Вы находитесь на странице: 1из 13

RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.

1 Jan/Mar 2001, 119-131

Simulação Numérica de Canais de Irrigação


Controlados por Comportas Automáticas
Walter Collischonn, Fernando S. C. Meirelles e Luiz A. M. Endres
Instituto de Pesquisas Hidráulicas - UFRGS - Av. Bento Gonçalves, 9500 - Caixa Postal 15029
91501-970 Porto Alegre, RS - Fone: (51) 316-6325 - cllschnn@vortex.ufrgs.br, fscm@if.ufrgs.br, endres@if.ufrgs.br

Recebido: 04/08/00 - revisão: 25/10/00 - aceito: 05/11/00

RESUMO
Este trabalho introduz alguns aspectos do controle de canais de irrigação e apresenta um modelo matemático
hidrodinâmico, desenvolvido para simular o controle de canais por comportas automáticas, submetido a demandas
fortemente variáveis, típicas em sistemas de irrigação. O modelo subdivide o canal em trechos do tipo canal, reservató-
rio, comporta e degrau, sendo o escoamento em cada trecho representado por equações específicas. Nos trechos de canal
são usadas as equações de Saint-Venant, nos trechos de comporta e de degrau são utilizadas a equação da continuidade
e uma equação de perda de energia específica para o tipo de trecho. Nos trechos de reservatório são utilizadas uma
equação de continuidade com armazenamento e uma equação de nível da água horizontal. O modelo pode ser empre-
gado para verificar o dimensionamento dos canais e das comportas automáticas, sujeitos a determinados hidrogramas
de demanda e para planejar os hidrogramas de demanda nas diferentes tomadas de água, permitindo evitar o colapso
de sistemas já existentes ou já dimensionados. É apresentado um exemplo de aplicação a um canal de 2600 m de exten-
são, com 11 comportas automáticas, quatro tomadas de água e com controle por jusante.
Palavras-chave: irrigação; hidrodinâmica; comportas.

SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE Os principais tipos de sistema de distribui-


ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO ção são:

Uma rede bem dimensionada de distribui- · pela demanda: o agricultor dispõe de água
ção de água para irrigação é aquela que é capaz de em qualquer momento e em qualquer
oferecer os volumes de água necessários à satisfa- quantidade;
ção das necessidades reais das culturas, isto é, em · semi-demanda: o agricultor dispõe de água
tempo e quantidade suficientes, mas sem excesso e após ter solicitado. O volume por hectare é
sem causar problemas de gestão e de operação aos limitado;
responsáveis pela administração do perímetro de
· rotação de canais com demanda livre: os canais
irrigação ou aos irrigantes.
secundários recebem água por turnos e,
A estimativa da demanda de água é deter-
quando a água chega em um setor, os agri-
minada fundamentalmente pelas rotações de culti-
cultores podem usar a quantidade que qui-
vo previstas e pela eficiência do sistema de
serem;
irrigação, tanto no nível individual quanto no total
do projeto. A dificuldade de prever a rotação de · por turnos: os canais secundários recebem
cultivo esperada em um perímetro de irrigação água por turnos e os irrigantes, dentro de
varia de acordo com o grau de liberdade que se uma determinada zona servida por este ca-
deixa aos agricultores para optar por um ou outro nal, recebem água em horas e quantidades
cultivo e sobre o calendário dos trabalhos mecani- fixadas previamente;
zados e tratos culturais. No caso brasileiro, nor- · vazão contínua: em toda a temporada de ir-
malmente existe uma livre opção de cultivos, rigação, o agricultor recebe uma pequena
comandada pela tradição de cada agricultor e pelos mas contínua vazão, que compensa a eva-
preços de mercado. potranspiração diária das culturas.

119
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

A programação do fornecimento de água ticas físicas dos canais e dos equipamentos de regu-
pelo sistema de distribuição é feita para minimizar lação.
as perdas operacionais. Os sistemas de irrigação no Os constituintes habituais de uma rede de
Brasil são projetados para fornecer água quando distribuição de água para irrigação são os seguin-
necessário (demand system), porém, quando a de- tes:
manda ultrapassa a capacidade de fornecimento do
sistema, é necessário controle e programação da · Canais: ligam a fonte de água, normalmen-
distribuição. Se não há uma programação e contro- te uma barragem de acumulação ou estação
le, alguns irrigantes ao longo do sistema não mais de bombeamento, aos diferentes pontos de
receberão a quantidade necessitada. Isto pode acon- distribuição de água às parcelas. Podem ser
tecer, especialmente, nos meses de demanda máxi- primários, se a função principal for apenas
ma e em horários de demanda máxima durante o o transporte de água, ou secundários e ter-
dia. Na maioria das vezes, os beneficiários dos pro- ciários, quando o objetivo principal for a
jetos de irrigação implantados pelo setor público entrega de água aos irrigantes;
são pessoas acostumadas a gerenciar o lote isola- · Tomada de água: órgão ou dispositivo hi-
damente e com pouca experiência de irrigação. dráulico que regula diretamente a vazão e,
Quando possuem experiência, muitas vezes é em eventualmente, também a pressão a ser dis-
modalidade diferente da implantada. Este é outro tribuída à parcela do irrigante;
fator de aumento de perdas (Effertz, 1993). · Reservatórios intercalares de regulação:
Segundo Rijo (1993), o problema do trans- quando as redes de distribuição não têm
porte e distribuição de água, comum a todas as capacidade de armazenar os excessos de
redes de alimentação, é particularmente difícil de água em trânsito, ou quando é insuficiente
resolver no caso das redes de canais, pelas razões o tempo de resposta de um sistema onde a
seguintes: demanda é livre por parte dos irrigantes,
podem ser previstos reservatórios ao longo
· o controle dinâmico dos escoamentos em da rede, no seu interior ou como constru-
superfície livre é mais complexo do que o ções paralelas;
dos escoamentos sob pressão; · Regulador transversal: toda estrutura ou
dispositivo mecânico que, numa determi-
· em exploração, os regimes de escoamento
nada seção transversal, regula as cotas da
raramente são permanentes;
superfície livre, na maior parte dos casos,
· as distâncias e, consequentemente, os tem-
ou ainda as vazões para jusante. Ocupa to-
pos de transportes podem ser elevados; da a largura da seção transversal e pode ser
· a rede de canais pode ser muito ramificada constituído por descarregadores ou por
e comportar diversas singularidades, au- uma ou várias comportas associadas em ba-
mentando, assim, a complexidade do sis- terias;
tema. · Trecho de canal regulado: trecho compre-
endido entre dois reguladores consecuti-
vos.
Regulação de canais de irrigação
Um algoritmo de regulação, ou algoritmo
A “arte” de gerenciar as vazões afluentes de controle, é um procedimento lógico que proces-
ao sistema, as vazões efluentes e as reservas de sa informações tais como níveis da água nos canais
água nos canais denomina-se regulação de canais de e demandas de vazão por parte dos irrigantes, e
irrigação (Rijo, 1997). A regulação tem como objeti- resulta em ações de controle, como a abertura ou
vos a economia de água, a diminuição do investi- fechamento de comportas.
mento global, a diminuição dos custos de O controle de redes simples pode ser reali-
exploração, a simplificação da operação e a diminu- zado por operadores humanos, denominados cana-
ição do custo da água útil. leiros. Neste caso, embora exista apenas na mente
Um sistema de regulação é composto por: do canaleiro, o algoritmo de controle pode ser bas-
a) algoritmo de regulação; e b) arquitetura da rede tante efetivo e flexível, dependendo de sua experi-
de distribuição física, com determinadas caracterís- ência.

120
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

Em redes mais complexas a tendência têm gem, entre o trecho de canal a montante da
sido a implementação de sistemas de controle base- comporta e o de jusante, atendendo a variação de
ados em comportas eletromecânicas e sensores nível a jusante que, por sua vez, é determinada pela
eletrônicos de nível e vazão, distribuídos ao longo utilização ou não de água por parte dos irrigantes.
da rede. Neste caso o algoritmo de controle é execu- As comportas AVIO são acionadas por um flutua-
tado em um sistema eletrônico, em geral central, dor de forma a garantir um nível de água aproxi-
para o qual convergem as informações coletadas madamente constante a jusante do seu ponto de
pelos sensores, e do qual partem as decisões sobre instalação. Sua aplicação surge na necessidade de
as ações a serem executadas em cada comporta ou construir canais que ao mesmo tempo devem ven-
regulador. Diferentes algoritmos de controle, com cer desníveis consideráveis dos terrenos e fornecer
grande flexibilidade e eficiência, têm sido desen- água ao pedido dos irrigantes.
volvidos para este tipo de sistema (Rogers e Gous- A vazão do sistema é definida pela deman-
sard, 1998). da, ou seja, quando é acionada uma tomada de
Em projetos de redes de distribuição de á- água no trecho sob seu controle, a comporta AVIO
gua em locais onde o suprimento de energia elétri- abre, permitindo a passagem da vazão correspon-
ca e os serviços de manutenção são pouco dente, até o momento em que cessa ou diminui a
confiáveis, ou onde há carência de mão de obra demanda quando, então, a comporta fecha ou di-
especializada, a preferência no projeto é dada aos minui a passagem de água. A Figura 1 representa,
sistemas de controle que contam com comportas esquematicamente, os componentes de uma com-
hidromecânicas automáticas. Este tipo de comporta porta AVIO, onde a área livre do orifício (2) é fun-
é controlado por flutuadores e exige poucos cuida- ção do ângulo de abertura da comporta (3), que por
dos de manutenção, dada a sua simplicidade de sua vez depende do nível da água a jusante da
concepção e funcionamento. Redes controladas por comporta (9), onde está o flutuador (6). A comporta
estes sistemas permitem manter níveis aproxima- é utilizada para manter um nível constante a jusan-
damente constantes imediatamente a montante ou te mas, para o funcionamento da comporta, é fun-
imediatamente a jusante das comportas, e permi- damental que se estabeleça um decremento (7) no
tem grande independência aos irrigantes que, ao nível de jusante em relação ao nível de referência
abrir ou fechar suas tomadas de água, determinam (8). Os contrapesos (5) da comporta são regulados
a vazão no sistema. Comportas deste tipo têm sido de forma a manter o decremento máximo (decre-
usadas desde os anos 50 na Europa e norte da Áfri- mento de nível a jusante quando a comporta está
ca, e hoje podem ser encontradas em praticamente completamente aberta) em um valor pequeno. É
qualquer país em que se utiliza a agricultura irriga- recomendado um valor de 5% do raio de giro do
da. Em canais com comportas hidromecânicas au- flutuador, que é fornecido nas especificações da
tomáticas o algoritmo de controle está implícito nas comporta.
equações de equilíbrio mecânico e hidráulico que
descrevem o funcionamento destas comportas (Ro-
gers e Goussard, 1998). 1
5
Existem dois tipos de comportas hidrome-
cânicas automáticas: as que controlam o nível da 4
água a montante da comporta e as que controlam o 3 8
6 7 9
nível da água a jusante da comporta.
Este trabalho apresenta um caso de aplica- 2
ção do modelo a um canal equipado com compor-
tas hidromecânicas automáticas que controlam o
nível da água a jusante. Sendo assim, passa-se a
uma descrição mais detalhada deste tipo de dispo-
sitivo. 1 - nível d’água a montante da comporta; 2 - abertura;
As comportas que controlam o nível da á- 3 - comporta; 4 – eixo; 5 - contrapeso regulável;
6 - flutuador; 7 – decremento; 8 – nível de referência;
gua a jusante, são normalmente referidas por seus 9 – nível d’água a jusante da comporta.
nomes comerciais AVIS e AVIO. A atuação dessas
estruturas se dá através de um segmento de com- Figura 1. Desenho esquemático em corte longitudinal
porta que obtura um orifício, ou seção de passa- de uma comporta AVIO.

121
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

As principais vantagens de sistemas de abertas ou fechadas por obstrução de obje-


controle com comportas AVIS e AVIO são: tos como lixo ou por ação de vândalos.

· as variações dos pedidos são automatica-


SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTO
mente transmitidas e compensadas, sem
necessidade de programação prévia ou co-
Outra característica de redes de canais con-
municação entre o irrigante e o responsável
troladas por comportas automáticas é que quando
do canal;
há variações nos pedidos, passam a ocorrer impor-
· as perdas operacionais são teoricamente
tantes regimes transitórios no interior do trecho.
nulas. Em outras palavras, só é utilizada a
Por exemplo, a mudança brusca de demanda, ao
água que corresponde à demanda, o exces-
final de um período de irrigação, quando as bom-
so permanece no canal como reserva para o
bas são desligadas, dá origem a uma ou mais ondas
próximo período de irrigação;
que percorrem o canal de jusante para montante,
· controle preciso da superfície livre facilita a provocando o fechamento das comportas, uma a
instalação de tomadas de água de vazão uma, e provocando sobre-elevações no nível da
constante nas zonas imediatamente a jusan- água. As ondas sofrem reflexão e atenuação ao
te dos reguladores; longo do tempo, mas podem originar grandes ins-
· o tempo de resposta é praticamente nulo, tabilidades no escoamento. Esta característica di-
ou seja, a água está imediatamente dispo- nâmica impede uma análise completa de redes de
nível quando se inicia a demanda. canais de irrigação com métodos tradicionais de
dimensionamento hidráulico, baseados em hipóte-
Como desvantagens, os sistemas de contro- ses de escoamento permanente (não variado no
le com comportas AVIS e AVIO apresentam: tempo).
As técnicas de simulação hidrodinâmica, já
· altos custos das comportas; usualmente aplicadas na análise de propagação de
· exigência de bermas de nível nos trechos, cheias em rios (Tucci, 1998), podem ser utilizadas
em disposição paralela ao determinado pe- em canais de irrigação. Neste caso é necessário
la superfície líquida, quando a vazão é nula adaptar o modelo hidrodinâmico para lidar com as
(bermas horizontais); particularidades encontradas, nem sempre comuns
· grandes volumes de obra, principalmente à simulação de rios, tais como: variações bruscas de
se o declive do fundo do canal é elevado; vazão e nível, escoamento reverso, escoamento em
· a propagação hidráulica das perturbações canal inicialmente seco, regime de escoamento mis-
de jusante para montante implica a neces- to, submersão das comportas, sifões invertidos,
sidade da existência do regime lento de es- bueiros, canais em rede e interação do canal com o
coamento em todo o trecho; logo, esse algoritmo de controle (Holly Jr. e Merkley, 1993).
sistema não permite a instalação de singu- As situações em que a simulação hidrodi-
laridades como quedas que alterem o regi- nâmica de canais de irrigação pode ser útil são
me de escoamento, ou seja, as comportas (Burt e Gartrell, 1993):
não podem ser substituídas por vertedores
para superar declives abruptos; · verificação do projeto do canal em situa-
· em virtude da resposta automática do sis- ções dinâmicas;
tema, o regulador abre tanto em função do · avaliação do funcionamento em situações
aumento de demanda como nos casos de normais ou de emergência;
ruptura do canal; · projeto de alterações do canal;
· o nível que deve ser mantido constante é fi- · projeto de alterações das demandas, tanto
xado no projeto e, apenas levemente altera- nos volumes como no calendário de irriga-
do no momento da calibração. Não existe ção;
flexibilidade na definição deste nível; · análise da estabilidade do algoritmo de
· a calibração exige treinamento; controle;
· as comportas podem interromper o funcio- · verificação da necessidade de reservatórios
namento e permanecer inadequadamente intermediários (pulmões);

122
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

· controle em tempo real. (não é a profundidade); q é a vazão afluente ou


efluente lateral por unidade de comprimento do
Sendo a distribuição de água para irrigação canal (m2.s-1); b é um coeficiente de correção do
no Brasil realizada predominantemente por de- momento devido à distribuição da velocidade na
manda, a simulação hidrodinâmica deste tipo de seção; Sf é a perda de carga por unidade de com-
regulador assume grande importância local, tanto primento do canal devida ao atrito, dada em m.m -1
para auxílio na fase de projeto, como para controle e calculada pela Equação (3).
de manobras na fase de operação.
Este trabalho apresenta o desenvolvimento n2 × Q × Q
Sf = (3)
de um modelo de simulação hidrodinâmica de 4
A2 × R 3
canais de irrigação e sua aplicação a um canal de
irrigação controlado por comportas automáticas do onde n é o coeficiente de Manning; R é o raio hi-
tipo AVIO. Alguns aspectos do comportamento dráulico (m).
dinâmico destes canais são discutidos, bem como as Estas equações são discretizadas segundo o
possibilidades de extensão de uso do modelo, e de esquema dado pelas equações de diferenças finitas
obtenção de dados que permitam verificá-lo. (4), (5) e (6).

O MODELO DE SIMULAÇÃO ¶Z Z
= i
( j+ 1 j+ 1
+ Z i + 1 - Z i - Z i +1
j j
) (4)
¶t 2 × Dt
O modelo de simulação apresentado neste
texto está baseado na metodologia descrita por ¶Z Z - Zi
= q × i+1
( j+ 1 j+ 1
) + (1 - q) × (Z j
- Zi
i +1
j
) (5)
Fread (1993), adaptada para o caso de canais con- ¶x Dx i Dx i
trolados por comportas. São considerados, separa-
damente, os trechos de canal, degrau e comporta.
Z = q×
(Z j+1
i +1 + Zi
j+ 1
) + (1 - q) × (Z j
i +1 + Zi
j
) (6)
Os trechos de canal são divididos em sub-trechos 2 2
de forma a minimizar os erros numéricos durante a
simulação. onde Z é uma variável qualquer a ser discretizada;
Cada tipo de trecho, seja ele canal, degrau Dt é o intervalo de tempo utilizado na simulação;
ou comporta, é representado por duas equações. Dx é o comprimento do subtrecho do canal; i e i+1
Uma delas é a equação de continuidade e a outra é são índices relativos ao espaço: montante e jusante
uma equação de conservação de momento ou ener- do subtrecho, respectivamente; j e j+1 são índices
gia (dependendo do tipo de trecho). Os contornos relativos ao tempo atual e futuro, respectivamente,
são representados por apenas uma equação. e q é um ponderador do esquema numérico.
Dois trechos consecutivos são unidos por As Equações (1) e (2), discretizadas por este
um nó. Nos nós é que estão definidas as variáveis Q esquema numérico ficam (Fread, 1985):
(vazão), h (cota da superfície da água), A (área mo-
lhada da seção transversal) e R (raio hidráulico), na q×
(Q j+ 1
i +1- Qi
j+1
) + (1 - q) × (Q j
- Qi
i +1
+
j
)
representação discreta do canal. Dx i Dx i
(7)
O escoamento em canais é representado pe- (A j+ 1
i
j+ 1
+ A i +1 - A i - A i +1 q ij+1 + q ij
-
j j
=0
)
las equações de Saint Venant: a equação de continu- 2 × Dt 2
idade (1) e a equação da conservação de quantidade e
de movimento (2):
Dx i ×
(Q j+ 1
i + Q ij++11 - Q ij - Q ij+1
+
)
¶Q ¶A 2 × Dt
+ -q =0 (1) éæ b × Q 2 ö j+1 æ b × Q 2 ù j +1
¶x ¶t ö
êç ÷ -ç ú ÷ + (8)
q × êçè A ÷ø i +1 çè A ú+ ÷
øi
¶Q ¶ æ b × Q 2 ö ¶h ê ú
+ ç
¶t ¶x çè A
÷ + g × A × æç
÷ è ¶x
ö
+ Sf ÷ = 0
ø
(2) (
êëg × A j+1 × h ij++11 - h ij+1 j +1
+ Dx i × S f úû )
ø
éæ b × Q 2 ö j æ b × Q2 ö
j ù
êç ÷ -ç ÷ + ú
onde Q é a vazão (m3.s-1); t é o tempo (s); A é a área ç ÷
(1 - q) × êè A ø i +1 è A ø i ç ÷ ú=0
da seção molhada (m2); g é a aceleração da gravi- ê ú
dade (m.s-2); h é a altura da superfície da água (m) (
êëg × A j × h ij+1 - h ij + Dx i × S f j úû )

123
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

sendo nível de referência é igual ao decremento máximo,


A = 0.5 × (A i + A i + 1 ) (9) a comporta está completamente aberta. Entre estes
dois extremos supõe-se que a abertura cresce line-
armente, conforme a equação abaixo:
R = 0.5 × (R i + R i + 1 ) (10)

æ HREF - HJUS ö
n2 × Q × Q HAB = HORIF × çç ÷÷ (16)
Sf = 4
(11) è DEC max ø
A2 × R 3

onde HAB é a abertura da comporta (m); HORIF é


O escoamento em degraus é representado a abertura máxima (m); HREF é o nível de referên-
por versões simplificadas das equações de continu- cia (m); HJUS é o nível da água a jusante da com-
idade e de conservação da quantidade de movi- porta (m) e DECmax é o máximo decremento do
mento, porque não é necessário considerar o nível da água a jusante da comporta (m). Supõe-se
armazenamento no curto trecho do degrau, e por- também que a comporta esteja calibrada pelos con-
que não são considerados termos derivados no trapesos de forma que:
tempo. A equação leva em conta a perda de carga
localizada que ocorre na contração do escoamento
RTF
provocada pelo degrau. DEC max @ (17)
20

Q ij + 1 - Q ij ++ 11 - Q tom = 0 (12)
onde RTF é o raio de giro do flutuador (m) (forne-
cido nas especificações da comporta).
(Q ) - (Q )
j+1 2
i +1
j+ 1 2
i+1
(
+ g × A × hi+1 - hi
j+ 1 j+ 1
)+ O escoamento em reservatórios é represen-
Ai +1 Ai tado por uma equação de balanço de massa (conti-
(13) nuidade) que considera o armazenamento (18) e
j+ 1 æ j+ 1 2 j+ 1 2 ö
Qi +1 1 ç æç Q i + 1 ö÷ æç Q i + 1 ö÷ ÷ uma equação dinâmica simplificada. A equação de
A× × KE × × ç - =0
Qi +1
j+ 1 2 ç çè A i + 1 ÷ø çè A i ÷ø ÷÷ balanço de massa é:
è ø

onde Qtom é a vazão na tomada de água (pode ser (


q Qi
j+1 j+1
) (
- Q i+1 + (1 - q) × Q i - Q i+1 -
j j
)
× (h )
variável no tempo) e KE é o coeficiente de perda de A sr j+ 1 j
(18)
Q tom - i +1 - h i +1 = 0
carga localizada. Dt
O escoamento em comportas AVIO é repre-
sentado por uma versão simplificada da equação de onde Qtom é a vazão na tomada de água local
continuidade e por uma equação de orifício (15). A (m3.s-1) e Asr é a área superficial do reservatório
equação de continuidade é simplificada porque não (m2) (é uma função tabelada da altura h).
foi julgado necessário considerar o armazenamento A equação dinâmica simplificada está base-
no curto trecho da comporta (14). ada na hipótese de nível da água constante no inte-
rior do reservatório. Esta simplificação é válida
Q ij + 1 - Q ij ++ 11 - Q tom = 0 (14) quando o reservatório é curto e quando a velocida-
de média da água no interior do reservatório é bai-
xa. Nestas condições a perda de energia e os efeitos
Q ij++11 - C AVIO × A AVIO × 2 × g × Dh = 0 (15)
de inércia podem ser desprezados. A equação fica:

onde CAVIO é o coeficiente de escoamento do orifí-


cio; Qtom é a vazão na tomada de água local (m 3.s-1); h ij++11 - h ij+1 = 0 (19)
AAVIO é a área livre do orifício (m 2) (que depende da
abertura da comporta) e Dh é a diferença de nível No contorno de jusante e nas tomadas de
da água a montante e a jusante da comporta (m). água laterais são definidos hidrogramas de deman-
A comporta está completamente fechada da. Estes hidrogramas podem ter variações bruscas,
quando o nível a jusante é igual ao nível de referên- típicas de abertura e fechamento de comportas ou
cia. Quando a diferença entre o nível de jusante e o de início e fim de bombeamento.

124
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

No contorno de montante é definida uma muitos elementos nulos. A solução é obtida por
profundidade (pode ser o nível de um reservatório duas sub-rotinas de retro-substituição (Press et al.,
ou de outro canal maior) que pode variar no tempo. 1995).
As combinações de demandas hídricas nas Em situações de escoamento normal o mé-
tomadas de água e a sua variação no tempo podem todo de Newton-Raphson converge rapidamente
ser exploradas para verificar se o canal projetado para a solução do sistema de equações, mas quando
atende às solicitações sem sofrer colapso (canal ocorrem as mudanças bruscas de vazão e nível, a
seco) ou sem transbordar. Da mesma forma o mo- solução é encontrada apenas depois de muitas ite-
delo pode ser utilizado para testar diferentes com- rações. Em alguns casos de fechamento brusco das
portas e dimensões de canal, fixadas as demandas comportas o método pode mesmo não convergir
nas tomadas de água. para uma solução. Para superar esta dificuldade o
Por simplicidade as condições iniciais cor- modelo foi adaptado para reduzir o intervalo de
respondem à situação estática, isto é, a vazão é nula tempo de cálculo (Dt) quando o método de solução
em todas as tomadas de água e no contorno de demora a convergir, isto é, quando o número de
jusante e a altura da água corresponde a esta situa- iterações supera um limite pré-determinado, de
ção (constante ao longo dos trechos de canal não aproximadamente 10 iterações. O programa volta,
separados por comportas). então, à situação anterior àquela em que ocorreu o
A aplicação das equações em cada trecho problema, já utilizando um intervalo de tempo
entre duas seções resulta num sistema de equações igual à metade do anterior. Por outro lado, quando
de (2N-2) equações e (2N) incógnitas, onde N é o o método converge na primeira iteração, o que o-
número de seções transversais. Adicionando duas corre normalmente nos períodos de escoamento
condições de contorno pré-determinadas, como as permanente ou de vazão nula, o intervalo de tempo
demandas a jusante e o nível da água a montante, o é aumentado, até reestabelecer seu valor original.
sistema pode ser resolvido. Desta forma o modelo permite a rápida simulação
As equações do sistema resultante são não de longos períodos de vazão constante ou nula
lineares. A solução para este sistema é obtida utili- intercalados por períodos de vazão rapidamente
zando o método de Newton-Raphson, em que se variada sem sofrer interrupções ou gerar resultados
supõe que exista uma primeira aproximação para o absurdos, e em um tempo de processamento relati-
vetor de solução X, que é X+DX. Considerando vamente curto.
válida uma aproximação em série de Taylor de
primeira ordem para a função:
APLICAÇÃO
¶F
F(x ) = F(x + Dx ) + × Dx (20)
¶x O modelo foi aplicado a um canal terciário
(que conduz a água aos lotes) de um sistema de
Como em X a função F é zero, isto é, irrigação projetado. O canal foi dimensionado para
F(x) = 0; a equação acima fica: abastecer uma área total de, aproximadamente,
900 ha de terreno irrigado. Seu traçado levou em
¶F consideração a localização dos reservatórios de
× Dx = -F(x + Dx ) (21)
¶x compensação do aproveitamento e as reduzidas
alternativas existentes, uma vez que a estrutura
Uma estimativa inicial, razoavelmente pró- viária e de distribuição dos lotes, neste caso especí-
xima à solução do vetor de solução (X+DX), é apli- fico, não deveria ser alterada.
cada à equação acima, obtendo um vetor resíduo O traçado foi efetuado adotando, como
(F(x+Dx)) e o Jacobiano, que é a matriz formada pelas principais diretrizes, a condução da água com o
derivadas parciais das equações. Esta matriz, resul- menor comprimento de canal possível, buscando
tante da aplicação das equações trecho a trecho, é proporcionar os menores desníveis para as estações
uma matriz banda. A primeira e a última linha elevatórias envolvidas com seu abastecimento e
desta matriz são as condições de contorno do canal. evitando, tanto quanto possível, a passagem de seu
No interior da matriz os pares de linhas represen- eixo no interior de lotes já existentes na distribuição
tam os subtrechos. A matriz banda é armazenada fundiária da região. Além disso, a inexistência de
de forma a economizar a memória, dispensando dados de sondagens disponíveis obrigou a empre-

125
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

gar uma estratégia muito conservadora no que diz Tabela 1. Características do canal.
respeito a escavações ao longo dos eixos.
Estas restrições resultaram no dimensio- Distância tipo D B S Q
namento de um canal com grande número de com- (m) (m) (m) (m/m) (m3/s)
portas, pequeno comprimento dos trechos entre
comportas e pouco armazenamento no interior do 0-390 t - 0,8 0,0003 0,903
canal. 390-1420 t - 0,8 0,0003 0,690
A vazão específica de pico para o dimensi- 1420-2137 c 1,4 - 0,0004 0,479
onamento do canal é de 1,0 l.s-1.ha-1, resultando, 2137-2818 c 1,0 - 0,0005 0,221
para a área coberta por este canal, a vazão de di- onde: D – diâmetro de canais semi-circulares; B –
mensionamento igual a 903 l/s. largura de base de canais trapezoidais; S – declividade
Os critérios básicos adotados para o dimen- do fundo e Q – vazão de dimensionamento.
sionamento foram:
conforme descrito anteriormente. Os reguladores
· canal revestido em concreto; empregados são as comportas tipo AVIO, descritas
· velocidade máxima do escoamento em tor- na introdução.
no de 0,6 m/s; O sistema baseado em comportas AVIO o-
· profundidades do escoamento inferiores a briga o dimensionamento do canal a submeter-se a
2 m; determinadas características, tais como:
· seções transversais trapezoidais com decli-
vidade dos taludes laterais iguais a 1 na · fundo do canal é sempre em declive;
vertical para 1,5 na horizontal; · canal escoa em regime lento;
· seções transversais semi-circulares com di-
· borda do canal é sempre horizontal, parale-
âmetro menor do que 1,5 m;
lo ao nível estático da linha de água quan-
· utilização da fórmula de Chèzy com coefi-
do está cheio e sem escoamento.
ciente segundo Manning, adotando
n = 0,014 m1/3s-1 para superfície de concre-
O canal foi discretizado em trechos de canal
to; e
trapezoidal, trechos de canal circular, trechos de
· consideração das vazões de pico escoando reservatórios e trechos de comportas AVIO, con-
em regime permanente e uniforme.
forme a estrutura do modelo matemático. Ao todo
são 31 trechos, em um comprimento total de apro-
Em virtude de o projeto hidráulico prelimi-
ximadamente 2.800 m. O canal é controlado por
nar não ter sido efetuado considerando-se os aspec-
jusante por 11 comportas AVIO dos tipos 90/63 e
tos de modelação hidrodinâmica, apresentados
71/40. Existem quatro tomadas de água distribuí-
neste artigo, foram fixadas bordas livres com 15 cm
das ao longo do canal, sendo a última localizada na
acima do nível estático do canal para a definição
extremidade de jusante.
das alturas finais das paredes laterais de cada tre-
As condições de contorno aplicadas ao ca-
cho do canal.
nal foram nível da água constante na extremidade
Conforme a localização das tomadas de á-
de montante e hidrogramas nas tomadas de água.
gua ao longo do canal, a capacidade de vazão di-
A forma dos hidrogramas é reta, com vazão nula
minui. Os resultados do dimensionamento para o
no início, passando bruscamente a um valor de
canal são apresentados na Tabela 1, onde Q é a
vazão constante, diferente para cada tomada, e
vazão de dimensionamento; S é a declividade do
voltando a zero, também de forma brusca. Durante
fundo; B é a largura da base; D é o diâmetro de
a fase de vazão constante nas tomadas de água, a
canais semi-circulares; t representa seção transver-
soma das vazões é de aproximadamente 900 l.s -1.
sal trapezoidal; e c representa seção transversal
semi-circular.
Para a operação do canal é utilizado o sis- RESULTADOS E DISCUSSÃO
tema de controle por jusante. Neste tipo de contro-
le, cada trecho é equipado por um regulador de O procedimento normal de verificação de
“nível constante” que ajusta, automaticamente, o um modelo de simulação exigiria a comparação
nível de água a jusante em uma cota constante, com dados medidos em um canal real, mas não

126
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

foram encontrados dados disponíveis. Assim foi água fica aproximadamente paralelo ao fundo. Esta
escolhida uma aplicação ao canal projetado, descri- situação é apresentada em detalhe na Figura 3.
to no item anterior. É nos curtos intervalos, em que a demanda
A simulação procurou avaliar o funciona- se inicia ou se encerra, que os efeitos dinâmicos se
mento do canal e o desempenho do modelo em manifestam. A Figura 4 apresenta um ciclo comple-
condições de uso severas, isto é, com transientes to de irrigação, onde se percebe as flutuações na
fortes nas tomadas de água. Todas as tomadas de vazão logo que se inicia e logo que se encerra a
água são acionadas ao mesmo tempo, atingindo a demanda. As flutuações de vazão são amortecidas
demanda máxima de forma imediata, e todas as são e, passados alguns minutos, desaparecem comple-
desligadas ao mesmo tempo, reduzindo a zero a tamente.
vazão nas tomadas laterais e na tomada do extremo No exemplo simulado neste trabalho, a si-
de jusante do canal. tuação mais crítica ocorre quando a demanda de
Tipicamente o calendário de irrigação exige água se encerra. Nesta situação a água, que vem
demandas constantes por longos períodos. Antes escoando com uma determinada velocidade, é de-
do período de irrigação não existe demanda, e a sacelerada bruscamente, gerando uma onda. Esta
água no canal fica parada. A Figura 2 apresenta, onda é maior nos extremos do trecho de canal, jun-
para a aplicação realizada neste trabalho, os perfis to às comportas. A Figura 5 apresenta o nível da
do fundo do canal e da linha de água na condição água calculado imediatamente a montante da se-
inicial, quando a vazão é zero. Nesta situação o gunda comporta do canal, no momento em que se
nível da água é horizontal, e cada degrau corres- encerra a demanda em todas as tomadas.
ponde a uma comporta AVIO. Para o canal desta aplicação, as perturba-
Em canais bem dimensionados, passado ções são amortecidas completamente em aproxi-
um tempo suficiente do início da demanda de água madamente meia hora. Supõe-se que este tempo de
nas tomadas, o escoamento entra em regime per- acomodação seja função das características do ca-
manente, isto é, não varia no tempo, e o nível da nal, em particular, do seu comprimento total.

Figura 2. Perfil do fundo do canal (linha contínua) e da superfície da água na condição estática (linha tracejada).

127
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

Figura 3. Detalhe do último trecho do canal: perfil do fundo (linha espessa); linha da água para a vazão nula (1); linha
da água para a vazão máxima (2).

Figura 4. Vazão durante o ciclo de irrigação na extremidade de montante do canal (linha fina) e em um ponto
intermediário (linha espessa).

128
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

Figura 5. Cota da superfície no fim do ciclo de irrigação imediatamente a montante da segunda comporta do canal.

A diferença entre o nível máximo atingido


em um ponto do canal durante o transiente hidráu-
lico e o nível estático, que é o nível da água quando
a vazão é nula, neste mesmo ponto é denominada
sobrelevação. Na aplicação realizada, a maior so-
brelevação ocorre imediatamente a montante da
quinta comporta. A Figura 6 apresenta o nível da
água calculado imediatamente a montante desta
comporta, no momento em que se encerra a de-
manda em todas as tomadas.
A Figura 7 apresenta a sobrelevação em to-
dos os pontos ao longo do canal. Nesta figura se
observa que as maiores sobrelevações são de pouco
mais de 10 cm. Este valor é útil na verificação do Figura 6. Cota a montante da comporta em que ocorre a
dimensionamento do canal, particularmente quanto maior sobrelevação ao final do ciclo de irrigação.
a sua borda livre. A borda livre do canal é dimensi-
onada para evitar que a água transborde com a Na mesma figura são apresentadas os má-
formação de ondas pelo vento ou pelos efeitos di- ximos desvios negativos, em relação ao nível de
nâmicos de abertura e fechamento de comportas. referência. Estes desvios são mínimos logo a jusante
Uma estimativa aproximada indica que uma redu- das comportas, pois é nestes pontos que a atuação
ção de 5 cm na borda livre, no projeto do canal das comportas mantém os níveis constantes.
descrito, pode significar uma economia de R$ 10,00 Os resultados apresentados referem-se so-
por metro de canal, considerando o revestimento mente ao canal da aplicação. É possível que os efei-
em concreto e o aterro. Este valor torna-se muito tos dinâmicos sejam mais fortes em canais com
importante em canais mais longos e, tipicamente, trechos mais longos e de menor declividade como,
os sistemas de irrigação têm dezenas de quilôme- em geral, são os canais primários. Por outro lado,
tros de canais. os reservatórios intermediários podem contribuir

129
Simulação Numérica de Canais de Irrigação Controlados por Comportas Automáticas

Figura 7. Desvios máximos ou sobrelevação (linha contínua) e mínimos (linha pontilhada) do


nível da água em relação à cota estática.

para a redução dos efeitos dinâmicos. Outro aspec- AGRADECIMENTOS


to que necessita de análises mais detalhadas é a
forma com que varia a demanda. Os autores agradecem ao CNPq pela concessão da
bolsa de doutorado que mantém o primeiro autor e
aos revisores pelas sugestões.
CONCLUSÕES

O modelo hidrodinâmico de escoamento REFERÊNCIAS


em canais de irrigação, desenvolvido neste traba-
lho, permitiu avaliar os efeitos dinâmicos que exis- BURT, C. M. & GARTRELL, G. (1993). Irrigation canal
tem quando os canais são controlados por simulation model usage. Journal of Irrigation and
comportas automáticas. Drainage Engineering v. 119, n° 4 p. 11-5;
July/August.
Embora sem verificar o modelo frente a
EFFERTZ, R. (1993). Operação e Manutenção de projetos de
dados observados, os resultados foram coerentes e irrigação. Brasília: Secretaria de Irrigação – Manual
o exemplo de aplicação mostrou que é possível de irrigação n° 4, p. 492.
utilizar o modelo para verificar o dimensionamento FREAD, D. L. (1993). Flow routing. In Maidment,
do canal quanto à borda livre. A economia que a Handbook of Hydrology.
simulação pode proporcionar, com estimativas FREAD, D. L. (1985). Channel routing. In: Anderson, M.
mais exatas da borda livre necessária, é significati- G.; Burt, T. P. Hydrological forecasting. John Wiley
va, e pode contribuir para reduzir os custos por and Sons Ltd.
área irrigada. HOLLY Jr., F. M. & MERKLEY, G. P. (1993). Unique
À medida que os sistemas de irrigação se problems in modeling irrigation canals. Journal of
Irrigation and Drainage Engineering v. 119 n° 4
desenvolvem, aumenta a complexidade do seu
p. 11-5; July/August.
controle e aumenta a necessidade de se extrair o
PRESS, W. H.; TEUKOLSKY, S. A.; VETTERLING, W. T.
máximo da sua capacidade. A simulação é pratica- & FLANNERY, B. P. (1995). Numerical Recipes in
mente indispensável na verificação do projeto e das FORTRAN. Cambridge: Cambridge University.
eventuais alterações do projeto do canal e do siste- RIJO, M. (1997). Controlo de canais: Caracterização e
ma de controle. classificação dos diferentes sistemas. Notas de aula do

130
RBRH - Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 6 n.1 Jan/Mar 2001, 119-131

Curso de controle em canais de irrigação. IPH Numerical Simulation of Automatic Gate-


UFRGS. Controlled Irrigation Canals
RIJO, M. (1993). Regulações de redes de rega colectivas em
superfície livre. Notas de aula do Curso de controle
em canais de irrigação. IPH UFRGS.
ABSTRACT
ROGERS, D. C. & GOUSSARD, J. (1998). Canal control
algorithms currently in use. Journal of Irrigation and This paper presents an introduction to several
Drainage and Engineering v. 124, n° 1 p. 11-5; aspects related to the control of irrigation canals, and a
January/February. simulation model of this control. The model is based on
TUCCI, C. E. M. (1998). Modelos Hidrológicos. ABRH e the hydrodynamic equations in one dimension, and can
Editora da UFRGS. Porto Alegre. p. 669. be applied to canals controlled by automatic gates, typi-
cal of irrigation systems. The model divides the whole
canal into reaches with canals, gates, reservoirs and
steps, and each reach is mathematically represented by
the respective equations. The model may be used as a
verification tool to design irrigation systems, with canals
and automatic gates, where the systems are subject to
strong variations in water demand, and to plan the de-
mand calendar at the different water intakes. An exam-
ple is presented applying the model to a 2600-meter long
irrigation canal, controlled by 11 gates and with 4 water
intakes.
Key-words: irrigation; hydrodynamic; gates.

131

Вам также может понравиться