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RESUMO:
O estudo do Museu Oscar Niemeyer (MON) e o perfil do visitante mostra a coexistência do
culto com o massivo, resultante da ação do poder público. Essa convivência gera uma
tensão que permite classificar o MON como um espaço cultural “híbrido” nos termos de
Néstor García Canclini (2008) que é visitado pelo “grande público dos mídias” conforme
define Jürgen Habermas (2003). De modo didático, divide-se o público do MON em função
do tipo de mediação: escolar e não escolar. No caso do segmento não escolar, discussão
apresentada neste artigo, utiliza-se como fonte de pesquisa: a bilheteria e os livros de
assinatura do MON ambos referentes ao ano de 2009. Conclui-se que a relação do público
não escolar com o MON acontece de forma espetacular, modelo teorizado por Guy Debord
(1997), e que as práticas culturais da modernidade na América Latina não estão atreladas
apenas as organizações sociais como a família e a escola, mas sofrem a interferência dos
meios de comunicação e da ampliação dos canais de distribuição cultural.
Palavras-chave: Poder Público; Visitante; Museu.
ABSTRACT:
The study of the Museu Oscar Niemeyer (MON) and the visitor profile shows the coexistence
of the cult with massive, resulting from the action of the government.This interaction
generates a voltage that enables the classification of MON as a "hybrid" cultural space in
terms of Néstor García Canclini (2008) is visited by the "public of the media" as defined by
Jürgen Habermas (2003). Didactic mode, it divides the public from MON depending on the
type of mediation: school and non-school. In the case of non-school segment, the discussion
presented in this article, used as a research: the box office and the books signature MON of
the year 2009. It is concluded that the ratio of non-public school with MON happens in
spectacular fashion, model theorized by Guy Debord (1997), and cultural practices of
modernity in Latin America are not only linked to social organizations such as the family and
school, but suffer the interference of the media and cultural expansion of distribution
channels.
Keywords: Government; Visitor; Museum.
1 Introdução
A discussão perpassa os processos de hibridação que o Museu Oscar
Niemeyer (MON) e seu público figuram no contexto político, social e cultural do
Paraná, no período de 2002 a 2011; no entendimento que o MON é um museu
híbrido e que o alto índice de visitação resulta da política cultural do Estado durante
a gestão de Maristela Requião. Por meio de uma análise sociológica adota-se como
principais téoricos Néstor García Canclini (2008) e Jürgen Habermas (2003), o
primeiro contextualiza a cultura latino-americana na relação entre a modernização
socioeconômica e a modernidade cultural, o segundo categoriza o público de cultura
na atualidade.
Para Canclini (2008), o acesso aos bens culturais na América Latina difere do
modelo europeu, problemática que se aplica ao Paraná e a gestão do MON, no
impasse entre o modelo neoliberal de mediação cultural promovida pelo Estado e os
canônes artísticos ditados pela elite cultural local. De acordo com Habermas (2003),
a categoria público esta associada ao grande público dos mídias e a ação do poder
público, que elucida o comportamento do público ao visitar o MON e define o seu
perfil.
O artigo apresenta os segmentos de público mediados pela bilheteria e pelos
livros de assinatura no ano de 2009, com o intuito de compreender quais os
segmentos de público que visitaram o MON, suas motivações e seu entendimento
sobre museu – excetuando o segmento escolar. O conceito de “híbrido” está
correlacionado aos “processos de hibridação” teorizados por Canclini (2008), os
quais rompem com a delimitação entre as classes sociais e dissolvem as categorias
associadas ao tipo de arte produzida: elitista, massiva e popular.
3 O público de cultura
O tópico a seguir apresenta a categoria público conforme propõe Jürgen
Habermas (2007). Essa categoria desde o início se vincula ao poder público, tanto o
público que integrava a esfera pública burguesa quanto o público que consome
cultura na atualidade. Como aponta Habermas, a partir da metade do século XIX as
instituições que validavam a reunião do público enquanto público pensante modifica
sua estrutura. As maneiras burguesas de convívio social encontraram substitutos no
decorrer de nosso século, que se caracteriza pela "abstinência quanto ao raciocínio
literário e político" (HABERMAS, 2007, p.193).
Mudança que se justifica pelo fato do consumo estar atrelado ao mercado de
bens culturais, à propriedade e à formação cultural não é suficiente para regular o
público, consequentemente, o mercado cultural também atende a massa. A cultura
de massas tem essa denominação por conformar às necessidades de distração e
diversão de grupos de consumidores com um nível de formação relativamente baixo,
ao invés de formar um público mais amplo numa cultura com mais conteúdo. Por
outro lado, o declínio de uma esfera literária só se consolida com a expansão do
"público-leitor" por quase todas as classes, atingida com a difusão da leitura.
Com os novos mídias, altera-se a forma de comunicação e o comportamento
do público também assume outra configuração, "o raciocínio de um público-leitor dá
tendencialmente lugar ao 'intercâmbio de gostos e preferências' de consumidores –
inclusive o falar sobre o consumido, 'a prova dos conhecimentos de gosto', torna-se
parte do próprio consumo" (HABERMAS, 2007, p.202).
Fatores como condições profissionais, renda, formação escolar e grau de
urbanização, são proporcionais ao consumo de cultura. De acordo com Habermas
(2007, p.205),
Logo, o novo meio se expande alcançando o estrato social mais alto e depois,
os inferiores. Esse contexto explica a ruptura entre uma “intelectualidade”, a parcela
literariamente produtiva, e às camadas cultas burguesas. Os intelectuais que até
então tinham uma missão a cumprir perante a sociedade, na posição de porta-voz
da classe social, isolam-se das camadas incultas e cultas (burguesia).
Desse modo, a vanguarda corresponde a uma minoria em comparação ao
grande público dos mídias.
MODALIDADE DE QUANTIDADE DE
TIPO PERFIL DO PÚBLICO
INGRESSO VISITANTES
1
Os trechos “entre aspas” deste tópico seguem o original conforme escrito pelo visitante nos livros de
assinatura do MON (VAZ, 2011).
Das aulas de história surgem "Pedro Álvares Cabral, de Lisboa, navegador,
com muitos mais de 60 anos" e "Napoleão Bonaparte, o imperador, que reside
na França, Paris"; temos também "Joana D'arc moradora de Paris e guerrilheira".
Realidade ou não, figuras fictícias povoam o imaginário do público, batizado de
"Marciano Cerelepe Jurema Galvão, morador de Marte, profissão: dólar, ctb e com
mais de 80 anos"; mesclando várias personalidades surge o "Tibúrcio Faustinão
Pinto, da cidade de Taboquinhas, profissão perigo e com mais de 60 anos". Heróis
justiceiros também são criados como personagens, "conhecido como Crypto, vindo
de Cryptorydyum, sua profissão é matador de humanos". Comunicando-se em outro
dialeto, "se denomina 'Il Ojo', procedente da 'Il Arte', trabalha como 'Observador',
com mais de 50 anos, escreve: 'horribilis horripilantis these museum'".
O público espontâneo ao assinar com os nomes da indústria cultural comprova
que a mídia interfere em sua formação cultural, nesse sentido o imaginário popular é
constituído por imagens trazidas pela mídia. Guy Debord, dentre as definições de
espetáculo refere a influência que as imagens exercem socialmente, "o espetáculo não
é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por
imagens" (DEBORD, 1997, p.14). Em continuidade a posição do autor, "sob todas as
suas formas particulares – informação ou propaganda, publicidade ou consumo
direto de divertimentos –, o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante
na sociedade" (DEBORD, 1997, p.14).
O modelo espetacular a que se refere Debord é vivenciado no MON, a
própria imagem do museu tem valor alegórico, o que possibilita que o público se
comunique de modo lúdico e particularize suas preferências. Com base nos
referenciais teóricos adotados, e concordando com Canclini (2008), pode-se afirmar
que ser público da modernidade, para o recorte aqui proposto, significa se posicionar
e manifestar suas opiniões e gostos, ao divulgar um repertório de nomes e imagens
que não estão somente nos livros de história e de arte, mas na mídia, como na
valorização por igual de um mestre da pintura e do futebol, por exemplo. Seguindo o
exame dos livros de assinaturas, entre os artistas, temos "Pablo Picasso, pintor de
obra" e, na arte do futebol, "Edson Arantes do Nascimento, morador de Santos, (ex)
jogador de futebol, idade acima de 60 anos", memorizado pela observação "PS: Sou o
Rei". Dos mais recentes, "Ronaldo! Profissão: Brilha muito no Corinthians!". A fama
também é um desejo vivenciado pelo público, seja atuando na TV, seja no esporte,
"Cecília, estudante e 'atriz da Globo', reside em Curitiba, com idade de 12 a 20
anos"; Arthur de 12 anos idealiza ser "Piloto de Fórmula 1".
Espaço que expressa não apenas a preferência pelos artistas e ídolos, mas
que também é utilizado para registrar depoimentos, recordação aos que já se foram,
"Josevalda V. R., pedagoga", menciona: "precisei abrir mão de minha obra para seu
valor" e "Plínio do Amaral, médico de Campinas São Paulo", escreve: "In Memoriam:
arquiteto Paulo José Almeida Amaral, com data de falecimento em 2006".
Enfim, no pedido de uma prece, os dizeres, lidos em sequência, mostram
que diferentes públicos acolheram o MON:
2
(VAZ, 2011, p.281).
ao entorno. Mesmo o Olho no escuro e sem iluminação natural, o público fica
satisfeito e sente-se maravilhado com o museu, portanto o MON agrega gostos e
públicos variados. E mais uma vez reitera que a visitação não resulta
exclusivamente das exposições, e sim de todo o conjunto.
5 Considerações
Pelo que foi exposto, retomam-se as questões pontuadas por Canclini (2008):
Como podem coexistir as instituições cultas com as tendências massificadoras?
Como artistas, intermediários e públicos redimensionam suas práticas? Primeiramente,
no caso do MON, a coexistência de instuições cultas com as tendências
massificadoras se deve ao papel do Estado e a gestão de Maristela Requião no
período de 2003 a 2010, que por meio de politicas públicas viabilizou o acesso ao
museu pelo segmento popular. Segundo, a posição dos produtores de arte manteve-
se igual, embora não tenha sido o foco do artigo, já que tal afirmação considera os
“processos de hibridação” configurados nesse espaço social, e que, na permanência
de uma elite cultural, que resiste a esse novo modelo figurado pelo MON,
potencializa-se o conflito entre o culto, o massivo e o popular (VAZ, 2011). O museu
como mediador cultural desenvolveu suas ações subsidiadas pela Lei Rouanet
conforme modelo institucional adotado pelo MON. E o público fez uso do MON de
forma plena: o dentro e o fora, ou seja, ser público da modernidade significa
pluralidade de opiniões e diversidade de gostos. E ainda, o comportamento do público
ao visitar o MON se adequa a definição dada por Debord, ao se referir a “sociedade do
espetáculo” e a função da imagem como mediadora social.
REFERÊNCIAS
CANCLINI, N. G. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4.ed.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. (Ensaios Latino-americanos, 1).
VAZ, A. O Museu Oscar Niemeyer e seu público: articilações entre o culto, o massivo e o
popular. 377f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba,
2011.
Adriana Vaz - Doutora e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, especialista em
História da Arte do Século XX pela EMBAP e graduada em Educação Artística com Habilitação em
Desenho pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é professora da Universidade Federal do
Paraná, no Departamento de Expressão Gráfica, em Curitiba.
http://lattes.cnpq.br/2037918966512896