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Burguesia e desenvolvimento: notas para comparação entre Brasil, Índia e África do Sul

1) Há uma questão que norteia os países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento – ou

ao menos que orientou os debates sobre esses países – é a da conquista da autonomia econômica e

política. Ou seja, em que medida países que foram ex-colônias conseguem se afirmar politicamente e

economicamente frente às antigas metrópoles e o imperialismo.


2) No Brasil a intelectualidade do período de 1950/60 se engajou nessa perspectiva, denominada

Revolução Brasileira – um processo que fizesse com que os rumos econômicos do país fossem

controlado e orientado pelos reais interesses dos setores internos, principalmente, a grande

massa da população. Não é difícil encontrar essa perspectiva em intelectuais do porte de Celso

Furtado, quadros do PCB e do ISEB, entre outros.


3) É fruto dessa perspectiva, em termos teóricos e programáticos, o nacional-desenvolvimentismo.

Com base num processo de substituições de importações, de intensificação da industrialização,

constituição de um mercado interno, apresentava-se a possibilidade de direcionar a economia do país

– ou seja, as decisões sobre a produção – para satisfazer as reais necessidades da população

brasileira. Parecia que estávamos às portas da revolução na década de 1950 e início dos 1960, tanto

que uma das obras de Celso Furtado do período se chama A pré-revolução brasileira.
4) A tragédia se deu com o golpe de 1964. No momento em que a luta popular e sindical encontrou

representação no governo de João Goulart, via-se a debilidade das consideradas forças nacionais. O

golpe, entre outras, coisas foi a manutenção de um padrão de acumulação exploratório,

excludente e subordinado ao imperialismo.


5) A intelectualidade e a militância passaram a década de 1960 e 1970 refletindo sobre o trágico

desfecho da perspectiva nacional-desenvolvimentista. As análises destacaram as características

das classes sociais e suas lutas. Os textos de destaques são, a meu ver, Dreifuss A conquista do

Estado, Florestan Fernandes A Revolução Burguesa, Caio Prado Jr. A Revolução Brasileira,

Fernando Henrique Cardoso Empresário Industrial e desenvolvimento e a obra com Faletto

Dependência e desenvolvimento na América Latina, ainda Ruy Mauro Marini, Subdesenvolvimento

e Revolução.
6) As conclusões podem ser sistematizadas da seguinte forma:
 A burguesia industrial – identificada como nacional – não tinha pretensões de superar o

“atraso” rural, na verdade pactuava com esses. Fato que dá uma dinâmica distinta e particular
ao desenvolvimento do capitalismo. A ausência de rupturas tem motivações econômicas e

psicossociais.
 A burguesia brasileira possuía vantagens econômicas na associação com o capital externo,

tanto como fonte de capitais quanto acesso à tecnologia. Segundo Cardoso, entre ser subordinado

às massas populares ou ao capital estrangeiro, a última garantiria os lucros.


 A solução política é “fechar o circuito” para a participação das massas populares no

processo político. Assim a burguesia associada e subordinada se apropria do Estado – por isso

ditatura civil-militar – para manter a forma de acumulação de capital, ou seja, de exploração do

trabalho.
 Ou ainda, na perspectiva de Cardoso, o desenvolvimento ocorreria com a integração da

economia brasileira ao mercado internacional. Tese que sai fortalecida


7) Nota-se que o debate, agora, está localizado nas classes sociais, seus conflitos e sua relação com o

Estado e com o imperialismo. Essa é uma das chaves (extra econômica) para se entender as relações

sociais no país, assim como seu desenvolvimento. Até mesmo Celso Furtado reconhece em sua

obra tardia:

Quando, já em começos dos anos 60, tomei consciência de que as forças sociais que

lutavam pela industrialização não tinham suficiente percepção da gravidade do

quadro social do país, e tendiam a aliar-se ao latifundismo e à direita ideológica

contra o fantasma das organizações sindicais nascentes, compreendi que muitas

águas ainda teriam de correr para que emergisse uma sociedade moderna no Brasil.

(FURTADO, 2007, p. 20).

8) Mais tarde, já na década de 1980, a crise da dívida, crise do “milagre econômico”, evidenciava-se

com as imposições da globalização e o declínio de qualquer perspectiva nacionalista. Talvez o

último impulso de uma burguesia nacional tenha ocorrido com o PNBE (Pensamento Nacional das

Bases Empresariais), contudo declinou diante das forças neoliberais. O ponto é que, a forma de

desenvolvimento, as estratégias de política econômica passam pela análise das classes sociais.
9) É este o olhar que teremos para o processo Indiano e Sul-africano em comparação com o brasileiro.

Ou seja, a relação entre o desenvolvimento, o Estado e as classes sociais.


10) O processo de independência indiano ocorre com ampla participação das massas, os interesses

internos levam a uma oposição à dominação externa. Constitui-se uma burguesia nacional que
se opõe a interferência externa. Os interesses nacionais são representados pela postura do primeiro

ministro Nehru e sua política de não alinhamento. O período é denominado de “Nacionalismo

econômico e industrialização autárquica”, um planejamento econômico que se distancia do modelo

inglês que é identificado com o subdesenvolvimento. Ainda, a continuidade com Indira Gandhi teve

como destaque as estatizações. O ponto é que, salvo desconhecimento, essa presença estatal e a

hostilidade em relação a interferência externa não seria capaz com uma burguesia com estreita

relações com os capitais externos, como a brasileira, por exemplo. A burguesia indiana soube se opor

ao planejamento estatal quando prejudicou seus negócios, contudo, não deixou de exigir, do Estado,

a proteção necessária frente aos capitais externos.


11) Mesmo diante da abertura comercial e demais imperativos da globalização econômica, a Índia ainda

mantinha, no início dos anos 2000, regulamentações e uma resistência da burguesia industrial local

que dificultavam o investimento do capital estrangeiro. Nos últimos anos, há um projeto de

desinvestimento, que inclui a diminuição da burocracia para o investidor externo. Contudo, já existe

uma forte indústria nacional em áreas como biotecnologia, TI, construção civil, máquinas industriais,

transportes, indústria química e etc. Nos parece que potencial nacional indiano se deve, entre outros,

a dois fatores: a) um movimento de ruptura efetiva com a dominação britânica e sua continuidade, b)

uma burguesia, pelo menos por um período, compartilhar dessa política de hostilidade ao

imperialismo. Outro caso em que a segunda característica se apresentou foi a Coréia do Sul.
12) Em geral, a burguesia africana apresenta outra característica. Nas palavras de Nkruma:

“As indústrias mineiras, as empresas industriais, os bancos, o grande comércio e as

grandes explorações agrícolas estavam na mão de estrangeiras.”

Ainda, com os processos de independência e de uma fração da burguesia endógena que queria seu espaço, os

capitais centrais incorporaram e se associaram às frações de burguesia africana. Nota-se que não é um

processo de hostilidade e ruptura, mas sim de estreitamento de relações.

13) Na África do Sul tal processo é mais acentuado. Mesmo ao ser uma colônia de povoamento, ou

seja, com potencial para a emergência de uma burguesia nacional, os setores que ascenderam à

burgueses foram os colonizadores, ainda participaram do processo de independência em 1948

enfatizando seus interesses. O quadro foi agravado com a questão racial, na qual a elite branca
dotada dos valores ocidentais e “civilizados” associada aos capitais centrais subordinava a maioria

negra.
14) A elite branca, se valendo dos investimentos externos e com ampla mão de obra para explorar,

resume a característica da burguesia sul-africana em não compartilhar dos interesses da nação

em geral. O período de crescimento, a década de 1970, ocorreu sob forte impulso do capital e

tecnologia estrangeira e não sobre bases endógenas. A vitória eleitoral do CNA não representou

uma ruptura com os privilegiados do modelo racista, mas a sua permanência.


15) A análise comparativa, sumariamente aqui desenvolvida, demonstra os diferentes rumos que

políticas de desenvolvimento podem tomar, e isso está relacionado às características históricas de

emancipação política e econômica em relação às metrópoles e do comportamento de suas burguesias

nativas. Podemos sugerir que quanto mais próximo dos grandes centros econômicos, ou seja, sem

ruptura efetiva, o desenvolvimento econômico interno sofre com a ação do capital externo,

eventualmente dele depende. Quanto mais hostil aos grandes centros econômicos maiores são as

chances de um desenvolvimento orientado para o mercado interno.


Comparando os dois gráficos nota-se que a Índia é, entre os países selecionados, o que menos importa

manufaturados e o que mais exporta, o que mostra a relativa força do seu parque industrial.
O gráfico acima mostra como as empresas indianas se sobressaem em relação aos demais países

comparados. São empresas domésticas com ações na Bolsa de Valores. Em outra simulação a Índia estaria

acima também da Coréia do Sul.

16) Não se pode esquecer das persistências das características sociais do subdesenvolvimento, pois

como alertou Furtado, a superação do desenvolvimento não pode ser reduzida à indicadores

econômicos:

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