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RECIFE – PE
2017
LUIS FILIPE DE LIMA ANDRADE
TALLES ARTHUR SILVEIRA BATISTA
CARLOS RODRIGO DE AMORIM LOPES
RECIFE – PE
2017
1. Agostinho e a Política
Santo Agostinho não faz filosofia fora do contexto teológico cristão, onde é evidente
que o seu pensamento é uma interpretação de sua vida e sua vida não cessa de nutrir-se na bíblia
e na filosofia.
Quando Santo Agostinho analisa a política, de modo geral, atribui a esta uma concepção
negativa, pois ela exige uma função estatal. Mas o que isso quer dizer? É que para ele, se todos
os homens fossem justos e sem pecados, o Estado seria inútil, pois este só está presente para
impor regras, punições e coerção. Até mesmo a escravidão poderia ser superada, pois esta
também provêm do pecado original. Para o Estado chegar na mais plena moral e autêntica
justiça, segundo Agostinho, seria necessário que o mesmo seguisse os princípios religiosos e
morais do cristianismo, tendo em vista que o cristianismo, para ele, é a verdadeira religião.
O pensamento agostiniano acerca da política está permeado e fundamentado na
transcendência do ser humano. Ele se articula com a Teologia e nesta deposita suas esperanças,
pois a política tem uma função específica na Cidade Terrestre, e será importante por ser uma
atividade que promove a pax romana temporalis (paz romana) e ao mesmo tempo prepara ou
remete para a Cidade Celeste. O exercício do poder político em Agostinho, embora tenha um
valor relativo (bem médio), como aliás todo o mundo criado, desempenha um papel importante
na sociedade terrestre como meio que garante o bem comum e a segurança dos cidadãos. Estes
cidadãos devem trabalhar para viver numa ordem tranquila. Evidentemente que esta
tranquilidade da ordem à qual se refere Santo Agostinho na De Civitate Dei só será uma
realidade quando o exercício da função política for fundado no verdadeiro Amor na Caritas,
como denomina o próprio Santo Agostinho. Sendo, porém, uma instituição exercida por
homens marcados pelo pecado, a organização política para ser vivida com autenticidade e
justiça, necessita da graça de Cristo. Santo Agostinho enfatiza que só haverá convivência justa
nas organizações sociais quando Cristo for o alicerce e o centro, inspirando e ao mesmo tempo
dirigindo as ações humanas.
Para Santo Agostinho, a política constitui uma atividade fundamental para que no seio
da sociedade humana haja o bem e a paz. A função política só será corretamente vivenciada se
for pautada pelo interesse dos governantes em servir e prestar culto ao verdadeiro Deus.
Santo Agostinho busca uma moral política através de um objetivo: a da fé cristã que
almeja e que luta por um mundo mais justo do que o constituído. A obra de Santo Agostinho,
intitulada Civita Dei (Cidade de Deus), é de extrema importância para entender a política de
sua época. Nessa obra, houve o encontro de duas tradições: a da cultura greco-romana e a da
bíblia. Santo Agostinho retém da cultura grega, em grande parte, as ideias de Platão no livro
“A República” de como deveriam ser as leis e a ordem na cidade terrestre. Feito isso ele traçará
planos para formar uma cidade não perfeita, mas ideal, pois não haveria perfeição para o homem
neste mundo. Para Agostinho, para administrar uma cidade, é necessário que ela esteja baseada
na justiça e na caridade, ensinada por Cristo.
Sobre a questão dos bens materiais, diz ele que não é possível atingir a “Verdadeira
Felicidade” através deles, pois estes são além de finitos, imperfeitos, inconsistentes, também,
em alguns casos, geram vaidade no homem, o que consequentemente leva ao pecado. Além
disso, deve ser ressaltado que, para Agostinho, os bens materiais, apesar de serem importantes
– uma vez que foram criados por Deus e tudo que Deus criou é bom –, eles não devem ser vistos
como um bem em si mesmos – pois apenas o divino deve ser visto como fim absoluto, ou
também, sumo bem – mas apenas como meios para se ascender ao divino. Em outras palavras,
os bens materiais devem ser usados, de forma coerente, isto é, como ferramentas, a fim de se
buscar o encontro com o divino, que é também a “Verdadeira Felicidade”.
Na ética agostiniana há uma complexa relação, onde procurar Deus é a mesma coisa
que procurar a alma (si mesmo) e ao mesmo tempo, procurar a alma – isto é, reclinar-se sobre
si mesmo – é procurar a Deus. Isto porque Agostinho defendia que Deus habita o interior do
homem, tese que leva-o a concluir que se o homem encontra a si mesmo também encontra a
Deus, o que consequentemente fará o homem aproximar-se da “Verdadeira Felicidade”, uma
vez que esta é o encontro com o divino. É necessário atentar que, para Agostinho, não é possível
que homem atinja a “Verdadeira Felicidade” enquanto ser corpóreo, isto é, enquanto existente
no mundo sensível, pois apenas na eternidade, que ele chama de “pátria celestial”, é possível
chegar-se a tal condição. Na verdade, o mundo sensível é visto em Agostinho apenas como um
meio que pode garantir (ou não) – a depender da conduta do indivíduo – a passagem do homem
para o plano eterno. Portanto, no mundo terreno nunca se chegará à “Verdadeira Felicidade”,
mas ele pode garantir o acesso a esta, apenas usando as condições dadas por este mundo
devidamente como meio para se atingir tal fim.
Em Santo Agostinho, além desta ética de caráter teleológico, há também uma ética do
amor, tendo em vista que ele defende que o amor exerce um papel primordial na vida do homem,
tanto em relações com o divino como também com o material e carnal. Além disso, Agostinho
distingue em sua teoria ético-moral dois tipos de amor, são estes: amor ordenado e amor
desordenado. Antes de definir propriamente o que significa cada um, é importante ressaltar que,
para Agostinho, o que vem a constituir um ou outro é o ato livre. Ou seja, o homem enquanto
dotado de racionalidade – o que implica necessariamente, em Agostinho, ser também dotado
de liberdade – tem a plena capacidade e dever de decidir entre o certo e errado, bem e mal, etc.
Basicamente, amor ordenado define-se como viver de acordo com o que Santo Agostinho
chama de “reta ordem” – esta foi criada por Deus para ser modelo a ser seguido e buscado. Ao
contrário deste, o amor desordenado é definido como aquele que se opõe, isto é, desrespeita a
“reta ordem”. Para elucidar um pouco mais, o amor ordenado diz respeito à vida entregue ao
gozo da alma – isto é, para a busca interior ou espiritual –, que para Agostinho associa-se
diretamente a felicidade interior, que leva à eterna. O amor desordenado, diferentemente do
amor ordenado, diz respeito a vida entregue aos gozos da carne – isto é, para os prazeres terrenos
e supérfluos –, que segundo Agostinho é associado apenas a felicidade temporal. Portanto,
podemos concluir que para Agostinho o primeiro é bom, enquanto que, contrariamente a este,
o segundo é ruim, tendo em vista que um (amor ordenado) leva ao equilibro com a “reta ordem”
e o outro (amor desordenado) se opõe a ela.
Para Agostinho, não há mal físico ou ontológico, mas este existe apenas no âmbito da
moral e esta é atributo exclusivo do homem, logo não faz sentido pensar um mal físico levando
em consideração que tudo que foi criado por Deus é bom. Nesse sentido, como se explicaria,
então, o mal moral? Seria Deus o culpado do mal moral? E a resposta de Agostinho seria: não.
Pois, segundo Agostinho, ao criar o homem dotado de racionalidade, Deus naturalmente lhe
deu o poder e a capacidade de escolher entre o bem e o mal. Desse modo, o homem é totalmente
responsável por suas escolhas, uma vez que sendo racional, ele tem a plena capacidade de
decisão. Isto leva a concluir que o mal não possui uma relação direta com Deus, mas apenas diz
respeito aos homens. O homem é o único responsável pelo que escolhe, portanto, pela existência
ou inexistência do mal no mundo.
Para concluirmos este tópico, podemos afirmar que na ética de Santo Agostinho há dois
elementos fundamentais, são eles: a “Verdadeira Felicidade” e o amor – enquanto força motriz
da moralidade. A “Verdadeira Felicidade” – que é Deus –, aparece como o próprio telos (fim)
da vida humana e o amor seria o sentimento impulsionador das ações humanas, o que significa
que através dele é possível definir a moralidade dos homens. O amor faz com que seja possível
julgar uma ação como moral ou imoral, dependendo-se da forma e intensidade com que se usa
este, mas também, em relação ao objeto – Deus, pessoas, bens materiais, etc –, na qual se
direciona o mesmo. Portanto, concluímos que, a ética agostiniana é uma ética do amor de caráter
teleológico-sobrenatural, levando-se em consideração que ele não apenas entende um telos
comum a todos os indivíduos, mas também que afirma que através do amor o homem alcança
a Deus que é a “Verdadeira Felicidade”. Nesta plenitude da alma, tal felicidade para Agostinho
é o próprio Deus; daí o caráter sobrenatural, uma vez que é um telos não terreno, mas metafísico
e suprassensível.
3. Agostinho e o Estado
O Estado será considerado por Agostinho um “bem médio” necessário para controlar
a vida humana enquanto existir nesse mundo. O homem como filho do criador deve também
submeter-se a um poder terreno que seja justo e que o prepare para a vida espiritual depois da
morte. A felicidade real só poderá ser encontrada em Deus e o estado tem uma função ético-
moral por ser um instrumento que disciplina o homem para a vida eterna.
Neste mundo apenas será possível viver em termos de uma felicidade mediata e as leis
do Estado devem favorecer este aspecto da vida humana. Para Agostinho, pensar o homem
concreto é falar do homem em sua vida comum na cidade, pois o homem é o fundamento e a
finalidade do Estado. Se o homem é bom reinará o bem na cidade, pois esta nada mais é que
um aglomerado de pessoas, uma junção de homens bons ou maus. Se o homem é bom na cidade
reinará sempre o bem, mas se for corrompido pelo pecado reinará a maldade.
Muitos estudos de Agostinho constituem uma análise das relações entre a liberdade de
consciência e o Estado. Isto decorre do entendimento Agostiniano de que o homem nasceu para
amar e que não se pode compreender integralmente o que não ama ardentemente, isto demonstra
uma capacidade que o ser humano tem para conseguir entender a si próprio e o meio em que
vive através de seu amor e de sua razão. Porém, para Agostinho este é um caminho que deve
ser escolhido conscientemente pois, para ele, existem coisas que não devem ser amados em
plenitude, pois levam o homem ao vício e não a virtude.
O amor será para Agostinho o fundamento da ordem social para que esta torne-se a
Cidade de Deus pois o homem que tem amor a Deus também deve tê-lo a seus semelhantes. A
ordem social, portanto, é um prolongamento da ordem moral fundamental que é a do amor. Só
é possível ser feliz amando e a vida feliz será inseparável do meio social pois a vida moral e a
felicidade pressupõem uma vida em comunidade. A vida feliz é inseparável do contexto social
onde o homem vive. Tal proposição também afasta Agostinho de um certo idealismo quanto a
questões sobre a vida comum e terrena e o torna um filósofo prático neste sentido porque
entende que para que os homens tenham uma boa vida e alcancem a felicidade devem ter uma
conduta reta e justa ante a sociedade em que se encontram.
Agostinho também reconhece que há uma paz justa que é uma paz boa e o
cumprimento da ordem em duas normas fundamentais: “Não fazer o mal a ninguém” e
“Socorrer todos os que padecem necessidades”. No entanto, Agostinho reconhece que não há
um Estado plenamente justo que se deixe reger pelo amor divino, porém, há os que operam com
o amor, chamados “Estados de Deus” e os corrompidos pelo pecado denominados “Estados do
Demônio” que correspondem ao tipo de amor predominante nas almas dos cidadãos de um
lugar. Para Agostinho há dois tipos de amor, um santo e o outro egoísta, um que busca o bem
comum em favor do entendimento mútuo e da fraternidade espiritual, o outro é destrutivo e
busca submeter o bem comum ao seu próprio bem. Um trabalha pela paz e o outro é
insubordinado e nefasto, pautado pelas vaidades humanas.