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Patrimônio Histórico: Bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou, mas
que se constitui em um universo de diversidades e que se congregam por seu passado comum.
A partir da década de 1960, os monumentos históricos já não representam senão parte de uma
herança que não para de crescer com a inclusão de novos tipos de bem e com o alargamento
do quadro cronológico e das áreas geográficas no interior das quais esses bens se inscrevem.
Em 1837 na França, a primeira Comissão dos Monumentos Históricos cria três categorias para
monumentos históricos: remanescentes da antiguidade, edifícios religiosos da Idade Média e
alguns castelos. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), aumentou-se o número de bens
inventariados, mas ainda com um caráter do seu valor arqueológico ou da história da
arquitetura erudita (aquilo menos popular, os grandes monumentos históricos).
Posteriormente, todas as formas da arte de construir, eruditas e populares, urbanas e rurais,
todas as categorias de edifícios, públicos e privados, suntuários e utilitários foram anexadas,
sob novas denominações: arquitetura menor, termo proveniente da Itália para designar as
construções privadas não monumentais, em geral edificadas sem a cooperação de arquitetos,
arquitetura vernacular, arquitetura industrial das usinas, das estações de início reconhecida
pelos ingleses.
Na década de 60 e 70 muitos edifícios que talvez fossem ombados, foram demolidos. Assim, na
França, uma recém-constituída comissão do patrimônio do século XX estabeleceu critérios e
uma tipologia para não deixar escapar nenhum testemunho historicamente significativo. Os
próprios arquitetos interessam-se pela indicação de suas obras para tombamento.
Na Europa, como em outros lugares, o aumento de patrimônios passa a ser combatido devido
os custo de manutenção, inadequação de novos usos e paralisação de outros projetos de
organização do espaço urbano. Menciona-se também a necessidade de inovar e os conflitos da
destruição que, ao longo dos séculos, fizeram novos monumentos se sucederem aos antigos.
Destruição construtiva: Muitas igrejas góticas foram destruídas por exemplo, para
embelezamento e substituídas por edifícios barrocos. Assim como a destruição de
monumentos mais antigos: era comum dizer que atrapalhavam os projetos de modernização
das cidades e dos territórios. Na França, a tradição de destruição construtiva e de
modernização serve atualmente de justificativa a grande número de autoridades para sua
oposição aos pareceres dos arquitetos dos edifícios franceses, das Comissões dos Monumentos
Históricos e dos setores sob proteção do Estado. Em nome do progresso técnico e social e da
melhoria das condições de vida de seu entorno muitos edifícios foram substituídos.
Os proprietários, por sua vez, reivindicam o direito de dispor livremente de seus bens para
deles tirar o prazer ou o proveito que bem entendam. O argumento se choca, na França, com
uma legislação que privilegia o interesse público.
Contudo, as ameaças permanentes que pesam sobre o patrimônio não impedem um amplo
consenso em favor de sua conservação e de sua proteção, que são oficialmente defendidas em
nome dos valores científicos, estéticos, memoriais, sociais e urbanos, representados por esse
patrimônio nas sociedades industriais avançadas.
Monumento: vem do latim monumentum que deriva de monere (advertir, lembrar), aquilo que
traz à lembrança alguma coisa. Não se trata de apresentar ou dar uma informação, mas de
tocar, pela emoção, uma memória viva. NESSE SENTIDO, MONUMENTO PARA A SER TUDO O
QUE FOR EDIFICADO POR UMA COMUNIDADE DE INDVÍDUOS PARA REMEMORAR OU FAZER
QUE OUTRAS GERAÇÕES DE PESSOAS REMEMOREM ACONTECIMENTOS, SACRFÍCIOS TIOS OU
CRENÇAS. É um passado que contribui para manter e preservar a identidade de uma
comunidade étnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar. O monumento assegura, acalma,
tranquiliza, conjurando o ser do tempo. Ele constitui uma garantia das origens e dissipa a
inquietação gerada pela incerteza dos começos. Sua relação com o tempo vivido e com a
memória, ou, dito de outra forma, sua função antropológica, constitui a essência do
monumento. O resto é contingente e, portanto, diverso e variável.
A partir do final do século XVIII, “história” designa uma disciplina cujo saber, acumulado e
conservador de forma cada vez melhor, lhe empresta as aparências de memória viva, ao
mesmo tempo em que a suplanta e lhe tira as forças.
Já no século XX, Victor Hugo afirma o fim do monumento com a invenção da imprensa: agora é
possível conservar o passado através da memória das técnicas de gravação da imagem e do
som, que aprisionam e restituem o passado sob uma forma mais concreta, porque se dirigem
diretamente aos sentidos e à sensibilidade, “memórias” dos sistemas eletrônicos mais
abstratos e incorpóreos.
O sentido de monumento histórico anda a passos lentos. Sua noção não pode ser dissociada de
um contexto mental e de uma visão de mundo. Adotar as práticas de conservação de tais
monumentos sem dispor de um referencial histórico, sem atribuir um valor particular ao tempo
e à duração, sem ter colocado a arte na história, é tão desprovido de sentido quanto praticar a
cerimônia do chá ignorando o sentido japonês da natureza, o xintoísmo e a estrutura nipônica
das relações sociais.
Para A.Riegl (séc. XX), o monumento é uma criação deliberada cuja destinação foi pensada a
priori, de forma imediata, enquanto o monumento histórico não é, desde o princípio, desejado
e criado como tal; ele é constituído a posteriori pelos olhares convergentes do historiados e do
amante da arte, que o selecionam na massa dos edifícios existentes.
Um monumento pode ser substituído por outro, esquecido, copiado seu sentido. Em
contrapartida, uma vez que se insere em um lugar imutável e definitivo num conjunto um
monumento histórico exige teoriacamente uma conservação incondicional.
Para Haussmann, assim como para Gautier e para o conjunto das boas almas francesas da
época, a cidade não existe como objeto patrimonial autônomo: os velhos quarteirões são visos
como obstáculos à salubridade, ao trânsito, à contemplação dos monumentos do passado.
A maioria dos românticos franceses viu com nostalgia o desaparecimento das cidades antigas
de que celebravam o encanto e a beleza. Não se tratava de um patrimônio específico, que
pudesse ser conservado da mesma forma que um monumento histórico. A noção de
patrimônio urbano histórico, acompanhada de um projeto de conservação, nasceu na própria
época de Haussmann, mas sob a pena de Ruski.
Por que essa distância de quatrocentos anos entre a invenção do monumento histórico e da
cidade histórica? Por que esta última teve que esperar tanto tempo para ser pensada como um
objeto de conservação por inteiro, e não redutível à soma de seus monumentos?
Pode-se considerar de um lado, sua escala, sua complexidade, a longa duração de uma
mentalidade que identifica a cidade a um nome, a uma comunidade, a uma genealogia, mas
que era indiferente ao seu espaço; de outro lado, a ausência antes do início do século XIX, de
cadastros e documentos cartográficos confiáveis, a dificuldade de descobrir arquivos relativos
aos modos de produção e às transformações do espaço urbano ao longo do tempo. Além disso,
até esse século, as monografias descreviam as cidades falando de seus espaços através do
intermédio dos monumentos e símbolos. Já os estudos históricos se preocupavam com a
cidade do ponto de vista político, religioso, social e econômico sendo o espaço o grande
ausente. Sitte afirma que “Nem mesmo nossa histórica da arte, que trata dos vestígios
insignificantes, reservou um lugar, mínimo eu fosse, à construção das cidades.”
A cidade antiga considerada como um todo parece, pois, desempenhar no caso o papel de
monumentos histórico. Sem chegar a formula-la de modo explícito, Ruskin faz uma descoberta
que nossa época ainda hoje continua a redescobrir. Ao longo dos séculos e das civilizações, sem
que aqueles que as construíam ou nela viviam tivessem intenção ou consciência, a cidade
desempenhou o papel memorial de monumento: objeto paradoxalmente não elevado a esse
fim, e que, como todas as aldeias antigas e todos os estabelecimentos coletivos tradicionais do
mundo, possuía, em um grau mais ou menos restrito, o duplo e maravilhoso poder de enraizar
seus habitantes no espaço e no tempo.
No entanto para Ruskin, devemos continuar a habitar as cidades como no passado. Elas são as
garantias de nossa identidade, pessoal, local, nacional. Ele se recusa a compactuar com a
transformação do espaço urbano. Ruskin quer viver a cidade histórica no presente, encerra a
cidade no passado e perde de vista a cidade historial, a que está engajada no devir da
historicidade. As outras cidades, as metrópoles do século XIX, com suas vastas avenidas, seus
hotéis e edifícios de escritório parecem-lhe como um fenômeno que não tem lugar nas
tradições e ordem urbanas: seu lugar natural é o novo mundo sem memória, os Estados Unidos
ou a Austrália.
Camillo Sitte (1843-1903). A cidade pré-industrial aparece então como um objeto pertencente
ao passado, e a historicidade do processo de urbanização que transforma a cidade
contemporânea é assumida em toda a sua extensão e positividade. Desta forma contraria tanto
Haussmann como Ruski uma vez que a cidade antiga tornada obsoleta não deve deixar de ser
reconhecida e constituída em uma figura histórica original, requerendo uma reflexão. 1889,
em nome da doutrina do CIAM, S. Giedion e Le Corbusier fizeram Sitte a encarnação do
passadismo mais retrógrado, o inimigo declarado do urbanismo moderno. Sitte defende que a
cidade contemporânea possui uma carência de qualidade estética. Não se trata absolutamente
de uma condenação geral e moral da civilização contemporânea, como no caso de Ruskin. Ao
contrário, essa crítica faz-se acompanhar de uma tomada de consciência aguda das dimensões
técnicas, econômicas e sociais da transformação operada pela sociedade industrial e
danecessária transformação espacial que ela implica. O progresso técnico modela nosso
mundo, e atribui ao espaço urbano novas funções e que o prazer estético parece não ter mais
lugar. A construção e a extensão das cidades tornaram-se questões quase exclusivamente
técnicas.
Defende a proposta de Villet Le Duc em que se permite descobrir nos sistemas arquitetônicos
do passado (grego, romano, gótico etc) princípios imutáveis que continuam verdadeiros ao
longo dos séculos e são aplicados de maneira diversa por civilizações diferentes, assim
elaborando um novo sistema a partir das condições históricas novas. Isso é diferente de copiar.
No papel propedêutico é discutido o ponto de vista de Camillo Sitte, que expões sua ideia de
usar a cidade antiga como modelo de ensinamento, lição de arquitetura, no entanto, sustenta
que a cidade precisa evoluir e se adequar às necessidades da época.
A cidade como entidade assimilável a um objeto de arte e comparável a uma obra de museu
não deve ser confundida com a cidade-museu, contendo obras de arte.
A FIGURA HISTORIAL
Superação das duas precedentes, constitui a estrutura de toda indagação atual. Aparece na
obra teórica do italiano G. Giovannoni (1873-1943), que atribui simultaneamente um valor de
uso e um valor museal aos conjuntos urbanos antigos, integrando-os numa concepção geral da
organização do território.
A mudança de escala imposta ao meio construído pelo desenvolvimento da técnica tem por
corolário um novo modo de conservação dos conjuntos antigos, para a história, arte e vida
presente.
Esse PATRIMÔNIO URBANO, nomeado pela primeira vez por Giovannoni, adquire seu sentido e
valor não tanto com objeto mas como elemento e parte de uma doutrina original de
urbanização.
Gio avalia o papel inovador das novas técnicas de transporte e de comunicação e prevê seu
crescente aperfeiçoamento. Para ele, a cidade do presente e do futuro estarão em movimento.
Diante desses organismos cinéticos Gio percebe a fragmentação e a desintegração da cidade.
No entanto, os progressos da técnica tornam possível uma nova relação entre o movimento e a
estabilidade. Nas grandes redes, principalmente das de transportes, que estruturam o espaço
territorial, pode-se agora conectar e articular pequenas unidades espaciais, núcleos de
moradia.
Gio acredita que os conjuntos de quarteirões antigos podem também responder as funções
atuais. Com a condição de que recebam o tratamento conveniente, com atividades
compatíveis com sua morfologia, essas malhas urbanas antigas ganham dosi novos provilégios:
são portadoras de valores artísticos e históricos, bem como de valor pedagógico e verdadeiros
catalisadores no processo de invenção das novas configurações espaciais.
Uma cidade histórica constitui em si um monumento, mas ao mesmo tempo é um tevido vivo:
tal é o duplo postulado que permite a síntese das figuras reverencial e museal da conservação
urbaana e sobre o qual Gio funda uma doutrina de conservação e restauração do patrimônio
urbano. Pode-se resumi-la em três grandes princípios. Em primeiro lugar, todo fragmento
urbano antigo deve ser integrado num plano diretor local, regioal e territorial, que simboliza
sua relação com a vida presente. Nesse sentido, seu valor de uso é legitimado, ao mesmo
tempo, do ponto de vista técnico, por um trabalho de articulação com as grandes redes
primárias de ordenação, e do ponto de vista humano, pela manutenção do caráter social da
população.
Finalmente, os conjuntos urbanos requerem procedimentos análogos aos que foram definidos
por Boito. Tornam-se lícitas reconstituições desde que não sejam enganosas.
Gio reconhece e confere às malhas antigas valor atual e social que Ruskin e Morris lhes haviam
apontado, sem chegar a se instalar na historicidade.
RESENHA DO LIVRO A ALEGORIA DO PATRIMÔNIO
O livro alegoria do patrimônio, traz reflexões sobre questões teóricas relativas ao
universo da preservação patrimonial. De modo crítico e didático nos mostra como se
deu a evolução do conceito de monumento ao longo da história ocidental, como este
conceito está associado ao imaginário e à memória das populações que convivem com
determinados bens patrimoniais, além de discutir a relação entre o poder público e a
instituição de monumentos.
A Introdução, apresenta uma discursão sobre os conceitos de patrimônio e
monumento, relacionando à construção da identidade histórica e à memória local.
Apresenta o patrimônio como sendo “tudo o que for edificado por uma comunidade de
indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem
acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças”, o monumento deve ser algo ligado
diretamente a memoria, de forma a se ter uma relação com o tempo vivido. Logo o
monumento , seria o edifício criado pela beleza, que “impõem atenção sem pano de
fundo”. Em grande resumo, o monumento seria o edifício criado e determinado para
uma destinação em especifico, planejado e bem estruturado para tal finalidade, já o
monumento histórico é diferente, seu valor não se da pela funcionalidade planejada,
mas sim pelo valor que o edifício vai adquirindo, conforme seu valor para a sociedade
com aquilo que ele representa.
Estruturado em seis capítulos, o primeiro intitulado Os humanismos e o monumento
antigo, nos remete à antiguidade greco-romana e à Idade Média, desnudando as formas
pelas quais o monumento tomava parte na vida cotidiana dos povos europeus até as
portas do Renascimento. O segundo capítulo, A época dos antiquários: monumentos
reais e monumentos figurados, aborda a transmudação do monumento em alegoria,
primeiro sob a égide da Renascença e depois na opulência do Barroco, mostrando a
relação deste processo com o Humanismo, o surgimento das nações europeias como
Estados e, já no século XVIII, com a Ilustração e o Antigo Regime. O terceiro capítulo,
A Revolução Francesa, trata especificamente do modo como aquele momento histórico
tratou os monumentos, num primeiro instante, como elementos de representação do
poder absolutista e clerical, destruindo e depredando boa parte deles e, depois,
alçando-os à posição de símbolos da nacionalidade francesa, especialmente no período
napoleônico.
No capítulo seguinte, A consagração do monumento histórico (1820-1960), Choay
descreve como se deu o processo de construção do conceito de monumento histórico,
desde o Romantismo do século XIX até o Pós- Guerras de meados do século XX. No
século XIX o monumento histórico entra em uma fase de afirmação, com término
fixado por volta da década de 1960, ou 1964 que tem como marco simbólico a redação
da Carta de Veneza, que marca também a retomada de trabalhos teóricos relativos à
proteção dos monumentos históricos, depois da Segunda Guerra mundial, em um
contexto de público internacional mais amplo.
A década de 1820 marca a afirmação de uma mentalidade que rompe com a dos
antiquários e com a política da Revolução Francesa. Já na década de 1850, apesar do
descompasso de sua industrialização, a maioria dos países europeus consagrou o
monumento histórico. A virada século XIX marcada, sobretudo na Itália e na Áustria,
por um questionamento complexo, de uma lucidez rara igualada daí dos e das práticas
do monumento.
A entrada na era industrial, a forma como ela dividiu brutalmente a história das
sociedades e de seu meio ambiente, resulta entre as causas do romantismo, ao menos
na Grã-Bretanha e na França. O choque dessa ruptura extravasa amplamente o
movimento romântico. A consagração do monumento histórico aparece diretamente
ligado a Grã-Bretanha e a frança, com o advento da industrialização. Mas esse advento
ocorre de formas diferentes nesses dois países, o que resulta em diferentes valores
atribuídos por um e outro aos monumentos históricos.
Ruskin atribuiu à memória uma destinação e um valor novo do monumento histórico.
Para ele a arquitetura é o único meio que temos, para conservar vivo um laço com o
passado ao qual devemos nossa identidade , e é parte do nosso ser.
As ideias de Ruskin enriqueceram o conceito de monumento histórico fazendo que nele
entrasse, de pleno direito, a arquitetura domestica. Além disso, criticando aqueles que
se interessem exclusivamente pela "riqueza isolada dos palácios sonha também com a
continuidade da malha formada pelas residências mais humildes: ele é o primeiro, logo
seguido por Morris, a incluir os "conjuntos urbanos”, da mesma forma que os edifícios
isolados, no campo da herança histórica a ser preservada.
Ruskin e Morris são os primeiros a conceber a proteção dos monumentos históricos em
escala internacional e a mobilizar-se pessoalmente por essa causa. Na imprensa e em
campo, eles militam e lutam pelos monumentos e pelas cidades antigas da França, da
Suiça, da Itália. Ruskin chega a propor, já em 1854, a criação de uma organização
europeia de proteção, dotada das estruturas financeiras e técnicas adequadas e cria o
conceito de "bem europeu". Quanto a Morris, depois de se ter levantado contra a
destruição de um bairro popular em Nápoles, estende o combate para além das
fronteiras europeias.
Uma primeira lei foi finalmente promulgada em 1887. Uma regulamentação vem
completá-la em 1889. Em 1913, dão-lhe uma forma definitiva, que hoje constitui o texto
legislativo de referência da lei sobre os monumentos históricos é a instituição de um
órgão estatal centralizado, dotado de uma poderosa infraestrutura administrativa e
técnica, o Serviço dos Monumentos Históricos, e uma rede de procedimentos jurídicos
adaptados ao conjunto dos casos passíveis de previsão.
“Por que essa distância de quatrocentos anos entre a invenção do monumento histórico e a da
cidade histórica? [...] Numerosos fatores contribuíram para retardar de uma só vez a
objetivação e a inserção do espaço urbano numa perspectiva histórica: de um lado, sua escala,
sua complexidade, a longa duração de uma mentalidade que identificava a cidade à um nome,
a uma comunidade, a uma genealogia, a uma história de certo modo pessoal, mas que era
indiferente a seu espaço; de outro, a ausência, antes do início do século XIX, de cadastros e
documentos cartográficos confiáveis, a dificuldade de descobrir arquivos relativos ao modo de
produção e às transformações do espaço urbano ao longo do tempo. ” P. 178
O PLANO DE REFORMA DE HAUSSMANN PARA PARIS FOI UM PONTO DE PARTIDA PARA ESSA
DISCUSSÃO,POIS SE TRATA DE UMA INTERVENÇÃO QUE MODIFICA E DESCONSIDERA O TECIDO
EXISTENTE EM FUNÇÃO DE MELHORIAS ESTÁTICAS, HIGIENE E DAS NOVAS NECESSIDADES DE
CIRCULAÇÃO DAS CIDADES DA ERA INDUSTRIAL. Críticos da época rebatiam essa postura, não
pela demolição de patrimônios, mas pelo fato de ao abrir largas avenidas e destruir quarteirões
inteiros, a fim de combater a insalubridade da cidade pós-industrial, com um sentido militar de
impedir manifestações e barricadas nas antigas ruas estreitas, Haussmann, que se defendia em
relação às críticas afirmando que não houve a demolição de nenhum monumento considerável
de interesse, acaba por exterminar o contexto onde esses patrimônios históricos estavam
situados, fazendo com que perdessem suas identidades, abalando a memória da cidade como
espaço urbano.
A partir daí é notório o contraste entre cidade nova e cidade antiga, o que acaba por provocar a
curiosidade pela investigação. A cidade passa a ser considerada objeto de estudo histórico, e
assim, é fundada uma nova disciplina sendo batizada por Cerdá de Urbanismo.
E então, a autora apresenta três linhas de pensamento que abordam a forma como eram vistas
e tratadas as cidades antigas, denominando-as como “figuras”. Figura memorial, histórica e
historial.
A figura memorial aparece na Inglaterra por volta de 1860 e é atrelada a John Ruskin que se
manifesta na escrita com uma visão extremista, apontando a cidade como memória do
passado. Vincula-se ao nacionalismo prezando uma cidade anterior a Revolução Industrial,
desejando manter a condição da cidade antiga, criando um congelamento no período pré-
industrial. Ruskin não aceita a transformação da cidade que visa dar suporte à industrialização
e assim tenta alertar a população contra as intervenções que lesam a malha urbana, seu
traçado, suas construções, sua contiguidade, pois estas fazem perder a essência da cidade
histórica, que deve ser protegida incondicionalmente, seria esta uma preservação radical.
Ruskin defende que a cidade antiga é a da identidade pessoal, local nacional e humana, sendo
sua conservação a garantia da memória.
A figura histórica é subdividida por Choay em dois papéis, o propedêutico e o museal. No papel
propedêutico é discutido o ponto de vista de Camillo Sitte, que expõe sua ideia de usar a
cidade antiga como modelo de ensinamento, como uma lição de arquitetura, no entanto,
sustenta que a cidade precisa evoluir e se adequar às necessidades da época. Sitte constata a
necessidade de transformação espacial para o desenvolvimento da nova cidade industrial e das
dimensões técnicas, econômicas e sociais que essas implicam, mas, acredita que se deva
encontrar a escala apropriada para as transformações, que se tornaram extremamente técnicas
e deixaram a arte de lado. Defende a investigação histórica e se preocupa com a preservação
do que ainda resta das cidades antigas e as toma como aprendizado e inspiração para o novo,
sempre o adequando com a realidade do seu tempo.
Já no papel museal a figura da cidade é dada como objeto de raridade que deve ser
conservado, investigado e contemplado como um museu ao ar livre, longe da vida cotidiana e
do desenvolvimento que está acontecendo ao seu redor. É como isolar a cidade que está em
ameaça de desaparecimento para servir de estudo histórico sem que existam transformações e
evolução. Choay ressalta que a palavra museal não deve ser confundida com uma cidade que
abriga obras de arte e sim a própria cidade como obra de arte. Para Sitte, as cidades museais
tornam-se unidades com características singulares que independem de seus componentes e
monumentos históricos. Elas se mantêm congeladas na sua própria história, tornando-se
históricas e perdendo sua historicidade. “A cidade antiga, como figura museal, ameaçada de
desaparecimento, é concebida como um objeto raro, frágil, precioso para a arte e para a
história e que, como as obras conservadas nos museus, deve ser colocada fora do circuito da
vida. Tornando-se histórica, ela perde sua historicidade. ” (CHOAY, pág. 191)
A figura historial, segundo Choay, trata-se das duas concepções anteriores resumidas e
superadas. Essa figura é representada no início do século XX, na obra de Gustavo Giovannonni,
discípulo de Camillo Boito. Com uma visão mais profunda do urbanismo e do planejamento
urbano, busca conciliar o valor de uso e museal dos antigos conjuntos urbanos, integrando-os a
uma concepção geral da organização do território. É o primeiro a usar o termo “patrimônio
urbano”, adquirindo mais do que um sentido de um objeto autônomo de uma disciplina, mas
sim um elemento integrante dos princípios da urbanização. Acredita na conciliação entre
historicidade e a malha histórica da cidade, permitindo que esta se desenvolva e se transforme,
mas não perca seu valor histórico, considerando seu tecido existente.
Choay compara estes princípios com os de Le Corbusier que pregava uma visão mais
esquemática, adotando um modelo de cidade que ignora o traçado existente, partindo da
tábula rasa. Já a posição de Giovannonni não se opõe à intervenção, desde que se mantenha o
espírito do lugar, sua escala e sua morfologia. A cidade permanece em sua constante
transformação, mas não exclui sua história e mantém a identidade de sua população.