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E OBRAS DE ENGENHARIA
ESAF
Escola de Administração Fazendária
Ficha técnica
Coordenação de Produção
Equipe de produção DIEAD/ESAF
Sumário
4.2.3 Os critérios de medição nas obras (contrato com regime de empreitada por
preço global e contrato com regime de empreitada por preços unitários).......28
Encerramento......................................................................................................... 46
OBRA
MÓDULO 4
A habilitação em uma licitação está regrada pela Lei nº 8.666/1993, no seu art. 27. Um
dos seus itens, bastante importante em uma licitação de obra, refere-se à qualificação
técnica (item II do art. 27).
Essa exigência é um dos aspectos que geralmente trazem dúvidas aos servidores
responsáveis pela elaboração do edital, quanto à capacitação técnico-profissional e à
capacidade técnico-operacional. Embora não exista na Lei nº 8.666/1993 abordagem
comparativa entre essas duas exigências, recente jurisprudência do TCU debateu
esse entendimento.
4
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em
seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissio-
nal de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade com-
petente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de
obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusiva-
mente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licita-
ção, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos;
(BRASIL, 1993, grifo nosso).
Saiba Mais
5
8. Por isso, sou de opinião que a interpretação mais adequada do art. 30, § 1º,
inc. I, in fine, da Lei nº 8.666/93, é a de que é possível, e até mesmo impres-
cindível à garantia do cumprimento da obrigação, delimitar as características
que devem estar presentes na experiência anterior a ser comprovada pelas
licitantes – compatíveis com o objeto pactuado –, aí se inserindo a exigência
de quantitativos mínimos concernentes ao objeto que se pretende contratar.
(BRASIL, 2016, voto da relatora Ana Arraes).1
Perceba que, no voto acima, a delimitação das características que devem estar pre-
sentes na experiência anterior a ser comprovada configura-se de extrema importância
para que se atinja o objetivo da exigência de qualificação técnica. Esse procedimento
evita a possibilidade de comprovação de qualificação por parte da licitante por expe-
riência não exigida no edital, ou mesmo por apresentação de experiência insuficiente.
1
BRASIL. Acórdão nº 534/2016 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2016.
2
Variable Refrigerant Flow, ou Fluxo de Refrigeração Variável: é um sistema de ar condicionado que tal qual dito no nome,
utiliza variação no fluxo do gás refrigerante no processo de climatização do ambiente condicionado. Esse sistema tem
maior eficiência e maior complexidade tecnológica se comparado com sistemas mais tradicionais.
3
É um sistema de ar condicionado de pequena capacidade composto de unidades separadas para condicionamento in-
terno (evaporadoras) e troca de calor (condensadoras), daí o seu nome (split, na língua inglesa significa “dividido”), que é
indicado para pequenos ou médios ambientes e com controle de acionamento localizado, muito utilizado em instalações
residenciais, exigindo, portanto, menor conhecimento técnico na sua instalação, se comparado a um sistema VRF, ou
sistemas mais complexos.
6
Observe
7
139. No Acórdão 2.297/2005 – Plenário, da relatoria do E. Ministro Benjamin
Zymler, foi exposto acurado exame da matéria, do qual destacamos, em sín-
tese, os seguintes aspectos:
4
BRASIL. Acórdão 2016/2016 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2016.
8
4.1.2 O controle da documentação na obra
9
Fique Ligado
Na legislação atual que rege os procedimentos de licitação e contratação
de serviços e compras pela Administração Pública Federal, Estadual e Mu-
nicipal, o processo licitatório para uma obra – e a sua consequente contra-
tação – pode ser feito tendo-se apenas o Projeto Básico do objeto a ser
construído (edificação ou demais obras da construção civil ou de infraes-
trutura viária). Em alguns casos, o conjunto de documentos desse projeto
será pequeno. Em outros, no entanto, como é o caso de projetos de gran-
des pontes ou viadutos, mesmo no Projeto Básico, em fase anterior ao
desenvolvimento do Projeto Executivo pela futura contratada, o conjunto
de documentos será extenso.
Para esse tipo de projeto, quando se atinge a fase do Projeto Executivo, a lista
de documentos cresce exponencialmente, atingindo milhares de páginas entre
memoriais, laudos, estudos e detalhamento construtivo, e centenas de pranchas
de desenho, incluindo projetos ambientais, de drenagem, geométricos, estruturais,
viários, de sinalização viária e sinalização náutica, para citar alguns (Edital DNIT nº
046/14-00).5
5
Disponível em: http://www1.dnit.gov.br/ editais/consulta/resumo.asp?NUMIDEdital=4487. Acesso em: 26 abr. 2018.
10
Uma das formas de controle da documentação da obra é a emissão de uma lista-
mestra, documento que traz ordenadamente, por tipo de projeto ou disciplina, a
relação dos elementos gráficos do projeto, sejam eles pranchas de desenho, sejam
memoriais, laudos ou Cadernos de Especificações e Detalhamento. Essa lista-mestra
pode tanto ser gerada em softwares mais acessíveis, tais como editores de texto
ou planilhas eletrônicas, de forma manual, quanto em softwares mais complexos e
dedicados, como gerenciadores de workflow.
Fique Ligado
Workflow é a modelização e a gestão informática do conjunto de tarefas a
realizar e dos diferentes atores envolvidos na realização de um processo
de negócio (também chamado de processo operacional). O termo work-
flow poderia, por isso, ser traduzido por “gestão eletrônica dos processos
de negócio”. Um processo operacional representa as interações sob a
forma de troca de informações entre diversos atores, como: indivíduos,
aplicações ou serviços e processo de terceiros.
O circuito de validação;
Os prazos a respeitar;
6
BRASIL. (Poder Judiciário. Justiça Federal. Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Workflow.) [s.l.]: [s.d.]. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/siga/apostila_sigawf.pdf. Acesso em: 27 abr. 2018.
11
A norma ABNT ISO 9001:2015 – Sistemas de Gestão da Qualidade – Requisitos, traz,
no seu item 7.5.3, importantes informações e roteiro sobre o controle de documenta-
ção que prioriza a sua integridade, fidelidade, disponibilidade, proteção, distribuição,
validação e controle de alterações.
12
4.1.3 Usando softwares de gerenciamento de projetos
No art. 40, item XIV, alínea “b”, da Lei nº 8.666/1993, é determinada a obrigatoriedade
de que constem do edital da licitação as condições de pagamento da obra ou serviço,
prevendo cronograma de desembolso, conforme abaixo:
(...)
(...)
13
O referido cronograma de desembolso citado na lei é o cronograma físico-financeiro
da obra ou do serviço, especificado no edital e que integrará a minuta do contrato da
obra, servindo àquele propósito de controle.
Note que, ainda que esteja previsto na legislação que trata das licitações e orçamen-
tos de referência no âmbito da Administração Pública, o cronograma é abordado com
ênfase no controle do fluxo de recursos financeiros, e não no controle das atividades
da obra. Nesse ponto há falha na legislação, em que seria necessária a previsão de
instrumento que pudesse efetivamente conferir o controle do andamento físico da
obra ou do serviço, a sua evolução por atividades.
14
O controle efetivo das atividades na obra dá-se por meio do método do caminho
crítico, ou método PERT/CPM (Program Evaluation and Review Technique/Critical
Path Method). Esse método prevê o encadeamento das atividades em rede e nós,
com pré-requisitos a serem atendidos para que cada atividade seja realizada. Esses
pré-requisitos tanto podem ser a realização inicial de uma outra atividade (atividade
predecessora) quanto a necessidade de compra de um determinado material ou a
contratação de um determinado serviço para que a atividade seja possível.
Observe
7
PMI – PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. PMBOK. 5th ed. Philadelphia: PMI, 2013. p. 176.
15
A figura8 a seguir mostra graficamente o caminho crítico de uma sequência de
atividades:
2 3 7
3 6 9
3 5 4 5 2
1 2 4 7 11
7 3 2
5 8 10
8
Disponível em: http://www.pmknowledgecenter.com/dynamic_scheduling/baseline/critical-path-or-critical-chain-diffe-
rence-caused-resources. Acesso em: 7 maio 2018.
16
4.1.4 A importância da assessoria à fiscalização
Ainda que o órgão da Administração Pública conte nos seus quadros com servidores
que também sejam profissionais legalmente habilitados, dada a característica da
maioria dos órgãos da Administração – salvo aqueles que têm como atividade-
fim a construção civil ou obras de infraestrutura viária, é raro que constem dos
seus quadros profissionais (engenheiros e arquitetos) que contemplem todas as
disciplinas envolvidas na elaboração de projetos ou da execução de obras e serviços
17
de engenharia. Isso somente ocorreria se houvesse servidores habilitados nas áreas
de engenharia estrutural, mecânica, elétrica, hidrossanitária etc.
Perceba que, mesmo que profissionais habilitados nas áreas específicas de engenha-
ria e arquitetura façam parte dos quadros do órgão, em muitos casos a sua função
não está vinculada à sua formação técnica, por atuarem em área-fim do órgão, diver-
sa daquela formação. A despeito de considerações sobre as capacidades técnicas e
as competências de tais servidores, esses, muitas vezes, por não terem maior contato
com as áreas de atuação oriundas das suas formações técnicas, declaram-se não
capacitados para o exercício daquela atividade específica, ou mesmo, assumindo tal
exercício, o fazem com a condição de serem assessorados por profissional habilitado
e atuante na atividade técnica.
Importante
Servidores legalmente habilitados atuando como fiscais de con-
trato e assessorados por profissional tecnicamente capacitado
só trazem vantagens ao órgão.
18
Uma das grandes vantagens da contratação de uma assessoria à fiscalização, no
caso de uma obra da construção civil, é o fato de o fiscal do contrato poder contar
com representante no local da obra em tempo integral. Muitas obras contratadas
pela Administração Pública estão em local distante daquele de lotação do fiscal do
contrato, o que impede a sua permanência ou mesmo contato direto com a obra. Há
situações, inclusive, em que a lotação do servidor, normalmente em centros regionais,
está distante centenas de quilômetros do local de execução da obra, dificultando
até mesmo suas visitas periódicas. Nesses casos a contratação de assessoria à
fiscalização, com previsão de alocação de profissional residente, será de grande ajuda
técnica ao fiscal do contrato.
Importante
Há ainda outras tantas vantagens para a Administração Pública
quando da contratação de assessoria à fiscalização, normal-
mente para ações mais específicas, em que o servidor não tenha
pleno conhecimento, ou o tendo, teria prejuízo na sua atuação
principal pelo tempo demandado por tais atividades.
A assessoria à fiscalização, nesses casos, teria resposta adequada para cada uma
das atividades, ao contar nos seus quadros com profissionais com capacitações
específicas para cada fim. Assim, engenheiros mecânicos, eletricistas, estruturais,
além de contadores e profissionais de Segurança do Trabalho dariam o suporte ao
fiscal do contrato. Obviamente tal previsão deve sempre constar do edital da licitação
que contratará a assessoria.
19
As atividades específicas, possíveis de serem executadas por uma assessoria à
fiscalização, estão na relação abaixo, não exaustiva:
1. Exame de todos os elementos técnicos fornecidos pela contratante para a execução da obra, de modo a apontar as eventuais omissões ou
falhas que venham a ser observadas, para que essas sejam sanadas a tempo;
2. Manifestação quanto à qualidade e à rigorosa adequação dos materiais e serviços a serem empregados na obra às especificações técnicas
e à regulamentação aplicável a cada caso;
3. Medições mensais dos serviços, apresentando ao fiscal do contrato; para cada medição, uma planilha discriminativa indicando o
percentual de execução de cada serviço da planilha orçamentária da obra e o total acumulado;
4. Elaboração de planilha orçamentária para eventuais serviços não previstos ou alterações do Projeto Básico, a fim de subsidiar a
contratante no caso de aditamentos ao contrato da obra;
5. Verificação da anotação, registro, aprovação, licenças, Cadastro Específico do INSS (CEI) matrícula CEI da obra e outras exigências dos
órgãos competentes com relação ao Projeto Executivo e à obra;
6. Análise e apresentação de parecer relativo à documentação comprobatória do cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias
que acompanha as faturas da empresa executora da obra;
7. Averiguação e manifestação quanto à qualificação técnica de empresas que a executora da obra pretenda subcontratar, referente aos
serviços permitidos;
8. Proposição da retirada do local da obra do material rejeitado pela fiscalização, bem como a demolição e a imediata reconstrução do que
for impugnado, quer em razão de material, quer da mão de obra;
9. Verificação da entrega pela empresa executora da obra dos documentos exigidos nos prazos fixados pelo fiscal do contrato;
10. Alerta ao fiscal do contrato da transferência, no todo ou em parte, da execução da obra sem prévia e expressa anuência da contratante,
ressalvadas pequenas subempreitadas ou tarefas que não exijam responsabilidade técnica;
11. Verificação diária quanto às anotações efetuadas pela empresa executora da obra no “Diário de Obras”, anotando os eventos ocorridos e
registrando as observações relativas ao desenvolvimento dos trabalhos;
12. Proposição da retirada do local da obra de qualquer empregado que não corresponda à confiança, ou que perturbe a ação da
fiscalização;
13. Conferência da documentação contábil, previdenciária e trabalhista para possibilitar o ateste dos serviços executados, situação em que a
comprovação daquela documentação é requisito.
20
4.2 A atuação do Fiscal de Obras
Todo e qualquer ato do servidor público deve ser motivado e sobre eles responde civil,
penal e administrativamente.
21
Importante
Note que a função de fiscal de contrato exercida por servidor
com habilitação legal nas áreas específicas (arquitetura ou enge-
nharia) é complexa e com responsabilidades bem abrangentes.
22
No que diz respeito à responsabilidade técnica, o fiscal de contrato (projetos
e obras) que detenha habilitação legal nas áreas específicas – engenharia
ou arquitetura – sobre elas deve responder quanto ao controle das boas
práticas construtivas, amparadas em normativas técnicas, ou ainda em
normas legais a elas aplicadas.
23
Como esclarecimento à questão relativa às normas técnicas, tomemos por
exemplo um determinado projeto, de um prédio de uso público, em que não
foi previsto o conforto acústico determinado para um dado ambiente na
ABNT NBR 10152:2017 – Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes
internos a edificações.
24
penho, atendimento às normativas técnicas e boas práticas da construção. Respei-
tará também o direito autoral e a responsabilidade técnica do projetista. Essa última
condição será a que irá trazer segurança à contratante quanto à garantia intrínseca
conferida ao objeto construído, a partir do autor do seu projeto.
Pelas razões descritas, a aceitação dos materiais pelo fiscal da obra deve ser feita
somente após criteriosa análise, que traga a certeza do correto atendimento às
especificações do projetista.
O mercado da construção civil traz uma variedade de alternativas para a maioria dos
insumos de obra. Como em qualquer outra atividade econômica, esses materiais
podem apresentar grande qualidade, a partir de marcas consagradas, ou de técnicas
de fabricação certificadas, como podem ter qualidade baixa, a partir de métodos não
normatizados de fabricação, ou mesmo pelo emprego de insumos inadequados.
Na construção civil, notadamente em função do seu baixo avanço tecnológico e
especialização, se comparada a outros campos do conhecimento humano, tais como
a medicina ou a informática, é comum pequenas indústrias, com pouca ou nenhuma
qualidade, serem os seus fornecedores.
Assim, um dado material, que deveria apresentar uma boa qualidade, garantindo, com
isso, a integridade da obra, poderá ser insumo de baixa qualidade, que terá reflexos
imprevisíveis no seu resultado final. Situações como essa podem ser encontradas
tanto em um simples bloco cerâmico (tijolo) quanto em um complexo sistema de
vedação de fachadas por pele de vidro ou mesmo em um sistema de automação para
controle lógico do sistema de ar-condicionado instalado em uma edificação.
25
Para que sejam atendidas essas questões, o fiscal e a contratada devem ter claro
conceito quanto à similaridade dos materiais. Esse critério de similaridade deve estar
precisamente definido no edital de contratação da obra, para que seja possível a
legitimidade na sua cobrança quando da sua execução. Tem-se dessa condição a
similaridade por semelhança e a similaridade por equivalência.
10
9
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 644/2007 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2007.
10
BRASIL. Instrução Normativa Coseg/SAG/MF n° 01, de 21 de julho de 1992. Brasília: MF, 1992.
26
Mas como saber se um insumo de marca alternativa àquelas cita-
das no edital é “similar-semelhante” ou “similar-equivalente”?
Essa resposta inicialmente deve ser dada pelo critério de similaridade definido no
edital da contratação da obra. Em um segundo momento, deverá ter a sua comparação
feita com as características dos insumos das marcas tomadas como referência e das
especificações do projeto.
Observe
Os produtos com qualidade reconhecida trazem nas suas especificações uma série
de requisitos. Esses requisitos devem, então, ser também atendidos pelo insumo
alternativo. A falta de apenas um deles definirá o insumo como “similar-semelhante”,
com a necessidade das iniciativas de ajuste do fiscal, já descritas.
27
Fique Ligado
Um dos itens que pode ser o definidor de questões controversas é a garan-
tia oferecida pelo fabricante. Uma torneira com acionamento por pressão
que apresente todos os requisitos da marca Docol®, com acionamento por
sistema Pressmatic®, apresentada como referência no edital, mas que
não ofereça a mesma garantia dada por aquele fabricante, será considera-
do um insumo “similar-semelhante”, por interferir diretamente no desem-
penho daquele material, e terá a necessária compensação financeira por
meio de termo aditivo.
4.2.3 Os critérios de medição nas obras (contrato com regime de empreitada por
preço global e contrato com regime de empreitada por preços unitários)
28
A empreitada integral é o regime de contratação em que o empreendimento é
integralmente contratado, envolvendo obras, serviços, instalações, licenças, alvarás,
treinamento e demais ações até a sua entrada em operação. Conhecido no mercado
da construção civil como turn key (ou, em tradução livre, “chave na mão”), é um
regime em que a contratada fica obrigada a entregar a obra em condições de pleno
funcionamento. Esse regime é utilizado quando o objeto contratado tem grau de
complexidade elevado ou necessite que sua entrega seja feita com equipamentos
específicos instalados e em funcionamento, tais como hospitais, laboratórios ou
fábricas.
A empreitada por preços unitários, conforme a definição dada na alínea “b” do inciso
VIII, art. 6º, da Lei nº 8.666/1993, é aquela em que a contratação da obra ou do serviço
dá-se por preço certo de unidades determinadas. Esse regime de contratação é
adotado quando não é possível definir com precisão a quantidade dos insumos ou
dos serviços, devendo estabelecer-se um padrão ou uma unidade de medida para fins
de aferição, sendo o seu recebimento feito pelo fiscal por meio de uma “contagem”.
Mesmo em uma obra, como, por exemplo, uma reforma, esse regime é possível. Tome-
se a situação de instalação de novas esquadrias (janelas) em um prédio existente para
substituição das suas esquadrias. Se for possível definir com precisão um padrão
(características) e uma unidade de medida para essas esquadrias, tal regime poderá
ser adotado, não importando quantas esquadrias serão efetivamente substituídas,
bastando que, para isso, sejam aferidas em contagem pelo fiscal para o recebimento
e o pagamento. Entretanto, a empreitada por preços unitários onera a ação do fiscal,
e, por essa razão, não é recomendada para contratações mais complexas.
29
É o caso das grandes obras. A adoção desse regi-
me tornaria a ação do fiscal extremamente one-
rosa, exigindo a sua presença (ou a da sua asses-
soria) quase que ininterrupta na obra, dedicando
boa parte do seu tempo à aferição de quantida-
des (mapeamento, controles, registros etc.). Essa
condição não traz vantagem à Administração,
fazendo com que o fiscal deixe de dedicar-se a
questões mais importantes envolvidas na execu-
ção do contrato. A empreitada por preço global
nessa situação é a mais adequada e a definição
do objeto, com boa margem de precisão para as quantidades que serão executadas,
deve ser feita previamente. Esse regime exige que o projeto tenha nível de informação
suficiente para que o objeto seja claramente definido.
11
Serviço: é a identificação de cada uma das atividades construtivas necessárias à execução da obra, representado por
linhas do orçamento sintético.
Etapa: é o grupo de serviços de características afins, representada por linhas do orçamento sintético e do cronograma
físico-financeiro.
Subetapa: é a subdivisão de uma etapa em grupos menores de serviços, com maior semelhança.
Parcela: é a fração de uma etapa ou subetapa executada no período de um mês.
Fase: é o conjunto de diversas parcelas do cronograma físico-financeiro da obra, previstas para execução em um deter-
minado mês, representada por colunas do cronograma.
30
Em relação a esses dois regimes de contratação (empreitada por
preços unitários e empreitada por preço global), deve-se ter o cuidado
de, adotando-se o segundo, não tornar a sua medição tão criteriosa a
ponto de esse assemelhar-se ao regime do primeiro. Assim, quando
for demasiado o controle das quantidades feito pelo fiscal, com a
sua contagem – e não pela aferição por parâmetros percentuais –, o
resultado é o surgimento da possibilidade de a contratada questionar
todo e qualquer quantitativo, além da desnecessária oneração da ação
de controle do fiscal, com as consequências já descritas.
31
4.3 Os aditivos de obra: o que deve ser observado?
O mesmo acórdão, no entanto, faz uma ressalva de que, “como regra geral,
mas sempre de modo justificado, admite-se aditivo em contratos regidos por
qualquer regime de execução contratual, haja vista que a Lei 8.666/1993 não
fez nenhuma distinção ou ressalva sobre o assunto” (BRASIL, 2013, p. 19).
12
12
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 1.977/2013 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2013.
32
A sequência do referido acórdão classifica os dois motivos pelos quais há a
possibilidade de celebração de aditivos em uma empreitada por preço global: as
alterações de projeto propostas pela Administração e as alterações de contrato
decorrentes de erros no projeto, orçamento ou quantitativos. Para esse último, há
casos em que tais erros são de pequena monta, enquanto há outros em que os erros
são relevantes. Dessa forma, o entendimento do TCU para o primeiro caso está
descrito abaixo:
33
Quanto às supressões e aos acréscimos, é importante destacar que não pode haver
compensação entre as duas iniciativas. Vejamos o que diz o Acórdão nº 749/2010 –
TCU – Plenário:
13
13
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 749/2010 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2010.
34
Essa regra consolida, portanto, a forma correta do cálculo do limite para aditivos,
definindo que as supressões não devem ser consideradas no cálculo do limite de
25%, no caso de uma obra.
4.3.2 O uso da curva ABC como ferramenta de análise para a concessão de aditivos
de obras de edificações
Na década de 1940 esse princípio foi desenvolvido por Joseph Moses Juran, um
economista romeno-americano, por meio da criação da curva ABC. Segundo Carvalho
(2002), a curva ABC é um método de classificação de informações, para que se
separem os itens de maior importância ou impacto, os quais são normalmente em
menor número14. O mesmo princípio pode ser aplicado às planilhas orçamentárias
de obras, nas quais, teoricamente, 20% dos serviços são responsáveis por 80% dos
custos da obra.
14
CARVALHO, J. M. C. Logística. 3. ed. Lisboa: Edições Silabo, 2002.
35
A curva ABC ganha esse nome porque divide-se nas faixas A, B e C, em que a faixa
A, com 20% dos itens de uma amostra, representa 80% do seu valor ou importância.
Abaixo a representação gráfica de uma curva ABC:
100
95
80
C
% Valor
20 50 100
% Quantidade de itens
15
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 394/2007 – TCU – Plenário. Brasília: TCU, 2007.
16
CAMPELO, V.; CAVALCANTE, R; J. Obras públicas: comentários à jurisprudência do TCU. 3. ed. Belo Horizonte: Editora
Fórum, 2014.
36
Dessa forma, a solicitação de aditivos por imprecisão de quantitativos pela contrata-
da (por erro de quantitativos na planilha orçamentária) somente será admitida para
subestimativas ou superestimavas relevantes, assim consideradas aquelas impre-
cisões que ultrapassarem a margem de tolerância de 10%17 para cada item do orça-
mento que esteja situado na faixa A da metodologia ABC. Entende-se por faixa A da
metodologia ABC a lista de serviços ordenados de forma decrescente de valor, do
maior para o menor, que, somados, representem 50% do valor total da obra, conforme
orientações do TCU (BRASIL, 2012, p. 33, item I.2.3.1, subitem 113). Assim, a con-
cessão de aditivos por imprecisão de quantitativos justifica-se apenas para aqueles
itens que estejam na faixa A da curva ABC e que tenham variação de quantitativo
acima de 10%.
17
As alterações contratuais sob alegação de falhas ou omissões em qualquer das peças, orçamentos, pranchas de dese-
nho, especificações, memoriais e estudos técnicos preliminares do projeto não poderão ultrapassar, no seu conjunto, 10%
do valor total do contrato, computando-se esse percentual para verificação do limite do art. 65, parágrafo 1º, da Lei nº
8.666/1993.
37
Observe
A curva ABC, nesse caso, elaborada quando da análise da proposição do aditivo, pode
detectar itens que venham a sofrer alteração de faixa (comparada ao resultado da
curva ABC do orçamento de referência da Administração elaborada previamente à li-
citação). Item que estivesse originalmente na faixa C, antes da proposição do aditivo,
que passou à faixa A após a sua proposição, configurará a possibilidade da ocorrên-
cia do jogo de planilha e deve ser tratado com cautela.
38
4.4 Acompanhando e recebendo a obra: a gestão de
documentos
Lembre-se de que, no Módulo 1 deste curso, no tópico 1.1.4, foi feita a conceituação
de Projeto Básico e Projeto Executivo, indicando as suas diferenças e particularidades
à luz da legislação de licitações, normas técnicas e resoluções dos conselhos
profissionais relacionados ao tema.
§§ I. Projeto Básico;
§§ II. Projeto Executivo;
§§ III. Execução das obras e serviços.
Naquele parágrafo é determinado também que a execução de cada uma das etapas
deve ser feita após a conclusão da etapa anterior, exceto a etapa de Projeto Executivo,
que pode ser executada concomitantemente com a etapa de obras ou serviços. Dessa
condição extrai-se a conclusão à qual chegou Pereira Jr. (2012):
39
Deduz-se que a Lei nº 8.666/93 não atribui ao Projeto Executivo a mesma obriga-
toriedade com que trata o Projeto Básico [para a licitação], tanto que admite,
possa ser deixada a sua elaboração a cargo da contratada, no curso da execução
do contrato. Vale dizer que a Administração está obrigada a elaborar o Projeto
Básico para instaurar a licitação ou para contratar diretamente obra ou serviço,
mas não está obrigada a elaborar o respectivo Projeto Executivo. O que não
significa que a Lei Geral a este o tenha por prescindível (PEREIRA JR., 2012, p.
168-169, grifo nosso).
O que se observa, no entanto, não é isso. Em grande parte dos processos licitatórios,
os Projetos Básicos apresentados são elementos deficientes, com informações in-
completas e com grande falta de definições técnicas, muito embora a determinação
da Lei das Licitações é de que o Projeto Básico é:
40
Essa condição decorre de uma soma de fatores: a incapacidade técnica da licitante,
o desconhecimento ou a pouca qualificação técnica dos integrantes da comissão de
licitação dentro do tema específico, o exíguo prazo do processo licitatório e, por fim,
a crença de que, no Projeto Executivo, o processo será completado, pela construtora,
quando da execução da obra ou do serviço.
É importante lembrar que o Projeto Executivo concomitante à obra não pode alterar a
intenção conceitual do Projeto Básico, o que, em última análise, poderia ferir o direito
autoral do projetista, podendo também trazer responsabilização ao gestor do contrato.
Lembra-se também de que o Projeto Executivo desenvolvido no momento da execução
da obra deve vir acompanhado de ART (sistema Confea/Crea) ou de RRT (CAU/BR).
Ainda que tal exigência esteja refletida inclusive na planilha orçamentária, com
destaque de item específico para Projetos Executivos, com valor significativo, boa
parte das contratadas prefere seguir o método errado, com a solução apressada, por
meio das definições do profissional residente, ou o que é pior, do mestre de obras, no
momento da execução.
41
Para que se evitem situações como essas, algumas ações, já enfatizadas ao longo
deste curso, podem ser tomadas:
Na execução de uma obra da construção civil, seja ela uma edificação, seja obra viária
ou obra de infraestrutura, é situação comum, quando da sua execução, a alteração
de partes do projeto ou a sua complementação. No primeiro caso, as razões mais
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comuns são situações imprevistas que requeiram a troca da solução definida pelo
projetista. Como exemplo, pode-se citar a identificação de rocha no subsolo de uma
escavação para fundações, obrigando a troca do seu tipo.
Observe
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Variable Refrigerant Flow, ou Fluxo de Refrigeração Variável: é um sistema de ar condicionado que tal qual dito no nome,
utiliza variação no fluxo do gás refrigerante no processo de climatização do ambiente condicionado. Esse sistema tem
maior eficiência e maior complexidade tecnológica se comparado com sistemas mais tradicionais.
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Há de se ter em mente, no entanto, que o Projeto Execu-
tivo concomitante à obra é instrumento para avaliação
de alternativa específica e instrumento de tomada de de-
cisão quando da necessidade de esclarecimento de dú-
vida técnica. Por essa razão, a sua elaboração deve ser
feita com razoável antecedência ao prazo previsto para a
execução do seu objeto. Assim, essa iniciativa deve ser
feita em momento tal que permita a sua confortável fi-
nalização, o encaminhamento ao fiscal e a sua análise
e avaliação antes mesmo da programação do serviço de que trata o referido projeto.
Importante
A possibilidade legal de elaboração de Projeto Executivo no
curso do contrato não deve ser utilizada como pretexto para ela-
boração aligeirada do Projeto Básico, como, infelizmente, tem
sido. Tal atitude dá azo a que, no lugar de Projetos Executivos –
idealmente, elaborados antes da execução –, sejam elaborados
projetos do tipo as built (como construído), ou seja, projetos que
visam a justificar impropriedades que, por falta de projetos pré-
vios, claros e precisos, se perpetraram na execução e se incorpo-
raram ao objeto realizado, sem planejamento, especificações e
custos adequados (PEREIRA JR., 2012, p. 168-169).
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Expressão da língua inglesa que significa “como construído”. Forma final da apresentação de uma obra da construção
civil, tal como executado, através do registro em documentos técnicos.
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O registro da execução da obra em nível de “as built”, ou projeto as built, como é
conhecido, tem a função de registrar a modificação sofrida pelo objeto construído
no momento da sua execução. Por essa razão, o registro deve ser feito tão logo a
modificação se efetive, por meio de levantamento fotográfico, croquis, esquemas
gráficos etc., sempre com o acompanhamento do executor (mestre de obras ou
instaladora) e sob a supervisão e a responsabilidade do profissional residente da
obra, engenheiro ou arquiteto.
Por essa razão, o registro em “as built” deve ser feito ao longo de todo o período
da obra, para cada uma das atividades, desde a primeira movimentação de terra,
desde que haja, logicamente, alterações em relação ao que fora previsto no projeto. O
registro em “as built”, então, nada mais é do que um processo normal de geração de
documentação durante a obra, para o qual deve ser dada a mesma atenção que tem
o controle da documentação de projeto. Instrumentos para esse controle já foram
descritos no tópico 4.1.2 deste módulo.
Adotando-se tal prática, o profissional residente consegue ter o controle total das
alterações, em tempo real, sem depender da (falível) memória do mestre de obras, da
instaladora ou mesmo da sua, e chegará ao final da obra com a fiel documentação de
registro das alterações. Essa documentação, somada ao necessário Manual de Uso e
Operação, cuja apresentação é obrigatória pelo executor, conforme determina a ABNT
NBR 14037:2014 para o caso de edificações, garante a completa e confiável fonte de
consultas futuras para o usuário quando das necessárias manutenções ao longo da
vida útil da edificação.
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Encerramento
Neste Módulo 4, o tema tratado – a obra e a sua execução – foi abordado com enfoque
na atuação do fiscal. Muito embora a construtora, como contratada, deva apresentar
uma série de garantias e comprovações de capacidade técnica no momento da
licitação que a contratou, a intensa e contínua atuação do fiscal é que garantirá a
correta execução do objeto contratado e o seu recebimento nas condições pactuadas.
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