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PORTEFÓLIO DE LITERATURA PORTUGUESA Bruna Salgado

PROFESSORA FERNANDA FREITAS


“O 25 DE ABRIL DE 1974 E OS DIREITOS HUMANOS
ASSEGURADOS PELA CONSTITUIÇÃO DE 1976”
Índice
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................2
CONHECIMENTO DO PASSADO HISTÓRICO ..........................................................................................2
25 de Abril .........................................................................................................................................2
Estado Novo ......................................................................................................................................3
Guerra Colonial .................................................................................................................................3
Descolonização .................................................................................................................................4
Democracia .......................................................................................................................................5
Como era viver em ditadura, privado de direitos e liberdades fundamentais? ...............................6
As mudanças registadas desde 1974 até à atualidade .........................................................................7
BIOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA ......................................................................................................9
Fernando Pessoa ...............................................................................................................................9
1.º POEMA ..........................................................................................................................................12
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR ....................................................................................................12
2.º POEMA ..........................................................................................................................................14
O MENINO DA SUA MÃE .................................................................................................................14
A ARTE .................................................................................................................................................17
CARTAZES – ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL ...................................................................................18
HISTÓRIA: VIDA VIVA/OS TESTEMUNHOS ..........................................................................................19
ENTREVISTA: DIÁLOGO INTERGERACIONAL (Carlos Poças Falcão e Torcato Ribeiro) ....................19
REFLEXÃO ............................................................................................................................................21
WEBGRAFIA.........................................................................................................................................22

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INTRODUÇÃO

Este Portefólio reúne um tratamento de informação sobre o regime ditatorial em


Portugal e o dia vincado pelo seu fim. Além disso, contém um trabalho de análise,
interpretação e reflexão sobre a escrita e a pintura relativa a este período.

CONHECIMENTO DO PASSADO HISTÓRICO


1. 25 de Abril

Na madrugada de 25 de abril de 1974, os militares do MFA ocuparam os estúdios


do Rádio Clube Português e, através da rádio, explicaram à população que pretendiam
que o país fosse de novo uma democracia, com todos os direitos e liberdades. Neste
sentido, puseram músicas que o regime censurava, como a “Grândola Via Morena”, de
José Afonso.
Simultaneamente, uma coluna militar com tanques, comandada pelo capitão
Salgueiro Maia, saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e marchou em
direção a Lisboa. Já na capital, tomou posições junto dos ministérios e depois cercou o
quartel da GNR do Carmo, onde estava refugiado Marcelo Caetano, o sucessor de
Salazar.
Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares e o golpe de
Estado tornou-se numa verdadeira revolução. A certa altura, uma vendedora de flores
começou a distribuir cravos e, deste modo, os soldados enfiavam no cano da
espingarda e os civis punham-nos ao peito, daí a designação de Revolução dos Cravos.
Foram dados alguns tiros para o ar, mas ninguém morreu ou ficou ferido.
Ao fim da tarde, Marcelo Caetano rendeu-se e entregou o poder ao general
Spínola, que, embora não pertencesse ao MFA, não partilhava da mesma perspetiva
do governo relativamente às colónias.
Um ano depois, a 25de abril de 1975, os portugueses votaram, pela primeira vez,
em liberdade desde há muitas décadas.

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2. Estado Novo

António de Oliveira Salazar tornou-se presidente do Conselho em 1932, tendo no


ano seguinte apresentado uma nova Constituição, que pôs fim à Ditadura Militar e
instaurou o regime que se designou por Estado Novo.
Este regime caracterizou-se essencialmente por um único partido – União
Nacional – que transmitia “o espírito da nação”, sendo que a oposição era duramente
reprimida. A vida económica e social do país foi organizada em corporações, de modo
a estabelecer um maior controlo do Estado e, como tal, dificultando a existência de
Sindicatos. A verdade é que a Igreja e o regime caminhavam lado a lado. A ideologia
era marcadamente conservadora, uma vez que as orientações se baseavam em “Deus,
Pátria, Família, Autoridade, Hierarquia, Moralidade, Paz Social e Austeridade”. A nível
cultural, foi desenvolvida uma estratégia de propaganda que pretendia dar uma certa
leveza ao regime e glorificá-lo e, assim, a censura aos media procurou sempre não
deixar avançar qualquer tipo de rebelião contra o regime. A polícia política, que teve
inúmeras designações (PIDE, PVDE, DGS), perseguia todo e qualquer opositor. Deu-se
uma criação de milícias, uma para defesa do regime e combate ao comunismo – Legião
Portuguesa – outra destinada a incutir nos jovens os valores do regime – Mocidade
Portuguesa. Este regime era, ainda, marcado por uma política colonialista, que
afirmava que Portugal era “um Estado pluricontinental e multirracial”. Contudo, a
partir de 1961, eram muitas as pressões internacionais para o país conceder
independência às suas colónias e, neste contexto, teve início a Guerra Colonial.

3. Guerra Colonial

Após a 2.ª Guerra Mundial, todos os países europeus, à exceção de Portugal,


foram concedendo a independência aos seus territórios na Ásia e em África,
recorrendo, por vezes, ao uso da força. Assim, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe,
Angola, Moçambique, o chamado “Estado da Índia” – Goa, Damão e Diu – Macau e
Timor eram ainda pertença portuguesa.
Com a entrada de Portugal na ONU, em 1955, foi recomendado ao governo
tornar as suas colónias independentes, mas a resposta foi negativa. De modo a
contornar a situação, o regime declarou as colónias como “províncias ultramarinas” e

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concedeu a cidadania aos seus habitantes, porém, esta medida foi reprovada pela
Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Goa, Damão e Diu foram os primeiros territórios que Portugal perdeu, após uma
guerra de curta duração contra as forças indianas.
Em 1961, desenrolam-se diversos acontecimentos que marcam uma viragem no
destino das colónias. Os militares do MPLA iniciaram uma rebelião em Luanda a 4 de
fevereiro; a 15 de março a UPA/FNLA inicia um conjunto de violentos ataques no norte
da colónia; anos mais tarde, a UNITA começa uma luta de guerrilha.
Em 1963, inicia-se o conflito na Guiné-Bissau com direção do PAIGC e, em 1964,
o FRELIMO irá conduzir Moçambique à guerra.
No continente africano, apenas Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe ficaram imunes
à guerra; na Ásia, Macau sofreu alguns momentos de instabilidade, não tendo, no
entanto, chegado a haver conflito armado e em Timor, os movimentos de
independência só surgiram após o 25 de Abril.
Em 1961, Salazar marcou a sua posição relativamente às rebeliões que se
estavam a desencadear, proferindo “Para Angola, imediatamente e em força”.
A verdade é que estas guerras provocaram fortes abalos nas finanças do Estado,
desgastando, neste sentido, as forças armadas, colocando Portugal cada vez mais
isolado do panorama político mundial. As consequências foram trágicas: 1 400 000
homens mobilizados, 9000 mortos e cerca de 30 000 feridos, além de 140 000 ex-
combatentes com distúrbios pós-guerra. A acrescentar, ainda, as vítimas civis não
contabilizadas de ambas as partes.
O conflito não teve solução através de meios pacíficos, mas apenas por meios
políticos e diplomáticos empreendidos após 1974.

4. Descolonização

Depois de vários anos de luta pela independência, é o 25 de Abril que abre


portas ao processo descolonizador. Todavia, apesar de ter estado na essência da
Revolução, esta é a questão que mais decisões desencadeia, sendo que o programa do
movimento foi alterado quanto à política ultramarina, por pressão da JSN.

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No entanto, a urgência duma resolução para a situação militar no terreno, a
pressão internacional, bem como a própria evolução dos acontecimentos em Portugal,
foram razões que estiveram na origem na entrega dos territórios.
Guiné Bissau é reconhecida enquanto República através da assinatura do Acordo
de Argel (25 e 29 de agosto de 1974), ficando agendado o dia da independência para
10 de setembro. A 25 de junho de 1975, Moçambique viu consagrada a sua
independência, após violentas manifestações de colonos. O Acordo de Argel estendeu-
se a Cabo Verde, que proclama a independência a 5 de julho de 1975. Em S. Tomé e
Príncipe, o governo português reconhece o “Movimento de Libertação” num período
de transição até à eleição de uma Assembleia Constituinte e à proclamação da
República, em 12 de julho de 1975. No caso angolano, o processo de independência
envolveu inúmeros conflitos. A atividade diplomática passou por uma fase de
negociação com os 3 movimentos presentes em território angolano: MPLA, UNITA,
FNLA. Proclamada a independência a 11 de novembro de 1975, seguiu-se uma feroz
guerra civil até 1995.
Efetivamente, o processo de descolonização esteve na origem de um dos mais
importantes fenómenos sociais da história de Portugal: o regresso e integração de
cerca de 500 000 retornados provenientes, maioritariamente, de Angola e
Moçambique.

5. Democracia

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma


transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade
portuguesa.
A Revolução restitui aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No
exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reuniram-
se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país. A
Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a
independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de
estabelecer os princípios da democracia e de abrir caminho para uma sociedade
socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção e
um país mais livre, mais justo e mais fraterno.

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Podemos verificar ainda que a chegada da democracia a Portugal teve impacto
no sistema de educação, uma vez que diminuiu a iliteracia e prolongou a escolaridade
obrigatória, que antes da Revolução, terminava na quarta classe.
Deste modo, a 2 de abril de 1976 foi reunida a Assembleia Constituinte que
aprovou e decretou a Constituição da República Portuguesa.

6. Como era viver em ditadura, privado de direitos e liberdades fundamentais?

Com o novo regime, proclamado por Salazar, o poder era de tal modo repressivo,
que as liberdades individuais, de imprensa, de reunião e direito à greve foram
seriamente restringidas.
A Legião portuguesa que carateriza o fascismo, bem como a Mocidade
Portuguesa usavam uniformes próprios e adotaram a saudação romana.
Os direitos dos cidadãos foram muito limitados, bem como as suas liberdades.
Em 1926, tinha sido instituída a censura aos meios de comunicação social, teatro,
cinema, rádio e televisão. Ela visava supervisionar todos os assuntos políticos,
religiosos e militares, o seu objetivo era impedir a divulgação de atividades contra o
governo, bem como escândalos de vária ordem. Alguns livros eram proibidos e
impedia-se a opinião pública livre, ou seja, tudo era controlado.
Havia ainda, neste regime, uma polícia política com funções de repressão de
crimes políticos criada em 1933. A PIDE utilizava a tortura, física e psicológica, para
obter confissões e denúncias, mandava prender opositores ao regime, violava
correspondência e invadia residências e possuía, ainda, uma grande rede de
informadores nas escolas, no trabalho e nos centros de convívio.
Todos estes meios do período salazarista ajudaram a consolidar o poder de
Salazar e a manter a ordem. O ensino era controlado através da adoção de manuais
únicos que ensinavam os valores do Estado Novo.
Assim, no tempo da ditadura Salazarista, até mesmo a mente das pessoas era
influenciada pelos ideais da política salazarista.

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7. As mudanças registadas desde 1974 até à atualidade
• As desigualdades entre os homens e as mulheres
Ser homem ou mulher antes do 25 de Abril significava ter direitos e obrigações muito
diferentes. Igualdade entre os sexos era algo impensável antes da Revolução. As diferenças
começavam nos salários e chegavam até às autorizações para casar.
• O direito a férias
Com a revolução, os portugueses passaram também a ter férias e o subsídio respetivo.
Com esta conquista cresceu o chamado turismo popular, apesar de nem todos poderem gozar
deste direito.
• O comércio
As pequenas lojas de bairro sofreram e muito com o aparecimento das grandes
superfícies. Os supermercados trouxeram maior quantidade e variedade de produtos.
• A literatura
Muitos foram os livros que a PIDE/DGS proibiu em Portugal, antes da Revolução de
Abril. Os escritores tiveram um papel decisivo ao retratar a sociedade portuguesa e a
denunciar as dificuldades dos portugueses. Antes e depois de abril, os livros continuam a ser o
espelho da Liberdade.
• Os transportes
Os polícias sinaleiros já foram às centenas, mas estão quase a desaparecer - 40 anos
depois de abril, já só existem dois em Lisboa.
• A pesca
A pesca em Portugal mudou radicalmente ao longo dos 40 anos de democracia. As
embarcações ganharam tecnologia, mais segurança e melhores condições de trabalho. Apesar
disso, a incerteza e o perigo do mar nunca abandonaram a vida dos pescadores portugueses,
que continua a ser das mais duras.
• A censura e o humor
A censura continuaria a ser terreno fértil para o humor que aparece no Portugal
democrático. A Revista à Portuguesa começou por fazer crítica política e manteve a tradição
com a chegada da Democracia.
• A indústria da publicidade
O 25 de abril provocou uma quebra na publicidade. Várias empresas foram
nacionalizadas e os anúncios ficaram associados à ideia de capitalismo. Mas a publicidade
sobreviveu.

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• A educação
A chegada da democracia a Portugal teve impacto no sistema de educação. O país
diminuiu a iliteracia, mas, mesmo assim, o abandono escolar em Portugal é ainda um dos mais
altos da União Europeia.
• A saúde
Uma das principais mudanças trazidas pelo 25 de Abril foi o Serviço Nacional de Saúde.
Antes da revolução, a assistência médica em Portugal não estava assegurada para todos. Isso
mudou com a chegada da democracia.
• A reforma agrária
A frase "a terra a quem a trabalha" marcou o sul do país durante anos - uma reforma
que deixou cicatrizes profundas que ainda hoje permanecem, quer no lado dos proprietários,
quer no lado dos trabalhadores agrícolas.
• A emigração
Porque o Estado Novo preferia manter a mão de obra barata sob controle, emigrar era
muito difícil, ou quase impossível, durante a ditadura salazarista. Apesar disso, quase dois
milhões de portugueses passaram a fronteira a salto, a coberto da noite e dos caminhos
acidentados, ajudados pelos que conheciam as raias como a palma das mãos. São muitas as
histórias da fuga com malas de cartão para destinos como França e para condições de
sobrevivência sub-humanas. Mas a esperança por dias mais felizes sobrepunha-se a tudo.
Passadas quatro décadas, a emigração volta a ser a solução de recurso para muitos jovens - e
menos jovens - que cruzaram as fronteiras em busca de um futuro menos sombrio.
• A promessa de casa digna para todos
Casa digna para todos. Foi uma das promessas de abril, mas continua por cumprir.
Quarenta anos depois da revolução, há muitos portugueses ainda a viver em espaços
degradados.

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BIOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA

Fernando Pessoa
Extraordinário poeta e uma das personalidades
mais complexas e representativas da literatura europeia
do século XX, Fernando Pessoa cultivou uma poesia
voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu
lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre o seu
“eu profundo”, as suas inquietações, a sua solidão e o
seu tédio.
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu a 13 de
junho de 1888, em Lisboa, Portugal. Ascendente de
cristãos-novos, a sua mãe era oriunda de boa família
açoriana e o seu pai era um modesto funcionário,
jornalista e crítico musical, que morreu tuberculoso
quando o futuro poeta tinha apenas 5 anos.
Assim, em 1895, a sua mãe contraiu segundas núpcias com um cônsul de
Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhando a família, Fernando Pessoa
instalou-se em Durban, onde recebeu educação inglesa, na Durban High School.
Em 1901, Pessoa escreve os seus primeiros poemas em inglês. Em junho de
1901, desembarca com a nova família em Lisboa, em gozo de férias, aí permanece mais
de um ano e recontacta a família paterna.
Em 1903 Fernando Pessoa retorna sozinho para a África do Sul e frequenta a
Universidade do Cabo. Quando volta definitivamente para Lisboa, em 1905, Pessoa
domina a língua inglesa e respetiva literatura, tão bem, ou melhor, que a materna.
Matricula-se no Curso Superior de Letras, cujas aulas depressa abandona e dedica-se
ao estudo dos filósofos gregos e alemães.
Nesta altura, Pessoa cultiva o seu furor destrutivo contra a monarquia decadente
e a Igreja Católica, e escreve à Igreja que o batizara uma carta em que se insurge
contra o abuso de, apenas com um mês de idade, o terem integrado na Igreja Católica,
que apelida de “poderosa e estúpida, irracional e decrépita”. Assim, toda a obra do
poeta vai ser marcada pelo seu repúdio pela Igreja Católica.

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Em 1912, estreia-se como ensaísta na revista “Águia” ao publicar, em 1912, uma
série de artigos sobre “a nova poesia portuguesa”, o Saudosismo.
1914, foi um ano decisivo para o autor, pelo aparecimento dos principais
heterónimos, tal como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
Afastando-se progressivamente do grupo saudosista, adere a novos rumos
estéticos e, assim, a partir de 1915 lidera o grupo de jovens – Mário de Sá-Carneiro,
Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho, que
resolveu fundar a revista “Orpheu”, uma publicação que foi porta-voz dos ideais de
renovação futurista desejados pelo grupo, defendendo a liberdade de expressão,
numa época em que Portugal atravessava uma profunda instabilidade político-social
da primeira república. A revista Orpheu teve vida curta, mas enquanto durou,
Fernando Pessoa publicou poemas que escandalizaram a sociedade conservadora da
época.
Entre 1902 e 1908, Fernando Pessoa compôs as suas poesias e prosas somente
em inglês, só aos 20 anos passou a compor em português. A sua vasta obra foi também
mostrada na revista literária “Presença” (1927), que sustentava a liberdade de
expressão e apregoava a emoção estética como o real objetivo do Movimento
Modernista.
Em fins de 1934, publica a Mensagem, coletânea de poesias que celebram os
heróis e profetizam ansiosamente a renovada grandeza da pátria. Nesta obra confessa:
“Fui sempre nacionalista e liberal: nacionalista – quer dizer, crente no país como alma
e não como simples nação; e liberal – quer dizer, crente na existência, de origem
divina, da alma humana, e da inviolabilidade da sua consciência, em si mesma e em
suas manifestações.”
Esse fervor nacionalista de Pessoa foi e continua a ser mal-entendido. Para
muitos é a manifestação da sua simpatia por uma ideologia dita “de direita”.
Numa nota de 30 de março de 1935 declara-se “cristão gnóstico, e, portanto,
inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e, sobretudo, à Igreja de Roma”.
Acrescenta ainda: “Fiel à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações
com a Tradição Secreta em Israel e com a essência oculta da Maçonaria.”
Após a publicação de inúmeras poesias, F. P. torna-se o poeta de mais larga
projeção na poesia em língua portuguesa, dos dois lados do Atlântico.

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A publicação do Livro do Desassossego de Bernardo Soares, acarretou um maior
prestígio internacional do escritor. Traduzido tanto para francês, como para espanhol,
alemão e italiano, a obra foi objeto de estudos de especialistas alemães, franceses,
italianos, brasileiros, entre outros.
Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Tendo sido "plural", como
se definiu, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviveram nele.
Cada um tem a sua biografia e traços diferentes de personalidade.
“Os poetas não são pseudónimos e sim heterónimos, isto é, indivíduos
diferentes, cada qual com seu mundo próprio, representando o que angustiava ou
encantava o seu autor.”

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1.º POEMA
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR
António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar


É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Pica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

Coitadinho
do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...

Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.

Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.

Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho

12
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

ANÁLISE
• Análise Formal
Este poema é composto por 6 estrofes: 1.ª – Oitava; 2ª – Nona; 3.ª Quadra; 4.ª –
Quintilha; 5.ª – Oitava; 6.ª – Nona.
Métrica - livre
Esquema Rimático – AABCBDBD
A - Rima emparelhada, rica, perfeita, aguda, consoante;
B - Rima cruzada, pobre;
C - Verso solto
D - Rima interpolada, rica, perfeita, aguda, toante

• Recursos estilísticos
Trocadilho – “Este senhor Salazar/É feito de sal e azar”
Metáfora – “Bebe a verdade e a liberdade”
Sarcasmo – “Coitadinho do tiraninho” – uso do diminutivo, depreciação.
Pleonasmo – “Certo e certeiro”
Ironia (subjacente a todo o poema) – “Certo e certeiro/Que isto consola/E nos dá fé”
• Análise Interpretativa
Podemos classificar este poema como sendo satírico, uma vez que deprecia a imagem
de uma pessoa, neste caso António de Oliveira Salazar, remetendo, precisamente, para
um caráter antissalazarista.
Os recursos estilísticos dão enfase à crítica relativa à ditadura salazarista e marcam a
posição antagónica do sujeito poético relativamente aos ideais e orientações do
mesmo, denuncia, ainda, a censura, a injustiça e, evidentemente, a falta de liberdade,
fazendo, referências à Guerra Colonial (“O meu vizinho/Está na Guiné”) e à prisão.

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2.º POEMA
O MENINO DA SUA MÃE
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.


De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!


(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada


Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:


«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

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ANÁLISE
• Análise Formal
Este poema é composto por 6 quintilhas. Os versos são hexassílabos (No/plai/no
a/ban/do/na).
Esquema rimático – ABAAB
• Rima cruzada – entre os 1.º e 3.º versos de cada estrofe;
• Rima interpolada – entre os 2.º e 5.º versos de cada estrofe;
• Rima emparelhada – entre os 3.º e 4.º versos de cada estrofe;
• Rima rica – “sangue” e “enxague”.
O poema divide-se em 3 partes: a 1.ª correspondente à 1.ª e 2.ª estrofes; a 2.ª diz
respeito à 3.ª, 4.ª e 5.ª estrofes; a 3.ª equivalente à última estrofe.
• Na 1.ª parte, é descrito o cenário da planície e o jovem morto;
• Na 2.ª parte, está explícito o discurso emotivo e valorativo da juventude (morte
prematura) do “menino de sua mãe”;
• Na 3.ª parte, está presente um desfecho dramático, representado pelo
contraste entre a realidade e as preces (orações) da família.
Sendo um poema de base narrativa, há aspetos a salientar:
• Narrador: subjetivo;
• Ação: a morte do soldado (“menino de sua mãe”);
• Espaço: “no plaino abandonado” / “lá longe”;
• Personagens: soldado, mãe, criada, “Império”.

• Recursos Estilísticos

Hipálage - “plaino abandonado”; “olhar langue”; “céus perdidos”; “cigarreira breve”;


“brancura embainhada/De um lenço”
Antítese – “aquece (…) / arrefece”
Hipérbato – “Raia-lhe a farda o sangue”
Interrogação retórica/Aparte – “(Agora que idade tem?)”

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• Análise Interpretativa
É possível fazer uma dupla leitura deste poema: uma literal, correspondente à
narração da imagem de um soldado morto na guerra e abandonado no campo de
batalha, podendo remeter, por exemplo, para a Guerra Colonial, e outra metafórica,
alusiva à própria vida do poeta.
Relativamente à primeira leitura, fica assente, nas estrofes iniciais, o sentimento
do narrador perante o absurdo da guerra. A predominância de frases do tipo
declarativo expressa a profundidade do tema, que transparece sentimentos de solidão,
abandono, perda e tristeza, que, no fundo, estão explícitos ao longo de todo o poema.
Nas estrofes seguintes, as frases exclamativas fazem uma alusão à efemeridade da vida
do jovem. Na 4.ª estrofe, a “cigarreira breve” e o “lenço”, representam
simbolicamente a curta vida do menino, que não teve tempo para usar esses objetos
oferecidos pela mãe e pela criada. Na última estrofe, é feita uma acusação ao Império
(pode remeter para o período salazarista e, neste sentido, para as guerras nas colónias
que levaram à morte de milhares de jovens), transparecendo, assim, um sentimento
de revolta. A mãe e a família surgem como símbolos de esperança, saudade, carinho e
amor. O penúltimo verso finaliza a gradação iniciada pelo último verso da 1.ª estrofe
(“Jaz morto e arrefece.” (…) “Jaz morto, e apodrece”), transmitindo, deste modo, a
passagem do tempo durante a narração do poema.
Em relação à vertente metafórica do poema, podemos relacionar o mesmo com
a própria vida de Fernando Pessoa, em que a infância surge como idade feliz, que
posteriormente é perdida e, deste modo, irrecuperável, estando associada aos
primeiros anos de vida do poeta, marcados pelo amor e pela felicidade, que viria a ser
perdida com a morte do pai e do irmão, restando-lhe apenas o amor materno.
Neste sentido, a morte do “menino de sua mãe” poderá estar diretamente
relacionada à morte do pai e do irmão e à angústia de querer recuperar o passado e
voltar a ter a sua família unida.

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A ARTE

RETRATO (IRENE)
DATA: 1947
EQUILIBRIO E INDISCIPLINA, PINTURA
PORTUGUESA DOS ANOS 30-40

ANÁLISE
Esta obra de Júlio Resende, intitulada de Irene, pode remeter para a mulher
oprimida do Estado Novo, uma vez que esta é datada de 1947.
Num primeiro momento podemos observar os tons escuros que transmitem a ideia de
infelicidade e até mesmo de opressão, que acaba por ser reforçada pelas feições do
rosto.
Efetivamente, antes do 25 de abril a mulher era tratada como um ser inferior ao
homem. Os direitos eram extremamente limitados e sua função era obedecer sempre
e deixar-se violentar.
Na verdade, a mulher existia para ser a mãe extremosa e a esposa dedicada.
Desde cedo era ensinada para ser submissa ao poder do pai, do irmão e, mais tarde, do
marido. O único futuro que podia ambicionar era o de fazer um bom casamento que
garantisse o sustento da família, que se deveria manter unida, estável e forte; uma
metáfora do próprio regime. Oliveira Salazar não permitia que a ordem social fosse
questionada, todos os sinais de feminismo iam sendo silenciados.

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Na ideologia vigente, os direitos da mulher eram quase nenhuns. Não podia
votar. Não podia exercer funções político-administrativas. Para trabalhar no comércio,
sair do país, abrir conta bancária ou tomar contracetivos, a mulher era obrigada a
pedir autorização ao marido. Ganhava quase metade do salário pago aos homens.
Estas e outras leis foram rasgadas no 25 de Abril, quando, um ano depois da revolução,
os direitos das mulheres ficaram consagrados na Constituição da República.

CARTAZES – ANTES E DEPOIS DO 25 DE ABRIL

Estão aqui representados os dois cartazes selecionados, o primeiro – Deus,


Pátria, Família - relativo aos princípios inerentes ao governo do Estado Novo, e o
segundo – A Poesia está na Rua, após o 25 de Abril, que vinca o final de um período
repleto de repressão e censura.
Por um lado, o cartaz Deus, Pátria, Família mostra um cenário rural e a família
típica do período salazarista, uma família “remediada”, trabalhadora e religiosa, que
vai de encontro aos ideais de Salazar, apresentando uma casa bastante humilde, de
pessoas pobres, mas, supostamente, “felizes”. Deus está presente no altar familiar, a
Pátria é avistada através da janela, no castelo que exibe a bandeira nacional e na
própria farda da Mocidade Portuguesa vestida pelo filho. A autoridade surge na
imagem do chefe da família, que regressa a casa após um dia de trabalho e a esposa
surge como a mulher ideal, confinada ao lar.
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Por outro lado, o cartaz A Poesia está na Rua, com imagem de Maria Helena
Vieira da Silva e legenda de Sophia de Mello Breyner Andresen é, evidentemente,
inspirado no 25 de abril e permite-me interpretar, essencialmente, o fim da censura
através da representação dos cravos, símbolo da Revolução. Este cartaz pode ter
inúmeras interpretações, mas a verdade é que, a partir do 25 de abril, os poetas e
escritores ficaram livres para expressar o seu pensamento e as suas emoções perante um
regime fascista que submeteu todo o país à ignorância.
Em suma, estas representações com objetivos totalmente distintos fazem-nos perceber,
num primeiro momento, a manipulação, a submissão e a opressão presentes antes do 25 de
abril e, num segundo momento, a mudança de mentalidades que um acontecimento tão
marcante na nossa história desencadeou no povo português.

HISTÓRIA: VIDA VIVA/OS TESTEMUNHOS


ENTREVISTA: DIÁLOGO INTERGERACIONAL (Carlos Poças Falcão e Torcato Ribeiro)

1. Que memórias guarda do período Salazarista?


Participámos em algumas manifestações e tínhamos uma grande vontade de participar
em movimentos e lutas pela liberdade e pela democracia.
2. Que idade tinham quando ocorreu o 25 de Abril?
Ambos eramos adolescentes, com cerca de 16 anos e frequentávamos o ensino
secundário.
3. Alguma vez participou num ato de rebeldia?
Poças Falcão - Os opositores ouviam a rádio com cautela e, a determinada altura, o
próprio foi com alguns membros da família ouvir a rádio BBC que era proibida nesse
período, havendo sempre o perigo de serem denunciados. Noutro momento chegou-
lhe ao correio o jornal “Avante”, do partido comunista.
4. Qual a sua posição face a este período ditatorial?
Eramos contra o regime fascista.
5. Que tipo de restrições ocorriam neste período?
Destacava-se, essencialmente, as restrições no que toca ao emprego e aos estudos,
que podiam ser retirados à pessoa em questão, a prisão e, ainda, o degredo.

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6. Conheceu alguém preso pela PIDE?
Alguns membros da família.
7. Qual o episódio mais marcante?
Poças Falcão – redigi panfletos contra a Guerra Colonial e distribui-os pela
universidade, juntamente com outros colegas.
Outro episódio marcante foi a morte de Ribeiro dos Santos.
8. Algum membro da sua família sofreu algum tipo de repressão?
Poças Falcão – o meu pai foi preso em algumas situações.
9. Em Guimarães as pessoas tinham noção da ditadura que viviam e da sua
gravidade?
As pessoas tinham noção, sabiam que deviam ter cautela com o que diziam ou faziam,
mas continuavam a sua vida normalmente.
10. Viveram sempre em Guimarães durante esse período ou tiveram de se ausentar?
Eu (Poças Falcão) estava a estudar no Liceu de Guimarães e eu (Torcato Ribeiro) a
Escola Industrial de Guimarães.
11. Desse período ficou algum trauma?
Não ficou nenhum trauma. Apesar de todas as restrições, relembrámos momentos
felizes.
12. Após o 25 de abril as mudanças foram graduais ou impostas de forma repentina?
As mudanças foram repentinas.
13. Quais as diferenças ou semelhanças entre os 45 anos de ditadura e os 45 anos de
democracia?
As mudanças foram significativas, mas é necessário desenvolver diversos aspetos.

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REFLEXÃO

O 25 de Abril foi um ponto de viragem relativamente a ideais, mentalidades e


regime político. Contribuiu para uma sociedade livre, com direito a expressar-se e
pensar livremente. Um dia vincado pelo fim da ditadura e pela valorização dos direitos
do cidadão.
É inevitável relembrar aqueles que, num momento muito importante da nossa
História, se arriscaram em prol de ideais maiores, com um espírito de coragem e
humildade, desafiando um regime altamente repressivo que submeteu o povo
português à ignorância, censurando tudo aquilo que não convinha ao governo e pondo
em causa os direitos humanos.
Efetivamente, o 25 de abril contribuiu para a sociedade em que todos nós
vivemos, porém, este trabalho fez-me entender que os princípios inerentes à
Revolução têm sido progressivamente esquecidos. A verdade é que a ditadura existe,
não em termos de comparação ao regime salazarista, no entanto, ela está camuflada
em diversos elementos e meios de comunicação presentes no nosso quotidiano e,
neste sentido, os testemunhos fizeram-me consciencializar de que a liberdade é um
trajeto longo, não é um processo efetivo nem tão pouco repentino, por isso, é
essencial todos os dias fazermos valer os nossos direitos e respeitarmos os outros, não
os submetendo aos nossos interesses.
Em suma, é necessário valorizar e preservar nas nossas mentes o nosso passado
político, uma vez que foi ele próprio que nos tornou no que somos hoje e, como tal,
devemos abandonar a conformidade e lutar pela liberdade e pela igualdade dia após
dia, de modo a não cometermos os mesmos erros do passado.

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WEBGRAFIA
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http://www.citi.pt/cultura/politica/25_de_abril/estado_novo.html
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https://observador.pt/seccao/pais/guerra-colonial/
http://www.historiadeportugal.info/guerra-colonial-portuguesa/
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descolonizacao/
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https://www.rtp.pt/noticias/depois-de-abril/o-que-mudou-em-40-anost_n728411
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http://arquivopessoa.net/textos/2052
https://gulbenkian.pt/museu/works_cam/retrato-irene-154396/
https://expresso.pt/dossies/dossiest_actualidade/dos_passeios_porto/julio-resende-
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https://zarpante.wordpress.com/2013/11/07/poemas-anti-salazaristas-de-fernando-
pessoa/
https://expresso.pt/blogues/Opinio/HenriqueRaposo/ATempoeaDesmodo/o-salazar-
de-fernando-pessoa=f837000#gs.30a9hv
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http://omocho.azurara.net/mocho4/?p=8672
http://media.rtp.pt/cancoesdaguerra/artigos/o-menino-de-sua-mae/
http://pedroribeiroferreira.blogspot.com/2009/04/antonio-de-oliveira-salazar.html
https://modernismo.pt/index.php/fernando-pessoa

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