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1. GRITO DE RESISTÊNCIA: O DCE e suas lideranças feministas.

1.1. O Diretório Central dos/as estudantes (DCE) em cena.

O Diretório Central dos/das Estudantes da Universidade do Estado do


Rio Grande do norte (UERN) do Campus Central, cujo nome é Anatália de Melo
Alves, tem sua composição atualmente formada pela Chapa Fora Temer eleita
em maio de 2017, que se situa na esquerda do espectro político. Estão em
número de treze (13). Quatro membros moram em outras cidades, o que
dificulta a sua participação. Dois homens e uma mulher (Beatriz) encontram-se
em Natal/ Rio Grande do Norte (RN), enquanto uma mulher trans (Glendha), na
cidade de Assu/ RN.
Todas e todos os membros estão filiados ao Partido dos Trabalhadores
(PT), mais especialmente, alinhados à tendência Democracia Socialista (DS) e
militam em movimentos sociais como Kizomba, Enegrecer- que é um coletivo
dentro do próprio Kizomba - e Marcha Mundial das Mulheres. Suas pautas têm
uma poderosa ênfase nas bandeiras Feministas, LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.) e de combate ao racismo.
Inclusive, havendo coordenadorias específicas para tais assuntos como a
Coordenadoria de Mulheres, a de Negros, Negras e Cotistas e a de Combate à
LGBTFOBIA.
A sala do Diretório é também usada para reuniões dos coletivos e
movimentos sociais que as lideranças articulam. Como foi o caso, durante o
tempo de minha pesquisa, de uma reunião do Enegrecer para organizar o Sarau
da Resistência, como protesto ao racismo, que aconteceu em agosto de 2017 na
UERN. E a reunião para discutir a participação no 8º Encontro de Mulheres
Estudantes (EME) promovido pela União Nacional das/os Estudantes (UNE).
Contudo, nem sempre o DCE, tão antigo quanto a própria UERN, teve
uma chapa com tal perfil. Podemos dizer que foi em 2015, com a chapa DCE
UERN, que surgiram as primeiras coordenadorias específicas para mulheres e
negros e negras. Conquista que se manteve durante a gestão da chapa Podemos
mais 2016-2017 e continua até hoje com a chapa Fora Temer. Duas
coordenadoras do DCE atual já ocuparam outros cargos em gestões anteriores.
Plúvia, a atual coordenadora-geral, foi pela chapa DCE UERN coordenadora de
Negros, Negras e Cotistas e Andreza, agora Coordenadora de Mulheres,
coordenou a mesma pauta na gestão Podemos Mais.
Não há nenhum blog disponível na web com a narração da história do
DCE da UERN, pela dificuldade de se reunir documentos suficientes. Segundo
um dos membros, as chapas anteriores tinham por hábito levá-los para casa. Há,
no entanto, uma página no facebook, intitulada Memórias DCE UERN – 2015-
2017, que tem registros das atividades das duas gestões anteriores. A presença
das fotos e textos relacionados a estas duas chapas indicam que elas tinham um
perfil de militância bastante próxima da atual. Também filiados/as ao Partido
dos Trabalhadores (PT),participavam igualmente da Marcha Mundial das
Mulheres e da Kizomba.
Na gestão atual, o espaço físico ganhou uma nova “cara”, que retrata
muito bem a afetividade e os valores dos quais se tornou portador. Podemos
percebê-los com uma rápida observação da decoração interna e dos grafites de
conteúdo político na parede externa. Há informes nas paredes e nos copos.
Nestes últimos, há o imperativo “lave o copo”, enquanto naquelas há símbolos
do feminismo, bandeiras LGBT, de combate ao racismo, de acessibilidade para
deficientes etc. Mas há também uma mensagem, que revela a importância
daquele espaço para seus membros: “Este espaço é coletivo, por favor, colabore
com a sua construção”.
A parede externa é igualmente emblemática do perfil do grupo. Em
minha segunda visita à sala do diretório, dois dos integrantes ainda pintavam
mais algumas palavras de ordem e símbolos da esquerda e comentavam o grande
incômodo que causavam na fração mais conservadora dos e das estudantes, que
não se sentia representada por aquelas evocações de socialismo, feminismo e
resistência do Povo Negro. Diante da hostilidade que enfrentam no cotidiano da
universidade em função de sua posição e atuação políticas, preferem dar
respostas bem-humoradas que colorem principalmente as tardes no DCE. Parte
do dia em que estão mais presentes.
O cotidiano do grupo na sala do DCE tem um tom informal, em que
piadas e brincadeiras são constantes. No pequeno sofá azul, pessoas se deitam
para tirar um cochilo. Membros trazem seu lanche para comer dentro do
ambiente. Músicas e vídeos são assistidos pelo youtube e todos/as riem e se
divertem. A sala é um espaço onde há um intenso fluxo de pessoas, que entram e
saem. Não apenas as lideranças da chapa usam o ambiente para o estudo e o
desempenho de suas atribuições políticas e administrativas, como também para
bater papo com conhecidos/as e amigos/as, alguns dos quais com freqüência os
visitam. Em geral, estas pessoas de fora participam dos mesmos movimentos e
têm uma história comum de militância, inclusive algumas ex-lideranças do
DCE. A maioria estuda ou estudou na Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN).

Foto, tirada em agosto de 2017, da parede externa da sala do


Diretório Central dos e das Estudantes (DCE) da Universidadedo
Estado do Rio Grande do Norte (UERN) campus central

Foto, tirada em março de 2018, da parede interna do DCE.


1.2 conhecendo as mulheres do DCE.

PLÚVIA

Plúvia é a coordenador-geral da atual chapa (Fora Temer) do Diretório.


Na gestão anterior,da chapa Podemos Mais, ela foi Coordenadora de Negros,
Negras e Cotistas. Tem trinta anos e é casada: casou-se aos quinze anos, ocasião
em que por incentivo da sogra começou a participar dos movimentos auto-
organizados do seu bairro, o Nova Vida em Mossoró. É aluna negra e cotista do
curso de Gestão Ambiental na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN) . Estudou em escola estadual e sua mãe é professora da educação
básica.
Seu histórico de militância possui uma forte ligação com seu lugar de
origem: moradora de um bairro periférico, conta que sua comunidade apresenta
muitos problemas ligados à ausência de políticas públicas, mas, que por outro
lado, tem uma longa tradição de auto-organização de mulheres, de jovens, Rádio
Comunitária etc. Foi nesse ambiente, que começou a militar e a participar de
movimentos auto-organizados como o GMA ( Grupo de Mulheres em Ação)
movimento feminista de base popular formado em sua maioria por mulheres de
meia-idade, que adquiriram autonomia financeira a partir da constituição de uma
cozinha solidária.
Em 2015, ingressa na universidade e, em 2016, no movimento estudantil.
Paralelamente, cresce a sua percepção da necessidade de atuar politicamente na
universidade em prol das bandeiras que defende. Filiada ao Partido dos
Trabahadores (PT), militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres e da
KIZOMBA, é detentora de uma visão de mundo pautada na interseccionalidade
de gênero, raça e classe social, ajustada ao programa político dos movimentos
socais dos quais participa, assim como as suas companheiras do DCE.
É tida pelo grupo como uma liderança sensata e conciliadora. Como
presidenta do Diretório, é bastante participativa e atuante. Encontra-se quase
todas as tardes e manhãs na universidade dividida entre suas responsabilidades
enquanto representante dos/das estudantes da UERN e como discente do curso
de Gestão Ambiental. É frequentemente referida pelos/as demais como a
“mãezona” do DCE. Toma decisões e resolve conflitos, procurando alcançar o
consenso ou, ao menos, promover um debate respeitoso. Pensa que devemos
entender as limitações das pessoas, especialmente, das mulheres não-feministas,
que por sua formação, tem dificuldade em se desfazer das representações
machistas em face às várias formas de opressão às que estão sujeitas.

ANDREZA

Andreza, Coordenadora de Mulheres,é estudante da mesma turma de


Gestão Ambiental de sua colega Plúvia. No final de 2015, ao entrar na
universidade, conhece os movimentos sociais que atuam dentro da UERN e a
então chapa do DCE UERN 2015-2016. Em 2016, ingressa na gestão da chapa
Podemos Mais .cujo presidente era seu atual marido, na pauta de mulheres e,
neste mesmo ano, filia-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). Através dos/as
seus colegas do Diretório, envolve-se na Kizomba na pauta de Movimento
Estudantil. Ao mesmo tempo, passou a militar também pela Marcha Mundial das
Mulheres, pelo ENEGRECER, que é um movimento de Negros e Negras da
Kizomba.
Mulher negra da cidade de Pendências/RN, cuja mãe é professora de
ensino básico. Quando passou no vestibular, veio morar em Mossoró. Dividia,
em 2016, um apartamento alugado com uma amiga. Tendo -à época- de
trabalhar em uma loja de departamento e estudar ao mesmo tempo. Já tendo
morado na Ilha de Santa Lúzia e no bairro Costa e Silva – próximo à
Universidade - agora reside no Vingt Rosado.
Andreza é, atualmente, casada com o Ex-Coordenador-Geral da chapa do
DCE de 2016-2017, Podemos Mais. Em 2017 é convidada pela chapa 2 Fora
Temer a assumir a Coordenadoria de Mulheres, e ela prontamente aceita o
convite. No final do ano de 2017, engravida. O que lhe trouxe alguns problemas
de saúde, levando-a a afastar-se um pouco das atividades do Diretório. Ainda
assim, busca participar sempre que pode de mesas, eventos e reuniões
promovidos pelos movimentos sociais.

GABRIELA
Gabriela tem vinte e um (21) anos de idade. Aluna negra e lésbica do
curso de ciências biológicas é também coordenadora de assuntos
estudantis.Tratando, sobretudo, de questões relacionadas à permanência dos
alunos e alunas na universidade. Iniciou sua história de militância ainda no
Ensino Médio por ocasião do Movimento Pau de Arara, em 2015, em que se
sentiu mobilizada pela reivindicação pela diminuição dos preços das passagens
de ônibus. Trabalha como auxiliar técnica para uma empresa terceirizada da
COSERN : a Control. Na manutenção e conserto de postes.
Filiada ao PT, também é militante da KIZOMBA e da Marcha Mundial
das Mulheres. Já participou do CPRD (Coletivo Petista da Revolução
Democrática), mas se afastou devido a colegas do sexo masculino que
desrespeitavam integrantes mulheres com piadas machistas. Atualmente é
solteira, mas há alguns anos teve uma namorada, que chegou a conhecer a sua
mãe. De início, não teve sua sexualidade bem-acolhida pela família. Passou um
tempo proibida pela mãe de sair e foi monitorada pelo celular. Tem reservas para
falar da sua sexualidade com as pessoas do seu bairro na periferia de Mossoró.
Na Universidade, entretanto, parece mais despreocupada para falar abertamente
sobre o assunto e viver romances ocasionais.

BEATRIZ

Beatriz é formada em letras “espanhol” e formou-se, também, no


segundo semestre de 2017, em letras “português” pela UERN. Agora reside em
Natal/Rio Grande do Norte (RN), mas até o ano passado morava em Mossoró. É
negra e Bissexual. Apesar da pele clara, afirma sua negritude com base nos seus
traços e na raiz crespa do seu cabelo. Sua identidade política. É coordenadora de
Arte, Cultura e Esportes e suas atividades giram em torno de promover mesas,
saraus, rodas de conversa e intervenções.
Sua mãe é professora da educação básica e é sindicalista. Beatriz diz ter
crescido em meio aos seus discursos e, dessa forma, aprendeu a ver as injustiças
e resistir contra elas. Sempre estudou em escola particular. Mas reforça o
enorme sacrifício financeiro que isto representava para a família. É militante da
KIZOMBA, Enegrecer e Marcha Mundial das Mulheres, bem como filiada ao
PT.
É uma leitora voraz e amante das letras. Inclusive, em 2017, vendendo
algumas dezenas dos seus livros de literatura em bazar para arrecadar dinheiro.
Escreve poemas que recita nos saraus e eventos que promove, nos quais incita a
platéia a gritar com ela a palavra “POESIA” a cada novo poema que se propõe a
recitar.

GLENDHA

Glendha é coordenadora de combate à LGBTFOBIA. Mulher transexual,


apenas se afirmou enquanto tal, depois de atingir a maioridade. Não mantém
muito contato com a família. Residente na cidade de Assu/. RN Graduou-se em
geografia pela UERN. Atualmente é aluna especial do mestrado em antropologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Estudou o ensino
básico em escola estadual na cidade onde mora e, hoje em dia, é professora
estagiária nesta mesma instituição.
Conheceu os movimentos sociais dentro da UERN. Relata que começou
a participar aos poucos sem uma intenção inicial de tornar-se militante. Com o
tempo, foi envolvendo-se e percebendo opressões das quais anteriormente não
tinha muita clareza. Em 2017, ano em que concluiu o curso de geografia, tentou
organizar a Marcha LGBT por meio do DCE, mas a greve impediu a sua
realização. Como estava escrevendo seu Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), afastou-se um pouco das atividades do Diretório.

Ainda sim, continua a fazer parte da ONG Transparência destinada a


representar as mulheres transexuais. Tenta também participar sempre que pode
de eventos que têm demandas sobre a saúde, questões ligadas à mulher, debates
sobre gênero, ou qualquer assunto da área de educação.
1.3 Feminismo e resistência das mulheres

Uma breve incursão na história do feminismo no Brasil.

O movimento feminista é múltiplo e fragmentado. Por esta razão, convém falar


em “ feminismos” no plural. No Brasil, o feminismo tem uma história própria. Já no
final do século XIX, algumas mulheres, em geral cultas e abastadas, manifestavam-se
em jornais de grande ou pequeno alcance em favor da emancipação feminina pela
educação.Algumas chegavam mesmo a questionar o papel da mulher na sociedade e sua
contribuição para a esfera política, caso conquistassem a cidadania como era
reivindicado por muitas destas.

No começo do século XX, algumas tendências feministas tornam-se visíveis.


Esta primeira fase do feminismo é marcada pela excepcionalidade de porta-vozes
importantes, mesmo quando atingindo algum grau de institucionalização. A primeira
delas foi liderada por Bertha Lutz, que lutava, sobretudo, pelos direitos políticos das
mulheres. Mas não se propunha a repensar a posição social da mulher na estrutura social
e, dessa forma, deixava intacta sua condição dominada. Esta é a face – chamada pela
historiada Céli Regina Jardim Pinto (2003) – de feminismo “bem comportado”.

Havia, na outra margem, um feminismo “malcomportado” formado pela


produção jornalística de mulheres intelectualizadas, que pretendiam criar uma opinião
pública favorável a mudanças mais amplas. Discutiam não apenas questões ligadas ao
sufrágio feminino – como foi o mal da visão estreita de Bertha Lutz e suas
companheiras de luta -, mas também problemáticas consideradas de foro privado como
divórcio e sexualidade. Desenhava, paralelamente, um feminismo anarquista, que
articulava a análise da opressão de classe com a sujeição feminina, questionando a dupla
opressão – específica ao capitalismo – sofrida pelas mulheres trabalhadoras. ( PINTO,
Céli Regina Jardim, 2003).

Destas três vertentes, a que teve mais sucesso e, sem dúvida, a menos radical foi
a que tinha o nome de Bertha Lutz como ícone – o feminismo “bem comportado”. Esta
vertente estava,quase exclusivamente, interessada em conquistar os direitos políticos
sem problematizar a supremacia masculina nas mais diversas esferas da vida social. De
fato, o direito ao voto feminino foi conquistado em 1932. Anteriormente, ainda em
1927, no Rio Grande do Norte, Cecília Guimarães, mossoroense, é a primeira mulher a
votar no Brasil. Este feito apenas foi possível graças à articulação política de Bertha
Lutz com, o então governador, Juvenal Lamartine.

Durante os anos 1960 e 1970, inaugura-se uma nova fase para o feminismo no
Brasil. Dada a conjuntura política – estávamos em plena ditadura militar – alguns
grupos de feministas se reuniam em reuniões privadas, em especial, nos grandes
centros, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Estas mulheres, por sua condição social
privilegiada, tinham tido contato com o pensamento e as mobilizações feministas dos
Estados Unidos e da Europa. Contudo, a intensa vigilância e repressão a qualquer
tentativa de auto-organização da sociedade civil amedrontavam. Por outro lado, a
esquerda da época olhava com suspeita tudo aquilo que chamava de “lutas
particularistas” em oposição ao que considerava como questão maior: a luta pela
democracia.

Neste clima de perseguição, algumas esposas e companheiras de exilados,


sobretudo, na Europa, viveram em primeira mão, a efervescência cultural e política das
manifestações de Maio de 1968. Com este encontro, formou-se um feminismo marxista
,no Brasil, que conciliava a luta pela democratização com a luta específica contra a
opressão machista. Dessa forma, de maneira geral, as feministas brasileiras se
enredaram nesta guerra contra a ditadura. Tanto as liberais quanto marxistas. Não se
podia ignorar o fato que o tipo de feminismo praticado em democracias como a dos
Estados Unidos possuía uma liberdade maior para colocar na linha de frente de batalha
questões como o corpo e a sexualidade.

O feminismo radical se constituiu numa terceira vertente do período. Corrente


que fez muito sucesso nos Estados Unidos, tendo como uma das suas principais
expoentes a advogada Catherine Mackinnon. (PISCITELLI) Esta vertente se
concentrava na centralidade da opressão sexista, recusando-se a considerar com igual
vigor outras questões políticas. As feministas radicais brasileiras estavam em menor
número. Mas não abriam mão de colocar o corpo e a sexualidade no topo da hierarquia
das questões a serem discutidas. Posição que era mal-vista, inclusive, pelas feministas
liberais e marxistas, em razão da compreensão que ,em um país como o Brasil,em que a
Ditadura, a fome e miséria eram pontos nevrálgicos, não se podia erigir uma luta isolada
das mulheres. Devido a isto, as lutas de mulheres e negros já incorporavam à época
considerações sobre classe social. ( PINTO, 2003)

O ano de 1975 é um momento de grande expressividade para o movimento


feminista. É quando ele deixa de ser formado por grupos privados, elitistas e
intelectualizados e passa a incorporar setores sociais mais abrangentes. Neste mesmo
ano, o Centro de Desenvolvimento da Mulher é criado, que buscava retirar as mulheres
das mais variadas classes de sua condição de alienação e colocá-las em situação de
protagonismo em relação ao desenvolvimento. Abriga por muitos anos tendências
feministas diversas. Liberais, marxistas e radicais. Estas últimas, de início, oferecendo
muita resistência, por priorizar “corpo” e “sexualidade” em detrimento de questões
“menores” como a buscada pelo Centro.

A época de redemocratização é marcada no interior do Movimento Feminista


pela divisão interna, a partir da constituição de grupos temáticos, entre as que
defendiam a institucionalização com a ajuda da participação na política partidária e as
autonomistas, que não desejavam abrir mão da autonomia do movimento. A luta pela
representação política ganha força. A dita Bancada Feminina da época, no legislativo,
apesar de composta em sua maioria por mulheres de partidos conservadores, foi
responsável por apresentar trinta (30) emendas ao Congresso Nacional sobre os direitos
das mulheres, que abrangia também reivindicações das feministas. Já nas atividades de
preparação para a Assembleia Constituinte, que tinha o objetivo de formular a
constituição de 1988, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher teve papel
proeminente: reuniu grupos de feministas em Brasília, que redigiram a Carta das
Mulheres, documento em que solicitavam direitos constitucionais vitais dos quais hoje
nós mulheres desfrutamos.

Houve grandes avanços com a formação de delegacias especializadas e


conselhos. Resultado da relação imbricada com os partidos políticos. É nesta época
(1979) também que militantes feministas, comovidas com o assassinato de Angela
Diniz pelo namorado Doca Street, se mobilizam para organizar SOS’s de atendimento
às vítimas de violência conjugal. (GROSSI,1994).Nos anos 1980, já tendo deixado os
tempos sombrios da Ditadura no passado, novos temas passaram a preocupar as
feministas. Como a violência e a saúde. Inicialmente, a temática da violência contra a
mulher era tratada, sobretudo, como violência conjugal em sua modalidade de agressão
física. O cenário considerado dos atos violentos era o espaço doméstico.

As delegacias e os SOS se viram em um impasse. Pautados em um projeto


feminista, pretendiam que as mulheres vítimas de agressão se separassem de seus
maridos agressores. Mas a imensa maioria que buscava este atendimento apenas estava
interessada em prevenir uma próxima agressão. Dessa forma, foram assumindo,
principalmente, uma função terapêutica. Foi-se percebendo que não bastava tratar
apenas um dos pólos da relação. Também era preciso trabalhar com o agressor.
Algumas iniciativas foram dadas nesta direção. E alguns centros e ONG’s
especializadas surgiram com profissionais feministas responsáveis por esta tarefa.

De qualquer maneira, a militância e pesquisa acadêmica feminista foram aos


poucos construindo novos sentidos para a violência. A reflexão sobre a condição
dominada da mulher ganhou espaço no ambiente universitário. Muitas publicações e
grupos de trabalho se ocuparam deste tema. Com o progresso teórico, foi possível
delinear categorias mais precisas de violência contra a mulher. Grossi (1994) , por
exemplo, agrupa sob esta rubrica a violência conjugal, o assédio sexual, o abuso sexual
infantil e a violência étnica contra mulheres não-brancas. Quanto a esta última, vale
mencionar a importante problemática que emergiu nesta época em torno da esterilização
forçada de mulheres negras, em especial, no Nordeste Brasileiro. E a questão, embora
menos discutida, alarmante do genocídio de mulheres indígenas nas regiões de Garimpo
no Norte do Brasil.

Dos anos 1990 em diante, há uma tendência de institucionalização crescente


com a criação de ONG’s e movimentos sociais auto-organizados. Além da existência de
certo “ feminismo difuso” como chama Céli Regina Jardim Pinto. Quer dizer,
pensamentos e ideais feministas dispersamente distribuídos socialmente sem a
necessidade que as pessoas se intitulem enquanto tais. Em parte, isto se deve ao sucesso
de sua midiatização pela televisão ou pela internet. Há, inclusive, o que algumas têm
chamado de quarta onda do feminismo no Brasil, que provavelmente começou após a
repercussão nas redes sociais e outras mídias da Marcha das Vadias em Toronto no
Canadá no ano de 2013. Se olharmos em retrospecto, falamos anteriormente em o que
nós podemos nomear de três ondas. A primeira tem lugar nas primeiras décadas do
século XX. A segunda onda, nos anos 1960 e 1970. E, por fim, a terceira começa na
década de 80, quando o movimento feminista tende a se institucionalizar. Agora talvez
estejamos vivendo uma nova fase do feminismo no Brasil. Mais ampla pela facilidade
com que as informações são difundidas nas mídias sociais. Onda na qual os temas que
surfam são múltiplos. Fase em que as mulheres debatem intensamente as imbricações
das violências de gênero, classe e raça.

1.4 Resistência das mulheres

1.4.1 Resistência ao patriarcado.

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