21/12/2017

Conceitos Principais da
Psicanálise
Prolegômenos para uma Psicoterapia Psicodinâmica Breve
Freud, Klein, Bion e Winnicott

O que vive fere.

O homem,
porque vive
choca com o que vive.
Viver é ir entre o que vive...
... O que vive choca,
tem dentes, arestas, é espesso
como um cão, um homem
como aquele rio.
João Cabral de Melo Neto

Pinturas de Oswaldo Guayasamin

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“Conteúdos” do Aparelho psíquico

• Em nosso aparelho psíquico circulam
Ideia
ideias, ou seja, representações
Representação mentais de percepções, de
pensamentos, de palavras, etc.;

Afeto • Cada representação está ligada a uma

Carga energética carga energética, afetiva, que
determina o colorido e a intensidade
emocional dessa em nossa vida;

• As ideias se conectam umas as

outras, formando redes de
associações.

Formas de Associações de ideias

• Processo primário: mais primitivo, inconsciente. A energia psíquica escoa
“livremente” buscando satisfação. Baseia-se no princípio do Prazer.
• Deslocamento: a carga afetiva da representação é deslocada para outra, que passa
a ter o seu valor afetivo (amoroso, fóbico, agressivo, persecutório, etc.);
• Condensação: Combinação de um conjunto de representações, que passam a valer
como “um só”;
• Complexos: Agrupamento de representações associadas, geralmente muito
investidas afetivamente, que podem influenciar comportamentos e pensamentos
conscientes.
• Processo secundário: desenvolvido durante a maturação emocional do
sujeito. Pensamento racional, que envolve a lógica consciente. A energia
psíquica escoa de forma “ligada”, e sua satisfação é adiada. Baseia-se no
Princípio de Realidade.
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Primeira Tópica – Qualidades Psíquicas

• De acordo com Freud, todo conteúdo
ideacional (ideias, fantasias, desejos,
CS etc.) pode se encontrar em três
PCS qualidades diferentes:
• Consciente: o conteúdo é acessado
ICS diretamente, estamos conscientes dele;
• Pré-consciente: é aquilo que não está
diretamente consciente, mas que não foi
reprimido e pode ser acessado a qualquer
momento;
• Inconsciente: é todo conteúdo que se
encontras inacessível à consciência, por
ter sido reprimido ou devido seu caráter
pulsional ou arcaico.

Segunda tópica – Instâncias psíquicas

• Id: Sede das pulsões, é a instância que
REALIDADE está mais em contato com o corpo e as
necessidades básicas. Também é onde
CS fica o conteúdo reprimido;
PCS EGO
• Ego: É a instância mediadora, que busca
ICS
conciliar as demandas pulsionais do Id, as
S. Ego

exigências do Superego e as
possibilidades e limites da realidade;

• Superego: Instância formada à partir da

ID resolução do Complexo de Édipo, a partir
da introjeção e identificação com as
figuras parentais. Sede da auto-
observação, da consciência moral e dos
modelos (Ideal de ego).
P. DE VIDA P. DE MORTE
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Psicodinâmica
REALIDADE
• Os sintomas são formados a partir
SINTOMA de conflitos psíquicos, resultantes
CS
PCS
de pressões sofridas pelo ego a
EGO
partir das instâncias inconsciente e
DEFESAS PSI
ICS
da realidade;
S. Ego

PULSÕES, QUE SE
MANIFESTAM ATRAVÉS
DE FANTASIAS • O Ego defende-se dessas pressões
ID através de mecanismos de defesa,
através dos quais visa encontrar
possíveis “acordos” que diminuam
o mal-estar psicológico.

Psicodinâmica
• Angústia:
REALIDADE
CS PERCEPÇÕES • Por um lado, ela é decorrente do excesso
de estimulação psíquica devido a uma
PCS EGO situação traumática;
EXIGÊNCIAS DEFESAS PSI • Por outro, ela atua como sinal, frente a
ICS ameaça do rompimento de uma angústia
S. Ego

maior, levando ao processo defensivo;

ANGÚSTIA-SINAL
FANTASIAS • Durante a vida, inúmeros perigos capazes
de suscitar uma situação traumática são
situações de fragmentação e de perda, e
ID variam conforme a história de vida:
nascimento, perda da mãe como objeto,
perda do pênis (complexo de castração),
perda do amor do objeto, perda do amor
do superego.
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Desenvolvimento Libidinal
• Desenvolvimento Libidinal:
REALIDADE • Durante o desenvolvimento, a libido e
CS suas formas de relação com os objetos vão
PCS
se alterando;
EGO
DEFESAS PSI • O que marca cada fase é a zona erógena
de maior importância e as atitudes ligadas
ICS
S. Ego

às formas de satisfação;
Pusão ligada a
fantasias infantis
• Quando há excesso de satisfação
(intrusiva) ou insatisfação, podem haver
ID fixações, complexos de fantasias e energia
libidinal acumulada que interfere na
formação da personalidade, no
desenvolvimento maduro das formas de
FIXAÇÕES
relação objetal e nos possíveis sintomas
psicopatológicos.

Estrutura Psíquica e Dinâmica Psíquica

• Processo de Identificação:

• Frente às diversas vivências do sujeito, ele vai se identificar com alguns

aspectos dos seus objetos de desejo, sobretudo os pais;
• A identificação é uma forma de “ser” aquilo que não pode “ter”. Assim, ao
final do Complexo de Édipo, a criança se identifica com aspectos de seus
pais, formando assim a estrutura do superego;

• O Ego e o Superego são formados de duas formas:

• O ego, no contato com a realidade, exigindo a mente adaptar-se ao excesso de
estimulação;
• O Ego e o Superego, através da identificação, que permite o desenvolvimento da
estrutura psíquica;
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Estrutura Psíquica e Dinâmica Psíquica

• Pode-se, portanto, avaliar o aparelho psíquico de duas maneiras, para poder
diferenciar os tipos de fenômenos mentais:
• Dinâmico:
• Diz respeito ao jogo de ideias e de afetos, suas relações, combinações e conflitos no aparelho
mental;
• O Ego tem de ser capaz de dar vazão ao excesso de energia psíquica, através de “acordos”
com o Id, o Superego e a Realidade;
• Os conflitos precisam ser resolvidos, simbolizados ou defendidos de formas mais maduras e
adaptadas;
• Excessos de conflitos e dificuldade em solucioná-los leva a surgimento de angústias e
sintomas.
• Estrutural:
• Diz respeito à forma na qual a mente, através das identificações, foi se estruturando;
• Diz respeito aos aspectos mais duráveis da personalidade, e podem ser tanto saudáveis
quanto patológicos;
• Podem ser avaliados a partir da integridade da estrutura e dos traços caracteriológicos.

Desenvolvimento do aparelho mental

• Diferenciação entre “interior” (aparelho mental e objetos internos) e “exterior”
(Realidade, incluindo os objetos externos);
• A fantasia é uma forma de “leitura” da realidade, com base nas disposições pulsionais
internas. São, portanto, a forma na qual as pulsões se manifestam no psiquismo – Realidade
psíquica;

• Integração das vivências pulsionais parciais, com objetos também parciais, em

uma relação pulsional genital com um objeto total;
• Passagem de defesas mais primitivas para defesas mais maduras;
• Ultrapassagem do Princípio do prazer (nunca total) para o Princípio de
Realidade;
• Desenvolvimento de uma capacidade interna de tolerância à Frustração.
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Desenvolvimento do aparelho mental

“Um prazer momentâneo, incerto de seus resultados, é abandonado,

mas apenas a fim de ganhar mais tarde, ao longo do novo caminho,
um prazer seguro”
(Freud, 1911, p.242)

A “quarta instância” da mente: A Realidade

• A realidade é considerada aqui parte da mente não porque sua existência é
psicológica, mas porque ela afeta diretamente a forma na qual a mente se
estrutura e lida com seus conflitos;

• Na avaliação da dinâmica psicológica, deve-se levar em conta os

elementos externos (relações interpessoais, situação socio-econômica,
etc.);

• Hartmann: Determinadas estruturas sociais atuam seletivamente no

surgimento de transtornos psíquicos, inibindo a emergência de atitudes
adaptativas;
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A “quarta instância” da mente: A Realidade

Psicodinâmica Dinâmica da vida Cotidiana

• Condições de vida:
• Depende de fatores disposicionais: • Constelação de vínculos interpessoais do grupo
• Hereditários; primário (pais, irmãos, esposa, filhos, etc.);
• Desenvolvimento Libidinal Infantil. • Condições socioeconômicas (moradia, financeiro,
• Tais fatores determinam uma estrutura e uma acesso a bens e direitos básicos);
psicodinâmica particular do sujeito; • Perspectivas de futuro (Planejamento prospectivo da
• Esses fatores determinam zonas fragilizadas e zonas vida);
adaptadas da personalidade. • Tensões de seu grupo social (Preconceitos, violência
intra e extra-familiar, situações de guerra ou
emergência, etc.);
• Cultura Particular (religiosidade, hábitos, moral, etc.).
• Esses fatores podem agravar determinadas fragilidades
psicodinâmicas, dificultar/facilitar processos de melhora.

A doença irrompe a partir da relação multifatorial dos componentes psíquicos e da vida cotidiana.

Contribuições de Klein (Resumo)

• Relações de Objeto: Klein considera mais o ponto de vista da relação
com os objetos internos que a disposição pulsional;

• Nas relações objetais, marcadas tanto pelas pulsões de vida (sexuais,

amorosas, ternas) quanto pelas pulsões de morte (auto e hetero
agressividade), pode-se, com a frustração da primeira e o aumento
da segunda, aumentar o nível de angústia;

• A forma na qual essa relação se dá, as angústias determinantes, as

defesas principais se organizam, nos primeiros meses de vida, em
duas posições psicológicas.
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Contribuições de Klein (Resumo)

Posição esquizoparanoide Posição Depressiva

• Relação objetal: Marcada pela agressividade sem controle,
que é projetada nos objetos que frustam seu desejo,
considerados como maus, em relação aos objetos que
satisfazem o desejos (considerados bons). Os objetos são
considerados parcialmente (seio, pênis, fezes, etc.);
• Relação objetal: Marcada pela percepção do objeto bom e
mau (a mãe) como uma totalidade. A criança sente culpa da
agressividade projetada na mãe, buscando “reparar”
simbolicamente os danos.

• Sentimento de base: Inveja, a expressão da agressividade.
• Angústia principal: de aniquilamento ou de desintegração;
persecutória (devido ao “retorno” das fantasias destrutivas
projetadas).
• Defesas principais: splitting (ou cisão, significa dividir o
objeto entre o que é bom e o que é mau, o que leva a
também uma cisão do sujeito entre suas partes libidinais e
agressivas); projeção, introjeção, idealização, negação,
identificação projetiva;
• Sentimento de Base: Culpa, devido a percepção do dano ao
objeto.
• Angústia principal: Depressiva, medo de separação e de
perda do objeto, que desperta o sentimento de culpa. Vem
da fantasia de que o sujeito, por sua agressividade, destruiu
os objetos bons, enquanto que os maus formam um
superego cruel.
• Defesas principais: maníacas (reparação maníaca) e
Reparação. Após uma boa resolução do luto patológico,
poder surgir o sentimento de gratidão em relação ao objeto
bom e tolerância da angústia a perda.

Bion – Alguns conceitos

• Um dos conceitos mais importantes para Bion é o desenvolvimento do “processo do
pensar”;

• Para Bion, o processo de pensar depende do resultado satisfatório de dois

desenvolvimentos mentais básicos:
• Desenvolvimento dos pensamentos (o conteúdo da mente);
• A emergência de um“aparelho” que os pense (continente, capaz de conter a angústia);

• A capacidade de tolerar a frustração, possibilita que o psiquismo desenvolva o

pensamento como um meio através do qual a frustração que for tolerada se tornará
mais tolerável;

• A incapacidade de tolerar a frustração faz com que a balança se incline no sentido da

fuga à frustração. O resultado é o afastamento da realidade (afastamento do
pensamento no princípio da realidade).
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Bion – Alguns conceitos

α α α α
α α • Elementos Beta (β): São as sensações e
α α α αα
α α α α αα α α α α sentimentos não processados, não
pensados.
• Elementos alfa (α): São os pensamentos,
que foram pensados no aparelho de
pensar;
• Inicialmente, o bebê não tem capacidade
de lidar com as sensações de desprazer
β (fome, sede, dor, frustração, etc.). Ele
β β projeta na mãe tais frustações, e ela tem
β β β que “pensar por ele”, ou seja, transformar
β tais sensações em pensamentos e daí em
ação (amamentar, cuidar, etc.). Ela
devolve tais pensamentos em ações, e o
Através da maternagem, a mãe auxilia o bebê a tolerar as bebê vai aos poucos construindo seu
aparelho de pensar.
frustrações e a pensar sobre elas.

Winnicott – Alguns conceitos

• Desenvolvimento Emocional: Processo no qual o bebê, através do
cuidado materno, desenvolve três importantes qualidades psíquicas:
• Integração: criação de um Self unificado, separado do fora;
• Personalização: Unificação corporal e da parceria psicossomática;
• Realização: reconhecimento do fora e da existência do outro exterior a mim.

• Em um segundo momento, Dá-se o desenvolvimento do

Concernimento, ou seja, a capacidade de culpa, de que a
destrutividade é uma agressividade ao outro, e portanto da
capacidade de compreender a existência dos outros.
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Winnicott – Alguns conceitos

• Segundo Winnicott, para que se dê um bom desenvolvimento
psicológico é necessário que haja uma boa maternagem, efetuada
por uma mãe suficientemente boa;

• Não é necessário habilidades além do comum; uma mãe devotada

comum é suficiente para auxiliar o bebê em seu desenvolvimento
psicológico;