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OS VIVENTES
I ANEL DO VENTO, 21
II ARCA DA ALIANÇA, 29
III OFÍCIOS TERRESTRES E DIVINOS, 87
IV ENTRE O BEM E O MAL: BALDEAÇÕES, 157
V CAVERNA DE ARTISTAS E BUFÕES, 221
VI A NAU DOS INSENSATOS, 271
VII O CORO DOS VIVENTES, 413
VIII LIVRO DAS BESTAS E DOS INSETOS, 415
IX A CASA DOS NOMES, 467
X TERMINÁLIA, OU MINUDÊNCIAS, 523
1.
2.
Ou a renitência
de ver, se desvendo
nas águas do poema
ou no seu olhar latente.
21
3.
22
4.
Ou apenas tendes
aqueles nomes
que vos pressentem:
sinete ou risca.
Aqueles nomes
de manjedoura
ou julgamento.
Nomes avulsos
e indissolúveis
a quem procura
desnomeá-los.
São criaturas
os nomes, naves.
E se designam
ao navegarem.
5.
Nós, os viventes
e conviventes
de um mundo antigo.
A rima é cântaro
perto da fonte.
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Cântaro à noite
cântaro, cântaro
o ritmo um jorro
que se levanta.
6.
Como se o lanço
dalguma escada
fosse alcançado
antes dos pés
ou a digital
de um ser viesse
antes do mal.
Ou nome tendes
antes de mim.
7.
Povo submisso
junto ao meu peito,
contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem.
Povo submisso
junto ao meu peito,
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contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem
de sofrimento.
8.
Viventes, jazemos
desavindos.
Em força obstinada
mundo sempre domingo.
Tempos de um só,
sopesados e vivos.
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Apodrece a aurora.
9.
Não há pátria
a quem ama.
E ser da solidão
é se perder.
10.
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Ainda voltarei: os mortos sabem
soluções piedosas
e as murmuram de ouvido.
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II
ARCA DA ALIANÇA
EVA
1.
A culpa toda
me reveste
e eu nua.
Ouvi o que
a serpente
sussurrava
e caí.
Com Adão.
Nos desterrou
o anjo.
Era o conhecimento
de um pudor
ou soluço.
O que pode
a dor,
se nenhum traço
nos julga?
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Com medo,
escondo a face.
E opaco, nulo
o riso.
Tudo é desconhecido
fora do paraíso.
2.
Existíamos na graça
que não tinha nudez,
nem veste. Mas a lassa
alegria de fruir
na aragem da tarde,
Deus. E o que preparara
para nós: o rio
a regar um jardim
de frutas claras.
E árvores, árvores.
Entre elas, no centro,
a da vida. E outra,
que não podíamos
tocar. Uma palavra
a vergava com a morte,
a morte, a morte,
o apodrecimento.
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E com espada flamejante,
anjos o guardavam, enquanto
íamos os dois, desventurados
encher o vale humano.
A paz me amava.
E o paraíso era
gozar a fonte
e a larva da criação.
Eva e eu estávamos
vestidos na palavra.
E desobedeci.
O conhecimento do mal
eu quis. E sou um odre
de carne e dúvidas,
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um odre de pó, som,
úmidas fendas.
Um odre, um odre
que se esconde:
ora no côncavo da rocha,
ora no bosque, ora neste
vazio de quem, se achando
rico, é pobre, pobre.
Em Deus aguardo.
Pelos séculos, aguardo,
com meu odre quebrado.
ABEL
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E o céu, ovelha
surdo-muda.
E este coração,
velo de chamas
se apagando.
Parido
pelo sangue.
ENOQUE, O ARREBATADO
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Era semente
e seu fogo venturoso
me envolvia.
Mas vivi.
E me exauri
de tanta vida.
Mais de trezentos
e sessenta anos
de vertigem.
Muitas vezes
não sabia
o que fazer com o corpo.
E o mistério:
os outros convivas
serem almas
e eu ter um corpo,
aqui, comigo,
um corpo ditoso
e companheiro,
corpo de eternidade.
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Quantos, quantos
não sabem o que
é um homem?
Ia sumindo em Deus,
túnel de sol
inesgotável.
Ia sumindo, passo a
passo na névoa.
Eu andava com Deus
e Deus andava comigo.
Tínhamos o costume
de passear
juntos
no mesmo vale.
E espada me trespassa.
Sou eu mesmo
o teu dançante trono.
E, Amado,
não há tréguas
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neste sopro,
neste monte ardendo
sobre o peito.
E tanto andei
com Deus,
que, para si,
um dia me tomou.
Louco, louco
para os contemporâneos.
Ia edificando,
tábua a tábua,
a embarcação estranha,
portentosa.
Giravam anos
e as tábuas
rodavam
no arcabouço
estendido
como um sopro.
E os vizinhos sussurravam.
Eu era marinheiro
de alguma eternidade.
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