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NOTAS TEOLÓGICAS

A IMAGEM DE DEUS
Gn 1.27
As Escrituras ensinam (Gn 1.26-27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7; Tg 3.9) que Deus fez o homem e a mulher
à sua própria imagem, assim de que os seres humanos são semelhantes a Deus, como nenhuma
outra criatura terrena é. A dignidade especial dos seres humanos está no fato de, como homens e
mulheres, poderem refletir e reproduzir - dentro de sua própria condição de criaturas- os santos
caminhos de Deus. Os seres humanos foram criados com esse propósito e, num sentido, somos
verdadeiros seres humanos na medida em que cumprimos esse propósito. O que tudo envolve
essa imagem de Deus na humanidade não está especificado em Gn 1.26-27, mas o contexto da
passagem nos ajuda a defini-lo. O texto de Gn 1.1-25 descreve Deus como sendo pessoal,
racional (dotado de inteligência e vontade), criativo, governando o mundo que criou, e um ser
moralmente admirável (pois tudo o que criou é bom). Assim, a imagem de Deus refletirá essas
qualidades. Os versículos 28-30 mostram Deus abençoando os seres humanos que acabara de
criar, conferindo-lhes o poder de governar a criação, como seus representantes e delegados. A
capacidade humana para comunicar-se e para relacionar-se tanto com Deus como com outros
seres humanos aparece como outra faceta dessa imagem. Por isso, a imagem de Deus na
humanidade, que surgiu no ato criador de Deus, consiste em: (a) existência do homem como uma
"alma" ou "espírito" (Gn 2.7), isto é, como ser pessoal e autoconsciente, com capacidade
semelhante à de Deus para conhecer, pensar e agir; (b) ser uma criatura moralmente correta -
qualidade perdida na queda, porém agora progressivamente restaurada em Cristo (Et 4.24; CI 3.1
O); (c) domínio sobre o meio ambiente; (d) ser o corpo humano o meio através do qual
experimentamos a realidade, nos expressamos e exercemos domínio e (e) na capacidade que
Deus nos deu para usufruir a vida eterna. A queda deformou a imagem de Deus não só em Adão
e Eva, mas em todos os seus descendentes, ou seja, em toda a raça humana. Estruturalmente,
conservamos essa imagem no sentido de permanecermos seres humanos, mas não
funcionalmente, por sermos agora escravos do pecado, incapazes de usar nossos poderes para
espelhar a santidade de Deus. A regeneração começa em nossa vida o processo de restauração
da imagem moral de Deus. Porém, enquanto não formos inteiramente santificados e glorificados,
não podemos refletir, de modo perfeito, a imagem de Deus em nossos pensamentos e ações -
como tomos criados para fazer e como o Filho de Deus encarnado refletiu na sua humanidade (Jo
4.34; 5.30; 6.38; 8.29,46).

CORPO E ALMA, MACHO E FÊMEA


Gn 1.27; 2.7
Cada ser humano neste mundo é dotado déi:rí~rpo material animaoo por um eu pessoal imaterial.
As Escrituras chamam
este eu de "alma" ou ªespírito". "Almaª dá ênfase ãquilo que é distinto nâ personalidade
consciente de uma pes$oa; "espírito"
carrega consigo não s6 as nuances da personalidade derivadas de Deus, mas também a
dependência dele e a distinção do
corpo como tal.
O uso bíblico desses termos leva-nos a dizer que temos e somos tanto corpo, quanto alma e
espírito, mas é erro pellSar que
alma e espírito são duas coisas diferentes; o ponto de vista tricotomico do homem como corpo,
alma e espírito é incorreto. A
idéia comum de que a alma é apenas um orgão de percepção deste mundo, enquanto o espírito é
um órgão distinto, que nos
permite estabelecer comunhão com Deus, conduzido à vida na regeneração, está fora dos
padrões do ensino bíblico. Além do
mais, um tal ponto de vista nos leva a um antiintelectualismo aleijado, que separa a intuição
espiritual da reflexão teológica,
empobrecendo a ambos-pois a teologia passa a ser considerada como "coisa da alma" e não
espiritual, enquanto a percepção
espiritual é vista como não relacionada com a tarefa de ensinar e aprender a verdade revelada de
()eus.
A personificação da alma faz parte do desígnio de Deus para a humanidade. Através do corpo
experimentamos nosso meio,
usufruímos e controlamos as coisas que estão ao redor de n6s e relacionamo-nos com outras
pessoas. Nada hàvia de mau ou
corruptível no corpo que Deus criou no início. Se o pecado não tivesse ocorrido, o
envelhecimento físico e o declínio que conduz
à morte, como conhecemos, não seriam parte da experiência humana (Gn 2.17; 3.19,22; Rm
5.12). Agora, porém, a corrupção
atingiu a todos na sua natureza psico-ffsica, como claramente mostram os desejos desordenados
da mente e do
corpo, guerreando um contra o outro, bem como contra todas as regras da sabedoria e da justiça.
Na morte, a alma deixa o corpo, mas isso não é a libertação feliz que a filosofia grega e algumas
seitas têm imaginado. A
esperança cristã não consiste na redenção da alma em relação ao corpo, mas consiste na
redenção® corpo. Aguardamos
nossa participação na ressurreição de Cristo em e através da ressurreição do nosso corpo. Ainda
qtie desconheçamos, no
presente, a exata composição do nosso futuro corpo glorificado, sabemos que haverá uma
continuidade com nosso corpo
atual (1Co 15.35-49; Fp 3.20-21; CI 3.4).
Os dois sexos, masculino e feminino, pertencem ao padrão da criação. Homens e mulheres
trazem em si, igualmente, a
imagem de Deus (Gn 1.27), e, em conseqüência, a dignidade deles é igual. A natureza
complementar desses dois sexos visa a
uma cooperação enriquecedora (ver Gn 2.18-23), não só no casamento, na procriação e na vida
familiar, mas também nas
mais amplas atividades da vida. Perceber a diferença entre si mesmo e uma pessoa do outro
sexo é uma escola para se
aprender a prática e a alegria do apreço mútuo, da abertura, da honra, do serviço e da fidelidade.

A QUEDA
GÊNESIS 3
Na Carta aos Romanos, Paulo afirma que toda a humanidade está por natureza sob a culpa e o
poder do pecado, sob o reino
da morte e sob a inescapávelira de Deus (Rm 1.18-19; 3.9, 19; 5.17,21 ). Ele relaciona a orig~m
desse estado ao pecado de um
homem - Adão-, que ele descreve como nosso ancestral comum (At 17 .26; Rm 5.12-14; cf. 1 Co
t5.22). Paulo, como
apóstolo, deu sua interpretação autorizada à história registrada em Gn 3, onde encontramos a
narrativa da queda, a desobediência
humana original, que afastou o homem de Deus e da santidade, e lançou-o no pecado e na
perdição. Os principais
pontos dessa história, vista pelas lentes da interpretação de Paulo, são:
1. Deus fez do primeiro homem o representante de toda a sua posteridade, exatamente do
mesmo modo como faria de
Cristo o representante de todos os eleitos de Deus (Rm 5.15-19; cf. 8.29-30; 9.22-26). Em ambos
os casos, o representante
envolveu aqueles a quem representou nos resultados de sua ação pessoal, quer para o bem (no
caso de Cristo), quer para o
mal (no caso de Adão). Esse arranjo divinamente estabelecido, pelo qual Adão determinou o
destino de seus_ descendentes,
tem sido chamado de a "aliança das obras", ainda que essa frase não ocorra nas Escrituras.
2. Deus colocou Adão num estado de felicidade e prometeu a ele e a sua posteridade confirmá-
los nesse estado perrilanentemente
se, nesse estado, Adão mostrasse fidelidade, obedecendo ao mandamento de Deus, não
comendo da árvore descnta
como a "árvore do conhecimento do bem e do mal" (Gn 2.17). Aparentemente, a questão era se
Adão aceitaria Déús
determinar o que era bom e mal ou se procuraria decidir isso por si mesmo, independentemente
do que Deus lhe tinha dito.
3. Adão, levado por Eva-que por sua vez foi induzida pela serpente (Satanás disfarçado, 2Co
11.3, 14; Ap 12.9)-afrontou
a Deus comendo do fruto proibido. Como conseqüência, primeiro de tudo, a disposição mental
que se opõà a Deus e se
engrandece a si mesmo, expressa no pecado de Adão, tomou-se parte dele e da natureza moral
que ele transmitiu aos seus
descendentes (Gn 6.5; Rm 3.9-20). Em segundo lugar, Adão e Eva foram dominados por um
senso de profanação e culpa, que
os levou a ter vergonha e medo de Deus - com justificada razão. Em terceiro lugar, eles foram
amaldiçoados com expectação
de sofrimento e morte e foram expulsos do Éden. Ao mesmo tempo, contudo, Deus começou a
mostrar-lhes graça salvadora.
Fez para eles vestimenta para cobrir sua nudez e prometeu-lhes que, um dia, a Semente da
mulher esmagaria a cabeça
da serpente. Essa promessa prenunciou a Cristo.
Ainda que essa história, de certo modo, seja contada em estilo figurado, o Livro de Gênesis pede-
nos que a leiamos como
história. No Gênesis, Adão está ligado aos patriarcas e, através deles, por genealogia, ao resto
da raça humana (caps. 5;
10-11 ), fazendo dele uma parte da história, tanto quanto Abraão, !saque e Jacó. Todas as
principais personalidades do Livro
de Gênesis, depois de Adão-exceto José- são mostradas claramente como pecadoras de um
modo ou de outro, e a morte
de José, como a morte de quase todos os outros na história, é cuidadosamente registrada (Gn
50.22-26). A afirmação de
Paulo: "em Adão, todos morrem" (1 Co 15.22) só toma explícito aquilo que o Gênesis já deixa
claramente implícito.
É razoável afirmar que a narrativa da queda sozinha dá uma explicação convincente para a
perversão da natureza humana.
Pascal disse que a doutrina do pecado original parece uma ofensa à razão, porém, uma vez
aceita, dá sentido total à condição
humana. Ele estava certo; e a mesma coisa poderia e deveria ser dita a respeito da própria
narrativa da queda.

A ALIANÇA DA GRAÇA DE DEUS


Gn 12.1·3
28 -------- ----------~
Nas Escrituras, as alianças são acordos solenes, negÓciados ou impostos unilateralmente, que
ligam as partes umas às outras
em relações permanentes, definidas, com promessas específicas, com reivindicações e
obrigações de ambos os lados
(p. ex., a aliança do casamento, em MI 2.14).
Quando Deus faz uma aliança com suas criaturas, só ele estabelece as condições, como mostra
sua aliança com Noé e
seus descendentes (Gn 9.9). Quando Adão e Eva fracassaram em obedecer os termos da aliança
das obras (ver Gn 3.6 e a
nota teológica HA Queda"), Deus não os destruiu, mas revelou a sua aliança da graça,
prometendo-lhes um Salvador (Gn 3.15).
A aliança de Deus descansa sobre sua promessa, como fica claro da sua aliança com Abraão.
Ele chamou Abraão para ir à
terra que ele lhe daria e prometeu abençoá-lo e a todas as famílias da terra através dele (Gn
12.1-3). Abraão atendeu a chamada
de Deus, porque creu na promessa de Deus; foi a sua fé na promessa de Deus que lhe foi
creditada como justiça (Gn 15.6;
Rm 4.18-22). A aliança de Deus com Israel, no Sinai, está na forma dos tratados de suserania do
antigo Oriente Próximo. Estas
são alianças impostas unilateralmente por um rei poderoso sobre um rei vassalo e um povo
servo.
Ainda que a aliança do Sinai exigisse obediência às leis de Deus, sob a ameaça de maldição, ela
era uma continuação da
aliança da 9raça (Êx 3.15; Dt 7.7-8; 9.5-6). Deus deu os mandamentos a um povo que ele já
havia redimido e reivindicado
como seu (Ex 19.4; 20.2). A graciosa promessa da aliança de Deus foi posteriormente definida
por meio de tipos e sombras da
lei dada a Moisés. O fracasso dos israelitas em guardar a aliança de Deus mostrou a necessidade
de uma nova aliança que assegurasse
o poder para obedecer (Jr 31.31-34; 32.38-40; cf. Gn 17.7; Êx 6.7; 29.45-46; Lv 11.44-45; 26.12).
A aliança de Deus com Israel foi uma preparação para a vinda do próprio Deus, na pessoa do seu
Filho, para cumprir todas
as suas promessas e para dar substância às sombras apresentadas pelos tipos (Is 40.1 O; MI
3.1; Jo 1.14; Hb 7-1 O). Jesus
Cristo, o Mediador da nova aliança, ofereceu-se a si mesmo como o verdadeiro e definitivo
sacrifício pelo pecado. Ele obedeceu
à lei de modo perfeito e, como o segundo Adão (segundo representante da raça humana), ele se
tornou o herdeiro- com
todos os que pela fé se unem a ele - de todas as bênçãos relativas à aliança, paz e comunhão
com Deus na sua criação renovada.
Os arranjos temporários do Antigo Testamento para comunicar essas bênçãos tomaram-se
obsoletos, quando se concretizou
aquilo que eles prefiguravam.
Como a Carta aos Hebreus (caps. 7-10) explica, através de Cristo, Deus inaugurou uma melhor
versão da sua única e
eterna aliança com pecadores (Hb 13.20)-uma aliança melhor com melhores promessas (Hb 8.6),
baseada num melhor sacrifício
(Hb 9.23) oferecido por um melhor sumo sacerdote num melhor santuário (Hb 7.26-8.6,11, 13-14).
Essa melhor aliança
garante uma esperança melhor do que aquela explicitada na versão anterior da aliança - glória
com Deus numa "pátria
superior, isto é, celestial" (Hb 11.16; cf. v. 40).
O cumprimento da velha aliança em Cristo abre a porta da fé aos gentios. A "semente de Abraão"
- a comunidade com a
qual a aliança foi feita-foi redefinida em Cristo, que é a Semente final e definitiva de Abraão (Gn
3.16). Os gentios e os judeus
que se unem a Cristo pela fé tornam-se nele semente de Abraão (GI 3.26-29), ao passo que
ninguém, fora de Cristo, pode
estar num relacionamento salvador de aliança com Deus (Rm 4.9-17; 11.13-24).
O objetivo da ação de Deus dentro da aliança é, como sempre foi, a reunião e a santificação do
povo da aliança vindo de
"todas as nações, tribos, povos e línguas" (Ap 7.9), que um dia habitarão a Nova Jerusalém,
numa ordem mundial renovada
(Ap 21.1-2). Aqui, o relacionamento da aliança encontrará a sua plena expressão- "Eles serão
povos de Deus, e Deus
mesmo estará com eles" (Ap 21.3; cf. Gn 17. 7, nota; Êx 29.45-46). Deus continua a moldar os
eventos do mundo rumo a
esse alvo.
A estrutura da aliança abrange toda a economia da graça soberana de Deus. O ministério
celestial de Cristo continua a
ser o de "Mediador da nova aliança" (Hb 12.24). A salvação é a salvação da aliança;
regeneração, justificação, adoção e
santificação são misericórdias da aliança; a eleição foi a escolha de Deus dos membros da
comunidade da aliança, que é a
Igreja. O Batismo e a Ceia do Senhor - que correspondem aos ritos da circuncisão e da Páscoa
da antiga aliança e os
substituem, são ordenanças da aliança. A lei de Deus é a lei da aliança, e observá-la é a mais
verdadeira expressão de gratidão
pela graça da aliança e de lealdade ao nosso Deus da aliança. A nossa aliança com Deus, em
resposta à sua aliança
COl\OSq91 deve_ ser o exercício devocional regular de todos os crentes, tanto em particular
como na Mesa do Senhor.
Uma compreensão dà aliança da graça nos conduz através de todas as maravilhas do amor
redentor de Deus e nos ajuda
a_ apreciã~tas.

O BATISMO INFANTIL
Gn 17.12
34
· O batismo de crianças, filhos de crentes (prática às vezes denominada pedobatisrno), na
convicção de que essa prática
está de acordo com a vontade revelada de Dêu$, tem sido a prática histórica de muitas igrejas.
Contudo, a comunidade batista
em todo o mundo - que inclui notáveis J)ensadores Reformados - discorda dessa prática.
Os batistas insistem em que a filiação a uma igreja local é só para aqueles que publicamente
declararam sua fé pessoal. O
argumento freqüentemente inclui a alegação de que Cristo instituiu o batismo primeiramente
corno urna profissão pública de
fé e de que essa profissão é parte da definição de batismo, resultando disso que o batismo
infantil, na verdade, não é realmente
batismo: Com base nisso, as igrejas batistas rebati~ as pessoas que professam a fé, mesmo que
já tenham sido batizadas
na infância, pois, do ponto de vista dos batistas, essas pessoas nunca foram batizadas. A teologia
histórica Reformada
contesta o ponto de vista de que somente o batismo de crentes adultos é verdadeiro batismo e
rejeita a exclusão de filhos de
crentes cfa comunidade visível da fé. Essas diferenças relacionadas com a natureza da Igreja
visível constituem o pano de fundo
de todas as discussões sobre o batismo infantil.
A prática do batismo infantil não é nem prescrita nem proibida no Novo Testamento, nem é
explicitamente ilustrada (ainda
que alguns defendam que a referência ao batismo de alguém com toda a sua casa provavelmente
inclua batismos de crianças e recéfri.:nascidos). Mais precisamente, o argumento bíblico para o
batismo das crianças dos crentes se apóia no paralelo entre
â·circuncisão, do Antigo Testamento, e o batismo, do Novo Testamento, como sinais e selos da
aliança da graça IGn
17 .11; Rm 4.11; CI 2.11-12), e na alegação de que o princípio da solidariedade familiar na
comunidade da aliança (a Igreja,
como é agora chamada) não foi afetado pela transição da "velha" para a "nova" forma da aliança
de Deus, realizada pela vinda
de Cristo. As crianças dos crentes gozam do status de filhos da aliança e, portanto, devem ser
batizadas, do mesmo modo que
os filhos meninos dos judeus eram anteriormente circuncidados. O precedente do Antigo
Testamento exige essa prática, e
não há instruções divinas revogando esse princípio.
Posterior evidência de que o princípio da solidariedade familiar continua no período do Novo
Testamento é encontrada em
1Co 7.14, onde Paulo nota que mesmo.os.filhos de. casais em que apenas um cônjuge é cristão
são, do ponto de vista dos relacionamentos
e da aliança, santos (isto é, são separados para Deus junto com a mãe ou pai cristão). Assim, o
princípio de solidariedade
entre pais e filhos ainda permanece, como também Pedro declara no seu sermão, no dia do
Pentecostes (At 2~39).
E, se as crianças são consideradas membros da comunidade visível da aliança junto com seus
pais, é apropriado dar-lhes o
sinal de status da aliança e do lugar delas na comunidade da aliança; de fato, seria impróprio
para a Igreja negar~lhes esse sinal.
A justeza dessa prática é demonstrada pelo fato de, quando a circuncisão era o sinal de status de
aliança e sinal da inclu·
são na comunidade, DéUs haver ordenado que ela fosse aplicada aos meninos (Gn 17.9-14).
Contra esses argumentos, os batistas alegam, primeiro, que a circuncisão era, primariamente, um
sinal da identidade étnica
dos judeus e, por isso, um paralelo entre a circuncisão e o Batismo cristão não é correto; em
segundo lugar, alegam que,
sob a nova aliança, a exigência da fé pessoal antes do Batismo é absoluta; em terceiro lugar,
alegam que as práticas não reconhecidas
e não aprovadas explicitamente nas Escrituras não devem ser adotadas na vida da Igreja.
Certamente, todo membro adulto da Igreja deve professar a fé pessoalmente diante da Igreja. As
comunidades que batizam
crianças providenciam para que isso ocorra na confirmação ou algo equivalente. A educação
cristã de crianças batistas e de
criartças batizadas na infânbla é semelhante: são dedicadas a Deus na infância, ou pelo batismo,
ou mediante rito de consagração;
são orientadas a vivérem para o Senhor e conduzidas ao ponto de fazerem sua pública profissão
de fé, pela confirmação
ou pelo batismo. Depois disso, desfrutarão do status de plenos comungantes. O debate que se
trava não é sobre a
educação cristã das crianças, mas sobre a maneira de Deus definir a Igreja.
Diz-se, às vezes, que o batismo infantil leva a urna falsa presunção de que o rito, por si mesmo,
garante a salvação da criança.
Na ausência de instruçhs bíblicas sobre o significado do Batismo, essa infeliz conclusão é
possível. Deve-se lembrar, no
entanto, .que uma tafrilátornpreensão é igualmente possível no caso de batismo de adulto crente.
/Ver a advertência em "Batism(>"',
Rm 6.:~I· ..

"EU Sou O QUE Soun: A AUTO-REVELAÇÃO DE DEUS


êx 3.15
No mundo moderno, o nome de uma pessoa pode ser apenas um rótulo, sem revelar nada a
respeito dela. Os nomes bíblicos,
contudo, têm como fundo uma ampla tradição, segundo a qual o nome de uma pessoa oferece
significativa informação a
respeito de quem o usa. O Antigo Testamento, freqüentemente, celebra o fato de Deus tomar seu
nome conhecido a Israel, e
os Salmos, muitas e muitas vezes, elevam louvores ao nome de Deus (SI 8.1; 113.1-3; 145.1-2;
148.5, 13). "Nome", aqui, significa
o próprio Deus, como ele se revelou por palavras e ações. No centro dessa auto-revelação está o
nome pelo qual Deus
autorizou Israel a invocá-lo, nome comumente traduzido por "O SENHOR" (tradução do termo
hebraico Javé, como os eruditos
modernos o pronunciam, ou ':Jeová", como é, às vezes. escrito).
Deus declarou esse nome a Moisés, quando lhe falou a partir da sarça que se queimava, mas
não se consumia. Deus primeiro
identificou-se como o Deus que tinha se comprometido numa relação de aliança com os
patriarcas (Gn 17.1-14); depois,
quando Moisés lhe perguntou o que deveria dizer ao povo quando este quisesse saber qual era o
seu nome (pois os antigos
supunham que a oração só seria respondida se o destinatário fosse nomeado corretamente),
Deus, primeiro, respondeu: "Eu
Sou O Que Sou"; depois, abreviou para "Eu Sou". O nome "Javé" (SENHOR) soa como "Eu Sou"
em hebraico; e Deus, finalmente,
chamou-se a si mesmo "O SENHOR, o Deus de vossos pais" (Êx 3.15-16). O nome, em todas as
suas formas, proclama a realidade
eterna e soberana que se auto-sustenta e se autodetermina, ou seja, o seu modo sobrenatural de
existência, que a sarça
ardente representou (Êx 3.2). A sarça que não se consumia ilustrava a própria vida inesgotável de
Deus. Ao designar ':Javé"
como "o meu nome eternamente" (Ex 3.15), Deus indicou que seu povo deveria sempre pensar
nele como o Rei vivo, poderoso
e sempre reinando, Rei que a sarça ardente o mostrava ser.
Màis tarde, Moisés pediu para ver a glória de Deus. Em resposta, Deus proclamou o "o nome":
"SENHOR, SENHOR Deus compassivo,
clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil
gerações que perdoa
a iniqüidade. a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado" (Êx 34.6-7). Na sarça
ardente, Deus tinha respondido
à pergunta pelo modo de sua existência. Aqui ele responde à questão de como podemos
descrever as suas ações. Essa
proclamação fundamental do seu caráter moral ecoa, com freqüência, em passagens posteriores
das Escrituras (Ne 9.17; SI
86.15; J12.13; Jn 4.2). Todas essas revelações são parte do seu "nome" e revelam a sua
natureza, em função da qual ele deve
ser reverenciado e glorificado para sempre.
No Novo Testamento, as palavras e atos de Jesus, o Filho encarnado de Deus, constituem a
plena revelação da mente, do
caráter e do propósito de Deus, o Pai (Jo 14.9-11; cf. 1.18). A frase "Santificado seja o teu nome",
na oração do Pai Nosso
(Mt 6.9), expressa o desejo de que Deus seja reverenciado e louvado como merece o esplendor
da totalidade de sua autorevelação.

A LEI DE DEUS
Êx 20.1
Os seres humanos não foram criados autônomos (isto é, seres livres para seguirem sua própria
lei), mas foram criados seres
teônomos, ou seja, para estarem sujeitos à lei de Deus. Isso não constituía uma privação para o
homem, porque Deus o criou de
tal maneira que uma obediência agradecida poderia proporcionar-lhe a mais alta felicidade. Dever
e prazer seriam coincidentes,
como ocorreu com Jesus (Jo 4.34; cf. SI 112.1; 119.14, 16,47-48,97-113, 127-128, 163-167). O
coração humano decaído odeia a
lei de Deus, tanto pelo fato de ser uma lei quanto por ela vir de Deus. Os que conhecem a Cristo,
contudo, descobrem não só que
amam a lei e querem guardá-la-tanto para agradarem a Deus e como gratidão pela graça (Rm
7.18-22; 12.1-2) :..:...mas tam-
' bém que o Espírito Santo os conduz a um grau de obediência que nunca tiveram antes (Rm 7 .6;
8.4-6; Hb 10.16). ·
A lei moral de Deus está abundantemente exposta nas Escrituras, no Decálogo (Os Dez
Mandamentos), em outros estatutos
de Moisés, em sennões de profetas, no ensino de Jesus e nas cartas do Novo Testamento. A lei
reflete o caráter santo de Deus e
seu propósito para os seres humanos que criou. Deus ordena o comportamento que lhe agrada e
proíbe aquilo que o ofende. Jesus
resume a lei moral nos dois grandes mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo (Mt
22.37-40). Be diz que desses
dois dependem todas as instruções morais do Antigo Testamento. O ensino moral de Cristo e de
seus apóstolos é a velha lei
aprofundada e reaplicada a novas circunstâncias, as da vida no Reino de Deus, onde o Salvador
reina, e na era pós-pentecostes
do Espírito, quando o povo de Deus é chamado a viver uma vida santificada no meio de um
mundo hostil (Jo 17.6-19).
A lei bíblica é de várias espécies. As leis morais ordenam o comportamento pessoal e
comunitário, que sempre são de nosso
dever observar. As leis políticas do Antigo Testamento aplicavam princípios da lei moral à
situação nacional de Israel, quando
Israel era uma teocracia, como povo de Deus na terra. As leis do Antigo Testamento a respeito de
purificação cerimonial,
regime alimentar e sacrifícios eram estatutos temporários, com o objetivo de instruir o povo.
Essas leis foram canceladas pelo
Novo Testamento, porque o seu significado simbólico foi cumprido (Mt 15.20; Me 7.15-19; At
10.9-16; Hb 10.1-14: 13.9-10).
A combinação de leis morais, judiciais e rituais nos livros de Moisés comunicam a mensagem de
que a vida sob a orientação
de Deus não deve ser vista nem vivida em compartimentos, mas como uma unidade
multifacetada. Comunicam também
que a autoridade de Deus como legislador deu força igual a todo o código. Contudo, as leis eram
de diferentes espécies e tinham
diferentes propósitos. As leis políticas e cerimoniais tinham aplicação limitada, enquanto parece
claro, tanto do contexto
imediato quanto do ensino de Jesus, que a afirmação de Jesus a respeito da imutável força
universal da lei se refere à lei
moral como tal (Mt 5.17-19; cf. Lc 16.16-17).
Deus exige a total obediência de cada pessoa a todas as implicações de sua lei. Como diz o
Catecismo Maior de Westminster;
p. 99: "A lei ... obriga todos à plena conformidade do homem integral à retidão dela e à inteira
obediência para sempre"; "a
lei é espiritual e, assim, se estende tanto ao entendimento, à vontade, às afeições e a todas as
outras potências da alma,
quanto às palavras, às obras e ao procedimento." Em outras palavras, tanto os desejos quanto as
ações devem ser retos. Je-
' sus condena a hipocrisia que oculta a corrupção íntima com fingimentos exteriores (Mt 15. 7-8;
23.25-28). Além disso, as decorrências
da lei são parte de seu conteúdo: "onde um dever é ordenado, o pecado contrário é proibido; e,
onde um pecado é
proibido, o dever contrário é ordenado".

A PALAVRA DE DEUS: ÁS ESCRITURAS COMO REVELAÇÃO


Ex 32.16
No Cristianismo estão o verdadeiro culto e servíÇo do verdadeiro Deus, Criador e Redentor da
humanidade. É uma religião
que descansa sobre revelação: ninguém conheceria a verdade a respeito de Deus, nem seria
capaz de relacionar-se com ele
de um modo pessoal, se Deus não tivesse primeiro agido para fazer-se conhecido. Porém Deus
fez-se conhecido; e os sessenta
e seis livros da Bíblia - trinta e nove escritos antes da vinda de Cristo e vinte e sete depois de
Cristo -são, juntos, o registro,
a interpretação e a expressão de sua auto-revelação. Deus e santidade são os temas que dão
unidade à Bíblia.
De certo ponto de vista, as Escrituras são o fiel testemunho que os piedosos deram a respeito do
Deus que eles' amavam e
a quem serviam; de outro ponto de vista - pelo fato de terem sido redigidas por meio de um
exercício singular de supervisão
divina, chamada de "inspiração" - eles constituem o testemunho e o ensino do próprio Deus, em
linguagem humana. A Igreja
dá a esses escritos o nome de "Palavra de Deus", porque a autoria e conteúdo deles são de
origem divina.
A certeza decisiva de que as Escrituras procedem de Deus e de que todas elas consistem
inteiramente de sua sabedoria e
verdade nos vem de Jesus Cristo e seus apóstolos, que ensinaram em seu nome. Jesus, Deus
encarnado, considerou sua Bíblia
(o nosso Antigo Testamento) como instrução escrita de seu Pai Celestial, que ele, não menos do
que outros, precisava
obedecer (Mt 4.4,7, 10; 5.17-20; 19.4-6; 26.31,52-54; Lc 4.16-21; 16.17; 18.31-33; 22.37; 24.25-
27,45-47; Jo 10.35) e que
ele veio cumprir (Mt 26.24 e Jo 5.46). Paulo descreveu o Antigo Testamento como totalmente
inspirado ou "soprado por
Deus" - produto do Espírito de Deus, como também o é toda a criação (SI 33.6; Gn 1.2) - e escrito
para nossa instrução
(Rm 15.4; 1 Co 10.11; 2T rn 3.15-17). Em sua segunda carta, 1.21, e em sua primeira carta, 1.10-
12, Pedro afirma a origem divina
do ensino bíblico. O mesmo faz o autor da Carta aos Hebreus, por sua maneira de citar as
Escrituras (Hb 1.5-13; 3.7; 4.3;
10.5-7, 15-17; cf. At 4.25; 28.25-27).
Visto que o ensino dos apóstolos a respeito de Cristo é, em si mesmo, verdade revelada em
palavras ensinadas por Deus
(1 Co 2.12-13), a Igreja considera que o Novo Testamento - registro do testemunho apostólico -
completa as Escrituras.
Ourante o próprio período do Novo Testamento, Pedro se refere às cartas de Paulo corno
Escrituras (2Pe 3.15-16), e Paulo,
aparentemente, chama o Evangelho de Lucas de Escrituras (1Tm 5.18; cf. Lc 10.7). .
A idéia de orientações escritas vindas do próprio Deus como base para a vida piedosa remonta à
inscrição dos Dez Mandamentos
sobre tábuas de pedra e à ordem dada a Moisés a que escrevesse as leis de Deus e a história do
que Deus fez com o
seu povo (Êx 32.15-16; 34.1,27-28; Nm 33.2; Ot 31.9). Assimilar essas leis e viver por elas foi
sempre central à verdadeira devoção
tanto para os líderes de Israel corno para o povo (Js 1.7-8; 2Rs 17.13; 22.8-13; lCr 22.12-13; Ne
8; SI 119), eo princípio
de que tudo deve ser governado pelas Escrituras passou para o Cristianismo.
Aquilo que a Escritura diz Deus diz; pois, de um modo só comparável ao mistério mais profundo
da Encarnação, a Bíblia é
tanto plenamente humana como plenamente divina. Assim, todo o seu múltiplo conteúdo -
histórias, profecias, poemas,
cânticos, escritos de sabedoria, sermões, estatísticas, cartas e tudo o mais - deve ser recebido
como procedente de Deus,
e tudo aquilo que os escritores bíblicos ensinam deve ser reverenciado corno instruções
autorizadas da parte de Deus. Os
cristãos devem ser gratos a Deus pelo dom de sua Palavra escrita e conscienciosos ao basearem
sua fé e sua vida inteira e
exclusivamente nela.

Do que trata a Bíblia?


Edmund Clowney
O que torna a Bíblia um livro diferente de todos os outros?
Ela é diferente porque é o Livro de Deus: ele a deu a nós para falar-
nos a seu respeito (2Pe 1.21 ). Porque a Bíblia é sobre Deus e
sua Salvação, ela é também sobre o Filho de Deus, nosso Salvador.
Jesus sabia disso. Ele repreendeu dois discípulos tristes
que estavam indo embora de Jerusalém no Dia da Páscoa. Eles
estavam desolados com sua morte e confusos por causa da sepultura
vazia.
"Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardas de coração
para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha
que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando
por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunhalhes
o que a seu respeito constava em todas as Escrituras." (Lc
24.25-27)
Durante os quarenta dias entre sua ressurreição e ascensão,
Jesus continuou seu ensinamento. De todo o Antigo Testamento,
ele mostrou as promessas do evangelho que ele havia cumprido,
promessas que deveriam ser pregadas às nações (Lc 24.44-47).
Seus ensinamentos deram aos apóstolos a chave para as Escrituras.
Pedro pregou os sofrimentos e a glória de Cristo, desde
Moisés e os Profetas (At 2.18-24); assim fez Paulo (At 17.2-3;
Rm 1.1-5; 1 Co 15.3-4). Eles não confiaram nas profecias que falavam
diretamente do Messias; eles sabiam que toda profecia
era inspirada pelo Espírito de Cristo ( 1 Pe 1.11 ).
A Palavra escrita vem da Palavra viva; o Filho de Deus é o
Criador, que estava com Deus desde o princípio e, como o Pai,
é completamente Deus (Jo 1.1-3). O Senhor Deus do Antigo
Testamento está presente em nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. Simão Pedro, que levara Jesus a bordo de seu barco
pesqueiro, reconheceu sua divindade (Mt 16.16). Ele cita o
chamado de Isaías para reverenciar o próprio Deus e identifica
o Senhor de nossa adoração como o Cristo (1 Pe 3.15; Is
8.12-13).
Quando Deus se revelou a Israel no monte Sinai, ele já estava
apontando para a sua revelação em Cristo. A intenção de
Deus para o tabernáculo, transmitida no monte, foi ameaçada
pela adoração de Israel a um bezerro de ouro. Deus disse que
era bastante perigoso para o obstinado Israel ter o Deus Santo
vivendo em seu tabernáculo no meio de seu acampamento. Em
vez disso, Deus propôs ficar fora do acampamento e encontrar-
se com Moisés lá. Ele iria à frente do povo conduzindo-o à
Canaã, mas ele não permaneceria no seu meio (Êx 33.1-6). Moisés
sabia que, se Deus não permanecesse no meio de seu
povo, não haveria propósito na sua ida até Canaã. Ele poderia
apenas suplicar a Deus que mostrasse sua glória e graça. Deus
ouviu suas preces; ele proclamou seu nome a Moisés como o
Deus que está repleto de graça e verdade. Ele prometeu permanecer
no tabernáculo e receber os sacrifícios de Israel para a remissão
de seus pecados. O Evangelho de João fala-nos que a
glória que Moisés pediu para ver foi revelada em Jesus Cristo.
A graça e a verdade declarada a Moisés são dadas em Cristo,
pois, em Cristo, Deus vem habitar conosco. O tabernáculo estava
repleto da nuvem de glória para simbolizar a habitação de
Deus com seu povo; a Encarnação é a realidade a qual o tabernáculo
representou. João testifica: "E o Verbo se fez carne e habitou
(lit. "morou em tabernáculo") entre nós, cheio de graça e
de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do
Pai" (Jo 1.14).
Nós não nos surpreendemos, portanto, ao encontrarmos
no Antigo Testamento antecipações da vinda do Filho de Deus.
O Anjo do Senhor é tanto distinto de Deus como identificado
com ele. (Gn 18.1-33; Êx 23.20-23; Jz 6.11-23; 13.3-23; Is
63.9). Na forma de um anjo, o Senhor lutou com Jacó (Gn
32.34-42) e deu ordens a Josué (Js 5.13-15). Assim, também,
as figuras que descrevem Deus no Antigo Testamento são
transferidas para Cristo, no Novo. Jesus Cristo é o Pastor (SI
23; Jo 10), a Rocha (Dt 32.4; Êx 17.6; 1Co 10.4), o Juiz (SI
96.13; Mt 25.31-33), o Rei (Is 6.1-5; Jo 12.41), a Sabedoria de
Deus (Pv 8.22-31 ), nosso Senhor e Salvador (Jn 2.9; Mt 1.21 ).
A história da obra de Deus para a salvação nos conduz a
Jesus Cristo, o Salvador. Somente Deus pode salvar pecadores.
Ele deve tomar a iniciativa; o plano de salvação deve ser seu.
Após o pecado de nossos primeiros pais no Éden, Deus foi procurá-
los. Ele prometeu a vitória do Filho da mulher sobre a serpente
(Gn 3.15). Deus livrou Noé e sua família do dilúvio de
condenação; ele chamou Abraão e prometeu abençoá-lo de forma
que, através de sua descendência, todas as famílias da terra
seriam abençoadas. Mantendo sua palavra a Abraão, Deus
libertou Israel da escravidão no Egito, fez uma Aliança com eles
e deu-lhes a Terra Prometida. Mas, ao longo do caminho, a bondade
de Deus foi contraposta pela maldade humana. Mesmo os
santos eram pecadores. Abraão riu das promessas de Deus
com descrença; Jacó roubou a bênção de seu pai cego; Moisés
feriu a pedra que simbolizava a presença de Deus; Davi foi culpado
tanto de adultério como de assassinato.
A Bíblia conta a história do que Deus faz para salvar seu
povo, não somente de seus inimigos, mas também de seus pecados.
O que distingue o verdadeiro povo de Deus, apesar de
seus pecados, é a sua fé nas promessas de salvação de Deus
(Hb 11).
Quando o veredito justo de Deus condenou Israel à destruição
e ao cativeiro, parecia que toda esperança estava perdida.
A visão de Ezequiel observou os cativos como ossos
secos espalhados pelo chão do vale (Ez 37). Mas o Espírito de
Deus pode levantar os mortos. Deus prometeu primeiramente
poupar um remanescente. A destruição não seria total: uma
raiz seria deixada quando o cedro do orgulho de Israel fosse
cortado. Mais do que isso: Deus traria renovação. Da raiz nasceria
um broto, um broto que serviria como um sinal para areunião
das nações. Esse broto seria o Ramo, o Messias de
Deus (Is 10.33-11.5).
Duas linhas de promessa estão reunidas nos Profetas: primeira,
Deus deve vir; segunda, o Messias deve vir como o Servo
do Senhor. Deus deve vir porque a situação do povo é tão
sem esperança, que somente Deus pode salvá-lo. O povo necessita
não somente livrar-se de seus inimigos; precisa também
de um novo coração, deixar a rebeldia e amar. Deus deve
vir, também, porque suas promessas são tão grandes, que só
ARTIGOS 1554
ele consegue cumpri-las. Deus pode acabar com os corações
de pedra e conceder corações de carne; ele pode formar uma
nova criação. No grande dia do poder de Deus, os muitos vasos
de Jerusalém serão como vasos sagrados do templo, o mais
humilde cidadão da cidade será como o rei Davi - e o que será
do próprio Rei? Ele será como um anjo de Deus no meio deles
(Zc 12.8). Na glória do cumprimento, a vinda de Deus e a vinda
do Messias são delineadas em conjunto. O próprio Deus irá pôr
o capacete da salvação e a couraça da justiça para libertar seu
povo, mesmo sendo o Libertador deles o Messias, que será o
Príncipe entre eles (Is 59.16-17; 61.1-3; Ez 34.11,24). O Messias,
na verdade, terá o Nome divino: "Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz" (Is 9.6). Ele é o
Senhor de Davi, o Filho do Homem que receberá à mão direita
do Pai o Reino Eterno (SI 110.1-2; Dn 7.13-14; MI 3.1; Is
40.3, 10-11 ). João Batista, "a voz do que clama no deserto",
anuncia a vinda do Senhor (Is 40.3).
Pelo poder milagroso do Espírito Santo, a Virgem Maria
concebeu o Filho da promessa. Seu nome é Jesus, pois é ele
que salva o seu povo dos pecados (Mt 1.21 ). O sinal milagroso
do nascimento virginal cumpre a antiga profecia e o apresenta
como Emanuel, "Deus conosco" (Mt 1.23; Is 7 .14). Os anjos
anunciam aos pastores o nascimento daquele que não é somente
o Cristo do Senhor, mas também Cristo, o Senhor (Lc
2.11,26).
O Antigo Testamento, então, promete a vinda do Senhor; o
Novo Testamento anuncia que o Senhor veio. Mas para o Senhor
realizar sua obra de salvação, mesmo a Encarnação não
era suficiente. Ele assumiu nossa natureza humana para que
pudesse fazer o que nós jamais poderíamos fazer por nós mesmos:
carregar a culpa pelos pecados e merecer a vida eterna.
Jesus veio não somente como o Senhor, mas também como o
Servo do Senhor. Ele, que é um com Deus, tornou-se um conosco
para poder resgatar-nos a Deus. A promessa do pacto de
Deus foi: "Andarei entre vós e serei o vosso Deus, e vós sereis o
meu povo" (lv 26.12). Deus, o Senhor da Aliança, exigiu que
seu povo fosse seu servo. Jesus veio para realizar os dois lados
da Aliança: ele é o Senhor e o Servo. Como o Senhor, ele reivindica
seu povo para Deus; como o Servo, ele reivindica Deus
para seu povo.
O Antigo Testamento, assim como o Novo, mostra-nos a
obra de Cristo como o Servo do Senhor. Nos "Cânticos do Servo"
de Isaías (Is 42.1-9; 49.1-13; 50.4-11; 52.13-53.12), o Servo
individual do Senhor está intimamente ligado a Israel como
servo de Deus, embora a distinção seja clara. Deus promete a
seu Servo que ele não apenas resgatará o remanescente de
Israel, mas também que ele será uma luz para os gentios: "Para
seres a minha salvação até à extremidade da terra" (Is 49.6).
Especialmente nos seus sofrimentos, o Servo representa o
povo de Deus, pois ele assumirá seu castigo: "Ele verá o fruto
do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo,
o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque
as iniqüidades deles levará sobre si" (Is 53.11 ). Na cruz, Jesus
clamou com as palavras do início do SI 22: "Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?" O lamento de sofrimento de
Davi era seu próprio lamento para Deus, mas ele escreveu
como um profeta, e suas palavras têm seu cumprimento em
seu Filho, o Servo sofredor. O autor de Hebreus lembra-nos que
as outras palavras do Salmo também pertencem a Cristo (Hb
2.12; SI 22.22). Do lamento do abandono à oferta de agradecimento
de louvor, esse Salmo e outros como ele pertencem a
Jesus, que canta os louvores do Pai (Mt 26.30; SI 69.9; Jo
2.17).
Como o Servo de Deus, Jesus fica no lugar de seu povo e
assume o castigo de seus pecados; como o Servo vitorioso, ele
é exaltado à destra de Deus. Ele é tanto o Rei como o justo adorador
do SI 24: "Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de
permanecer no seu santo lugar?"
Essa questão permeia o Antigo Testamento: "Porque,
como pode o homem ser justo para com Deus?" (Jó 9.2). O
povo da Aliança de Deus implorou por sua justiça para que os
livrasse de seus perseguidores (SI 31.1; 71.2,24). Surpreendentemente,
eles até imploraram sua justiça para livrá-los de
seus pecados (SI 143.1-2; 51.14). Como pode Deus mostrar
sua justiça justificando os injustos? Em parte, sem dúvida,
cumprindo suas maravilhosas promessas de salvação. Mas
tais muitas promessas devem então incluir uma justiça que é
dom de Deus, antes que sua exigência. Essa justiça Deus proverá
através do Messias. O Renovo justo que será levantado a
Davi será chamado de "SENHOR, JUSTIÇA NOSSA" (Jr
23.5-6; 33.15-16).
Jesus veio para cumprir toda a justiça (Mt 3.15). É ele que
manteve a lei de Deus perfeitamente, a fim de que possa ser
justiça para todo aquele que crê (Rm 10.4). Cristo foi feito pecado
por nós, a fim de que nele obtivéssemos a justiça de Deus
(2Co 5.21; 3.9). Só assim Deus poderia ser justo e o justificador
daquele que tem fé em Jesus (Rm 3.26).
Jesus Cristo é, portanto, o tema de todo o Antigo Testamento.
Quando nós lemos sobre os atos de salvação no Antigo
Testamento, nós estamos sempre tendo uma indicação
sobre a consumação total da sua salvação no Novo. O Êxodo,
tanto quanto a Páscoa, as vitórias de Sansão tanto quanto as
de Davi, mostram-nos que Deus pode salvar através do seu
Escolhido. Eles falam-nos do Todo-Poderoso que veio destruir
as forças do mal na cruz. A lei cerimonial completa tem um
propósito simbólico. O sangue dos touros e dos bodes não
pode retirar o pecado; somente o sangue de Cristo pode. Os
profetas, sacerdotes e reis do Antigo Testamento são separados
para representar o povo diante de Deus e Deus diante do
povo. O chamamento que eles recebem prepara-nos para entender
o único Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo
(1Tm 2.5). Não há uma parte na história da salvação de
Deus (ou da sua obra de juízo) que não leve a Jesus Cristo,
"para em todas as cousas ter a primazia" (CI 1.18). Jesus Cristo
está em todo o Antigo Testamento, não apenas em algumas
passagens messiânicas. Seu senhorio e sua servidão estão
interligados nele como os fios de um tecido. O exemplo do tecido
mantém-se como um enigma para nós até o vermos
como aquele de quem Moisés e os profetas escreveram, o
Alfa e o Ômega de nossa fé.
Teologia Reformada
James Montgomery Boice
A Teologia Reformada recebe seu nome da Reforma Protestante
do século XVI, com suas ênfases teológicas distintas,
mas é teologia solidamente baseada na própria Bíblia. Os crentes
na tradição reformada têm em alta consideração as contribuições
específicas como as de Martinho Lutero, John Knox e,
particularmente, de João Calvino, mas eles também encontram
suas fortes distinções nos gigantes da fé que os antecederam,
tais como Anselmo e Agostinho e principalmente nas cartas de
Paulo e nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Os Cristãos Reformados sustentam as doutrinas características
de todos os cristãos, incluindo a Trindade, a verdadeira
divindade e verdadeira humanidade de Jesus Cristo, a necessidade
do sacrifício de Jesus pelo pecado, a Igreja como uma instituição
divinamente estabelecida, a inspiração da Bíblia, a
exigência para que os cristãos tenham uma vida reta e a ressurreição
da corpo. Eles sustentam outras doutrinas em comum
com cristãos evangélicos, tais como a justificação somente
pela fé, a necessidade do novo nascimento, o retomo pessoal e
visível de Jesus Cristo e a Grande Comissão.
O que, então, é distinto a respeito da Teologia Reformada?
1. A Doutrina das Escrituras.
O compromisso da reforma para com a Escritura enfatiza a
inspiração, autoridade e suficiência da Bíblia. Uma vez que a Bíblia
é a Palavra de Deus e, portanto, tem a autoridade do próprio
Deus, os reformadores afirmam que essa autoridade é superior
àquela de todos os governos e de todas as hierarquias da Igreja.
Essa convicção deu aos crentes reformados a coragem para
enfrentar a tirania e fez da teologia reformada uma força revolucionária
na sociedade. A suficiência das Escrituras significa
que ela não necessita ser suplementada por uma revelação
nova ou especial. A Bíblia é o guia completamente suficiente
para aquilo que nós devemos crer e para como nós devemos viver
como cristãos.
Os Reformadores, em particular João Calvino, enfatizaram
o modo como a Palavra escrita, objetiva e o ministério interior,
sobrenatural do Espírito Santo trabalham juntos, e o Espírito
Santo iluminando a Palavra para o povo de Deus. A Palavra sem
a iluminação do Espírito Santo mantém-se como um livro fechado.
A suposta condução do Espírito sem a Palavra leva a erros
e excessos. Os Reformadores também insistiam sobre o
direito de os crentes estudarem as Escrituras por si mesmos.
Ainda que não negando o valor de mestres capacitados, eles
compreenderam que a clareza das Escrituras em assuntos essenciais
para a salvação torna a Bíblia propriedade de todo
crente. Com esse direito de acesso, sempre vem a responsabilidade
sobre a interpretação cuidadosa e precisa.
2. A Soberania de Deus.
Para a maioria dos reformadores, o principal e o mais distinto
artigo do credo é a soberania de Deus. Soberania significa
governo, e a soberania de Deus significa que Deus governa sua
criação com absoluto poder e autoridade. Ele determina o que
vai acontecer, e acontece. Deus não fica alarmado, frustrado ou
derrotado pelas circunstâncias, pelo pecado ou pela rebeldia de
suas criaturas.
3. As Doutrinas da Graça.
A Teologia Reformada enfatiza as doutrinas da graça.
Depravação Total. Isso não quer dizer que todas as pessoas
são tão más quanto elas poderiam ser. Significa, antes, que
todos os seres humanos são afetados pelo pecado em todo
campo do pensamento e da conduta, de forma que nada do que
vem de alguém, separado da graça regeneradora de Deus, pode
agradá-lo. À medida que nosso relacionamento com Deus é
afetado nós somos tão destruídos pelo pecado, que ninguém
consegue entender adequadamente Deus ou os caminhos de
Deus. Tampouco somos nós que buscamos Deus, e, sim, é ele
quem primeiramente age dentro de nós para levar-nos a agir assim.
Eleição incondicional. Uma ênfase na eleição incomoda
muitas pessoas, mas o problema que as preocupa não é realmente
a eleição; diz respeito à depravação. Se os pecadores
são tão desamparados em sua depravação, como a Bíblia diz
que são, incapazes de conhecer Deus e relutantes em buscá-lo,
então, o único meio pelo qual eles podem ser salvos é quando
Deus toma a iniciativa de mudá-los e salvá-los. É isso que significa
a eleição. É Deus escolhendo salvar aqueles que, sem sua
soberana escolha e subseqüente ação, certamente pereceriam.
Expiação limitada. O nome é, potencialmente, enganoso,
pois ele parece sugerir que os reformadores desejam de alguma
forma limitar o valor da morte de Cristo. Não é o caso. O valor da
morte de Cristo é infinito. A questão é saber qual é o propósito da
morte de Cristo e o que ele realizou com ela. Cristo pretendia fazer
da salvação algo não mais que possível? Ou ele realmente salvou
aqueles por quem ele morreu? A Teologia Reformada
acentua que Jesus realmente fez propiciação pelos pecados daqueles
a quem o Pai escolhera. Ele realmente aplacou a ira de
Deus para com seu povo, assumindo sua culpa sobre si mesmo,
redimindo-os verdadeiramente e reconciliando verdadeiramente
aquelas pessoas específicas com Deus. Um nome melhor para
expiação "limitada" seria redenção "particular" ou "específica".
Graça irresistível. Abandonados em nós mesmos, nós resistimos
à graça de Deus. Mas, quando Deus age em nosso coração,
regenerando-nos e criando uma vontade renovada,
então, o que antes era indesejável torna-se altamente desejável,
e voltamo-nos para Jesus da mesma forma como antes fugíamos
dele. Pecadores arruinados resistem à graça de Deus,
mas a sua graça regeneradora é efetiva. Ela supera o pecado e
realiza os desígnios de Deus.
Perseverança dos santos. Um nome melhor seria "a perseverança
de Deus com os santos", mas ambas as idéias estão
realmente juntas. Deus persevera conosco, protegendo-nos de
deixar a fé, que certamente aconteceria se ele não estivesse
conosco. Mas, porque ele persevera, nós também perseveramos.
Na realidade, perseverança é a prova definitiva de eleição.
Nós perseveramos porque Deus nos 1 ipreserva 1 r da completa
e final separação dele.
ARTIGOS 1556
4. O Mandato Cultural.
A Teologia Reformada também enfatiza o mandato cultural
ou a obrigação de os cristãos viverem ativamente em sociedade
e de trabalharem para a transformação do mundo e suas culturas.
Os Reformadores tiveram várias perspectivas nessa
área, dependendo da extensão como acreditam que tal transformação
seja possível. Mas, no geral, eles concordam com
duas coisas. Primeira, nós somos chamados para estar no
mundo e não para nos afastarmos dele. Isso separa os reformadores
crentes do monasticismo. Segunda, nós devemos alimentar
os famintos, vestir os despidos e visitar os prisioneiros.
Mas as principais necessidades das pessoas ainda são espiri-
Interpretando a Bíblia
Bruce Wahke
A Hermenêutica bíblica, a arte de interpretar a Bíblia, tem
como objetivo desenvolver regras para a sua interpretação.
Este artigo apresenta duas regras básicas com importantes
aperfeiçoamentos para cada uma e duas palavras finais de encorajamento
ao leitor. Essas regras são baseadas na convicção
de que o Deus trino, para o bem de seus escolhidos, progressivamente
se revelou, de acordo com seu próprio e imutável desígnio,
através dos escritores inspirados, e providencialmente
supervisionou a coleção de seus textos em um cânone, a Bíblia,
para sua própria glória eterna.
Regra Um: Interprete as Palavras da Bíblia à Luz de seu
Contexto Histórico
As diferentes partes da Bíblia devem ser interpretadas de
acordo com o método histórico-gramatical, ou seja, pelo estudo
do significado de suas palavras à luz do tempo e do lugar onde foram
originalmente escritas. Os livros da Bíblia são muito antigos,
muito mais do que outros livros que a maioria das pessoas já leram.
O mundo da Bíblia é tão diferente do nosso, que, às vezes,
uma tradução não consegue superar a lacuna entre esses textos
antigos e os leitores modernos. Mas os tradutores desta Bíblia e
os colaboradores das notas não reinterpretaram a Bíblia para
adequar-se às posturas modernas; nem o leitor deve fazer isso.
A aplicação da primeira regra é complexa porque os textos
bíblicos foram continuamente reposicionados à medida que o
cânone da Escritura se expandia progressivamente. Nesse contexto
revelador os textos primitivos adquirem sentido mais amplo.
Por exemplo, os Salmos individuais dirigidos às pessoas no
período do primeiro templo tornaram-se finalmente a Palavra de
Deus escrita para o povo da Aliança como um todo, após terem
sido agrupados e organizados no Livro de Salmos. A partir desse
ponto, os Salmos deveriam ser lidos e meditados (SI 1) à luz
de.seus novos contextos literário e social. Por exemplo, o SI 2, o
qual proclama o rei de Israel como o filho ideal de Deus com um
mandato para governar a terra através da oração e do poder, foi
cantado antes do exílio no primeiro templo, provavelmente na
coroação dos reis de Israel. No entanto, quando o Livro de Salmos
foi editado após o exílio, o trono de Israel estava vago,
aguardando o rei prometido, "o Messias''. Sob esse prisma, o SI
2 tornou-se puramente profético. Após a vinda de Cristo, os
tuais, e a obra social não é substituto adequado para a evangelização.
Na verdade, o empenho em ajudar as pessoas só será
verdadeiramente eficiente se seu coração e mente forem transformados
pelo evangelho. Isso separa os crentes reformadores
do simples humanitarismo.
Tem-se alegado que, para a Teologia Re\mmada, qua\quer
pessoa que crê e faça parte da linha reformada perderá toda a
motivação para a evangelização. "Se Deus vai agir; por que devo
me preocupar?" Mas não é assim que funciona. E porque Deus
executa a obra que nós podemos ter coragem de nos unirmos a
ele, da forma como ele nos ordena a agir. Nós agimos assim alegremente,
sabendo que nossos esforços jamais serão em vão.
Salmos tornaram-se parte da Bíblia, que incluía o Novo Testamento;
sob essa luz, "o Messias" do Salmo 2 assume seu mais
completo e claro sentido: ele não é outro senão o Senhor Jesus
Cristo. Compreender a Bíblia completamente significa vigiar
atentamente os estágios de desenvolvimento da revelação.
Regra Dois: Interprete as Partes da Bíblia à Luz do Todo
A segunda importante regra de interpretação é freqüentemente
chamada de "a analogia da fé". Essa regra afirma que as
Escrituras interpretam as Escrituras. A própria Bíblia diz que todas
as suas partes são inspiradas por Deus (2Tm 3.16), que não
é um Deus de confusão ( 1 Co 14.33). A regra é corroborada pela
existência da Bíblia como um único volume. A coleção de 66 livros,
escritos num período de 1.500 anos em um único livro, reflete
a convicção da Igreja de que o Autor transcendente
supervisionou a coleção dos muitos textos num todo harmonioso.
A interpretação que contrapõe as Escrituras contra as Escrituras
desonra o Alfa e o Ômega, que vê e governa desde o
começo até o fim de todas as coisas.
Mais especificamente, o Antigo Testamento deve ser interpretado
à luz do Novo Testamento. Isso é exigido tanto porrazões
literárias como por razões teológicas. Numa dissertação
lingüística, o fluxo de pensamento mantém-se projetando significados
indeterminados. Por exemplo, a palavra "canto" em
português é ambígua na afirmação "O canto do palácio da rainha",
que pode ser entendido como uma música cantada ou um
lugar no palácio. De forma semelhante, conforme se revela a
história da revelação de Deus e do estabelecimento de seu reino,
textos ambíguos tornam-se mais claros. Por exemplo, a
ambígua palavra "descendência" (uma ou muitas?) na promessa
de Deus a Abraão (Gn 22.18) toma-se clara em Cristo (GI
3.16). A virgem e Emanuel que não são identificados em Isaías
7 .14 são considerados a Virgem Maria e seu Filho (Mt 1.23), e o
Servo anônimo em Isaías (42.1-4; 49.1-6; 52.13-53.12;
61.1-2) é revelado como sendo Jesus, o sofredor e triunfante
Salvador (Mt 12.18-21; Lc 24.44-49; 1 Pe 1.11 ).
Esta regra é exigida teologicamente. Cristo, que através do
Espírito Santo dirige sua Palavra aos apóstolos, é não somente
a final mas também a melhor revelação de Deus. Deus falou
muitas vezes e de muitas maneiras nos tempos passados (Hb
1.1 ), incluindo sua revelação a Moisés e aos profetas. Apesar
ôas sua'<. \lôúadas IJSicologias pelas quais Deus se revelou a
eles, todos os autores bíblicos escrevam com infalível autoridade.
Mas eles não têm peso igual na interpretação, como a disputa
entre Arão e Miriã contra Moisés torna evidente. O irmão e
a irmã de Moisés, ambos profetas, desafiaram a importância da
Palavra de Moisés sobre as suas (Nm 12.1-2). Em resposta,
Deus os censurou por seu orgulho, argumentando que as palavras
de Moisés eram superiores, porque Deus deu a Moisés
uma revelação mais confiante e mais clara do que para eles (vs.
6-8). A história estabelece o importante princípio de que as formas
de revelação exigem uma hierarquia de prioridades interpretativas.
Cristo é tanto maior do que Moisés quanto um filho é
maior sobre uma casa do que um escravo dentro dela (Hb
3.5-6). Se Arão e Miriã deveriam ter medo de se tornarem iguais
a Moisés, tanto mais devem os leitores temer tornar o Antigo
Testamento igual ao Novo Testamento, que o completa. Na
verdade, conforme a conversa entre Filipe e o oficial etíope demonstra
(At 8.30-31), o Antigo Testamento não pode ser completamente
compreendido sem o Novo Testamento. Se houver
alguma dúvida de interpretação entre o Antigo e o Novo Testamento,
a prioridade deve ser dada ao Novo Testamento. Isso não
significa que o Novo Testamento corrige o Antigo, mas que ele
oferece maior clareza de compreensão do Antigo Testamento.
Interpretando os Diferentes Tipos de Literatura da Bíblia
Com essas duas regras fundamentais em mente, podemos
agora desenvolvê-las. O método gramático-histórico reconhece
que diferentes tipos de literatura ou "gêneros", tais como história,
lei e profecia, no Antigo Testamento e parábolas e as cartas
no Novo Testamento, exigirão diferentes regras de interpretação.
Por exemplo, em contraste com a literatura legal, a literatura
profética, como Nm 12.6-7 torna claro, é freqüentemente
simbólica e cheia de figuras de linguagem, tais como metáfora,
personificação e metonímia. Além disso, as visões e os sonhos
proféticos simbólicos adquiriram suas cores e matizes de suas
situações históricas. Por exemplo, no limiar da profecia, Deus
adverte a serpente: "Este (o descendente da mulher) te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.'' Isso não é um mito sobre a
antipatia entre seres humanos e serpentes, mas uma afirmação
sobre o conflito entre Cristo e Satanás (Rm 16.20); a profecia
recebe seu colorido da situação no jardim.
Essa espécie de linguagem simbólica torna-se ainda mais
intensificada e extensa na literatura apocalíptica tal como Daniel
no Antigo Testamento e Apocalipse no Novo. O Portal de
lshtar de Nabucodonosor, agora em um museu na Alemanha,
explicará completamente por que Daniel teve sonhos fantásticos
com animais. Naquele Portal, por onde Daniel passou muitas
vezes, a divindade protetora da Babilônia é representada em
tijolos de ouro contra um fundo em azul, como sendo um animal
com cabeça de dragão, o tronco de leão e as garras de uma
águia. Não é de se admirar que Daniel, o chefe administrativo
da Babilônia, tenha visto um leão com asas de águia e uma série
de outros estranhos animais representando a Babilônia e
seus sucessivos reinos (Dn 7).
Os profetas do Antigo Testamento, usando as imagens de
seu mundo para mostrar a grandeza do Reino de Cristo a partir
de seu trono celestial, sobrecarregaram as velhas figuras. Para
retratar o caráter celestial do Reino de Cristo, por exemplo, o
monte Sião é descrito como a mais alta montanha, presumivelmente,
como conhecida, mais alta que o monte Everest (Mq
4.1 ). Para mostrar a santidade de seu Reino, até mesmo os arreios
de cavalos têm a inscrição reservada antigamente para o
diadema do sumo sacerdote, SANTO AO SENHOR (Zc 14.20).
Jesus usou parábolas enigmáticas a fim de esconder seu significado
dos incrédulos e revelá-lo aos seus discípulos (Mt 13).
Enfaticamente, a primeira regra da hermenêutica não significa
que as palavras devem sempre ser tomadas no seu significado
simples, "natural"; o intérprete tem de levar em conta cuidadosamente
as figuras de linguagem e os gêneros literários.
A literatura profética e apocalíptica do Antigo Testamento
e as parábolas de Cristo no Novo não devem ser lidas da mesma
forma que as cartas de Paulo. Assim como os artigos de
enciclopédias não podem ser lidos como poemas, também os
Salmos não devem ser lidos como Crônicas. Textos relativamente
claros, como as epístolas, não devem ser interpretados
à luz da literatura profética e apocalíptica, menos transparente;
em vez disso, o texto que não estiver claro deve ser lido à
luz do que apresenta clareza. Mais sutilmente, mesmo as cartas
de Paulo, como as dirigidas aos coríntios, que pressupõem
que o leitor conhece a situação a que o apóstolo está se referindo,
são menos claras do que uma epístola como Romanos,
que apresenta a fé cristã logicamente dentro de um contexto
histórico particular.
Mesmo o que parece ser história direta, tais como Reis e
Crônicas no Antigo Testamento e os Evangelhos no Novo, não é
tão direta como pode parecer na primeira leitura. Os historiadores
inspirados de ambos os Testamentos escolheram cuidadosamente
seu material e o organizaram para ensinar lições
espirituais, de acordo com as necessidades de seu público.
Algumas vezes, os incidentes são organizados em ordem dramática
ou em tópicos, em vez de ser numa seqüência puramente
cronológica. Por exemplo, o Quadro das Nações em Gn 1 O
veio cronologicamente após Gn 11, a história da torre de Babel,
mas Moisés queria que seu público visse as nações sob a bênção
de Deus (Gn 9.1-17) e não sob seu julgamento (Gn 11.9).
As vezes, a linha entre a literatura histórica e a simbólica é atenuada
como nas histórias dos primeiros capítulos de Gênesis e,
como alguns pensam, em Jonas. Ninguém pensa especificamente
que Eva foi apenas condenada à dor no parto e que Adão
foi condenado somente a voltar ao pó após a morte (Gn
3.16-19). Todo leitor intuitivamente percebe que Adão e Eva representam
todo homem e toda mulher. No entanto, as genealogias
do Antigo Testamento e os ensinamentos do Novo
Testamento dão validade também ao seu caráter histórico.
A segunda regra, a "analogia da fé", necessita ser desenvolvida,
particularmente com relação à história política do Antigo
Testamento e sua relação com o Novo. Deus não está dando
andamento a dois programas, um com o Israel terreno e outro
com a Igreja celestial, como ficou popularizado no ensino dispensacionalista.
Em vez disso, a apresentação terrena do Reino
no Antigo Testamento é típica da sua manifestação celestial e
espiritual no Novo Testamento. Por exemplo, a libertação política
e religiosa de Israel em relação ao Egito, através do cordeiro
ARTIGOS 1558
pascal, o batismo de Israel no mar Vermelho e a peregrinação
através do deserto, sustentada pelo maná do céu e pela água
da rocha, e depois a entrada na terra de Canaã retratam, em termos
concretos, a experiência espiritual da Igreja. A história do
Antigo Testamento retrata graficamente o êxodo do Novo Israel
do mundo satânico, com sua submissão ao pecado e morte,
através do Cordeiro pascal, Cristo (1Co5.7), do batismo na sua
morte e ressurreição, isto é, a morte para o mundo e o nascimento
para a novidade da sua vida de ressurreição (Rm 6.3-4;
GI 6.14), a peregrinação para a cidade celestial, sustentada pelos
sacramentos do pão e do vinho (1 Co 10.1-17) e o descanso
final na Terra Prometida (Hb 4.6-11; 11.39-40). O ritual de Israel,
com seu lugar consagrado no monte Sião, suas estações e sábados
sagrados, seus reis e sacerdotes sagrados e suas instituições
santificadas, tal como o sacrifício de animais,
simbolizadas nas realidades celestiais (Êx 25.9), estão agora
cumpridas desde que Cristo entrou no santuário celestial (Hb
9.10). Os rituais temporais e terrenos eram típicos e tornaram-
se obsoletos para sempre, quando Cristo trouxe sua Igreja
glorificada para os eternos domínios celestiais. Hoje, a Igreja
"está oculta juntamente com Cristo" nos lugares celestiais (CI
3.1-4), e, no futuro, ele será visto como ele é (1 Jo 3.2-3). O cristão
deve ler a história de Israel e das cerimônias não somente
com uma visão para entender o que significava a história e os
rituais de Israel naquele tempo, mas também ter em vista sua
significação antitípica, de acordo com o Novo Testamento.
A Alta Crítica
J. I. Packer
Crítica de um documento é o exercício de julgamento de
uma pessoa sobre todas as questões envolvidas na compreensão
de seu significado, verificação de sua verdade e apreciação
de seu valor. A Crítica é essencialmente uma disciplina de apreciação,
não um compromisso de encontrar falhas, e não é necessariamente
destrutiva. As questões que o estudo crítico
levanta relacionam-se com as fontes delineadas e o uso que se
fez delas, a identidade do escritor, credenciais, propósitos e o
estilo e estrutura do próprio documento.
A Crítica da Bíblia explora essas questões na medida que
se relacionam com os 66 livros que compõem as Escrituras canônicas.
Tradicionalmente, as questões foram divididas entre o
que foi chamado de Baixa Crítica, a qual compara os manuscritos
existentes do Antigo e do Novo Testamento, a fim de determinar
tão precisamente quanto possível os textos originais em
hebraico, aramaico e grego, e Alta Crítica, que investiga a autoria,
datas, fontes, formas literárias, estágios de composição e
fundo histórico dos vários livros. ·
A Alta Crítica, no uso popular, designou um grupo particular
de teorias que supõem que vários livros bíblicos não são o que
parecem. Nesse uso, a expressão refere-se a suposições céticas
nas quais as teorias se apóiam e as frias conclusões que
elas oferecem, em vez do argumento e da própria análise. Os
que se opõem e rejeitam a Alta Crítica estão usando a expressão
na forma /imitada. Duas teorias delineiam as objeções mais
freqüentes:
Além do mais, as promessas proféticas, moldadas de acordo
com as expressões políticas do reino como eram conhecidas
antes de Cristo, não devem ser interpretadas como tendo
uma concretização futura, carnal, baseada no modelo típico que
foi extinto (Hb 8.13), como supôs algum ensinamento dispensacionalista.
Em vez disso, as promessas devem ser lidas à luz
das realidades antitípicas, celestiais e espirituais, que perduram
para sempre (2Co 4.18).
Duas palavras finais. Primeira, embora a Bíblia seja um livro
muito antigo, ela é dirigida a você. Quando apresentam citações
do Antigo Testamento, os escritores do Novo Testamento
freqüentemente usam o tempo presente: "Deus diz'', em vez de
"Deus disse", e eles reforçam a importância presente de sua
antiga Palavra acrescentando "para nós" e "para vós" em lugar
de "para eles" (1 Co 9.9-10). Tanto Moisés quanto Paulo dizem:
"A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração" (Dt
30.14; Rm 10.8). Segunda, porque a Bíblia é a Palavra de Deus,
não leia a Bíblia da mesma forma que outros livros. Os escritores
bíblicos constantemente usam expressões como "Deus diz"
(Is 1.18-20; Mt 19.4; At 4.25). Freqüentemente, Deus afirma diretamente:
"Eu digo" (Mq 1.6-8). Aceite a Palavra de Deus com
fé e medite sobre ela com a memorização, a imaginação e a reflexão.
Antes de ler as páginas sagradas, ore: "Ó Deus, fala comigo"
(Pv 2.1-6). Você também dirá como outros: "Não nos
ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava?" (Lc
24.32)
1. A Hipótese de Desenvolvimento Relacionada ao Pentateuco.
Esta é uma hipótese de trabalho, desenvolvida pelos
eruditos alemães Graf e Wellhausen, que é hoje comumente
ensinada como o ponto de partida para o estudo bíblico acadêmico.
Em 1950, H. H. Rowley, um destacado erudito do
Antigo Testamento, escreveu:
Uma simples concentração nas dificuldades reconhecidas
da visão de Graf-Wellhausen e em seguida numa seleção
de pontos que parecem dar apoio a uma visão contrária
não bastarão. Pois nenhuma das visões contrárias pode
acomodar tantos fatos ... Apesar de ter dito isso, continua
sendo verdade que a visão de Graf-Wellhausen é somente
uma hipótese de trabalho, que pode ser alegremente abandonada
quando uma visão mais satisfatória for encontrada,
mas que não pode ser vantajosamente ignorada até então
(The Growth of the Old Testament [London: Hutchinson's
University Library, 1950]. p. 46).
Muitos eruditos do Antigo Testamento repetiriam as palavras
de Rowley hoje.
A hipótese é complexa. Ela começa com a suposição de que
os cinco livros de Moisés são uma composição de quatro fontes
distintas: duas narrativas históricas (J e E); Deuteronômio (D); e
um documento relacionado principalmente com adoração e ritual
(P, que teria sido composto por sacerdotes). Wellhausen acreditava
que o padrão de adoração de Israel se desenvolveu de santuários
primitivos e locais para um único templo em Jerusalém, que
se tornou o único lugar onde os sacrifícios poderiam ser oferecidos.
Dessa forma, D e P foram escritos, pelo menos em parte,
para reivindicar a aprovação de Moisés para essa organização.
Wellhausen datou J e E na antiga monarquia, uma vez que eles
refletem a aceitação inquestionável de santuários locais. Ele
identificou o Deuteronômio como o livro da lei encontrado no
templo durante as reformas de Josias (621 a.C.; 2Rs 22.8-20) e o
descreveu como um tratado pseudomosaico do século VII impondo
a centralização da adoração. O documento P ele situou
após o exílio, durante o tempo em que, segundo sua teoria, a
compilação final estava sendo feita à mão e conduzida sob direção
de Esdras.
De acordo com essa visão, nenhum material dos cinco livros
foi escrito por Moisés; D e P foram posteriores a Moisés e expressavam
idéias de que Moisés (uma figura muito obscura, na
mente de Wellhausen) podia jamais ter tido. De modo não surpreendente,
a negação especulativa da autoria mosaica e sua
afirmação de que a figura de Moisés foi usada enganosamente
para promover uma posição não mosaica foram sustentadas
para levantar graves questões sobre a autoridade da Bíblia. Pode
a autoridade divina ligar-se à ficção mascarando fatos?
2. A Data do Século li Proposta para o Livro de Daniel. Esta
segunda teoria pode ser datada desde um escritor anti-cristão
do século Ili chamado Porfírio. Porfírio sustentava que Daniel foi
escrito quando Antíoco Epifânio estava perseguindo os judeus
e que seu propósito era encorajar os perseguidos. Não aceitando
que Daniel seja profecia de predição, a teoria trata dos panoramas
dos impérios terrenos nos capítulos 2, 7, 8 e 11 como
sendo escritos após o evento, para manter a confiança de que
Deus esteve o tempo todo no controle, e logo traria aflição a
Antíoco e levantaria seu próprio reino de forma visível. Para o livro
ter esse efeito, entretanto, ele teria de ser aceito como uma
produção do século VI, na qual os capítulos sobre visões foram
escritos pelo próprio Daniel. Aqui novamente estava uma teoria
envolvendo mentira e falsidade em questões de fato que nega a
uma parte da Bíblia a autoridade da verdade.
Outras teorias amplamente sustentadas, que são às vezes
citadas como exemplos da mais alta crítica são igualmente problemáticas,
levantando freqüentemente a objeção se o material
escrito, que para ter efeito, depende de dar ao leitor impressões
falsas sobre questões, pode, de fato, ser a autorizada palavra de
Deus. O que está em pauta aqui não é o tipo de dramatização
transparente que a maioria dos eruditos encontra no Eclesiastes,
onde o pregador retrata Salomão em dois capítulos (2; 3) com
impacto narrativo, mas ilusões que devem permanecer escondidas
se os resultados desejados devem ser assegurados. Os escritores
bíblicos sempre assumem que, porque Deus é
verdadeiro e as Escrituras são sua Palavra para nós, todas as afir-
Evangelização e Missões
Luder G. Whitlock
A Necessidade da Evangelização.
Ser bíblico é ser evangelista, porque o evangelho é a mensagem
central da Bíblia. Do início ao fim, ele indica o Salvador
mações bíblicas são verdadeiras. Os adeptos da Alta Crítica que
acham que há boas razões para concluir que, por exemplo, as
cartas que usam o nome de Paulo e reivindicam sua autoridade
apostólica não foram escritas por ele ou que outros capítulos incluídos
nos livros que usam os nomes dos profetas não foram escritos
ou conhecidos por aqueles profetas (p. ex., Is 4~6; Zc
9-14) ou que narrativas que dão a entender serem fatos (p. ex.,
Adão e Eva, os patriarcas, o Êxodo, as histórias de milagres dos
Evangelhos) são realmente ficção, devem defender a retirada delas
do cânone bíblico. O fato de que eles pensam assim demonstra
não só irreverência para com as Escrituras, mas também falta
de entendimento quanto à sua natureza.
Há clara evidência no mundo da erudição de que as teorias
da Alta Crítica já descritas são desnecessárias e, na verdade, artificiais.
Elas foram criadas com um fundo de preconceito contra
a soberania divina, o discurso divino, os milagres e de desejo por
explicação naturalísticas do aparentemente sobrenatural. Atualmente,
essas correntes teológicas são menos fortes. Embora a
hipótese de Wellhausen ainda seja freqüentemente ensinada aos
iniciantes como se fosse uma certeza, profissionais de todas as
escolas de pensamento a estão presentemente questionando de
todos os ângulos. A autenticidade de todas as cartas de Paulo,
todos os livros proféticos do Antigo Testamento, toda a história
do Gênesis e dos Evangelhos e, na verdade, todos os fatos da Bíblia
que foram questionados em qualquer época do passado são
atualmente defendidos pelos eruditos com pelo menos tanta
convicção quanto pareciam no ceticismo para os céticos.
Mas isso não quer dizer que o apropriado trabalho de crítica
bíblica, tanto a alta quanto a baixa, está encerrado ou que algum
dia será. A forma da mente revelada de Deus está presente nas
expressões de seus escritores humanos, e, portanto, o trabalho
de exploração em todos os ângulos do que eles escreveram deve
continuar. As técnicas de crítica são, pois, muitas ferramentas
para essa tarefa. Até a metade do século XX, os escritores bíblicos
eram vistos pelos críticos principalmente como coletores,
guardiães e servos de tradições, e o interesse crítico centralizava-
se nas suas fontes e nas formas literárias de seus materiais.
Mais recentemente, o interesse centralizou-se nos escritores
como pensadores e comunicadores por seu próprio direito, e as
técnicas principalmente cultivadas foram aquelas relacionadas
com a crítica literária e social, investigando como o conhecimento
dos assuntos sobre os quais os escritores estavam escrevendo
condicionou o que eles diziam. Todas estas são linhas adequadas e
necessárias de investigação, e há respostas certas a serem dadas
a essas questões, e não devemos nos desencorajar na sua procura
pelo fato de que, às vezes, surgem respostas erradas. As teorias
que formamos, contudo, devem sempre ter em vista aquilo
que os teóricos da "Alta Crítica" esqueceram - que as Escrituras
Sagradas são a verdadeira e fidedigna Palavra de Deus.
que deveria vir, veio e virá novamente. O único meio de tornar-
se aceitável para o Pai é através da fé nele. Uma vez que as
pessoas não podem crer nele a não ser que conheçam sobre
ARTIGOS 1560
ele, alguém deve revelar-lhes (Rm 10.14). Isso exige evangelização.
É por isso que o apóstolo Paulo, evangelista e missionário
por excelência, insistia que, se ele não fizesse nada mais, ele
pregaria Cristo crucificado (1 Co 1.17; 2.2). João Calvino disse:
"Nós devemos, tanto quanto está dentro de nós, nos esforçar
para levar todos os homens da terra para Deus" ( 1 iComentário
1 r sobre Dt 33.18-19), acrescentando que nada poderia ser
mais inconsistente com a natureza de nossa fé do que negar a
verdade sobre Deus a outros (Is 2.3).
Deus deseja que todas as pessoas em todos os lugares ouçam
o evangelho. Há e sempre houve uma dimensão multinacional
definida para o seu plano de redenção. Quando ele fez sua
aliança com Abraão, prometendo tornar seus descendentes
urna grande nação, Deus também prometeu abençoar todas as
famílias da terra através de Abraão (Gn 12.1-3). Israel era a nação
escolhida por Deus, mas Israel era também usada por Deus
para atrair outras pessoas a ele, tais como Rute, a rnoabita, Naamã,
o sírio, e o povo de Nínive. Deus prometeu enviar a tempo
o Messias como urna luz para as nações que viviam na escuridão
(Is 60.1-3). O Messias se transformaria no sacrifício perfeito
para o pecado humano, trazendo purificação às nações, de
forma que a salvação de Deus seria levada aos confins da terra
(Is 53.1O,15). O próprio templo era urna casa de oração e adoração
para todas as nações (Me 11.17-18).
A Grande Comissão para fazer discípulos de todas as nações
tem raízes na aliança abraâmica. Em Pentecostes, o impulso
multinacional do evangelho apareceu quando o Espírito
Santo deu o testemunho dos crentes na Judéia, Samaria e nos
confins da terra (At 1.8; 2.5-15, 17,21 ). Todas as nações estarão
representadas no céu (Ap 5.9; 7 .9; 21.22-26). Portanto, os cristãos
têm uma permanente obrigação de comunicar o evangelho
a todas as pessoas em toda parte do mundo. Isso exige
missões.
A Responsabilidade de Todo Crente.
O clero e os líderes cristãos não são os agentes exclusivos
da evangelização, mas todo cristão, conforme surge a oportunidade
no fluxo e refluxo da vida diária, deve ser uma testemunha
de Cristo, confessando-o em palavras e ações. A Evangelização
inevitavelmente acompanha a presença do Espírito Santo, porque
ele é o Espírito da verdade e testemunha de Jesus (Jo
15.26-27). O Livro de Atos descreve crentes comuns evangelizando
ativamente como um resultado natural de suas conversões
e circunstâncias ( At 8.1-4; 11.9,20).
Além do mais, a vida transformada do crente é, em si e por
si, insuficiente para levar alguém à compreensão do evangelho.
Ela pode testificar atraenternente a graça de Deus, mas é incompleta
se não for expressa em palavras. É necessário viver a
vida cristã de modo que os outros possam ver a diferença que
ela faz, mas isso não satisfaz a responsabilidade de evangelizar.
Assim como a revelação geral é inadequada para revelar Cristo
aos incrédulos, exigindo a especial revelação de Deus na Bíblia
para explicar quem ele é e por que ele veio, assim também o
comportamento cristão deve ser enriquecido por uma explanação
do evangelho.
O que é o Evangelho?
Não há urna ordem particular na qual a mensagem evangelística
deva ser apresentada, e as palavras para explicar o evangelho
não estão especificamente prescritas nas Escrituras,
mas há um núcleo essencial de informação a ser comunicado, e
eventualmente ele deve ser agregado logicamente na mente do
ouvinte.
A missão de Cristo, o Salvador, não faz sentido se colocada
fora do problema do pecado do qual ele veio tratar, e o pecado
não faz sentido fora da percepção da majestade e da santidade
do Criador a quem nós somos responsáveis. Deus deseja que
todos sejam santos e perfeitos ( 1 Pe 1.16; Mt 5.48). A falha em
harmonizar-se com o desígnio de Deus significa que uma pessoa
é inaceitável a ele. E ninguém se harmoniza: "todos pecaram"
(Rm 3.23; 1Jo 1.8, 1 O). As conseqüências do pecado são a
morte e o castigo (Gn 3.3; Rm 6.23). Nem grande quantidade de
esforços nem plano de melhoria podem restaurar a inocência
perante Deus.
Uma vez que os seres humanos são incapazes de se salvarem,
como alguém poderá ser salvo? Deus enviou seu Filho Jesus
Cristo ao mundo para viver a vida perfeita, sem pecado,
necessária para agradá-lo. Jesus viveu sem pecado. Como ser
humano, ele pôde identificar-se conosco e tomar-se nosso substituto.
Cristo morreu na cruz para sofrer a punição de Deus contra
o pecado. Ele foi um substituto para aqueles que crêem nele (Rm
5.12-21; 2Co 5.21). Tendo cumprido sua missão, ele venceu o
pecado e a morte na sua ressurreição e ascendeu à direita do Pai,
onde ele agora governa com toda a autoridade e poder.
Deus exige que todos respondam ao evangelho com uma
confissão do pecado e suas conseqüências, acompanhada pelo
legítimo arrependimento, o desejo sincero de abandonar o pecado.
A salvação é pela graça através da fé (Ef 2.8-9). Quando
alguém confia em Cristo corno Salvador, Deus perdoa e aceita
essa pessoa como coberta completamente pela justiça do Cristo.
O crente torna-se um filho de Deus, e lhe é assegurada a vida
eterna com ele (Jo 3.16).
A Soberania de Deus e a Evangelização.
Como o povo do Senhor obedece à sua ordem de levar o
evangelho para o mundo todo, eles assim agem com a confiança
de que seus esforços serão frutíferos e de que a sua palavra não
retornará vazia (Is 55.11 ). O sucesso da evangelização não depende
apenas do esforço humano, mas também da obra regeneradora
do Espírito Santo. No testemunho, os cristãos são
humildes e devotadamente dependentes da ajuda e da supervisão
de Deus. Um cristão deve ser paciente, aguardando o tempo
de Deus, percebendo que o mais importante é ser fiel e diligente
na execução da ordem de Deus. Quando alguém é convertido e
confessa a Cristo, os cristãos, assim como o apóstolo Paulo, se
regozijam no Senhor e o glorificam (1 Co 1.31; 2.5).

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