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PSICOLOGIA DA
RELIGIÃO
(Código: MCR 6204)
2
RECIFE-PE / 2018
1 - EMENTA
Conhecimento das origens e evolução da Psicologia da Religião e de sua
importância na existência do homem. Análise cognitiva, psicanalítica e psicossocial das
motivações, experiências e comportamentos religiosos, em sua fonte interna (vazio
existencial) e externa (influência ambiental), na pluralista convivência humana.
Conscientização da importância das funções psicossociais da religião na vida da pessoa e
grupos religiosos, em busca da plenitude de sua existência.
2 - OBJETIVOS
Geral:
Conhecer a evolução da Psicologia da Religião e analisar, do ponto de vista
cognitivo, psicanalítico e psicossocial, as motivações, experiências e comportamentos da
pessoa que vive determinada fé.
Específicos:
Conscientizar o aluno da real importância das várias funções da Religião
em sua vida, na busca e vivência de um sentido transcendental para a
existência.
Levar o aluno a uma vivência mais consciente e madura da sua fé, sabendo
quais são as reais motivações de sua experiência e comportamento
religiosos, para utilizá-las não de modo alienado, mas libertador e
construtivo de sua personalidade, como membro dos grupos humanos.
3 - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
4 - METODOLOGIA
No processo Ensino-Aprendizagem, vivenciar-se-á a disposição pedagógica
para uma relação educando/educador que propicie um clima de intercâmbio
de conhecimentos e experiências nessas temáticas, visando um
enriquecimento mútuo de professor e alunos.
Desenvolvimento, em cada tema do Curso, de aulas, com dinâmicas
diferenciadas e complementares: aulas de exposição; aulas com grupos de
leitura dirigida (dinâmica de grupo, seminários) e debates sobre os temas,
com os Recursos Didáticos: quadro de giz, textos, retroprojetor, vídeos,
DVD e outros recursos disponíveis.
Disponibilidade de tempo para conversas pessoais ou em grupo para
acompanhamento mais eficiente dos alunos.
5 – REFERÊNCIAS:
TERRIN, Aldo N. Introdução ao estudo comparado das religiões. São Paulo:Paulinas, 2003.
419p.
TILLICH, Paul. A coragem de ser. São Paulo: Paz e Terra, 1992. 146p.
VALLE, J. E. dos Reis. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.
VERGER, Pierre. Notas sobre o culto dos orixás e voduns, no candomblé da Bahia (Brasil) e
na Costa dos Escravos, na África. São Paulo: EDUSP, 2000.
VERGOTE, A. Psicologia religiosa. Torino: Borla, 1967.
VAUGHAN, F. E. “Lo sviluppo del potenziale umano al di là del ego”. In: ROSSELLI, M.
(Org.). I nuovi paradigmi della psicologia. Il cammimo della psicosintesi. Assisi:
Cittadella, 1992, p. 47-61.
*****
ABORDAGENS PRELIMINARES:
Breve histórico:
1) Do ponto de vista descritivo:
1
CIOTTI, P.-DIANA, M. Psicologia e religione. Modelli, problemi, prospettive. Bologna: EDB, 2005. 260
p.
2
JOHNSON, P.E. Psychology of Religion. New York: Abingdon Press, 1959.
7
***
3)Modelos antropológicos:
Modelo psicodinâmico;
Modelo comportamental;
Modelo sócio-cognitivo;
Modelo humanístico-existencial
1 – Jean Piaget
Ele foi criador de um ramo de epistemologia que ele mesmo chamou Epistemologia
genética. É uma forma de reflexão teórica que analisa a evolução do conhecimento menos
estruturado para o estado de conhecimento mais estruturado. (GOULART, 2005).
3
A construção do real na criança (La construction du réel chez l’enfant). 2. éd. Neuchâtel: Delachaux &
Niestlé, 1950.
4
O julgamento e o raciocínio na criança (Le jugement et le raisonnement chez l’enfant). 4. éd. Neuchâtel:
Delachaux & Niestlé, 1956.
5
O julgamento moral na criança (Le jugement moral chez l’enfant). Paris: Presses Universitaires de France
(PUF), 1957.
6
O nascimento da inteligência na criança (La naissance de l’intellingence chez l’enfant). 3. éd. Neuchâtel:
Delachaux & Niestlé, 1959.
10
7
ELKIND, D. Piaget’s Semi-Clinical Interview and the Study of Spontaneous Religion, In: “Journal for the
Scientific Study of Religion”, 1964a, 4, p. 40-47.
8
ALETTI, M. La religiosità infantile: Un approccio psicologico, In: “Riflessi”, 1978, 30,1-2, p. 39-61.
9
FIZZOTTI, E. Genesi e sviluppo della coscienza morale, In: “Anime e Corpi”, 1974, 12, 255-289. / Lottare
per l’uomo: Coscienza e responsabilità. Napoli: Dehoniane, 1981.
12
Piaget foi criticado por Murphy (1977b)10, Silvestri (1977)11 e por Francis (1979a,
1979b,1979c)12 que afirmam haver três tipos de linguagem religiosa:
a) Pensar sobre a religião;
b) Pensar religiosamente;
c) Pensar em linguagem religiosa.
10
MURPHY, R. Does Children’s Understanding of Parables Develop in Stages? In: “Learning for Living”,
16, p.168-172.
11
SILVESTRI, D. Problemi di una psicologia genetica della religiosità, In: “Scuola e Vita”, 18, 3, p. 63-72.
12
FRANCIS, L. J. Research and Development of Religious Thinking, In: “Educational Studies”, 1979a, 5, p.
109-115./ The Child’s Attitude toward Religion: a Review of Research, In: “Educational Research”, 1979b,
21, p. 103-108./ School Influences and Pupil Attitude toward Religion, In: “British Journal of Educational
Psychology”, 1979c, 49, p. 107-123.
13
Tomar-se-á como básico, nesse Curso, o livro de Eugênio Fizzotti (em italiano), abaixo citado, cujos
principais temas foram traduzidos pelo professor para os alunos do Mestrado de Ciências da Religião da
UNICAP (N. do T).
14
FIZZOTTI, E. Verso una psicologia della religione (VPR): Il cammino dela religiosità. V. II. Torino: Elle
Di Ci, 1995, p.18.
15
MURPHY, R. Does Children’s Understanding of Parables Develop in Stages?, In: “Learning for Living”,
1977b, 16, p. 168-172.
13
Pergunta básica: A criança é religiosa “por natureza” ou sua religiosidade vem das
influências que recebe?
Muitos são os psicólogos que tentam responder a esses questionamentos. O que
dizem Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.
16
FIZZOTTI, E. Verso una psicologia … V. II. p. 18-19.
17
FREUD, S. Totem e Tabu: algumas concordâncias na vida psíquica dos selvagens e neuróticos, In: Obras,
v. VII p. 1-164 (Trad. em Italiano, Torino: Boringhieri, 1977).
18
FIZZOTTI, E. Verso una psicologia della religione: Problemi e protagonisti. V. I. Torino: Elle Di Ci,
1992a, p. 117-137.
19
ALETTI, M. La religiosità infantile… p. 52-54.
20
JUNG, C.G. Zur Psychologie Westlicher und Östlicher Religion (1939). Olten: Walter Verlag (1971).
Obras completas, v. XI: Parte I: Psicologia e Religião. Petrópolis: Vozes, 1983.
21
FIZZOTTI E. Verso una psicologia…. V. I, p. 139-151.
22
ELKIND, D. The Origins of Religion in the Child, In: “Review of Religious Research”, 1970, 12, p. 35-42.
23
BECATTINI, Immagine di Dio e percezione dei genitori, In: “Teresianum”,1987, 38, 1, p. 127-137.
14
Portanto, as crianças colhem (dos adultos) as idéias religiosas (em cada faixa etária
piagetiana) e entram em contato com elas, ao nível emocional, podendo-se, assim, dar um
passo em frente e falar da religiosidade infantil nas diversas fases piagetianas, o que foi
feito por Goldman (1964, 1965, 1966)37, sendo confirmada a tese de que o
desenvolvimento do pensamento religioso da criança está em conformidade com o
desenvolvimento cognitivo.
34
DAY, L.G. The Development of the God Concept: A Symbolic Interaction Approach, In: “Journal of
Psychology and Theology”, 1975, 3, p. 173-178.
35
FIZZOTTI, E. Il fanciullo e la ricerca sul testo sacro. Aspetti psicologici, In: FIZZOTTI, E. Il testo sacro.
Documento di ricerca nell’esperienza scolastica. Roma: Edizioni Ecogeses AIMC, 1989, p.41-98.
36
FIZZOTTI, E. Il fanciullo e la scoperta del sacro, In: “Fogli”, 1990, 17, 148, p. 3-47.
37
GOLDMAN, R.G. Religious Thinking from Childhood to Adolescence. London: Routledge and Kegan
Paul, 1964.// Readiness for Religion. London: Routledge and Kegan Paul, 1965.// The Reformation of
Religious and Moral Education, In: “Learning for Living”, 1966, 6, p. 14-16.
16
Segunda fase: Mítico-literal (7-11 anos): Nessa fase, a criança consegue distinguir
os “fatos” da “fantasia”. O credo e os símbolos religiosos são percebidos pela
criança de maneira representativa, graças ao pensamento lógico-concreto que a
caracteriza e com o qual (pensamento) entra em contato com os contos e os mitos
religiosos, visando dar coerência às suas experiências de vida.
Sexta fase: Fideística: Valor “universal” da fé, com sua dimensão unificante,
acontecendo, geralmente, um relacionamento mais profundo e pessoal com o
transcendente.
38
FOWLER, J.W. Stages of Faith: The Psychology of Human Development and the Quest for Meaning. San
Francisco: Harper and Row, 1981. // Teologia e psicologia nello stadio dello sviluppo della fede, In:
“Concilium”, 1982, 18, p. 915-921.// Die Berufung der Theorie der Glaubensentwicklung: Richtungen und
Modifikationen seit 1981, In: NIPKOW, K.-SCHWEITZER, F. - FOWLER, J.W. (Ed.).Glaubensentwicklung
und Erziehung. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn, 1988, p. 29-47.
39
BUCHER, A. Fasi dello sviluppo religioso secondo James W. Fowler e Fritz Oser, In: “Orientamenti
Pedagogici”, 1989, 36, p. 1090-1121.
17
Kohlberg indicou três níveis através dos quais acontece a diferenciação entre o self
individual e as “normas sociais”.
Kohlberg deu um grande contributo educativo, nesse campo do juízo moral, sendo
o grande mérito de seu trabalho ter demonstrado que a religiosidade e a fé não são algo
“estático”, mas “dinâmico”, num real intercâmbio entre sujeito, família e sociedade.
40
OSER, F. Stages of Religious Judgement, In: BRUSSELMANS, C. (Ed.). Toward Moral and Religious
Maturity. Morristown (N.J.): Silver Burdett, 1980, p. 277-315.// Religious Dilemmas: The Development of
Religious Judgement, In: HARDING, C. (Ed.). Moral Dilemmas. Philosophical and Psychological Issues in
the Development of Moral Reasoning. Chicago: Precedent Publishing, 1985, p. 175-190. //Wieviel Religion
braucht der Mensch? Studien zur Religiöse Autonomie. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn,
1990.
41
KOHLBERG, L. Moral Development and Behavior. New York: Holt, Rinehart & Winston, 1976.
42
FIZZOTTI, E. Genesi e sviluppo della coscienza morale, In: “Anime e corpi”, 1974, 12, p. 255-289.
43
MAKHOUL-MIRZA, H. Pédagogie de l’éveil et croissance spirituelle des tout-petits. Montréal: Éd.
Paulines, 1992, p. 106-112.
18
Deus é um ser grande, velho, que perdoa ou que pune. Essas percepções estão
ligadas também a uma “percepção mágica” de Deus, transmitida pelos pais.
N.B.: A experiência que a criança, o jovem e o adulto têm de Deus é bem diferente.
Daí a necessidade metodológica de pesquisar a experiência religiosa (vivência
interior) deles, de modos diferentes: Contos, desenhos, colóquios, questionários,
recordações de infância, comportamentos e atitudes religiosas, etc.
Todos esses métodos têm suas vantagens e desvantagens no que concerne a certos
métodos empregados, nas pesquisas realizadas (Vide: FIZZOTTI, E. Verso una psicologia
della religione, v. II, 1995, p. 26-28).
44
HYDE, K.E. Religion in Childhood and Adolescence. A Comprehensive Review of the Research.
Birmingham: Religious Education Press, 1990.
45
HELLER, D.I. Il Dio dei bambini. Indagine scientifica sull’idea di Dio in bambini di diverse religioni.
Torino: Elle Di Ci, 1991, p. 23-42.
46
FRANCIS, L.J. School Influences and Pupil Attitude toward Religion, In: “British Journal of Educational
Psychology”, 1979c, 49, p. 107-123.
19
a) Período da Pré-adolescência
b) Período da Adolescência
A maior parte dos pesquisadores concorda que, com o aumento da idade dos
jovens, há o desenvolvimento do comportamento religioso, especialmente, na
adolescência, período em que diminuem “quantitativamente” os jovens que crêem em
Deus, permanecendo a fé deles, em nível “qualitativo”, mais específica e pessoal,
individual (Tamminen, 199148).
Algumas pesquisas foram feitas, nesse campo das experiências juvenis, com os
seguintes resultados gerais: Há um aumento de jovens que crêem cada vez menos ou que
deixam de crer e professar a sua fé.
(Rede Vida, Canção Nova, Movimento Carismático, pessoas exóticas: Sadhus, Sanyasis,
etc.).
b) Personalidade e Religiosidade
O tema sobre Religião e Maturidade sexual tem sido contemplado por poucas
pesquisas significativas (Hyde, 1990)59.
Por exemplo, um marido que é nE-A-P (Nervoso) e se casou com uma esposa E-A-
S (Apaixonada), se não houver um bom ajuste (com virtudes), dificilmente darão certo, em
sua convivência conjugal e familiar.
59
HYDE, K.E. Religion in Childhood and Adolescence… 1990, p. 200.
22
N.B.: Leitura de Textos atinentes aos temas acima elencados a serem indicados
pelo Professor aos alunos do Mestrado.
Nos primeiros anos da Infância, Deus aparece como um ser que se preocupa com a
criança, como o papai e a mamãe se preocupam com suas necessidades.
O influxo dos pais na criança, no que concerne à sua “dimensão afetiva” e
“representativa” (simbólica) de Deus, tem vários níveis, a saber:
Essa influência da mãe é mais marcante nos homens (Édipo!) que nas
mulheres (Godin-Hallez, 196461), havendo certa “marca materna”, no que diz
60
SILVESTRI, D. Problemi di una psicologa genetica della religiosità, In: “Scuola e Vita”, 1977, 18, 3, p.
63-72.
61
GODIN, A. – HALLEZ, M. Images parentales et paternité divine, In: “Lumen Vitae”, 1964, 19, p. 243-
276.
23
É claro que, nesse período, a criança se liga a Deus com uma “sensibilidade
imitativa”, segundo Piaget e a psicanálise (Fase fálica: Imitação). Essa sensibilidade, no
entanto, não está ainda carregada de “afetividade” porque tem muito pouco
“conhecimento” de Deus. Não se ama a quem não se conhece.
62
VERGOTE, A. The Parental Figures and the Representation of God: Overview and Theoretical
Perspective, In: VERGOTE, A – TAMAYO, A. The Parental Figures and the Representation of God. A
Psychological and Cross-Cultural Study. The Hague: Mouton, 1981, p. 185-225.
63
BECATTINI, C. Immagine di Dio e percezione dei genitori, In: “Teresianum”, 1987, 38, 1, p. 127-137.
64
GREELEY, A. M. The Religious Imagination. New York: Sadlier, 1981.
65
MILANESI, G. – ALETTI, M. Psicologia della Religione. Torino: Elle Di Ci, 1977.
66
Vide GODIN-HALLEZ, obra já citada (1964).
67
POTVIN, R. H. Adolescent God Images, In: “Review of Religious Research”, 1977, 19, p. 43-53.
68
VERGOTE, A. The Religious Man: A Psychological Study of Religious Attitude. Dayton (Ohio): Pflaum
Press, 1969, p. 170.
69
DAY, L.G. The Development of the God Concept: A symbolic Interaction Approach, In: “Journal of
Psychology and Theology”, 1975, 3. P. 173-178.
70
RONCO, A. - FIZZOTTI, E. - AMENTA, E. Immagini di Dio, percezione dei genitori, conoscenza e stima
di sé, In “Orientamenti Pedagogici”, 1993, 40, p. 661-679.
24
Como os meninos têm “menos relacionamento com seus pais”, geralmente tendem
a ver Deus como alguém “distante e com quem é difícil manter um relacionamento”.
As meninas, ao contrário, vêem Deus como um “amigo” (Tamminen, 1991, p.
73
63) que não é tão ativo, mas mais um observador que dá segurança no dia-a-dia. As
meninas concebem Deus mais próximo no relacionamento afetivo, enquanto que os
meninos o vêem mais distante (Deconchy, 196774).
71
MILANESI, G. - ALETTI, M. Psicologia della religione…, 1977, p. 137.
72
TAMMINEN, K. Religious Develpoment…, 1991, p. 63.
73
TAMMINEN, K. Religious Development…, 1991, p. 63.
74
DECONCHY, J.-P. Structure génétique de l’idée de Dieu chez des catholique français, garçons et filles de
8 à 16 ans. Bruxelles: Lumen Vitae, 1967.
75
RONCO,A- FIZZOTTI,E-AMENTA,E. Immagini di Dio…, 1993.
76
PIAGET, J. La représentation du monde chez l’enfant. Paris: F. Alcan, 1938.
25
Dos dez anos em diante, o pré-adolescente crê menos que Deus intervenha
diretamente no mundo das pessoas, mas intervém indiretamente, através das pessoas e
situações, tendo os homens de se arranjar sozinhos.
Por isso, na pré-adolescência, diminui o comportamento religioso, como resposta
“funcional” que os adultos esperam do garoto. Devagarzinho, ele vai criando relações de
maior intimidade com Deus, de forma crítica ou não (COSPES, 1986)77.
O pré-adolescente começa a ter crises com seus pais e dirigir-se mais a Deus, ao
seu modo.
De um lado, o pré-adolescente ainda está ligado ao que lhe ensinaram e, de outro
lado, deseja ser muito mais autônomo, em seu credo e até mesmo chega a criticar aquilo
que não lhe é claro, podendo participar também de grupos eclesiais (COSPES, 1986, p.
113).
77
COSPES (Ed.). L’età negata…, 1986.
78
MILANESI, G. - ALETTI, M. Psicologia della religione…, 1977.
26
Conclui-se que “diante de Deus se está sempre como num equilíbrio instável”
(Zavalloni, 1968, p. 378).
Também a pesquisa de Grillo confirma que ação vivida, na adolescência, mesmo
com sua ampla mudança de perspectiva, não determina uma ampla oposição ao credo
religioso.
Deus, muitas vezes, é percebido como alguém que está olhando de uma posição
estática e imóvel, de onde oferece proteção e consolação, sobretudo, nos momentos
difíceis, havendo uma maior sensibilidade nas jovens pelas situações vividas.
No entanto, tanto nos rapazes quanto nas moças, a fé está muito ligada aos padrões
de infância (religiosidade infantil) sem muitas influências do idealismo juvenil e das novas
valências afetivas, próprias da adolescência, não havendo ainda uma fé precisa e própria
desse tempo.
Às vezes, os jovens se debatem entre um senso de criticismo que o leva a duvidar
das noções de fé recebidas, no passado, e o desejo de um modo novo de perceber a
aproximação com Deus (Zavalloni, 1968, p. 365).
Embora os jovens vivam uma fé, de modo mais vivo e pessoal (comparado com o
período infantil: heteronomia), é difícil para eles comunicá-la adequadamente, através de
conceitos abstratos.
Eles são levados a sentirem mais claramente a responsabilidade de vivência do
credo que professam e ao qual são mais sensíveis, principalmente, no campo das
experiências religiosas fortes e significativas, concentradas mais, em vivências imediatas e
intensas, que numa sistemática programação da própria relação com Deus (Fizzotti, 1995,
p. 40-41).
82
HYDE, K.E. Adolescents and Religion… 1991, p. 119-161.
83
FLORIAN, V. - HAR-EVEN, D. Fear of Personal Death: The Effects of Sex and Religious Beliefs, In:
“Omega”: Journal of Death and Dying, 1983, 14, p. 83-91.
28
Em todo o caso, trata-se de uma experiência que envolve o jovem com uma nova
condição afetiva para com o “sagrado”, visto e sentido, muitas vezes, como invasora e
84
ALETTI, M. La religiosità infantile… 1978.
85
THOMAS, L.E. – COOPER, P.E. Measurement of Incidence of Mystical Experiences. An Exploratory
Study, In: “Journal for the Scientific Study of Religion”, 1978, 17, p. 433-437.
86
BEARDSWORTH, T. A Sense of Presence. Oxford: The Religious Experience Research Unit, 1977.
87
SCOBIE, G.E. Types of Christian Conversion, In: “Journal of Behavioral Science”, 1973,1, p.265-271.
29
Mas, até que ponto essas experiências máximas podem ser consideradas
autênticas?
Os resultados das pesquisas são contraditórios. Às vezes, essas experiências
constituem uma expressão autêntica da religiosidade juvenil e, outras vezes, aparece como
algo externo, superficial que não envolve a pessoa realmente (Hood, 1971, 197292; Mathes,
198293).
alguns traços da personalidade que dispõem o jovem a experiências de tipo místico como,
por exemplo, a pertença a certos grupos religiosos (ou associações).
Tudo indica que essas pessoas que se associam a “certos grupos religiosos
estranhos” (Ku-Klux-Kan, Nazismo, etc.) são pessoas com problemas e que querem uma
“mudança religiosa”, com certo tipo de “conversão” (Milanesi, 1981b, p. 175)94 como que
a dizer que a pertença a esse grupo alimenta e estimula a presença e a formação de uma
mais rica problemática e sensibilidade religiosa.
94
MILANESI, G. (Ed.). Oggi credono così. V. I I risultati. V.II: Approfondimenti. Torino: Elle Di Ci, 1981b.
31
vitalidade, em seu credo religioso, e confirmam a hipótese de uma fé, como experiência
pessoal, entendida mais como procura de “protagonismo positivo” (experiência subjetiva)
e não tanto como consumo individualista do “sagrado”.
Essas são três características do envolvimento emocional dos jovens para com o
“sagrado”.
Noutras palavras, os jovens procuram:
a) “Segurança” que eles percebem como um dos atributos de Deus (os menos
escolarizados);
b) “Reconhecimento/Acolhida” para as pessoas “mais passivas” diante da
Instituição (Igreja), sendo os jovens trabalhadores e os estudantes com maior
escolarização os que mais criticam negativamente a Igreja e as Instituições;
c) “Os passivos” que não criticam nada e obedecem mais cegamente aos seus
pastores (menos cultura, mais submissão)95.
Certamente que muitas outras variáveis interferem em todo esse processo visto, a
saber: formação da família de origem (especialmente a avó), família atual, o trabalho
extradoméstico, o poder da mídia, o machismo de nossa cultura e outros valores morais
(relativismo moral versus moralismo, secularização, globalização e uma atuação pastoral
adequada ou inadequada).
95
Cf. FIZZOTTI, E. Verso una psicologia della religione…V. II, p. 9-45.
32
Observações conclusivas:
96
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000. 494 p.
97
NEISSER, U. Cognitive Psychology. Nova York: Appleton-Century Crofts, 1967.
33
98
HELLER, D.I. Il Dio dei bambini. Indagine scientifica… 1991.
34
A partir desses dois aspectos, acima colocados, a criança percebe as coisas ao redor
de si como “vivas e conscientes” (animismo), ou então pensa que, por trás da realidade
com a qual entra em contato, haja alguém que “construa” as coisas, no sentido material do
termo (artificialismo) ou que haja uma relação causal entre as coisas fabricadas, segundo o
seu esquema mental mágico (magismo).
No período sucessivo, que vai além dos 6-7 anos, a criança adquire um tipo de
pensamento definitivo chamado de “operatório”, no qual surge a capacidade de
“associação entre os diversos acontecimentos” e também a “capacidade de conclusão
coerente” a partir de algumas premissas concretas.
No entanto, somente, no período que vai dos 9 aos 13 anos, chamado de período do
“pensamento hipotético-dedutivo” é que a criança conseguirá representar para si as
“situações possíveis”, elaborando assim dados também hipotéticos e trazendo-os como
conclusões inerentes à realidade dos fatos.
99
ALETTI, M. La religiosità infantile. Un approccio psicologico, In: “Riflessi”, 1978, 30, 1-2, p. 36-61.
35
Ao redor dos 5-6 anos, a criança tende a focalizar-se sobre seu “pensamento
intuitivo”, dando um tipo de descrição primitiva de Deus e de Suas ações. É a fase pré-
operacional e intuitiva porque assistemática e fragmentária.
Nos anos sucessivos, o desenvolvimento do pensamento religioso da criança
depende da maturidade intelectual adquirida.
100
GOLDMAN, R.G. The Reformation of Religious and Moral Education, In: “Learning for Living”, 1966,
6, p. 14-16.
101
ELKIND, D. The Origins of Religion in the Child, In: “Review of Religious Research”, 1970, 12, p. 35-
42.
36
Nessa percepção, a criança e a coisa percebida (de modo animista) não estão muito
diferenciadas, modificando-as magicamente (magismo) de acordo com as próprias
necessidades. A falta de distinção entre o Eu e o Mundo permite-lhe traduzir a onipotência
de seu pensamento na realidade (realismo infantil) e de centralizar no próprio pensamento
a percepção do real no qual o eu é o centro necessário e único (Ibidem, p. 561).
A criança pode, nesta fase, ver Deus como causa primeira, mas não percebe o papel
fundamental de tal relação causal.
Nessa modalidade de relacionar-se com as coisas do mundo, a criança é ajudada
pelo “realismo infantil” com o qual procura definir a realidade com aquilo que vê
concretamente, atribuindo aos dados perceptivos o primado sobre os representativos.
Essa capacidade de concentrar-se sobre as coisas que vê e toca antes que sobre as
relações existentes entre elas, - percebendo como causa primeira, independentemente das
relações de causalidade existentes - dá à criança a possibilidade de “maximizar” o seu
relacionamento com a realidade (isto é, de tirar o máximo proveito da relação direta com o
real), tendendo a estender tal processo de “acomodação” aos diversos contextos de sua
existência, inclusive o campo religioso (Aletti, 1978, p. 45).
Com tal processo de “adaptação do real” ao seu “eu egocêntrico”, a criança realiza
uma espécie de “distorção cognitiva positiva” que propicia uma forma evolutiva mais
positiva de relação com o “outro-diferente-de-si”, saindo do autocentrismo e se dirigindo
para o transcendentalismo.
37
O “pensamento mágico” da criança faz com que ela se relacione com o mundo
externo, transformando as “relações de causalidade” numa prospectiva egocêntrica e
utilitarista (Aletti, 1978, p. 44; Milanesi, 1967a, p. 554-556; Piaget, 1938103).
Quando os pais oram a “Deus poderoso” (gigante das virtudes mágicas: Vianello,
105
1974 ), as crianças pensam que as orações suas e de seus familiares devem ser
“necessariamente ouvidas” porque a capacidade de sucesso da oração está ligada à
“capacidade de deformar a realidade”, que é típica do pensamento mágico infantil,
segundo o qual “cada desejo deveria tornar-se realidade”.
102
VIANELLO, R. Ricerche psicologiche sulla religiosità infantile. Firenze: Giunti, 1991.
103
PIAGET, J. La représentation du monde chez l’enfant. Paris: F. Alcan, 1938.
104
GODIN, A. Psicologia delle esperienze religiose. Il desiderio e la realtà. Brescia: Queriniana, 1983.
105
VIANELLO, R. Ricerche psicologiche sullo sviluppo della rappresentazione di Dio nel fanciullo, In:
“Psicologia Contemporanea”, 1974, 3, p. 9-15.
38
Entre 8-9 anos, a criança evita recorrer ao milagre, quando se trata de explicar
situações particularmente difíceis ou perigosas (Vianello, 1991, p. 249). Quando a criança
é mernorzinha atribui excessiva importância aos milagres como “algo mágico” que Deus
faz porque é grande (Tamminen, 1991, p. 208).
A partir do pensamento mágico, surgem os primeiros conceitos de Deus. Os
estudos da psicologia religiosa concordam sobre o fato de que a criança acredita na
existência de Deus.
Nos primeiros anos de vida, ela tem uma idéia de Deus muito simples: associa-o à
natureza e o percebe como alguém que “vive no céu, na igreja ou noutra parte”.
Aos 4 anos, a criança o percebe como um ser que se manifesta de “modo
concreto” e não abstrato (Heller, 1991, p. 58)106.
Entre os 5-6 anos, surge nela uma curiosidade para o “papel” que a divindade pode
assumir com as pessoas. Em sua mente, Deus se torna uma pessoa poderosa que controla o
que os outros fazem e os pune quando fazem coisas más. Mas, as “características divinas”
são ainda semelhantes às “grandes capacidades” que ela reconhece nos adultos, sobretudo,
nos pais (Heller, 1991, p. 48-58).
A religiosidade da criança é essencialmente heterônoma (depende dos outros).
Deus se torna para ela “alguém onisciente” (que sabe tudo). Quanto à sua
capacidade concreta, a criança mostra certa contraditoriedade: Deus é todo poderoso, mas
não pode fazer tudo, por exemplo, não pode salvar quem morre, nem mesmo ressuscitá-lo
simplesmente porque não é possível, em a natureza (Vianello, 1991, p. 83-87).
Dos 6-7 anos até os 10-11 anos, a criança nega a “possibilidade da ressurreição”
porque começa a assimilar as noções religiosas de modo “mais crítico” e mais pessoal
(Vianello, 1991, p. 131).
106
HELLER, R. Il Dio dei bambini… nelle diverse religioni. 1991.
39
religiosidade mais madura e realística (também a idéia de Deus) ou uma visão de Deus
imatura, irrealística e fantástica (Stickler, 1974) 107.
Na idade de 7-8 anos, a criança percebe de modo mais claro a contradição entre um
“credo essencialmente idealístico” (tempo de aculturação religiosa) e o início de suas
dúvidas concernentes a essas “idéias de Deus”.
107
STICKLER, G. Rappresentazioni di Dio e immagine dei genitori nella esperienza degli adolescenti.
Ricerca effettuata su 2.255 adolescenti dai 14 ai 20 anni, In: “Rivista di Pedagogia e Scienze religiose”,
1974,12, p. 39-75.
108
MAKHOUL-MIRZA, H. Pédagogie de l’éveil et croissance spirituelle des tout-petits. Montréal:
Paulines, 1992.
109
LUDWIG, D. J. - WEBER, T. – IBEN, D. Letters to God: A Study of Children’s Religious Concepts, In:
“Journal of Psychology and Theology”, 1974, 2, p. 31-35.
40
No início (3-5 anos), a criança acha que Deus construiu materialmente as coisas do
mundo (Makhoul-Mirza, 1992, p. 165), como se fosse um artesão ou um mágico que
“fabrica” as coisas do mundo, de modo milagroso (Aletti, 1978, p. 47).
Lá pelos 6 anos, a criança pensa que Deus seja artífice da natureza e, portanto,
criador de todas as coisas, uma concepção derivada da mentalidade artificialista típica
desta idade, premissa para a descoberta de um Deus que opera verdadeiramente a partir do
nada.
Após os 8 anos, a criança chega a uma percepção mais “divinizada” do ato criador
e assimila mais facilmente a noção de Deus criador, influenciada também pelo
ensinamento religioso recebido (Aletti, 1978, p.48).
2) Do “Deus-fantasma” ao “Deus-Espírito”
Não se trata ainda de uma “visão espiritualizada”. Antes dos nove anos, falar de
espírito leva a criança a ligar essa propriedade a uma característica mais “humanizada”: o
Deus-espírito é concebido pela criança como um Deus-fantasma, i. é, o homem que não se
vê, que não se toca e que consegue passar por toda a parte (Vianello, 1991, p. 86),
passando, às vezes, via catecismo, para morar dentro da alma do homem.
Deus é visto como poderoso, como o é o pai da criança, só que o seu pai ela pode
tocar.
110
GRAEBNER,O.E. Child Concepts of God, In: “Religious Education”, 1964, 59, p. 234-241.
111
BRAIDO, P. – SARTI, S. L’idea di Dio presso ragazzi italiani della scuola dell’obbligo, In:
“Orientamenti Pedagogici”, 1967, 14, p. 1.128-1.157.
41
Aos 11 anos, começa a criança a ter uma maior ligação com Deus, aparecendo, ao
mesmo tempo, as primeiras dúvidas sobre a “natureza de Deus” e sua “localização”.
É o período no qual, com a pré-adolescência, florescerá uma opção por uma
expressão de fé, mais ligada à humanidade e à experiência cotidiana e menos interessada
com a natureza de Deus (Wright-Koppe, 1964)112.
Entre os 3-6 anos, as crianças têm um senso natural e espontâneo de Deus e de sua
proximidade naquilo que fazem, passando a localizá-lo “sobre as nuvens ou na igreja”.
Aos poucos, as crianças passam a ver Deus como muito vizinho a quem os pais e
outras pessoas recorrem e que elas os imitam inclusive, com os gestos religiosos dos
adultos. Essa imitação é corroborada pela fantasia e pelos símbolos mediadores da
religiosidade: imagens sacras, cruz, etc., mas das quais elas não têm ainda uma concepção
personalizada (Tamminen, 1991, p. 205; Braido-Sarti, 1967, p. 1.142; Wright-Koppe,
1964).
As crianças exprimem o seu “senso da presença de Deus”, através dos desenhos
vivazes e atraentes, com os quais podem exprimir um contato “mais seguro” (porque mais
real e mais vizinho a elas), com os diversos aspectos de Deus, reproduzindo vivências
familiares (Pitts, 1976-1977, p. 127)113.
112
WRIGHT, H.D. - KOPPE, W.A. Children´s Potential Religious Concepts, In: “Character Potential”, 1964,
2, p. 83-90.
113
PITTS, V.P. Drawing Pictures of God, In: “Learning for Living”, 1976-1977, 16, p.123-129.
42
Segundo Piaget, a criança crê que, após ter feito uma coisa errada do ponto de vista
moral, acontecerá algo que lhe permita “expiar” o dano cometido, como uma espécie de
“sanção ou punição automática” que serve para restaurar o equilíbrio interrompido com a
ação errada.
Desse modo, a criança confere propriedade “animista” aos objetos/pessoas que são
mediadores, na ação de expiação, atribuindo uma eficácia intrínseca às coisas, na
restauração do equilíbrio desfeito com a ação errada.
À medida que a criança cresce, começa a acontecer uma justiça “por ação punitiva
de Deus” para castigar as ações erradas que as pessoas cometeram e que não são justas
(Loves, 1957) 115, passando a criança de uma justiça “imanente ao objeto” a uma justiça
feita por uma “intenção pessoal”(Milanesi-Aletti, 1977, p. 43) que vem atribuída ao Deus-
juiz que, com o tempo, é visto como alguém que age para proteger as necessidades
114
PIAGET apud ALETTI, M. La religiosità infantile... 1978, p. 44.
115
LOVES, H. Croyances ancestrales et catéchése chrétienne, In: “Lumen Vitae”, 1957, 12, p. 365-389.
43
importantes da criança, tornando-se a religião para ela uma possível resposta às suas
exigências de proteção e segurança, sendo chamado isso de “intencionalismo protetivo”
(Godin-Van-Roey, 1959; Aletti, 1978, p. 48-49).
Por isso, nesse período, há uma série de orações que são feitas pela criança que
demonstram essa atuação mais ativa com Deus, sendo “permeada” essa relação com Deus,
já no período escolar, de animismo e magismo que permitem à criança um
“comportamento religioso que a aproxime à transcendência de Deus” (Milanesi – Aletti,
1977, p. 145).
Ao nível comportamental, a criança entre os 7-9 anos, prefere ter uma “idéia
legalística” de Deus que vai, aos poucos, desaparecendo quase completamente
(Tamminen, 1991, p. 80; Ronco-Fizzotti-Amenta, 1993, p. 677)116.
Tal idéia de Deus se diferencia da concepção de um Deus que “faz medo” – não
muito presente entre as crianças, mesmo as menorzinhas – pois quando elas falam de
“medo de Deus” entendem um tipo de temor geral, sem especificação de conteúdo
(Braido-Sarti, 1967, p. 1.154), concluindo-se que a “idéia legalística” não se deve tanto ao
“pavor de um Deus que pune”, mas à “função” daquilo que Deus faz, opera justamente e
faz o bem (Tamminen, 1991, p. 81), intervindo Deus no humano o estritamente necessário,
seja através da natureza, seja através das pessoas, segundo os esquemas infantis (Vianello,
1991, p. 156-159).
Portanto, a “justiça imanente” de Deus persiste, com o passar dos anos (até os 10
anos), alimentada, com o ensinamento catequético, que incrementa a concepção de um
Deus que age, de modo justo, através de uma ação direta, mediada pelas pessoas e
circunstâncias concretas (Vianello-Marin, 1989b117; Vianello-Tamminen-Ratcliff, 1991118).
De fato, entre 6-7 anos, a criança crê, com uma percepção um pouco “artificial”,
nas intervenções de Deus que exerce certo controle na vida das pessoas, punindo quem é
ruim e premiando quem é bom.
Dos 8-9 anos, tal crença é alimentada pelas noções religiosas catequéticas.
Dos 9-11 anos, ela fundamenta a própria fé na presença de Deus, promotor da
justiça, a quem atribui características mais personalizadas e mais vizinhas à sua
116
RONCO, A.- FIZZOTTI,E.- AMENTA, E. Immagine di Dio, percezione dei genitori,conoscenza e stima
di sé, In: “Orientamenti Pedagogici”, 1993, 40, p. 661-679.
117
VIANELLO, R - MARIN, M. Belief in a Aid of Justice Immanent in Things: A Revision of the Piagetian
Hypotesis, In: “Early Child Development and Care”, 1989b, 46, p. 57-61.
118
VIANELLO, R. – TAMMINEN, K. – RATCLIFF, D. The Religious Concepts of Children, In: RATCLIFF,
D. (Ed.). Handbook of Children´s Religious Education. Birmingham: Religious Educaction Press, 1991, p.
155-176.
44
experiência, mesmo com as definições que têm de Deus, através do ensino religioso
(Vianello, 1991, p. 142-155).
O “juízo de Deus”, enfim, está ligado também à vida além da terra e à concepção
que a criança tem daquilo que acontecerá, após a morte, onde Deus é tido como autor da
imortalidade e da vida eterna.
De 6-7 anos, a criança, influenciada pela sua visão antropomórfica, afirma que
depois da morte, há o paraíso, lugar em que se encontram coisas agradáveis.
De 7-8 anos, a criança se concentra na “localização do paraíso”, de como pode ser
feito e como se chega ali, focalizando a sua atenção sobre a estruturação física.
De 8-9 anos, o Deus-juiz é aquele que, neste lugar (o paraíso), opera e explicita a
sua ação de perdão e de proteção para com as pessoas.
De 10-11 anos, enfim, a criança tende a confrontar tais “crenças nocionais” com as
“dúvidas emergentes” de seu conhecimento extra-religioso (Vianello, p. 303; Tamminen,
1991, p. 256).
Pode-se concluir que também a concepção da “vida após a morte” - uma crença
que não diminui com o aumentar da idade (Tamminen, 1991, p. 85) – está ligada à idéia de
um Deus-juiz, isto é, ao prêmio e ao castigo de Deus para os bons e para os maus (Braido-
Sarti, 1967, p. 1.142).
A criança percebe que há coisas que são vivas e não se movem (plantas) e coisas
que vivem e se movem (animais).
Quando a planta e o animal morrem, isso afeta muito a criança, mas o que mais a
afeta é o desaparecimento de um ente querido, principalmente quando ela está, na fase
primeira, em que tende a perceber e a sustentar a conservação dos objetos, em torno a si,
para confirmar a sua existência.
Com o desaparecer de pessoas queridas, a criança vê desvanecer essa conservação
e descobre de improviso o sentido, até agora desconhecido, da “transitoriedade” da vida.
Em tais condições, a religião oferece uma “solução” à sua desorientação e, através
de uma concepção de Deus que conserva a vida, a religião a ajuda a integrar as próprias
necessidades, num sistema religioso que sustenta as suas necessidades interiores (Elkind,
1970, p. 37)119.
119
ELKIND, D. The Origins of Religion in the Child, In: “Review of Religious Research”, 1970, 12, p.35-
42.
45
Graças a isso, a criança assimila as informações sobre religião que lhe são
transmitidas pela família e pela escola e que nem sempre são compreendidas por ela.
Aos 8 anos, há uma maior maturação, na criança, e Deus passa a ser visto com as
mesmas qualidades humanas (Deconchy, 1964121), embora também a criança reconheça
que Deus tenha outras características que o ser humano não tem, como sua extraordinária
grandeza e capacidades, permitindo-lhe diferenciar a própria visão de Deus das existentes,
em seu ambiente de vida.
Essa concepção antropomórfica de Deus vem da influência da catequese e não é
ainda uma “concepção espiritualizada” de Deus (Vianello, 1991, p. 231).
Nesse período, a criança “aprende a conhecer certa terminologia religiosa, embora
a sua compreensão seja ainda muito pobre a respeito daquilo que aprende em casa ou na
igreja” (Hyde, 1990, p. 115).
120
MAILHIOT, B. And God became a Child: The Reactions of Children and Child-Groups under School
Age, In: “ Lumen Vitae”, 1962, 16, p. 277-288.
121
DECONCHY, J.-P. The Idea of God: Its Emergency between 7 and 16 years, In: “Lumen Vitae”, 1964, 19,
p. 285-296.
46
Nos desenhos dessa idade (7-9 anos), as crianças representam Deus com uma longa
barba branca ou com o rosto de um velho sábio que é “o outro diferente delas mesmas”,
capaz de ajudar as pessoas, gentil e invisível porque está em toda a parte e que é espiritual
(menos material do que as outras pessoas) e, por isso, onipresente.
j) O Deus da Bíblia
A compreensão que as crianças têm da Bíblia está dentro dos processos evolutivos
já aludidos, especialmente no que concerne à “concepção” de Deus.
Também foi pedido, numa pesquisa, que crianças de 6-8 anos desenhassem duas
figuras: uma correspondente a Deus e outra figura diferente de Deus.
Mesmo os pequenos, tendo certa dificuldade de diferenciar as duas figuras
(desenhando menos particularidades na figura que representava Deus), atribuíram a Deus
características próprias de Deus (cruz, igreja, etc.), próprias do conhecimento adquirido,
através dos relatos bíblicos (Pitts, 1976-1977)126.
Isso indica que, mesmo numa idade tenra, as crianças exprimem a “concepção e
experiência interiores” de sua religiosidade, quase sempre concebendo Deus como “um
grande rei”, afirmado, várias vezes, pela Bíblia.
Aos 10 anos (começo da fase das aventuras), aflora na criança uma concepção
mais “realista” de um Deus pessoal, poderoso, grande, inteligente, todo-poderoso, que
satisfaz as necessidades das pessoas que ficam fascinadas por Ele (Ludwig-Weber-Iben,
1974).
123
FIZZOTTI, E. Il fanciullo e la ricerca sul texto sacro. Aspetti psicologici, In: Il testo sacro. Documento di
ricerca nell’esperienza scolastica. Roma: Ed. Ecogeses AIMC, 1989, p. 41-98.
124
FIZZOTTI, E. Il fanciullo e la scoperta del sacro, In: “Fogli”, 1990, 17, 148, p.3-47.
125
HYDE, K.E. Religion in Childhood and Adolescense... 1990.
126
PITTS, V. P. Drawing Pictures of God, In: “Learning for Living”, 1976-1977.
48
A criança, segundo Piaget, por não ter ainda a maturação biopsíquica bem
desenvolvida, aprende certo vocabulário religioso, ensinado pelos adultos, que não
corresponde, de fato, à evolução cognitiva de seu pensamento.
Isso se torna patente quando se refere à evolução da idéia que a criança faz de
Jesus, como figura diferente de Deus.
127
GREER, J.E. The Child’s Understanding of Creation, In: “Educactional Review”, 1972b, 24, p. 99-110.
128
FAGERLIND, I. Research on Religious Education in the Swedish School System, In: Character
Potential”, 1974, 7, p. 38-47.
129
MURPHY, R. A New Approach to the Study of the Development of Religious Thinking in Children, In:
“Educational Studies”, 1978, 4, p. 19-22.
49
Entre os 3-6 anos, Jesus e Deus não são ainda diferenciados, em sua mente
(Makhoul-Mirza, 1992, p. 176), e, assim, continua (nem sempre muito clara), ao menos,
durante a pré-adolescência (Braido-Sarti, 1967, p. 1.137).
Disso resulta que ela faz confusão entre Jesus e Deus e a conceber a vida de Jesus
de modo fantástico e irreal (o menino Jesus é modelo de obediência, não faz mal a si
mesmo, etc.), graças aos contos irreais e fantásticos que circundam a Sua figura e que
enriquecem a inculturação religiosa dessa idade (Milanesi-Aletti, 1977, p. 158).
Ler diálogo com uma criança de quase 5 anos (Fizzotti, v. 2, 1995, p. 103) onde
se percebe muito claramente essa ambigüidade acima descrita.
A assimilação das parábolas por parte das crianças permitiu verificar, de modo
mais concreto, os processos do desenvolvimento intelectual da compreensão simbólica
(Murphy, 1977a)130.
De fato, o desenvolvimento da religiosidade infantil pressupõe não somente um
simples “desenvolvimento cognitivo”, mas também o apropriar-se da linguagem religiosa
típica e suficiente para entrar em contato com a realidade significada pelas palavras
evangélicas.
Verificou-se, portanto, a necessidade da complementaridade entre o
desenvolvimento do pensamento religioso e o de uma linguagem que tipifica a
compreensão, como, por exemplo, as parábolas com as quais a criança se familiariza com
seu significado alegórico, com as imagens específicas e com as eventuais semelhanças que
a criança encontra, na sua vida diária (Francis, 1979ª, p. 112)131.
130
MURPHY, R. The Development of Religious Thinking in Children in Three Easy Stages?, In: “Learning
for Living”, 1977a, 17, p. 16-19.
131
FRANCIS, L.J. Research and Development of Religious Thinking, In “Educational Studies”, 1979a, 5, p.
109-115.
132
RATCLIFF, D. Teaching the Bible developmentally, In: “Christian Education Journal”, 1987, 7, p. 21-32.
51
133
GRAEBNER, O.E. Child Concepts of God, In: “Religious Education”, 1964, 59, p. 234-241.
134
COSPES (Ed.) L’età negata. Ricerca sui preadolescenti in Itália. Torino: Elle Di Ci, 1986.
52
Embora o pré-adolescente critique muita coisa de sua infância, no que diz respeito
a Deus, no entanto, termina navegando em características infantis, criando isso nele um
certo comportamento de perplexidade e de crítica (Tamminen, 1991, p. 79).
135
DECONCHY, J.-P. Structure génétique de l’idée de Dieu... Bruxelles: “Lumen Vitae”, 1967.
53
mais ao nível ortodoxo, Jesus é alguém que ensina coisas importantes, tendo eles uma
atitude (comportamento) “pessoal” para com o personagem Jesus.
Para os rapazes, Jesus “é o herói a quem se pode referir”, “aquele que dá coragem
à nossa vida” (Tamminen, 1991, p. 303). Para as moças, no entanto, “ele é o amigo por
quem é belo comprometer-se”, “aquele me ensina a ser melhor” (COSPES, 1986, p. 118).
Tal dúvida acontece não tanto como rejeição da religião, mas, na maioria das
vezes, como uma tentativa de “mediação” entre as propostas de educação religiosa
recebida e a personalização da experiência religiosa.
As contradições do credo religioso do pré-adolescente se revelam tanto nos
rapazes, quanto nas moças, embora, entre as moças, no começo da pré-adolescência, esse
ceticismo sobre as coisas ensinadas seja muito menor que nos rapazes (Daines, 1966) 139,
tendo as moças menos pensamento mágico que os rapazes (Milanesi, 1967 a, p. 573)140.
Geralmente, a atitude religiosa das moças, com o aumento da idade, declina com
menos evidência do que a dos rapazes (Hyde, 1963141; Francis, 1977, p. 113; 1979, p. 104),
tendo um linguajar mais espiritualizado, claro e desenvolvido do que o dos rapazes
(Tamminen, 1991, p. 398).
Enquanto as moças sublinham mais a “aproximação de Deus”, a sua “capacidade
de perdoar e de cuidar”, os rapazes são mais afeitos ao aspecto “legalístico e prático” de
sua concepção de Deus (Fizzotti, 1995, p. 107-109).
aquela que diz respeito aos valores religiosos, levando o jovem a chegar a um sentido mais
“pessoal” da dimensão religiosa.
Poder-se-ia dizer que a crítica dos adolescentes recai mais sobre aqueles problemas
aos quais ele é mais “sensível”, a saber: sentido da vida, seu futuro e sobretudo o
significado da morte (Major, 1978145; Tamminen, 1991, p. 306; Nelson-Cantrell, 1980146).
Nesses casos, a sua religiosidade responde antes de tudo a impulsos interiores que,
com o tempo, pode se tornar um comportamento, uma atitude mais constante. Também
pode se tratar de uma religiosidade centrada na percepção de Deus, como um ser
confidente, deixando transparecer sua própria subjetividade, quando se relaciona com
Deus, parecendo mais com um “eu individual” relacional.
Mesmo quando o adolescente diminui a sua freqüência ao culto e aos vários ritos
institucionais, igualmente está presente nele uma forma de “religiosidade individua”,
vivida na privacidade de sua existência (Elkind, 1970, p. 40)151.
“senso de respeito e de obediência” àquilo que vem de Deus a quem concebe como
garantia de uma certa “segurança pessoal”.
Ao mesmo tempo, porém, o senso crítico, com o qual entram em contato com a
Bíblia, influencia, de algum modo, esse aspecto de sua religiosidade de adolescente,
especialmente, colocam em dúvida a “veracidade” das histórias ali narradas e o
“significado” que está além dos eventos ali descritos (Tamminen, 1991, p. 150).
152
RONCO, A. – VINCENTI, A. Religiosità adolescenziale, stima di sé e percezione dei genitori, In:
“Orientamenti Pedagogici”, 1980, 27, p. 7-30.
153
POTVIN, R. H. Adolescent God Images, In: “Review of Religious Research”, 1977, 19, 43-53.
154
BECATTINI, C. Immagine di Dio e percezione dei genitori, In: “Teresianum”, 1987, 38, 1, p. 127-137.
155
ZACHRY, W.H. Correlation of Abstract Religious Thought and Formal Operations in High School and
College Students, In: “Review of Religious Research”, 1990, 31, p. 405-412.
156
GOLDMAN, R.G. Religious Thinking from Childhood to Adolescense. London: Routledge and Kegan
Paul, 1964.
59
Muitos jovens se dizem religiosos, ou, pelo menos, não excluem a possibilidade do
credo religioso, em sua vida, porque são influenciados pela transmissão dos valores
tradicionais, sendo, portanto, tidos como “simpatizantes” (Rusconi, 1969)158 por causa do
próprio grupo de referência e das diversas interferências culturais que alimentam um senso
de religiosidade comum (Spilka-Armatas-Nussbaum, 1964, p. 29-35)159.
Uma tal “identificação religiosa”, que é mais evidente entre os jovens mais adultos
que entre os mais jovens (Mion, 1993, p. 13) não corresponde, porém, automaticamente a
uma “concepção confessional”. Ao contrário, o termo “fé” não evoca necessariamente o
significado religioso entendido, no período precedente (adolescência), mas representa um
modo mais amplo de entender a própria religiosidade.
Os jovens , em geral, têm uma concepção de Deus como amor, muito distante das
concepções teológicas, como aquele de que Deus é mistério, eterno, justo, luz (Mion,
1993, p. 19).
Igualmente, notou-se que os que praticam o seu credo de forma “confessional”,
participando das diferentes funções religiosas, manifestam uma sensibilidade de que Deus
é “protetor” e “dá segurança” e estão pouco afeitos, devido à intensa formação
catequética, a criticarem os conteúdos religiosos de sua fé (Milanesi, 1981b, p. 167)160.
Os jovens, no entanto, que não estão empenhados numa religiosidade externa e que
vão menos à igreja tendem, em sua maioria, a um credo teísta e filosófico, portanto, “não-
157
MION, R. La religione dei giovani dopo il crollo delle ideologie, In: “Tuttogiovani Notizie”, 1993, 8, 32,
p. 5-26.
158
RUSCONI, G.E. Giovani e secolarizzazione. Firenze: Vallechi, 1969.
159
SPILKA, B. - ARMATAS, PH.- NUSSBAUM, J. The Concept of God: A factor-Analytic Approach, In:
“Review of Religious Research”, 1964, 6, p. 28-36.
160
MILANESI, G. (Ed.). Oggi credono così. v.1: Risultati. v. II: Approfondimenti. Torino: Elle Di Ci,,
Leumann, 1981b.
60
Como os jovens definem Deus? R - Como já visto, os jovens são propensos a uma
certa religiosidade, mas os termos com os quais a exprimem se diferenciam a depender do
nível religioso que vivenciam.
Os jovens tendem a crer em Deus, mas não praticam aquilo em que crêem ou o
praticam, em níveis diferentes (Mion, 1993, p. 8).
Quando o jovem crê, quer exprimir a própria fé de modo pessoal e privado. São
várias as modalidades de expressão dessa fé que vão desde a pertença a pequenos grupos
até a experiência de uma “religiosidade interior” com a qual se sente feliz.
Tais jovens que participam de grupos religiosos de vários tipos são os que, na
grande maioria, têm uma concepção “masculina” de Deus que protege e com quem se está
seguro.
161
LE SAUX, M. Les jeunes: comment croient-ils? In: “Cahiers pour croire aujourd’hui”, 1994, 12, p. 75-83.
61
Esse fato é tão evidente em seus textos que, de modo simplificado, podemos
dividi-lo em três categorias:
1. A primeira estaria ligada aos textos que tratam especificamente do
fenômeno religioso.
2. A segunda abrangeria aqueles escritos em que tal fenômeno é apenas
indiretamente considerado.
3. A terceira reúne os textos que, embora não estejam relacionadas à
experiência religiosa, podem oferecer subsídios para elucidar a
psicodinâmica do fenômeno religioso.
Mas, afinal, em linhas gerais, o que diz a psicanálise sobre a experiência religiosa?
Num outro sentido, porém, talvez esse impasse não seja tão aterrador assim,
podendo na contemporaneidade ser tratado sem extremismos e sem a construção de
concepções teóricas taxativas, totalmente fechadas, que não abrem possibilidades aos
questionamentos.
Aqui se vê um fato pertinente, ao se deparar com o trabalhe de determinados
psicanalistas, tem-se a impressão de que os mesmos foram mais freudianos que o próprio
Freud, principalmente, quando se refere a escrever o que ele disse (ou até mesmo não
disse) sobre a relação humana estabelecida com a religião.
Como já foi mencionado, Freud não escreveu uma teoria da religião, mas escreveu
largamente a respeito desse tema, abordando-o em diversos dos seus trabalhos. De acordo
com Sérgio Nazar David:
Pode-se ver, ao longo da obra freudiana, pelo menos três formas de compreender,
ao nível do funcionamento psíquico, o fenômeno religioso. São elas:
Não se pode deixar de mencionar que essas explicações estão sob influência do
cientificismo positivista a que Freud se submeteu e que não se constituem em verdades
absolutas, já que é próprio na ciência moderna o questionamento e a revisão teórica.
A princípio Freud encontrou grandes semelhanças entre atos obsessivos e práticas
religiosas:
É fácil perceber onde se encontram as semelhanças entre cerimoniais
neuróticos e atos sagrados do ritual religioso: nos escrúpulos de
consciência que a negligência dos mesmos acarreta, na completa
exclusão de todos os outros atos (revelada na proibição de interrupções)
e na extrema consciência com que são executados em todas as minúcias
(FREUD, 1907, p.111).
Não se pode deixar de mencionar a culpa gerada cada vez que a pulsão é realizada;
culpa essa muito semelhante à culpa sentida pela criança por desejar a mãe, nos primeiros
anos de vida.
Em Totem e Tabu (1912), apesar do caráter antropológico, Freud faz uma
detalhada descrição do mito do pai da horda.
É exatamente essa descrição que possibilita uma compreensão do modo como as
relações fraternas se estabelecem e se fundam, e como se deu a origem do sentimento.
O autor relata o Mito da Horda Primitiva, onde um grande líder, no caso o pai,
reina soberanamente, detém todo o poder e desfruta do amor de todas as mulheres da
horda. Instigados pela situação, os filhos resolvem matar o pai e comê-lo, introjetando,
desse modo, as insígnias que o constituíam.
No entanto, o pai morto, com todos os seus significantes acaba por se elevar
enquanto grande totem, logo em que se torna instituidamente proibido se falar em seu
assassinato.
Por outro lado, vê-se a instauração do tabu do incesto, como também, as primeiras
proibições que barraram os instintos inerentes à existência e possibilitaram a vida em
sociedade. No tabu do incesto é terminantemente vetado o direito de se relacionar com
membros da mesma tribo.
64
Acerca disso Maria Rita Kehl menciona: “...a Lei estabelecida pelo acordo entre os
irmãos exige a renúncia de algumas satisfações pulsionais, como condição para se
pertencer à coletividade e se beneficiar das vantagens asseguradas pelo pacto civilizatório"
(2000, p.33).
Em seu escrito de 1927, Freud concebe a experiência religiosa como uma grande
ilusão da humanidade, capaz de aplacar a angústia frente à morte e, conseqüentemente,
dada a extinção perante o apogeu científico. Aqui é preciso definir o que ele mesmo
chamou de ilusão.
As cartas que marcaram o período desse diálogo são a prova evidente que não é
próprio do conhecimento psicanalítico legitimar ou não fundamentos religiosos, nesse caso
os fundamentos da fé cristã. O que: na verdade, lhe é pertinente é o estudo dos processos
inconscientes presentes na relação estabelecida entre o sujeito e sua prática de fé cristã; é-
lhe próprio um saber a serviço da libertação daquele que por alguma razão acorrenta-se a
sofrimentos tantos.
Estou muito admirado de que eu mesmo não tenha me lembrado de quão grande
auxílio o método psicanalítico pode fornecer à cura de almas, porém isso deve ter
acontecido porque um mau herege como eu está distante dessa esfera de idéias (1998,
p.27).
Síntese:
Diante do que foi exposto pode-se finalizar esse tópico apontado algumas
contribuições do conteúdo estudado até aqui. Podemos contemplar um pouco
superficialmente a psicanálise vista pelo viés dos pesquisadores da religião, já que nos
acostumamos a vê-la somente pela ótica dos que se ocupam da psicologia.
Esse fato alarga a visão diante das possibilidades de se ler e estudar a psicanálise
sob ângulo diverso.
Para a construção do conhecimento, o contato com outros campos do saber que
também se ocupam em estudar a experiência religiosa, com pesquisas atualizadas,
realizadas nas mais variadas faixas-etárias ajuda a conhecer o universo cognitivo,
motivacional, emotivo, dentre outros, da vivência religiosa.
Introdução:
Alguns teóricos da Religião (Karl Marx, Émile Durkheim, entre outros) afirmam
que a Religião é algo que vem de fora e que, de algum modo, é transmitido ou imposto ao
homem.
Já outros teóricos (William James, Stuart Mill, Wilhelm Wundt, Sigmund Freud,
Carl Gustav Jung e Viktor Frankl, entre outros) afirmam que vem de dentro do homem 162.
Quem tem razão? A vertente intrínseca ou a extrínseca? Ou ambas?
162
WILGES, Irineu. Cultura religiosa. As religiões do mundo. V. I. Petrópolis: Vozes, 1982, p. 16-19.
163
Os outros cinco são: Associacionismo, Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo e Psicologia da
Gestalt.
164
MARX, Melvin H.- HILLIX, William A. Sistemas e Teorias em Psicologia. São Paulo: Cultrix, 1978, p.
319-321.
67
Noutras palavras: “Psique”: Ψυχή: é o sopro que torna vivo um corpo, animando-o.
Já Aristóteles falou de psychê como bíos, isto é, o mesmo que vida. Depois os latinos -
mantendo o dualismo que, por meio de Platão, tinha veiculado um princípio de algum
modo distinto do corpo – traduziram o termo por “alma” que levará ao dualismo entre
psíquico e físico de algum modo teorizado por Descartes com a distinção entre res
cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa).
Com a psicologia científica do século XIX, o termo “alma”, por suas implicações
metafísicas e morais, foi, por sua vez, abandonado a favor da “psique”, considerado mais
neutro e técnico.
165
MARX-HILLIX, Ibid. p. 338.
68
Para Freud, em sua “tópica”, o “Inconsciente” (Id) é, por assim dizer, a parte
inferior da consciência: é o campo extensivo e dinâmico da vida mental no qual estão as
idéias e lembranças censuradas na “mente consciente” (ego) por meio dos fortes
mecanismos de recalque (Superego), havendo entre o consciente e o inconsciente o pré-
consciente.
Jung postula, portanto, uma camada ainda mais profunda, abaixo do “Inconsciente
pessoal” em que se encontrará o “Inconsciente coletivo” com suas “imagens primordiais e
universais” comuns a toda a humanidade.
166
PALMER, Michael. Freud e Jung: sobre a religião. São Paulo: Loyola, 2001, p. 125-126.
69
Exemplos:
FREUD JUNG
Superego
Ego+ Si mesmo
CONSC. CONSC.
C Ego
Pré-
Consciente Inconsciente
INCONS Pessoal
CIENTE
ID
INC. Inconsciente
2/3 Coletivo:Arquétipos
c) A psique em Jung
O “Consciente” (Ego) de Jung é algo como a concepção que o leigo tem a respeito
de si mesmo; é a mente consciente em contato com a realidade e contém as recordações
conscientes. É sentido como o centro da identidade e da personalidade. O ego de Jung não
é diferente do ego de Freud.
O “Inconsciente pessoal” é a região que fica imediatamente “interior” ao ego.
Como está contíguo e em contato com o ego, os materiais podem ser reprimidos do ego
para essa região.
2 – Os arquétipos em Jung
Exemplos de arquétipos, entre outros mais importantes que veremos logo a seguir,
são: o nascimento, a morte, o herói, o filho, círculo, mandala, criança, etc.
Sombra: consiste na parte do Inconsciente que foi herdada dos ancestrais pré-
humanos => são os instintos animais (impulsos passionais, imorais,) que,
quando aparecem na Consciência, podem ser “expressos” ou “reprimidos” e,
nesse caso, alguns dos materiais do “Inconsciente pessoal” têm sua origem na
sombra.
168
MARX – HILLIX. Ibid. p. 339.
169
PALMER, M. Ibid. p. 154.
71
INCONSCIENTE COLETIVO
Animus Anima
170
PALMER, M. Ibid. p. 160-175.
72
Isso significa que todas as concepções de Deus, por mais sofisticadas (Trindade)
ou primitivas (politeísmo) advêm de uma modalidade inerente e anterior de percepção, isto
é, da “forma arquetípica” que é uma realidade psíquica (experiência imediata e inegável),
intrínseca (não extrínseca) ao indivíduo, como uma “dimensão ativa” de sua própria vida.
É uma espécie de “instinto de Deus” 176.
Jung não se preocupou com a “existência ontológica” de Deus, mas com sua
existência como “realidade psíquica”, “fenomenológica” (o que aparece), através do
arquétipo Deus.
Deus é um “fenômeno psíquico”, afirma Jung, não fazendo nenhuma afirmação
transcendental (não gostava da metafísica), pois afirma ser essencialmente empírico.
“Deus existe, pois, para ele, como “realidade psíquica experienciada” 178. Deus
como “forma arquetípica” não é individualmente adquirido, mas é a priori um modelo
inato de apreensão pertinente ao inconsciente coletivo, como “incognoscível” e “eterno”,
onipotente, Pai todo-poderoso, amor, justiça, etc., mas que ainda assim se manifesta nos
símbolos da religião.
Há, portanto, uma distinção absoluta entre a “forma-Deus arquetípica” (causa
imperceptível) e os “conteúdos-Deus arquetípicos” (efeitos: experiência religiosa, através
dos mitos, símbolos, signos, etc.).
175
JUNG, C.G. A Psychological Approach to the Dogma of the Trinity (1942), CW 11: 148-149.
176
Cf. PALMER, M. Ibid. p. 160.
177
Idem, Ibid. p.160-161.
178
JUNG, C.G. Psychology and Religion (1938), CW 11: 104-105.
74
Em seu livro “Tipos psicológicos” (1921), Jung faz toda uma análise do símbolo
quando é adequado e inadequado, quando vira signo (símbolo morto) e outras
considerações que não temos tempo para tratar aqui179.
179
Vide PALMER, M. Ibid., p. 167-169.
180
JUNG, C. G. Aion (1951), CW 9 (2): 178.
181
Idem, Ibid., p. 37.
182
Ler livro de Rudolf OTTO, Das Heilige ( O Sagrado).
75
Além desses fatores acima descritos, o seu estilo é difícil, não objetivo e
simples como o de Freud, tende Jung uma aversão à metodologia científica
tradicional185.
Ele é criticado pelo seu “método indutivo” que passa de “semelhanças” entre
“algumas religiões” e generaliza essas experiências e, pior ainda, cria os tais
de arquétipos que não se pode provar, sendo anticientífico e caindo num
psicologismo.
Conclusão:
Jung se preocupa tanto com o passado dos povos e pessoas (arquétipos) como com
o seu futuro (teleologia), acontecendo com as pessoas na segunda metade do “processo de
individuação” (40 anos em diante).
Jung afirma que a pessoa que não tem religião é que pode ficar facilmente
neurótica (o contrário de Freud) e, em sua prática psicoterápica, aconselha, principalmente
depois dos 40 anos, a voltar à antiga religião que praticava.
“A circularidade dessa idéia é bem evidente – aquilo que vem da psique é validado
pela psique (psicologismo). Deus foi reduzido a nada mais do que uma experiência
subjetiva... como a crença em discos voadores. Jung radicalizou a tal ponto a noção da
imanência de Deus como realidade exclusivamente psíquica que se torna igualmente
questionável se algo sobrou de Deus e, portanto, se se designa alguma coisa distintiva
quando se fala de religião. Tudo isso aconteceu porque Jung desconsiderou a verdade
metafísica em favor da verdade psicológica” 186.
186
PALMER, M. Freud e Jung: sobre a religião... p. 246-247.
77
Jung intuiu que povos primitivos têm uma sede (um vazio ôntico) de um Todo que
tudo explique e proteja a todos em sua luta pela sobrevivência e criou, então, os
arquétipos. Mas, eram necessários?
Vejamos o que nos diz sobre isso a Logoterapia (terceira escola vienense de
psicoterapia: psicanálise) com seu fundador Viktor Emil Frankl.
Introdução:
Viktor Emil Frankl nasceu, aos 26 de março de 1905, à rua Czernin, nº 6, andar
superior, porta 25, em Viena, capital do então império húngaro-austríaco.
Seu pai se chamava Gabriel Frankl e sua mãe, a cordial e piedosa, Elsa Frankl. Ele
tinha mais um irmão Walter e uma irmã Stella. Era uma família de fé judaica, mas crítica e
liberal.
Teve uma formação moral e religiosa típica daquele tempo. Uma vez ele e seu
irmão Walter, quando crianças, encontraram uma revista pornográfica, sendo logo
arrancada de suas mãos pela mãe.
Seu pai foi diretor do Ministério do Serviço Social do governo, sendo destituído
com a invasão do nazismo e mandado para o campo de concentração, em Theresienstadt,
onde morreu de desnutrição (fome) e pneumonia. Sua mãe morreu na câmara de gás, em
Auschwitz, onde também esteve Viktor Frankl, sendo libertado pelos americanos, em
1945.
Desde os três anos que o menino Viktor Frankl queria ser médico. Como criança,
viveu uma vida normal, sofrendo a penúria da I Guerra Mundial. Como jovem divertia-se
e estudava, tendo lido muitos filósofos (Kant, Marcel, Heidegger, etc.), teólogos e
psicólogos.
Sentido da vida não é ensinado, mas encontrado. Para ele valor e sentido é
quase a mesma coisa. Sentido da vida é tudo o que move para realizar alguma coisa
naquele momento, naquela situação, que , para a pessoa, é único. Os valores
universal são transmitidos, não só encontra. F. torna o sentido, valores cotidianos
para o consciente. Há pequenas circunstancias, media valores e sentidos universais.
Valores da existência são coisas pequenas, do dia a dia, isso é sentido de vida, e
aquela coisa pequena é única e repetida.3
1 – As origens da Logoterapia
a) Definições:
b) Histórico
189
FRANKL, V.E. A presença ignorada.. p. 66.
190
FRANKL, V. E. pela Kösel Verlag de Munique (1973).
191
FRANKL, V. E. A presença ignorada... p. 14.
80
Há outras críticas a Freud, mas nos atemos a essas principais, passando agora a
algumas críticas feitas a Jung por Frankl.
Jung teve, afirma Frankl, o grande mérito de ver no Inconsciente também o aspecto
religioso, cometendo, no entanto, o erro radical de levar a “religiosidade inconsciente”
novamente à esfera do Id. Ele localizou de modo errado “Deus no Inconsciente”. Religião
não é um “instinto”, mas uma “decisão” 193.
Isso acontece porque, para Jung, a “religiosidade inconsciente” está ligada aos
“arquétipos religiosos” (Deus-forma arquetípica), a “elementos” do Inconsciente arcaico e
coletivo.
Para solucionar o acima colocado contra Freud e Jung, Frankl sugere a “Análise
existencial”.
Ela coloca outro conceito do homem em contraposição ao da psicanálise: um
joguete dos instintos.
Não é o homem quem faz a pergunta sobre o sentido da vida, mas, ao contrário, o
próprio homem é o interrogado, é ele que deve responder, que deve dar respostas, através
dos atos, às eventuais perguntas que “sua vida” lhe possa colocar.
195
FRANKL, V. E. Dio nell’Inconscio (Trad. Italiana . E. FIZZOTTI) Brescia: Morcelliana, 1990, p. 75-77
82
b) Método psicoterapêutico
Portanto, a “análise existencial” tem por objetivo o homem, não como ser
“impulsionado”, mas como ser “responsável”, ou seja, a sua “existência espiritual”!
O que “vêm à consciência” não é o “impulsivo” relativo ao Id, mas o meu
próprio ego (eu). Não é o Id que se torna consciente ao “eu” (ego), mas o ego (eu) se torna
consciente de “si mesmo”: passa a ter “consciência de si mesmo”, “encontra-se a si...
mesmo” 196.
3 – O inconsciente espiritual
a) O Inconsciente reabilitado
196
FRANKL, V. E. A presença ignorada... p. 15-16.
197
Idem, Ibidem, p. 18.
83
c) A especificidade do “ser-homem”
No traçar os limites ontológicos, o ser humano não é só um ser que “decide”, mas
também um “ser-separado”, um “ser-indivíduo” que, como tal, está sempre centrado em
torno de seu próprio “centro”.
Mas, o que há nesse centro, nesse núcleo? O que o preenche? Segundo Max
Scheler: “A pessoa é detentora (centro) e portadora de atos espirituais” em torno dos quais
está o mundo psicofísico.
84
Isso quer dizer que nesse “seu” psicofísico se compreende que a pessoa “tem” o
psicofísico, enquanto que ela “é” espiritual.
Na realidade, falando seriamente, não poderia dizer “minha pessoa”, pois não
“tenho” uma pessoa, mas “sou” minha pessoa.
Também não poderia dizer “meu eu”, pois o “eu” realmente “sou” eu, mas não
“tenho” um eu – quando muito, poderia ter um Id, justamente no sentido de minha
“facticidade” psicofísica.
Por estar centrado na pessoa determinada (como centro espiritual existencial), e
somente por isso, o ser humano é também um ser integrado: somente a “pessoa espiritual”
estabelece a “unidade e totalidade” do ente humano.
Enquanto somente se falar de corpo e mente, é evidente que não se pode estar
falando de totalidade humana.
Vejamos uma figura (Figura 1) de Frankl que visa mostrar essa realidade que
acabamos de expor.
Pré-
Consciente Inconsciente
E O núcleo
i perpassando as
Consciente x três instâncias
o
Núcleo
espiritual:
Centro PESSOA
Fissura ôntica
86
Noutras palavras, a pessoa fica tão absorvida, ao executar os seus atos espirituais,
que ela não é passível de reflexão, na sua verdadeira essência, ou seja, de maneira alguma
poderia aparecer na reflexão.
Com efeito, quando usamos a expressão “análise existencial” não queremos dizer
análise da existência, mas, conforme já foi definida, “análise dirigida à existência”.
A “existência”, propriamente dita, continua sendo um fenômeno primário
(Urphänomen) não analisável e irredutível. Também cada um de seus aspectos elementares
como, por exemplo, quando nos referimos à “consciência” 198 (Bewusstsein ou
Bewusstheit:conhecimento do que se passa em nós) e à “responsabilidade” constitui um
estado fenomenológico primário do mesmo tipo.
No plano ôntico, portanto, esses fenômenos são irredutíveis (bem parecido com o
arquétipo “forma” e “conteúdo” de Jung!), sendo esclarecidos somente com sua
transcendência ao plano ontológico (como fenômeno).
198
Diferente da “consciência moral” (Gewissen): Faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos
realizados.
87
Ao espírito poderia aplicar-se o que se lê nos antigos vedas indianos: “Aquilo que
vê, não pode ser visto; aquilo que ouve, não pode ser ouvido; e o que pensa, não pode ser
pensado” 200.
Conclusão
Viktor Frankl dá muito valor à espiritualidade do homem, muito mais do que Jung,
ao nível de profundidade, como algo inconsciente que deve ser “decidido” pela pessoa
responsável e livre, buscando a transcendência não só psíquica, mas ôntico-ontológica da
“pessoa profunda espiritual “existente”, no Inconsciente.
O espiritual não é algo “instintivo”, mas que deve ser “decidido” pela pessoa
humana, dando sentido à vida.
Na próxima palestra, traçaremos paralelos, colocando semelhanças e diferenças
entre Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e Viktor Frankl no que concerne à fonte da
religião.
199
FRANKL, V. E. A presença ignorada... p. 18-25.
200
FRANKL, V. E. A presença ignorada... p. 24.
88
Introdução:
Os três grandes psicanalistas Freud, Jung e Frankl têm muita coisa em comum, mas
também tem muita coisa de diferente no que concerne ao Inconsciente como fonte da
religião.
Não é fácil compará-los, de modo profundo, mas o faremos diante do que foi
exposto nas duas palestras anteriores.
b)
JUNG
FREUD
Superego
Ego+ Si mesmo
CONSC. CONSC.
C Ego
Pré-
Consciente Inconsciente
INCONS Pessoal
CIENTE
ID
INC. Inconsciente
2/3 Coletivo:Arquétipos
Pré-
Consciente Inconsciente
E O núcleo
i perpassando as
Consciente x três instâncias
o
Núcleo
espiritual:
Centro PESSOA
Fissura ôntica
b) A concepção de religião
90
Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano, mais sua vítima do
que seu criador (...). O “numinoso” pode ser a propriedade de um objeto visível ou o
influxo de uma presença invisível que produzem modificação especial na consciência. Tal
é, pelo menos, a regra universal (1938/40. XI, § 6).
Uma das raízes da religião deve ser buscada no papel que ela desenvolve na
construção da psique a partir da teoria da consciência que o próprio Jung
fundamentalmente dela dá, isto é, em referência à consciência como autoconsciência ou
consciência da consciência, que no seu fato de ser uma consciente relação consigo próprio
(e, portanto, um pensamento que se verifica no contraste entre o saber de nós e o saber do
outro) está em grau de criar em cada homem, de um lado, a possibilidade do interesse por
si, e do outro, a possibilidade do distanciamento de si.
confim (limite) entre esses dois centros (Si mesmo e eu), motivo pelo qual o “eu” existe
verdadeiramente à medida que está em grau de imaginar-se como proveniente e
constantemente em remitência ao “Si-mesmo”, enquanto ordenador da personalidade e
enquanto aquilo que preside ao sentido e à configuração da própria personalidade, da qual
o “eu” é parte204.
HOMEM
_ Fissura ôntica
SER
+
TER
O homem é esse “mais” (+) cuja fissura ôntica: “menos”(-) clama por ser
preenchida, como o riacho só pára quando vira mar e as limalhas só entram em quietude
quando se lançam sobre o ímã.
“O coração do homem anda irrequieto e não descansa enquanto não se jogar em
Vós, ó Senhor” (SantoAgostinho).
Exemplo: Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz, São Francisco de Assis, Madre
Teresa de Calcutá, Sai Baba, os sanyasis, os sadhus, no Hinduísmo, os monges budistas, os
derviches, no Islamismo e tantos outros místicos em todos tempos.
204
PIERI, P. F. “Religião” In: Dicionário junguiano. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 431-432.
92
Noutras palavras, nessa fase definida como “pré-religiosa” (Ibidem), através das
próprias modalidades de interpretação e de decodificação das mensagens religiosas
provenientes do ambiente circunstante, a criança se põe na prospectiva de um
reconhecimento da “alteridade” como presença real e como fonte de motivação para a sua
própria existência.
206
FIZZOTTI, E. Verso una psicologia della religione... p. 117-118.
94
Ele sente que algo que surge de dentro de si o impele a algo fundamentalmente
“diferente” do seu credo habitual, permitindo-lhe um estilo programático e a procura de
um sentido para a vida.
Essa novidade começa a ser “tangível”, na medida em que ele entre em contato
com o aspecto funcional e pessoal da própria religiosidade.
207
HUNTER, J.P. Operationalizing Evangelism: A Review, Critique and Proposal, In: “Sociological
Analysis”, 1982, 42, p. 363-372.
208
DOBBINS, R.D. Too Much, Too Soon, In: “Christianity Today”, 1975, 20, p. 41-42.
95
Esses resultados, no entanto, não são concordes, nas diversas pesquisas sobre essa
temática (Crawford, 1989)210, mas se revela particularmente verdadeiro, nos grupos mais
ortodoxos, onde existe uma religião mais conservadora e convencional (Wright-Cox,
1967)211.
Noutra pesquisa, o confronto entre adolescentes crentes e não crentes permitiu
constatar uma maior pontuação em favor dos primeiros no que diz respeito à própria
“experiência religiosa”, enquanto que, no que concerne aos “valores morais e sociais”, os
dois grupos não apresentam grandes diferenças (Wright-Cox, 1971) 212.
O adolescente tende a ver na religião uma ocasião para construir o próprio “projeto
de vida”, embora esteja consciente dos limites e dos conflitos que a sua idade gera (De
Carli, 1984-1985)214.
O caráter motivacional de tal percepção da experiência religiosa se exprime,
através de múltiplos elementos:
1) Vivência intensa das próprias experiências de fé;
214
DE CARLI, S. L’uomo e i suoi limiti, In: “Religione e Scuola”, 1984-1985, 13, 4, p. 185-190.
215
DOWNTON, A. An Envolving Theory of Spiritual Conversion and Commitment: The Case of the Divine
Light Mission, In: “Journal for the Scientific Study of Religion”, 1980, 19, p. 381-396.
216
HAY, D. Exploring Inner Space. Harmondsworth: Penguin, 1982.
217
BERGIN, A. E. et alii. Religious Lifestyles and Mental Health: An Exploratory Study, In: “Journal of
Counseling Psychology”, 1988, 35, p. 91-98.
97
do que foi afirmado por Freud para o qual a religião é uma expressão da
neurose coletiva;
9) Esse bem-estar se encontra também em idades diferentes (até idade avançada) e
com diversas desadaptações psicológicas;
218
CRAWFORD, M.E. - HANDEL, P.J. - WIENER, P.L. The Relationship between Religion and Mental
Health/Distress, In: “Review of Religious Research”, 1989, 31, p. 16-17.
219
JOHNSON, D.P. – MULLINS, L.C. Subjective and Social Dimensions of Religiosity and Loneliness
among the Well Elderly, In: “Review of Religious Research”, 1989, 31, p. 3-15.
220
CRANDELL, J.E. – RASMUSSEN, R.D. Purpose in Life as Related to Specific Values, In: “Journal of
Clinical Psychology”, 1975, 31, p. 483-485.
98
1) O jovem percebe, de modo mais orgânico, o valor global relevante que o credo
religioso tem para as pessoas;
2) Essa relevância ainda se manifesta, de modo não muito claro, por causa do
aspecto evolutivo e dinâmico que caracteriza o desenvolvimento da
religiosidade humana;
4) O jovem tende a interiorizar os valores éticos que lhe foram propostos pela
revisão crítica positiva da religião;
221
HAITSMA, K.V. Intrinsic Religious Orientation: Implications in the Study of Religiosity and Personal
Adjustment in the Aged, In: “Journal of Social Psychology”, 1986, 126, p. 685-687.
222
LIBRATORE, E. I giovani e la dimensione religiosa, In: “Docete”, 1988-1989, 44, 1, p.17-21.
223
WATSON, P.J. – MORRIS, R.J. – HOOD, R.W. Attributional Complexity, Religious Orientation, and
Indiscriminate-Pro-Religiousness, In: “Review of Religious Research”, 1990, 32, p.110-121.
224
BRUNETTA, G. - LONGO, A. L’Italia cattolica. Fede e pratica religiosa negli anni ’90. Firenze:
Valecchi, 1991.
100
Com essa cisão, pode suceder que, para experiências de fé juvenil vivaz e criativa
-correspondentes seja à ruptura do cordão umbilical que ligava certos comportamentos a
uma determinada religião, seja ao desejo de subjetivizar a própria religiosidade - se
contraponham experiências de fé ritualística e convencional, sobretudo, nos grupos
religiosos tradicionais.
Os jovens que participam de grupos de militância religiosa, social ou política, são
os “menos conformistas” e são os que, no desenvolvimento dos próprios projetos,
manifestando, com mais evidência, a presença de motivações, de ideais, de um maior
realismo e de uma adequação ao projeto de vida.
Para esses jovens engajados, prevê-se uma atitude positiva para com o futuro.
Esses jovens são os mais sensíveis para a percepção de Deus como o “totalmente
Outro”, no sentido de que dão um conteúdo mais amplo e especificamente religioso ao
relacionamento com o divino que não é mais simplesmente alguém ensinado pelos pais e
mestres, mas alguém com quem estão “existencialmente envolvidos”, embora muito
subjetivamente ainda (Le Saux, 1994, p. 80).
institucionais), eles terão uma prospectiva de fé, como adesão operosa e responsável,
segundo o próprio quadro de valores.
Uma coerência que se manifesta também quando ele se encontra diante das
dificuldades e frustrações sociais de tais projetos, sentindo-se ele sempre o artífice e o
responsável desses projetos.
Tal responsabilidade tem um significado envolvente, sobretudo, no contexto social
no qual o jovem se encontra, assumindo uma dimensão sócio-humanitária à qual é
particularmente sensível.
Valores como fraternidade, solidariedade para com os outros, amor pelos mais
necessitados, sintetizam o seu consenso a uma religiosidade traduzida numa “vida melhor”
do qual também se sente co-responsável (Fizzotti, 1995, p. 126-128).
É claro que, entre os jovens que participam de grupos religiosos (agregados) não
faltam manifestações de uma fé ainda ligada à tradição, com a conseqüente conformidade
às exigências da coletividade (a Igreja), percebida como garantia da autenticidade do
sentimento individual.
Para os jovens que não fazem parte diretamente de grupos religiosos, no entanto,
emerge um sistema de significado mais heterogêneo e diversificado, mais condizente com
a exigência de privatização do próprio sistema de valores e necessidades.
Por ser o homem um ente inserido (In-der-Welt-sein), ele, para sobreviver, deve se
adaptar ao meio ambiente, no qual está inserido, tendo esse habitat um influxo típico, a
depender das fases evolutivas que a pessoa humana vive, com seus “esquemas mentais,
afetivos e motivacionais” que se estruturam a partir desse intercâmbio de vida ou morte.
Portanto, por ser a criança um ser “relacionado e dependente” dos outros, é através
de tal intercâmbio existencial que ela modula a própria atenção para adquirir noções e
sensações úteis também para o crescimento de sua religiosidade que, obviamente, é uma
religiosidade “nos moldes de criança”, dependendo muito como ela vê os outros vivendo o
próprio relacionamento com Deus que ela tenta “aprender” (imitar).
O papel dos pais, nesse crescimento religioso da criança, é fundamental para o seu
crescimento na fé (Godin-Hallez, 1964)228. É através do comportamento religioso de seus
pais e de sua pertença ao grupo religioso que a criança amadurecerá os diversos aspectos
226
GODIN, A. Psicologia delle esperienze religiose. Il desiderio e la realtà. Brescia: Queriniana, 1983.
227
ALLPORT, G.W. L’Individuo e la sua religione. Interpretazione psicologica. In: “La Scuola”. Brescia.
228
GODIN, A. – HALLEZ, M. Images parentales et paternité divine, In: “Lumen Vitae”, 1964, 19, p. 243-
276.
105
de sua própria religiosidade (Makhoul-Mirza, 1992, p. 163; Heller, 1991, p. 23-42; Elkind,
1964b229).
Para as crianças de pais praticantes da religião, aos dois anos e meio, já se sente
que “a criança está impregnada daquilo que vê, toca, entende ou sente, participando da
experiência de fé de seus pais, imitando os seus gestos, sinais, ternura, clima de
relacionamento que fazem despertar a sua vida espiritual e religiosa, ao menos, como
projeto” (Makhoul-Mirza, 1992, p. 150).
Contam muito as expectativas dos pais sobre os filhos. O primeiro filho tende a ser
mais religioso (MacDonald, 1979)232, sendo a orientação religiosa mais clara se ambos os
pais professam e praticam um credo religioso coerentemente (Middlenton-Putney,
1962)233.
A percepção que a criança tem de Deus torna-se mais positiva quando ela vive num
ambiente familiar que é de aceitação, paciência, respeito recíproco e amor (Ronco-
Fizzotti-Amenta, 1993, p. 677)234.
229
ELKIND,D. Age Changes in the Meaning of Religious Identity, In: “Review of Religious Research”,
1964b, 6, p.36-40.
230
VERGOTE, A. The Religious Man: A Psychological Study of Religious Attitude. Dayton (Ohio): Pflaum
Press, 1969.
231
DAY, L.G. The Development of God Concept: A Symbolic Interaction Approach, In: “Journal of
Psychology and Theology”, 1975, 3, p. 173-178.
232
MACDONALD, L. Social Class Deliquency. London: Faber and Faber, 1979.
233
MIDDLENTON, R. – PUTNEY, S. Religion, Normative Standards and Behavior, In: “Sociometry”,
1962, 25, p. 141-152.
234
RONCO, A. – FIZZOTTI, E. AMEMTA, E. Immagine di Dio, percezione dei genitori, conoscenza e
stima di sé, In: “Orientamenti Pedagogici”, 1993, 40, p. 661-679.
106
Se, mesmo depois da separação, a criança participa da vida dos pais, de modo
tranqüilo, a religiosidade da criança adquire um maior significado, pois ela pode dirigir-se
a Deus, como aquele que a pode consolar, ou transfere para Deus as próprias fantasias com
relação ao genitor perdido (Kay, 1981)236.
As crianças que não têm pais (sem a vida afetiva dos mesmos) e que foram
internadas em Instituições também apresentam uma imagem de Deus negativa: Deus é
menos ativo, menos potente e com pouca avaliação positiva (Vianello-Carraro-Lis, 1987,
p. 640-641237; Fizzotti, 1995, p. 63065).
235
NELSEN, H.M. Gender Differences in the Effects of Parental Discord on Pré-Adolescent Religiousness,
In: “Journal fo the Scientific Study of Religion”, 1981, 20, p. 351-360.
236
KAY, W.K. Psychoticism and Attitide to Religion, In: “Personality and Individual Differences”, 1981, 2, p.
249-252.
237
VIANELLO, R. – CARRARO, G.C. – LIS, A. L’immagine della divinità e l’assimilazione delle nozioni
religiose in bambini istituzionalizzati, In: “Orientamenti Pedagogici”, 1987, 25, p. 630-643.
107
Foi ressaltado que a criança desde 4-5 anos que passou muito tempo, em ambiente
de catequese ou paroquial, crê muito mais numa justiça de tipo legalístico e formal e tem
uma concepção de um Deus que pune ou premia, aumentando o percentual com o evoluir
da idade do sujeito (Hyde, 1990, p. 283).
238
DUMOULIN, A. – JASPARD, J. - M. Les médiations religieuses dans l’univers de l’enfant. Prêtre et
Eucharistie dans la perception du divin et l’attitude religieuse de 6 à 12 ans. Bruxelles: Lumen Vitae, 1973.
239
McDOWELL, J.B. The Development of the Idea of God in the Catholic Child. Washington: The Catholic
University of America, 1952.
108
Quando um ensino está muito ligado a uma linguagem teológica e abstrata não
corresponde a uma adequada compreensão por parte dos rapazes, mostrando-se ele arredio
a esse tipo de linguagem ensinada por outros, sendo mais receptivo a uma linguagem
corresponde à sua maturação psicossocial.
Isso não quer dizer que o pré-adolescente esteja pronto totalmente para uma crítica
do que aprendeu, sendo o seu comportamento ainda ambivalente entre o fácil
antropomorfismo da infância (que ainda toma conta de sua dinâmica cognitiva) e o
complexo pensamento abstrato, cujas primeiras estruturas mentais começa a adquirir.
241
ZAVALLONI, R. Gli atteggiamenti etico-religiosi dei giovani, In: “Pedagogia e Vita”, 1968, 29, p. 356-
382.
242
BRIMER, J. School Worship with Juniors, In: “Learning for Life”, 1972, 11, 5, p. 6-12.
243
KOPPE, W. How Persons grow in Christian Community. Philadelphia: Fortress Press, 1973.
244
HYDE, K.E. Religious Learning in Adolescence. Edinburgh: Olivier and Boyd, 1965.
110
Se, de uma parte, ele participa das atividades religiosas, de outra parte, torna-se
ainda mais difícil transmitir-lhe uma adequada formação religiosa.
245
HYDE, K.E. Religion in Childhood and Adolescence... 1990.
246
RONCO, A. – VINCENTI, A. Religiosità adolescenziale... 1980.
247
HYDE, K.E. Adolescents and Religion... 1991.
248
COX, E. Sixth Form Religion. London: SCM Press, 1967.
111
Nesse caso, as moças que freqüentam menos a escola têm um menor conhecimento
científico do que os rapazes, desenvolvendo uma atitude menos crítica com relação à
religião (Greer, 1972ª)250.
Como na infância, também na adolescência, a influência dos pais se diferencia no
que diz respeito à religiosidade do pai ou da mãe.
Os desencontros entre nova e velha geração também não atenuam a crise religiosa
do adolescente que vive a auto-afirmação de sua personalidade, muitas vezes, de modo
dramático, rejeitando a religião também por fatores pessoais evolutivos ou para ser contra
os pais (Hoge-Petrillo, 1978).
249
YINGER, J.M. The Scientific Study of Religion. New York: Mac Millan, 1970.
250
GREER, J.E. Sixth Form Religion in Northern Ireland, In: “Social Studies: Irish Journal of Sociology”,
1972a, 1, p. 325-340.
251
ACOCK, A.C. - BENGSTON, V.L. On the Relative Influence of Mothers and Fathers: A Covariance
Analysis of Political and Religious Socialization, In: “Journal of Marriage and the Family”, 1978, 40, p. 519-
530.
252
HOGE, D.R. – PETRILLO, G. H. Determinants of Church Partecipation and Attitudes among High-
School Youth, In: “Journal for the Scientific Study of Religion”, 1978, 17, p. 359-379.
253
MONTGOMERY, S.M. – MONTGOMERY, R. Religious Practice and Orthodoxy among Catholic
Students as a Function of Parental Beliefs and Religious Behavior, In: “Psychological Reports”, 1975, 37, p.
706.
112
não se separam completamente da interpretação e vivência religiosa dos pais (De Vaus,
1983, p. 148)254.
Tal continuidade se revela principalmente, nos comportamentos seqüentes do
assumir os valores morais, através da mediação da prática religiosa.
Se, de uma parte, os rapazes dessa idade tendem a ver, na fé religiosa, uma
possibilidade de contato “crítico” com tudo o que lhe foi ensinado precedentemente, de
outra parte, eles manifestam - principalmente onde a dimensão social é muito consolidada,
como na Suécia (Dahlin, 1990)257 - uma concepção muito utilitarista da religião, em vista
das expectativas sociais e valores da vida em comum.
257
DAHLIN, B. Conceptions of Religion among Swedish Teenagers: A Phenomenological Study, In:
“Religioius Education”, 1990, 83, p. 611-621.
258
POTVIN, R.H. – LEE, C.-F. Adolescent Religion: A Developmental Approach, In: “Sociological
Analysis”, 1982, 43, p. 131-144.
114
O controle das atitudes religiosas precedentes, pois, não somente conduz o rapaz
e/ou a moça a se confrontarem, emotivamente, com “outras pessoas significativas”,
diferentes das figuras normativas com as quais estão em contato, diariamente, mas os
estimulam, também, a uma compreensão diferente do seu mundo religioso.
Então, quanto mais evidente e incisiva é a educação religiosa recebida, tanto mais é
possível que se verifiquem situações de conversão, nas quais as informações recebidas,
através dessas novas experiências, se enriqueçam e sejam avaliadas, criticamente, com os
novos critérios que caracterizam o desenvolvimento da dimensão cognitiva.
De uma parte, o rapaz (a moça) tende a construir uma escala própria de valores e
de interpretação, adquirindo, neste caso, a conversão uma conotação “afetiva”, como
participação criativa ao fenômeno e vivência religiosos – mediados por pessoas
significativas – e se insere no quadro mais amplo de uma religião típica da adolescência.
259
GARTRELL, C. D. – SHANNON, Z. K. Contacts, Cognitions and Conversion: A Rational Choice
Approach, In: “Review of Religious Research”, 1985, 27, p. 32-48.
115
Os diversos acontecimentos que o jovem vive, por exemplo, podem ter uma
incidência significativa, ao ponto de haver uma alternância de momentos fortes e fracos de
fé.
Os momentos positivos têm feito crescer a fé, enquanto que os negativos fazem o
jovem declinar na fé (Albrecht-Cornwall, 1989)260.
Noutras palavras, tudo aquilo que faz parte da experiência de vida incide, de
maneira diferenciada, sobre a religiosidade juvenil, de acordo com o influxo percebido, no
seu próprio envolvimento pessoal.
Está comprovado que o impacto exercido pela “mobilidade social” (ir para o
trabalho, para a escola, emigrar do campo para a cidade, etc.) no credo religioso do jovem
depende de sua “identidade religiosa” e da possibilidade de encontrar “pontos
significativos disponíveis” de referência, na nova residência (paróquia, lugar, escola) em
que se encontra (De Vaus, 1982).
Nesse caso, a identidade religiosa não está muito ligada a uma dimensão estática
de uma determinada maturidade da vivência religiosa, mas antes indica uma “prospectiva
dinâmica”, na qual se insere o movimento de crescimento da idade juvenil.
E é nesse contexto que se insere o comportamento “crítico” do jovem diante das
diversas agências de mediação religiosa.
260
ALBRECHT, S. L. – CORNWALL, M. Life Events and Religious Change, In: “Review of Religious
Research, 1989, 31, p. 23-38.
261
SPILKA, B. – ARMATAS, PH. - NUSSBAUM, J. The Concept of God: A Factor-Analytic Approach, In:
“Review of Religious Research”, 1964, 6, p. 28-36.
116
A reação comum, por parte do jovem, a tal fenômeno, acima aludido, é a vivência
de uma “espontaneidade” da própria religiosidade (“Sim” a Deus e “Não” à Igreja),
abandonando, progressivamente, toda a prática religiosa e sacramental. Ou então há uma
“ideologização” do sagrado, ao qual se dá um valor essencialmente cultural ou sócio-
político (Milanesi-Aletti, 1977, p. 215).
Como se pode perceber, há ainda uma ojeriza do jovem ao que é estático, já que
vive um grande dinamismo, em sua vida biopsíquica e emocional, não se adequando a
Igreja a essa realidade do jovem, causando os fenômenos já aludidos.
b) A influência da paróquia.
263
GARELLI, F. Religione e Chiesa in Itália. Bologna: Il Mulino, 1991.
119
Em tal caso, agir num ambiente religioso não implica necessariamente que o jovem
adira e se identifique com aquela instituição.
De outro lado, a instituição “exige” uma pertença a ela, seja através da mediação
dos conteúdos religiosos ensinados, seja na adesão aos vários grupos nos quais o jovem
amadurece a sua identificação religiosa (Milanesi, 1981b, p. 202).
processos
intelectivos,
típicos da idade,
ela formula um
“modo seu” na
relação com
Deus: dimensão
animista do
pensamento.
124
DIMENSÕES
DIMENSÕES
DIMENSÕES
é protetor e dá segurança.
* Os agregados a grupos
religiosos significativos
assimilam a concepção
teologicamente correta.
Eles se referem a um Deus
positivo, cheio de amor,
sem sair da ótica
confessional e institucional
e em níveis diferentes.
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Prof. Luiz Alencar Libório
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