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Carlos Nejar

OS VIVENTES

3ª Edição – COM MAIS DE TREZENTOS


NOVOS POEMAS-VIVENTES
TÁBUA – OS VIVENTES

I ANEL DO VENTO, 21
II ARCA DA ALIANÇA, 29
III OFÍCIOS TERRESTRES E DIVINOS, 87
IV ENTRE O BEM E O MAL: BALDEAÇÕES, 157
V CAVERNA DE ARTISTAS E BUFÕES, 221
VI A NAU DOS INSENSATOS, 271
VII O CORO DOS VIVENTES, 413
VIII LIVRO DAS BESTAS E DOS INSETOS, 415
IX A CASA DOS NOMES, 467
X TERMINÁLIA, OU MINUDÊNCIAS, 523

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS, 543


ÍNDICE, 547
I
ANEL DO VENTO

1.

Aqui tudo é julgamento.


Todos os atos vividos
tamborilam neste eito
e sou de mim saltimbanco.
E do que vem. Os viventes
se apresentem. São tão reais
quanto sois. Não me desmentem.

2.

Sabei que esta forma humana


nem se compra nem vende.
Tampouco a força que jaz
sob a alma, renitente.

Ou a renitência
de ver, se desvendo
nas águas do poema
ou no seu olhar latente.

É vosso o que nele vedes.

21
3.

Viventes, o que sabeis


- que mundo o poema!-?
Em sua terra
nada se queima.

Viventes, o que sabeis


da morte e o resto
se nem sabemos de nós
no anel do vento?

Se nem sabemos de nós


ou donde o ingresso
na condição de estar só
com a alma ao menos

na alma de quem vos ama


dentro do poema.
Viventes, o que sabeis
da morte? O excesso

vinga com sua lei.


Tempo vivente
com estes que somos nós
e os que descendem.

Viventes, o que sabeis


deste poema?
Aqui está vivo quem
vivendo teima.

E cria a sua própria vez.

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4.

Vos ponho nomes


– nomes não tendes –,
sois meus parentes
intransponíveis.

Ou apenas tendes
aqueles nomes
que vos pressentem:
sinete ou risca.

Aqueles nomes
de manjedoura
ou julgamento.
Nomes avulsos

e indissolúveis
a quem procura
desnomeá-los.
São criaturas

os nomes, naves.
E se designam
ao navegarem.

5.

Nós, os viventes
e conviventes
de um mundo antigo.

A rima é cântaro
perto da fonte.

23
Cântaro à noite
cântaro, cântaro
o ritmo um jorro
que se levanta.

6.

Vos ponho nomes


ou nome pondes
em quem vos põe.

Como se o lanço
dalguma escada
fosse alcançado
antes dos pés
ou a digital
de um ser viesse
antes do mal.

Ou nome tendes
antes de mim.

7.

Povo submisso
junto ao meu peito,
contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem.
Povo submisso
junto ao meu peito,

24
contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem
de sofrimento.

O mais nos foge.

8.

Viventes, jazemos
desavindos.

Em força obstinada
mundo sempre domingo.

O galo não cantou.


Acordou um juízo.

A aurora sabe dosar


as coisas.

Que outros frequentam


a criação?

Tempos de um só,
sopesados e vivos.

Pode a moléstia mortal


ser entretida?

25
Apodrece a aurora.

Não nos conformamos


com o que não é luz.

Nossa pobre glória


sujeita ao vento,
à intempérie
da solidão.

9.

Não há pátria
a quem ama.

Porque não posso


separar o amor
do amante
que se faz a pátria dele.

E ser da solidão
é se perder.

10.

Ainda voltarei a estes campos,


a este chão, ao zumbido
das abelhas pelo tempo
querendo voejar e nelas preso.

Ainda voltarei aos meus viventes


para vê-los andar comigo
às faldas da montanha.

26
Ainda voltarei: os mortos sabem
soluções piedosas
e as murmuram de ouvido.

27
II
ARCA DA ALIANÇA

EVA

1.

A culpa toda
me reveste
e eu nua.

Ouvi o que
a serpente
sussurrava
e caí.
Com Adão.

Nos desterrou
o anjo.
Era o conhecimento
de um pudor
ou soluço.

O que pode
a dor,
se nenhum traço
nos julga?

29
Com medo,
escondo a face.
E opaco, nulo
o riso.
Tudo é desconhecido
fora do paraíso.

2.

Existíamos na graça
que não tinha nudez,
nem veste. Mas a lassa
alegria de fruir
na aragem da tarde,
Deus. E o que preparara
para nós: o rio
a regar um jardim
de frutas claras.
E árvores, árvores.
Entre elas, no centro,
a da vida. E outra,
que não podíamos
tocar. Uma palavra
a vergava com a morte,
a morte, a morte,
o apodrecimento.

E não escutei Deus,


mas a serpente. E Adão,
de quem gerada fui,
me ouviu, sem o grão
sequer de algum sentido,
sem a razão, o vínculo
do amor que nos reteve.
E expulsos fomos do Éden.

30
E com espada flamejante,
anjos o guardavam, enquanto
íamos os dois, desventurados
encher o vale humano.

Porém, uma mulher,


como eu, pela semente,
vem, e com a planta
do pé que floresceu,
esmagará a serpente.
E sob as folhas
da figueira tapamos
a nudez e continuamos
nus, continuaríamos,
se Deus não nos cobrisse
de outra pele viva,
do único capaz
de abrir o selo:
a pele do Cordeiro.

ADÃO DEPOIS DA QUEDA

A paz me amava.
E o paraíso era
gozar a fonte
e a larva da criação.
Eva e eu estávamos
vestidos na palavra.

E desobedeci.
O conhecimento do mal
eu quis. E sou um odre
de carne e dúvidas,

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um odre de pó, som,
úmidas fendas.
Um odre, um odre
que se esconde:
ora no côncavo da rocha,
ora no bosque, ora neste
vazio de quem, se achando
rico, é pobre, pobre.

E Deus me chamou e indagou:


“Por que te ocultas?”
Mas ele sabe, e sua pergunta
aumenta esta vergonha
de ser homem e desterrado,
esta peçonha que a serpente
inoculou e ainda ressonha,
letal, com o sofrimento
que me agarra, o suor,
o braço do agravo.

Em Deus aguardo.
Pelos séculos, aguardo,
com meu odre quebrado.

ABEL

Como ovelha muda


alcei o sacrifício:
um voo para Deus.
Um voo. Sem que eu
tivesse culpa, o ódio
sobre a nuca de Caim
era como um chapéu.

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E o céu, ovelha
surdo-muda.
E este coração,
velo de chamas
se apagando.

Não, os frutos da terra


não fazem o amanhecer.
Nem alcançam Deus.
E meu irmão foi-me
matando.
Primeiro em si.
Depois em mim,
ao me atingir.

Sua mão odiava.


Eu vi. Odiava-me
nos olhos. Sua mão
rugia e ovelha
eu era, sobre
a quieta pedra.

Parido
pelo sangue.

ENOQUE, O ARREBATADO

Se existe alguém feliz


na criação,
sou eu.
É Deus que nos escolhe,
nos chama pelo nome,
nos separa.

33
Era semente
e seu fogo venturoso
me envolvia.

Mas vivi.
E me exauri
de tanta vida.

Mais de trezentos
e sessenta anos
de vertigem.

Tenho um corpo imenso


e respira, se alimenta,
às vezes, como um jumento
arqueja, sofre, sente, goza.

E a morte não me viu,


por mim passara:
um frêmito, a brisa
sob a palma.

Muitas vezes
não sabia
o que fazer com o corpo.
E o mistério:
os outros convivas
serem almas
e eu ter um corpo,
aqui, comigo,
um corpo ditoso
e companheiro,
corpo de eternidade.

34
Quantos, quantos
não sabem o que
é um homem?

Ia sumindo em Deus,
túnel de sol
inesgotável.
Ia sumindo, passo a
passo na névoa.
Eu andava com Deus
e Deus andava comigo.

Tínhamos o costume
de passear
juntos
no mesmo vale.

Quem conhece um homem,


seus desertos?
O que me ardia e arde,
queima inexorável,
é o amor de Deus em mim.
Chorava e choro ainda
com seu gozo,
carregava no corpo
esta fornalha
de incandescente
sombra.

E espada me trespassa.
Sou eu mesmo
o teu dançante trono.
E, Amado,
não há tréguas

35
neste sopro,
neste monte ardendo
sobre o peito.

Quem conhece o homem,


seus regressos e medos,
o afortunado fogo
que sob a alma
dorme?

E tanto andei
com Deus,
que, para si,
um dia me tomou.

NOÉ, FILHO DE LAMEQUE

Louco, louco
para os contemporâneos.
Ia edificando,
tábua a tábua,
a embarcação estranha,
portentosa.
Giravam anos
e as tábuas
rodavam
no arcabouço
estendido
como um sopro.

E os vizinhos sussurravam.
Eu era marinheiro
de alguma eternidade.

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