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Aula 1.2
Aula 1.3
Informativo nº 366/STF:
“A Turma negou provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal que mantivera sentença de primeiro grau e reconhecera a servidora
pública, quando de sua aposentadoria, o direito ao recebimento de férias proporcionais e de seu
respectivo adicional de um terço (CF, art. 7º, XVII), mediante a aplicação, por analogia, do § 3º do
art. 78 da Lei 8.112/90 ("O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão, perceberá
indenização relativa ao período das férias a que tiver direito e ao incompleto,..."). Sustentava a
recorrente que, por ter a recorrida se aposentado antes da vigência das leis que autorizaram a
indenização de férias proporcionais, o acórdão, ao deferir-lhe esse direito, negara vigência ao art. 6º
da LICC e conferira efeito retroativo ao art. 14 da Lei distrital 159/90, bem como ao art. 78 da Lei
8.112/90, ofendendo, por conseguinte, os artigos 5º, II e XXXVI, e 7º, XVII, da CF. Entendeu-se,
com base em precedente do STF, que não havia que se falar em ofensa ao princípio da
legalidade nem ao do direito adquirido se a decisão que condenara a Administração Pública ao
pagamento de férias proporcionais ao servidor que se aposentara se fundara em aplicação
analógica de lei superveniente em perfeita consonância com a CF (art. 40, §4º, 2ª parte - atual
§8º). Concluiu-se, ainda, não ter havido violação ao art. 7º, XVII, da CF, já que "se há
indenização é porque as férias, completas ou proporcionais, não foram gozadas, é certo que
deve ser integral, ou seja, abrangendo também o adicional de 1/3". Precedentes
citados: RREE 202626/DF e 196569/DF (DJU de 29.11.2002).”
Para o STF, portanto, o uso da analogia no Direito Administrativo não viola o princípio da
legalidade.
A) Doutrina tradicional
A doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles) sempre defendeu que são fontes do Direito
Administrativo (i) a lei, (ii) a doutrina, (iii) a jurisprudência e (iv) os costumes. A lei deve ser
entendida em seu sentido amplo, como atos normativos do Estado.
4. Sistemas Administrativos
A) Conceito
São os meios de controle jurisdicional dos atos do Poder Público. Quando o Estado exerce a
jurisdição, aplica a lei ao caso concreto para resolver conflitos sociais com força de coisa
julgada. Falar sobre sistemas administrativos é falar sobre os mecanismos de controle judicial
dos atos do Poder Público. Existem duas modalidades:
Aula 1.4
B) Modalidades
Sistema Francês (ou sistema do Contencioso Administrativo)
Nele, existe dualidade de jurisdição. Isto é, ao lado de uma jurisdição comum (exercida pelo
Poder Judiciário), há uma jurisdição administrativa (exercida por órgão da Administração), a
quem compete o controle judicial dos atos da Administração.
- Alguns chegaram a defender a tese de um sistema misto, reunindo elementos dos dois sistemas,
que não prosperou. A definição do sistema dependerá da predominância de suas normas, e não
da exclusividade.
No Brasil, desde que a República foi proclamada, a primeira Constituição brasileira positivou o
Sistema Inglês (CF/88, art. 5º, XXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça de lesão a direito).
Predomina na doutrina e na jurisprudência brasileiras a noção de que o interessado não precisa
exaurir as vias administrativas para recorrer ao Poder Judiciário.
5. Administração Pública
A Administração Pública é o objeto do Direito Administrativo.
B) Governo
Em sentido subjetivo, Governo são os Órgãos Constitucionais incumbidos da atividade política.
No ordenamento jurídico brasileiro, a atividade política é dividida basicamente entre dois órgãos
constitucionais: Poder Executivo e Poder Legislativo.
Em sentido objetivo, Governo é a própria Atividade Política.
* Lembre-se → função política dividida entre o poder executivo e o poder legislativo
Aula 1.5
Poder de polícia (CTN, art. 78): “Considera-se poder de polícia atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem,
aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.
Aula 1.6
Aula 2.1
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
JOSE DOS SANTOS CARVALHO FILHO
1. Princípios Expressos
A. Princípios da legalidade
B. Princípios da Impessoalidade
C. Princípios da Moralidade
D. Princípios da Publicidade
E. Princípios da Eficiência
2. Princípios Reconhecidos
A. Princípio da supremacia do interesse público
B. Princípio da autotutela
C. Princípio da indisponibilidade
D. Princípio da continuidade dos serviços públicos
E. Princípio da segurança jurídica (proteção a confiança)
F. Princípio da precaução
3. Princípios da Razoabilidade
4. Princípios da Proporcionalidade
1º Legalidade
A CF trata da legalidade em dois pontos, no artigo 5º, dirigida ao cidadão - autonomia da
vontade -, outro dirigido à Administração, contida no artigo 37, caput - a Administração
cumpre a lei, não tem vontade -
Lei 9.784/1999,
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
Traz esse inciso I o conceito de legalidade, para alguns legalidade em sentido amplo ou
juridicidade. Isto é, não apenas a lei deve ser cumprida, mas todos os demais regramentos e
princípios que integram o ordenamento jurídico.
2º Impessoalidade
Constituição Federal, Art. 37, § 1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação
social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos.
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes
ou autoridades;
(...)
O ato praticado pelo agente público não se reveste de pessoalidade. O Estado, enquanto pessoa
jurídica, não tem ânimo próprio, dependendo de pessoas naturais para ver declarada sua
vontade. E o ato do agente é imputado ao órgão que integra o Estado. Segundo a teoria do
órgão idealizada por Otto Gierke, o Estado é pessoa jurídica, sujeito de direitos e obrigações,
formado internamente por órgãos, cujas atribuições são fixadas pela lei, mas executadas pelo
agente público e, por fim, imputadas ao órgão. Assim, o ato do agente é impessoal.
O agente não pode se promover a partir da realização de atos, programas, obras ou serviços,
pois pertencem ao Estado, limitando-se o agente a executá-los. Pela mesma razão não será
responsabilizado objetivamente pelos atos praticados em nome do Estado que causarem danos
a outrem.
Note que a Lei n. 9.784/1999, no artigo 2º, inciso III, fala em objetividade no atendimento do
interesse público no sentido da finalidade, isto é, da impessoalidade. Ninguém deve ser
preferido, tampouco preterido.
3º Moralidade
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
(...)
A moralidade administrativa consiste em observar a ética, o decoro e a honestidade. A
moralidade integra o patrimônio público, na medida em que este não se reduz a bens e valores
de natureza meramente econômica. E, justamente por integrar o patrimônio público, merece
tutela/proteção estatal. Ex.: ação civil de improbidade administrativa por ofensa aos princípios
da Administração Pública.
Aula 2.2
4º Publicidade
Constituição Federal, Art. 5º (...) XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos
informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...)
Lei 12.527/2011 - hipóteses de sigilo.
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição;
(...)
Conclui-se que o cidadão tem o direito de pedir, e o Estado, o dever de informar.
A divulgação oficial, pela internet, jornal, outros meios de comunicação, caracteriza-se como
condição de eficácia dos atos administrativos. Não obstante, nada substitui a publicação oficial,
cuja prática representa a certeza de que a Administração cumpriu o dever de informar.
5º Eficiência
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 19/1998
Celso Antônio Bandeira de Mello o denomina princípio da boa administração; mínimo que se
pode esperar da Administração, não sendo suficiente o mero cumprimento da lei.
O modelo burocrático de gerir a coisa pública, focado na forma, no procedimento e na
legalidade estrita, revelou-se ineficiente, levando à reforma da administração, cujo mote foi a
eficiência - rompimento do modelo burocrático para implementação do modelo gerencial -. Em
outros termos, legalidade, forma e procedimento são meios para a realização de um fim - o
interesse público -, e não fins em si mesmos, sendo o escopo principal da EC 19/1998 a
eficiência.
Celso Antônio lembra que o cumprimento da lei não pode ser preterido em busca da eficiência,
tampouco os demais princípios integrantes do ordenamento jurídico.
4º Especialidade
Lei 6404/1976, Art. 237. A companhia de economia mista somente poderá explorar os
empreendimentos ou exercer as atividades previstas na lei que autorizou a sua constituição
(Embora se aplique apenas às sociedades anônimas, traduz expressão do princípio da
especialidade).
Cada pessoa da Administração Pública indireta criada pelo Estado só pode atuar dentro da
área definida em sua lei de criação. Ex.: Correios (EBCT) somente podem executar serviço
postal, Banco do Brasil deve limitar-se ao setor financeiro.
5º Controle ou Tutela
DL 200/67
Art. 4º A Administração Federal compreende:(...)
Parágrafo único. As entidades compreendidas na Administração Indireta vinculam-se ao
Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade.
Art. 6º As atividades da Administração Federal obedecerão aos seguintes princípios
fundamentais:
(...) V - Controle.
Significa dizer que o Estado, a partir da Administração Direta, controla as pessoas jurídicas da
Administração Indireta, sem qualquer subordinação, mas apenas vinculação. Não há
dependência ou autotutela, mas tutela/vinculação/controle/supervisão. Na Administração
federal, esse princípio denomina-se supervisão ministerial.
Ex.: por meio do Ministério de Minas e Energia, a União supervisiona a Petrobras; por meio do
Ministério da Fazenda, a União supervisiona a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.
6º Autotutela
Lei 9.784/1999, Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de
vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos.
Poder de revisão para anular o ato ilegal ou rever o ato inconveniente. Súmula n. 473 do STF.
7º Hierarquia
Lei 9.784/1999, Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver
impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos
órgãos colegiados aos respectivos presidentes.
(...)
Lei 9.784/1999, Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes
devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão
hierarquicamente inferior.
A Professora Maria Sylvia coloca a hierarquia como princípio do Direito Administrativo, eis
que própria/característica da função administrativa. Acrescenta que legalidade e hierarquia
realizam a finalidade pública, vez que a ordem parte de cima, sendo executada pelos diversos
níveis, até chegar na ponta. Portanto, a hierarquia e os poderes hierárquicos caracterizam a
atividade administrativa.
Delegar significa transferir para outro o exercício de uma competência, dentro ou fora da
relação hierárquica. Avocar corresponde ao chamamento de uma competência realizado pelo
superior, para si, em relação ao subordinado necessariamente.
Aula 2.3
9º Razoabilidade e Proporcionalidade
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em
medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público;
(...)
Embora alguns tratem razoabilidade e proporcionalidade como expressões sinônimas, elas não
se confundem.
Proporcionalidade é um aspecto/uma dimensão da razoabilidade, posto que não há conduta
razoável que não seja proporcional. Proporcionalidade é inerente à razoabilidade, mas a ela
não se resume. Razoável é a conduta que se orienta por padrões de bom senso, equilíbrio,
temperança.
10º Motivação
Lei 9.784/1999, Art. 2º. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:
(...)
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; (motivação)
Lei 9.784/1999, Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;
V - decidam recursos administrativos;
VI - decorram de reexame de ofício;
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres,
laudos, propostas e relatórios oficiais;
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
§ 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de
concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas,
que, neste caso, serão parte integrante do ato.
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que
reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos
interessados.
§ 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da
respectiva ata ou de termo escrito.
Anote-se que a Lei n. 9.784/99 tem aplicação no âmbito federal, cabendo aos Estados e
Municípios editar suas próprias leis. No referido diploma, a União estabelece oito hipóteses nas
quais a motivação é obrigatória, sob pena de ilegalidade.
A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem
ilegais, porque deles não se originam direitos, ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial. [Súmula 473] → autotutela
A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. [Súmula 346]
→AUTOTUTELA
Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o
erário e corrigir as falhas (exs.: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou
ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não
poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União. Assim, segundo esta acepção, o
princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às
administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Segundo o
Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente
e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição
combatida” [STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016]
Obs.: aplica-se ao Direito Administrativo o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções.
"O Supremo Tribunal já assentou que diante de indícios de ilegalidade, a Administração deve
exercer seu poder-dever de anular seus próprios atos, sem que isso importe em contrariedade
ao princípio da segurança jurídica.
Nesse sentido, as súmulas 346 e 473 deste Supremo Tribunal: 'A administração pública pode
declarar a nulidade dos seus próprios atos' (Súmula 346).'A administração pode anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial' (Súmula 473)." [AO 1483,
Relatora Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgamento em 20.5.2014, DJe de 3.6.2014]
Ao Estado é facultada a revogação de atos que repute ilegalmente praticados; porém, se de tais
atos já decorreram efeitos concretos, seu desfazimento deve ser precedido de regular processo
administrativo. 2. Ordem de revisão de contagem de tempo de serviço, de cancelamento de
quinquênios e de devolução de valores tidos por indevidamente recebidos apenas pode ser
imposta ao servidor depois de submetida a questão ao devido processo administrativo, em que
se mostra de obrigatória observância o respeito ao princípio do contraditório e da ampla
defesa. (...) O recorrente pretendeu ver reconhecida a legalidade de seu agir, com respaldo no
verbete da Súmula nº 473 desta Suprema Corte, editada ainda no ano de 1969, sob a égide,
portanto, da Constituição anterior. (...) A partir da promulgação da Constituição Federal de
1988, foi erigido à condição de garantia constitucional do cidadão, quer se encontre na posição
de litigante, num processo judicial, quer seja um mero interessado, em um processo
administrativo, o direito ao contraditório e à ampla defesa, com os meios e recursos a eles
inerentes. Ou seja, a partir de então, qualquer ato da Administração Pública que tiver o condão
de repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão deverá ser precedido de prévio
procedimento em que se assegure ao interessado o efetivo exercício do direito ao contraditório
e à ampla defesa. Mostra-se, então, necessário, proceder-se à compatibilização entre o comando
exarado pela aludida súmula e o direito ao exercício pleno do contraditório e da ampla defesa,
garantidos ao cidadão pela norma do art. 5º, inciso LV, de nossa vigente Constituição Federal."
[RE 594296, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em 21.9.2011, DJe de
13.2.2012, com repercussão geral - tema 138]
No impeachment, todas as votações devem ser abertas, de modo a permitir maior
transparência, controle dos representantes e legitimação do processo. No silêncio da
Constituição, da Lei 1.079/1950 e do Regimento Interno sobre a forma de votação, não é
admissível que o Presidente da Câmara dos Deputados possa, por decisão unipessoal e
discricionária, estender hipótese inespecífica de votação secreta prevista no RI/CD, por
analogia, à eleição para a Comissão Especial de impeachment. Em uma democracia, a regra é a
publicidade das votações. O escrutínio secreto somente pode ter lugar em hipóteses
excepcionais e especificamente previstas. Além disso, o sigilo do escrutínio é incompatível com
a natureza e a gravidade do processo por crime de responsabilidade. Em processo de tamanha
magnitude, que pode levar o Presidente a ser afastado e perder o mandato, é preciso garantir o
maior grau de transparência e publicidade possível. Nesse caso, não se pode invocar como
justificativa para o voto secreto a necessidade de garantir a liberdade e independência dos
congressistas, afastando a possibilidade de ingerências indevidas. Se a votação secreta pode ser
capaz de afastar determinadas pressões, ao mesmo tempo, ela enfraquece o controle popular
sobre os representantes, em violação aos princípios democrático, representativo e republicano.
Por fim, a votação aberta (simbólica) foi adotada para a composição da Comissão Especial no
processo de impeachment de Collor, de modo que a manutenção do mesmo rito seguido em
1992 contribui para a segurança jurídica e a previsibilidade do procedimento. [ADPF 378 MC,
rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, j. 16-12-2015, P, DJE de 8-3-2016]
A norma depreendida do art. 37, caput, da CF/88 para a definição de nepotismo – em especial
os princípios da moralidade, da impessoalidade e da eficiência – não tem o condão de
diferenciar as pessoas tão somente em razão de relação de matrimônio, união estável ou
parentesco com servidor efetivo do poder público, seja para as selecionar para o exercício de
cargos de direção, chefia ou assessoramento no âmbito da Administração Pública, seja para
excluir sua aptidão para o desempenho dessas funções. [MS 28.485, rel. min. Dias Toffoli, j. 1-
11-2014, 1ª T, DJE de 4-12-2014.] = Rcl 18.564, rel. p/ o ac. min. Dias Toffoli, j. 23-2-2016, 2ª T,
DJE de 3-8-2016
Os cargos políticos são caracterizados não apenas por serem de livre nomeação ou exoneração,
fundadas na fidúcia, mas também por seus titulares serem detentores de um munus
governamental decorrente da Constituição Federal, não estando os seus ocupantes
enquadrados na classificação de agentes administrativos. Em hipóteses que atinjam ocupantes
de cargos políticos, a configuração do nepotismo deve ser analisado caso a caso, a fim de se
verificar eventual "troca de favores" ou fraude a lei. Decisão judicial que anula ato de
nomeação para cargo político apenas com fundamento na relação de parentesco estabelecida
entre o nomeado e o chefe do Poder Executivo, em todas as esferas da federação, diverge do
entendimento da Suprema Corte consubstanciado na Súmula Vinculante 13.
[Rcl 7.590, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-9-2014, 1ª T, DJE de 14-11-2014.]
Aula 2.4
A. Excesso de Poder
Art. 2º da Lei 4.717/1965
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do
agente que o praticou.
Ocorre sempre que a autoridade exorbita de suas atribuições legais, agindo além de sua
competência. Logo, o ato é caracterizado por incompetência.
4. MODALIDADES
A. Poder Vinculado e Poder Discricionário.
B. Poder Disciplinar
C. Poder Hierárquico
D. Poder Regulamentar
E. Poder de Polícia
6. PODER DISCIPLINAR
A. Conceito:
É o poder da Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades em relação
àqueles sujeitos a disciplina interna da Administração, servidores públicos ou não.
Ex.: aluno de uma universidade pública possui vinculo de sujeição especial à autoridade
interna da administração.
B. Principal característica:
Discricionariedade (MODO)
Genericamente, pode-se dizer que a Administração atua de forma discricionária no exercício
do poder disciplinar. Na apuração de infrações, tem a Administração o dever de investigar,
sendo vinculado nesse aspecto. Da mesma forma, a aplicação da penalidade é vinculada quando
fixada uma única espécie pela lei aplicável ao caso; se mais de uma penalidade tem previsão na
lei, há discricionariedade na atuação da Administração.
A discricionariedade como principal característica do poder disciplinar não está na escolha
entre agir e não agir, pois como qualquer outro poder, é também um dever. A
discricionariedade está, sim, no modo de agir, sempre que a lei estabelece mais de uma forma
de atuação.
Inquisitória é a sindicância que visa apenas investigar, não se fazendo necessário o exercício do
direito de defesa. Ex.: sindicância patrimonial no âmbito da CGU quando verificado que o
servidor público dá sinais exteriores de condição financeira incompatível com a renda. Ao
final, ocorre arquivamento, com ou sem elementos de irregularidades, uma vez que foi
cumprida a finalidade investigativa, mas deve haver o encaminhamento de peças para
instauração do procedimento legal.
Contraditória visa apurar falta considerada leve pela legislação, com o respeito ao devido
processo legal previsto constitucionalmente.
STJ: O excesso de prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar não conduz à
sua nulidade automática, devendo, para tanto, ser demonstrado o prejuízo para a defesa.
MS 019823/DF
MS 016031/DF
MS 016192/DF
MS 015768/DF
MS 015825/DF
RMS 029290/MG
MS 013340/DF
STJ: É possível haver discrepância entre a penalidade sugerida pela comissão disciplinar e a
aplicada pela autoridade julgadora desde que a conclusão lançada no relatório final não
guarde sintonia com as provas dos autos e a sanção imposta esteja devidamente motivada.
MS 017479/DF
MS 015826/DF
RMS 028169/PE
MS 014212/DF
RMS 033599/RJ
Ag 1393818/SP
STJ: Quando o fato objeto da ação punitiva da administração também constituir crime e
enquanto não houver sentença penal condenatória transitada em julgado, a prescrição do
poder disciplinar reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal para pena cominada em abstrato.
EDcl no RMS 021641/SP
MS 016075/DF
MS 016567/DF
AgRg no REsp 1243282/SP
REsp 1243282/SP
O Processo Administrativo Disciplinar - PAD deve ser conduzido por Comissão composta de
servidores estáveis no serviço público, sendo prescindível a estabilidade no cargo que
atualmente ocupam.
MS 017583/DF
AgRg no REsp 1317278/PE
RMS 024503/DF
STJ: O Processo Administrativo Disciplinar - PAD deve ser conduzido por Comissão composta
de servidores estáveis no atual cargo que ocupam, e não apenas no serviço público.
RMS 035905/MG
AgRg no REsp 1317278/PE
MS 016557/DF
Aula 3.1
7. PODER HIERÁRQUICO
A. Conceito:
É o poder da Administração Pública para distribuir e escalonar as funções dos seus órgãos,
ordenar e rever os atos dos seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação entre os
servidores do seu quadro de pessoal.
O verbo ORDENAR possui relação direta com o poder hierárquico. Quem ordena dá ordens,
comanda, coloca ordem, organiza. Poder hierárquico corresponde ao poder da Administração
Pública para ordenar a atuação dos órgãos administrativos e comandar a atuação dos seus
servidores, criando em sua estrutura interna relações de coordenação e subordinação.
Obs. 1: Maria Sylvia Zanella di Pietro prefere chamar essa prerrogativa de poderes
decorrentes da hierarquia, afirmando que a hierarquia constitui princípio do Direito
Administrativo, bem como que há poderes que decorrem da hierarquia, não sendo correto
afirmar que há um poder hierárquico.
Obs. 2: Para José dos Santos Carvalho Filho, não existe poder hierárquico, e sim hierarquia,
que não é um poder, mas um fato administrativo dentro da estrutura da Administração.
Obs. 3: A hierarquia é própria da atividade administrativa, existindo dessa forma no âmbito
dos três poderes do Estado, quando no exercício da atividade administrativa.
Obs. 4: Não existe hierarquia nem poder hierárquico entre pessoas jurídicas diversas. A
hierarquia e os poderes hierárquicos só existem no interior de uma mesma pessoa - sempre
interna -. Ex.: a União é uma pessoa jurídica, a autarquia criada pela União corresponde a
outra pessoa jurídica - há aqui tutela/controle/vinculação -. Note-se que, embora a hierarquia
só exista no interior de uma mesma pessoa, nem todas as relações no interior de uma pessoa
são hierárquicas. Ex.: compõem a União os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, todos
independentes entre si.
Internamente há órgãos que, em razão de suas atribuições institucionais, não se sujeitam a
relação hierárquica. Ex.: AGU, que compõe a União, tem por função institucional exercer a
consultoria jurídica para o Poder Executivo – a subordinação da AGU para o exercício da
consultoria jurídica inviabilizaria a atividade, mas há subordinação em relação às regras
administrativas (ex: os servidores devem assinar manualmente o ponto → a independência é
apenas quanto às atribuições institucionais). Da mesma forma, ficaria inviabilizada a atividade de
auditar se os auditores, no exercício da função institucional, fossem subordinados
hierarquicamente aos seus superiores.
b) Dar ordens
Ao poder do superior de emitir ordens corresponde o dever do subordinado de executá-las,
salvo se inequivocamente ilegais.
c) Fiscalizar
O superior fiscaliza a atividade do subordinado.
Aula 3.2
8. PODER REGULAMENTAR
A. Significado da Expressão:
PODER REGULAMENTAR EM SENTIDO AMPLO
É o Poder da Administração Pública Direta e da Administração Pública Indireta para editar
atos administrativos normativos - todos - .
Atos administrativos normativos são aqueles cujo conteúdo é geral e abstrato.
B. Espécies de Regulamentos:
a) Regulamentos Executivos ou de Execução
b) Regulamentos Autônomos ou Independentes
Obs. 1: Todos os atos do chefe do Poder Executivo têm forma de decreto, sejam gerais e
abstratos, sejam individuais e concretos. Decreto = forma do ato; regulamento = conteúdo do
ato.
Obs. 2: Embora exista divergência, predomina o entendimento que a EC 32/2001 inseriu no
Direito Brasileiro o regulamento autônomo, quando alterou a redação do artigo 84, inciso VI,
da CF.
Obs. 3: Ao asseverar que compete privativamente ao Congresso Nacional sustar os atos do
chefe do Executivo que exorbitem da competência regulamentar, o artigo 49, inciso V, da CF
faz referência ao decreto executivo, em função de sua dependência da lei.
Art. 84 da Constituição:
Compete privativamente ao Presidente da República:
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos
para sua fiel execução;
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de
despesa - despesa se cria por lei - nem criação ou extinção de órgãos públicos; (EC nº 32/2001)
a) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos - nunca extinção de órgãos -; (EC nº
32/2001)
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos
incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da
República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas
delegações.
Trata-se de ação direta na qual se pretende seja declarada inconstitucional lei amazonense que
dispõe sobre a realização gratuita do exame de DNA. (...) Quanto ao art. 3º da lei, a
"autorização" para o exercício do poder regulamentar nele afirmada é despicienda, pois se
trata, aí, de simples regulamento de execução. Em texto de doutrina anotei o seguinte: "(o)s
regulamentos de execução decorrem de atribuição explícita do exercício de função normativa
ao Executivo (Constituição, art. 84, IV). O Executivo está autorizado a expedi-los em relação a
todas as leis (independentemente de inserção, nelas, de disposição que autorize emanação
deles). Seu conteúdo será o desenvolvimento da lei, com a dedução dos comandos nela
virtualmente abrigados. A eles se aplica, sem ressalvas, o entendimento que prevalece em nossa
doutrina a respeito dos regulamentos em geral. Note-se, contudo, que as limitações que daí
decorrem alcançam exclusivamente os regulamentos de execução, não os 'delegados' e os
autônomos. Observe-se, ainda, que, algumas vezes, rebarbativamente (art. 84, IV),
determinadas leis conferem ao Executivo autorização para a expedição de regulamento tendo
em vista sua fiel execução; essa autorização apenas não será rebarbativa se, mais do que
autorização, impuser ao Executivo o dever de regulamentar". No caso, no entanto, o preceito
legal marca prazo para que o Executivo exerça função regulamentar de sua atribuição, o que
ocorre amiúde, mas não deixa de afrontar o princípio da interdependência e harmonia entre os
poderes. A determinação de prazo para que o chefe do Executivo exerça função que lhe
incumbe originariamente, sem que expressiva de dever de regulamentar, tenho-a por
inconstitucional. Nesse sentido, veja-se a ADI 2.393, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 28-3-2003,
e a ADI 546, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 14-4-2000. [ADI 3.394, voto do rel. min. Eros Grau, j.
2-4-2007, P, DJE de 15-8-2008.] Se a interpretação administrativa da lei, que vier a
consubstanciar-se em decreto executivo, divergir do sentido e do conteúdo da norma legal que
o ato secundário pretendeu regulamentar, quer porque tenha este se projetado ultra legem,
quer porque tenha permanecido citra legem, quer, ainda, porque tenha investido contra legem, a
questão caracterizará, sempre, típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a
inviabilizar, em consequência, a utilização do mecanismo processual da fiscalização normativa
abstrata. O eventual extravasamento, pelo ato regulamentar, dos limites a que materialmente
deve estar adstrito poderá configurar insubordinação executiva aos comandos da lei. Mesmo
que, a partir desse vício jurídico, se possa vislumbrar, num desdobramento ulterior, uma
potencial violação da Carta Magna, ainda assim estar-se-á em face de uma situação de
inconstitucionalidade reflexa ou oblíqua, cuja apreciação não se revela possível em sede
jurisdicional concentrada. [ADI 996 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 11-3-1994, P, DJ de 6-5-
1994.] = ADI 4.176 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 20-6-2012, P, DJE de 1º-8-2012
C. Deslegalização
Pela deslegalização o Poder Legislativo transfere, por meio de lei, para a Administração
Pública competência para editar normas que possibilitem o exercício de discricionariedade
técnica dentro de limites preestabelecidos pela lei. Abarca assuntos mutáveis demais ou
tecnicamente complexos demais para serem normatizados pelo Poder Legislativo, o qual se
limita à definição de parâmetros para a Administração Pública normatizar.
9. PODER DE POLÍCIA
A. Significado da Expressão:
O Estado exerce o poder de polícia legislando e administrando - FUNÇÃO
ADMINISTRATIVA -.
O poder de polícia do Estado se desdobra:
a) Atos Legislativos
A lei que restringe direito individual em prol do bem comum é um ato legislativo de polícia.
Ex.: Estatuto da OAB, ao condicionar o exercício da advocacia à aprovação no exame
respectivo; ao definir uso e ocupação do solo urbano, o plano diretor do município restringe o
direito do proprietário; o Estatuto do Desarmamento restringe o direito de o cidadão portar
arma de fogo para proteção da segurança pública.
B. Conceito:
Art. 78 do CTN:
Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
Aula 3.4
C. Características
a) Discricionariedade
A discricionariedade no exercício do poder de polícia não corresponde à escolha entre agir e
não agir, eis que a Administração Pública tem o poder-dever de atuar. Ex.: número de pontos
na carteira de habilitação de acordo com o tipo de infração praticada, é vinculado.
A discricionariedade, por sua vez, está no modo de agir quando a lei fixa mais de uma forma de
atuação. Ex.: suspensão do direito de dirigir por até seis meses - incide um juízo de
conveniência e oportunidade na escolha do prazo -.
b) Coercibilidade
O poder de polícia é um ato de coerção, de imposição. Ao exercê-lo, a Administração ostenta a
condição de autoridade e se impõe ao destinatário.
c) Autoexecutoriedade
O ato de polícia independe de ordem judicial para ser praticado. Ex.: guinchamento de veículo
estacionado em local proibido. Não obstante, alguns atos de polícia para serem praticados
dependem de ordem do Poder Judiciário, como por exemplo para demolição de uma construção
irregular. A autoexecutoriedade do ato deve estar prevista na lei; no silêncio da lei, o ato não se
reveste de autoexecutoriedade. Em determinadas situações, no entanto, se houver urgência,
ainda que ausente autorização legal, pode a Administração atuar, com base na
discricionariedade – haveria uma autorização legal implícita -. Isto é, a Administração faz o que
a lei determina, mas a lei não é capaz de prever todas as possibilidades fáticas.
d) Indelegabilidade
Predomina na doutrina e na jurisprudência que o exercício do poder de polícia não pode ser
transferido para pessoas jurídicas de direito privado, ainda que empresas públicas ou
sociedades de economia mista que integram a Administração Pública indireta, posto que o
exercício do poder de polícia requer prerrogativas públicas incompatíveis com o regime
jurídico de direito privado.
RECURSO ESPECIAL Nº 817.534 - MG (2006/0025288-1) - STJ
ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO PECUNIÁRIA
APLICADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. IMPOSSIBILIDADE.
(...)
2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia pode ser
conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da liberdade em
favor do interesse público. A controvérsia em debate é a possibilidade de exercício do poder de
polícia por particulares (no caso, aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia
mista).
3. As atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podem ser sumariamente
divididas em quatro grupos, a saber: (i) legislação, (ii) consentimento, (iii) fiscalização e (iv)
sanção.
4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, esses grupos
ficam bem definidos:
o CTB estabelece normas genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de
Habilitação (legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há
respeito à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona
aquele que não guarda observância ao CTB (sanção).
5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois aqueles
referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público.
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por particulares estaria, inclusive,
comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para aumentar a arrecadação.
7. Recurso especial provido
D. Prescrição administrativa
Art. 1º da Lei Federal 9.873/1.999
Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração Pública Federal, direta e indireta,
no exercício do poder de polícia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da
data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver
cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado por mais de três anos,
pendente de julgamento ou despacho, cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante
requerimento da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional
decorrente da paralisação, se for o caso.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração também constituir crime, a
prescrição reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal.
Verifica-se que a Lei 9.873/1.999 estabelece o prazo prescricional de cinco anos para que a
Administração Pública Federal dê início ao procedimento administrativo que resultará em um
ato de polícia. Aos estados e municípios compete a edição das leis respectivas, com a indicação
dos poderes de polícia que podem praticar, bem como o prazo para o exercício.
Quando do estudo do poder disciplinar, verificamos que o prazo para o exercício está contido no
Estatuto do servidor e a contagem se dá a partir do dia em que o fato se tornou conhecido.
Assim, no poder disciplinar, a prescrição administrativa para a punição do servidor conta-se do
dia em que a Administração tomou conhecimento do ato. No poder de polícia, o prazo é
contado da data da prática do ato e, se continuada, da data da cessação. Ex.: administrado corta
uma árvore de pau-brasil - tem a Administração o prazo de cinco anos, a partir da data do corte,
para dar início ao procedimento administrativo de polícia. Ex.: administrado tem uma madeireira e,
todos os dias, corta árvores de forma irregular - a Administração terá o prazo de cinco anos a partir
da data de cessação dos cortes irregulares.
A Lei estabelece duas prescrições distintas: 1. A contar do fato ou da cessação do fato para que
se inicie o procedimento administrativo; 2. Prescrição intercorrente (§ 1º) em relação ao
procedimento que ficar paralisado por mais de três anos - trata-se de prescrição administrativa
do prazo que a Administração dispõe para agir, para exercer o poder de polícia.
Aula 3.5
b. Forma descentralizada: o Estado transfere para outra pessoa o encargo de exercer a função
administrativa.
Obs. 2: Para José dos Santos Carvalho Filho, o Direito brasileiro não prevê essa forma de
descentralização, e a criação de territórios prevista na CF não se encaixa nesse conceito. Para o
autor, descentralização geográfica é uma hipótese doutrinária de descentralização não
contemplada no Direito positivo brasileiro. E quando a CF previu a possibilidade de a União
criar territórios, não se referiu à descentralização geográfica, vez que estabeleceu que o
território que tiver mais de 100 mil habitantes poderá legislar, ter Câmara territorial com
competência legislativa. Logo, se pode o território legislar nos termos da CF, definitivamente
não é hipótese de descentralização geográfica - forma de descentralização administrativa, não
envolvendo função de legislativa -.
Obs. 3: A criação das pessoas jurídicas da Administração Pública indireta se encaixa nessa
forma de descentralização.
Aula 4.1