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FORTALEZA,
JUNHO DE 2018
ESDRAS EMMANUEL LINS MAIA
Fortaleza,
Junho de 2018
ÍNDICE
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................3
5.1. Democracia.................................................................................................................48
5.2. Liberdade....................................................................................................................50
5.4. Europa.........................................................................................................................52
CONCLUSÃO.........................................................................................................................99
REFERÊNCIAS....................................................................................................................103
INTRODUÇÃO
Enfim, para levar a cabo todo este projeto, o seu autor, como metodologia de
pesquisa, valeu-se, prioritariamente, de recursos bibliográficos sem, contudo,
desprezar os recursos informacionais disponíveis na rede mundial de computadores
através de sites de periódicos especializados, blogs, redes sociais e plataformas de
vídeos como o youtube.
4
1. ORIGEM E SURGIMENTO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL
Por outro lado, Nougué (2016), de acordo com a historiografia moderna que
informa a respeito do helenismo, considera a civilização romana, de certa forma,
uma espécie de continuidade da civilização grega em função da influência que a
mentalidade racionalista desta exerceu sobre o estilo de vida daquela, mormente no
seu aspecto jurídico que organizou suas instituições de governo e as relações
humanas em sociedade.
Contudo, isto não se deu e tampouco seria possível sem antes ocorrer o
evento histórico mais significativo da história humana, a saber, a encarnação do
Logos Divino, isto é, da razão criadora do universo. Foi, portanto, o Espírito de
Cristo, plasmado em seus ensinamentos e registrados pela comunidade cristã, e
através de Sua ação mística ou sobrenatural quem inspirou e permitiu a síntese das
três civilizações e o surgimento do Ocidente. Foi este o Mito Fundador, entendido
não como lenda, mas como verdade histórica seminal de significado e relevância
profundos que floresceu, conforme se verá a seguir com o auxílio do filósofo Olavo
de Carvalho, em forma de cultura e, por conseguinte, de teorias científicas,
legislações variadas e valores éticos civilizacionais.
Sendo assim, conforme Nougué (2016), o século XIII foi o auge da civilização
com o pensamento de Tomás de Aquino, Alberto Magno e Boaventura entre outros e
a criação de universidades como Colonia, Oxford e Paris. Foi essa efervescência
intelectual que fez florescer a cultura ocidental por meio do intercâmbio de
conhecimentos através de toda Europa, trazendo à cena os filósofos pagãos gregos
(Platão, Aristóteles, etc), árabes (Averróis e Avicena) e judeus (Maimonides e
Avicebron).
6
Em termos econômicos, conforme ressalta Nougué (2016), é interessante
observar que, na Idade Média, o servo da gleba pagava ao seu senhor feudal 10%
do que produzia. Um valor irrisório se comparado com o que se paga hoje no Brasil
em impostos, a saber, 45%. Outrossim, de acordo com o filósofo, a escravidão, uma
instituição multimilenar, foi, paulatinamente, sendo desfeita pela cristandade
medieval até o século XVI. Enfim, foi também na Idade Média que a cristandade
criou os hospitais, orfanatos e asilos os quais ofereciam cuidados aos doentes e aos
pobres, um traço ou característica central da atuação dos cristãos.
7
cultura vigente direciona a vontade e a razão para as “partes baixas”, para os
instintos mais rudimentares.
Enfim, como se pode depreender do que foi dito acima, cultura e civilização
são dois conceitos e fenômenos da realidade interdependentes ou coexistentes,
visto não ser possível a sobrevivência desta sem aquela. Portanto, conforme
Nougué (2016), o que há hoje, a rigor, não seria uma civilização, mas sociedades
divididas que se pretendem ou se julgam civilizações.
1
O Islã compreende a absoluta liberdade de Allah como a ausência de compromisso deste para com
quaisquer categorias, princípios, leis ou regras naturais e morais, podendo, portanto, descontinuá-los
a qualquer momento conforme seu arbítrio. Em outras palavras, nada seria absoluto ou constante
além de Allah.
8
ser compreendido e estudado. Foi então que, a partir deste entendimento, passou-
se a coletar o maior número de dados possíveis, a examiná-los e a correlaciona-los
a fim de encontrar leis ou relações de causalidade entre eles que explicasse sua
realidade e funcionamento. Como se pode depreender do foi dito, conforme Woods
(2008), o método científico não pode ser seguido a menos que se pressuponha ou
acredite que o universo é ordenado e estável.
Enfim, fazendo uma síntese dos dois primeiros episódios de uma série que o
mesmo historiador apresenta, ele assevera:
10
os direitos humanos e inúmeros princípios jurídicos se deveram ao chamado Direito
Canônico da Igreja. Conforme o historiador, o direito internacional, por exemplo, teve
origem, mais exatamente, nas universidades espanholas do século XVI com as
considerações feitas pelo teólogo, sacerdote e professor universitário Francisco de
Vitória (1483-1546), em conjunto com outros filósofos e teólogos, “acerca dos
direitos humanos fundamentais e de como deveriam ser as relações entre as
nações”. E isto, “Em face dos maus-tratos infligidos pelos espanhóis aos indígenas
do Novo Mundo.” (WOODS, 2008, p.9)
11
WOOD, 2008, p.12) teriam ocorrido em razão das invasões bárbaras2 e não por
influência do cristianismo. Ele assevera:
2
Em alemão são conhecidas com o nome de Völkerwanderung, isto é, a “migração dos povos” a qual
teve início ainda no século II quando as tribos germânicas começaram seu deslocamento da Europa
central para o Ocidente.
3
De fato, a Igreja Católica, por iniciativa própria, recorreu a tais autoridades para o estabelecimento
de uma aliança que permitisse a restauração da civilização cristã. Assim, no séc. VIII, ela se
aproximou dos francos merovíngios e carolíngios que dominavam a região da Gália, atual França, e
outras regiões circunvizinhas. Mais adiante, como se verá neste trabalho, Alexis de Tocqueville
(1805-1859), o jurista francês, condenará este tipo de alianças.
12
literárias que ficaram conhecidas pela expressão Minúscula Carolíngia, mas que, na
verdade, além da criação das letras minúsculas, incluía também a criação da
pontuação e do espaçamento entre as palavras.
É útil observar ainda que estes feitos somente foram possíveis em razão da
paciência e determinação dos monges, os quais, após mortandades e saques
reiterados, insistiram na reconstrução dos mosteiros e na perpetuação da tradição
espiritual e cultural ocidental que conservavam plenamente em, praticamente, cada
um dos mosteiros, fazendo destes uma espécie de células com todo o conteúdo
genético necessário para a restauração de todo o organismo. Conforme Woods
4
Alcuíno de Iorque (em latim: Alcuinus) foi um monge da Nortúmbria atual (Grã-Bretanha) em 735 e
estudou na escola da Catedral de Iorque. Lecionou posteriormente nessa mesma instituição durante
quinze anos e ali criou uma das melhores bibliotecas da Europa, tendo transformado a Escola em um
dos maiores centros do saber. (Vide https://pt.wikipedia.org/wiki/Alcuíno_de_Iorque)
13
(2008, p.22): “Esse poder de recuperação dos mosteiros manifestou-se na rapidez e
intensidade com que trabalharam para reparar a devastação das invasões e o
colapso político”. Não havendo sido, como se pode imaginar, uma tarefa simples
preservar as heranças clássica e carolíngia. Portanto, para crédito dos monges
cristãos, é justo reconhecer que foram eles “que preservaram da extinção a luz do
conhecimento”. (WOODS, 2008, p.23)
5
Foi papa de 2 de Abril de 999 até sua morte. Antes, havia sido monge beneditino. (Vide
https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Silvestre_II)
14
No que se refere à agricultura, conforme Woods (2008), os monges, em
suma, salvaram esta atividade na Europa. Eles procederam à recuperação agrícola
da região oeste daquele continente. Por exemplo, transformaram a Alemanha num
país fértil e fizeram dos mosteiros escolas agrícolas. Além disso, puseram mãos a
obra tornando-se, eles mesmos, agricultores. A esse respeito, Henry H. Goodell
(apud WOODS, 2008, p.31), presidente do Massachusetts Agricultural College,
corrobora que:
15
transformados em terras férteis, cultivadas e habitadas. No dizer de William
Malmesbury (GOODELL, p.8 apud WOODS, 2008, p.31), referindo-se
especificamente aos pântanos de Southampton na Inglaterra, lugares como estes
tornaram-se “...uma réplica do paraíso, onde parecem refletir-se a delicadeza e a
pureza do céu.” (...) “[onde] nenhum palmo de terra está por cultivar” e no qual a
“Natureza e a arte rivalizam, uma suprindo tudo o que a outra esqueceu de
produzir.”
6
Ordem de Cister, ou Ordem Cisterciense é uma ordem religiosa monástica católica beneditina
reformada. (Vide https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_de_Cister)
16
Na região francesa de Champagne, por exemplo, os monges cirtercienses
tornaram-se os maiores produtores de ferro entre os sécs. XIII e XVII. Por outro lado,
sua consciência evangélica (Vide Jo.6:12) e ecológica de obter o máximo
aproveitamento do que Deus lhes dispunha através da natureza, os fazia
reaproveitar a escória das fornalhas como fertilizante em razão da riqueza em
fosfato que apresentava. A propósito, quanto às fornalhas ou fornos que os monges
cistercienses utilizavam para a metalurgia na Inglaterra, em razão do estudo que
procedeu das ruínas, particularmente das análises química das escórias, McDonnell
(2002 apud WOODS, 2008, p.37) asseverou ainda que, em razão da baixa
concentração de ferro descoberta, numa quantidade semelhante à encontrada
atualmente no subproduto de modernos altos-fornos, que os cistercienses eram
também capazes de fabricar altos-fornos que não produzissem senão ferro fundido
de alta pureza. Outrossim, afirmou que estavam em condições de produzi-lo em
larga escala, mas que ao suprimir os mosteiros da Inglaterra, Henrique VIII teria
anulado este potencial. Em outras palavras, não fosse isto, os monges teriam feito a
civilização europeia adentrar, ainda no séc. XVI, portanto, com dois séculos de
antecedência, aos umbrais da era industrial (séc. XVIII) com sua explosão de
riqueza, populacional e expectativa de vida.
18
fins domésticos e industriais que foi possível preservar a cultura antiga e fazer
florescer uma nova civilização diante da invasão bárbara. Infelizmente, conforme
Woods (2008, p.44), os gregos micênicos não tiveram a mesma sorte em face da
invasão dos dórios que resultou em três séculos de completo analfabetismo, período
este sim reconhecido, com justiça, como a Era Negra ou a Idade das Trevas da
Grécia.
19
2. OS MITOS EM GERAL E O MITO FUNDADOR DO OCIDENTE
Mitos, então, são narrativas de idéias mais antigas. Ao passo que novos
mitos podem ser criados, os mais antigos influenciam mais a
comunidade.
[...]
21
sempre traga luz a real natureza revelada do Mito Fundador ocidental por
excelência, a saber, o mito cristão.
22
Com esta introdução, tem-se já uma boa noção do que vem a ser os mitos e
sua importância, contudo, num momento posterior da entrevista, ele oferece uma
definição mais sistêmica ou precisa do mito, afirmando que:
Outrossim, ainda quanto ao conteúdo dos mitos, Campbell (1990) informa que
suas histórias, temas ou motivos básicos, encontrados tanto no hemisfério oriental
quanto ocidental do globo terrestre, são sempre os mesmos, estando, entretanto,
sujeitos a variações de menor importância conforme a inflexão ou enfoque da
23
cultural local. Desse modo, mencionando um novo mito que, segundo ele, há de vir,
especifica alguns destes motivos. Ele declara:
E ele lidará exatamente com aquilo com que todos os mitos têm lidado
– o amadurecimento do indivíduo, da dependência à idade adulta,
depois à maturidade e depois à morte; e então com a questão de como
se relacionar com esta sociedade e como relacionar esta sociedade
com o mundo da natureza e com o cosmos. É disso que os mitos têm
falado, desde sempre, e é disso que o novo mito terá de falar. Mas ele
falará da sociedade planetária. (FLOWERS, 1990, p.46)
7
Para Campbell (1990), ethos consiste num conjunto de regras tácitas ou subentendidas e não
escritas, ou ainda em costumes e compreensões gerais ou homogeneizados da forma como as
coisas devem ou não ser realizadas os quais orientam o comportamento das pessoas no trato com
outras pessoas, incluindo as regras de etiqueta.
24
acúmulo de informações em detrimento de uma escala generalista e mais
genuinamente humana de estudos. Pois, esta abrangência mais ampla, conforme
Campbell (1990), além dos aspectos técnicos, também contempla a dimensão
relativa à sabedoria de vida oferecida pela pesquisa mitológica. Ou seja, os mitos
também conteriam mensagens válidas para o mundo contemporâneo dominado pela
tecnologia.
Como se pode observar, como educadores, os mitos são úteis tanto para a
formação pessoal do indivíduo quando da sociedade como um todo, além de
25
contribuir significativamente para a manutenção da paz ou harmonia intrapsíquica e
social. Ou, pelo menos, para controlar a violência e mantê-la em níveis toleráveis. E
isto porque, em suma, os mitos imputam ao indivíduo, desde a mais tenra infância,
uma consciência espiritual e, portanto, elevada a outro nível ou patamar da
realidade, situando-o e ensinando a reagir corretamente diante das diversas
situações da vida, desde as mais difíceis às mais agradáveis.
Enfim, o mitologista faz uma síntese das principais categorias funcionais dos
mitos. Ele informa serem estas, basicamente, três, a saber, a função mística, a
função cosmológica e a função sociológica. A primeira delas consiste na
característica constitutiva essencial de todo mito, sem a qual, uma mitologia jamais
existiria. Esta função visa abrir o mundo ou a consciência humana para a dimensão
do mistério que subjaz ou compõe todas as formas existentes da realidade. Em
outras palavras, a primeira destas funções, objetiva manifestar o mistério que há em
todas as coisas e seres que constituem a realidade. Como efeito ou consequência
desta função, o indivíduo torna-se capaz de manter-se em contato ou consciente do
mistério transcendente mesmo através das circunstâncias cotidianas da vida.
Outrossim, para este indivíduo, o universo tornar-se-á como uma pintura sagrada.
A função cosmológica, geralmente explorada pela ciência, por sua vez, visa
demonstrar o funcionamento do universo sem, contudo, poder explicar o que, de
fato, ele é ou, em última análise, do que é formado. E, finalmente, a função
26
sociológica que fundamenta e valida a ordem social dos agrupamentos humanos.
Referindo-se ele, indiretamente, ao cristianismo, teria sido esta, a função ou
dimensão sociológica do mito, que assumira a direção do mundo ocidental e que
estaria desatualizada.
A propósito, a este respeito, pode-se asseverar com razão que, de fato, o mito
cristão e a religião respectiva devem ser renovados no sentido de penetrar,
esclarecer e preservar sua pureza original ou essencial, seus artigos de fé, isto é,
seus princípios cruciais, enquanto se modifica os elementos periféricos ou
prescindíveis de acordo com o perfil de cada época histórica e conforme propuseram
o movimento puritano moderno e o historiador Alexis de Tocqueville (1805 -1859)
como se verá mais adiante nos capítulos 4 e 6. A rigor, pensadores cristãos mais
recentes, como o acadêmico de Oxford, C. S. Lewis (1898-1963), entre outros, já se
ocupam deste assunto, na verdade, desde a Reforma Protestante (1517). E,
certamente, tem sido o trabalho destes homens que, auxiliados pela graça Divina,
permitiu que o cristianismo chegasse até os dias presentes.
8
Herman Northrop Frye (1912-1991) foi um crítico literário canadense, um dos mais célebres do
século XX. Sua principal reputação reside, principalmente, na área da teoria da crítica literária (...) [na
qual realizou] um dos mais importantes trabalhos de teoria literária publicados no século 20. O crítico
americano, Harold Bloom, comentou na época da publicação de Anatomia da Crítica (1957), que este
livro estabeleceu Frye como o melhor acadêmico da literatura ocidental de seu tempo. (Vide
https://pt.wikipedia.org/wiki/Northrop_Frye)
28
civilização, visto funcionar como a semente da cultura do mundo ocidental que
brotou e floresceu na forma de teorias científicas, legislações variadas e valores
éticos civilizacionais. Em outras palavras, os padrões de autocompreensão legados
pelas Escrituras e manifestos na literatura superior ocidental através de esquemas
narrativos contém todo o repertório conceitual e comportamental fundamental desta
mesma civilização.
9
O Mito civilizatório foi substituído por mitos tribais indígenas e africanos e, finalmente, pela ideologia
socialista, isto é, por verdades parciais e, por fim, pela mentira completa.
29
civilização, a saber, a história registrada ou escrita de Jesus Cristo. Foi este "Mito"
histórico, incomparavelmente importante e riquíssimo em significados simbólicos,
que, através dos monges10 medievais, tornou possível o surgimento da única
civilização existente no planeta no sentido estrito do termo. E isto por meio da
especificação ou diferenciação teológica do mesmo nas diversas áreas do
conhecimento humano: filosófica, científica, jurídica, artística, etc.
10
É justo e devido o reconhecimento do trabalho dos monges para a construção da civilização, pois
eles absorveram, selecionaram e regularam o que havia de melhor na cultura clássica greco-romano
e, com seu trabalho incansável e heróico de evangelismo, educaram os povos bárbaros. Tudo isto,
evidentemente, não seria possível sem o imprescindível auxílio Divino.
30
CAMPBELL, 2001, p.9) Esta ideia traria em seu bojo o entendimento de que o
mundo físico, incluindo o ser humano, consistiria num artefato, isto é, algo feito,
construído ou formado de cerâmica, argila ou barro. E, por conseguinte, implicaria
ainda outras compreensões tais como a de que o mundo e o próprio ser humano
não são, obviamente, criações de si mesmos, demandando, portanto, a necessidade
de uma inteligência e força externa e superior à matéria para sua formação ou
configuração em formas inteligíveis. Por sua vez, disto também decorreria a relação
dicotômica entre matéria e forma, ou matéria e mente encontrada em Aristóteles
(384-322 a.C.) e Tomás de Aquino (1225-1274 d.C.). Conforme o teólogo, está
noção que distingue matéria e energia espiritual ou matéria bruta não-inteligente e
espírito ativo inteligente, tornou-se uma questão básica ou fundamento que orienta,
até hoje, o pensamento ocidental.
31
Deus através de Sua Palavra a qual, portanto, consistiria a lei que rege o
funcionamento de todos os processos do universo. Desse modo, ele assera que:
Enfim, Watts (2001) informa ainda que outro modelo ou imagem veio a
reboque do “mito” judaico-cristão da criação especial, a saber, o modelo mecânico
ou automático. Sendo o mundo um constructo ou artefato regido pela Lei Divina, ele,
naturalmente, passou a ser compreendido como um mecanismo automático. O qual,
entretanto e posteriormente, o pensamento moderno viria a desvincular do seu
Criador e Artífice para torná-lo um processo exclusivamente mecânico, frio e
irracional. Desse modo, de acordo com o filósofo, este foi o modelo utilizado, por
exemplo, por Sir Isaac Newton (1643-1727), Sigmund Freud (1856-1939) que se
referiu ao inconsciente em termos psicohidráulicos e Ernest Haeckel (1834-1919)
que qualificou a energia dinâmica do mundo como energia cega.
32
3. A IMPORTÂNCIA OU A FUNÇÃO DA COSMOVISÃO JUDAICO-CRISTÃ
PARA O SURGIMENTO E SOBREVIVÊNCIA DA CIVILIZAÇÃO
OCIDENTAL
33
Se é da religião que procede a semente espiritual e/ou cultural de qualquer
civilização, qual seria então esta semente? Quais ideias ela comportaria em si
mesma para permitir tamanho efeito? De acordo com Mello (2018) estas ideias,
basicamente, estão relacionadas, no caso específico do cristianismo, com valores
humanos universais, abrangentes e inclusivos. Mais precisamente, têm a ver com a
natureza do ser humano, sua essência ou com a existência em si e as qualidades
inatas de uma interioridade presente em cada indivíduo da espécie humana.
35
4. PRINCÍPIOS CRISTÃOS OU O EXEMPLO HISTÓRICO DO
MOVIMENTO PURITANO ANGLO-SAXÔNICO
Foi este arranjo da cultura judaico-cristã com a cultura clássica que permitiu o
florescimento da civilização ocidental, atribuindo a ela sua identidade ou caráter
peculiar que a diferencia do mundo oriental constituído, dessa forma, pela religião
cristã, a democracia grega e o estado de direito romano. Havendo sido, estes dois
últimos, graduados, moderados ou aperfeiçoados pelos princípios da religião cristã.
37
da qual relacionar sua fé cristã a todas as áreas da vida – ao trabalho, à
família, ao casamento, à educação, à política, à economia e à sociedade.
Destes, quatro princípios podem ser ressaltados para o alcance dos objetivos
deste trabalho. Primeiramente, a vida teocêntrica ou cristocêntrica dos puritanos
resultava do seu senso de prioridades apurado o qual reconhecia os temas de
natureza religiosa ou espirituais como sendo os mais importantes para a vida
individual e coletiva do aqui e agora. Conforme Ryken (2013, p.338): “Para os
puritanos, a realidade espiritual era o grande sine qua non da vida, o fator
sumamente importante”. Em outras palavras, a vida cristocêntrica implicava, de fato,
colocar Deus em primeiro lugar, ou acima de tudo; significava, portanto, valorizar
tudo mais que existe em relação ou em função dEle, i. é, reconhecer que o que há
de mais desejável, belo e amável em tudo quanto existe no cosmos reflete a imagem
de Deus; significava ainda estar ciente de que somente Deus pode satisfazer em um
nível mais profundo e permanentemente o ser humano; significava alegrar-se,
deleitar-se na pessoa do próprio Jesus Cristo e na esperança do céu e ser
confortado com a certeza da salvação.
Tudo isto, contudo, somente seria possível por meio da busca diligente do
conhecimento de Deus e da santidade espiritual e moral como primado da vida.
Outrossim, por meio da comunhão com Ele, através da oração, para a compreensão
de que o ser humano não necessita nem deve identificar ou mensurar o bem ou o
39
mal, a felicidade ou a infelicidade a partir dos eventos externos mas no grau de
conhecimento experiencial da providencia de Cristo para todos os aspectos da vida
humana desde os espirituais (mediação expiatória justificante e seus corolários) aos
materiais. A esse respeito, Ryken (2013) declara:
[...]
11
William Tyndale foi um pastor protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de
Oxford. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. (Vide
https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Tyndale)
40
Conforme Ryken (2013, p.341), os puritanos viviam, simultaneamente, em
dois mundos, o físico e o espiritual os quais eram igualmente reais, não havendo,
portanto, separação entre eles, isto é, entre o sagrado e o secular. Considerados,
igualmente, criações Divina, ambos eram sagrados.
41
devia ser enclausurada em monastérios medievais ou modernos ou à vida particular
de cada indivíduo como se observa atualmente. Mas, experimentada e aplicada,
necessariamente, à vida comum de cada cidadão, de cada seguidor de Cristo em
todas as esferas da sua vida como obediência e submissão devidas ao Criador e
Senhor.
Finalmente, a fim de sublinhar o que foi dito até aqui, é útil transcrever
algumas citações fulgurantes de figuras influentes do mundo cristão e secular,
simultaneamente, a esse respeito. Sendo assim, o político e jornalista holandês
Abraham Kuyper (1837-1920)12 asseverou categoricamente: “Não há um único
centímetro quadrado, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais
Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: - É meu!". Por sua vez, Dietrich
Bonhoeffer (1906-1945)13, teólogo e pastor luterano alemão, referindo-se ao seu
conterrâneo Martinho Lutero (1483-1546), declarou:
12
Kuyper foi um estadista e teólogo holandês fundador do Partido Anti-Revolucionário e Primeiro-
Ministro dos Países Baixos entre os anos de 1901 e 1905.
13
Bonhoeffer também foi membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja
Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista.
42
conflito seria ineludível conforme já previa o antigo oráculo neotestamentário que
assevera com toda a clareza que “Eu vim para trazer fogo sobre a terra e como
gostaria que já estivesse em chamas!”. E ainda: “Não cuideis que vim trazer a paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada...” (BÍBLIA, Lucas, 12, 49 e Mateus, 10, 34).
Pelo que foi dito acima, não há dúvida de que era um desejo intenso dos
puritanos que as coisas da vida secular e espiritual fossem práticas. A própria fé
cristã era algo, ao menos em grande parte, experiencial. Neste sentido, de acordo
43
com Ryken (2013, p.35), “Os santos têm um conhecimento experimental da obra da
graça, em virtude do qual chegam a conhecê-la tão certamente... como pelo sentir
calor, sabemos que o fogo é quente; pelo provar o mel, sabemos que ele é doce”
(apud Strier, p.14).
46
se guiavam os movimentos reais da mente investigadora, por si sempre
incertos e vacilantes. (SHOPENHAUER, 1997, p.63, grifo nosso)
5.1. Democracia
48
Como se pode observar, Hegel ingenuamente acreditava no alcance da
perfeição das instituições humanas. Esta crença, além de supervalorizar o Estado,
demonstrava, em contrapartida, um desprezo profundo pelos valores morais
individuais e comunitários. Outrossim, demandava uma capacidade que,
naturalmente, está ausente das instituições humanas: a perfeição absoluta
resultante de uma nova escatologia inventada pela dialética histórica. Enfim,
conforme Ratzinger, a superstição materialista do paraíso na terra ou a expectativa
do advento de um mundo ou sociedade ideais, expressa pelo pensamento
hegeligano, consistiria na mais séria ameaça contra uma democracia pluralista.
5.2. Liberdade
50
5.3. Política e Teologia
51
Ou, dito de outra forma, Ratzinger não reconhece a função ou a capacidade
instrutiva e formativa do ser humano neste tipo de teologia a qual compreende o
novo homem, que deseja fabricar, como sendo totalmente terrestrializado e produto
em série de um projeto político de liberdade coletiva e processual, ou seja,
resultante da práxis histórica marxista.
5.4. Europa
Enfim, como é possível depreender do que foi dito acima, o laicismo destrói a
possibilidade mesma da existência da própria política como fenômeno naturalmente
53
alicerçado na ética e na capacidade de diálogo. Neste caso, o diálogo com a religião
ou, mais especificamente, com a moral ou a ética religiosa cristã. Por força desta
incapacidade, o laicismo estabelece uma ditadura, visto que ao alijar do diálogo um
dos seus principais interlocutores, retira da própria natureza da política sua
dimensão agônica (de luta) constitutiva. Dimensão esta que, por sua vez, demanda
a liberdade política para o exercício desse mesmo antagonismo democrático o qual,
neste caso, seria exercido pelo cristianismo.
Marx assumiu o papel que, no século XIII, foi dado a Aristóteles. O pior é
que Marx não era Aristóteles, acrescenta Ratzinger com ironia. E assumir o
marxismo ou o neomarxismo não é assumir uma filosofia, mas, sobretudo
uma práxis. Uma práxis que “cria” a verdade, não a pressupõe. E quem
converte a Marx no filósofo da teologia admite então a primazia do
político e do econômico sobre Deus o qual não é prático nem real no
sentido histórico-material. (tradução nossa)
56
6. A VISÃO DE TOCQUEVILLE DOS ESTADOS UNIDOS OU O EXEMPLO
CONCRETO DA INFLUÊNCIA SALUTAR DA RELIGIÃO CRISTÃ SOBRE
AS PRÁTICAS SOCIAIS E POLÍTICAS DE UMA SOCIEDADE
Assim sendo, Tocqueville (1935) observa que a religião cristã, em face de seu
conteúdo próprio, se coaduna naturalmente com o regime político republicano e
democrático. E assevera que se o espírito humano, mormente se trabalhado pelo
cristianismo, for deixado livre, ele se empenhará para harmonizar ou ajustar
uniformemente a sociedade política e a “Cidade Divina”, ou seja, a terra e o Céu.
De acordo com Tocqueville (1835), nos Estados Unidos, pelo menos até o
século XIX, a religião cristã consistia na principal instituição política daquele país.
58
Em suma, com a multidão de “seitas” ou denominações cristãs distintas e
espalhadas através de todo o seu território, adotando a mesma moralidade, o
cristianismo, ao mesmo tempo que estimulava a liberdade, moderava ou equilibrava
o uso que os americanos faziam dela afim de que fosse utilizada de maneira correta
e conscientemente, evitando erros e exageros. Assim sendo, a fim de conservar o
seu poder universal sobre os indivíduos, poder este que se sustenta sobre a
natureza transcendente e inata do ser humano, o cristianismo americano separou-
se, voluntariamente, do Estado. Isto é, afastou-se formalmente do poder político
para dedicar-se a influência e formação dos costumes. Sendo estes costumes
compreendidos conforme a definição dos filósofos clássicos greco-romanos, isto é,
como noções, opiniões e ideias que configuram os hábitos do coração ou do espírito
humano.
59
experimentação humana. Evidentemente, tal experimento deve manter-se dentro de
certos padrões definidos previamente e estabelecidos com clareza pela moralidade
cristã. Moralidade reguladora esta que equilibra não somente a política como
também a audácia do espírito americano em geral caracterizado por suas inovações,
concepções, imaginação, lógica e, sobretudo, seus impulsos revolucionários.
Como se pode ver com clareza, não é debalde que havia um consenso da
“nação inteira (...) em todos os níveis...” (TOCQUEVILLE, 1835) quanto ao papel
necessário da religião cristã para a manutenção das instituições republicanas.
Destarte, a religião, entre os americanos, gozava de grande prestígio, enquanto o
ateísmo era visto com descrédito. Outrossim, conforme o jurista francês, foi ainda
por seu amor à pátria que os americanos resolveram abraçar o cristianismo, visto
que, a despeito da mentalidade moderna laicizante e preconceituosa, esta religião,
no seu conteúdo essencial, representava o que havia de melhor, a saber: a
liberdade e a preocupação ou interesse equilibrado pelos bens terrenos, pelas
questões políticas e pela cultura. Em suma, a religião cristã representava para eles a
preservação dos valores civilizacionais em detrimento da anarquia e do despotismo.
Tratando, agora, das causas que tornaram a religião cristã tão poderosa na
América, Tocqueville começa por refutar o pensamento de certos filósofos europeus
do século XVIII que afirmavam uma ligação necessária entre a religião, a ignorância
e a ausência de liberdade. A partir do seu testemunho ocular, ele registra e informa
aos espíritos supostamente esclarecidos do Velho Mundo que nos Estados Unidos,
diferentemente da Europa, encontrava a religião, o esclarecimento e a liberdade
perfeitamente unidos. Estas são suas palavras traduzidas a esse respeito:
O fervor religioso, diziam eles [os filósofos], deve se apagar à medida que a
liberdade e as luzes aumentam. Pena que os fatos não coincidam com
essa teoria.
[...]
61
Como se pode deduzir do que foi dito por Tocqueville, a aplicação e
experiência de um cristianismo mais puro, ou livre de assessórios desnecessários e
mesmo onerosos, é uma das causas, senão a principal causa que explica o poder
desta religião na América. Pois, em seu estado natural, ao contrário do que possam
imaginar os céticos, o cristianismo fomenta o esclarecimento e, por conseguinte, a
liberdade dos indivíduos. Destarte, conhecendo, com toda a propriedade, o conteúdo
e as consequências do seu próprio ensinamento, foi também a respeito desta
realidade social observada na América que vaticinou o próprio Cristo quando
declarou: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus
discípulos, conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:31,32)
(BÍBLIA, João, 8, 31 e 32)
62
mencionado acima, ele estava plenamente convencido de que quanto mais o
cristianismo se ativesse a este fundamento, mais universal ele seria, visto que
estaria ligado ao coração ou essência imutável do gênero humano. São estas
algumas das suas palavras a este respeito:
63
momento, o fato de os americanos haverem entregado o mundo político aos
experimentos inovadores. Destarte, em face desse mecanismo fatalista, o jurista
corrobora entusiasticamente sua aprovação em relação à atitude dos sacerdotes
norte-americanos, asseverando o que se segue abaixo:
64
outro, se se dispuser a contar os ignorantes, o povo americano lhe parecerá o mais
esclarecido da terra. Por conseguinte, coerentemente, ele declara a respeito do
cidadão norte-americano comum:
Tudo é primitivo e selvagem em tomo dele, mas ele é, por assim dizer, o
resultado de dezoito séculos de trabalho e de experiência. Ele traja roupa
citadina, fala o linguajar da cidade; sabe o passado, é curioso do
futuro, argumenta sobre o presente; é um homem civilizadíssimo, que,
por algum tempo, se submete a viver no meio dos bosques e que se
mete pelos desertos do novo mundo adentro com a Bíblia, um
machado e jornais.
É difícil imaginar com que incrível rapidez o pensamento circula no seio
desses desertos.
Não acredito que se produza um movimento intelectual tão grande
assim nos cantões mais esclarecidos e mais populosos da França.
É indubitável que, nos Estados Unidos, a instrução do povo serve
poderosamente para a manutenção da república democrática. Assim
será, penso eu, onde quer que não se separe a instrução que esclarece
o espírito da educação que regra os costumes. (TOCQUEVILLE, p.357,
grifo nosso)
65
opiniões, ideias ou princípios mais importantes os quais as pessoas recebem ou
aceitam em confiança e sem discussão. Sendo, portanto, comuns, i. é,
compartilhados por todos desde, por exemplo, um círculo profissional específico até
uma determinada área civilizacional como um todo, passando por instituições e
organizações de todo tipo e orientando o funcionamento de uma sociedade.
Esta aceitação se dá, por exemplo, em razão do escasso tempo de vida do
ser humano e devido a sua incapacidade ou limitação quanto à obtenção do
conhecimento pleno, cabal e absoluto da realidade que o orientaria com segurança
em todas as suas ações. Por outro lado, observa-se ainda com maior clareza a
necessidade de verdades estabelecidas porque são estas que permitem o consenso
relativo, mas suficientemente seguro ou robusto, entre os homens para que se
reúnam, estabeleçam objetivos comuns e ações compartilhadas. É, portanto, esta
reunião e cooperação dos homens, possibilitadas pela aceitação geral e
compartilhamento de dogmas, que faz surgir e mantém a subsistência de uma
sociedade e, por conseguinte, sua prosperidade. A esse respeito, ele assevera:
Ora, é fácil ver que não há sociedade que possa prosperar sem crenças
semelhantes, ou antes, não há sociedades que subsistam sem elas; porque,
sem idéias comuns, não há ação comum, e sem ação comum existem
homens, mas não um corpo social. Para que haja sociedade e, com
maior razão, para que essa sociedade prospere, é necessário pois que
todos os espíritos dos cidadãos estejam sempre reunidos e mantidos
juntos por algumas idéias principais; e isso não poderia se dar se cada
um deles não viesse de vez em quando extrair suas opiniões de uma
mesma fonte e consentisse fazer seu certo número de crenças já
prontas.
[...]
Não há no mundo um filósofo que não creia um milhão de coisas com
fé em outrem e que não suponha muito mais verdades do que ele
próprio estabelece.
Isso não só é necessário como desejável. Um homem que
empreendesse examinar tudo por si mesmo só poderia conceder pouco
tempo e atenção a cada coisa; esse trabalho manteria seu espírito numa
agitação perpétua, que o impediria de penetrar profundamente uma verdade
e fixar-se com solidez numa certeza. Sua inteligência seria a uma vez
independente e frágil. É necessário, portanto, que entre os diversos
objetos das opiniões humanas ele faça uma opção e adote muitas crenças
sem discuti-las, a fim de aprofundar melhor um pequeno número delas, cujo
exame reservou para si. (TOCQUEVILLE, Vol.2, p.9,10)
66
moral a qual, para que também haja aprofundamento no exame destas mesmas
opiniões, deverá estar significativamente concentrada e fixa.
Tocqueville (1840) também faz observar que numa sociedade democrática,
onde há condições de igualdade mais desenvolvidas, este lugar de autoridade é
ocupado pela massa ou o conjunto da população, ou seja, pela própria humanidade
e, por conseguinte, pela razão humana. Em outras palavras, as fontes da verdade
estariam na própria humanidade e não fora dela. Isto se dá porque, em tais
condições de igualdade, os homens já não confiam facilmente na autoridade
intelectual e moral de outros homens individualmente, mas confiam na opinião da
massa ou da maioria das pessoas e isso, consequentemente, exclui a crença no
sobrenatural ou leva a descrença neste.
Diferentemente de um regime aristocrático, portanto. Visto que neste o lugar
da autoridade intelectual e moral é ocupado pela razão superior de um homem ou de
um grupo ou classe de homens.
Ainda no primeiro caso, em sociedades democráticas, outra razão pela qual a
opinião comum, a maioria ou o juízo público adquire este lugar de autoridade se
deve ao fato de que, apesar dos homens se sentirem orgulhosos de sua igualdade
com outros homens ao procederem uma comparação de suas próprias condições
com as de outros, contudo, diante do conjunto destes mesmos homens em
sociedade, sentem-se insignificantes, fracos e vulneráveis.
Em resumo, essa tendência de pôr sobre a própria razão humana toda
autoridade intelectual e moral para a criação de novas verdades ou dogmas,
demonstra que a humanidade vem, paulatinamente, substituindo a Revelação Divina
pela filosofia humanista. Ou seja, o homem se recusa submeter-se a um Deus
perfeito para colocar-se sob o jugo de um conjunto de homens imperfeitos. Prevendo
esta tendência, pode-se especular que Deus, em sua presciência e compaixão, teria
proposto, conforme as Sagradas Escrituras, a identificação máxima com a
humanidade mediante a encarnação do Logos determinada desde a eternidade.
Assim, diferentemente de uma submissão resultante de persuasão intelectual,
amorosa e sobrenatural realizada pelo Espírito de Deus, os dogmas humanos são
aceitos pelo indivíduo por imposição, pressão e opressão da maioria. Portanto, a
igualdade de condições torna onipotente o poder político da massa, fazendo reinar o
67
império intelectual da opinião pública ou comum. Este estado social assume o
caráter de uma religião secular cujos dogmas advêm naturalmente da opinião
comum e cujo profeta consiste nesta própria maioria.
Desse modo, não somente os regimes monárquicos e aristocráticos, mas
também os democráticos podem se degenerar em diferentes formas de despotismo
que, ao fim e ao cabo, resultam no mesmo desfecho, isto é, o sufocamento da
liberdade intelectual sagrada do indivíduo. Naqueles regimes, isto ocorre ao
prenderem a razão individual à opinião de um homem ou de certas classes ou
grupos de homens. Nestes, ao prenderem o indivíduo à opinião pública. Por outro
lado, a julgar pela posição tradicional da Ig. Católica, a respeito dos diversos
regimes políticos possíveis, todos estes, para o pensamento cristão, seriam
aparentemente válidos, contanto que fosse resguardada a liberdade civil e
intelectual individual, sobretudo no âmbito da esfera política.
Finalmente, não são apenas negativas as consequências do domínio da
opinião pública sobre o indivíduo. No contexto de uma sociedade democrática
cristianizada, como era o caso da sociedade norte-americana no século XIX, o
testemunho ou a pressão da maioria a favor da religião cristã, tal como o
testemunho de João Batista (Vide Jo. 5:31-47) nos tempos de Jesus, pode contribuir
para o conhecimento e experiência de muitos da Pessoa de Cristo, experiência esta
proveitosa inclusive para as esferas socioeconômica e política conforme se fará
referência, mais adiante, no item 6.4 deste capítulo.
Havendo reconhecido e sublinhado o caráter natural, espontâneo e
imprescindível dos dogmas de todo tipo em todas as esferas do pensamento e da
atividade humana, ele esclarece que os dogmas de natureza religiosa são, além de
tudo, os mais desejáveis, pois estes consistem nos primeiros, originários e mais
importantes pontos dos quais decorrem diretamente a ação humana ou sua prática
cotidiana. Estes pontos, evidentemente, tratam de ideias gerais sobre Deus e suas
relações com o ser humano, sobre a natureza da alma humana e dos deveres do
homem para com seus semelhantes. E a dúvida, conforme Tocqueville (1840), a
respeito dos mesmos resultaria em desordem e impotência sociais. Daí, o interesse
justificado dos homens em defini-los para o bom andamento de uma sociedade.
68
De tudo isto que foi dito acima se pode depreender a importância das
diferentes religiões ou vertentes cristãs as quais podem oferecer soluções ou
definições nítidas, precisas, inteligíveis e duradouras para os chamados primeiros
pontos. Submeter-se a estes consistiria, portanto, num jugo salutar da inteligência,
visto oferecerem um ponto de partida, uma referência inicial que permite o exame
aprofundado destes mesmos pontos, seu esclarecimento e a expansão de suas
consequências lógicas, além do seu aperfeiçoamento se for o caso.
Do contrário, destruindo-se a autoridade política (influência social) e religiosa
ou intelectual (determinação das verdades últimas ou definitivas acerca da
realidade) da religião cristã, as almas humanas se debilitariam com o relaxamento
de sua vontade e a consequente entrega da liberdade a uma servidão real. E isto
devido à inquietação e ao cansaço em razão do abandono dos primeiros pontos e
como consequência das dúvidas e noções confusas e instáveis que se instalariam
no seu lugar. Diante deste quadro, considerando-se ainda o contexto de uma
sociedade democrática onde impera o valor da igualdade, esta mesma igualdade,
sem o elemento transcendente dos dogmas religiosos, encaminharia os homens ao
isolamento e ao egoísmo, além do apego excessivo aos gozos ou prazeres
materiais. Ou seja, o ser humano tornar-se-ia medíocre, reduzindo-se a instintos
animalescos e, puramente, materialistas.
Portanto, para evitar o caos, a anarquia ou o esfacelamento do tecido social,
de acordo com Tocqueville (1840), é mister, principalmente nas eras democráticas,
conservar o império da religião cristã. Pois esta, como antídoto, oferece em seu
bojo, à sociedade, a capacidade de estimular instintos contraditórios cujo efeito
consiste na moderação das paixões egoístas e materialistas. Ela realiza isto ao
estabelecer, com expertise, os objetos de desejo da alma humana acima dos bens
materiais, elevando, por conseguinte, a alma acima dos sentidos sensoriais.
Outrossim, a religião cristã instrui as pessoas a respeito dos seus deveres altruístas
para e com a espécie humana. Contudo, conforme reiterado anteriormente, para que
o seu poder permaneça é imprescindível que o cristianismo se mantenha nos seus
limites, é necessário que trace nitidamente seu círculo de influência natural sobre o
espírito humano, além do qual perderia sua credibilidade. Por conseguinte, a religião
cristã deve, fora do seu escopo, entregar o homem a si mesmo.
69
Corroborando seu argumento a favor da necessidade do estabelecimento de
uma só autoridade intelectual e moral religiosa que estabeleça ideias e regras gerais
e claras para toda a sociedade, Tocqueville (1840) vê no surgimento histórico do
Império Romano - que, juridicamente, fez de todos os povos da terra um só povo,
unindo o gênero humano através da submissão às mesmas leis e regras e tornando-
os, desta maneira, iguais, além de imputar-lhes o sentimento de pequenez e
fraqueza diante do imperador – uma intervenção providencial da Divindade, num
período da história que a Escritura chama de “Plenitude do Tempo” (Gl.4:4), com o
propósito de facilitar ao homem a concepção de um único Deus e de um só destino
espiritual para toda a humanidade. Em outras palavras, o desaparecimento das
barreiras durante o Império Romano (por meio do estabelecimento de leis comuns a
todos entre outros aspectos), que separavam as nações e os cidadãos dentro delas,
encaminharia providencialmente o espírito humano à ideia de um Ser único e
onipotente.
Além disso, para a manutenção e fortalecimento da religião nas sociedades
democráticas, levando em consideração a objetividade e o pragmatismo do espírito
do homem moderno, o jurista prescreve o abandono, por parte das igrejas cristãs,
particularmente da católica, dos excessos de formalidade presentes em suas
formas, figuras, símbolos e cerimônias. De acordo com Tocqueville (1840), estes
elementos devem ser restringidos ao absolutamente necessário para que a
sustância da religião cristã, isto é, seus dogmas sejam preservados. Em outras
palavras, ela deve apegar-se mais ao espírito da Lei de Deus e da Igreja e menos à
sua letra para que o conteúdo da crença - constituído de opiniões Divinas precípuas
ou centrais, também denominadas artigos de fé, os quais são imutáveis e
atemporais - ganhe força à medida que se torne plenamente nítido. E isto, mesmo
que em detrimento das noções acessórias, periféricas ou secundárias as quais, com
o passar dos tempos, podem e devem ser adaptadas e modificadas.
Por outro lado, a religião cristã também deve evitar destruir as ideias gerais,
interesses e paixões da massa tais como a busca pelo bem-estar material. Em
outras palavras, deve visar agradá-la naquilo que não for contrário a fé afim de que
não seja destruída por esta mesma massa de pessoas cuja opinião pública, como
dito anteriormente, orienta as sociedades democráticas. Contudo, o cristianismo não
70
somente pode como deve purificar, regrar e restringir estas paixões.
Especificamente, por exemplo, deve reconhecer a importância dos bens deste
mundo, mantendo-os, no entanto, numa posição secundária em relação aos
espirituais. Ademais, seus sacerdotes devem se interessar e aplaudir o progresso da
indústria ao mesmo tempo que não se associam a ele. E, finalmente, sem proibir a
busca honesta e legítima pelo bem-estar, devem apresentar ao povo o mundo
vindouro como o grande objeto dos seus temores e esperanças. Em síntese, o
cristianismo deve respeitar e utilizar sabiamente os instintos democráticos.
71
pela unidade, na busca de um princípio geral único para todas as coisas, a
igualdade transformada em unidade entre todos os seres humanos já não é
suficiente ao homem democrático e a divisão monoteísta entre Deus e sua criação
ou a transcendência e superioridade da Divindade o incomoda, levando-o mais
adiante a uma simplificação máxima ou a uma união absoluta de todas as coisas, o
panteísmo, no qual todas elas estão sujeitas à mesma lei ou princípio o qual também
é o constituinte essencial de todas elas.
Um exemplo bem acabado do pensamento panteísta moderno e decorrente
da mente republicana e democrática secular parece ser aquele expressado pelo
teólogo e filósofo inglês, Alan Watts, explorado no capítulo dois deste trabalho. No
mesmo texto utilizado acima e intitulado Mitologia Ocidental: Dissolução e
Transformação, ele declara:
73
6.3. A Mentalidade Utilitária do Homem Democrático Norte-Americano
Até certo ponto e a depender do objeto da ambição, é natural e salutar que as
pessoas demonstrem interesse pela utilidade ou pelo retorno que podem oferecer
suas relações cotidianas com pessoas, organizações, instituições e teorias ou
sistemas de pensamento de todo tipo, inclusive mesmo em se tratando de
elementos de natureza transcendente como são os da religião cristã. Portanto, de
alguma forma, frequentemente, é possível e legítimo esperar algum retorno, lucro,
benefício ou recompensa seja material, cultural ou espiritual das relações encetadas
no cotidiano de todas as esferas da atividade humana.
Conhecendo este princípio, instinto ou pulsão humana, o cristianismo norte-
americano, segundo Tocqueville (1840), diferentemente daquele praticado na Idade
Média que visava e fomentava nos fiéis muito mais o interesse pelos benefícios
celestiais ou do mundo espiritual em prejuízo dos terrenos, os pregadores norte-
americanos ressaltam, insistentemente, os benefícios deste mundo trazidos pela
religião cristã os quais estão, basicamente, relacionados com a liberdade, a ordem
pública e a felicidade.
Assim sendo, o cidadão americano religioso está seguro de que sua prática
cristã, incluindo seu esforço ascético no sentido de vigiar, reprimir e recusar a si
mesmo certas paixões e prazeres, ou a falta de moderação neles, possui uma
recompensa não somente no mundo vindouro, mas também no presente.
Entretanto, o jurista sublinha o fato de não estar reduzido ao utilitarismo o
ensinamento cristão, não podendo, portanto, creditar ao interesse pessoal e material
a motivação única ou exclusiva das pessoas religiosas. Em outras palavras, há
cristãos que não agem visando apenas uma recompensa pessoal seja ela material
ou espiritual. De fato, existem cristãos zelosos que, constantemente, se esquecem
de si mesmos em favor da felicidade do outro ou de sua comunidade. Estes, amiúde,
são motivados, em suas relações cotidianas, “apenas” pelo amor que retornam a
Deus com gratidão e obediência. Outrossim, estes cristãos são motivados pelo
prazer de contemplar a aplicação, neste mundo, do princípio divino altruísta - que,
na verdade, constitui a ordem ou a essência de funcionamento da realidade - e o
bem que isto, seguramente, resulta a todos. Em suma, a esse respeito, Tocqueville
(1840, Vol.2, p.151-152) declarou o seguinte:
74
Todavia, recuso-me a crer que todos os que praticam a virtude por espírito
de religião ajam tão-só tendo em vista uma recompensa.
Encontrei cristãos zelosos que esqueciam sem cessar de si mesmos a
fim de trabalhar com mais ardor pela felicidade de todos, e ouvi-os
pretender que só agiam assim para merecer os bens do outro mundo;
mas não posso me impedir de pensar que enganam a si próprios.
Respeito-os demais para acreditar neles.
O cristianismo nos diz, é verdade, que devemos preferir os outros a
nós mesmos, para merecer o céu; mas o cristianismo também nos diz
que devemos fazer o bem a nossos semelhantes por amor a Deus. É
uma expressão magnifica; o homem penetra por meio de sua inteligência no
pensamento divino; ele vê que a finalidade de Deus é a ordem, associa-se
livremente a esse grande desígnio e, sacrificando seus interesses
particulares a essa ordem admirável de todas as coisas, não espera
outras recompensas além do prazer de contemplá-la.
Não creio pois que o único móvel dos homens religiosos seja o interesse;
mas penso que o interesse é o principal meio de que as religiões se valem
para conduzir os homens, e não tenho dúvida de que seja por esse lado que
elas conquistam a multidão e se tomam populares. (grifo nosso)
76
intensifica o ardor insensato pelo bem-estar. Enfim, está dinâmica, mantendo-se
constante ou inalterada, levará fatidicamente a população ao embrutecimento.
Para evitar este fim, as crenças religiosas, tais como a imortalidade da alma,
são necessárias para emular a grandeza do homem e, com isto, produzir belos
efeitos tais como o surgimento ou a corroboração, no seu espírito, de uma tendência
não utilitarista ou não interesseira no âmbito de suas relações que, por sua vez, o
conduzirá a sentimentos e pensamentos puros e altruístas. Sendo assim e
considerando os adeptos do materialismo autênticos inimigos dos povos
democráticos, Tocqueville (1840) considera que até mesmo a metempsicose, a
crença pagã da transmigração das almas humanas para animais, seria mais
proveitosa para a sociedade que o materialismo.
Enfim, convencido do caráter imprescindível do cristianismo para a saúde das
sociedades democráticas e, concomitantemente, ciente do perigo das religiões
estatais para a subsistência da Igreja Cristã, Tocqueville (1840) sugere que os
políticos deveriam agir como se, de fato, acreditassem no cristianismo,
conformando-se, escrupulosamente, à moral cristã.
77
ao estado, atitudes estas típicas dos regimes aristocráticos, foi-lhe ressaltado o valor
moral em si mesmo, pois trata-se de uma resposta honesta e necessária dos
indivíduos às demandas naturais da existência física. Outrossim, porque através
dele é possível alcançar o bem-estar material, o ganho ou lucro que dele pode ser
auferido tornou-se plenamente justificado.
Deste modo, trabalho e ganho, conforme Tocqueville (1840), estão
visivelmente unidos nas sociedades democráticas. E já que todas as profissões têm
por objeto a sobrevivência do indivíduo que trabalha, por meio do recebimento de
um salário, todas elas, desde as mais simples até as mais complexas ou
sofisticadas, são reconhecidas como honestas.
Contudo, estes elementos, entre outros, que compõem o conceito de trabalho
para os americanos não são oriundos exclusivamente do estilo de vida imposto pelo
regime democrático, mas também devido à notória influência da religião cristã sobre
aquele país, notadamente do cristianismo de vertente protestante. Portanto, para
conhecer com exatidão e mais detalhadamente o que pensavam os cidadãos norte-
americanos a este respeito é indispensável, neste ponto do trabalho, lançar mão,
novamente, da valiosa pesquisa do historiador Dr. Leland Ryken a respeito dos
puritanos, uma das correntes mais influentes do protestantismo nos Estados Unidos.
Sendo assim, conforme também assinala Max Weber, Ryken (2013)
reconhece que, de fato, o puritanismo era ascético, embora não em todo o tempo e
que, realmente, seu ascetismo orientava evitar o prazer de gastar por gastar e a
ostentação.
Outrossim, é verdade que os puritanos encaravam o trabalho como uma
vocação ou chamado divino. Portanto, eles o consideravam como uma boa maneira
de ocupar o tempo, fazer o bem e adorar a Deus. Tal vocação para eles, por outro
lado, não consistia em acumular dinheiro, tampouco trabalhar por trabalhar, mas seu
objetivo precípuo era, em suma, adorar a Deus e servir à humanidade através das
boas ações que se podia fazer em suas atividades laborais e profissionais.
Quanto ao acúmulo de riquezas ou capital mediante o trabalho honesto, é
evidente que um estilo de vida que evita ostentações e gastos desnecessários e que
considera seriamente o trabalho como uma vocação, naturalmente, poderia -
embora não necessariamente - resultar num padrão de vida econômico
78
relativamente superior cujo excedente, no caso dos puritanos e em obediência a
Palavra de Deus, seria, entretanto, revertido, em boa medida, à assistência aos mais
necessitados (Vide 1Tm. 6:17-19).
O Dr. Leland Ryken (2013, pg. 59) inicia o capítulo que trata a respeito do
conceito de trabalho para os puritanos, rechaçando o que classifica como perversão
secularista da "ética puritana do trabalho", asseverando que esta expressão, para a
maioria das pessoas, contém "o mínimo conteúdo específico", sendo usada,
portanto, como “um rótulo de múltiplo alcance para o que eles reprovam nos
puritanos". Sendo assim, diz ele:
O rótulo "ética puritana do trabalho" é usado nos dias de hoje para cobrir
toda uma classe de males correntes: a síndrome do vício de trabalhar,
trabalho escravizador, competitividade, culto do sucesso, materialismo e o
culto da pessoa autorrealizada. Tornou-se de tal forma um axioma que os
puritanos começaram tudo isto, que surpreende saber que a
denominada "ética puritana do trabalho" é de muitas maneiras o
oposto daquilo que os puritanos dos séc. XVI e XVII realmente criam
sobre o trabalho". (RYKEN, 2013, p. 59, grifo nosso)
Para o puritano, segundo Ryken (2013, p.63,64), a vida, por inteiro, era de
Deus e, portanto, "Seu objetivo era integrar seu trabalho diário com sua devoção
religiosa a Deus". E não apenas isto, "O objetivo puritano era servir a Deus não
simplesmente no trabalho no mundo, mas por intermédio do trabalho".
Ainda quanto à ideia puritana de trabalho como uma vocação ou chamado
divino, esta envolvia um conjunto de outras ideias relacionadas, a saber, a
providência de Deus em arranjar ou determinar as tarefas humanas, o trabalho como
resposta de um mordomo a Deus, o contentamento ou a satisfação pessoal com
suas tarefas e a lealdade à vocação pessoal estabelecida por Deus.
No que diz respeito à motivação e às recompensas do trabalho, contrariando
Benjamin Franklin (1706-1790) e, consequentemente, a sociedade deste século por
ele ainda de certa forma influenciada, Ryken (2013, p.70) afirma que: "As
recompensas do trabalho, de acordo com a teoria puritana, eram morais e
espirituais, isto é, o trabalho glorificava a Deus e beneficiava a sociedade". Sendo
assim, diferentemente do que pensa a ética do trabalho secularizada, os puritanos
não faziam do trabalho o meio pelo qual adquiriam as riquezas materiais tão
cobiçadas, tampouco do sucesso terreno nos empreendimentos, considerados por
muitos como sinais da eleição de Deus ou da santidade pessoal dos indivíduos que
os detêm. Nesse sentido, citando o puritano Richard Baxter, assevera o
pesquisador:
80
Por sua vez, John Cotton (apud RYKEN, 2013, p. 72) declarou que, no
exercício do nosso chamado, "devemos visar não só ao nosso próprio bem, mas ao
bem estar-público". William Perkins (apud RYKEN, 2013, p. 72), nesta mesma
direção, escreveu: "A verdadeira finalidade de nossas vidas é prestar serviço a Deus
no serviço ao homem". E, por fim, arremata John Preston (apud RYKEN, 2013, p.
71), dizendo que devemos labutar "não para nosso próprio benefício, mas para o
benefício dos outros".
Havendo feito uma coletânea abundante de frases semelhantes àquelas
citadas acima, observa Ryken:
E acrescenta:
82
mesmo e como uma resposta devida do homem a Deus.
Enfim, segundo Ryken (2013, p. 79), "O objetivo dos Puritanos era moderação
entre os extremos. Trabalhar com zelo e ainda não dar sua própria alma pelo
trabalho era aquilo pelo que lutavam" (grifo nosso). Enfim, nesse sentido, John
Cotton afirmava:
83
Ainda na sua análise à obra de Weber, ele continua afirmando o seguinte:
...a chave de tudo que disseram sobre o assunto era sua convicção de que
o dinheiro é um bem social, não uma propriedade privada. Sua
principal finalidade é o bem-estar de todos na sociedade, não o prazer
pessoal da pessoa que acaso tenha controle sobre ele.
O gênio do puritanismo foi sua percepção clara sobre a razão das coisas,
e esse gênio não desertou deles em matéria de dinheiro. (RYKEN, 2013, p.
127, grifo nosso)
14
Outros exemplos citados são: Protestantism and Capitalism: The Weber Thesis and Its Critics, ed.
Robert W. Green; e Walzer, The Revolution of the Saints.
84
Por outro lado, conforme Ryken (2013), os puritanos também perceberam
que uma vida sedenta das riquezas materiais deste mundo e destinada
prioritariamente a isso era algo evidentemente condenável e observaram, com
clareza, que as condições de riqueza e pobreza trazem no seu bojo várias tentações
ou tribulações, embora considerassem que estas fossem maiores no contexto da
primeira delas. Outrossim, os puritanos, naturalmente, preconizavam como objetivo
precípuo da vida de cada cristão os bens espirituais mesmo em detrimento dos
materiais, muito embora não reconhecessem incompatibilidade necessária entre as
riquezas materiais e a espiritualidade, visto que acreditavam que com o aumento da
riqueza, aumentam também as possibilidades de fazer o bem. Desse modo, o
pesquisador assevera que:
Como se pode ver, Weber, para usar uma linguagem bíblica, apenas teria se
escandalizado sem motivo com algo que lhe pareceu um erro, fazendo lembrar o
princípio da pureza contido no oráculo divino que assevera: “A candeia do corpo são
os olhos. Se estes, pois, forem simples, todo o teu corpo será luminoso; mas se
forem maus, todo o teu corpo ficará às escuras. Se, portanto, a luz que há em ti, são
trevas, quão densas são as trevas!”, ou “e bem-aventurado aquele que não achar
em mim motivo de tropeço.”. E ainda: “Tudo é puro para os que são puros, mas para
os corrompidos e incrédulos não há nada puro; pelo contrário tanto a sua mente
como a sua consciência são contaminadas.” (BÍBLIA, Mateus, 6, 22, 23; 11, 6 e Tito
1, 15). Consequentemente, afirma Ryken:
85
que um cristão "pode fazer muitas coisas por si", entretanto, apenas
enquanto "isto não está em oposição, mas em subordinação a Deus e a sua
glória”. (RYKEN, 2013, p. 115, grifo nosso)
15
A esse respeito, ver, por exemplo, os textos que se encontram registrados em Pv. 22:2; Rm.15:25-
28; 2Co.8-9 e 1Tm.6:17-19.
86
Assim, segundo esta perspectiva, entre a igualdade de condições e as
revoluções haveria uma relação ou um vínculo secreto, necessário e consequente. E
isto, basicamente, porque os níveis mais ou menos iguais em termos de recursos
materiais e intelectuais dos indivíduos os conduziria, inevitavelmente, a uma
independência tal que resultaria, no final das contas, no isolamento e,
consequentemente, na ausência de vínculos recíprocos entre os cidadãos, além de
encaminhá-los à rejeição de quaisquer autoridades. Outrossim, de acordo com
Tocqueville (1840), esta mesma causa levaria os indivíduos para novos e inquietos
desejos econômicos sempre em busca do bem-estar e da estabilidade, estimulando-
os sem cessar.
Realmente, esta é uma percepção verossímil dos fatos e poder-se-ia dizer
que este desfecho somente seria evitado pela presença do poder regulador,
moderador e unificador da religião cristã. O que, de fato, é em grande medida
verdadeiro conforme o contexto de tudo quanto declara Tocqueville sobre a utilidade
social desta religião em sua obra principal ou mais conhecida usada neste trabalho.
Contudo, no capítulo destinado ao tema das revoluções, ele discorre a respeito de
vários outros elementos essências aos regimes democráticos que travam ou
impedem as revoluções, mesmo aquelas que trariam efeitos positivos ou benéficos
para a sociedade. Portanto, em outras palavras, se por um lado, as revoluções
perniciosas de caráter marxista são corretamente impedidas pelos elementos que
serão listados em seguida, por outro, as revoluções que visam à correção de
equívocos na sociedade e o avanço ou progresso de suas instituições e do gênero
humano também podem ser comprometidas.
Dito isto, o jurista passa então a discorrer sobre tais elementos. O primeiro
deles refere-se ao estado social no qual “cada um tenha algo a guardar e pouco a
tomar” (TOCQUEVILLE, Vol. 2, p.316). Em outras palavras, o estado social no qual o
cidadão tenha o direito à propriedade, direito este consagrado e promovido por leis
que permitam e estimulem a mobilidade social, ou seja, que não prendam os pobres
à miséria. Evidentemente, a possibilidade de que este fenômeno da mobilidade
social ocorra no seio das sociedades democráticas conta com a simpatia da
população que trabalhará para que esta condição se mantenha.
87
Outro elemento que decorre da mobilidade social consiste de uma classe
média numerosa, isto é, uma população cuja maioria seja constituída de pequenos
proprietários. É útil observar que a condição econômica e atitudinal dos indivíduos
desta classe, caracterizada pela quantidade mediana de bens e por fortes paixões
dirigidas ao seu patrimônio, os faz desejar a ordem ao mesmo tempo que não se
tornam alvo preferencial da cobiça em caso de uma eventual revolução.
A propósito, foi contra esta mesma classe média, também denominada
pequena-burguesia, que, conforme o jornalista Augusto Nunes (2017), a filósofa
Marilena Chauí, musa do PT (Partido dos Trabalhadores), crocitou, dizendo:
Obviamente, a classe média é odiada por esta senhora porque ela representa
a intelectualidade brasileira cuja mentalidade foi tomada pelo “pensamento”
revolucionário. Melancólico espectro intelectual da realidade nacional avesso a tudo
que impeça o livre curso da revolução socialista neste país.
Por outro lado, este mesmo fenômeno da mobilidade social, somente possível
em países democráticos, segundo Tocqueville (1840), ao mesmo tempo que permite
a existência de indivíduos ricos oriundos da própria população majoritária, torna-os
esparsos, sem privilégios políticos hereditários e necessariamente presos à massa
através de uma infinidade de ligações secretas ou tácitas de tal modo que estes
indivíduos não formam uma classe à parte e facilmente definida para que possa ser
espoliada no caso de uma revolução. Desse modo, a despeito do ardor intenso que
demonstra a classe média no seu desejo de enriquecer-se, o embaraço estaria em
saber de quem ela poderia expropriar, tomar ou roubar riquezas, visto que, em face
das ligações estreitas entre ricos e pobres, o povo não poderia atingir os ricos sem
prejudicar a si mesmo. E isto porque a mobilidade social, conforme Tocqueville
(1840), estabelece, numa medida significativa, um estado de indefinição das
classes, visto que os ricos saem a cada dia do seio da multidão e retornam a ela
sem cessar.
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Outro elemento aventado pelo jurista e historiador do século XIX está
relacionado à igualdade de condições. Esta condição ou elemento fomentaria o
interesse por carreiras profissionais voltadas à indústria e ao comércio, além do
aumento e diversificação da propriedade fundiária e, finalmente, o desejo ardente e
constante pelo aumento do bem-estar. Conforme Tocqueville (1840, p.318), não
haveria “nada mais oposto aos costumes revolucionários do que os costumes
comerciais.” O comercio seria, portanto, “naturalmente inimigo de todas as paixões
violentas”. Havendo dito isto, ele passa a caracterizar a atividade comercial,
asseverando que a mesma é identificada por sua moderação, seu apego pelos
compromissos assumidos, pela fuga da cólera, pela paciência e flexibilidade, além
de ser insinuante, tornar os homens bem-sucedidos e independentes uns dos
outros, valorizar a individualidade e, por fim, estimular a paixão pelos negócios.
Numa palavra, a atividade comercial suscitaria a liberdade.
A prevenção das revoluções nos regimes democráticos, para ele, também
estava relacionado ao aumento e diversificação tanto dos bens móveis quanto dos
seus possuidores. Ademais, a insatisfação relativa com o montante de sua
propriedade, o esforço para aumentar o patrimônio e o bem-estar e a absorção dos
esforços dos indivíduos nesta empresa doméstica os faria indispostos e impotentes
para a realização de uma revolução. Outrossim, além da satisfação com a
possibilidade da mobilidade social e com a capacidade e o direito de adquirir, manter
e aumentar o patrimônio, os americanos, ou os homens criados em regimes
democráticos, aferrados às suas crenças estariam dispostos a modificar
constantemente os elementos secundários ou periféricos de suas condições de vida,
contudo, sempre com a intensão precípua de manter o principal. Por isso mesmo,
rechaçariam automaticamente teorias revolucionárias e suas aplicações.
Portanto, em matéria de política, filosofia, moral e religião o espírito
americano se ocupa em variar e descobrir, até o infinito, as consequências dos
princípios já conhecidos e não em criá-los. Ou seja, ele amplia ou estende a esfera
de aplicação e os modos de aplicação destes princípios, sem rupturas bruscas. Isto,
portanto, explicaria, em boa medida, a fixidez de certos princípios e ideias na
sociedade norte-americana.
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Ressalte-se ainda o fato de que, por estarem sempre muito ocupados,
preocupados e mesmo apaixonados pelo que fazem, torna-se difícil atrair a atenção
dos americanos e encontrar neles tempo e energia para tais ideias revolucionárias.
Ademais, a igualdade de condições, ao contribuir para o isolamento dos
indivíduos, faz com que estes esqueçam as questões públicas e, por conseguinte,
as paixões políticas. A democratização do conhecimento e o incremento de suas
experiências coletivas como nação também contribuiria no sentido de evitar
manipulações destinadas a produção das revoluções. Outrossim, instituições
públicas bem estabelecidas, ao favorecer e reprimir determinados instintos,
igualmente teriam um peso relevante no sentido de evitar tais convulsões sociais.
A igualdade de condições jurídicas, educacionais e econômicas do regime
democrático norte-americano também explicaria a semelhança de ideias e opiniões
dos seus cidadãos que funcionaria também como uma barreira contra as revoluções.
A propósito, este fenômeno, de acordo com Tocqueville (1840), é observado após
uma primeira fase de anarquia intelectual resultante da sobrevida das diferenças
pessoais dos indivíduos oriundas, por sua vez, das diferenças sociais de um regime
aristocrático, logo após haverem sido rotos seus vínculos interpessoais ou
relacionais típicos deste regime na transição para o regime democrático. Com o
tempo, contudo, a igualdade de condições conduziria os cidadãos a necessidades,
hábitos e gostos semelhantes e, consequentemente, a uma percepção dos objetos
da realidade sob o mesmo aspecto ou perspectiva geral. Isto faz com que surja uma
espécie de consciência coletiva que não permite, facilmente, a entrada de elementos
culturais estranhos.
O dogma da igualdade das inteligências, que faz com que a autoridade de um
nome tenha muito mais peso do que a força de um raciocínio, também consistiria
noutro corolário da igualdade de condições que impediria a manifestação das
revoluções, particularmente as revoluções de natureza intelectual. Enfim, como já
mencionado em outras ocasiões, é por meio da desconfiança nas luzes ou na
superioridade intelectual do outro que a igualdade de condições insinua nos espíritos
humanos este dogma.
Tocqueville também lista neste rol de fatores antirrevolucionários, a
dificuldade de mobilização da massa em função da inexistência ou relativa
90
debilidade dos vínculos entre os indivíduos de uma sociedade democrática, fraqueza
esta que demandaria, para o sucesso de uma revolução, o convencimento individual
ou um a um dos cidadãos. Enfim, como também já foi indicado acima, neste tipo de
sociedade, a massa da população exerce uma enorme influência sobre o espírito de
cada indivíduo, envolvendo, dirigindo, oprimindo e convencendo-o de tal maneira
que seus cidadãos não possuem, separadamente, grandeza e força próprias,
dependendo excessivamente da aprovação desta mesma massa para viverem. Do
contrário, caso ousem desafiá-la, serão isolados e se verão impotentes, intimidados
e entregues ao sentimento de desespero.
Finalmente, como dito a princípio, se por um lado estes elementos inatos à
essência das sociedades democráticas, como a americana, são positivos quando
evitam a instalação de revoluções comunistas, por outro, sua imobilidade – em razão
do que Tocqueville (1840) identificou como sendo uma espécie de amor covarde,
inquieto e ardente para com os prazeres presentes e aos bens materiais – pode
redundar no desaparecimento do interesse pelo futuro e, por conseguinte, na
desconsideração e desprezo pela necessidade de aperfeiçoamento, melhoramento
ou correção dos erros desta mesma sociedade. Por conseguinte, podendo acarretar
na estagnação das instituições, dos preconceitos, costumes e ideias da sociedade,
na paralização e bitolação intelectual, cultural e espiritual do gênero humano e, em
suma, na cessação ou interrupção do avanço em geral.
91
7. A SUPERIORIDADE DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL E SEUS INIMIGOS
94
A propósito, segundo o economista da FEA-USP, Alan Ghani (2016), este
movimento revolucionário, no presente, conta com poderosos aliados, a saber, os
chamados metacapitalistas os quais, através de suas fundações, financiam ONGs,
“coletivos” e movimentos que fazem a apologia das ideologias que caracterizam a
chamada new left, isto é, a nova esquerda tais como o feminismo, a ideologia de
gênero, o black lives matter, o gayzismo, o abortismo, a legalização das drogas, as
fronteiras livres para a imigração, o desarmamentismo e a descriminalização da
pedofilia. A esse respeito, o jornalista e professor Bruno Bruno Garschagen (2017)
esclarece que:
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representam obviamente uma resistência aos anseios globalistas das
famílias Soros, Rockfeller, Ford, entre outras.
Uma hipótese plausível é que para estes metacapitalistas colocarem em
prática seu projeto de governo global – novamente, tema amplamente
discutido no primeiro mundo - é necessário enfraquecer qualquer
resistência a esse supergoverno. Evidentemente que todos os
elementos defendidos pela direita, principalmente pelos
conservadores, são uma resistência ao poder global, tais como a
família, a religião judaico-cristã, os poderes locais, o respeito às
tradições, aos costumes e à liberdade individual. Por exemplo, é muito
difícil um governo moldar um comportamento numa sociedade em que os
valores são transmitidos pela família ou pelo convívio social, e não pelo
Estado. Na mesma linha, é quase impossível um governo impor sua agenda
diante de costumes e tradições tão enraizadas na sociedade. Em outras
palavras, estes elementos conservadores representam uma resistência a
qualquer tentativa de CONTROLE de governos sobre a sociedade civil.
Por isso, que é perfeitamente compreensível que George Soros, um super
capitalista, financie agendas progressistas mundo afora: os movimentos
de esquerda de hoje lutam contra princípios conservadores, que são
elementos de resistência ao projeto globalista de George Soros. Mais
do que isso, muitos destes movimentos progressistas não lutam pelos mais
oprimidos, mas se vendem como bem-intencionados, politizando problemas
de fato reais, para imporem sua ideologia sobre a sociedade. (grifo nosso)
96
Os representantes dessas organizações têm uma espécie de sala VIP em
grandes jornais e emissoras de tevê. Não importa o que digam e defendam,
contam sempre com a valiosa ajuda dos grandes canais de comunicação e
assim também conseguem influenciar a produção artística das
empresas, como programas de auditório, séries e novelas. Dessa
forma, o telespectador é submetido a uma grade de programação
revolucionária que gradualmente faz cumprir o seu intento de destruir
a imaginação moral, de mudar mentalidades e, portanto, a sociedade.
Várias dessas entidades que gozam de prestígio na tevê e na grande
imprensa brasileira são financiadas por um bilionário húngaro-americano
[George Soros] que tem como objetivo promover uma engenharia social
mundial que atenda a sua agenda ideológica e empresarial.
(GARSCHAGEN, 2017, grifo nosso)
Havendo dito isto, o jornalista oferece uma lista bastante detalhada das
entidades, organizações e indivíduos que recebem o apoio financeiro do bilionário.
Portanto, de acordo com Garschagen (2017), nos documentos vazados constam,
por exemplo, o Partido Democrata norte-americano de Hillary Clinton e Barack
Obama. No Brasil, esta lista é formada pelos representantes da assim chamada
Mídia “Independente”, a saber, a Mídia Ninja; o Fora do Eixo do ativista político e
produtor cultural Pablo Capilé; o Agência Pública do jornalista Leonardo Sakamoto;
ao menos dois comentarias da Globonews: Ronaldo Lemos e Ilona Szabó de
Carvalho do ITS Rio e do Instituto Igarapé respectivamente. A lista é constituída
ainda por institutos como o Arapyaú fundado por Guilherme Leal, um dos donos da
empresa Natura e candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2010 e
o Movimento Viva Rio entre outros.
Também fazem parte da mesma lista personagens muito influentes e
adinheirados da sociedade brasileira, envolvidos inclusive com o governo e a política
tais como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu instituto de mesmo
nome; Luiz Eduardo Soares, o idealizador do Mudamos.org e ex-secretário de
segurança pública dos governos Antony Garotinho e Lula; Pedro Abraamovay que
trabalhou no Ministério da Justiça nos governos Lula e Dilma e o Dep. Federal Jean
Wyllys, etc.
Enfim é de especial interesse e significado, mormente para os cearenses,
inclusive para se obter uma noção da abrangência e ramificação da influência de
George Soros e sua agenda no país, saber que um dos integrantes e convidados de
um jantar/evento oferecido ao bilionário no Brasil, foi Carlos Jereissati do Grupo
97
Jereissati. Portanto, como se vê, as relações são mais próximas e concretas do que
alguns queiram ou possam admitir e imaginar.
98
CONCLUSÃO
Enfim, a despeito dos erros que, de fato, ocorreram e a respeito dos quais
sabemos haver registros históricos, a balança ainda parece pender, em muito,
favoravelmente ao cristianismo formal ou visível e não nos parece justificável o
desprezo militante de determinados setores das sociedades ocidentais contra o
cristianismo em suas diversas vertentes. A não ser quando se quer justificar certa
aversão razoável ao fazer referência às guerras religiosas que tiveram lugar na
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Europa, à chamada Santa Inquisição e à reiterada exploração oportunista e
cotidiana do Evangelho por figuras réprobas e estelionatárias tais como o senhor
Edir Macedo, autênticos anticristos e lobos em peles de ovelha contra os quais o
juízo divino não dormita conforme informa o Ap. Pedro em todo o capítulo 2 de sua
segunda epístola. Causa-nos também preocupação observar que o fundamento
“mítico” cristão, que tornou possível a civilização ocidental, encontre-se sob cerrados
e viscerais ataques culturais, políticos e jurídicos, entre outros, oriundos de múltiplas
fontes simultaneamente; não somente por parte do marxismo cultural gramsciano ou
frankfurtiano, mas também, do materialismo promovido pela economia liberal e por
parte de grandes metacapitalistas bilionários como George Soros e famílias
dinásticas tais como Rockfeller e Rothschild que encabeçam centenas de outras
famílias cujo propósito megalomaníaco consiste, nada mais nada menos, na criação
de uma nova civilização pós-cristã e anticristã. Sem mencionar os ataques das
religiões orientais que, como o hinduísmo, vêm travestidas de pura ciência no bojo
de movimentos esotéricos como a Nova Era.
Portanto, esta conclusão foi também o grande objetivo proposto por este
trabalho e acreditamos que o tenhamos alcançado em medida considerável e
suficiente para que possamos manter uma posição e opinião favoráveis em relação
aos princípios e valores cristãos tidos como imprescindíveis para a civilização. Não
que a tenhamos forçado, de modo algum, mas após décadas de leituras
precedentes, ainda que esporádicas, a respeito do assunto, esta conclusão se
impunha como uma tese a ser examinada. Nosso objetivo, portanto, foi verificar e
comprovar esta tese usando fontes bibliográficas não comprometidas com o
stablishment ideológico e cultural ainda vigente no país. Embora, possivelmente,
este objetivo não tenha sido alcançado com maior amplitude e fundamentação no
caso de que houvéssemos, como planejado a princípio, abordado separadamente os
outros dois pilares da civilização ocidental, relativos às contribuições gregas e
romanas, além de outras contribuições minoritárias de diversas culturas.
Infelizmente, isto não foi possível por falta de quórum que integrasse um grupo de
pesquisas para a divisão das tarefas. Deste modo, a fim de aprofundar o tema e,
assim, fornecer uma fundamentação confiável das informações correntes neste
100
trabalho, preferimos nos ater ao pilar que pareceu, num primeiro momento, central e
que, no decorrer da pesquisa, se confirmou como tal, a saber, o cristianismo.
101
coração dos alunos desde a mais tenra idade, inclusive por meio da doutrinação
materialista, cientificista e marxista nas escolas e universidades.
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, Olavo de. Civilização superior. 2016. Mensagem postada pelo autor na
rede social Facebook em 2 fev. 2016; 15:06. Disponível em:
<https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/592194487599296>. Acesso em:
20 set. 2010.
CARVALHO, Olavo de. O Ocidente unificou o mundo. Olavo de Carvalho Notas das
redes sociais reunidas, 16 set. 2015. Disponível em:
<https://olavodecarvalhofb.wordpress.com/2015/09/16/o-ocidente-unificou-o-
mundo/>. Acesso em: 24 jun. 2018.
103
Direita Realista. A Igreja Católica: Construtora da Civilização (Completo e
Legendado). 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=ng8dume3V6k&t=4307s>. Acesso em: 24 de
jun. 2018.
FLOWERS, Betty Sue (Org). O poder do mito / Joseph Campbell, com Bill Moyers.
Tradução de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1990
GHANI, Alan. Por que George Soros financia movimentos de esquerda? Entenda.
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financia-movimentos-esquerda-entenda>. Acesso em: 24 de jun. 2018.
NUNES, Augusto. O vídeo revela por que Marilena Chauí, a musa do PT, odeia a
classe média. Mai. 2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/augusto-
104
nunes/o-video-revela-por-que-marilena-chaui-a-musa-do-pt-odeia-a-classe-media/>.
Acesso em: 24 de jun. 2018.
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