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Damian Zane
A cineasta britânica-ganense
Amma Asante se deparou, por
acaso, com uma fotografia antiga,
tirada na Alemanha nazista, de uma
garota negra vestindo uniforme
escolar. Diferentemente das
colegas brancas que encaram a
câmera, ela desvia o olhar. A foto
despertou a curiosidade de Asante,
que quis saber mais sobre a garota.
A imagem a levou a escrever
e dirigir o longa Where Hands
Touch (Onde Mãos Tocam, em
tradução livre). O filme é um relato
imaginário do relacionamento secreto de uma adolescente mestiça com um
membro da Juventude Hitlerista, mas é baseado em registros históricos.
Durante o regime nazista, de 1933 a 1945, o número de alemães com origem
africanavivendo no país chegou à casa dos milhares. Ao longo do tempo, eles
foram proibidos de se relacionar com pessoas brancas e impedidos de ter acesso a
educação e a alguns tipos de trabalho. Alguns chegaram a ser esterilizados; outros
foram levados a campos de concentração.
'Descrença e desconsideração'
A história desses alemães negros ou mestiços ainda é pouco conhecida.
Asante levou quase 12 anos trabalhando no filme. "Há uma espécie de descrença,
de desconfiança e questionamento, uma tendência a dar pouca importância às
vidas difíceis que essas pessoas levaram", disse ela à BBC, ao comentar a reação
que observou de algumas pessoas quando falava sobre sua pesquisa para o filme.
A comunidade africana-alemã tem suas origens no curto período do Império
Colonial Alemão que, entre 1883 e 1919, administrou territórios em diferentes
continentes. Marinheiros, funcionários, estudantes ou pessoas do mundo do
entretenimento de regiões que hoje constituem países como Camarões, Togo,
Tanzânia, Ruanda, Burundi e Namíbia foram parar na Alemanha.
Quando a Primeira Guerra Mundial começou em 1914, essa população que
antes era transitória se assentou na Alemanha, segundo o historiador Robbie
Aitken. E alguns soldados africanos que lutaram pela Alemanha na guerra também
se instalaram no país europeu.
Mas foi um segundo grupo cuja presença acabou alimentando o temor dos
nazistas relacionado à miscigenação.
Como parte do tratado assinado depois da derrota da Alemanha na Primeira
Guerra Mundial, as tropas francesas ocuparam a Renânia, no oeste da Alemanha.
Para policiar essa área, a França usou pelo menos 20 mil soldados do seu império
na África, principalmente do norte e oeste do continente africano. Alguns deles
acabaram tendo relacionamentos com mulheres alemãs.
Caricaturas racistas
O termo pejorativo "bastardos da
Renânia" foi cunhado na década de 1920
para se referir às cerca de 800 crianças
mestiças, filhas de alemãs com os soldados
de origem africana.
O termo estava diretamente ligado ao
temor que muitos tinham da miscigenação,
de por em risco a "pureza" da raça alemã.
Histórias inventadas e caricaturas racistas
de soldados africanos como predadores
sexuais circulavam na época, alimentando o
medo e o ódio ao "estranho".
Enquanto o antis-semitismo ocupava
um lugar de destaque no coração da
ideologia nazista, o livro Mein Kampf, ou
"Minha Luta", do líder do Partido Nazista
Adolf Hitler, trazia uma linha ligando judeus
a negros.
"Foram e são os judeus que estão
trazendo os negros à Renânia sempre com os mesmos pensamentos secretos e
objetivo claro de arruinar a odiada raça branca pela resultante 'bastardização'",
escreveu Hitler na obra publicada em 1925 com suas ideias e crenças.
Uma vez no poder, a obsessão nazista com os judeus e a purificação da raça
levou, gradualmente, ao Holocausto e ao extermínio de seis milhões de judeus
durante a Segunda Guerra Mundial, além do extermínio de ciganos, de pessoas
com deficiências e de algumas etnias eslavas.
O historiador Robbie Aitken, que pesquisa a vida dos alemães negros, diz que
esse grupo também foi perseguido, ainda que não da mesma forma sistemática
dedicada à perseguição de judeus, por exemplo. Aitken diz que os negros
acabaram sendo assimilados pela "radicalização da política racial" dos nazistas.
REFERÊNCIAS
A vida dos negros na Alemanha nazista. Damian Zame. BBC News. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-
48363834 22 de maio de 2019