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UFERSA

INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO DIREITO

PROF. MÁRIO MAIA

AULA: ANÁLISE DE DOCUMENTOS. A DECISÃO JUDICIAL.

A RETÓRICA DOGMÁTICA DO JURISTA PROFISSIONAL: SOBRE A FORMA, A


FUNÇÃO E A NOMENCLATURA DOS DOCUMENTOS JURÍDICOS

O jurista tem como principal ferramenta de trabalho as palavras.

No seu exercício cotidiano profissional, em especial no ambiente forense, as


palavras do jurista são fixadas em documentos.

Apesar de ser comum (e até característico) a divergência a cerca das


consequências jurídicas de uma determinada ação ou omissão (pensem nas
diferentes interpretações propostas para uma narrativa fática entre a acusação e a
defesa de um agente qualquer) quando se trata da produção documental pode-se
observar um terreno comum: o desenvolvimento da retórica dogmática1 além de se
verificar sempre uma mesma função geral relacionada ao documento produzido.
Essa função geral é a de tornar possível a decisão do conflito social apresentado.

O jurista profissional produz documentos com a intenção geral de decidir os


conflitos sociais que lhes são apresentados.

Os documentos materializam as falas profissionais dos juristas no exercício do seu


ofício. Os documentos que materializam essas falas recebem nomes diferentes a
partir da verificação da função especifica dessas falas.

1 Sobre o “procedimento argumentativo dogmático” ver (FERRAZ JR., 2015, p. 292 – 296).

1
Isso explica o fato de, mesmo com interpretações diferentes, os juristas sempre
produzirem documentos onde fazem menção às leis, doutrina e jurisprudência.

Há um universo retórico delimitado2, um universo de argumentação possível,


sendo pouco provável que um jurista consiga “persuadir” os seus interlocutores
com base em argumentos não dogmáticos (valores pessoais, repassados no âmbito
de intimidade da família, por exemplo).

Assim, por exemplo, um documento produzido pelo jurista com a função de


apresentar ou responder um determinado conflito social ao serviço burocrático
estatal de resolução de conflitos (judiciário) é chamado em geral de “petição”3. É
que a função principal dessa fala materializada documentalmente é de “pedir” ao
poder estatal a resolução do problema de acordo com as regras estabelecidas pelo
ordenamento jurídico. Sendo o caso de uma apresentação inicial do conflito a
instância burocrática esse documento recebe o nome de “petição inicial”.

A “denúncia” é também o nome formal de um documento. Esse documento é


produzido pelos juristas (MP) quando elaboram uma espécie de “petição inicial”
envolvendo matéria penal, ou seja, é documento que trata de por em causa uma
questão de verificação da existência ou não de uma ilicitude – violação – do
ordenamento jurídico na sua esfera penal.

Os pareceres são também espécie de documento produzida pelo jurista


profissional. A função especifica do parecer é apresentar uma opinião
juridicamente fundamentada a cerca da melhor maneira de se decidir um
determinado conflito presente ou prevenir um conflito futuro.

O exemplo mais comum são os pareceres elaborados pelo Ministério Público,


quando não atuam no polo ativo da causa, esses pareceres servem primeiramente

2 Bourdieu: “Entrar no jogo [dogmático], conformar-se com o direito para resolver o conflito, é
aceitar tacitamente a adoção de um modo de expressão e de discussão que implica a renuncia à
violência física e às formas elementares de violência simbólica. (...) os fatos jurídicos são produtos
da construção jurídica, uma verdadeira retradução de todos os aspectos do “caso” é necessária para
ponere causam como diziam os romanos, para constituir o objeto da controvérsia (...)” (2010, p.
229).
3 Sobre os “atos de petição”: “também denominados atos postulatórios, que consiste nos pedidos ou

requerimentos em que a parte postula uma providencia ou um ato processual específico.”


(THEODORO JR., 2012, p. 250).

2
como instrumento de persuasão da autoridade julgadora e, em caso de decisão no
mesmo sentido, como instrumento de fortalecimento da decisão.

Estudaremos as características e a função da decisão judicial de maneira isolada.

O QUE É UMA DECISÃO JUDICIAL4?

A decisão judicial é a resposta estatal ao problema que lhe foi apresentado pelo
profissional jurista no exercício do seu afazer profissional de “resolvedor” de
problemas5. (Isso, claro, no caso da jurisdição contenciosa).

Trata-se de um comando emitido pelo Estado. O seu cumprimento não é opcional.

Obviamente, há regras dentro do próprio ordenamento jurídico que garantem que,


em caso de descontentamento com a ordem estatal, seja possível buscar uma
modificação desse comando estatal. São os recursos jurídicos processuais.

Essa que é uma garantia constitucional é conhecida como a garantia do duplo grau
de jurisdição.

Isso significa que a decisão proferida por um juiz singular, pode, em caso de
provocação da parte descontente com a primeira ordem emitida pelo estado, ser
revista por um órgão colegiado.

Dizer que um órgão jurisdicional é colegiado é dizer que existem mais de um


julgador responsável pela emissão da ordem estatal. A decisão judicial no âmbito
dos órgãos colegiados recebe o nome de acórdão.

Os julgadores dos órgãos colegiados (na segunda instancia) são geralmente


chamados de desembargadores. Nos tribunais superiores e no Supremo Tribunal
são chamados de Ministros.

4 Aqui se utiliza a expressão “decisão judicial” que é gênero, como sinônimo de “sentença”, que é
espécie. As decisões, em sentido lato, são todos os pronunciamentos do juiz resolvendo uma
controvérsia. (TEHODORO JR., 2012, p. 253).
5 A sentença, que é a decisão de um juiz singular, é definida normativamente no art.203, §1º.

3
Retomando, a decisão judicial é o comando estatal emitido pelos juízes e
desembargadores. Em outras palavras, a decisão judicial é uma fala estatal emitida
com o objetivo de resolver um determinado conflito social.

Essas falas estatais são fixadas em documentos, faremos agora uma análise das
partes constitutivas desses documentos.

A DECISÃO JUDICIAL COMO DOCUMENTO PRODUZIDO PELO JURISTA:


ANÁLISE DAS SUAS PARTES CONSTITUTIVAS

A palavra burocracia é percebida pela maioria das pessoas como algo negativo.

Em verdade, o aparato burocrático é uma necessidade nos dias de hoje. Imagine


como seria difícil dar seguimento a enorme quantidade de demandas jurídicas sem
um aparato burocrático (setores da administração responsáveis por registrar e dar
encaminhamento às demandas).

A decisão judicial, como vimos, é uma fala estatal. Essa fala é materializada em um
documento.

Por ser uma fala estatal, esse documento é publico.

Os próximos tópicos dessas anotações de aula tratarão de descrever e analisar as


partes constitutivas desse documento burocrático (a decisão).

Ainda que as normas de formatação e apresentação estilística sejam diferentes nos


diferentes tribunais, é possível analisar algumas características presentes. Algumas
dessas características, inclusive, são previstas em lei.

A saber: (1) a identificação documental no aparato burocrático; (2) a ementa da


decisão; (3) o relatório; (4) a fundamentação e (5) o dispositivo.

4
(1) A identificação documental no aparato burocrático

O que o leigo chama de “justiça”, como quando utiliza a expressão “Vou levar você
para a justiça!” é na verdade o serviço público prestado pelo estado para a
resolução de conflitos sociais.

O serviço público prestado pelos juízes e demais servidores no ambiente forense é


o serviço de decisões de conflitos sociais. Dogmaticamente esse serviço é
identificado como o exercício jurisdicional por parte do Estado. A estrutura do
Estado responsável por prestar esse serviço é chamada comumente de “Poder
Judiciário”.

Os problemas sociais quando tratados pela burocracia estatal são chamados de


“causas”, o jurista profissional põe em causa os problemas sociais, portanto.

O número de causas postas para a resolução estatal nos dias de hoje é gigantesco.
Em 2014 eram mais de 70 milhões de problemas não resolvidos em tramitação no
judiciário brasileiro (fonte CNJ, justiça em números, 2015).

Como são muitas as causas e muitas as pessoas que trabalham para resolvê-las
(advogados, juízes, promotores, contadores, pessoal de secretaria, oficiais de
justiça, etc.) é necessário que haja uma clara identificação burocrática da questão
em tratamento burocrático.

A decisão judicial é uma fala do juiz registrada nesse imenso aparato burocrático
estatal.

Para identificar essa fala especifica (permitindo que os interessados consultem o


andamento do processo, por exemplo) é necessário que o documento seja iniciado
com informações que permitam essa identificação.

Usando como exemplo as decisões da justiça estadual do RN, vejamos um caso


aleatório específico:

Processo nº 0000958-48.2010.8.20.0116 - Procedimento Ordinário

5
Autor: JHONY xxxxxxx

Réu: Município de Senador Georgino Avelino/rn, Gonçalo de Assis


Bezerra

Perceba que temos no caso o número específico do processo como registrado no


aparato burocrático estatal e as partes do processo em questão. Essas são as
informações básicas para a identificação documental de uma sentença específica.

(2) A ementa da decisão

E ementa de uma decisão é o resumo do seu conteúdo. Uma espécie de sumário.

A elaboração de uma boa ementa é muito importante nos dias de hoje. Vimos que a
jurisprudência é uma fonte do direito contemporâneo. Como o número de casos
judicializados é muito grande a ementa acaba sendo uma ferramenta de
racionalização importante, apesar de ser um elemento formal não previsto
legalmente.

Em geral, quando se faz uma pesquisa de jurisprudência ela é realizada a partir da


análise das ementas.

As ementas normalmente identificam o principal ou os principais ramos do direito


em questão (na decisão judicial) além de uma síntese dos argumentos e dos
assuntos contidos na decisão judicial.

Veja o mesmo exemplo do caso identificado acima:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E


PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA DE MÉRITO.
EXONERAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO DURANTE O ESTÁGIO
PROBATÓRIO. PROCEDIMENTO QUE CONCLUIU PELA “AUSÊNCIA
DE APTIDÃO E CAPACIDADE DO SERVIDOR”. PROVA QUE
ESCLARECE SOBRE A FRAUDE NO PROCEDIMENTO, QUE RESTOU,

6
OUTROSSIM, MACULADO PELA INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. EXTINÇÃO DO
PROCESSO, COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 269, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

(3) O relatório

O relatório é item da sentença previsto no art. 489, I do CPC em vigor. Nele o juiz
deve relatar os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e
da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do
processo.

Vimos que o poder judiciário presta um serviço burocrático estatal de resolução de


conflitos.

O direito processual trata das regras e princípios que orientam a atuação do Estado
na resolução desses conflitos.

Em síntese, podemos entender o que acontece num processo judicial perante o


poder judiciário como um grande debate entre as partes com o objetivo de
persuadir o Estado a cerca da certeza do seu direito próprio.

Vejamos, é o advogado que põe o problema em causa (através de um documento


chamado de petição inicial), o Estado que oficialmente chama a outra parte para
explicar a sua versão dos fatos (através de uma citação formal), a outra parte,
através do seu advogado, diz a sua versão dos fatos (numa contestação, por
exemplo), o membro do ministério publico é chamado para dar a sua opinião
(parecer) sobre quem tem razão – de acordo com o direito –, são chamados peritos
para fazerem prova de determinadas questões controversas, etc.

Todos esses atores processuais têm as suas falas registradas. Essas falas
registradas formam o que se identifica como os autos processuais, ou seja, o
processo na sua dimensão física (hoje também como “forma” virtual).

7
O que importa perceber, neste momento, é que antes da decisão do Estado-juiz
muita coisa acontece, muitas falas são registradas no aparelho burocrático estatal.

O relatório é a parte constante do documento identificado como “decisão judicial”


que tem a função justamente de resumir todo o caminho percorrido até o
momento da decisão judicial.

Continuaremos utilizando o mesmo caso para fins de exemplificação:

I - Relatório

JHONY xxxxxx, brasileiro, solteiro, motorista, ins-crito no RG sob o nº


xxxxxxxxxSSP/RN, bem como no CPF/MF, sob o nº xxxxxxxxx,
residente e domiciliado na Rua São Pedro, 52, Mãe Luíza, Natal-RN,
CEP nº 59014-240, por meio da Defensoria Pública Estadual, ajuizou
a presente Ação Ordinária com Pedido de Antecipação dos Efeitos da
Tutela contra o Município de Senador Georgino Aveli-no-RN, pessoa
jurídica de direito público interno, alegando, em resumo, que teria
tomado posse no cargo de Motorista, em fevereiro de 2010, “..embora
a documentação oferecida pelo Município conste que a posse deu-se
em 30 de março do corrente ano..” (fl. 04) e que, após submeter-se à
prova junto ao DETRAN-RN, foi orientado a permanecer em casa, até
sua convocação, sendo surpreendido, no entanto, com a notificação
para que apresen-tasse defesa acerca de “..duas denúncias formais..”
(fl. 05).

Disse que, embora tenha apresentado defesa no procedimento


administrativo contra si instaurado, foi “..reprovado no estágio
probatório, com a sua respectiva exoneração do cargo..” (fl. 06).

Esclarece que, após a sua exoneração, foi convocado o irmão do então


Prefeito de Senador Georgino Avelino, Daniel de Assis Bezerra, para o
mesmo cargo, questionando o fato de ter sido exonerado mesmo
tendo trabalhado somente 10 (dez) dias. Formula diver-sas
considerações quanto à lisura e legalidade do ato administrativo que
acabou por ex-cluí-lo do quadro de servidores do ente público
demandado.

Pleiteou a antecipação dos efeitos da tutela de mérito, com a sua


imediata reinte-gração, e que, ao final, fosse julgado “..procedente o
pedido do requerente de anulação do ato que o exonerou, para
assumir de formar definitiva o cargo de Motorista “D”, pertencente ao
quadro de servidores públicos do Município de Senador Georgino
Avelino, para o qual foi aprovado em segundo lugar..” (fl. 16). 7

8
O autor pediu, ainda, a condenação do réu a Pagar ao requerente os
vencimentos e vantagens. Excluídos os descontos obrigatórios, com
juros e correção monetária, da data em que o requerente foi
exonerado até a data em for efetivamente reintegrado ao cargo de
Motorista "D", contando-se para todos os fins o período em que esteve
afastado (fl. 17).

Juntou os documentos de fls. 18 e seguintes.

Declinada a competência pela MM. Juíza da Vara Única de Goianinha-


RN, os autos foram encaminhados para este juizo (fls. 56-7).

Indeferido o pedido de antecipação dos efeitos da tutela de mérito


(fls. 61-2), o réu foi citado e apresentou contestação, às fls. 68 e
seguintes, pugnando pela improcedência do pedido. Naquela
oportunidade, foi dito que o autor “..tomou posse em Março de 2010 e
foi exonerado em Julho do mesmo ano..” (fl. 70), sem que adquirisse
estabilidade.

Impugnada a contestação (fls. 119-120), realizou-se a audiência


preliminar.

Não houve acordo, instruiu-se o feito, com a colheita dos depoimentos


das teste-munhas (fls. 139 e 180-181).

Concluída a fase instrutória, o autor apresentou suas alegações finais,


oportunidade em que requereu o julgamento de procedência do
pedido, inclusive para que seja condenado o requerido a pagar ao
requerente o valor correspondente a integralidade dos vencimentos e
vantagens a que teria direito desde a data em que foi exonerado até a
data da efetiva reintegração no cargo de motorista “D”, excluindo
apenas os descontos obrigatórios e contando-se para todos os fins de
direito o período em que esteve afastado, notadamente, para efeitos
de confirmação no cargo. (fl. 184). 8

9
O Município de Senador Georgino Avelino, por sua vez, apresentou
alegações fi-nais, intempestivamente (fls. 190-193), pugnando pela
improcedência do pedido.

É o relatório. Sumariados. Decido, fundamentando.

(4) A fundamentação

Na disciplina de introdução à ciência do direito estudamos o raciocínio jurídico-


dogmático utilizado pelos juristas.

Vimos em aulas passadas que, a partir de um prisma interno, a atividade do jurista


consiste na argumentação capaz de unir os fatos da vida a um determinado texto
legal.

Em termos simples, o jurista deve dizer que determinado fato esta ou não de
acordo (ou ainda se é irrelevante para o direito) com o nosso ordenamento
jurídico e quais as consequências previstas pelo próprio ordenamento jurídico. Ele
faz a seleção dos fatos jurídicos.

É justamente por isso que na sua previsão legal (art. 489, II, CPC), a fundamentação
tem o objetivo de exigir que o juiz analise as questões de fato e de direito.

Em síntese, a fundamentação é justamente o trecho documental onde o jurista irá


explicar o motivo, ou fundamento jurídico, da sua decisão.

É, portanto, nesse trecho da decisão que devemos concentrar as nossas análises


nesse semestre. Isto porque nele está contido o raciocínio dogmático utilizado pelo
juiz para decidir de uma determinada maneira.

Vejamos, novamente, exemplo retirado do caso em análise:

II - Fundamentação

De acordo com a inicial, o autor busca a anulação do ato que o


exonerou e a con-denação do ente público demandado ao pagamento
de valor correspondente aos vencimen-tos e vantagens que teria

10
direito, desde a data de sua exoneração até o dia de sua efetiva
"reintegração" no cargo, "contando-se para todos os fins o período
em que esteve afastado" (fl. 17).

O estágio probatório, segundo a doutrina, é o “..período dentro do


qual o servidor é aferido quanto aos requisitos necessários para o
desempenho do cargo, relativos ao interesse no serviço, adequação,
disciplina, assiduidade e outros do mesmo gênero..” (CARVALHO
FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 16ª edição,
revista, atualizada e ampliada. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2006, p.
556).

Por outro lado, a exoneração, que, no dizer de Celso Antônio Bandeira


de Melo, “é desligamento sem caráter sancionatório” (BANDEIRA DE
MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 29 ed., revista
e atualizada. São Paulo: Malheiros Editores, 2012, p. 312), pode,
efetivamente, resultar da deliberação espontânea da Administração,
dentre outras hipóteses, quando “em cargo de provimento efetivo,
antes de completado o triênio para estabilidade, o servidor se revela
inadequado ao cargo e a Administração o desliga depois de regular
aferição de sua ausência de capacidade para permanecer” (obra
citada, p. 312).

Ocorre que, ainda que não seja estável, o servidor em estágio


probatório somente pode ser exonerado mediante prévio
procedimento administrativo, assegurados os princí-pios da ampla
defesa e do contraditório (Neste sentido: STJ. 19.179/DF, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
04/02/2013, DJe 14/02/2013; STJ. RMS 23.742/MT, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe
30/09/2011).

Vide Súmula 21, do STF:

Funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem


demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de
sua capacidade.

Neste oriente, inclusive, é o entendimento de Marcelo Alexandrino e


Vicente Paulo:

Não obstante a exoneração de um cargo público, em tese, não revista


caráter punitivo, o Supremo Tribunal Federal, há muito, consagrou o
entendimento de que a exoneração do servidor em decorrência de
inabilitação em estágio probatório deve observar o devido processo
legal, em que lhe sejam previamente assegurados o contraditório e a
ampla defesa (ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito

11
administrativo descomplicado. 17ª ed, revista, atualizada e ampliada.
Rio de janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009, p. 362).

Ora, após apreciar todos os aspectos da causa, estou mesmo


convencido que o caso é de julgar procedente o pedido, já que os
elementos probatórios comprovaram que o pro-cedimento que
resultou na exoneração do autor não passaram de uma verdadeira
"fraude", com a juntada de declarações de pessoas analfabetas que
sequer sabiam o conteúdo dos documentos, conforme restou
demonstrado na audiência de instrução e julgamento.

Com efeito, todas as testemunhas ouvidas em juízo confirmaram que


foram levadas a assinar a declaração de fl. 32, que instruiu o
procedimento disciplinar instaurado contra o autor, afirmando, além
disso, que foram enganadas, para tanto. É o que se extrai dos de-
poimentos de Evangelista Firmino da Silva, João Batista Gomes e
Roberto Urbano da Silva (mídia de fl. 181), sendo verdade, além disso,
que a declaração assinada por Salatiel Batista da Silva não pode ser
considerada, posto que produzida sem o crivo do contraditório (fl.
31), vício que também maculou todo o procedimento.

É que, neste caso, não foi garantido ao autor o direito de contraditar


os elementos probatórios produzidos, não sendo ele nem mesmo
cientificado quanto ao direito de produ-zir provas (fl. 30). Quanto ao
ponto, cito os precedentes:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO


FEDERAL. ESTÁGIO PROBATÓRIO. EXONERAÇÃO. NECESSIDADE DE
PRÉVIA INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO DESTINADO A
GARANTIR AO SERVIDOR O DEVIDO PROCESSO LEGAL, O
CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA. 1. Busca-se com a presente
impetração anular a Portaria n. 1.616, de 12 de julho de 2011, que
exonerou ex officio à impetrante do cargo de auxiliar de enfermagem
do quadro do Ministério da Saúde, por não ter satisfeito as condições
do estágio probatório devido a reiterados problemas de saúde
apresentados após a sua posse. 2. Consoante entendimento
consolidado nesta Corte Superior, ainda que se encontre em estágio
probatório, ao servidor concursado e nomeado para cargo efetivo
deve ser garantido o devido processo legal, a ampla defesa e o
contraditório. Nesse sentido, aliás, é o entendimento do Colendo
Supremo Tri-bunal Federal, consolidado na Súmula n. 21, verbis:
"Funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem
demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de
sua capacidade". 3. Precedentes: RMS 24091 / AM, rel. Ministra Maria
Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 28/03/2011; EDcl no AgRg
no RMS 21.078/AC, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ
18/12/2006. 4. Na hipótese, embora a autoridade coatora afirme que
foram observados os princípios constitucionais da ampla defesa, não

12
apresenta qualquer documento nem tampouco noticia a instauração
de procedimento válido destinado à exoneração da impetrante. 5.
Segurança concedida. (STJ. MS 19.179/DF, Rel. Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 04/02/2013,
DJe 14/02/2013).

(...)

Os autos demonstram, de maneira consistente, que a exoneração do


autor não se deu segundo os princípios constitucionais da ampla
defesa e do contraditório.

No que se refere ao contraditório, cabe falar, outrossim, que não deve


ser tido como algo meramente formal, impondo-se que o interessado
possa intervir no desenvolvimento e no próprio resultado do
procedimento. Sobre o assunto, cito a doutrina:

a garantia do contraditório não tem apenas como objetivo a defesa


entendida em sentido negativo – como oposição ou resistência -, mas
sim principalmente a defesa vista em sua dimensão positiva, como
influência, ou seja, como direito de incidir ativamente sobre
desenvolvimento e o resultado do processo. É essa visão que coloca
ação, defesa e contraditório como direitos a que sejam desenvolvidas
todas as atividades necessárias à tutela dos próprios interesses ao
longo de todo o processo, manifestando-se em uma série de posições
de vantagens que se titularizam quer no autor, que no réu
(GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antônio Magalhães;
FERNANDES, Antônio Scarance. As nulidades no processo penal. 11
ed., rev, atual. e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2009, p. 113).

Mas há um outro argumento favorável à pretensão do autor, é que


não poderia ser exigida a experiência profissional, que sequer foi
mencionada no edital. Além disso, im-porta observar que também
consta dos autos declaração fornecida pela empresa Omega Ind. e
Com. de Móveis Imp. e Exp., informando que o autor ali trabalhou, de
fevereiro a maio de 2011, como motorista de caminhão, entregando
móveis (fl. 173), tudo a afastar as alegações que lhe foram imputadas.

Conforme já dito, e segundo consta, inclusive, da petição de fls. 33-35,


também é certo que não poderia o ente público demandado exigir a
experiência profissional, já que esta exigência não constava do edital,
sendo de estranhar a celeridade do procedimento e registrando-se,
ainda, que as testemunhas afirmaram que o próprio advogado que
assinou a contestação participou da reunião em que foram induzidas
a assinar o documento de fl. 32.

13
Frise-se que o autor é habilitado na categoria AD (fl. 28) e as
informações que te-riam sido prestadas pelo chefe imediato do autor,
mencionadas na decisão de fls. 42-53, pecam pela subjetividade,
deixando de apontar qualquer fato objetivo que pudesse aconse-lhar
a exoneração. O expediente (fls. 80 e seguintes), datado de
20/05/2010, em que João Batista Dantas Bezerra, então Secretário
de Obras e Serviços Urbanos, afirma que o autor não possui
capacidade técnica e a aptidão necessárias ao desempenho do cargo,
alémd e considerações subjetivas, faz referências às declarações dos
demais servidores, que, no entanto, negaram o seu conteúdo quando
ouvidos em juízo.

Importa dizer, ainda, que na CNH (fl. 28), consta a observação de que
o autor exerce atividade remunerada, sendo verdade, além disso, que
mesmo havendo notícia de que teria sido ele encaminhado para o
teste de aptidão no DETRAN, não foi feita qualquer referência ao
referido resultado, o que também causa uma certa perplexidade.

Não mais preocupante é o fato de que o candidato que foi aprovado


em terceiro lugar era irmão do então Prefeito de Senador Georgino
Avelino, Gonçalo de Assis Bezerra (o mesmo que assinou o Decreto
Municipal nº 07/2010, que exonerou o autor). Esta cir-cunstância, se
não autoriza, por si só, reconhecer a procedência do pedido, lança
sérias dúvidas quanto ao procedimento adotado. O parentesco, é bom
que se diga, é incontroverso ns autos, pois, à fl. 77, consta a seguinte
passagem:

Não procede a informação de que o fato de o terceiro colocado no


certame ser o irmão do prefeito ter influenciado em sua exoneração,
tendo em vista que o procedimento adotado é totalmente impessoal e
não feriu qualquer Legislação, seja qual for. Ora, assim como ele, o
terceiro colocado também prestou concurso e é legítimo para ocupar
cargo que seja declarado sua vacância em razão de inaptidão dos
aprovados dentro do número de vagas.

Finalizo, dizendo que o procedimento previsto no artigo 31 e


seguintes, da Lei Mu-nicipal nº 25-A, não observa os princípios do
contraditório e da ampla defesa, merecendo glosa, portanto, também
mostrando-se relevante afirmar que a anulação do ato de demissão
tem como consequência lógica a reintegração do servidor afastado
com o restabelecimento do status quo ante, vale dizer, assegura-se ao
servidor a recomposição integral de seus direitos, inclusive o de
receber os vencimentos que deveriam ter sido pagos durante o
período em que esteve indevidamente desligado do serviço público,
em observância ao princípio da restitutio in integrum, não havendo
que se falar, portanto, em ofensa à coisa julgada por não ter a ordem
sido expressa quanto aos efeitos financeiros, tampouco em excesso de
execução por ter sido considerado como termo inicial das parcelas

14
devidas a data do afastamento do servidor dos quadros da
Administração (STJ. AgRg nos EmbExeMS 14081/DF, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
11/04/2012, DJe 17/04/2012).

Não é outra a orientação do seguinte julgado:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. EXONERAÇÃO. ATO NULO.


EFEITOS. VENCIMENTOS. O reconhecimento, em juízo, da nulidade do
ato de exoneração opera efeitos ex tunc, razão pela qual o servidor
tem direito ao tempo de serviço e aos vencimentos que lhe seriam
pagos no período em que ficou afastado. Recurso conhecido e provido.
(STJ. Resp 293.840/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 04/06/2002, DJ 01/07/2002, p. 372).

O TJRS e o TJRN adotam entendimento idêntico:

Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.


PORTÃO. ANULAÇÃO DO ATO DE EXONERAÇÃO. REINTEGRAÇÃO AO
CARGO. INDENIZAÇÃO. TEMPO DE SERVIÇO. HORAS EXTRAS.
ADICIONAL NOTURNO. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO.
INSALUBRIDADE. REFLEXOS SOBRE GRATIFICAÇÃO NATALINA E
FÉRIAS. (...) NÃO CONHECERAM DO AGRAVO RETIDO E DERAM
PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO DA PARTE AUTORA,
PREJUDICADO O RECURSO DO MUNICÍPIO, POR MAIORIA, VENCIDO
EM PARTE O REVISOR. (Apelação Cível Nº 70026606855, Terceira
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar
Maia, Julgado em 07/05/2009).

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA. CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. EXONERAÇÃO ILEGAL.
REINTEGRAÇÃO AO CARGO. PAGAMENTO INTEGRAL DOS
VENCIMENTOS E VANTAGENS REFERENTES AO PERÍODO DO
AFASTAMENTO INDEVIDO. REMESSA CONHECIDA E DESPROVIDA. -
O reconhecimento da ilegalidade da exoneração implica no
pagamento integral dos vencimentos e vantagens ao servidor público
correspondente ao período do indevido afastamento do cargo.
Precedentes. (3ª Câmara Cível do TJRN. Remessa Necessária n°
2011.014525-0. Relator: Desembargador Vivaldo Pinheiro, v.U.,
julgado em 16/12/2011).

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(5) O dispositivo

De acordo com o art. 489, III, CPC, o dispositivo é o trecho do documento intitulado
de “decisão judicial” onde o juiz “resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.”.

Se entendermos a processo judicial como um caminho que deve ser percorrido


pelo Estado na prestação do serviço público de resolução de conflitos, é possível
entender o dispositivo de uma decisão judicial como sendo o trecho da decisão
onde o juiz diz efetivamente o que ele(a) decidiu.

Seguido com a análise da mesma decisão:

III - Dispositivo

Ante o exposto, com fundamento nas razões acima, julgo procedentes


os pedidos, para declarar a nulidade do ato administrativo que
exonerou o autor, determinando sua imediata reintegração no cargo,
restabelecidos todos os seus direitos.

(...)

QUEM CONTROLA O CONTROLADOR? INTERPRETAÇÃO JURIDICA, INCERTEZA


E MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE GARANTIA DE COERÊNCIA

O juiz no exercício da sua função institucional “diz o direito” através da sua


decisão.

Vejamos uma situação concreta6:

Em decisão no dia 24 de março de 2015 os desembargadores do TJ/SP que


compõem a 4º câmara de direito criminal decidiram manter uma decisão de
primeira instancia que garantia a remição pela leitura de apenado.

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Descrição fundada na análise de dois documentos: Agravo de Execução Penal nº 0075518-
11.2014.8.26.0000 (TJ/SP) e Agravo de Execução Penal nº 0076525-38.2014.8.26.0000 (TJ/SP)

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Na vida do preso e, portanto, na vida onde o problema aparece enquanto elemento
existencial, isso significa que a sua pena foi reduzida em alguns dias devido à
leitura de textos literários.

Entendam o problema apresentado aos desembargadores: o Ministério Público de


São Paulo tenta modificar decisão de um juiz de São Paulo que garantiu o direito do
apenado de diminuir a sua pena em alguns dias por conta da leitura feita por ele (o
apenado). O tribunal também garantiu esse direito, ou seja, manteve a decisão do
juiz singular.

O raciocínio dogmático foi o seguinte:

1. O artigo 126 da Lei de Execução Penal diz que “ O condenado que cumpre a
pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por
estudo, parte do tempo de execução da pena.”

2. “Diante disso, em abril de 2013 (Processo 2013/46029 da CGJ), juízes


assessores da Corregedoria Geral da Justiça deste Tribunal encaminharam
àquele órgão correcional Parecer com a sugestão de que fosse elaborada
minuta como forma de modelo aos juízes corregedores dos presídios,
possibilitando a remição por estudo.”

3. “Fundou-se o parecer, ainda, no art. 1.º, da Lei n.º 7.210/84, (...)”

4. “Aludido parecer, então, foi aprovado, bem como disponibilizada minuta


aos juízes corregedores dos presídios”

5. “Na mesma esteira, a Recomendação n.º 44/2013, do Conselho Nacional de


Justiça.”

6. “E, in casu, o sentenciado satisfez as exigências, pois, após a leitura das


obras (...)”

7. “Correta, portanto, a decisão de primeiro grau que deferiu a remição ao ora


agravado, razão pela qual o pleito ministerial não merece prosperar.”

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Acontece que poucos dias depois (07 de abril de 2015), outros desembargadores
do mesmo tribunal que compõem a 3ª câmara de direito criminal decidiram um
caso semelhante de maneira completamente diferente.

No caso concreto o pedido do Ministério Público de São Paulo era o mesmo: mudar
decisão de um juiz singular que havia garantido o direito a remição de pena de
apenado devido à realização de leitura.

Nesse caso, os desembargadores aceitaram a argumentação do MP e mudaram a


decisão do juiz de primeira instancia. O raciocínio dogmático foi o seguinte:

1. O relato fático: “Após participar de algumas oficinas de leitura (v.fls. 13) e


realizar a resenha de fls. 14, referente a obra literária “Edwige, a
Inseparável” recebeu remição de quatro dias da pena.”

2. A verificação da existência ou não de fato jurídico “(...) a simples leitura não


está prevista em lei [art. 126 LEP] como requisito para a remição da pena. O
próprio texto legal deixa claro que o estudo apto a ensejar a remição é o que
se caracteriza por “frequência escolar” (...)”

3. A consequência jurídica: “Respeitado o entendimento da nobre Juíza


singular, de rigor a reforma da decisão.”

Observando a prática concreta nos tribunais brasileiros é facilmente perceptível


uma situação que deixa muitas pessoas perplexas: a variedade de interpretação
das normas do direito positivo que possibilita que casos semelhantes sejam
julgados de maneira diferente.

Isso se deve a impossibilidade de se definir de antemão todas as possibilidades


interpretativas do direito positivo (o sistema jurídico)7.

Seria impossível para o legislador prever com precisão todas as possibilidades de


aplicação de uma lei no momento da sua promulgação. Isso é um ideal que na
prática jamais será alcançado.

7Para considerações sobre o nível de “determinação” do direito ver os textos reunidos em BIX,
2003.

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O que os juristas têm em comum é uma determinada maneira de encaminhar o seu
raciocínio. Vimos, por exemplo, que o jurista sempre faz menção à lei. É esta a
principal fonte do direito moderno.

Sob o prisma de uma análise da linguagem, a dogmática jurídica é justamente esse


meio de argumentação utilizado pelos juristas profissionais. É esse saber de
encaminhamento dos problemas que se aprende na faculdade.

Podemos nos perguntar, não é muito problemático isto de cada juiz poder decidir
de uma maneira específica e de todas elas serem consideradas jurídicas?

Sim isto é problemático, isso nos leva a uma situação de insegurança jurídica. Não
há, no entanto, uma forma de se resolver de maneira absoluta essa questão.

O que se pode fazer então?

Há tentativas de garantir a estabilidade/previsibilidade das decisões a partir do


âmbito teórico. Isso significa que há alguns teóricos do direito que acreditam que é
possível “controlar” racionalmente as decisões judiciais através do controle dos
argumentos utilizados pelos juristas.

Essa é uma perspectiva idealista. No Brasil, um dos grandes representantes desse


pensamento é o atual ministro do STF Luiz Roberto Barroso. É no âmbito da
pesquisa institucional desenvolvida na UERJ que esse pensamento se desenvolve
com maior nitidez8.

Há, por outro lado quem veja a interpretação jurídica de maneira pragmática. É
uma questão de poder, de definição de poder por parte do ordenamento jurídico.
Decide a autoridade competente para tal. Para Kelsen (2009, p. 394) “A
interpretação feita pelo órgão aplicador é sempre autêntica. Ela cria direito.”.

Partido de uma perspectiva desse tipo resta aos juristas definirem um sistema de
controle institucional hierarquicamente organizado. É o chamado sistema recursal.
Nele são definidas autoridades com competência de revisarem as decisões dos

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Exemplificativo desse contexto é o trabalho de Ana Paula de Barcellos (2005).

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juízes singulares (os tribunais estaduais de justiça, os tribunais regionais, os
tribunais superiores e o supremo tribunal federal).

Com o tempo essas decisões dos órgãos jurisdicionais de cúpula tendem a definir
um posicionamento geral do judiciário a cerca de determinada questão.

Veja que, mesmo tendo opiniões diferentes, e com isso gerando ordens estatais
diferentes, os juízes têm de argumentar dogmaticamente, ou seja, utilizando as
expressões e conceitos que começamos a aprender na disciplina de introdução à
ciência do direito.

Referências:

BARCELLOS, Ana Paula de. Ponderação, racionalidade e atividade jurisdicional. Rio


de Janeiro: Renovar, 2005.

BIX, Brian. Law, language and legal determinacy. Oxford: University Press, 2003.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 14ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito. 8ed. São Paulo: Atlas,
2015.

KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense,
2012.

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