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RESUMO
Este estudo apresenta um balanço sobre a experiência brasileira com a Regra de Ouro e aponta desafios para
evitar seu descumprimento. Primeiramente, faz-se uma comparação da regra brasileira com sua configuração
clássica. São destacadas as peculiaridades da experiência brasileira que viabilizam sua convivência com
investimentos públicos deprimidos, elevados déficits correntes e crescente endividamento, em contraste com
os princípios preconizados pela configuração clássica de Regra de Ouro. Em seguida, são analisados os fatores
condicionantes da margem de cumprimento da Regra de Ouro de 2005 a 2017, além de cálculos alternativos
caso fossem eliminadas suas peculiaridades. Ademais, apresenta-se um exercício de simulação que sugere
insuficiência de recursos para cumprimento da Regra de Ouro em todos os anos de 2018 até 2024. Diante
deste quadro, o estudo analisa desafios tanto de curto prazo quanto aqueles de caráter mais estrutural, e que
impõem obstáculos ao cumprimento da regra fiscal.
1
Este Estudo da IFI enquadra-se na Resolução nº 42/2016, Artigo 1º, Inciso II, que fixa como uma das funções da IFI analisar a aderência do desempenho de
indicadores fiscais e orçamentários às metas definidas na legislação pertinente.
2
Analista da IFI.
3
Diretor-Executivo da IFI.
4
Diretor da IFI.
5
Diretor da IFI.
COMISSÃO DIRETORA DO SENADO FEDERAL
PRESIDENTE
1º VICE-PRESIDENTE 2º SECRETÁRIO
2º VICE-PRESIDENTE 3º SECRETÁRIO
Senador João Alberto Souza (PMDB-MA) Senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
1º SECRETÁRIO 4º SECRETÁRIO
SUPLENTES DE SECRETÁRIO
1º SUPLENTE 3º SUPLENTE
2º SUPLENTE 4º SUPLENTE
Secretário-Geral da Mesa
Diretora-Geral
Ilana Trombka
Diretor-Executivo
Diretores-Adjuntos
Analistas
Daniel Veloso Couri | Josué Alfredo Pellegrini | Rafael da Rocha Mendonça Bacciotti
Layout: SECOM/COMAP
ESTUDO ESPECIAL Nº 5
ABRIL DE 2018
Sumário
3
ESTUDO ESPECIAL Nº 5
ABRIL DE 2018
Introdução
Feitos estes esclarecimentos, a Seção III analisa a evolução nos últimos anos
dos principais condicionantes da margem de cumprimento da Regra de Ouro, além de
6
Artigo 167, Inciso III, da Constituição Federal de 1988, cuja redação também estabelece uma exceção para operações de crédito
autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria
absoluta.
7
Apesar da Regra de Ouro se aplicar às três unidades da federação, o foco de análise deste estudo recai exclusivamente sobre o
governo federal.
8
A utilidade deste tipo de orçamento dual vem sendo debatida pelo menos desde as décadas de 1930/40, por autores renomados
como Musgrave (1939; 1959, p. 556-575) e Keynes (1980, p. 405-407), considerados respectivamente os fundadores da teoria
moderna das finanças públicas e da teoria macroeconômica, e mais recentemente Blanchard e Giavazzi (2004).
4
ESTUDO ESPECIAL Nº 5
ABRIL DE 2018
apresentar cálculos alternativos desta margem, caso se deseje eliminar algumas das
peculiaridades que facilitam seu cumprimento. A Seção IV trata de desafios para o
cumprimento da Regra nos próximos anos, dividindo-os entre os mais imediatos, a serem
enfrentados já nos anos de 2018 e 2019, e aqueles mais estruturais. Seguem-se as
considerações finais.
5
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∆𝐷 = 𝐷𝑃 + 𝐽
As despesas públicas podem ainda ser divididas entre as correntes, que não
contribuem para a formação ou aquisição de bens de capital, e as de capital, que são aquelas
que contribuem para a formação ou aquisição de bens de capital. Os principais exemplos de
despesas de capital são os investimentos públicos relacionados à execução de obras ou
aquisição de equipamentos (rodovia, trator, hidrelétrica etc.) que têm como contrapartida
a aquisição de um ativo fixo a ser contabilizado no patrimônio do setor público. Ao contrário
do dispêndio de recursos financeiros em despesas correntes que não geram esta
contrapartida e apenas reduzem o patrimônio líquido do setor público.
𝐷𝐶 = 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝐼
sendo que um valor positivo indica um orçamento corrente deficitário (𝐷𝐶 > 0) e caso
contrário estará equilibrado (𝐷𝐶 = 0) ou superavitário (𝐷𝐶 < 0).
Estas duas expressões nos ajudam a compreender a lógica por trás da Regra
de Ouro. Na sua configuração clássica, a regra estabelece que o governo só pode aumentar
seu endividamento (líquido) até o limite das despesas com investimentos públicos:
∆𝐷 = 𝐷𝑃 + 𝐽 ≤ 𝐼 (1)
Situação que será alcançada se, e somente se, o orçamento corrente não
apresentar um déficit:
9
Por simplicidade, admitimos que as únicas despesas de capital são os investimentos públicos e que não há receitas de capital. É
possível ampliar os conceitos de receitas e despesas de capital sem perda de generalidade da exposição.
6
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𝐷𝐶 = 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝐼 ≤ 0 (2)
sentido de que sua taxa de retorno social – considerando-se tanto os retornos financeiros
da exploração direta do ativo público quanto os retornos indiretos via ampliação da base
tributável causada pela sua capacidade de promover crescimento econômico – deve cobrir
os fluxos de custos financeiros do endividamento, operacionais e de manutenção do ativo.
Se esta condição intertemporal for satisfeita, o valor presente dos projetos de investimentos
(líquidos da sua depreciação) superará o valor presente do seu financiamento e, por
conseguinte, a Regra de Ouro torna-se compatível com a sustentabilidade da dívida pública
no médio e longo prazos.
A principal crítica deriva da cláusula escape muito vaga que permitiu seu uso
excessivo, de modo que a Regra de Ouro acabou impondo limite ao déficit orçamentário
apenas nos “tempos normais”. Segundo Truger (2015), a regra foi transgredida em quase
metade dos anos em que vigorou e, mesmo tendo contribuído para proteger e estabilizar o
investimento público, não preveniu o crescente endividamento. A dívida pública saltou de
algo próximo a 20% do PIB no início dos anos 1970 para cerca de 80% do PIB em 2010,
ainda que em parte pressionada por eventos ligados ao processo de reunificação Alemã na
década de 1990 e à crise internacional de 2008. Isto motivou uma reforma por meio de uma
emenda constitucional em 2009 introduzindo uma nova regra fiscal denominada debt-
brake.
9
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Conforme discutido por Chote et. al. (2009), a Regra de Ouro foi cumprida
no seu primeiro decênio (anos-exercícios orçamentários de 1997/1998 a 2006/2007)
quando se verificou um superávit corrente médio positivo de 0,14% do PIB e que coincide
com a datação do ciclo econômico definida à época. Contudo, o cumprimento foi
influenciado, em grande medida, pelo ajuste fiscal promovido no início do período de
vigência da regra, que gerou superávits correntes próximos a 2% do PIB na virada dos
anos 2000, mas que caíram gradualmente ao longo do período restante (inclusive com
déficits contínuos a partir do ano-exercício 2002/2003). No decênio como um todo, os
investimentos públicos apresentaram tendência de recuperação (em relação aos
patamares deprimidos de meados da década de 1990) e a dívida permaneceu abaixo do
seu teto legal em praticamente todo o período.
deveria apontar um início de uma trajetória de queda a partir do último destes anos. Outra
inovação importante foi a criação de uma instituição fiscal independente, denominada
Office for Budget Responsability (OBR), que passou a ser responsável por prover
estimativas oficiais de resultado estrutural (ajustado ao ciclo) e demais projeções
necessárias para avaliar o cumprimento das novas regras fiscais. Com isto, buscava-se
remover a possibilidade de que motivações políticas fossem introduzidas nas projeções
econômico-fiscais e ainda promover transparência fiscal (Emmerson et. al., 2013).
12
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A análise das fontes financeiras será feita com mais detalhes na Seção III. Enquanto a Seção IV analisa uma variante de receita
financeira que é o recurso às disponibilidades acumuladas na Conta Única, medida que vem sendo estudada pelo governo para ser
adotada ainda no ano de 2018.
13
ESTUDO ESPECIAL Nº 5
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∆𝐷 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝑅𝐹
que reduzem a pressão do déficit primário (𝐷𝑃) e das despesas de juros nominais (𝐽) sobre
a variação do endividamento público (∆𝐷). As fontes financeiras podem ser alocadas para
cobrir despesas primárias, juros ou para amortizar o principal da dívida pública (a depender
das vinculações de cada uma destas fontes) e, consequentemente, reduzem a necessidade
de novas operações de crédito. Vale esclarecer que tomamos como base o conceito mais
difundido internacionalmente para nos referir aos juros nominais líquidos (𝐽), que
considera o total dos juros pagos aos credores da dívida pública (incluindo tanto os juros
reais quanto a atualização monetária do principal da dívida) e deduz os juros recebidos pelo
Tesouro Nacional dos seus devedores. Da mesma forma, tomando como base o conceito
mais difundido internacionalmente, o déficit corrente (𝐷𝐶) pode ser aproximado por:
𝐷𝐶 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝐼 − 𝐷𝐾
cujo cálculo corresponde a primeiro somar o déficit primário (𝐷𝑃) e os juros nominais (𝐽),
e depois subtrair os investimentos públicos (𝐼) e as demais despesas primárias de capital
(𝐷𝐾).11
∆𝐷 ≤ 𝐼 + 𝐷𝐾 + 𝐷𝐹 + 𝐴𝑀 (3)
Por sua vez, a restrição que a Regra de Ouro impõe sobre o déficit corrente
também deve ser readaptada e passa a ser definida por aproximadamente:13
𝐷𝐶 ≤ 𝑅𝐹 + 𝐷𝐹 + 𝐴𝑀 (4)
11
A rigor, seria necessário considerar o efeito das receitas primárias de capital. Porém, seu montante é pouco significativo e foi
omitido para fins de simplificação.
12
Para simplificar, omitimos algumas rubricas menos expressivas em termos de volume e também as despesas com amortização do
principal da dívida (resgates e refinanciamentos) cuja dupla natureza afeta os dois lados da equação e, portanto, tem efeito nulo
sobre a Regra de Ouro. Portanto, o termo ∆𝐷 se refere às operações de crédito líquidas das emissões para resgatar ou rolar títulos
vicendos.
13
Mais formalmente, tem-se: ∆𝐷 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝑅𝐹 ≤ 𝐼 + 𝐷𝐾 + 𝐷𝐹 + 𝐴𝑀. Rearranjando os termos desta expressão chega-se à
expressão 4: 𝐷𝐶 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽 − 𝐼 − 𝐷𝐾 ≤ 𝑅𝐹 + 𝐷𝐹 + 𝐴𝑀. Note-se que, como o conceito utilizado é de juros nominais líquidos (𝐽),
os juros recebidos pelo Tesouro dos seus credores estão aí considerados. Por isto, o termo Receitas Financeiras (𝑅𝐹) na expressão
4 exclui estes juros e considera fundamentalmente as amortizações de empréstimos recebidas pelo Tesouro e as fontes relacionadas
ao Banco Central.
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De acordo com cálculos próprios a partir das informações orçamentárias que consideram juros reais de R$ 204,9, atualização
monetária do principal da dívida de R$ 151,2 bilhões (registradas entre as amortizações) e juros recebidos de R$ 30,7 bilhões. Este
valor calculado em 2016, R$ 325,4 bilhões, embora obtido por critérios distintos, é próximo ao dado do Banco Central para o ano
(R$ 323,2 bilhões). Na Seção IV explicaremos melhor as diferenças entre estes critérios de contabilização orçamentário e do Banco
Central.
15
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Uma referência complementar a este estudo é Pires (2018) que avança sobre as implicações das peculiaridades da Regra de Ouro
brasileira sobre a sustentabilidade da dívida pública. Carvalho Junior et. al. (2017) é outra referência importante para considerações
históricas e doutrinárias.
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Conforme definição dada pela Resolução nº 48/07 do Senado Federal, empresas estatais dependentes são aquelas que tenham
recebido recursos de seu controlador para pagamento de despesas de pessoal, custeio em geral ou de capital, excetuado aquelas
destinadas a ampliação da participação acionária, no exercício anterior e tenham, para o exercício corrente, autorização
orçamentária para recebimento de recursos com idêntica finalidade.
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Orçamentária (RREO) do Governo Federal. Esta apuração é feita de maneira direta pela
comparação entre os volumes de operações de crédito e de despesas de capital.
𝑂𝐶 ≤ 𝐼 + 𝐷𝐾 + 𝐷𝐹 + 𝑃 + AM (5)
A margem de cumprimento da Regra de Ouro pode então ser definida como
o excesso de despesas de capital em relação às operações de crédito. Como as operações de
crédito não podem superar as despesas de capital (“lado direito da equação”) sob pena de
violar a Regra de Ouro, quanto maior forem tanto os investimentos quanto as demais
despesas de capital - com impacto primário ou financeiro -, tão maior será a possibilidade
de expansão do fluxo de operações de crédito.
Além disto, existem dívidas antigas cujo principal pode ter sido quitado ou
refinanciado como, por exemplo, um título público que foi resgatado ou rolado. Caso o
principal seja quitado, há uma redução do estoque da dívida pública. Se, em seguida, houver
seu refinanciamento, o estoque da dívida se expande, de tal forma que o impacto decorrente
da troca de uma dívida antiga por uma nova será nulo. Sendo assim, faz-se necessário
deduzir as amortizações do principal da dívida (𝑃) do total das operações de crédito (𝑂𝐶)
para se obter a variação da dívida pública (∆𝐷):
∆𝐷 = 𝑂𝐶 − 𝑃.
Além disto, a seção anterior revelou que a variação da dívida (∆D) sofre
influência, além do déficit primário (DP) e do pagamento de juros nominais (JN), do volume
de receitas financeiras (RF). A inclusão destas receitas faz com que a variação da dívida não
seja exatamente igual ao déficit nominal (DN) reportado nas estatísticas fiscais. Ou seja:
∆𝐷 = 𝑂𝐶 − 𝑃 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽𝑁 − 𝑅𝐹
𝐷𝑁 = 𝐷𝑃 + 𝐽𝑁,
onde:
𝐽𝑁 = 𝐽𝑅 + 𝐴𝑀.
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𝑂𝐶 = ∆𝐷 + 𝑃 ≅ 𝐷𝑃 + 𝐽𝑅 + A𝑀 − 𝑅𝐹 + 𝑃 ≤ 𝐼 + 𝐷𝐾 + 𝐷𝐹 + 𝑃 + AM
𝐷𝑃 + 𝐽𝑅 − 𝑅𝐹 ≤ 𝐼 + 𝐷𝐾 + 𝐷𝐹 (6)
17
A esse respeito, destaca-se apresentação do Tesouro Nacional de outubro/17, onde foram avaliadas as principais pressões para o
cumprimento da regra de ouro através do cálculo indireto. Disponível em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br.
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160
Investimentos
136 132
140 Inversões financeiras (desp. primária) 123
Inversões financeiras (desp. financeira) 115 116
120 110
Total 53
100 90 90 45 57
77 80
62 62
80 62
65 34 11 16
38
31 19
60 47 39
28 2
39 3 3 8
11 15
40 2
25 3 67 67
20 53 56
2 46 48 45
20 2 34 36 38 38
17 20
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
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18O FAR é um fundo de natureza privada criado com o objetivo de prover recursos para o programa de arrendamento residencial
e minha casa minha vida (MCMV). A administração do FAR é feita pela Caixa, cujo destino dos recursos é atender indivíduos com
renda familiar bruta mensal per capita de R$ 1.800.
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800
284
300 193 160
97 91 100 96 62 86
1 3 1 29
-200
-700
-1.200
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
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400
Retorno de dív. de médio e LP (inclui devolução BNDES)
324 320
Amortização e juros de E&M
300 Remuneração da Conta Única 38
Resultado do Bacen 249 256
18
Total 219 22 154
23
40 93
200 39 167
26
147
29 126 40 72 18
114 27
29 37 42
100 70 65 94
51 56 29 33 175
151 147 57
23 55 123
18 22 26 43
15 47 46 54
16 36 25 27 22 36
0 8 1 0 3
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: Siga Brasil. Elaboração: IFI.
2,0
0,0
-2,0
-4,0
-6,0
-8,0
-10,0
2013
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2014
2015
2016
2017
Fonte: Banco Central Elaboração: IFI
400
300
200
100 29
-100 -25
Cálculo oficial
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20
Veja aqui o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) nº 14 –
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/539124/RAF_14_2018.pdf
21
Veja aqui o Relatório do Tesouro Nacional (RTN) de dezembro de 2017 (apresentação) –
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/314885/Dez2017.zip/7704e583-51bb-496a-943d-7790f2dc5ce1.
27
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Econômico22, também relatou que o governo estaria trabalhando com essas quatro
alternativas:
Na presente seção, discutiremos cada uma dessas medidas. Para este ano,
mesmo contabilizadas as receitas financeiras decorrentes do repasse do lucro do Banco
Central e das devoluções de recursos por parte do BNDES, a regra poderá ser descumprida.
A insuficiência de recursos deve ficar em R$ 203,4 bilhões, segundo o governo, diminuindo
para R$ 73,4 bilhões caso o BNDES devolva os esperados R$ 130 bilhões. Ainda, se o déficit
primário ficar em R$ 143,8 bilhões, como prevê a IFI, e não em R$ 159 bilhões (meta legal),
esta insuficiência de R$ 73,4 bilhões, em 2018, cairia para R$ 58,2 bilhões. Na próxima
subseção, apresentaremos os cálculos da IFI para o ano corrente e para o longo prazo.
Para este ano, isso poderia ocorrer, por exemplo, através da edição de um
projeto de lei por parte do Poder Executivo propondo um crédito suplementar para
despesas previdenciárias. Para 2019, as discussões ainda se concentram no âmbito do envio
da peça orçamentária. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) teria de contemplar essa
possibilidade, ou seja, teria de nascer em desequilíbrio, prevendo uma adequação futura.
Por si só, o fato ensejaria um debate técnico e político intenso, podendo produzir
turbulências no complexo quadro econômico e fiscal interno. Há ainda quem aposte na
hipótese de dois orçamentos paralelos. A ideia seria trazer parte do orçamento do ano que
vem em forma de anexo, no PLOA, condicionando sua efetividade à obtenção de fontes de
recursos para execução das despesas ali indicadas.
22
Acesso à coluna “Medidas ajudarão na 'regra de ouro' em 2019”, de Ribamar Oliveira –
http://www.valor.com.br/brasil/5370707/medidas-ajudarao-na-regra-de-ouro-em-2019
28
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Disponível na apresentação dos resultados fiscais de janeiro deste ano. Disponível em:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/web/stn/-/historico-resultado-do-tesouro-nacional.
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Por força da LRF, esses recursos permanecem vinculados mesmo que sua
utilização ocorra em anos seguintes ao de ingresso. Os recursos vinculados e não
utilizados, acumulados ao longo dos anos, compõem as disponibilidades de caixa da União,
um estoque de recursos depositados no Banco Central rendendo receita de juros próxima
à aplicação da Selic25.
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97,1 bilhões, em 2017, de acordo com dados fornecidos mensalmente pela Secretaria do
Tesouro Nacional (STN)26. Apesar desta receita não possuir origem primária, ela pode ser
utilizada para pagar despesas não financeiras, abrindo espaço na Regra de Ouro.
25 De acordo com a MP 2.179/2001, a remuneração é calculada pela média ponderada da rentabilidade intrínseca dos títulos da
Dívida Pública Mobiliária Federal interna de emissão do Tesouro Nacional em poder do Banco Central do Brasil. Na prática, essa
taxa se aproxima, em média, da taxa Selic.
26 Acesse aqui as planilhas do Resultado do Tesouro Nacional (RTN) –
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/246449/Anexos+Jan+2018+RTN.xlsx/a60f5764-9aae-4883-9d01-
8344cd89eb81
27
A rigor, quando tomamos o Balanço Geral da União (BGU), em bases anuais, é possível acessar uma tabela contendo os dados
isolados do superávit financeiro – e não de todas as disponibilidades de caixa – mas o confronto dos números mostra uma
proximidade muito grande entre os valores. Como a tabela do RGF é mais detalhada e atualizada do que a do BGU, disponível ainda
apenas para 2016, optamos por usar os dados do RGF. Outro ponto relevante a considerar é a relação do conceito de disponibilidade
de caixa com a Conta Única da União. Os valores encontrados são próximos, mas há diferenças a considerar. Por exemplo, as
disponibilidades de caixa incluem determinados valores que não estão na Conta Única, como os depósitos do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT) no BNDES. Essas questões técnicas sobre os três conceitos serão tratadas em estudo futuro.
28
Relatório de Gestão Fiscal (RGF) de 2017 – https://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RGFCONS2017.pdf
31
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líquida = disponibilidade bruta menos restos a pagar menos demais obrigações”. Isto é,
somam-se todos os recursos vinculados aos recursos ordinários disponíveis, dos quais se
subtraem os pagamentos de restos a pagar processados e não processados e as demais
obrigações, resultando na disponibilidade líquida. Para o cálculo do total de recursos
potencialmente desvinculáveis, é necessário agregar as linhas B.8 e B.9 da Tabela 1 que
informam valores vinculados principalmente por lei e não pela Constituição.
Não
A 119,2 6,4 49,9 12,0 50,9
vinculados/ordinários
B = B.1
Vinculados 1.071,0 20,4 78,3 63,3 909,0
+...+ B.9
B.1 Educação 24,0 0,4 14,2 0,6 8,7
Seguridade Social (exceto
B.2 4,0 1,7 12,9 1,4 - 12,0
Previdência)
B.3 Previdência Social (RPPS) - 5,0 0,1 0,1 0,2 - 5,4
B.4 Previdência Social (RGPS) 15,5 16,1 0,1 0,7 - 1,4
Operação de Crédito e
B.5 635,4 0,5 23,3 6,6 605,0
Receitas Financeiras
Alienação de Bens e
B.6 0,6 0,0 0,1 0,3 0,3
Direitos
Transferências
Constitucionais e Legais a
B.7 12,8 - 9,3 0,0 3,5
Estados, DF, Municípios,
inclusive Fundos
Fundos, Órgãos e
B.8 323,4 1,6 18,2 23,1 280,5
Programas
Outros recursos 29,8
B.9 60,2 - 0,0 30,4
vinculados
C=A+B Total 1.190,2 26,8 128,2 75,3 959,9
D = B.8 +
B.9 Recursos vinculados totais 383,7 1,6 18,3 53,6 310,3
* A linha D representa o potencial de recursos a serem desvinculados, que não dependem de mudanças
Constitucionais.
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ESTUDO ESPECIAL Nº 5
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Para ter claro: no caso do resto a pagar não processado, que passou apenas
pela etapa do empenho, o cancelamento é mais fácil e, portanto, crível. Para entender a
lógica que acabamos de detalhar, apresentamos o diagrama 1 a seguir.
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O Banco Central, para controlar a inflação, realiza operações compromissadas com títulos públicos federais. O objetivo é manter
os juros praticados pelo mercado ao redor da meta Selic, fixada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) com vistas ao
cumprimento da meta de inflação. Assim, o Banco Central provê ou reduz liquidez de acordo com os movimentos no mercado
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aberto. No caso em tela, a desvinculação de recursos financeiros usados para financiar gastos produzirá um efeito expansionista
sobre a base monetária. Se o Banco Central não atuar, tem-se, em última análise, um desvio da Selic em relação à sua meta.
30
Há controvérsia sobre a forma de contabilização desses recursos, a partir da extinção do FSB. Quando criado, recursos do resultado
primário foram direcionados à sua formação (R$ 14,2 bilhões, à época equivalente a 0,5% do PIB). Ao extinguir o fundo, os recursos,
em sua maioria depositados na Conta Única do Tesouro, passariam a estar disponíveis para financiamento de despesas primárias. A
rigor, a definição de receita primária remonta à sua origem: quando não há redução de nenhum ativo para que ela seja produzida,
é dita primária (impostos, por exemplo). Quando há redução de um ativo (o FSB, no caso em tela), a receita é classificada como
financeira. Isso afetaria o resultado primário, vale dizer, mas não a regra de ouro.
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ESTUDO ESPECIAL Nº 5
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9,0 8,3
8,0
6,8 6,9
7,0
6,0
5,0 4,1 3,9 3,8
4,0
3,0 2,5
1,6 1,8 1,8
2,0 1,0 0,9 1,1 1,3 1,1
0,5 0,4
1,0 0,0 0,2 0,2
0,0
-1,0
Outro fator que aparta a Regra de Ouro brasileira de sua versão clássica é a
contabilização de inversões financeiras junto dos investimentos, incluídas nas chamadas
despesas de capital. Também a correção monetária da dívida (resultado da aplicação do IGP-
M sobre o estoque de endividamento) é contabilizada como despesa de capital. Isto é, numa
situação-limite, caso houvesse um pico inflacionário, a correção da dívida seria maior e isso
permitiria um aumento das operações de crédito, sem que tivesse ocorrido qualquer
elevação de investimento.
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O SIAFI é o sistema de dados do governo onde estão registradas todas as informações sobre a execução orçamentária; o SIGA-
Brasil, do Senado Federal, reproduz esse sistema, em plataforma mais acessível e com lógica própria.
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O método acima da linha apura o resultado fiscal a partir das receitas e despesas; enquanto o abaixo da linha corresponde ao
método de apuração do resultado fiscal a partir da variação do endividamento líquido.
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O Lado Esquerdo da regra (i.e, os fatores que estão por trás das operações
de crédito) é composto pelos juros reais (apurados no critério SIAFI) e pelo déficit primário
do Governo Federal. Desses dois componentes são subtraídas as principais receitas
financeiras: resultado do Banco Central; devoluções de recursos pelo BNDES; remuneração
da Conta Única; e juros e parcela da dívida dos Estados e Municípios pagos à União. Do Lado
Direito, estão as despesas de capital: investimentos e inversões financeiras. A insuficiência
e/ou excesso resultam da diferença entre o Lado Direito e o Lado Esquerdo. Valores
negativos indicam insuficiência de recursos para cumprimento da Regra de Ouro. Valores
positivos, excesso.
– http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/538087/RAF_13_2018.pdf
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35Veja aqui a apresentação do Resultado do Tesouro Nacional (RTN), de fevereiro de 2018, onde constam informações utilizadas
pela IFI para confecção da Tabela 3 - http://www.tesouro.fazenda.gov.br/web/stn/-/historico-resultado-do-tesouro-nacional
Veja aqui a apresentação da Coordenadoria da Dívida Pública Federal do Tesouro Nacional no 1º Seminário Internacional da Dívida
Pública, de onde extraímos parte das informações para a confecção da Tabela 3 –
http://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2431:9:0::NO:RP,2:P9_ID_EVENTO,P9_IN_AMBIENTE_PUBLICACAO,P9_ID_UNIDADE:610,2
,10&cs=19F2754C0E2BFE2B032330BC7A37735DD
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coluna “Tesouro” é uma estimativa feita pela IFI para o que seria o cálculo da Regra de Ouro
à luz dos dados disponíveis, isto é, não se trata de dado divulgado pela STN.
36O Tesouro, inicialmente, simulou uma insuficiência de R$ 184,3 bilhões, conforme apresentação realizada no 1º Seminário
Internacional da Dívida Pública, organizado pelo próprio órgão (ver links no rodapé nº 14). Em seguida, no Resultado do
Tesouro Nacional de dezembro de 2017, apontou insuficiência de R$ 208,6 bilhões. Finalmente, em fevereiro, soltou o
número mais atualizado, de R$ 203,4 bilhões, mas considerando apenas R$ 30 bilhões em devoluções do BNDES.
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Relatório de Avaliação Bimestral do Orçamento (1º bimestre) – http://www.planejamento.gov.br/assuntos/orcamento-
1/informacoes-orcamentarias/relatorios-de-avaliacao-fiscal
38
O acesso à tabela referida para 2017 pode ser feito no link abaixo:
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RREOdez2017.pdf
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112,9
A Regra de Ouro, segundo exercícios
100,0 85,8 de simulação da IFI, poderá ser
72,9 descumprida por sete anos, entre
2018 e 2024.
50,0 39,3 34,2
-
-0,7
-50,0 -35,0
-68,6 -67,8
-100,0 -90,5
-98,8
-115,0
-150,0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Estudo Especial apresentou um balanço sobre a experiência brasileira
com a Regra de Ouro e apontou desafios para evitar seu descumprimento nos próximos
anos. Inicialmente, apresentamos a lógica que está por trás da configuração básica da Regra
de Ouro, juntamente com um conjunto de argumentos contrários e favoráveis à sua adoção
presentes na literatura especializada. Em seguida, procuramos destacar duas
especificidades que fazem com que a experiência brasileira com a Regra de Ouro seja
distinta da configuração básica consagrada na literatura de finanças públicas.
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restrição imposta pela Regra de Ouro sobre o teto de déficit corrente acabou tornando-se
muito flexível.
1,8% e juros de 5,9% do PIB) com um volume muito inferior de despesas primárias de
capital da ordem de 0,8% do PIB (entre investimentos de 0,7% e demais despesas de 0,1%
do PIB). Para os próximos anos, o cenário básico da IFI, considerado o mais provável, projeta
consolidação fiscal apenas gradual, com convergência para um déficit nominal de 3% do PIB
somente em 2030.39 Isto sugere que o déficit corrente deve se manter nas próximas décadas
(a não ser sob uma hipótese pouco crível de crescimento muito intenso dos investimentos).
Depreende-se, portanto, que, caso se deseje promover eventuais alterações no arcabouço
institucional da Regra de Ouro brasileira no sentido de aproximá-la de sua configuração
clássica, será necessário um ajuste bastante intenso para equilibrar o orçamento corrente e
de difícil operacionalização no curto prazo.
BIBLIOGRAFIA
39
Estas projeções são publicadas periodicamente nos Relatórios de Acompanhamento Fiscal da IFI. Ver:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/538087/RAF_13_2018.pdf.
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MUSGRAVE, R. A. The nature of budgetary balance and the case for a capital-budget.
American Economic Review, 29, p. 260-71, 1939.
MUSGRAVE R. A. The Theory of Public Finance: a Study in Public Economy. New York:
McGraw-Hill, 1959.
PIRES, MANOEL. Uma análise da regra de ouro no Brasil. Instituto Brasileiro de Economia
(IBRE). Fundação Getúlio Vargas (FGV). Janeiro. 2018.
http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumPageId=402880972283E1AA0122841CE9191DD3&
lumItemId=8A7C82C55EC04CF10160D5949E7D7FEE.
TRUGER, A. Implementing the golden rule for public investment in Europe: Safeguarding
Public Investment and Supporting the Recovery. WWW For Europe, 2015. (Policy Paper, n.
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