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Meditações anti-cartesianas:
sobre a origem do anti-discurso
filosófico da modernidade
Parte II*
Enrique Dussel**
9 Entre os incas, ninguém devia olhar o sol (Inti), nem sequer o inca.
12 Houve nestes tempos grandes cataclismos, por isso se chama esta época do pacha-
cuti (o que transforma a terra) ou pacha ticra (o que a põe de cabeça para baixo)
(1980, 95 [95], p. 74).
13 Chega-se a ordenar: “Ordenamos que os preguiçosos e sujos porcos sejam punidos: que
a sujeira da chácara (sementeira) ou da casa, ou dos pratos com que comem, ou a cabeça,
as mãos ou os pés sejam lavados e se lhes dê à força de beber mate, como pena e castigo
em todo o reino” (1980, 189 [191], p. 164). A limpeza era uma exigência tão importante
como o tríplice mandamento: “não mentirás; não deixarás de trabalhar; não roubarás”.
Cristão leitor, vês aqui toda a lei cristã.22 Não encontrei quem seja
tão cuidadoso em ouro e prata dos índios, nem encontrei quem
19 Das quais esta obra deixou testemunhos desconhecidos, em qualquer outra fonte,
em quíchua (1980, 317 [319], p. 288ss).
20 Recordo que, em minha juventude, subindo montanhas de 6.500 metros de altura, em
Uspallata, num amplo vale, de repente cruzamos um caminho absolutamente reto até
o horizonte (talvez uns 30 km). Foi-nos dito que era o caminho do Inca, a uns 4.000
km de Cuzco. Com efeito, diz Guamán: “Com sua légua e medida demarcada e assi-
nalada, cada caminho, com largura de quatro varas e com pedras colocadas nos dois
lados, algo que não foi feito em todo o mundo, como o Inca” (1980, 355 [357], p. 327).
No Mediterrâneo, vi os caminhos de pedras do Império romano, desde o norte da
África até a Palestina, Itália ou Espanha. Nenhum era tão “direito” como o do Inca.
21 Pode-se ver o desenho deste predecessor do contador moderno em Guamán Poma
(1980, 361 [363], p. 332-333).
22 Quer dizer, nos costumes dos incas é possível observar toda a beleza e valor do
melhor da ética cristã.
35 De novo se refere a uma “lei” anterior aos incas: “Como os índios primeiros, embo-
ra fossem dos incas idólatras, tiveram fé e mandamentos de seus deuses e lei e boas
obras guardaram e cumpriram” (1980, 914 [928], p. 857).
38 “Diga-me autor, como agora não multiplicam os índios e se fazem pobres? Direi
à vossa Majestade: primeiramente, que não multiplica porque todo o melhor das
mulheres e donzelas o tomaram os padres doutrinantes, os encomendeiros, cor-
regedores espanhóis, mordomos, tenentes, oficiais criados deles. E assim há tan-
tos mestiçozinhos e mestiçazinhas neste reino. Com dor ao dizê-lo, amancebando
toma e abandona as mulheres de suas fazendas dos pobres. [O índio] quer morrer
em vez de se ver em tanto dano” (1980, p. 897-898).
E isto não é tudo, já que sua obra, sua Corónica, ficará sepultada
numa biblioteca europeia de Copenhague, até 1908. O mundo dos pobres
“yndios”, os “pobres de Jesus Cristo”, em plena Modernidade, esperarão
ainda séculos para que se lhes faça justiça...
§ 6. Conclusões
Bibliografía citada
Sartre não poderá superar de todo a aporia constatada em Le regard (Sartre, III, 1,
iv; 1943, p. 310ss), pela qual constitui “o Outro” irremediavelmente como objeto. O
Outro, por seu lado, igualmente me constitu como objeto: “La personne est présen-
te à la consciente en tant qu´elle est objet pour autrui” (Sartre, 1943, p. 318).