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Introdução
Este projeto de pesquisa de Doutorado parte das indagações e reflexões que venho
fazendo, desde meu ingresso na carreira docente no estado de Mato Grosso. Graduado em
História e professor desde 2004 na Educação Básica e participando da seleção de livros
escolares pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para o uso em sala de aula, me
instigava saber sobre a finalidade destes materiais didáticos, bem como sua utilização para
socialização de ideias nacionalistas. Para o Ensino Médio, diante da necessidade de preparar
os estudantes para o vestibular e outras formas de seleção para o ingresso na Universidade, as
leituras sobre os livros escolares de História de Mato Grosso permitiu compreendê-los não
somente como manuais escolares, mas também como um “instrumento privilegiado de
construção de identidade” (CHOPPIN, 2004, p. 553). Tal perspectiva com relação ao livro
escolar deu-se após perceber que o próprio governo do estado de Mato Grosso, através de leis
que regulamentavam o trabalho pedagógico escolar, buscou viabilizar a construção de uma
identidade regional em sala de aula. Este, com relação aos concursos de provimento de cargos
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públicos ou de seleção de vagas para Universidade, criou a Lei Estadual n. 4.667, de 5 de abril
de 1984, que, em seu artigo 1º, dispõe:
com escassos estudos até o momento. Para isso, a proposta de pesquisa considera o perfil dos
autores dos livros escolares mato-grossenses, que em um primeiro momento estavam ligados
ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT) e, depois, à Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), ambos em Cuiabá. As representações por eles construídas
estão no cruzamento da produção historiográfica acadêmica e escolar, que transforma os
livros escolares de História de Mato Grosso em instrumentos privilegiados de disputas
políticas e de constituição de identidades, especialmente em sala de aula.
Em 1919, a fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT)
assinalou o grande momento de reconstituição do passado mato-grossense, junto com vários
outros investimentos rituais e simbólicos, produzidos especialmente para as comemorações do
bicentenário da fundação de Cuiabá (1919). Estes rituais seriam transportados para os
monumentos, símbolos e festividades cívicas do estado, de modo a consolidar uma tradição 1 a
ser ensinada nas instituições escolares e disseminada nos demais segmentos sociais,
determinando as estruturas do imaginário coletivo mato-grossense. Para tal empreitada, a
escrita da História de Mato Grosso contou com a pena de ilustres intelectuais locais, a saber:
Estevão de Mendonça, José Barnabé de Mesquita e Virgílio Corrêa Filho, considerados
arautos da história local, que acabaram por estabelecer os contornos da identidade mato-
grossense (ZORZATO, 2000).
Depois deste momento de intensa produção historiográfica (1919-1954), o IHGMT
passou por um período de relativa estagnação, voltando à plena atividade a partir de 1976,
concomitante ao processo de colonização dirigida na Amazônia, promovida pelo Programa de
Integração Nacional (PIN)2, que introduziu em Mato Grosso grandes levas de migrantes
vindos das mais diferentes partes do país. Somou-se a isso a separação do sul do território
estadual, em 1977, formando uma nova unidade da federação, o Mato Grosso do Sul, que
culminou na retomada das discussões em torno das questões identitárias regionais (GALETTI,
2012).
Neste contexto, alguns intelectuais mato-grossenses ligados ao IHGMT
empreenderam esforços na produção de livros de História que reforçassem as representações
positivas sobre Mato Grosso, seu território e população, que pudessem ser apropriadas em
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Conforme Hobsbawn (1984), quando uma determinada memória obtida do passado é institucionalizada e
tomada como oficial, acaba por tornar-se história. Daí em diante, passa a ser cultuada com intuito de preservar
uma pretensa memória coletiva, assumindo, assim, a forma de uma “tradição inventada”.
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Criado pelo Decreto-Lei nº 1.106, de 16 de junho de 1970, o Programa de Integração Nacional, constituído sob
os lemas “integrar para não entregar” e “uma terra sem homens para homens sem terra”, implantou grandes
projetos de colonização na região amazônica, porém seus resultados objetivos foram a concentração de terras nas
mãos de grandes grupos econômicos e conflitos sociais pela posse de terra, sobretudo às margens das rodovias
federais. (MORENO, 1999).
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sala de aula e que viabilizasse a construção de uma identidade regional entre as novas
gerações de mato-grossenses.
Com o objetivo de contribuir com a produção sobre a história da literatura didática
no Brasil, venho desenvolvendo pesquisa, mediante abordagem histórica, centrada em
pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos
de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de textos, sobre os principais títulos
de livros escolares de História de Mato Grosso (autores, editoras e o momento de produção)
produzidos ao logo de um século (1906-2008).
Essas referências de textos estão contidas no instrumento de pesquisa intitulado
Livros Didáticos de História de Mato Grosso (1906-2008): Autores, Produção e Circulação
(SILVA, 2015). Até o momento, foi possível localizar, recuperar e reunir 32 títulos de livros
escolares de História de Mato Grosso, considerando as diferentes edições de um mesmo título.
Nas referências de textos que reuni, pude identificar um total de 13 autores de livros
escolares de História de Mato Grosso. São eles: Estevão de Mendonça, Amélia de Arruda
Alves, Rubens de Mendonça, Octayde Jorge da Silva, Lenine de Campos Póvoas, Elizabeth
Madureira Siqueira, Lourença Alves da Costa, Cathia Maria Coelho Carvalho, Else Dias de
Araújo Cavalcante, Maurim Rodrigues Costa, Marcos Amaral Mendes, Laura Antunes Maciel
e Pedro Carlos Nogueira Félix.
Entre as décadas de 1990 e 2000, é possível identificar oitos títulos de livros
escolares de História de Mato Grosso (totalizando 17 edições de diferentes títulos), sendo dois
deles produzidos em coautoria. São livros escritos por professores e/ou ex-alunos do
Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso, predominando mulheres
como autoras, que somam 75% (setenta e cinco por cento) da produção. São livros escolares
que inseriram em suas linhas documentos dos mais variados (manuscritos, depoimentos orais,
fotografias, pinturas, entre outros) e a produção acadêmica sobre a História de Mato Grosso, a
saber: dissertações de mestrado e teses de doutorado.
O que se busca aqui, em nível de doutorado, é entender o processo de consolidação
dos livros escolares de História de Mato Grosso como instrumentos privilegiados de disputas
políticas e de constituição de identidades. Para além da instrumentalização pedagógica, os
livros escolares apresentam-se como “produtos de grupos sociais que procuram, por
intermédio deles, perpetuar suas identidades, seus valores, suas tradições, suas culturas”.
(CHOPPIN apud BITTENCOURT, 2004, p. 69). No entanto, os interesses dos grupos sociais
que forjaram as representações presente nos livros escolares de História de Mato Grosso, bem
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como as intencionalidades dos discursos por eles construídos, entre as décadas de 1930 e
1990, apresentam-se como territórios a serem melhores explorados.
Discussão conceitual
real. Indivíduos e grupos dão sentido ao mundo por meio das representações
que constroem sobre a realidade.
[...] através dos seus imaginários sociais, [que] uma coletividade designa a
sua identidade; elabora uma certa representação de si; estabelece a
distribuição dos papéis e das posições sociais; exprime e impõe crenças
comuns; constrói uma espécie de código de “bom comportamento”,
designadamente através da instalação de modelos formadores.
Uma definição mais sintética, mas não menos objetiva, considerara o imaginário
como “[...] um sistema de ideias e imagens de representações coletivas que os homens, em
todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo”. (PESAVENTO, 2005, p. 43).
O imaginário, segundo Baczko (1985), é parte constitutiva e de legitimação de
poder, principalmente do poder político, que sempre se cercou de representações coletivas –
isso explica por que, para a manutenção do poder político, “o domínio do imaginário e do
simbólico é um importante lugar estratégico” (BACZKO, 1985, p. 297). Desse modo, em
qualquer conflito social, o imaginário sempre terá papel determinante, pois, por meio dele os
agentes sociais produzem as representações de si próprios e dos outros (seus inimigos, que
poderão ser de classe, religião, raça, nacionalidade etc.), que definirão suas práticas coletivas.
Segundo Baczko (1985), o imaginário social tornou-se lugar e objeto dos conflitos
sociais, porque é “[...] uma peça efetiva e eficaz do dispositivo de controle da vida coletiva e,
em especial, do exercício da autoridade e do poder” (BACZKO, 1985, p. 310). O controle do
imaginário pelos grupos sociais dominantes tem a função de preservar, por meio de um
sistema simbólico, o lugar privilegiado que estes atribuem a si próprios. Com isso, tais grupos
produzem seu sistema de representações, traduzindo e legitimando sua ordenação, manejando
os símbolos e definindo sua direção e orientação política.
Portanto, na constituição das representações do outro por meio do imaginário,
elabora-se uma imagem desvalorizada do adversário, invalidando sua legitimidade política.
Mas, nas representações de si próprio exalta-se a memória, história, origens e tradições
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Objetivos
Metodologia
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Cronograma
Referências
BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e imagens. In: BITTENCOURT, Circe
(Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004, p. 69-90.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incerteza e inquietudes. Porto Alegre:
EdUFRGS, 2002.
_____. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1990.
_____. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e
Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, 2004.
GALETTI, Lylia da Silva Guedes. Sertão, fronteira, Brasil: Imagens de Mato Grosso no
mapa da Civilização. Cuiabá: EdUFMT, 2012.
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MATO GROSSO. Lei n.º 4.667, de 05 de abril de 1984. Diário Oficial, a. 93, n. 19.036, 6
abr. 1984.
_____. Lei n.º 5.573, de 06 de fevereiro de 1990. Diário Oficial, a. 99, n. 20.412, 17 abr.
1990.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,
2005.
RIBEIRO, Renilson Rosa. Colônia(s) de identidades: discursos sobre a raça nos manuais
escolares de História do Brasil. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2004.
SILVA, Aparecido Borges da. Livros Didáticos de História de Mato Grosso (1906-2008):
Autores, Produção e Circulação: Um instrumento de pesquisa. Marília, 2015. (Digitado).