sessões da Assembleia-Geral, da Reunião
de Consulta, dos Conselhos da Organização e das Conferências Especializadas, bem
como das comissões, grupos de trabalho e demais órgãos que tenham sido criados.
Porém, tais medidas só serão adotadas quando forem infrutífera as tentativas de
gestões diplomáticas em restabelecer a democracia no Estado membro afetado91.

2.2.3. DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS MEMBROS DA


OEA – ARTIGOS 10º AO 21º;

De modo breve, a composição no artigo 10º ao 21º não é nada mais do que a
exposição mais detalhada do contido no artigo 3º, no tocante os direito e deveres dos
Estados membros, como por exemplo: soberania, igualdade, solidariedade, respeito
mútuo, jurisdição, e etc.. Sendo assim, os Estados possuem sim autonomia política
em suas decisões domésticas ou externas, porém cabe a decisão passar pelo crivo
se está respeita ou não a democracia exposta na carta de, bem como se respeito a
soberania do outro Estado membro, e por fim, o respeito a dignidade da pessoa
humana (Direitos humanos) 92.

2.2.4. SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS – ARTIGOS 24º AO 27º;

Neste capítulo é tratado à forma na qual os Estados membros devem se portar


na resolução de possível conflito. Das formas de resolução, o artigo 25 dita: “São
processos pacíficos: a negociação direta, os bons ofícios, a mediação, a investigação
e conciliação, o processo judicial, a arbitragem e os que sejam especialmente
combinados, em qualquer momento, pelas partes”93.

90 Ibid. p. 30-31.
91 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 655.
92 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados Disponível em:

<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html>:05/04/2018.
93 Ibid. loc. cit.

43
Quando não for possível se resolver o determinado problema pelos meios
exposto no artigo 25, as partes deverão buscar a resolução por meio de um processo
legal, ora, a solução deste problema deverá se desenvolver sempre por meio pacífico.

2.2.5. SEGURANÇA COLETIVA – ARTIGOS 28º AO 29º;

O artigo 28 deixa bem claro que, qualquer tentativa de agressão de qualquer


espécie contra algum Estado membro, será esta entendida como aferida contra todos
os demais membros, neste modo conforme o artigo 29 expõe que “em obediência aos
princípios de solidariedade continental, ou de legítima defesa coletiva, aplicarão as
medidas e processos estabelecidos nos tratados especiais existentes sobre a
matéria94”.

2.2.6. DESENVOLVIMENTO INTEGRAL – ARTIGOS 30º AO 52º;

Do capítulo VII da Carta da OEA, dentre os artigos 30º as 52º, é tradado uma
série de medidas coletivas e individuais devidos aos Estados-membros para que
pratique ações em prol do desenvolvimento social em todos os aspectos e setores.
Além do social, pauta outros objetivos, como na economia em face no
desenvolvimento de medidas de interações entre os Estados em prol ao crescimento
e desenvolvimento econômico e social95.

Ora que é acima de tudo um “desenvolvimento integral”, ou seja, desenvolver


todos os setores sociais de forma unificada é a ação de todos os Estados membros
se ajudando em prol de melhores patamares e projeções sociais.

2.2.7. DOS ÓRGÃOS DA OEA – ARTIGO 53º;

No capítulo VIII, artigo 53º, é taxado rol de órgãos para o mecanismo de


funcionamento da Carta da OEA, sendo estes:

a) Da Assembleia Geral; b) Da Reunião de Consulta dos Comissão Jurídica


Interamericana; e) Da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; f) Da
Secretária-geral; g) Ministros das Relações Exteriores; c) Dos Conselhos; d)
Da Das Conferências Especializadas; e) Dos Organismos Especializados.”
Bem como em seu parágrafo único, deixa claro a possibilidade em se criar,

94 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html: acesso em: 05/04/2018.
95 Ibid., loc. cit.

44
“além dos previstos na Carta e de acordo com suas disposições, os órgãos
subsidiários, organismos e outras entidades que forem julgados
necessários96.

Abaixo será tratado de forma mais detalhada cada um destes órgãos,


especificando seus objetivos e funções.

2.2.8. A ASSEMBLÉIA GERAL – ARTIGOS 54º AO 60º;

A Assembleia Geral é um órgão supremo na Organização dos Estados


Americanos. Tem por principais atribuições, além das outras que lhe confere a Carta:
a) decidir questões políticas gerais da organização, sendo ela de qualquer natureza
em face de todos os membros da OEA; b) Estabelecer normas para devido
funcionamento de algum outro órgão; c) realizar atos de harmonização entre a ONU
em prol de melhor cooperação; d) promover a colaboração com demais organizações
internacionais, principalmente no setor econômico, social e cultural; e) Aprovar
orçamento-programa da organização; f) Analisar e colocar em debate para aprovação
relatórios redigidos por Ministros das Relações Exteriores na proposituras de suas
recomendações e consultas; g) Adotar as normas gerais que devem reger o
funcionamento da Secretária-Geral; h) aprovar regulamentos e , pelo voto de dois
terços, sua agenda97.

Do artigo 55º ao 60º, algumas ponderações são necessárias. O artigo 55


expõem os princípios balizadores do qual cada Estado membro deverá contribuir para
auxiliar na manutenção e funcionamento da OEA, ora que será levada em conta a
capacidade financeira de cada Estado-membro, e ficando ao crivo de aprovação de
2/3 em Assembleia.

O artigo 56º define que cada Estado-membro tem poder de 1 voto, representados
por seus respectivos delegados. Do artigo 57º define que os Estados-membros
deverão se encontrar a cada um ano, após determinado o regulamento e sede
escolhida em respeito ao rodízio. Essa escolha se dá anterior a última reunião do qual

96 Ibid. loc. cit.


97 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html: 05/04/2018.
45
já definiu onde será a próxima reunião. Porventura os Estados não consigam se reunir
na sede escolhida, a mesma será realizada na Secretaria-Geral98.

O artigo 58 determina a possibilidade de reuniões extraordinárias do qual será


deliberada com a aprovação de 2/3 em assembleia. O artigo 59 expõem o sistema de
aprovação, ora o voto, que poderá ser por maioria, 2/3, de acordo com o disposto na
carta. Por fim, o artigo 60 expõe a forma na qual será elaborado a agenda e o relatório
que será enviado a cada estado membro antes da assembleia. Conclui-se por que a
Assembleia-Geral é a voz de todos os Estados membros, nada é decidido sem antes
a aprovação de todos.

2.2.9. A REUNIÃO DE CONSULTA DOS MINISTROS DAS RELAÇÕES


EXTERIORES – ARTIGOS 61º AO 69º;

A Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores é o órgão do qual


deverá ser convocada a fim de considerar problemas de natureza urgente e de
interesse comum para os Estados americanos, bem como servir como Órgão de
Consulta, conforme dispõem o artigo 61. Qualquer Estado membro poderá convocar
a propositura desta reunião, artigo 62, porém, depois de recebido pelo Conselho
permanente da Organização a propositura desta reunião ficará ao crivo de análise se
será devido ou não a sua convocação99.

A agenda e o regulamento serão elaborados pelo Conselho Permanente, artigo


63, ficando aberto para possíveis considerações pelos Estados membros. Em reunião
convocada, se algum Estado membro não puder participar far-se-á representar por
um delegado especial100.

O artigo 65º define os poderes ao Conselho Permanente convocar a reunião de


imediato, sem o crivo de preparo anterior de agenda e regulamentações, no caso de
ataque armado contra algum Estado membro a fim de deliberar medidas urgentes. Em
auxílio, o artigo 66 expõe a formação de um Conselho Consultiva de Defesa para

98 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 657-658.
99 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html acesso em: 05/04/2018.
100 ibid. loc. cit.

46
aconselhar o Órgão de Consulta em respeito a eventuais problemas de colaboração
militar. Tal Conselho consultivo de Defesa será composto pelas mais altas autoridades
militares de cada Estado membro, tendo cada Estado também um poder de voto
unitário conforme o artigo 67101.

A Comissão Consultiva de Defesa será convocada nos mesmos termos que o


Órgão de Consulta, quando este tenha que tratar de assuntos relacionados com a
defesa contra agressão conforme o artigo 68. Por fim o artigo 69 expõe que quando a
Assembleia Geral ou a Reunião de Consulta ou os Governos lhe cometerem, por
maioria de dois terços dos Estados membros, estudos técnicos ou relatórios sobre
temas específicos, a Comissão também se reunirá para esse fim102.

2.2.10. OS CONSELHOS DA ORGANIZAÇÃO – ARTIGOS 70º AO 79º;

A carta da OEA define dois tipos de conselhos, sendo o primeiro Conselho


permanente (tratado anteriormente) e o Conselho Interamericano de Desenvolvimento
Integral, sendo o último surgido após o protocolo de Manágua. Ambos dependem da
anuência da Assembleia Geral bem como pela Reunião de Consulta dos Ministros das
Relações Exteriores, e aplicando suas funções designadas conforme a Carta OEA,
cada país membro poderá fazer-se representar nestes conselhos, com poder de um
voto, conforme artigo 71.

Cada conselho conforme visto brevemente em capítulos anteriores, poderá


apresentar projetos ou propostas perante a Assembleia Geral, bem como conforme
artigo 73 poderá apresentar: propostas, estudos, projetos de instrumentos
internacionais perante as conferências especializadas. Tudo em prol da melhoria e
agilidade em aplicar o Direito de forma mais efetiva.

2.2.11. DO CONSELHO PERMANENTE – ARTIGOS 80º AO 92º;

Representado por um membro de cada Estado participante da OEA, tal órgão


possui um sistema de rodízio para definir os seus presidentes. Tal sistema define pelo

101 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html acesso em: 05/04/2018.
102 ibid. loc. cit.

47
segmento em ordem alfabética dos nomes (em espanhol), e os vice-presidentes em
ordem inversa, não superando ambos seis meses103.

O Conselho ficará encarregado dos assuntos de qualquer matéria que encarrega


a Assembleia-Geral ou a Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores,
conforme artigo 82. Também possui poder de auxiliar e aplicar considerações
adequadas e soluções de qualquer controvérsia (Exceção a processos em tramitação
previstos na OEA) para alcançar resoluções pacíficas104.

Por fim, compete ao Conselho também: a) executar as decisões tomadas pela


assembleia-Geral e Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores,
quando não confiado a nenhum outro órgão; b) Zelar pelo bom funcionamento da
Secretária-Geral, principalmente no que tange as normas, para o devido cumprimento
de suas funções administrativas; c) Conforme artigo 60, atuar como Comissão
Preparatória da Assembleia-Geral, salvo quando decidido de outra maneira pela
Assembleia-Geral; d) realizar o preparo quando solicitado projetos para facilitar a
colaboração entre a Organização dos Estados americanos e as Nações Unidas; e)
formular recomendações à Assembleia-Geral em prol do seu bom funcionamento e
demais órgãos subsidiários; f) apresentar observâncias e recomendações dos
relatórios entregues pelo Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral da
Comissão Jurídica Interamericana, Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
Secretária-Geral e de demais organismos; g) e demais atribuições conforme a OEA e
artigo 91105.

2.2.12. CONSELHO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRAL –


ARTIGOS 93º AO 98º;

Tal Conselho, seguindo a mesma lógica da anterior, possui um representante


de cada membro-Estado, e, possui como função acima de tudo (artigo 93) promover
a cooperação entre os Estados-Membros em prol do desenvolvimento Integral,

103 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 658-659.
104 Ibid. p. 659.
105 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html acesso em: 05/04/2018.
48
resultando na erradicação da pobreza crítica bem como econômico, social,
educacional, cultural, científico e tecnológico (artigo 94)106.

2.2.13. COMISSÃO JURÍDICA INTERAMERICANA – ARTIGO 99º 105º;

Conforme artigo 99 da Carta de Bogotá, o capítulo XIV coloca a comissão jurídica


corpo consultivo da Organização no âmbito Jurídico, promovendo o desenvolvimento
da codificação do direito internacional, estudar possíveis problemas para amenizar
problemas jurídicos entres as relações dos Países, e por fim promover a uniformização
da jurisprudência. Somando o artigo 99 e 100 da Carta, tal comissão possui muito
mais autonomia do que por exemplo o órgão correspondente da ONU107.

A sede da Comissão Jurídica encontra-se atualmente na Cidade de Rio de


Janeiro, desde 1906, quando foi criada, porém nada impede em atuar em qualquer
outro lugar do qual seja necessário ou requisitado108.

Das principais contribuições da Comissão, destaca-se Código Bustamante de


1928 e Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969, porém fora a estas
duas ilustres Cartas, tal Comissão tem agido em prol do Continente de forma brilhante,
servindo como parâmetro de exemplo entre outras organizações mundiais no âmbito
jurídico.

2.2.14. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS – ARTIGO 106º;

Pode-se destacar com segurança que tal órgão, dentre os demais, possui papel
significativo aos objetivos da carta, por possuir funções de responsabilidade no
assunto de relevância da OEA: Direitos Humanos. Criado em 1959 em Santiago,
Chile, seu estatuto aprovado em 1960 pelo Conselho da OEA vem atuando em prol
das queixas dos cidadãos dos Estados-Membros e do início a processos de
responsabilização internacional do Estado pela violação dos Direitos Humanos. A
Comissão é ao mesmo tempo órgão da OEA e órgão da Convenção Americana sobre

106 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html acesso em: 05/04/2018.
107 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 660.
108 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:

Editora RTP, 2011. p. 660.


49
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), por fim, servindo como
instância para promover e proteger os direitos humanos dos cidadãos dos Estados
membros.

2.2.15. SECRETÁRIA-GERAL – ARTIGOS 107º AO 121º;

A Secretária Geral é órgão central e permanente, tendo a sua sede em


Washington, D.C109. É chefiada pelo Secretário-Geral, eleito pela Assembleia-Geral,
por um período de cinco anos, não podendo ser reeleito por mais de uma vez bem
como substituir por outro de mesma nacionalidade, artigo 107º e 108º.

A segunda parte do artigo 110º traz de forma sucinta a função do Secretário-


Geral, sendo que tem o poder de palavra “qualquer assunto que, na sua opinião, possa
afetar a paz e a segurança do Continente e o desenvolvimento dos Estados
Membros110”.

Conforme o artigo 112º da Carta, tem como funções: a) encaminhar ex officio


aos estados membros para convocar para a participação de Assembleia-Geral,
Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, Conselho Interamericano
de Desenvolvimento Integral e das Conferências Especializadas; b) assessorar
quando permitido e possível outros órgãos no que tange as agendas e regulamentos;
c) preparar o projeto de Orçamento-programa da Organização; d) proporcionar à
Assembleia-Geral e aos demais órgãos serviços de secretaria permanentes e
adequados, bem como dar cumprimento a seus mandatos e encargos; e) custodio os
documentos e arquivamentos da Assembleia-Geral, Reunião de Consulta dos
Ministros das Relações Exteriores, Conselho Interamericano de Desenvolvimento
Integral e das Conferências Especializadas; f) serve como depósito de tratados e
acordos internacionais, bem como ratificações; g)apresentar a cada período um
balanço geral em assembleia geral das contas; h) auxiliar relações de cooperação,
quando solicitado, em face de outras organizações ou órgãos.111

109 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 661;
110 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível

em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html> : acesso em: 05/04/2018.
111 ibid. loc. cit.

50
Em continuidade, o artigo 113 implica também: a) estabelecer as dependências
do secretariado; b) determinar o número de funcionários e empregados da Secretaria
– Geral bem como nomear as suas funções;

Por fim, caso necessário, o artigo 116º da Carta permite a destituição do


Secretário-Geral ou Secretário-Geral adjunto com a aprovação de 2/3 de votação em
Assembleia-Geral, em prol do bom funcionamento112. Conclui-se como papel do
Secretário a organização da OEA bem como zelar por sua ordem.

2.2.16. CONFERÊNCIA ESPECIALIZADA – ARTIGOS 122º AO 123º;

Quando a Assembleia Geral ou a Reunião de Consulta dos Ministros das


relações Exteriores, por iniciativa própria ou a pedido de algum dos Conselhos ou
Organismos Especializados entender devida conferência Especializada para discutir
assunto técnico especial ou a desenvolver aspectos específicos da cooperação
interamericana, está o poderá o fazer113.

Verifica-se que tal Conferência normalmente é convocada para auxiliar na fase


final das negociações e adoção do texto de determinado tratado internacional
interamericano, como exemplo ocorrido na Convenção Americana de Direitos
Humanos e a Convenção Interamericana contra a Corrupção114.

2.2.17. ORGANISMOS ESPECIALIZADOS – ARTIGOS 124º AO 130º;

Conforme o Artigo 124º é dito que “Consideram-se como Organismos


Especializados Interamericanos, para os efeitos desta Carta, os organismos
intergovernamentais estabelecidos por acordos multilaterais, que tenham
determinadas funções em matérias técnicas de interesse comum para os Estados
americanos”115. Apesar de tal órgão possuir ampla autonomia, deverá levar em conta
as recomendações da Assembleia Geral e dos Conselhos, conforme artigo 126º.

112 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 662;
113 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados. Disponível em:

<htt,p://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html> acesso em: 05/04/2018.
114 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:

Editora RTP, 2011. p. 662;


115 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados op. cit. loc. cit.

51
Deverá também, anualmente, apresentar planilha de balanço contábil bem como o
desenvolvimento de suas atividades, conforme artigo 127º.116

A relação deste Organismo Especial é definida por meio de tratado celebrado


pelo Secretário-Geral, com a autorização dada pela Assembleia-Geral, conforme
artigo 128º. Bem como conforme o artigo 129º, os Organismos Especializados devem
estabelecer relações de cooperação com os Organismos Mundiais do mesmo caráter,
a fim de coordenar suas atividades. Ao entrarem em acordo com os organismos
internacionais de caráter mundial, os Organismos Especializados Interamericanos
devem manter a sua identidade e posição como parte integrante da Organização dos
Estados Americanos, mesmo quando desempenhem funções regionais dos
organismos internacionais117.

Exemplos de Organismos Especializados da OEA são: Org. Pan-americana de


Saúde (1902); Instituto Interamericano da Criança (1924); Comissão Interamericana
de Mulheres (1928); Instituto Pan-americano de Geografia e História (1928); Instituto
Indigenista Interamericano (1940); Instituto Interamericano de Cooperação para a
Agricultura (1942); e demais criados118.

2.2.18. ARTIGOS FINAIS DA CARTA DE BOGOTÁ – ARTIGOS 131º AO 146º;

O artigo 131º define que “nenhuma das estipulações desta Carta se interpretará
no sentido de prejudicar os direitos e obrigações dos Estados membros, de acordo
com a Carta das Nações Unidas”, ou seja, conforme visto inicialmente neste capítulo
dois, a OEA apesar de ser Organização Inter-Regional Americano é ao mesmo tempo
Órgão que de forma concomitantemente trabalha conforme os preceitos da ONU119.

O artigo 139º ao 143º define os processos de Ratificação e Vigência (muito


importante para que: estado todos os Estados membros em ordem nos seus
processos de Ratificação das Cartas da OEA, trás no âmbito Inter-Regional das
Américas maior segurança Jurídica, Política e Econômica para OEA). Por fim, dos

116 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. op. cit. p. 663;


117 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 5º Edição. São Paulo, SP:
Editora RTP, 2011. p. 663;
118 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Op. Cit. loc. cit.
119 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados Disponível em:

<htt,p://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html> 05/04/2018.
52
artigos 144º ao 146º tratar sobre disposições de Transitoriedade, esse capítulo foi
disposto para aplicar matérias de Direitos humanos de modo executório, independente
dos demais órgãos, no período de transição de sua criação até a sua assentada
perante os demais Países no quesito efetividade. Hoje, as maiorias dos Estados estão
de forma regular tanto na política doméstica tanto perante a OEA, ficando
desnecessário a utilização de tal órgão atualmente120.

2.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS EM RESPEITO À CARTA DE BOGOTÁ:

A Carta de Bogotá é um instrumento que surgirá por meio de muitas lutas


mediante diversos diálogos e conferências entre os Estados de todas as Américas.
Ou seja, é uma carta que de certo modo contém o conteúdo filtrado de anos de
discussão, ora, desde 1820 até 1948. Vale ressaltar o intenso clima pós-segunda
Guerra Mundial, donde se viu que, para o homem, não existe limites para a sua
imaginação no quesito genocídio bem como não existem entraves que segure os
Estados em suas imposições de Soberania e ganância.

Deste modo, a Carta de Bogotá assegura de forma regulamentada e sistemática


mecanismos que, como uma engrenagem, alavanca a harmonia dentre os Estados
Americanos. Vários Artigos ressaltam a importância da boa vizinhança, solidariedade
e resolução de qualquer conflito por meio pacífico. Há também vários artigos que vão
além dos Países, ora, os indivíduos residentes nestes. Conforme se vislumbra, a carta
possui artigos programáticos em prol da erradicação da pobreza, fome, e elevação à
cultura, economia, trabalho e etc., muito semelhante aos artigos iniciais de nossa
Constituição Pátria em suas normas programáticas e o Artigo 5º e seus incisos.

Ressaltando o dito anterior, a Carta de Bogotá possui artigos que articulam o seu
bom funcionamento, tanto para defesa tanto para sua aplicação em todas as áreas e
aspectos, como a comissão Jurídica Interamericana. Tudo isso baseado nos preceitos
principiológicos elencados no artigo 1º ao 3º. Ou seja, a Carta de Bogotá é um
instrumento que se pode comparar a um instrumento vivo, digo isso porque a sua
própria constituição não permite se enrijecer, ela está em constante acompanhamento

120 Decreto n.º 30.544, de 14 de fevereiro de 1952, Câmara dos Deputados Disponível em:
<htt,p://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-30544-14-fevereiro-1952-340000-
publicacaooriginal-1-pe.html> 05/04/2018.

53
em face ao organismo vivo social, sempre em luta no melhor interesse em atender
aos anseios sociais em prol da efetividade e cumprimentos dos Direitos Humanos. Em
conclusão, trago a baila celebre explicação da real situação latino americana bem
como os desafios em que se busca vencer:

A região latino-americana tem um duplo desafio: romper em definitivo com o


legado da cultura autoritária ditatorial e consolidar o regime democrático, com
o pleno respeito aos direitos humanos, amplamente considerados direitos
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Como reitera a Declaração de
Direitos Humanos de Viena de 1993, há uma relação indissociável entre
democracia, direitos humanos e desenvolvimento. Ao processo de
universalização dos direitos políticos, em decorrência da instalação de
regimes democráticos, deve ser conjugado o processo de universalização
dos direitos civis, sociais, econômicos e culturais. Em outras palavras, a
densificação do regime democrático na região requer o enfrentamento do
elevado padrão de violação aos direitos econômicos, sociais e culturais, em
face do alto grau de exclusão e desigualdade social, que compromete a
vigência plena dos direitos humanos na região, sendo fator de instabilidade
ao próprio regime democrático. É à luz desses desafios que será enfocado o
sistema interamericano de proteção dos direitos humanos. 121

121PIOVESAN, Flávia. DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA INTERNACIONAL. 1º Ed. São Paulo, SP,
Saraiva: 2006, p. 86 a 87.
54
3. BREVE SÍNTESE HISTÓRICA SOBRE A REGRA DO ESGOTAMENTO DOS
RECURSOS INTERNOS

Segundo Cançado Trindade, em seu célebre livro O esgotamento de recursos


internos no Direito internacional, ele formula que:

O princípio clássico do direito internacional que a responsabilidade


internacional de um Estado por danos causados a estrangeiros só pode ser
implementada a nível internacional depois de esgotados os recursos de
direito interno pelos indivíduos em questão, isto é, depois que o Estado
reclamado tenha se valido da oportunidade de reparar os supostos danos por
seus próprios meios e no âmbito de seu ordenamento jurídico interno” ora
“antiga prática de represálias.122

Deste modo o esgotamento de recursos é o direito de reparo pelo Estado, e


antes de tudo, um princípio que tem sido praticado antes de se tomar alguma ação de
represália à determinando Estado. Tal medida era comum na era medieval por volta
do século XVII. Príncipes e soberanos enviavam cartas de represálias não aos
estrangeiros, mas sim a seus cidadãos ou súditos no exterior a fim de que depois de
terem estes esgotados todos os meios de solução da controvérsia no país residente
tomassem alguma medida diplomática se necessário123.

A evolução deste princípio no âmbito moderno começou a ser usado na


responsabilização dos Estados a causas a estrangeiros, ou seja, em resumo a vítima
estrangeira reclamava ao Estado residente a reparação de seu dano. Devido à
globalização e a conexão por meio do comércio do qual ocorreu em meados dos
séculos IX a XVI, os inúmeros casos envolvendo mercadores em países diversos
(cartas de represálias) sempre invocaram o princípio do esgotamento. Devido a isso,
surge em meados do século XVII e XVIII tratados que regulam e respeitam tal
princípio. 124

Em suma, a confecção de tratados, cartas de represálias, pareceres, foram atos


que contribuíram para a evolução do princípio do esgotamento no contexto das
relações da comunidade Estatal e bem como a consolidação do que conhecemos hoje

122 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.
2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 23.
123 Ibid. p. 24
124 Ibid. p. 25

55
como o princípio do esgotamento dos recursos internos do qual ficou consolidada no
final do século XIX125. Na consolidação do princípio do Esgotamento, segundo
Cançado Trindade, são os pioneiros que ajudaram a desenvolver: Francisco de
Vitoria, Alberico Gentili, Hugo Grotius, Bynkershoek, Wolf e Vattel, que consagraram
nos seus trabalhos em prol deste fim.126

Timidamente os primeiros casos modernos do qual aplicou tal princípio era em


face de estrangeiros que lesados buscavam alguma reparação, no tocante eram
sempre resolvidos em procedimentos privados. Em suma, o que parece um caso que
externamente parece “internacionalizado”, no final das contas era discussão do lesado
estrangeiro em face do Estado residente. 127

Tal assunto coloca em xeque o condition sine qua non do exercício de represália
e da proteção diplomática. Ora que antigamente o uso da força dos Estados contra
outro, derivados de motivos de violação de algum interesse, era comum antigamente,
mas por meio de intermediações diplomáticas verifica-se em um Estado moderno o
incentivo do não uso da força nestas questões. Tal princípio tem sua parcela de auxílio
nesta evolução, ficando assim uma proteção de respeito na soberania dos Estados,
evitando tensões e até guerras intervencionistas.128

3.1. AS EXCEÇÕES DO DOMÍNIO RESERVADO DOS ESTADOS E DO NÃO-


ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS

No âmbito Internacional, é visível na esfera contenciosa a invocação de direito


do domínio reservado e o não esgotamento de recursos internos em face de litígios.
A primeira, o Estado reclama o seu direito exclusivo a determinada matéria,
declarando a incompetência juris internacional aos fatos; e a segunda o Estado
reclamado invoca este princípio alegando que não obteve a oportunidade de
apreciação do caso em sua jurisdição doméstica, tentando afastar a análise juris
internacional. 129

125 Ibid. p. 25
126 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.
2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 25.
127 Ibid. Loc. Cit.
128 Ibid. Loc. Cit.
129 Ibid. p. 47.

56
Em uma análise externa a esses dois pontos, é visível que tais artifícios estão
em prol da soberania dos Estados. Cançado Trindade entende ao assunto respectivo
de que:

Uma objeção de domínio reservado, se aceita pelo tribunal internacional,


impede este último de examinar o caso; é ela uma exceção preliminar à
competência do tribunal internacional, assumindo um caráter substantivo no
sentido de que uma decisão quanto à exceção tocaria no mérito do caso. Uma
Objeção de não-esgotamento de recursos internos, por outro lado, baseia-se
na ideia do caráter subsidiário da jurisdição internacional e em um certo direito
de prioridade de que desfrutam os tribunais internos ao reparar supostos
danos; é ela uma exceção preliminar à admissibilidade de uma reclamação
internacional, que não necessariamente objeta à competência do tribunal
internacional em particular.130

Tal posição se enquadraria à até um possível paradoxo, ora que uma regra entra
em confronto a outra, não obtendo uma solução lógica e plausível, e muito menos o
alcance de algum possível esgotamento de recursos. O próprio Doutrinador Cançado
Trindade chega a uma conclusão ditando que:

A segunda tende a permanecer de certo modo subsidiária ou suplementar à


primeira, no sentido de que uma vez o tribunal internacional examinando a
matéria considera-a como recaindo essencialmente no domínio reservado do
Estado em questão, não há então como insistir na aplicação da regra do
esgotamento dos recursos de direito interno.131

Citarei um caso prático que ilustra bem o caso acima, ora o caso Interhandel
(1959). Os EUA levantaram a exceção de domínio reservado como uma exceção de
não-esgotamento de recursos internos à petição suíça impetrada. Cançado entende
ainda mais que o caso piorou com o invocamento da emenda Connally. A corte de
justiça Internacional entendeu por fim em rejeitar a petição suíça por não-esgotamento
de recursos interno (Cf. caso Interhandel, ICJ Reports (1959) p. 11). Em determinado
trecho da decisão do tribunal de Haia disse que:

A fim de poupar-se do embaraço de pronunciar sobre a exceção preliminar


alternativa pela qual os Estados Unidos invocaram a reserva - de “domínio
reservado tal como determinado pelos Estados Unidos” -a sua aceitação da
cláusula facultativa”.132

Conclui-se que os dois binômios acarretam a efeitos distintos, porém não


podendo ser equiparados um ao outro, ora que o primeiro (regra dos recursos

130 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.
2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 48.
131Ibid. Loc. Cit.
132 (C.W. Jenks, The Prospects of International Adjundication, London, Stevens/Oceana, 1964, pp 533-

534).
57
internos) coloca em xeque a questão de competência do órgão subsidiário
internacional ao exame de determinado caso, a objeção de domínio reservado exclui
a competência por completo. Sendo assim, um bom uso do domínio de reserva
possibilita impedir qualquer órgão julgador internacional do exame da matéria, todavia
o princípio do não esgotamento dar poder ao Estado em fazer com o pedido seja
rejeitado em algum colegiado internacional, mas o pedido poderá ser reformulado
novamente.

Cançado Trindade traz também outro aspecto importante sobre o domínio de


reserva, ora que a mesma pode-se enquadrar como subjetiva ou objetiva, em
explicação ele dita que “primeiramente, a prática em relação às chamadas reservas
automáticas a cláusulas facultativa de seu Estatuto, e, em segundo lugar, a prática
relativa a exceções preliminares de incompetência” (Cançado Trindade, 1997. p. 50).

Um exemplo do aspecto subjetivo seria o caso citado acima Interhandel ou como


complementação o caso Empréstimos Noruegueses, dois quais foram usados este
argumento alternativo ao de não esgotamento de recursos de direito interno. A caso
de aspecto objetivo, cito o exemplo do caso da Interpretação dos Tratados de Paz
(1950):

A Assembleia Geral da ONU solicitou um parecer à Corte Internacional de


Justiça em face a interpretação devida aos dispositivos sobre solução de
controvérsias dispostas nos tratados de paz com a Bulgária, Hungria e a
Romênia, ora que os três estados objetaram à competência da Corte para o
exame necessário da matéria, sob a alegação que tal parecer sobre a mesma
constituiria uma intervenção em assuntos de competência de domínio
reservado. A Corte entendeu que “a interpretação dos termos de um tratado
para este propósito não poderia ser considerada como uma questão recaindo
essencialmente no domínio reservado de um Estado. Trata-se de uma
questão que, por sua própria natureza, recai no âmbito de competência da
Corte.133

Acima da rejeição da Corte da Objeção ao referido caso, constatou o fato de


que a Corte tratou exclusivamente ao exame de mérito. Ora que a análise foi
exclusivamente ao tratado em si, uma visão de direito internacional. No que tange às
possibilidades de incerteza de soluções judiciais, fica plausível a ideia de
impossibilidade resolutórias devido ao problema do domínio reservado. Sir Humphrey
Waldock dita que:

133 Caso da Interpretação dos tratados de Paz, ICJ Reports (1950) pp. 70.71.
58
Enquanto a construção do domínio reservado em limite constitucional da
jurisdição internacional pode ser relevante no caso de órgãos políticos
internacionais que não são obrigados a decidir de acordo com os direitos das
partes, cria ela uma posição inteiramente artificial em relação aos tribunais
internacionais. Se a matéria pertence ao domínio reservado, o tribunal é
definitivamente incompetente para investigar o mérito. Por outro lado, ele não
pode determinar se a matéria pertence ou não ao domínio reservado sem
uma investigação do mérito.134

Apesar da objeção de não esgotamento de recursos internos ser mais utilizada


perante tribunais internacionais do que a tese de domínio reservado, às objeções de
domínio reservado são mais utilizadas perante organizações internacionais políticos,
cito um exemplo de organização política a Liga das Nações ou o caso dos Navios
Finlandeses (1931-1934). Em suma, conclui-se que a prática é mais política do que
lógica.

Porém historicamente vislumbra-se que o princípio do esgotamento de recursos


internos é mais consistente do que o domínio reservado, ora que o domínio de reserva
é em um espectro histórico muito recente do que o anterior, surgido pela primeira vez
no pacto da Liga das Nações em seu artigo 15, ora os “interesses vitais” dos Estados.
Gera-se assim as incertezas que circulam a exceção do domínio reservado no que
tange o problema de competência para sua devida procedência.

Esta inconsistência faz com os doutrinadores se batam em uma possível solução


ou doutrina em respeito ao caso. Ao todo cito aqui algumas ao caso, primeiramente,
expõem Cançado Trindade:

Tem se afirmado que há matérias que, pela sua própria natureza, pertencem
ao domínio reservado dos Estados, e outras que da mesma forma oferecem
ao direito internacional. Segundo outro raciocínio há materiais que são prima
facie internas (competência nacional), mas que podem subsequentemente,
devido a sua importância, atingir o plano internacional. Outra tese é a de que
todas as matérias podem tornar-se objeto de regulamento internacional por
meio de tratados, e sempre que isto acontece deixam elas de pertencer ao
domínio reservado. Os problemas levantados pela cláusula de domínio
reservado da Carta da ONU têm sido abordados com considerável hesitação.
Uma primeira corrente (Kelsen Alf Ross, Jiménez de Aréchaga, Waldock)
aderiu à tese de que o domínio reservado dos Estados depende se o direito
internacional fez ou não da matéria objeto de regulamentação. 135

134 C.H.M. Waldock, “The Plea of Domestic Jurisdiction before International Legal Tribunais”, Bristish
Year Book of International Law (1954) p. 140-142, e cf. p. 131-137
135 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.

2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 61.


59
Deste modo, enquanto o domínio de reserva vem tomando força, a ONU tem-se
limitado a reconhecer, pelo fato de entender que tal ação faculta aos Estados aplicar
tais ações a fins particulares. Mas não é uma regra, ora que até mesmo a ONU não é
linear em suas decisões neste âmbito citado acima, ora que cada caso se enquadra a
uma luz cas déspéce (desapontamento ao caso). O que conclui, certamente é há não
resposta estritamente jurídica ao problema, pois os diversos casos levados perante a
ONU resultam de diversificadas medidas para suplantar objeções de domínio
reservado.

Para fechamento ao referido assunto, no âmbito regional, tal situação é menos


complexa, apesar de tal dispositivo ter sido criado a um âmbito constitutivo
internacionais regionais. A Organização dos Estados Americanos tem levado a prática
em considerar a primazia do princípio do dever de não-intervenção nos assuntos
inerentes a qualquer Estado. Ficando praticado assim o princípio do esgotamento dos
recursos internos a nível regional, como praticado também pelos órgãos da
Convenção Europeia de Direitos Humanos.

3.2. SUPRESSÃO DO PRINCÍPIO DO ESGOTAMENTO DOS RECURSOS


INTERNOS A LUZ DOS DIREITOS HUMANOS E DEMAIS PRECEITOS DA OEA;

Os estados Latinos americanos ao percorrer da história praticaram ou sofreram


diversas formas de violação dos Direitos humanos, ora que tal fato fora mudado devido
a diversas lutas, como demonstrado em capítulo anterior, porém como qualquer
democracia, a consolidação da prática não se faz somente como a implementação de
um Estado Democrático e sim após concebido isso aplicando medidas necessárias
para que de fato haja efetivas práticas. Quem explica melhor esta lição seria Guillermo
O’Donnel, quando diz que:

É útil conceber o processo de democratização como um processo que implica


em duas transições. A primeira é a transição do regime autoritário anterior
para a instalação de um Governo democrático. A segunda transição é deste
Governo para a consolidação democrática ou, em outras palavras, para a
efetiva vigência do regime democrático.136

136Guillermo O’Donnel. Transitions, continuities, and paradoxes, in scott Mainwaring, Guillermo


O’Donnel e J. Samuel Valenzuela (org.), Issues ins democratic consolidation: the new South American
democracies in comparative perspective, p. 18.
60
Em comparativo a realidade Latina Americana se vê em um eminente desafio
para a consolidação desta efetividade. Nas palavras de Flávia Piovesan, ela entende
que:

A região latino-americana tem um duplo desafio: romper em definitivo com o


legado da cultura autoritária ditatorial e consolidar o regime democrático, com
o pleno respeito aos direitos humanos, amplamente considerados – direitos
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. 137

Com isso, em um Estado que exista estabelecida formalmente uma democracia,


a exemplo do Brasil, não implica dizer que concomitantemente este País pratique de
forma eficaz ou razoavelmente eficaz todos os direitos democráticos, direitos
humanos e desenvolvimentos. Com isso, e a luz da teoria de Augusto Cançado
Trindade, em determinadas situações o indivíduo por si só possui autonomia e direito
na busca de justiça fora do campo jurisdicional doméstico, suprimindo determinadas
etapas de esgotamento dos Recursos Internos para que prevaleça a integridade na
busca de justiça. Será tratado a seguir uma breve síntese de quais seriam os
problemas atuais em nossa justiça Brasileira.

3.3. DOS PROBLEMAS DOMÉSTICOS QUE AFETAM A EFICÁCIA DA JUSTIÇA


BRASILEIRA;

Em uma entrevista dada por Augusto Cançado Trindade, sobre o tema “A Corte
Interamericana de Direitos Humanos”, ele diz algo profundamente pertinente a ser
citado neste trabalho, ora: “A ênfase na proteção dos direitos humanos é na realização
de justiça, ou seja, que os recursos sejam eficazes. Se não houver eficácia nos
recursos, estaria já justificada o recurso ao tribunal internacional138”. Bem como ele
complementa dizendo: “O direito de acesso à justiça é muito mais amplo, não é só
uma questão de acesso formal à justiça, mas também uma questão onde ter as
garantias de um devido processo respeitadas e de cumprimento da sentença, direito
à justiça lato sensu139”. É neste ponto onde começa o problema, no qual Cançado
Trindade tenta resolver em sua teoria. Porém no Brasil, como em demais nações, a

137 PIOVESAN, Flávia. DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA INTERNACIONAL. 1º Ed. São Paulo, SP,
Saraiva: 2006, p. 86.
138
A Corte Interamericana de Direitos Humanos - Prof. Antônio Augusto Cançado Trindade. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=-4FQgidgL5U>. Acesso em: 16/04/2018.
139 A Corte Interamericana de Direitos Humanos - Prof. Antônio Augusto Cançado Trindade. ibid. loc.

cit.
61
Justiça interna ignora e sem querer comete atos que afetem gravemente a eficácia do
ordenamento interno. Mas fica a questão de quais seriam estes problemas. Não é
novidade e nem segredo que a Justiça Brasileira demonstra inovadora em alguns
aspectos e ao mesmo grau de intensidade retrógrada em outros, nisto que afere a
vida dos brasileiros quanto à questão busca de justiça. Não podemos esquecer que,
como Thomas Hobbes ou Jean-Jacques Rousseau entendiam em suas teses que em
uma sociedade o indivíduo aceita, pelo bem maior, abdicar de alguns direitos,
deixando a força ao Estado, o Brasileiro, em regra, deve bater a porta do judiciário
para seja ouvido e alcançar alguma resposta em face ao seu litígio formado, porquanto
só cabe a ele a força e direito para tanto.

Apesar do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos ter nascido a luz da


proteção diplomática e ao estrangeiro, é notório o seu uso também a pessoa que sofre
alguma violação na jurisdição doméstica. Bem como outro preceito muito importante
quanto a questão é do que se trata ao indivíduo, ora que o mesmo possui atualmente
em face a esfera internacional voz ativa de igual poder como um diplomata ou Estado
para que possa ser ouvido140.

Neste modo, a morosidade é a maior pedra que está no caminho para uma
solução no Brasil. Ora que a Carta de Bogotá bem como demais protocolos nesta
mesma Corte defende o direito a resposta bem como uma justiça célere ou pelo
menos com um tempo razoável processual. A obrigação de se ter uma justiça célere
é um direito pouco conhecido pelos brasileiros é sabido muito bem pelo judiciário. O
próprio CNJ reconhece tal situação, esclarecendo em nota que: “A morosidade
processual no Poder Judiciário é a reclamação de quase metade dos cidadãos que
procuram a Ouvidoria do Conselho Nacional de Justiça141”.

Dos relatórios apurados em 2017 pelo CNJ, na parte da Ouvidoria, conclui um


aumento de reclamações comparado ao ano de 2016 e 2015, ora que foram recebidas
24.151 demandas a Ouvidoria, uma média mensal de 2.013 relatos. Em porcentagem,
um aumento de 8,91% em relação ao ano de 2016, e 52,78% em relação ao ano de

140 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. The Access of Individuals to International Justice. Oxford,
2011.
141 Morosidade da Justiça é a principal reclamação pela ouvidoria do CNJ. Disponível em:

http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62126-morosidade-da-justica-e-a-principal-reclamacao-recebida-
pela-ouvidoria-do-cnj acesso em: 16/04/2018
62
2015. A maior queixa dos reclamados foi quanto à morosidade do Judiciário em suas
resoluções, sendo ao todo 11.759 reclamações142.

A Bahia ocupa a liderança quanto ao tema com 1459 reclamações, porém o


Paraná está em vigésimo quarto colocado no ranking, com o total de 273 reclamações.
É importante salientar que as maiorias dos reclamantes foram feitas por advogados,
são pouco os números de reclamações feitas por outras categorias sociais. Somente
com estes números não se pode mensurar a verdadeira dimensão da morosidade,
porquanto estes dados foram elencados conforme o número de pessoas que tiveram
a iniciativa de reclamar a ouvidoria. Se tivéssemos a possibilidade de processar esses
cálculos com base ao verdadeiro número de pessoas que sofrem a morosidade
judiciária, os dados oficiais seriam bem maiores.

Mas em base, a parte da qual toma mais tempo em um processo é de fato a fase
executória. Segundo o próprio CNJ, com base em relatório de 2016:

Entre os casos baixados, as taxas também mostram que a fase de execução


é o maior entrave à celeridade. Desconsiderados os juizados especiais e
levando em consideração todos os ramos da Justiça, em média, essa etapa
dura quatro anos e quatro meses, enquanto o conhecimento fica em onze
meses. Nesse item, a Justiça Federal apresenta a maior distorção entre
execução e conhecimento, com seis anos e um mês e dois anos,
respectivamente. Na Justiça Estadual, enquanto a execução chega há quatro
anos e um mês, o conhecimento fica em dois anos e dez meses.143

Já em outros órgãos judiciários como “Os juizados especiais, criados justamente


em nome da simplificação e economicidade processual, também enfrentam o mesmo
problema”144. Bem como nos órgãos dos “juizados estaduais, a média do processo
pendente está em seis anos e nove meses na execução, enquanto a fase de
conhecimento toma quatro anos e onze meses145”. E por fim na esfera criminal:

Quanto ao tempo de duração do processo criminal, a fase de conhecimento


dura, em média, três anos e três meses no juízo comum e dois anos e sete
meses nos juizados especiais. Já o tempo de execução de punições não-
privativas de liberdade, em média, ficou em um ano e nove meses (juízo

142 Relatório Anual da Ouvidoria do Conselho Nacional de Justiça 2017. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/03/4ec8749b0c38effbec07fed4f48c85a9.pdf
16/04/2018.
143
Fase de execução é a que mais aumenta tempo de tramitação de processos. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83679-fase-de-execucao-e-a-que-mais-aumenta-tempo-de-
tramitacao-de-processos: Acesso em: 16/04/2018.
144 Ibid. loc. Cit.
145 Ibid. loc. cit.

63
comum) e dois anos (juizados especiais). No caso de penas privativas, a
média atingiu dois anos e quatro meses.146

A resposta se exprime em números, sendo a a forma da qual podemos mensurar


uma de inúmeras hipóteses da violação da eficácia do processo judiciário. Há também
de pautar que não basta só a conclusão no aspecto decisório, mas também quanto
no aspecto executório. O Paraná tem se mostrado um pouco mais preocupada neste
quesito, apesar de existir muita morosidade em determinadas áreas do judiciário,
como por exemplo, nos processos criminais e principalmente nas varas da Fazenda
Pública Estaduais, Municipais etc.. Porém o CNJ tem se mostrado preocupada quanto
a esse tema e demais aspectos que aferem a Justiça, aplicando medidas para
melhorar, porém estamos longe de uma resolução.

Os precatórios tem sido um dos métodos utilizados pelo Estado para pagar as
condenações aferidas a ela, porém concentra-se aí um grande exemplo de
morosidade e de maior ofensa à dignidade da justiça. Não é estranho ouvir histórias
de pessoas que possuem valores a receber aguardando há anos, podendo levar 10,
20 ou até mais de 30 anos para se receber determinada quantia, ficando ao crivo de
“aguardar em uma fila conforme a disposição do Estado para pagar”. Ao que tange ao
Paraná, atualmente existe por volta de R$ 5 Bilhões de Reais para ser pago por
decisões judiciais, sem previsão ao certo quando será pago pela desculpa que, se for
pago poderia o Estado sofrer o risco de “quebrar”147

A exemplo, em 2006 a OEA aceitou julgar petição impetrada de numeração


1050-06148, no qual os Advogados alegaram a violação aos direitos de alimentos de
Pedro Stábile Neto e outros 1.377 funcionários públicos credores de precatórios. Em
petição, os advogados sustentaram que:

O Brasil não oferece recursos efetivos para garantir seus direitos. Como
resultado disso, sustentam que a República Federativa do Brasil é
internacionalmente responsável pela violação a diversos artigos da

146
Fase de execução é a que mais aumenta tempo de tramitação de processos. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/83679-fase-de-execucao-e-a-que-mais-aumenta-tempo-de-
tramitacao-de-processos: Acesso em: 16/04/2018
147 Governo do Paraná promete pagar dívidas de precatórios até 2019. Disponível em:
http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2015/03/governo-do-parana-promete-quitar-dividas-de-
precatorios-ate-2019.html 16/04/2018;
148 Relatório no. 144/11. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/cidh-precatorios-servidores.pdf
16/04/2018.
64
Convenção Americana sobre Direitos Humanos à Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem.149

em resposta a reclamação, o Brasil disse em respectiva petição que:

A petição é inadmissível devido à falta de esgotamento dos recursos internos,


conforme exigido pela Convenção. A respeito, o Brasil indica que, no marco
do processo de execução do precatório realizado pelos peticionários, há
recursos pendentes de decisão” [...] “alega que o que tem impossibilitado o
pagamento dos créditos das supostas vítimas são as restrições financeiras
enfrentadas pelo município de Santo André (SP), paralelamente à
necessidade de seguir fornecendo serviços públicos essenciais à população
do município.

Por fim, a CIDH, em seu relatório, afirmou o entendimento de que:

Considerou que é competente para analisar o caso porque a petição assinala


como supostas vítimas, pessoas individuais, a respeito das quais o Estado se
comprometeu a respeitar e garantir os direitos consagrados na Convenção
Americana” bem como “o Estado que alega o não esgotamento dos recursos
internos tem, a seu cargo, que assinalar quais os recursos que devem ser
esgotados e a efetividade dos mesmos, o que não foi feito pelo Brasil. 150

Outro aspecto importante que deve ser elencado aqui é quanto aos requisitos
necessários do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos em paralelo a teoria
de Trindade de supressão de tal Princípio, ora que o indivíduo não poderá reclamar a
Corte diretamente, sem ante ao menos ter iniciado a demanda reclamatória perante o
Judiciário Brasileiro. Neste caso citado acima bem como aos diversos outros151 em
que a CIDH aceitou apreciar, as vítimas já haviam iniciado uma ação e aguardavam a
sua finalização, implicando neste ponto o problema no qual a Corte entende justo,
conforme Trindade, ser ouvida e analisada, a morosidade quanto ao rito e finalização
do processo.

O objetivo em elencar tal câncer que assola o Brasil no campo do Judiciário é ao


fato do tempo ser inimigo da integridade da solução do litígio. Marinoni e Arenhart faz
uma célebre interpretação ao artigo 5º, XXXV, dizendo:

O direito de ação, se necessita conferir ao cidadão o mesmo resultado que o


direito material lhe daria caso suas normas fossem espontaneamente

149 OEA aceita denúncia contra Justiça brasileira. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-fev-
23/oea-aceita-denuncias-brasil-demora-julgamento-crimes:16/04/2018.
150 ibid. loc. cit.
151 Caso 5/11. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/cidh-ivan-rocha.pdf; Caso 146/11:

Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/cidh-tortura.pdf; Caso 144/11;


https://www.conjur.com.br/dl/cidh-precatorios-servidores.pdf; Caso 145/11;. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/cidh-pensao-viuva-filha.pdf; Caso 173/11; . Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/cidh-argentino.pdf.
65
observadas, passou a ser pensado como um direito à adequada tutela
jurisdicional, ou melhor, como um direito à pré-ordenação de procedimentos
hábeis para dar resposta adequada ao direito material. 152 [...] O que parece
não se enxergar é que se o tempo do processo deve ser visto como um
‘inimigo contra o qual o juiz deve lutar sem tréguas’ – como preconizou
Carnelutti –, não é o autor que tem que suportá-lo, como se fosse o culpado
pela demora inerente à definição dos litígios. O medo de um juiz parcial, ou o
receio de que a liberdade do indivíduo pudesse ser ameaçada cegaram os
processualistas por um bom período de tempo para a obviedade de que o
autor e o réu devem ser tratados de forma isonômica no processo. 153

3.4. DA TEORIA DE CANÇADO TRINDADE QUANTO AO TEMA ESGOTAMENTO


DOS RECURSOS INTERNOS

Cançado Trindade ao percorrer de sua célebre jornada no judiciário e no campo


doutrinário, tem desenvolvendo teses que abarca expoente evolução no campo
judicial internacional de grande complexidade e avanço. Ora que o próprio Tribunal
Internacional de Justiça na Europa vê as ideias de Cançado, bem como as já ações
adotadas Pela CIDH, ousadas no quesito evolutivo e moderno. Porém ele próprio
admite que, em suas inúmeras tentativas em consolidar ideias de maior acesso aos
indivíduos a Corte bem como um direito mais lato sensu em qualquer aspecto
principiológicos ou legislativo tem sido em vão e pouco ouvido. Mas ao todo o pouco
conquistado em face de dura resiliência a evolução tem surtido efeitos positivos para
a sociedade ao todo154.

A regra do esgotamento dos recursos internos deve sempre ser encarada de


forma isolada, mais de forma abrangente com base no contexto social, histórico,
indivíduos e etc., para que possamos melhor entendê-la em qualquer espaço no
tempo, como explica e fundamenta melhor Cançado dizendo:

Por muito que houvessem as decisões arbitrais e judiciais contribuído para


clarificar alguns dos pontos mais obscuros relativos à incidência da regra dos
recursos internos, é sempre recomendável que se proceda a tal estudo com
uma visão clara do contexto histórico em que evoluiu a regra no decorrer dos
séculos. O exame da prática continuada dos Estados pode em muito auxiliar
nesse propósito.155

152 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 5
eds. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 61.
153 MARINONI, Luiz Guilherme. Garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e duplo grau de

jurisdição. In: TUCCI, José Rogério Cruz e (Coord.). Garantias constitucionais do processo civil. 1 ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 224.
154 A Corte Interamericana de Direitos Humanos - Prof. Antônio Augusto Cançado Trindade.

https://www.youtube.com/watch?v=-4FQgidgL5U acesso em: 16/04/2018


155 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Princípios do Direito Internacional Contemporâneo. 2º Ed.

Brasília, DF: FUNAG, 2017. p. 255.


66
Outro aspecto importante que deve ser elencado antes de iniciar a exposição da
Teoria de Trindade é quanto às particularidades ao esgotamento dos recursos
internos e a função reserva aos tribunais nacionais. Com base na citação de Fawcett,
ele expõe que:

Uma regra para solucionar conflitos de jurisdição entre o direito internacional


e os tribunais ou autoridades internas; a regra determina quando e em que
circunstâncias os tribunais internos, de um lado, e os tribunais internacionais,
de outro, devem ou podem assumir jurisdição sobre a questão. 156 [...] Esse
abrandamento da regra evitou deliberadamente fixar em detalhes técnicos,
transferindo o objeto principal de investigação para a relação própria no que
diz respeito ao esgotamento dos recursos internos entre o direito interno e o
direito internacional; tentou, ademais, demonstrar que a regra seria de
interesse não apenas ao direito internacional, uma vez que poderia ela
acarretar também certos problemas de direito constitucional. 157

Existe neste ponto uma correlação com base em responsabilidades muito


importante dentre estes dois âmbitos jurisdicionais, ora interno e externo. Há muito
tempo tem se debatido a tese de qual seria o melhor entendimento sobre denegação
de justiça, ora sendo este o núcleo desta tese, coloco a exposição pronunciamento
feito em 1939, por Henri Rolin na qualidade de consultor do governo belga no caso
Company of Sofia and Bulgaria, expondo seu entendimento no tocante às duas
correntes de pensamento de denegação de justiça:

Há os que entendem a denegação de justiça lato sensu como


compreendendo a violação do direito internacional, e há os que, ao contrário,
consideram-na como a falha no funcionamento formal do órgão judiciário
nacional, mas que reconhecem, ao lado disso, como caso de
responsabilidade internacional, a violação de um compromisso internacional
por uma jurisdição nacional.158

Trindade, em face a Responsabilidade Internacional ou Interno bem como as


duas vertentes de denegação de Justiça, entende que:

As diferenças terminológicas tornaram-se supérfluas em face do problema


básico das condições de existência da responsabilidade internacional. Tal
como concebida stricto sensu pelos autores clássicos, a denegação de justiça
consistia na recusa de acesso aos tribunais ou em atrasos indevidos e
obstáculos injustificáveis contra estrangeiros. 159

156 J. E. S. Fawcett, op. cit., p. 454; cf. F. Castberg, op. cit., p. 64-65.
157 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado.. op. cit. p. 290.
158 CPJI, caso da Electricity Company of Sofia and Bulgaria, Série C, n. 88; Pleadings, Oral Statements

and Documents; p. 418.


159 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado Trindade. Princípios do Direito Internacional
Contemporâneo. 2º Ed. Brasília, DF: FUNAG, 2017. p. 320
67
Porém existe sim uma diferença entre a responsabilização internacional e a
denegação de justiça bem como ao esgotamento dos recursos internos, ora que:

A noção substantiva de responsabilidade internacional diz respeito à


obrigação do Estado de reparar as consequências de um ato ilícito a ele
imputável; nesse contexto, observa Charles de Visscher, a denegação de
justiça é distinta do dever de esgotamento dos recursos internos. A primeira
é um tipo de ato internacionalmente ilícito constituído pela falha do Estado
em seus deveres de proteção judicial a estrangeiros; o segundo constitui uma
regra processual afetando menos as condições de existência da
responsabilidade do que as condições de exercício da reclamação. 160

Sendo assim, a denegação de justiça está intimamente correlacionada ao


preceito dos recursos internos, para que uma depende da outra. Esta colocação é
chave essencial para que possamos entender a tese de Trindade. Não se pode
invocar somente uma se a outra não lhe for aferida. Trindade neste aspecto entende,
como base a contribuição de C. Eagleton161 que:

Uma denegação de justiça só pode surgir nos casos em que se aplique a


regra do esgotamento dos recursos internos”, afirma ele; “as duas regras são
interligadas e inseparáveis: deve-se tentar utilizar os recursos internos até
que ocorra uma denegação de justiça; uma denegação de justiça é uma falha
nos recursos internos.162[...] A regra do esgotamento dos recursos de direito
interno exerce, desse modo, uma dupla função: em caso de sucesso, a
operação dos recursos internos serviria para isentar uma responsabilidade
precedente; em caso de insucesso, criaria uma responsabilidade original, ou
então afirmaria uma responsabilidade final, e era esta segunda e última fase
que fornecia exemplos de denegação de justiça.163

Enquadrando o raciocínio exposto em face ao maior problema no Brasil no


quesito judiciário, sendo este a morosidade, abre caminho para uma interpretação de
denegação de justiça, encontrando neste ponto uma falha no sistema interno judicial.
Flávia Piovesan entende que: “A petição, tal como no sistema global, deve responder
a determinados requisitos de admissibilidade, como o prévio esgotamento dos
recursos internos salvo no caso de injustificada demora processual, ou no caso de a
legislação doméstica não prover o devido processo legal164”. E em continuidade, ela
baseia sua proposição com base de trecho da obra de Trindade, na qual é dito:

160 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado Trindade. Princípios do Direito Internacional


Contemporâneo. 2º Ed. Brasília, DF: FUNAG, 2017. p. 324
161 Clyde Eagleton. The Responsibility of States in International Law. N.Y.: University Press, 1928, p.

113.
162 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado Trindade. Op. Cit. p. 325
163 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado op. cit. loc. cit.
164 PIOVESAN, Flávia. DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA INTERNACIONAL. 1º Ed. São Paulo, SP,

Saraiva: 2006, p. 94
68
Quanto ao requisito do prévio esgotamento dos recursos internos, leciona
Antônio Augusto Cançado Trindade: ''Como se sabe, estamos diante da regra
de Direito Internacional em virtude da qual se deve dar ao Estado a
oportunidade de reparar um suposto dano no âmbito de seu próprio
ordenamento jurídico interno, antes de que se possa invocar sua
responsabilidade internacional; trata-se de uma das questões que, com maior
frequência, é suscitada no contencioso internacional, concernente tanto à
proteção diplomática de nacionais no exterior, como à proteção internacional
dos direitos humanos.165. [...] 'O dever de provimento pelos Estados partes de
recursos internos eficazes, imposto pelos tratados de direitos humanos,
constitui o necessário fundamento no direito interno do dever correspondente
dos indivíduos reclamantes de fazer uso de tais recursos antes de levar o
caso aos órgãos internacionais. Com efeito, é precisamente porque os
tratados de direitos humanos impõem aos Estados-partes o dever de
assegurar às supostas vítimas recursos eficazes perante as instâncias
nacionais contra violações de seus direitos reconhecidos (nos tratados ou no
direito interno), que, reversamente, requerem de todo reclamante o prévio
esgotamento dos recursos de direito interno como condição de
admissibilidade de suas petições a nível internacional166”167.

Deve-se ressaltar que, o inciso 3º do Regulamento da Comissão estabelece que


a Comissão estabeleça ao peticionário afirmar a impossibilidade de comprovação do
esgotamento dos recursos internos, caberá ao Governo, contra o qual se dirige a
petição, demonstrar à Comissão que os aludidos recursos não foram previamente
esgotados, ao menos que isto se deduz claramente dos antecedentes contidos na
petição, conforme Héctor Fix-Zamudio168.

Neste ponto, segundo Trindade, a CIDH tem tomado três atitudes conforme ao
caso, quando se depara com reclamação na qual não aufere de completo o
esgotamento dos Recurso Internos, sendo a primeira o pedido de informações ao
Estado reclamado em face a quais recursos pendem de invocação e ao seu tempo.
Em segundo lugar a Corte solicitou informações ao reclamante em respeito das
medidas para esgotar os recursos internos. E por fim, a terceira a Corte pede
informações ao Reclamante e ao Reclamado em face ao esgotamento dos Recursos
Internos, sendo esta categoria mais adotada pela Corte na maioria dos casos169. Em
prova, em determinado caso, como cita Trindade:

165 TRINDADE, Augusto Cançado, El agotarniento de los recursos internos em el sistema


interameric·ano de protección de los derec/ios humanos, p. 12 a 55.
166 Antônio Augusto Cançado Trindade, A interação entre o direito internacional e o direito interno na

proteção dos direitos humanos, p. 44


167 PIOVESAN, Flávia. DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA INTERNACIONAL. 1º Ed. São Paulo, SP,

Saraiva: 2006, p. 94
168 Héctor Fix-Zamudio. Protección jurídica de los derechos humanos, p. 154.
169 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.

2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 234-235


69
A Comissão indicou expressamente, como questão de princípio, que os
recursos internos a serem esgotados (no âmbito do sistema interamericano)
compreendiam apenas os recursos de natureza judicial: a regra dos recursos
internos não implica que o reclamante tenha que esgotar todos os meios de
reparação disponíveis sob a jurisdição do Estado, mas somente aqueles de
natureza judicial, e mesmo assim se não ocorrer recusa, ou atraso
injustificado na administração da justiça170”171.

Ou seja, a Comissão da OEA de Justiça tem adotado medidas com tamanha


flexibilidade comparada a demais cortes internacionais, não se apegando
restritivamente a regras e princípios de forma não flexível. Trindade conclui explicando
que:

A experiência da Comissão Interamericana no tocante ao exame de petições


recebidas contendo alegações de violações de direitos humanos é, como se
depreende do exame acima, das mais singulares e interessantes. Ao
pronunciar sobre a admissibilidade de tais petições, à Comissão
Interamericana proferiu decisões de natureza antes administrativa do que
propriamente judicial. Talvez isto lhe tenha permitido agir com flexibilidade e
evitar a pronta rejeição de certas petições com base nas condições de
admissibilidade (tais como, e.g., o requisito do prévio esgotamento, pelos
reclamantes, dos recursos de direito interno) 172.

Apesar de toda esta matéria ter se desenvolvido em prol da defesa ao


Estrangeiro, percebe-se sua evolução, principalmente no entendimento da OEA, a
equidade de direitos para o também indivíduo. Assim, esta regra e pensamento se
aplica de forma descomplicada e flexível em favor ao indivíduo Latino-Americano.
Conforme explica Trindade:

Mais recentemente, entretanto, no contexto da proteção internacional dos


direitos humanos, as analogias para a aplicação da regra parecem ter sido
elaboradas muito mais em relação à função por ela exercida na
responsabilidade do Estado por danos causados a estrangeiros do que em
relação a sua aplicação em experimentos anteriores outorgando capacidade
processual aos indivíduos... Tal fato requer reflexão e parece não ser de
modo algum o único paradoxo na matéria.173

Sendo a Carta de Bogotá um instrumento vivo que se adequa facilmente às


evoluções e necessidades sociais, prevalece aqui, como motivo de tal flexibilidade, a
prática e eficácia dos Direitos humanos. A aplicação da Justiça, e a luta contra

170 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.
2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 235-236
171 Vide caso n.º 1697 como base.
172 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.

2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 237


173 ibid. p. 242

70
qualquer coisa ou ato que atente à dignidade ou ao plano de justiça é sim motivo para
que se flexibilize determinadas regras para o alcance da Justiça. Trindade conclui que:

Nos experimentos internacionais contemporâneos de proteção dos direitos


humanos, a regra do esgotamento dos recursos internos tem operado como
um a objeção dilatória ou temporal de natureza processual. Mas a evolução
da regra não termina aqui: tendo em mente a mudança corrente de ênfase,
voltada à função e prática dos próprios tribunais nacionais na aplicação da
regra em conformidade com dispositivos de instrumentos internacionais de
proteção dos direitos humanos, e a atual tendência no sentido do
aperfeiçoamento dos sistemas nacionais de proteção judicial, é possível que
a presente natureza “processual” da regra no contexto da proteção
internacional dos direitos humanos anos possa levar a um a caracterização
distinta da mesma dentro de uma ou duas décadas.174

Encerra-se este capítulo com as palavras finais de Trindade, em que expõe


enorme preocupação em face à eficácia de nossa justiça interna bem como a
prevalência aos Direitos humanos, no qual tem por objetivo a algum dia esta teoria
não ser aplicada somente de forma tímida com o medo de desobedecer tal preceito
ao esgotamento dos recursos internos criados para proteger somente estrangeiros e
diplomata, e sim a uma eficácia para abraçar a todos, e proteger do perigo maior que
existe em todos os locais: a Injustiça.

Ao insistir no teste básico da eficácia dos recursos internos, esta


jurisprudência tem, por exemplo, dispensado a regra do esgotamento em
casos, por exemplo, de prática estatal, ou de negligência ou tolerância do
poder público, ante violações dos direitos humanos. Tais indicações,
avançadas nos últimos anos, e que para nossa satisfação têm endossado
clara e inteiramente as teses que vimos preconizando e sustentando a
respeito ao longo das duas últimas décadas, contribuem a abrir caminho a
uma aplicação adequada e mais equitativa do requisito do esgotamento, à luz
do objeto e propósito dos tratados de direitos humanos e das necessidades
de proteção do ser humano. Contribuem, em suma, a uma aplicação daquele
requisito adaptada às particularidades do presente contexto de proteção
internacional dos direitos humanos.175

174 Cançado Trindade, Antônio Augusto. O Esgotamento de recursos internos no Direito Internacional.
2º Ed. Brasília, DF. Editora Universidade de Brasília, 1997. p. 245
175 Ibid. p. 264.

71
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho de conclusão de Curso analisou sobre a flexibilização da


aplicabilidade do uso do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos sob
fundamentações humanitárias, ora, o direito de supressão de determinados recursos
de nossa justiça nacional em face ao alcance de justiça internacional, tema proposto
e desenvolvido por Augusto Cançado Trindade.

Conforme visto, tal tema percorre em maior intensidade no âmbito internacional,


apesar do tema afetar diretamente a justiça Brasileira. Deste modo, a maior parte
referencial bibliográfico parte de Doutrinadores que tratam de temas correlacionados
a justiça internacional. Com base em alguns artigos e livros, a maior base deste
trabalho teve como fonte as doutrinas apregoadas por André de Carvalho Ramos,
Flávia Piovesan, Leslie Bethell, Valério de Oliveira MazzuolI, e por fim e como base
principal as obras de Augusto Cançado Trindade, que aborda de forma celebre
diversos temas de desenvolvimento humanitário na justiça internacional e nacional.

O primeiro capitulo tratou ao tema voltado aos Direitos Humanos, iniciando em


sua conceituação exponencial por diversos Doutrinadores, teve-se deste modo um
norte inicial na construção do trabalho. O abordamento histórico sobre a construção
dos Direitos Humanos e fora deverás importante para uma melhor compreensão do
tema, ficando tratado inicialmente com os principiais marcos históricos no âmbito
mundial na história bem como tratado na história de cada Constituição promulgada no
Brasil e as suas peculiaridades em face aos Direitos Humanos, ou seja, foi tratado a
evolução dos Direitos Humanos por meio das Constituições. Em face a Ditadura
decorrente no Brasil, foi tratado o tema da reconstrução da democracia expressa em
nossa Carta Magna de 1988 em paralelo a receptividade de tratados internacionais
voltados aos direitos humanos, principalmente a carta de São José da Costa Rica.

O capitulo dois abordou questões históricas e estruturais para melhor entender


o que seria a OEA, como surgiu, sua estruturação, objetivos, princípios, etc.. ficando
tratado neste trabalho os eventos históricos nos quais desencadearam a primeira
conferência dos Estados Americanos, e de forma detalhada ficou exposto todas as
conferências desde 1826 a 1954, com a finalização com a Carta de Bogotá,
instrumento de suma importância para o funcionamento da OEA. Ficou exposto nestas

72
conferências o entendimento político entre os Estados Americanos no decorrer da
histórica, tendo-se por fim uma harmonização do que trata os Direitos Humanos. Em
mesmo capitulo ficou abordado artigo por artigo do pacto de Bogotá, exposto o
esqueleto da OEA, seu funcionamento, objetivos, princípios, órgãos e etc.

Por fim, em último capítulo, ficou abordado inicialmente o surgimento e evolução


histórica do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos, a exceção do domínio
reservado dos Estados e do Não Esgotamento dos Recursos Interno bem como a
possibilidade de supressão do Princípio do Esgotamento dos Recursos Internos
aplicado pela OEA a luz dos Direitos Humanos. Possuindo todas estas matérias, fora
cunhado neste trabalho tema final expondo os problemas domésticos que afetam a
eficácia da Justiça Brasileira e por fim, a teria de Augusto Cançado Trindade sobre a
flexibilização do uso do Princípio do Esgotamento dos Recursos internos na jurisdição
da OEA no que concerne o acesso do indivíduo.

Em suma, o próprio Cançado Trindade expõe que tal tema é de grande


discussão, não possuindo uma consolidação firme em sua pratica, apesar de perdurar
tal discussão desde o início do século passado. Porem a OEA, ficando exposto que,
tem-se usado de forma moderna tal aplicação de flexibilização do Princípio do
Esgotamento dos Recursos Internos para o acesso do indivíduo perante o tribunal da
OEA, diferente de outros tribunais internacionais como a da União Europeia. Conclui-
se que tal tema busca alcançar a eficácia da justiça, deixando de lado a morosidade
e alcançando o objetivo de forma célere, com o objetivo de expor que existe a
possibilidade de percorrer outros caminhos para evitar a morte da justiça em face ao
inimigo tempo, bem com concluído que esta mutação não é dana mais do que a
reação de diversas desigualdades sociais e injustiças que assolam as Américas a
séculos.

73
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