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Entrevista com Antonieta Celani sobre o

ensino de Língua Estrangeira


Pesquisadora brasileira alerta para a importância de
refletir sobre a prática em sala para substituir
definitivamente os "métodos milagreiros"
Daniela Almeida (novaescola@atleitor.com.br)

ANTONIETA CELANI "Já baseamos as aulas em tradução e em gramática, mas


hoje sabemos que cabe ao professor analisar a turma para atuar bem." Foto:
Marina Piedade

A formação deficiente de professores em faculdades sem qualidade que se proliferam


pelo país e a escassez de programas de Educação continuada bem organizados são
apenas dois dos desafios enfrentados no ensino de Língua Estrangeira. Outra questão,
somada a essas, torna o cenário ainda mais desafiador: a ausência de uma política clara -
em nível nacional -, o que leva a disciplina a uma posição secundária dentro do
currículo. Na avaliação da professora Antonieta Celani, fundadora, em 1970, do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada - o primeiro do gênero
no Brasil - e atual coordenadora do Programa de Formação Contínua do Professor de
Inglês da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, existe uma descrença
geral no meio educacional em relação à área.

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Para ela, no entanto, a situação tende a se reverter com o fim da crença de muitos
educadores na existência do que costumam chamar de "o melhor método". "Já baseamos
as aulas em gramática e em tradução, por exemplo, mas hoje sabemos que cabe ao
professor analisar a turma para atuar bem", afirma. Nesta entrevista, a pesquisadora
explica por que acredita que a busca por receitas só mudará com a formação reflexiva -
a capacitação que prepara cada docente para avaliar a realidade em que atua e aplicar
princípios de ensino e aprendizagem que funcionem para o grupo de estudantes que tem
em cada sala de aula.

O que mudou nas aulas de Língua Estrangeira no Brasil desde que o primeiro
curso de pós-graduação na área foi criado, em 1970?
ANTONIETA CELANI Antes, o foco estava no ensino de línguas em si. Hoje, o
conceito de linguística aplicada, guarda-chuva do curso que ajudei a criar, é muito mais
amplo. Naquele tempo, a preocupação era o que e como ensinar. Hoje há outras
perguntas: para que crianças e jovens precisam do Inglês? Por que ele é necessário no
currículo?

Por quais concepções de ensino da disciplina o país já passou?


ANTONIETA Primeiro, tivemos aquela baseada em gramática e tradução. Depois,
caminhamos para o método audiolingual, embasado na repetição oral e com orientação
behaviorista. Daí em diante, apareceram iniciativas soltas: método funcional (conteúdo
determinado por funções, como pedir desculpas e cumprimentar), método situacional
(conteúdo pautado por eventos como "no aeroporto", "na loja" etc.). Todos, no fundo, se
tratavam de audiolinguais disfarçados, já que a condução em sala também se dava pela
repetição. Mais tarde, surgiu a abordagem comunicativa, por meio da qual não se pode
usar a primeira língua, só a estrangeira. Essa foi a grande revolução do fim do século
19.

Não houve a influência do sociointeracionismo?


ANTONIETA Sim, as ideias do psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934)
vieram paralelamente, focadas na questão do desenvolvimento e do ensino e da
aprendizagem como um processo único. Nesse contexto, são usadas formas de
mediação - pelo professor, pelo colega ou pelo próprio material didático - para levar o
outro a aprender.

E atualmente, como estamos?


ANTONIETA Hoje, atuamos em uma era que os especialistas chamam de pós-método.
Falamos em princípios e em diferentes possibilidades de implementá-los. De certo
modo, para a questão da formação docente, isso complica a situacão, já que é muito
mais fácil pegar uma receita e aplicá-la. Agora, dependemos da análise do professor em
relação ao que fazer diante da realidade em que estão inseridos seus alunos.

O que cabe a ele, afinal?


ANTONIETA Ele precisa dominar o contexto por meio de princípios básicos de ensino
e aprendizagem que independem de metodologia. Existem alguns nos quais o professor
acredita e aos quais é fiel. Se ele aposta na mediação, por exemplo, não vai exigir que a
garotada repita milhares de vezes uma palavra.

Não é possível falar, portanto, em um modelo que seja mais eficaz.


ANTONIETA Exatamente. Não existe um método perfeito, até porque a eficácia
depende do objetivo da pessoa ao aprender um idioma. A saída agora é entender por
quê, para quê, como e o que ensinar - nessa exata ordem. A primeira resposta pode ser:
porque a língua confere uma formação global ao indivíduo. Para quê? Até o 9º ano,
ainda não há uma certeza. Então, a formação deve ser básica para permitir
direcionamentos específicos posteriores. O como vai depender dos objetivos. Só então é
possível definir os conteúdos a ensinar.

É importante que esses conteúdos estejam relacionados às práticas sociais de


leitura e escrita?
ANTONIETA Sim. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua
Estrangeira, lançados em 1998, do qual sou coautora, recomendamos a ênfase em leitura
e escrita, considerando as situações do contexto brasileiro. Fomos massacrados. Diziam
que a proposta era elitista, pois excluía a possibilidade de acesso do estudante ao
desenvolvimento das quatro habilidades - ler, falar, escrever e compreender. Mas como,
sem preparo, o professor pode desenvolver a habilidade de fala com 50 crianças por
classe em duas horas semanais? Agora, justamente as práticas de leitura e escrita
aparecem como uma necessidade social.

Como levar esses dois conteúdos para a sala de aula?


ANTONIETA Ligando aquilo que acontece em classe com objetos de uso da Língua
Estrangeira que existem fora do ambiente escolar. Vale trabalhar com textos de jornal
(disponíveis inclusive na internet), rótulos de produtos, a estampa de uma camiseta ou
letras de música. Dessa forma, o professor encontra um link com os jovens.

Com o desenvolvimento de novas mídias e tecnologias, como a internet e a TV a


cabo, mudam os conteúdos e a maneira de lecionar Inglês?
ANTONIETA Com certeza. Existem, aliás, iniciativas muito interessantes nesse
sentido, como a chamada You've Got Mail. Por meio desse programa, os professores
promovem a troca de e-mails entre alunos brasileiros e de outros países. O computador
é um recurso que deve ser usado para fazer tarefas que despertem o interesse dos
estudantes. Usar essas novas tecnologias é outro meio de estabelecer um relação com a
realidade.

Muitas escolas brasileiras ainda focam apenas a gramática e a decoreba. Como


mudar isso?
ANTONIETA É preciso valorizar o segundo idioma, entender qual a importância de
aprendê-lo para a Educação do indivíduo - o que permite a ele entender o outro e as
diferenças e estar inserido no contexto mundial atual. E também, é claro, dando
formação inicial e continuada para os professores. Eles apenas repetem o que aprendem.

Quais os problemas da formação docente nessa área?


ANTONIETA Primeiro, há a questão da licenciatura dupla em Português e Inglês, por
exemplo. Com o repertório proporcionado pela Educação Básica, não há como dar
conta das duas em tão pouco tempo. Além disso, hoje se proliferam faculdades que não
têm corpo docente adequado nem desenvolvem pesquisa e dão cursos baseados na
gramática. O ideal é que a graduação ofereça a prática e o uso da língua, de várias
maneiras, além de formação reflexiva e não receitas.

Como os professores recém-formados chegam à escola?


ANTONIETA Eles se sentem perdidos, já que a própria instituição muitas vezes
desvaloriza a disciplina. Alguns se perguntam por que estão ensinando aquilo. Eles não
têm noção da capacidade de inclusão que o idioma tem.

O que é essencial numa boa aula?


ANTONIETA A conversação. O único momento real de comunicação se dá com
ordens: abram seus livros. Em sala, continua-se falando em português e isso acontece
pela falta de naturalidade com o idioma. O medo de a turma não entender não é
desculpa. Senão vira um círculo vicioso. É possível usar os dois idiomas, pelo menos,
ou traduzir na primeira vez que empregar determinados termos.

Que outras habilidades e conhecimentos o professor deve ter?


ANTONIETA Além de ser capaz de falar na língua que leciona em sala, ele precisa
escrever de maneira simples e correta sintaticamente, ler um artigo e entender falantes
nativos - que não devem ser encarados como modelo, nem em relação à pronúncia.
Mesmo porque essa ideia está superada hoje pela falta de fronteiras proporcionada pelo
avanço da tecnologia e por causa da expansão do inglês. Afinal, quem é o falante, nesse
caso, uma vez que os não-nativos superam absolutamente os que o têm como primeira
língua? O princípio é se comunicar de forma correta e compreensível.

O que a formação continuada pode oferecer ao docente da área?


ANTONIETA Ele precisa estar preparado para se enxergar e atuar como um
pesquisador da própria prática. A reflexão proporciona isso a ele. Um dos grandes
problemas do professor é a solidão. Muitas vezes, ele não tem colegas com quem trocar
experiências na escola. Por isso, é importante estar sempre alerta para oportunidades em
centros de recursos e usar a internet para pesquisar e travar contato com o idioma.

Qual o currículo do programa de Educação continuada para professores de IngIês


do qual a senhora participa?
ANTONIETA No programa para formação gratuita de professores da PUC, em
parceria com a Cultura Inglesa, os educadores primeiro têm aulas de aperfeiçoamento
linguístico. Terminada essa etapa, eles fazem um curso de extensão chamado Reflexão
Sobre a Ação, durante o qual gravam suas aulas e analisam o que funcionou ou não.
Além de estudarem os aspectos didáticos (a organização do sistema fonológico do
inglês, a relação com textos etc.), refletem sobre questões da prática em sala de aula.
Depois, eles preparam unidades didáticas e testam esse material nas escolas em que
trabalham porque a intenção é multiplicar a formação pelas escolas.

Como a rede pública encara o ensino de um segundo idioma?


ANTONIETA Como uma das últimas preocupações. Não há meios para que ele avance
porque não existe uma política nacional para a disciplina. Isso é resultado da exclusão
da Língua Estrangeira do núcleo comum na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), de 1961. Na época, ela passou a ser tratada como atividade. Depois, a
LDB de 1996 menciona "uma Língua Estrangeira". A escolha é da escola.
Independentemente disso, um decreto do governo, de 2005, estabeleceu a
obrigatoriedade de a escola se oferecer o Espanhol, apesar de ele ser optativo para os
alunos. Só que na prática não acontece nada. Mesmo porque ainda não existem
professores suficientes para preencher essas vagas.

Que resultados os estudantes colheriam se as aulas de um segundo idioma fossem


priorizadas?
ANTONIETA Eles passariam a entender as diferenças e a conviver melhor com elas.
Aprende-se isso por meio do contato com outras culturas. No aspecto social, temos as
questões do acesso ao mercado de trabalho e da inclusão e da participação do sujeito no
mundo. Hoje, quem não tem um nível de inglês que permita entrar nessa grande roda
está excluído. Bom ou ruim, esse é um fato.

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