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DIREITO ADMINISTRATIVO - G7 MP e MAGISTRATURA - 2017

Aula 1.2

Introdução ao Direito Administrativo


1. Competência legislativa em matéria de Direito Administrativo
Em regra, cada ente da federação tem competência para legislar sobre Direito Administrativo.
As regras editadas pelo ente valem para ele próprio – o que decorre do federalismo adotado na
Constituição de 1988.
Como há uma multiplicidade de legislação, a doutrina, ao sistematizar o conteúdo, utiliza como
referência a lei federal. Assim, a lei federal é um parâmetro para se estruturar o Direito
Administrativo.
A Constituição Federal reserva algumas competências privativas para a União (art. 22 –
exemplo: desapropriação). Além de atribuir a hipótese que a União legislará sobre Direito
Administrativo, a Constituição estabelecerá a extensão desta competência. É de competência da
União, também, editar normas gerais sobre determinadas matérias afetas ao Direito
Administrativo – as quais poderão ser suplementadas pelos demais entes federativos.
Obs.: não existe Código de Direito Administrativo no Brasil.
* nunca houve no Brasil uma codificação de direito administrativo no Brasil

2. Interpretação do Direito Administrativo


Pressupostos:
A) Reconhecimento de uma relação jurídica de desigualdade entre a Administração e os
administrados: o primeiro passo é reconhecer que as partes da relação jurídica de Direito
Administrativo são desiguais. Isto porque há de um lado da relação a Administração Pública,
que defende o interesse público. A Administração ocupa uma posição de supremacia frente ao
administrado. O reconhecimento desta desigualdade na relação jurídica se traduz em poderes
administrativos (segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, quem quer os fins oferece os
meios).
Exemplo: cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos.

B) Reconhecimento de uma presunção de legitimidade em favor dos atos da Administração:


interpretar o Direito Administrativo é reconhecer que o que a Administração faz é conforme a
lei. Noutros termos, os atos da Administração têm fé pública, presumindo-se verdadeiros e
legais.

C) Reconhecimento de poderes discricionários em favor da Administração Pública: a doutrina


mais moderna prefere falar em discricionariedade, em vez de poder discricionário. Trata-se da
liberdade que a lei dá à Administração para decidir, valorar e ponderar sobre a oportunidade e
conveniência da decisão. Hipóteses em que há poder discricionário: (i) quando a lei
expressamente reconhece liberdade decisória (exemplos: cargos de provimento em comissão;
Lei nº 8.666/1993, art. 24 – é dispensável a licitação nas hipóteses); (ii) quando a lei não é capaz
de descrever todos os comportamentos da Administração (exemplo: Lei nº 8.666/1993, art. 25 -
é inexigível a licitação quando inviável a competição); (iii) quando a lei atribui uma competência
e não diz o modo de exercê-la (ex: poder de polícia; poder disciplinar).
Doutrina e jurisprudência admitem a analogia no Direito Administrativo, sendo possível a
aplicação analógica dos métodos de interpretação próprios do Direito Privado ao Direito
Administrativo.

Aula 1.3

Informativo nº 366/STF:
“A Turma negou provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal que mantivera sentença de primeiro grau e reconhecera a servidora
pública, quando de sua aposentadoria, o direito ao recebimento de férias proporcionais e de seu
respectivo adicional de um terço (CF, art. 7º, XVII), mediante a aplicação, por analogia, do § 3º do
art. 78 da Lei 8.112/90 ("O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão, perceberá
indenização relativa ao período das férias a que tiver direito e ao incompleto,..."). Sustentava a
recorrente que, por ter a recorrida se aposentado antes da vigência das leis que autorizaram a
indenização de férias proporcionais, o acórdão, ao deferir-lhe esse direito, negara vigência ao art. 6º
da LICC e conferira efeito retroativo ao art. 14 da Lei distrital 159/90, bem como ao art. 78 da Lei
8.112/90, ofendendo, por conseguinte, os artigos 5º, II e XXXVI, e 7º, XVII, da CF. Entendeu-se,
com base em precedente do STF, que não havia que se falar em ofensa ao princípio da
legalidade nem ao do direito adquirido se a decisão que condenara a Administração Pública ao
pagamento de férias proporcionais ao servidor que se aposentara se fundara em aplicação
analógica de lei superveniente em perfeita consonância com a CF (art. 40, §4º, 2ª parte - atual
§8º). Concluiu-se, ainda, não ter havido violação ao art. 7º, XVII, da CF, já que "se há
indenização é porque as férias, completas ou proporcionais, não foram gozadas, é certo que
deve ser integral, ou seja, abrangendo também o adicional de 1/3". Precedentes
citados: RREE 202626/DF e 196569/DF (DJU de 29.11.2002).”
Para o STF, portanto, o uso da analogia no Direito Administrativo não viola o princípio da
legalidade.

3. Fontes do Direito Administrativo


Para Tércio Sampaio Ferraz, sendo o Direito resultado de uma construção social, falar em suas
fontes é falar nos meios pelos quais ele nasce, se torna impositivo.

A) Doutrina tradicional
A doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles) sempre defendeu que são fontes do Direito
Administrativo (i) a lei, (ii) a doutrina, (iii) a jurisprudência e (iv) os costumes. A lei deve ser
entendida em seu sentido amplo, como atos normativos do Estado.

B) Fontes do Direito Administrativo para Maria Sylvia di Pietro


Maria Sylvia Zanella di Pietro classifica as fontes do Direito Administrativo em duas
categorias: (i) fontes supranacionais (tratados e convenções e princípios jurídicos
supranacionais – razoabilidade e devido processo legal) e (ii) fontes nacionais (legislação,
doutrina, jurisprudência, costumes e princípios gerais de direito).
As fontes nacionais são, ainda, classificadas em fontes formais e fontes materiais. São fontes
formais a Constituição, a lei, o regulamento e outros atos normativos da Administração, e
parcialmente a jurisprudência (decisões judiciais que vinculam a Adm Pública, com efeito erga
omnes nas ações coletivas; nas súmulas de efeitos vinculantes; repercussão geral).
São fontes materiais a jurisprudência (não vinculante), a doutrina, os costumes
(comportamentos reiterados com a consciência de amparo legal) e os princípios gerais de
direito (supremacia do direito público; indisponibilidade do interesse público).
Para a doutrinadora, a fonte formal se relaciona com a produção do Direito Administrativo,
enquanto a fonte material se refere à aplicação do Direito Administrativo.

4. Sistemas Administrativos
A) Conceito
São os meios de controle jurisdicional dos atos do Poder Público. Quando o Estado exerce a
jurisdição, aplica a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais com força de coisa
julgada. Falar sobre sistemas administrativos é falar sobre os mecanismos de controle judicial
dos atos do Poder Público. Existem duas modalidades:
Aula 1.4

B) Modalidades
Sistema Francês (ou sistema do Contencioso Administrativo)
Nele, existe dualidade de jurisdição. Isto é, ao lado de uma jurisdição comum (exercida pelo
Poder Judiciário), há uma jurisdição administrativa (exercida por órgão da Administração), a
quem compete o controle judicial dos atos da Administração.

Sistema Inglês (ou sistema Judiciário/Jurisdicional/unidade da jurisdição)


Também denominado pela doutrina como sistema da unidade de jurisdição. Neste sistema, há
apenas uma jurisdição, exercida pelo Poder Judiciário.

- Alguns chegaram a defender a tese de um sistema misto, reunindo elementos dos dois sistemas,
que não prosperou. A definição do sistema dependerá da predominância de suas normas, e não
da exclusividade.
No Brasil, desde que a República foi proclamada, a primeira Constituição brasileira positivou o
Sistema Inglês (CF/88, art. 5º, XXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça de lesão a direito).
Predomina na doutrina e na jurisprudência brasileiras a noção de que o interessado não precisa
exaurir as vias administrativas para recorrer ao Poder Judiciário.

5. Administração Pública
A Administração Pública é o objeto do Direito Administrativo.

A) Administração Pública em sentido amplo


Esta expressão abrange tanto a ideia de Governo quanto a ideia de Administração Pública em
sentido estrito.

B) Governo
Em sentido subjetivo, Governo são os Órgãos Constitucionais incumbidos da atividade política.
No ordenamento jurídico brasileiro, a atividade política é dividida basicamente entre dois órgãos
constitucionais: Poder Executivo e Poder Legislativo.
Em sentido objetivo, Governo é a própria Atividade Política.
* Lembre-se → função política dividida entre o poder executivo e o poder legislativo

Aula 1.5

C) Administração Pública em sentido estrito


Em sentido subjetivo, são as pessoas jurídicas incumbidas de exercer a atividade
administrativa. São os órgãos públicos, os agentes públicos. Falar em Administração em
sentido subjetivo é falar na Administração Direta e em Administração Indireta (DL 200/1967,
art. 4º):
“Art. 4° A Administração Federal compreende:
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa
da Presidência da República e dos Ministérios.
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de
personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
b) Emprêsas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas”
Em sentido objetivo, a Administração Pública é a própria atividade administrativa (uma das
atividades do Estado): isto é, (i) serviço público, (ii) poder de polícia e (iii) fomento. Alguns
doutrinadores inserem a intervenção do Estado no domínio econômico como também sendo
atividade administrativa.
Serviço público é a atividade administrativa assim qualificada pelo Direito Positivo, prestada
pelo próprio Estado ou por quem lhe faça as vezes, e consiste em oferecer uma comodidade à
coletividade, ou satisfazer uma necessidade da coletividade, segundo o regime jurídico de
Direito Público ou predominantemente de Direito Público.
OBS → CF/88, art. 175: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.”

Poder de polícia (CTN, art. 78): “Considera-se poder de polícia atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

Fomento é a atividade pública que consiste em estimular, incentivar, atividade privada de


interesse público. Ex: incentivos fiscais, parcerias em geral, bancos de fomento (BNDS)

Observação: Intervenção do Estado no Domínio Econômico


A intervenção do Estado no domínio econômico pode ser direta (quando o Estado explora
atividade econômica, através de livre concorrência ou monopólio – CF/88, arts. 173 e 177).
Celso Antônio Bandeira de Mello denomina de serviços governamentais a exploração direta de
atividade econômica pelo Estado.
OBS → Serviços governamentais é diferente de serviços públicos → serviços governamentais
consistem na exploração de atividade econômica pelo Estado, em livre concorrência ou monopólio.
Em 2016, foi editado o Estatuto da Empresa Pública e da Sociedade de Economia Mista (Lei nº
13.303/2016). → até 2 anos para as empresas estatais já existentes adaptarem-se aos ditames da lei.
Na intervenção indireta, o Estado é regulador, fiscalizador da atividade econômica.
A Administração em sentido subjetivo são sujeitos incumbidos de exercer a atividade
administrativa (Administração Direta e Administração Indireta). Empresas públicas e
sociedades de economia mista, como integrantes da Administração Indireta, são Administração
em sentido subjetivo. Todavia, podem ser criadas para (i) prestar serviço público ou para (ii)
explorar atividade econômica. Se forem criadas para explorar atividade econômica, o sentido
objetivo não coincide com o sentido subjetivo. Assim, o sujeito é administrativo, mas a
atividade é econômica. Por isto, neste caso, o regime jurídico é híbrido: à atividade aplica-se o
Direito Empresarial, mas ao sujeito se aplica o Direito Administrativo.
Observação: sentido subjetivo é sinônimo de sentido formal ou orgânico.
Observação 2: sentido objetivo é sinônimo de sentido material ou funcional.

Aula 1.6

6. Regime jurídico da Administração e Regime jurídico administrativo

A) Regime jurídico da Administração


Expressão doutrinária que se refere tanto ao regime jurídico de Direito Público quanto ao
regime jurídico de Direito Privado a que a Administração Pública pode se sujeitar. Ora a
Administração Pública se sujeita ao regime jurídico de Direito Público, ora atua segundo o regime
jurídico de Direito Privado, perdendo seus poderes, prerrogativas e autoridade – praticamente se
nivelando ao particular.
Obs.: quando a Administração atua segundo o regime jurídico de Direito Privado, sempre
haverá a influência de normas de Direito Público, que modificam, derrogam parcialmente, o
regime de Direito Privado. Daí se dizer que o regime jurídico é híbrido ou predominantemente
de Direito Privado.
Lei nº 8.666/1993, art. 62:
“§ 3º Aplica-se o disposto nos arts. 55 (cláusulas necessárias) e 58 (exorbitantes) a 61 desta Lei e
demais normas gerais, no que couber:
I - aos contratos de seguro, de financiamento, de locação em que o Poder Público seja locatário,
e aos demais cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por norma de direito privado;
II - aos contratos em que a Administração for parte como usuária de serviço público.”

B) Regime jurídico administrativo


É uma expressão doutrinária que se refere a um conjunto de princípios e regras que dá
identidade ao Direito Administrativo, cujos fundamentos são: (i) Princípio da Supremacia do
Interesse Público sobre o interesse individual e (ii) Princípio da Indisponibilidade do Interesse
Público. O princípio da Supremacia do Interesse Público se traduzirá em poderes e
prerrogativas conferidas à Administração Pública. De acordo com o princípio da
indisponibilidade do interesse público, o administrador público gere o que não lhe pertence,
não podendo livremente dispor da coisa pública.
* dois superprincípios – pedras de toque do direito administrativo (CABM – ler o capítulo 1)

7. Princípios do Direito Administrativo


Não há consenso na doutrina quando à indicação destes princípios. Os principais princípios que
compõem o ordenamento jurídico-administrativo são (CF/88, art. 37):
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:”
A Súmula Vinculante nº 13 proíbe a nomeação de parentes, até terceiro grau, para cargos em
comissão e função de confiança. Quando o STF editou a Súmula, considerou não ser necessário
que o legislador editasse lei para tal fim, pois a vedação decorre diretamente da aplicação dos
princípios constitucionais da Administração Pública.
Para o STF, agente político não pode ser submetido às hipóteses expressamente elencadas na
Súmula Vinculante nº 13, por se tratar de cargo de natureza política – ressalvada situação de
fraude à lei. (Rcl nº 6.650; RE nº 825.682-AgR).

Aula 2.1

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Se o regime jurídico administrativo é um conjunto de princípio e regras que dá identidade ao
direito administrativo, faz-se necessário o estudo dos princípios que o compõem. E, acerca do
tema, inexiste uniformidade na doutrina.
Hely Lopes Meirelles, por exemplo, identificava a impessoalidade com a finalidade, expressões
sinônimas. Asseverava que, muito antes da CF, a impessoalidade era tratada como finalidade.
No mesmo sentido, o princípio do interesse público é sinônimo do princípio da supremacia do
interesse público.
Celso Antônio Bandeira de Mello os categoriza como princípios constitucionais do Direito
Administrativo brasileiro, indicando a existência de princípios expressos e implícitos. Para o
autor, o princípio da finalidade se liga ao princípio da legalidade, isto é, a Administração faz o
que a lei manda, e quando a lei descreve o comportamento a ser adotado, aponta a sua
finalidade. Descumprir a finalidade da lei significa descumprir a própria lei. Portanto, ora
encontramos a finalidade atrelada à impessoalidade, conforme defendido por Hely Lopes
Meirelles, ora à legalidade.
Celso Antônio ainda aborda princípios não indicados por outros autores, como o princípio do
controle judicial dos atos administrativos e princípio da responsabilidade do Estado por atos
administrativos.

HELY LOPES MEIRELLES


1. Legalidade
2. Moralidade
3. Impessoalidade ou Finalidade
4. Razoabilidade e Proporcionalidade
5. Publicidade
6. Eficiência
7. Segurança Jurídica
8. Motivação
9. Ampla defesa e contraditório
10. Interesse Público ou supremacia do interesse público

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NO DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO -


PRINCÍPIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS
CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO
1. Princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado
2. Princípio da legalidade
3. Princípio da finalidade
4. Princípio da razoabilidade
5. Princípio da proporcionalidade
6. Princípio da motivação
7. Princípio da impessoalidade
8. Princípio da Publicidade
9. Princípio do devido processo legal e ampla defesa
10. Princípio da moralidade administrativa
11. Princípio do controle judicial dos atos administrativos
12. Princípio da responsabilidade do Estado por atos administrativos
13. Princípio da eficiência
14. Princípio da segurança jurídica

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
JOSE DOS SANTOS CARVALHO FILHO

1. Princípios Expressos
A. Princípios da legalidade
B. Princípios da Impessoalidade
C. Princípios da Moralidade
D. Princípios da Publicidade
E. Princípios da Eficiência

2. Princípios Reconhecidos
A. Princípio da supremacia do interesse público
B. Princípio da autotutela
C. Princípio da indisponibilidade
D. Princípio da continuidade dos serviços públicos
E. Princípio da segurança jurídica (proteção a confiança)
F. Princípio da precaução

3. Princípios da Razoabilidade

4. Princípios da Proporcionalidade

José dos Santos Carvalho Filho os denomina princípios administrativos, classificando em 1.


Expressos (art. 37, caput, da CF), 2. Reconhecidos, 3. Da razoabilidade e 4. Da
proporcionalidade. Note-se que, embora tenha se referido apenas aos princípios do artigo 37,
caput, da CF, eis que dedicados à Administração Pública, são expressos os princípios
positivados no direito posto.

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO
1. Legalidade
2. Supremacia do interesse público
3. Impessoalidade
4. Presunção de legitimidade ou veracidade
5. Especialidade
6. Controle ou tutela
7. Autotuela
8. Hierarquia
9. Continuidade do serviço público
10. Publicidade
11. Moralidade administrativa
12. Razoabilidade e proporcionalidade
13. Motivação
14. Eficiência
15. Segurança Jurídica, proteção a confiança e boa fé
Maria Sylvia limita-se a apresentar um rol de princípios da Administração Pública. Aqui,
adotaremos seus conceitos.

1º Legalidade
A CF trata da legalidade em dois pontos, no artigo 5º, dirigida ao cidadão - autonomia da
vontade -, outro dirigido à Administração, contida no artigo 37, caput - a Administração
cumpre a lei, não tem vontade -
Lei 9.784/1999,
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;

Traz esse inciso I o conceito de legalidade, para alguns legalidade em sentido amplo ou
juridicidade. Isto é, não apenas a lei deve ser cumprida, mas todos os demais regramentos e
princípios que integram o ordenamento jurídico.

2º Impessoalidade
Constituição Federal, Art. 37, § 1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes
ou autoridades;
(...)
O ato praticado pelo agente público não se reveste de pessoalidade. O Estado, enquanto pessoa
jurídica, não tem ânimo próprio, dependendo de pessoas naturais para ver declarada sua
vontade. E o ato do agente é imputado ao órgão que integra o Estado. Segundo a teoria do
órgão idealizada por Otto Gierke, o Estado é pessoa jurídica, sujeito de direitos e obrigações,
formado internamente por órgãos, cujas atribuições são fixadas pela lei, mas executadas pelo
agente público e, por fim, imputadas ao órgão. Assim, o ato do agente é impessoal.
O agente não pode se promover a partir da realização de atos, programas, obras ou serviços,
pois pertencem ao Estado, limitando-se o agente a executá-los. Pela mesma razão não será
responsabilizado objetivamente pelos atos praticados em nome do Estado que causarem danos
a outrem.
Note que a Lei n. 9.784/1999, no artigo 2º, inciso III, fala em objetividade no atendimento do
interesse público no sentido da finalidade, isto é, da impessoalidade. Ninguém deve ser
preferido, tampouco preterido.

3º Moralidade
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
(...)
A moralidade administrativa consiste em observar a ética, o decoro e a honestidade. A
moralidade integra o patrimônio público, na medida em que este não se reduz a bens e valores
de natureza meramente econômica. E, justamente por integrar o patrimônio público, merece
tutela/proteção estatal. Ex.: ação civil de improbidade administrativa por ofensa aos princípios
da Administração Pública.

Aula 2.2

4º Publicidade
Constituição Federal, Art. 5º (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...)
Lei 12.527/2011 - hipóteses de sigilo.
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição;
(...)
Conclui-se que o cidadão tem o direito de pedir, e o Estado, o dever de informar.
A divulgação oficial, pela internet, jornal, outros meios de comunicação, caracteriza-se como
condição de eficácia dos atos administrativos. Não obstante, nada substitui a publicação oficial,
cuja prática representa a certeza de que a Administração cumpriu o dever de informar.

5º Eficiência
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 19/1998
Celso Antônio Bandeira de Mello o denomina princípio da boa administração; mínimo que se
pode esperar da Administração, não sendo suficiente o mero cumprimento da lei.
O modelo burocrático de gerir a coisa pública, focado na forma, no procedimento e na
legalidade estrita, revelou-se ineficiente, levando à reforma da administração, cujo mote foi a
eficiência - rompimento do modelo burocrático para implementação do modelo gerencial -. Em
outros termos, legalidade, forma e procedimento são meios para a realização de um fim - o
interesse público -, e não fins em si mesmos, sendo o escopo principal da EC 19/1998 a
eficiência.
Celso Antônio lembra que o cumprimento da lei não pode ser preterido em busca da eficiência,
tampouco os demais princípios integrantes do ordenamento jurídico.

4º Especialidade
Lei 6404/1976, Art. 237. A companhia de economia mista somente poderá explorar os
empreendimentos ou exercer as atividades previstas na lei que autorizou a sua constituição
(Embora se aplique apenas às sociedades anônimas, traduz expressão do princípio da
especialidade).
Cada pessoa da Administração Pública indireta criada pelo Estado só pode atuar dentro da
área definida em sua lei de criação. Ex.: Correios (EBCT) somente podem executar serviço
postal, Banco do Brasil deve limitar-se ao setor financeiro.

5º Controle ou Tutela
DL 200/67
Art. 4º A Administração Federal compreende:(...)
Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-se ao
Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade.
Art. 6º As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios
fundamentais:
(...) V - Controle.
Significa dizer que o Estado, a partir da Administração Direta, controla as pessoas jurídicas da
Administração Indireta, sem qualquer subordinação, mas apenas vinculação. Não há
dependência ou autotutela, mas tutela/vinculação/controle/supervisão. Na Administração
federal, esse princípio denomina-se supervisão ministerial.
Ex.: por meio do Ministério de Minas e Energia, a União supervisiona a Petrobras; por meio do
Ministério da Fazenda, a União supervisiona a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

6º Autotutela
Lei 9.784/1999, Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos.
Poder de revisão para anular o ato ilegal ou rever o ato inconveniente. Súmula n. 473 do STF.

7º Hierarquia
Lei 9.784/1999, Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos
órgãos colegiados aos respectivos presidentes.
(...)
Lei 9.784/1999, Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes
devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão
hierarquicamente inferior.

A Professora Maria Sylvia coloca a hierarquia como princípio do Direito Administrativo, eis
que própria/característica da função administrativa. Acrescenta que legalidade e hierarquia
realizam a finalidade pública, vez que a ordem parte de cima, sendo executada pelos diversos
níveis, até chegar na ponta. Portanto, a hierarquia e os poderes hierárquicos caracterizam a
atividade administrativa.
Delegar significa transferir para outro o exercício de uma competência, dentro ou fora da
relação hierárquica. Avocar corresponde ao chamamento de uma competência realizado pelo
superior, para si, em relação ao subordinado necessariamente.

8º Continuidade dos Serviços Públicos ou Permanência


Lei 8.987/1995, Art. 6º. Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço
adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas
pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência,
segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
(...)
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de
emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
O serviço público não pode ser interrompido, salvo as exceções previstas na lei. Observe-se que
a inadimplência do Poder Público é passível de interrupção do serviço, desde que não afete
serviços essenciais, sob pena de a população sofrer a punição.

JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE PRINCÍPIO DA


CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente o
usuário, desde que precedido de notificação.
AgRg no AREsp 412822/RJ
AgRg no REsp 1090405/RO
AgRg no Ag 1270130/RJ
AREsp 473348/MG
AREsp 335531/PE
AREsp 452420/SP
AREsp 149611/SP
AREsp 088590/RJ
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por razões de ordem técnica
ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação.
AgRg no REsp 1090405/RO
REsp 1298735/RS
AgRg no REsp 1184594/MT
AgRg no Ag 1048299/RJ
AgRg no Ag 780147/RS
AREsp 149611/SP
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica quando puder afetar o direito à saúde e
à integridade física do usuário.
REsp 853392/RS
AREsp 452420/SP
É legítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente pessoa
jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e a interrupção não atinja as
unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.
AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP
AgRg no Ag 1270130/RJ
AgRg na SS 001764/PB
EAREsp 281559/AP
REsp 992040/RN
AREsp 276036/MA
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando inadimplente
unidade de saúde, uma vez que prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde.
AgRg no Ag 1329795/CE
AgRg no REsp 1142903/AL
REsp 734440/RN
AREsp 183983/SP
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando a inadimplência do
usuário decorrer de débitos pretéritos, uma vez que a interrupção pressupõe o inadimplemento
de conta regular, relativa ao mês do consumo.
AgRg no AREsp 484166/RS
AgRg no REsp 1351546/MG
AgRg no AREsp 462325/RJ
REsp 1222882/RS
AgRg no AgRg no AREsp 152296/AP
AgRg no AREsp 412849/RJ
AgRg no AREsp 360181/PE
AgRg no AREsp 345638/PE
AgRg no REsp 1261303/RS
AREsp 270291/SP
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais por débitos de usuário
anterior, em razão da natureza pessoal da dívida.
AgRg no AREsp 196374/SP
AgRg no AREsp 416393/RJ
AgRg no REsp 1381468/RN
REsp 1442585/SP
AREsp 438643/RJ
AREsp 364203/RS
AREsp 175965/SP
É ilegítimo o corte no fornecimento de energia elétrica em razão de débito irrisório, por
configurar abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade,
sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais.
REsp 811690/RR
AREsp 452420/SP
É ilegítimo o corte no fornecimento de serviços públicos essenciais quando o débito decorrer de
irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela
concessionária.
AgRg no AREsp 346561/PE
AgRg no AREsp 370812/PE
AgRg no AREsp 368993/PE
AgRg no AREsp 358735/SP
AgRg no AREsp 332891/PE
AREsp 265927/SP
AREsp 321645/RS
AREsp 357000/SP
AREsp 408395/SP
O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que originou o
débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.
REsp 662214/RS
REsp 1379083/RS

Aula 2.3

9º Razoabilidade e Proporcionalidade
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em
medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público;
(...)
Embora alguns tratem razoabilidade e proporcionalidade como expressões sinônimas, elas não
se confundem.
Proporcionalidade é um aspecto/uma dimensão da razoabilidade, posto que não há conduta
razoável que não seja proporcional. Proporcionalidade é inerente à razoabilidade, mas a ela
não se resume. Razoável é a conduta que se orienta por padrões de bom senso, equilíbrio,
temperança.

10º Motivação
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; (motivação)
Lei 9.784/1999, Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de
concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas,
que, neste caso, serão parte integrante do ato.
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que
reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos
interessados.
§ 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da
respectiva ata ou de termo escrito.
Anote-se que a Lei n. 9.784/99 tem aplicação no âmbito federal, cabendo aos Estados e
Municípios editar suas próprias leis. No referido diploma, a União estabelece oito hipóteses nas
quais a motivação é obrigatória, sob pena de ilegalidade.

11º Segurança Jurídica, proteção à confiança e boa fé


Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do
fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
(...)
A proteção da confiança, a lealdade, a boa-fé, a não surpresa, são desdobramentos de uma
mesma ideia maior, a segurança jurídica. O Estado existe para assegurar a previsibilidade, a
proteção da confiança, devendo atuar de acordo com essas premissas. E, se a Administração
faz o que a lei manda (princípio da legalidade), a lei em muitas ocasiões precisa ser
interpretada para ser aplicada, bem como revista a interpretação porque a sociedade muda. Não
obstante, não é permitido aplicar nova interpretação legal a fatos pretéritos, sob pena de
flagrante violação da segurança jurídica.

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE PRINCÍPIOS DA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A nomeação de cônjuge, companheiro, ou parente, em linha reta, colateral ou por afinidade,
até o 3º grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica,
investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão
ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta,
em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF. [Súmula vinculante 13]
Nepotismo - prática comum na história do País, consistente na nomeação de parentes para
cargos públicos de livre nomeação - cargos em comissão e funções de confiança -. E, nos termos
da Súmula Vinculante 13, até o terceiro grau de parentesco. Com o nepotismo, violam-se os
princípios da Administração Pública, notadamente a moralidade, a impessoalidade e a
eficiência - o critério que leva à nomeação do parente não diz respeito a sua capacidade -.

Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade,


quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas
infraconstitucionais pela decisão recorrida. [Súmula 636]

A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem
ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial. [Súmula 473] → autotutela
A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. [Súmula 346]
→AUTOTUTELA

Possibilidade de um ato administrativo, caso evidenciada a violação direta ao texto


constitucional, ser anulado pela Administração Pública quando decorrido o prazo decadencial
previsto na Lei 9.784/1999 [RE 817338 Tema 839 da repercussão geral] → possível a anulação do
ato mesmo depois de passados 5 anos, desde que viole diretamente a CF

Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o
erário e corrigir as falhas (exs.: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou
ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não
poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União. Assim, segundo esta acepção, o
princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às
administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Segundo o
Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente
e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição
combatida” [STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016]
Obs.: aplica-se ao Direito Administrativo o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções.

"O Supremo Tribunal já assentou que diante de indícios de ilegalidade, a Administração deve
exercer seu poder-dever de anular seus próprios atos, sem que isso importe em contrariedade
ao princípio da segurança jurídica.
Nesse sentido, as súmulas 346 e 473 deste Supremo Tribunal: 'A administração pública pode
declarar a nulidade dos seus próprios atos' (Súmula 346).'A administração pode anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial' (Súmula 473)." [AO 1483,
Relatora Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgamento em 20.5.2014, DJe de 3.6.2014]

Ao Estado é facultada a revogação de atos que repute ilegalmente praticados; porém, se de tais
atos já decorreram efeitos concretos, seu desfazimento deve ser precedido de regular processo
administrativo. 2. Ordem de revisão de contagem de tempo de serviço, de cancelamento de
quinquênios e de devolução de valores tidos por indevidamente recebidos apenas pode ser
imposta ao servidor depois de submetida a questão ao devido processo administrativo, em que
se mostra de obrigatória observância o respeito ao princípio do contraditório e da ampla
defesa. (...) O recorrente pretendeu ver reconhecida a legalidade de seu agir, com respaldo no
verbete da Súmula nº 473 desta Suprema Corte, editada ainda no ano de 1969, sob a égide,
portanto, da Constituição anterior. (...) A partir da promulgação da Constituição Federal de
1988, foi erigido à condição de garantia constitucional do cidadão, quer se encontre na posição
de litigante, num processo judicial, quer seja um mero interessado, em um processo
administrativo, o direito ao contraditório e à ampla defesa, com os meios e recursos a eles
inerentes. Ou seja, a partir de então, qualquer ato da Administração Pública que tiver o condão
de repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão deverá ser precedido de prévio
procedimento em que se assegure ao interessado o efetivo exercício do direito ao contraditório
e à ampla defesa. Mostra-se, então, necessário, proceder-se à compatibilização entre o comando
exarado pela aludida súmula e o direito ao exercício pleno do contraditório e da ampla defesa,
garantidos ao cidadão pela norma do art. 5º, inciso LV, de nossa vigente Constituição Federal."
[RE 594296, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em 21.9.2011, DJe de
13.2.2012, com repercussão geral - tema 138]
No impeachment, todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior
transparência, controle dos representantes e legitimação do processo. No silêncio da
Constituição, da Lei 1.079/1950 e do Regimento Interno sobre a forma de votação, não é
admissível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão unipessoal e
discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por
analogia, à eleição para a Comissão Especial de impeachment. Em uma democracia, a regra é a
publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses
excepcionais e especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com
a natureza e a gravidade do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha
magnitude, que pode levar o Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir o
maior grau de transparência e publicidade possível. Nesse caso, não se pode invocar como
justificativa para o voto secreto a necessidade de garantir a liberdade e independência dos
congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser
capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece o controle popular
sobre os representantes, em violação aos princípios democrático, representativo e republicano.
Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a composição da Comissão Especial no
processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do mesmo rito seguido em
1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento. [ADPF 378 MC,
rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 16-12-2015, P, DJE de 8-3-2016]

A norma depreendida do art. 37, caput, da CF/88 para a definição de nepotismo – em especial
os princípios da moralidade, da impessoalidade e da eficiência – não tem o condão de
diferenciar as pessoas tão somente em razão de relação de matrimônio, união estável ou
parentesco com servidor efetivo do poder público, seja para as selecionar para o exercício de
cargos de direção, chefia ou assessoramento no âmbito da Administração Pública, seja para
excluir sua aptidão para o desempenho dessas funções. [MS 28.485, rel. min. Dias Toffoli, j. 1-
11-2014, 1ª T, DJE de 4-12-2014.] = Rcl 18.564, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 23-2-2016, 2ª T,
DJE de 3-8-2016

Os cargos políticos são caracterizados não apenas por serem de livre nomeação ou exoneração,
fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem detentores de um munus
governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus ocupantes
enquadrados na classificação de agentes administrativos. Em hipóteses que atinjam ocupantes
de cargos políticos, a configuração do nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se
verificar eventual "troca de favores" ou fraude a lei. Decisão judicial que anula ato de
nomeação para cargo político apenas com fundamento na relação de parentesco estabelecida
entre o nomeado e o chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação, diverge do
entendimento da Suprema Corte consubstanciado na Súmula Vinculante 13.
[Rcl 7.590, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-9-2014, 1ª T, DJE de 14-11-2014.]

Aula 2.4

PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


1. CONCEITO
São prerrogativas que a ordem jurídica reconhece em favor da Administração Pública como
instrumentos para garantir a supremacia do interesse público e a preservação do bem comum.
Pode-se dizer que quem quer os fins oferece os meios necessários (CABM). Os poderes
constitucionais possuem natureza orgânica, pois são órgãos - Executivo, Legislativo e
Judiciário - que compõem a estrutura interna do Estado; já os poderes administrativos são
instrumentais, vez que são instrumentos colocados à disposição pela ordem jurídica em favor
da Administração, para que se garanta a supremacia dos interesses públicos e realize o bem
comum, submetendo o indivíduo à coletividade.
2. FUNDAMENTO
Princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado.
A doutrina classifica o interesse público em duas categorias: primário (bem comum) e
secundário (interesse do Estado enquanto pessoa jurídica na realização do bem comum).
O Estado, enquanto pessoa jurídica, é sujeito de direitos e obrigações, logo possui interesses
próprios, como qualquer outro sujeito de direitos.
Questiona-se: O interesse secundário é legítimo, legal? Sim, quando é instrumento para o
atingimento do interesse primário/bem comum. Não pode o interesse do Estado enquanto
pessoa jurídica ser um fim em si mesmo. Ex.: indústria da multa para veículos com finalidade
arrecadatória, não de punição e educação - finalidades estas previstas pela lei -.
Observe-se que o tributo tem função arrecadatória, a multa se presta à punição e à educação.

3. USO E ABUSO DE PODER


Art. 78 do CTN:
(...)
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado
pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e,
tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
Se os poderes públicos são manejados pela Administração de acordo com a lei e o direito,
temos o exercício regular.
Diversamente, se em desconformidade com a legalidade, temos arbitrariedade e,
consequentemente, abuso.
Uso corresponde ao exercício regular de um poder. Abuso ao exercício ilegal, arbitrário de um
poder.
O artigo 78 do CTN conceitua poder de polícia, mas a regra instituída no parágrafo único pode
ser estendida a todos os poderes, para considerar o uso legal, regular.

A. Excesso de Poder
Art. 2º da Lei 4.717/1965
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do
agente que o praticou.
Ocorre sempre que a autoridade exorbita de suas atribuições legais, agindo além de sua
competência. Logo, o ato é caracterizado por incompetência.

B. Desvio de Poder ou Desvio de Finalidade


Art. 2º, § único, da Lei 4.717/1965 (Lei da ACP)
(...)
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

4. MODALIDADES
A. Poder Vinculado e Poder Discricionário.
B. Poder Disciplinar
C. Poder Hierárquico
D. Poder Regulamentar
E. Poder de Polícia

5. PODER VINCULADO E PODER DISCRICIONÁRIO


A. Poder Vinculado: A lei NÃO reconhece a Administração Pública liberdade para decidir.
B. Poder Discricionário: A lei RECONHECE a Administração Pública liberdade para decidir,
a partir de critérios de oportunidade e conveniência (MÉRITO)
Obs.: Maria Sylvia não reconhece essa classificação, entendendo inexistir como independentes
os poderes vinculado e discricionário. Vinculação e discricionariedade existem, sim, como
características de outros poderes. Quando a Administração faz o que a lei manda, sem
oportunidade para decidir, há uma restrição, uma limitação, não um poder.

6. PODER DISCIPLINAR
A. Conceito:
É o poder da Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades em relação
àqueles sujeitos a disciplina interna da Administração, servidores públicos ou não.
Ex.: aluno de uma universidade pública possui vinculo de sujeição especial à autoridade
interna da administração.

B. Principal característica:
Discricionariedade (MODO)
Genericamente, pode-se dizer que a Administração atua de forma discricionária no exercício
do poder disciplinar. Na apuração de infrações, tem a Administração o dever de investigar,
sendo vinculado nesse aspecto. Da mesma forma, a aplicação da penalidade é vinculada quando
fixada uma única espécie pela lei aplicável ao caso; se mais de uma penalidade tem previsão na
lei, há discricionariedade na atuação da Administração.
A discricionariedade como principal característica do poder disciplinar não está na escolha
entre agir e não agir, pois como qualquer outro poder, é também um dever. A
discricionariedade está, sim, no modo de agir, sempre que a lei estabelece mais de uma forma
de atuação.

C. Meios de exercício do Poder Disciplinar em face de SERVIDORES PÚBLICOS:


Atenção: o poder disciplinar alcança servidores e não servidores, mas esse tópico tratará apenas
dos servidores.

a) Sindicância Inquisitória e Sindicância Contraditória


Art. 145 da Lei 8.112/1990
Da sindicância - contraditória - poderá resultar:
I - arquivamento do processo;
II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até 30 dias → Sindicância
contraditória: punir penalidades leves;
III - instauração de processo disciplinar.

Inquisitória é a sindicância que visa apenas investigar, não se fazendo necessário o exercício do
direito de defesa. Ex.: sindicância patrimonial no âmbito da CGU quando verificado que o
servidor público dá sinais exteriores de condição financeira incompatível com a renda. Ao
final, ocorre arquivamento, com ou sem elementos de irregularidades, uma vez que foi
cumprida a finalidade investigativa, mas deve haver o encaminhamento de peças para
instauração do procedimento legal.

Contraditória visa apurar falta considerada leve pela legislação, com o respeito ao devido
processo legal previsto constitucionalmente.

b) Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD)


Lei 8.112/1990, Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar a imposição de
penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria
ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração de
processo disciplinar.
c) Verdade Sabida
Na verdade sabida, a autoridade competente para punir toma conhecimento direto e imediato
do fato e aplica punição. Porém, mostra-se incompatível com o devido processo previsto
constitucionalmente.
ADI 2120 / AM - AMAZONAS
Órgão Julgador: Tribunal Pleno
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
TRABALHADORES POLICIAIS CIVIS (COBRAPOL) – ENTIDADE SINDICAL INVESTIDA
DE LEGIMIDADE ATIVA “AD CAUSAM” PARA INSTAURAÇÃO DE CONTROLE
NORMATIVO ABSTRATO PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – PERTINÊNCIA
TEMÁTICA – CONFIGURAÇÃO – ALEGADA INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS
QUE PREVÊEM PUNIÇÃO DISCIPLINAR ANTECIPADA DE SERVIDOR POLICIAL
CIVIL – CRITÉRIO DA VERDADE SABIDA – ILEGITIMIDADE – NECESSIDADE DE
RESPEITO À GARANTIA DO “DUE PROCESS OF LAW” NOS PROCEDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS DE CARÁTER DISCIPLINAR – DIREITO DE DEFESA –
RECONHECIMENTO DA INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL DA LEI
AMAZONENSE Nº 2.271/94 (ART. 43, §§ 2º a 6º) – AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE.
– Nenhuma penalidade poderá ser imposta, mesmo no campo do direito administrativo, sem
que se ofereça ao imputado a possibilidade de se defender previamente. A preterição do direito
de defesa torna írrito e nulo o ato punitivo. Nemo inauditus damnari debet. O direito
constitucional à ampla (e prévia) defesa, sob o domínio da Constituição de 1988 (art. 5º, LV),
tem como precípuo destinatário o acusado, qualquer acusado, ainda que em sede meramente
administrativa. O Supremo Tribunal Federal, ao proclamar a imprescindibilidade da
observância desse postulado, essencial e inerente ao due process of law, tem advertido que o
exercício do direito de defesa há de ser assegurado, previamente, em todos aqueles
procedimentos – notadamente os de caráter administrativo-disciplinar – em que seja possível a
imposição de medida de índole punitiva. Mesmo a imposição de sanções disciplinares pelo
denominado critério da verdade sabida, ainda que concernentes a ilícitos funcionais desvestidos
de maior gravidade, não dispensa a prévia audiência do servidor público interessado, sob pena
de vulneração da cláusula constitucional garantidora do direito de defesa. A ordem normativa
consubstanciada na Constituição brasileira é hostil a punições administrativas, imponíveis em
caráter sumário ou não, que não tenham sido precedidas da possibilidade de o servidor público
exercer, em plenitude, o direito de defesa. A exigência de observância do devido processo legal
destina-se a garantir a pessoa contra a ação arbitrária do Estado, colocando-a sob a imediata
proteção da Constituição e das leis da República. Doutrina. Precedentes.

– Revela-se incompatível com o sistema de garantias processuais instituído pela Constituição da


República (CF, art. 5º, LV) o diploma normativo que, mediante inversão da fórmula ritual e
com apoio no critério da verdade sabida, culmina por autorizar, fora do contexto das medidas
meramente cautelares, a própria punição antecipada do servidor público, ainda que a este
venha a ser assegurado, em momento ulterior, o exercício do direito de defesa. Doutrina.
Precedentes.

Súmula 343 do STJ: É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo


administrativo disciplinar.

Súmula Vinculante 5: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo


disciplinar não ofende a Constituição.

STJ: É possível a instauração de processo administrativo com base em denúncia anônima.


AgRg no REsp 1307503/RR
RMS 038010/RJ,
EDcl no MS 015517/DF
RMS 030510/RJ,
REsp 867666/DF,
REsp 1271165/PR
MS 013122/DF,

STJ: Instaurado o competente processo administrativo disciplinar, fica superado o exame de


eventuais irregularidades ocorridas durante a sindicância.
RMS 037871/SC
MC 021602/ES

STJ: O excesso de prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar não conduz à
sua nulidade automática, devendo, para tanto, ser demonstrado o prejuízo para a defesa.
MS 019823/DF
MS 016031/DF
MS 016192/DF
MS 015768/DF
MS 015825/DF
RMS 029290/MG
MS 013340/DF

STJ: A autoridade administrativa pode aplicar a pena de demissão quando em processo


administrativo disciplinar é apurada a prática de ato de improbidade por servidor público,
tendo em vista a independência das instâncias civil, penal e administrativa.
EDcl no MS 017873/DF
MS 015848/DF
MS 016418/DF
AREsp 147269/DF
MS 017151/DF

STJ: A decretação de nulidade no processo administrativo depende da demonstração do efetivo


prejuízo para as partes, à luz do princípio pas de nullité sans grief.
AgRg no REsp 1186672/DF
REsp 1225426/SC
MS 019823/DF
MS 017518/DF
MS 015859/DF
MS 017333/DF
MS 017485/DF
AREsp 321531/PE

STJ: O termo inicial do prazo prescricional em processo administrativo disciplinar começa a


correr da data em que o fato se tornou conhecido pela Administração, conforme prevê o art. 142,
§ 1º, da Lei 8.112/90.
EDcl no MS 017873/DF
MS 015859/DF
MS 019533/DF
AgRg no REsp 1306133/DF
HC 016093/DF
MS 016075/DF
MS 015825/DF
REsp 1145173/PR
STJ: O prazo da prescrição no âmbito administrativo disciplinar, havendo sentença penal
condenatória, deve ser computado pela pena em concreto aplicada na esfera penal.
RMS 032285/RS,
MS 014320/DF
MS 010078/DF

STJ: É possível haver discrepância entre a penalidade sugerida pela comissão disciplinar e a
aplicada pela autoridade julgadora desde que a conclusão lançada no relatório final não
guarde sintonia com as provas dos autos e a sanção imposta esteja devidamente motivada.
MS 017479/DF
MS 015826/DF
RMS 028169/PE
MS 014212/DF
RMS 033599/RJ
Ag 1393818/SP

STJ: Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também constituir crime e
enquanto não houver sentença penal condenatória transitada em julgado, a prescrição do
poder disciplinar reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal para pena cominada em abstrato.
EDcl no RMS 021641/SP
MS 016075/DF
MS 016567/DF
AgRg no REsp 1243282/SP
REsp 1243282/SP

STJ: A portaria de instauração do processo disciplinar prescinde de minuciosa descrição dos


fatos imputados, sendo certo que a exposição pormenorizada dos acontecimentos se mostra
necessária somente quando do indiciamento do servidor.
MS 017053/DF
MS 019823/DF
RMS 034473/MS
MS 016582/DF
EDcl no MS 014703/DF
MS 015787/DF
MS 015832/DF
MS 013518/DF

STJ: O prazo prescricional interrompido com a abertura do Processo Administrativo


Disciplinar - PAD voltará a correr por inteiro após 140 dias, uma vez que esse é o prazo legal
para o encerramento do procedimento.
MS 015859/DF
AgRg no MS 019488/DF
MS 016093/DF
MS 014159/DF
MS 015230/DF
REsp 1191346/CE

STJ: No Processo Administrativo Disciplinar PAD, a alteração da capitulação legal imputada


ao acusado não enseja nulidade, uma vez que o indiciado se defende dos fatos nele descritos e
não dos enquadramentos legais.
MS 015905/DF
MS 017370/DF
EDcl no MS 015837/DF
MS 012677/DF
MS 014045/DF
RMS 021409/GO
REsp 1335821/SP

O Processo Administrativo Disciplinar - PAD deve ser conduzido por Comissão composta de
servidores estáveis no serviço público, sendo prescindível a estabilidade no cargo que
atualmente ocupam.
MS 017583/DF
AgRg no REsp 1317278/PE
RMS 024503/DF

STJ: O Processo Administrativo Disciplinar - PAD deve ser conduzido por Comissão composta
de servidores estáveis no atual cargo que ocupam, e não apenas no serviço público.
RMS 035905/MG
AgRg no REsp 1317278/PE
MS 016557/DF

STJ: Da revisão do Processo Administrativo Disciplinar - PAD não poderá resultar


agravamento da sanção aplicada, em virtude da proibição do bis in idem e do reformatio in
pejus.
MS 017370/DF
MS 010950/DF
AgRg no MS 015463/DF

Aula 3.1

7. PODER HIERÁRQUICO
A. Conceito:
É o poder da Administração Pública para distribuir e escalonar as funções dos seus órgãos,
ordenar e rever os atos dos seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os
servidores do seu quadro de pessoal.
O verbo ORDENAR possui relação direta com o poder hierárquico. Quem ordena dá ordens,
comanda, coloca ordem, organiza. Poder hierárquico corresponde ao poder da Administração
Pública para ordenar a atuação dos órgãos administrativos e comandar a atuação dos seus
servidores, criando em sua estrutura interna relações de coordenação e subordinação.
Obs. 1: Maria Sylvia Zanella di Pietro prefere chamar essa prerrogativa de poderes
decorrentes da hierarquia, afirmando que a hierarquia constitui princípio do Direito
Administrativo, bem como que há poderes que decorrem da hierarquia, não sendo correto
afirmar que há um poder hierárquico.
Obs. 2: Para José dos Santos Carvalho Filho, não existe poder hierárquico, e sim hierarquia,
que não é um poder, mas um fato administrativo dentro da estrutura da Administração.
Obs. 3: A hierarquia é própria da atividade administrativa, existindo dessa forma no âmbito
dos três poderes do Estado, quando no exercício da atividade administrativa.
Obs. 4: Não existe hierarquia nem poder hierárquico entre pessoas jurídicas diversas. A
hierarquia e os poderes hierárquicos só existem no interior de uma mesma pessoa - sempre
interna -. Ex.: a União é uma pessoa jurídica, a autarquia criada pela União corresponde a
outra pessoa jurídica - há aqui tutela/controle/vinculação -. Note-se que, embora a hierarquia
só exista no interior de uma mesma pessoa, nem todas as relações no interior de uma pessoa
são hierárquicas. Ex.: compõem a União os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, todos
independentes entre si.
Internamente há órgãos que, em razão de suas atribuições institucionais, não se sujeitam a
relação hierárquica. Ex.: AGU, que compõe a União, tem por função institucional exercer a
consultoria jurídica para o Poder Executivo – a subordinação da AGU para o exercício da
consultoria jurídica inviabilizaria a atividade, mas há subordinação em relação às regras
administrativas (ex: os servidores devem assinar manualmente o ponto → a independência é
apenas quanto às atribuições institucionais). Da mesma forma, ficaria inviabilizada a atividade de
auditar se os auditores, no exercício da função institucional, fossem subordinados
hierarquicamente aos seus superiores.

B. Poderes decorrentes da Hierarquia:


a) Editar atos normativos de efeitos apenas internos
Ato normativo é ato geral e abstrato cujos efeitos são apenas internos. Ex.: ordem de serviço
elaborada pelo Ministro, para os respectivos servidores daquele ministério, sobre o horário de
atendimento, padrão a ser observado na confecção de documentos etc. Diversamente, se o ato
administrativo for geral, abstrato e alcançar terceiros estranhos, fala-se em poder
regulamentar.

b) Dar ordens
Ao poder do superior de emitir ordens corresponde o dever do subordinado de executá-las,
salvo se inequivocamente ilegais.

c) Fiscalizar
O superior fiscaliza a atividade do subordinado.

d) Controlar e exercer poder de autotutela


Ao superior compete controlar a atividade do subordinado. Autotutela corresponde ao poder
de revisão, para anular, se ilegal, ou revogar, se inconveniente.
Há situações, entretanto, em que a revisão não decorre do poder hierárquico. Ex.: autoridade
competente pratica ato e, diante de pedido de reconsideração, revê o ato: estamos diante de
hipótese de autotutela não decorrente da hierarquia. Em suma, autotutela não se confunde com
poder hierárquico, mas diz respeito ao poder de revisão.

e) Aplicar sanções em caso de infrações disciplinares


O poder disciplinar - de fiscalizar e punir - constitui decorrência da relação hierárquica, posto
que somente onde houver poder disciplinar haverá hierarquia.

f) Delegar e avocar competências


Delegar ocorre quando o Estado transfere para outro o exercício da competência, dentro ou
fora da relação hierárquica. Se fora da relação hierárquica, estamos diante de um acordo de
vontades (logo, não é manifestação do poder hierárquico). Avocar ocorre quando a autoridade
administrativa chama para si o exercício de uma competência de outra pessoa e só pode
ocorrer em uma relação hierárquica.

Art. 12 da Lei 9.784/1999


Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar
parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole
técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos
órgãos colegiados aos respectivos presidentes.
Art. 13 da Lei 9.784/1999
Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.

Art. 15 da Lei 9.784/1999


Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a
avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.

Aula 3.2

8. PODER REGULAMENTAR
A. Significado da Expressão:
PODER REGULAMENTAR EM SENTIDO AMPLO
É o Poder da Administração Pública Direta e da Administração Pública Indireta para editar
atos administrativos normativos - todos - .
Atos administrativos normativos são aqueles cujo conteúdo é geral e abstrato.

PODER REGULAMENTAR EM SENTIDO ESTRITO


É o Poder do Chefe do Poder Executivo para editar REGULAMENTOS.
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, não deve ser denominado poder regulamentar, vez que
não se resume à edição de regulamentos, podendo se referir, por exemplo, a uma resolução do
Banco Central geral e abstrata para todos os bancos, uma resolução da ANP, da ANATEL etc.
Trata-se, portanto, do poder normativo da Administração Pública, para editar atos gerais e
abstratos, não se limitando ao regulamento.
Na prática, entretanto, o contexto determinará se a utilização do termo poder regulamentar
está em sentido amplo - poder de a Administração normatizar - ou em sentido estrito - poder
do chefe do executivo de editar regulamentos -.

B. Espécies de Regulamentos:
a) Regulamentos Executivos ou de Execução
b) Regulamentos Autônomos ou Independentes

Obs. 1: Todos os atos do chefe do Poder Executivo têm forma de decreto, sejam gerais e
abstratos, sejam individuais e concretos. Decreto = forma do ato; regulamento = conteúdo do
ato.
Obs. 2: Embora exista divergência, predomina o entendimento que a EC 32/2001 inseriu no
Direito Brasileiro o regulamento autônomo, quando alterou a redação do artigo 84, inciso VI,
da CF.
Obs. 3: Ao asseverar que compete privativamente ao Congresso Nacional sustar os atos do
chefe do Executivo que exorbitem da competência regulamentar, o artigo 49, inciso V, da CF
faz referência ao decreto executivo, em função de sua dependência da lei.
Art. 84 da Constituição:
Compete privativamente ao Presidente da República:
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos
para sua fiel execução;
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de
despesa - despesa se cria por lei - nem criação ou extinção de órgãos públicos; (EC nº 32/2001)
a) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos - nunca extinção de órgãos -; (EC nº
32/2001)
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos
incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da
República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas
delegações.

Trata-se de ação direta na qual se pretende seja declarada inconstitucional lei amazonense que
dispõe sobre a realização gratuita do exame de DNA. (...) Quanto ao art. 3º da lei, a
"autorização" para o exercício do poder regulamentar nele afirmada é despicienda, pois se
trata, aí, de simples regulamento de execução. Em texto de doutrina anotei o seguinte: "(o)s
regulamentos de execução decorrem de atribuição explícita do exercício de função normativa
ao Executivo (Constituição, art. 84, IV). O Executivo está autorizado a expedi-los em relação a
todas as leis (independentemente de inserção, nelas, de disposição que autorize emanação
deles). Seu conteúdo será o desenvolvimento da lei, com a dedução dos comandos nela
virtualmente abrigados. A eles se aplica, sem ressalvas, o entendimento que prevalece em nossa
doutrina a respeito dos regulamentos em geral. Note-se, contudo, que as limitações que daí
decorrem alcançam exclusivamente os regulamentos de execução, não os 'delegados' e os
autônomos. Observe-se, ainda, que, algumas vezes, rebarbativamente (art. 84, IV),
determinadas leis conferem ao Executivo autorização para a expedição de regulamento tendo
em vista sua fiel execução; essa autorização apenas não será rebarbativa se, mais do que
autorização, impuser ao Executivo o dever de regulamentar". No caso, no entanto, o preceito
legal marca prazo para que o Executivo exerça função regulamentar de sua atribuição, o que
ocorre amiúde, mas não deixa de afrontar o princípio da interdependência e harmonia entre os
poderes. A determinação de prazo para que o chefe do Executivo exerça função que lhe
incumbe originariamente, sem que expressiva de dever de regulamentar, tenho-a por
inconstitucional. Nesse sentido, veja-se a ADI 2.393, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 28-3-2003,
e a ADI 546, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 14-4-2000. [ADI 3.394, voto do rel. min. Eros Grau, j.
2-4-2007, P, DJE de 15-8-2008.] Se a interpretação administrativa da lei, que vier a
consubstanciar-se em decreto executivo, divergir do sentido e do conteúdo da norma legal que
o ato secundário pretendeu regulamentar, quer porque tenha este se projetado ultra legem,
quer porque tenha permanecido citra legem, quer, ainda, porque tenha investido contra legem, a
questão caracterizará, sempre, típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a
inviabilizar, em consequência, a utilização do mecanismo processual da fiscalização normativa
abstrata. O eventual extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que materialmente
deve estar adstrito poderá configurar insubordinação executiva aos comandos da lei. Mesmo
que, a partir desse vício jurídico, se possa vislumbrar, num desdobramento ulterior, uma
potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-á em face de uma situação de
inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua, cuja apreciação não se revela possível em sede
jurisdicional concentrada. [ADI 996 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 11-3-1994, P, DJ de 6-5-
1994.] = ADI 4.176 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 20-6-2012, P, DJE de 1º-8-2012

C. Deslegalização
Pela deslegalização o Poder Legislativo transfere, por meio de lei, para a Administração
Pública competência para editar normas que possibilitem o exercício de discricionariedade
técnica dentro de limites preestabelecidos pela lei. Abarca assuntos mutáveis demais ou
tecnicamente complexos demais para serem normatizados pelo Poder Legislativo, o qual se
limita à definição de parâmetros para a Administração Pública normatizar.

INFORMATIVO 650 ADI 4568/DF


(...)
Cabe fazer, neste passo, uma nota conceitual. É que, muito embora o campo de liberdade de
conformação do Executivo, segundo a Lei em pauta, seja manifestamente reduzido, nem por
isso se pode afirmar que a hipótese não se amoldaria ao fenômeno da deslegalização, estudada
com maestria pelos Professores do Direito Administrativo. Com efeito, consiste a deslegalização
“na retirada, pelo próprio legislador, de certas matérias, do domínio da lei (domaine de la loi)
passando-as ao domínio do regulamento (domaine de l’ordonnance)” (MOREIRA NETO, Diogo
de Figueiredo. Agências reguladoras, In: Mutações do Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Ed.
Renovar, 2007, p. 218). Ora, é justamente disso que se trata in casu, porquanto, inicialmente, a
Lei define em seu art. 1º o valor do salário mínimo com referência ao ano de 2011, que deverá,
nos anos subsequentes, ter-se por revogado conforme sejam editados os Decretos consolidando
o novo valor à luz dos índices definidos nos §§ 1º a 5º do art. 2º.
(...)

9. PODER DE POLÍCIA
A. Significado da Expressão:
O Estado exerce o poder de polícia legislando e administrando - FUNÇÃO
ADMINISTRATIVA -.
O poder de polícia do Estado se desdobra:
a) Atos Legislativos
A lei que restringe direito individual em prol do bem comum é um ato legislativo de polícia.
Ex.: Estatuto da OAB, ao condicionar o exercício da advocacia à aprovação no exame
respectivo; ao definir uso e ocupação do solo urbano, o plano diretor do município restringe o
direito do proprietário; o Estatuto do Desarmamento restringe o direito de o cidadão portar
arma de fogo para proteção da segurança pública.

b) Atos administrativos de consentimento


São atos de polícia que consistem em aferir se o administrado preenche os requisitos legais ao
exercício de um direito.
Ex.: pedido de autorização para portar arma de fogo; pedido de licença para dirigir.

c) Atos administrativos de fiscalização


São atos administrativos de polícia que consistem em verificar se o direito é exercido conforme
a lei. Ex.: pode a Administração verificar se a licença para dirigir está sendo utilizada de acordo
com a categoria indicada na habilitação.

d) Atos administrativos de sanção.


São atos de polícia que consistem em punir quem exerce um direito de forma ilegal. Ex.: multa,
embargo de uma obra etc.

PODER DE POLÍCIA EM SENTIDO AMPLO = Atos Legislativos + Atos administrativos


PODER DE POLÍCIA EM SENTIDO ESTRITO (Polícia Administrativa) = Atos
administrativos

B. Conceito:
Art. 78 do CTN:
Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Aula 3.4

C. Características
a) Discricionariedade
A discricionariedade no exercício do poder de polícia não corresponde à escolha entre agir e
não agir, eis que a Administração Pública tem o poder-dever de atuar. Ex.: número de pontos
na carteira de habilitação de acordo com o tipo de infração praticada, é vinculado.
A discricionariedade, por sua vez, está no modo de agir quando a lei fixa mais de uma forma de
atuação. Ex.: suspensão do direito de dirigir por até seis meses - incide um juízo de
conveniência e oportunidade na escolha do prazo -.

b) Coercibilidade
O poder de polícia é um ato de coerção, de imposição. Ao exercê-lo, a Administração ostenta a
condição de autoridade e se impõe ao destinatário.

c) Autoexecutoriedade
O ato de polícia independe de ordem judicial para ser praticado. Ex.: guinchamento de veículo
estacionado em local proibido. Não obstante, alguns atos de polícia para serem praticados
dependem de ordem do Poder Judiciário, como por exemplo para demolição de uma construção
irregular. A autoexecutoriedade do ato deve estar prevista na lei; no silêncio da lei, o ato não se
reveste de autoexecutoriedade. Em determinadas situações, no entanto, se houver urgência,
ainda que ausente autorização legal, pode a Administração atuar, com base na
discricionariedade – haveria uma autorização legal implícita -. Isto é, a Administração faz o que
a lei determina, mas a lei não é capaz de prever todas as possibilidades fáticas.

d) Indelegabilidade
Predomina na doutrina e na jurisprudência que o exercício do poder de polícia não pode ser
transferido para pessoas jurídicas de direito privado, ainda que empresas públicas ou
sociedades de economia mista que integram a Administração Pública indireta, posto que o
exercício do poder de polícia requer prerrogativas públicas incompatíveis com o regime
jurídico de direito privado.
RECURSO ESPECIAL Nº 817.534 - MG (2006/0025288-1) - STJ
ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA
APLICADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE.
(...)
2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia pode ser
conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da liberdade em
favor do interesse público. A controvérsia em debate é a possibilidade de exercício do poder de
polícia por particulares (no caso, aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia
mista).
3. As atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podem ser sumariamente
divididas em quatro grupos, a saber: (i) legislação, (ii) consentimento, (iii) fiscalização e (iv)
sanção.
4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, esses grupos
ficam bem definidos:
o CTB estabelece normas genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de
Habilitação (legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há
respeito à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona
aquele que não guarda observância ao CTB (sanção).
5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois aqueles
referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público.
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por particulares estaria, inclusive,
comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para aumentar a arrecadação.
7. Recurso especial provido

D. Prescrição administrativa
Art. 1º da Lei Federal 9.873/1.999
Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta,
no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da
data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver
cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos,
pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional
decorrente da paralisação, se for o caso.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a
prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.

Verifica-se que a Lei 9.873/1.999 estabelece o prazo prescricional de cinco anos para que a
Administração Pública Federal dê início ao procedimento administrativo que resultará em um
ato de polícia. Aos estados e municípios compete a edição das leis respectivas, com a indicação
dos poderes de polícia que podem praticar, bem como o prazo para o exercício.
Quando do estudo do poder disciplinar, verificamos que o prazo para o exercício está contido no
Estatuto do servidor e a contagem se dá a partir do dia em que o fato se tornou conhecido.
Assim, no poder disciplinar, a prescrição administrativa para a punição do servidor conta-se do
dia em que a Administração tomou conhecimento do ato. No poder de polícia, o prazo é
contado da data da prática do ato e, se continuada, da data da cessação. Ex.: administrado corta
uma árvore de pau-brasil - tem a Administração o prazo de cinco anos, a partir da data do corte,
para dar início ao procedimento administrativo de polícia. Ex.: administrado tem uma madeireira e,
todos os dias, corta árvores de forma irregular - a Administração terá o prazo de cinco anos a partir
da data de cessação dos cortes irregulares.
A Lei estabelece duas prescrições distintas: 1. A contar do fato ou da cessação do fato para que
se inicie o procedimento administrativo; 2. Prescrição intercorrente (§ 1º) em relação ao
procedimento que ficar paralisado por mais de três anos - trata-se de prescrição administrativa
do prazo que a Administração dispõe para agir, para exercer o poder de polícia.

E. Diferenças entre POLÍCIA ADMINISTRATIVA e POLÍCIA JUDICIÁRIA

Obs.: Nos crimes propriamente militares a polícia militar - TÍPICA POLÍCIA


ADMINISTRATIVA/OSTENSIVA - exerce a função de polícia judiciária. Ademais, se
qualquer órgão do Estado pode exercer a função de polícia administrativa, a Polícia Federal
também o pode, tanto é assim que emite passaporte; e a Polícia Civil emite a Carteira Nacional
de Habilitação.

Aula 3.5

ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


1. Formas de prestação da atividade administrativa
O Estado é pessoa jurídica de direito público dotada de autonomia política, que exerce funções
essenciais à coletividade e ao próprio Estado. O Estado legisla, julga e administra. Veremos
aqui as formas de exercício da atividade administrativa.

a. Forma centralizada: o Estado exerce diretamente a função administrativa por meio de


órgãos internos. Isto é, cada um dos entes estatais, dentro de sua competência, por meio dos
órgãos internos. Esta é a centralização administrativa.

b. Forma descentralizada: o Estado transfere para outra pessoa o encargo de exercer a função
administrativa.

2. Concentração e desconcentração administrativa


São expressões que se referem à reunião de competências ou repartição de competências entre
órgãos de uma mesma pessoa. Ex.: redução de ministérios inicialmente realizada pelo
Presidente Temer corresponde ao instituto da concentração; com a pressão popular, acabou por
separar o Ministério da Educação do Ministério da Cultura, realizando uma desconcentração.
A decisão entre concentrar e desconcentrar cabe a quem governa, sem esquecer que órgão deve
ser criado e também extinto por lei.

3. Formas de descentralização administrativa


1ª. Descentralização geográfica ou territorial
O Estado cria pessoa jurídica de direito público com capacidade administrativa genérica e
competência limitada a um território definido em lei.
Obs. 1: Para Maria Sylvia Zanella di Pietro, os territórios federais previstos na CF podem se
encaixar nessa forma de descentralização.

Obs. 2: Para José dos Santos Carvalho Filho, o Direito brasileiro não prevê essa forma de
descentralização, e a criação de territórios prevista na CF não se encaixa nesse conceito. Para o
autor, descentralização geográfica é uma hipótese doutrinária de descentralização não
contemplada no Direito positivo brasileiro. E quando a CF previu a possibilidade de a União
criar territórios, não se referiu à descentralização geográfica, vez que estabeleceu que o
território que tiver mais de 100 mil habitantes poderá legislar, ter Câmara territorial com
competência legislativa. Logo, se pode o território legislar nos termos da CF, definitivamente
não é hipótese de descentralização geográfica - forma de descentralização administrativa, não
envolvendo função de legislativa -.

2ª. Descentralização técnica ou por serviços ou funcional/outorga


O Estado cria pessoa jurídica de direito público - se a atividade a ser prestada requer regime
jurídico de direito público - ou de direito privado - se a atividade a ser
prestada/descentralizada não requer para ser exercida regime de direito público - e a ela
transfere a titularidade e a execução da atividade administrativa, com capacidade
administrativa específica, isto é, exercício da atividade especificada na lei -. Ex.: criada a
pessoa jurídica para o exercício do serviço postal e correio aéreo nacional, nenhuma outra
atividade pode ser exercida.
Capacidade administrativa específica corresponde ao princípio da especialidade que Maria
Sylvia Zanella di Pietro coloca quando trata dos princípios da administração.

Obs. 1: Alguns chamam essa forma de descentralização de outorga.

Obs. 2: Parte da doutrina entende que a transferência da titularidade e da execução SÓ pode


ser realizada com a criação de pessoa jurídica de direito público.

Obs. 3: A criação das pessoas jurídicas da Administração Pública indireta se encaixa nessa
forma de descentralização.

3ª. Descentralização por colaboração ou delegação


O Estado transfere para pessoa que já existe APENAS a execução da atividade administrativa
por meio de um contrato administrativo ou de um ato administrativo unilateral.
Se dá por meio de contrato de concessão, contrato de permissão e ato de autorização -
concessão, permissão ou autorização de serviços públicos, forma de descentralização, forma de
exercício da atividade administrativa.

Aula 4.1

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