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De todo modo, os efeitos não-imediatos dos choques do petróleo sobre a situação das
TC do BP brasileiro foram muito maiores. “Nos países industrializados, os efeitos mais
imediatos foram o aumento dos juros (já em 1974) e a contração da atividade econômica (no
biênio 1974-1975)” (HERMANN, 2011, p. 77). A contração da atividade econômica por si só,
ao diminuir a renda dos países industrializados, afetou a capacidade de exportação e contribuiu
para o déficit em TC do Brasil. Sobre o efeito do aumento de juros internacionais, diz a autora:
“O aumento dos juros americanos contribuiu para aumentar seus déficits em conta
corrente de duas formas: (1) através da retração das importações dos países
industrializados (entre eles os Estados Unidos, historicamente, grande comprador de
produtos brasileiros); e (2) através do aumento das despesas com a dívida externa, já
que grande parte dela fora contratada a taxas flutuantes (revistas a cada seis meses),
indexadas à prime rate.”. (HERMANN, 2011, p. 78)
“Nos três anos entre 1995-1997 as importações em dólar cresceram a uma taxa média
de 21,8% a.a. – com destaque para o crescimento de 51% em 1995 – enquanto as vendas
ao exterior cresceram apenas 6,8% a.a., em que pese o fato de esses terem sido anos de
grande expansão do comércio internacional e nos quais a economia mundial cresceu
4,3% a.a.” (GIAMBIAGI, 2011, p. 169)
Além disso, o processo de financiamento deste desequilíbrio era feito a partir de novos
endividamentos externos. Isso determinou um efeito de realimentação dos desequilíbrios, na
medida em que para cada ano corrente as despesas com encargos da dívida externa se tornavam
maiores. Como consequência, o déficit em conta corrente saltou de US$2 bilhões em 1994 para
US$ 30 bilhões em 1997 (GIAMBIAGI, 2011, p. 169).
Ou seja, neste caso havia uma nítida opção de política econômica em priorizar o
combate à inflação em detrimento da situação da conta corrente do BP brasileiro. Nesse sentido,
há uma diferença fundamental com o déficit encontrado por Figueiredo. A despeito da
razoabilidade ou não do diagnóstico de que uma depreciação cambial pudesse acabar com os
êxitos do Plano Real, a questão é que deliberadamente o câmbio foi mantido valorizado.
Giambiagi menciona, inclusive, que em 1995 os níveis de atividade estavam caindo
rapidamente, o que oferecia uma janela de oportunidade para a desvalorização do Real. Por uma
série de motivos que fogem ao escopo deste trabalho, entretanto, essa oportunidade não foi
utilizada (GIAMBIAGI, 2011, p. 171).
Outra diferença que cabe ser mencionada entre as determinantes do déficit em TC dos
dois períodos históricos diz respeito à circunstância internacional. De certo, FHC também
vivenciou momentos delicados da economia global, como a crise do México (1994), da Ásia
(1997) e da Rússia (1998). Entretanto, estes eventos influenciaram muito mais sua capacidade
de captar empréstimos internacionais do que a renda dos mercados mundiais. Como dito
anteriormente, a economia mundial cresceu 4,3% a.a. entre 1995-1997 (GIAMBIAGI, 2011,
169). Durante o período Figueiredo, ao contrário, a crise do petróleo teve efeito recessivo em
todo mundo, principalmente a partir da elevação dos juros internacionais.
“Em meados de 1979, o segundo choque do petróleo e a resposta restritiva dos países
industrializados, que rapidamente elevaram suas taxas de juros, mudaram
radicalmente, e por longo período de tempo, o cenário externo até então “amigável”.
O novo contexto exigia do Brasil novas e rápidas medidas de ajuste externo. Na visão
de Simonsen, dessa vez, o ajuste recessivo se impunha como única forma de controlar
o grave desequilíbrio do BP”. (HERMANN, 2011, p. 88)
A partir da apresentação de Giambiagi, nos parece mais uma vez que, caso fosse possível
continuar na utilização do endividamento externo como solução para o déficit das TC do BP,
isso seria feito. Entretanto, as circunstâncias de 1998 não mais ofereciam essa possibilidade
para FHC.
No caso de FHC, entretanto, nos parece que não. Para Giambiagi, “houve melhora
sistemática da balança comercial e do resultado em conta corrente” (GIAMBIAGI, 2011, p.
180). Entretanto, ao observar os dados oferecidos pelo próprio autor, consideramos que essa
afirmação precisa ser ponderada. Durante o intervalo 1995-1998, a balança comercial teve um
saldo negativo anual médio de US$5,6 bilhões, enquanto entre 1999-2002 este saldo foi positivo
e de US$3,5 bilhões anuais médios. De fato, uma evidente melhora. Entretanto, o saldo em
transações correntes foi de uma média anual de US$26,4 bilhões negativos entre 1995-1999
para US$20,1 bilhões negativos entre 1999-2002 (GIAMBIAGI, 2011, p. 180). Este resultado
não nos parece apontar para um sucesso das maxi-desvalorizações em resolver o problema do
déficit em TC do BP. O próprio autor menciona, mais a frente, que o elevado déficit em TC
registrado em 2002, da ordem dos US$20 bilhões, implicava em ceticismo do mercado
internacional em relação à situação financeira do Brasil, apesar de ele próprio considerar que
“o câmbio, cedo ou tarde, acabaria por causar uma mudança na situação externa”
(GIAMBIAGI, 2011, p. 190). Assim sendo, diante dos elementos apresentados, consideramos
que a conclusão mais adequada é de que não é possível afirmar que as maxi-desvalorizações do
segundo mandato de FHC foram bem sucedidas em resolver o problema do déficit em TC do
BP ou não.
Bibliografia:
HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com endividamento: o II PND e a crise da dívida
externa (1974-1984). In: GIAMBIAGI, F. et al. (Org.). Economia brasileira contemporânea: 1945-2010. 2. ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2011. Cap. 4. p. 73-96.