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0008
Resumo: A relevância dos processos avaliativos para a concretização dos fins educacionais e da escola
e o reconhecimento da interdependência dos múltiplos objetos de análise da avaliação educacional e dos
seus níveis de estrutura – micro, meso, macro e megassociológicos – para a efetivação de um processo
avaliativo na escola são os propósitos da investigação apresentada neste texto. A pesquisa de cunho
qualitativo, exploratória/bibliográfica, teve como procedimento a análise documental de livros e publi-
cações relacionados à avaliação educacional e à avaliação de instituições escolares, numa perspectiva
sociológica, com ênfase na autoavaliação da escola. O artigo está estruturado em três partes: avaliação
educacional na contemporaneidade, avaliação institucional da escola, e autoavaliação da escola e de-
senvolvimento institucional. Nelas são discutidos alguns aportes e subsídios teóricos sobre a avaliação
institucional e as possibilidades de operacionalizá-la na escola.
Abstract: The relevance of assessment processes to meet educational goals and school aims as well
as the acknowledgment of the interdependence of the multiple objects of analysis of educational
assessment and of their micro, meso, macro and mega sociological structure levels to the implementation
of the assessment process in schools are the purposes of the investigation discussed in this article. The
qualitative exploratory/document research included a document analysis of books and publications
related to educational assessment and school institutional assessment from a sociological perspective
paying special attention to school self-assessment. The article is divided in three parts: contemporary
educational assessment, school institutional assessment and, school self-assessment and institutional
development. Some of the theoretical frameworks about institutional assessment and the possibilities of
its implementation in schools are discussed.
Introdução
*
Doutora em Educação: Currículo pela PUC/SP e professora do Programa de Pós-graduação em Educação da
UEPG. Email: marybrandalise@uol.com.br
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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas
realizada no interior das escolas, não está in- de processos e relações que se produzem em
serida nas várias ações nelas desenvolvidas, seu cotidiano pelos sujeitos nela inseridos:
como uma análise sistemática da instituição educadores e educandos, essencialmente.
com vistas a identificar suas fragilidades e A avaliação institucional numa pers-
potencialidades e a possibilitar a elaboração pectiva crítica é aquela que consegue cap-
de planos de intervenção e melhorias. Estu- tar o movimento institucional presente nas
dos e pesquisas revelam a carência de for- relações da instituição. Toda instituição é
mação dos profissionais da escola para de- constituída por dois princípios em perma-
senvolvê-la, devido ao desconhecimento de nente tensão: o instituído e o instituinte.
fundamentos teórico-metodológicos sobre a Castoriades (1975) explica que o instituído é
avaliação institucional. o conjunto de forças sedimentadas, consoli-
Com o propósito de contribuir para dadas, que buscam a conservação e reprodu-
a formação dos profissionais da escolas e ção do quadro institucional vigente. O insti-
também para a operacionalização do proces- tuído é a forma. Já o conjunto de forças em
so de autoavaliação, discute-se aqui alguns constante estado de tensão, de mudança, de
fundamentos teórico-metodológicos sobre a transformação, de recriação é o instituinte. O
avaliação institucional da escola, suas rela- instituinte é o campo de forças.
ções com diferentes contextos e as possibi- A avaliação institucional é formalmen-
lidades de operacionalização de processo de te a avaliação desse instituído e instituinte.
auto-avaliação da escola. Ela tem que identificar aspectos concretos,
formais e informais, explícitos ou não, inter-
nos e externos, que viabilizam a realização
Avaliação da escola: conceitos, contextos dos objetivos e fins educacionais propostos
e relações num projeto institucional. Há, portanto, que
se considerar toda a dinâmica institucional
A avaliação das instituições escolares para captar o espírito da instituição avaliada.
e a de outros objetos educacionais avaliados Nesta perspectiva, a avaliação institucional
podem (ou não) assentar-se nos mesmos fun- tem um caráter formativo, está voltada para
damentos teóricos. Assim, quando se fala na a compreensão e promoção da autoconsciên-
concepção de avaliação adotada num pro- cia da instituição escolar.
cesso avaliativo, ele pode ser atribuído tanto Nos debates contemporâneos sobre a
à avaliação da aprendizagem, de currículo, educação há uma exigência cada vez maior
de docentes, de políticas públicas, de pro- com o desempenho da escola, porque ela é
gramas, de projetos quanto à avaliação das considerada uma instituição social impres-
instituições escolares específicas, como as cindível à sociedade atual, à formação hu-
escolas básicas, os institutos de ensino supe- mana, ainda que essa exigência se exprima
rior, as universidades, entre outras. de modos variados e contraditórios.
Toda instituição, sobretudo a educa- Após um período de oscilação das
cional, apresenta características orgânicas questões avaliativas entre o nível macro do
que justificam essa correspondência e, con- sistema educacional e o nível micro da sala
sequentemente, o similar fundamento para de aula, é justamente para o contexto da ins-
os processos de avaliação. Uma instituição tituição escolar – nível meso – que as pro-
escolar é compreendida como um conjunto postas de inovações educacionais, segundo
Nóvoa (1995), têm se voltado, acreditando- avaliação externa deverá completar-se com
se que é no espaço escolar que elas podem o processo de autoavaliação institucional, e
implantar-se e desenvolver-se. vice-versa. É a coavaliação, como propõe
No entanto, uma das abordagens da Santos Guerra (2003), isto é, a combinação
avaliação institucional das escolas que se do processo de avaliação externa, mais vol-
apresenta compreende aquela que tem como tado aos resultados do processo educativo, e
eixo direcionador a ação ordenada de normas avaliação interna, centrada na melhoria dos
e prerrogativas da União, isto é, o Estado se processos internos do trabalho escolar.
transforma num avaliador externo, conforme Cabe aqui chamar atenção para os
já apontado anteriormente. Denominado de problemas que podem surgir na escola con-
Estado Avaliador, ele tem o papel de contro- forme a natureza que lhe dá origem, associa-
lar, monitorar, credenciar e oferecer indica- da com o tipo de avaliação escolhida:
dores de desempenho para as escolas e os 1ª) avaliação externa de iniciativa
sistemas de ensino dos países. Normalmente externa (organismos oficiais);
decidida por razões de ordem macroestrutu-
ral que se prendem às necessidades de con- 2ª) avaliação externa de iniciativa
trole organizacional no nível dos sistemas de interna (da própria escola);
ensino, essa modalidade é chamada de ava- 3ª) avaliação interna de iniciativa
liação institucional externa. interna.
A avaliação externa é, portanto, aque- Na primeira, avaliação externa de
la em que o processo avaliativo é realizado iniciativa externa, geralmente há uma in-
por agentes externos à escola (pertencentes terpretação dos avaliados de que está se de-
a agências públicas ou privadas), ainda que sencadeando um processo de fiscalização e
com a colaboração indispensável dos mem- controle do trabalho escolar, com objetivo de
bros da escola avaliada, da comunidade edu- estabelecer medidas comparativas, rankings,
cativa. ou ainda, com uma característica de punição
Outra abordagem é aquela denomi- ou premiação, para piores e melhores desem-
nada de autoavaliação institucional ou ava- penhos. O que pode acontecer num processo
liação interna da escola. Diferentemente da de avaliação externa da escola é a geração
avaliação externa, ela é uma modalidade de de mecanismos internos de defesa, buscando
avaliação que ainda carece de maior apro- dar aos avaliadores uma imagem distorcida
fundamento teórico e metodológico, particu- da realidade escolar.
larmente no contexto brasileiro. Na avaliação externa de iniciativa in-
A avaliação institucional da escola é terna, a escola pode escolher um avaliador
produto da integração e entrelaçamento dos para atender seus interesses, que esteja de
processos de avaliação externa e interna. É acordo com a filosofia adotada pela escola,
evidente que a avaliação das escolas é uma e as informações podem ser ocultadas se os
tarefa complexa, tendencialmente confli- resultados forem contrários aos anseios e in-
tuosa, pois as instituições escolares são or- tenções da comunidade escolar.
ganizações, e o poder é inerente a todas as Quanto à avaliação interna, proposta
organizações. Ao “mexer” nesse poder, num pela própria instituição escolar, é preciso es-
processo de avaliação da escola, interfere-se tar atento a diversos problemas que podem
nos interesses, posturas, motivações e obje- surgir: a hostilidade e resistência em relação
tivos da comunidade escolar. O processo de
pontos fortes e fracos e a possibilitar a ela- • é o processo pelo qual a escola é capaz
boração de planos de intervenção e melho- de olhar criticamente para si mesma
rias. Frequentemente é realizada tendo como com a finalidade de melhorar o seu de-
motivação principal o acompanhamento do sempenho, através da identificação de
projeto pedagógico da escola, no quadro de áreas mais problemáticas e da procura
uma dinâmica de desenvolvimento organiza- de soluções mais adequadas, para o
cional e institucional. A avaliação inserida desenvolvimento do trabalho escolar;
nas várias ações desenvolvidas na escola se • é uma investigação permanente do
coloca como mediadora do crescimento da sentido da organização e das ações
comunidade escolar, portanto: da escola conduzida pelos próprios
profissionais do estabelecimento de
O projeto pedagógico e a avaliação insti-
ensino;
tucional estão intimamente relacionados.
A não existência de um desses processos • é o processo de melhoria da escola,
ou a separação deles trará danos para a conduzido através quer da construção
própria escola, Sem um projeto pedagógi- de referenciais, quer da procura de fa-
co que delimite a intencionalidade da ação tos comprobatórios, evidências, para
educativa e ofereça horizontes para que a formulação de juízo de valor;
escola possa projetar seu futuro, faltará
sempre à referência de todo o trabalho e
• é um exercício coletivo, assentado no
suas concepções básicas. (FERNANDES, diálogo e no confronto de perspecti-
2002, p.58). vas sobre o sentido da escola e da or-
ganização;
Porque a avaliação institucional inter- • é um processo de desenvolvimento
na das escolas não é tão facilmente opera- profissional;
cionalizável como se acredita ou propõe ser, • é um ato de responsabilidade social;
não é fácil construir formas de autoavaliação
• é uma avaliação orientada para a utili-
que consigam lidar com os efeitos e tensões
zação;
que são decorrentes da pluralidade de senti-
dos, poderes, dilemas e perspectivas que se • é um processo conduzido internamen-
estabelecem/interagem num contexto esco- te, mas que pode e deve contar com a
lar. assessoria de agentes externos.
A avaliação institucional interna ou
autoavaliação constitui-se num processo de
busca da realidade escolar, com suas tendên- Abordagens teórico-metodológicas da
cias, seus saberes, seus conflitos e dilemas. autoavaliação da escola
Deve dar suporte às decisões e mu- Abordagem racionalista ou naturalista?
danças na prática educativa. É dinâmica, por
isso tem que ganhar lugar como processo que Para a realização de qualquer proces-
perpassa a ação escolar e o desenvolvimento so de avaliação de escolas é fundamental a
curricular, explicitando assim os propósitos escolha e aceitação de uma concepção de
da escola e suas relações com a sociedade. análise. Tradicionalmente duas abordagens
A avaliação institucional centrada na epistemológicas de avaliação se destacaram:
escola tem as seguintes características: a concepção racionalista de origem positivis-
ta, também denominada de quantitativa, e a
seja, com o seu público-alvo. É a fase de im- ser sujeitos a uma análise de conteúdo. Antes
plantação do projeto, de provação, confronto de se dar início ao tratamento das informa-
com a realidade, de constatação de imperfei- ções, procedeu-se a uma verificação dos da-
ções, de ajustes que garantam a sua validade. dos brutos para prepará-los para a primeira
Se este fosse o processo de uma rela- análise, o que comumente se designa “lim-
ção amorosa, dir-se-ia que passadas a fase do peza” dos dados.
romance, em que domina o encantamento e Em seguida realizou-se a análise pro-
o entusiasmo - A avaliação é a melhor for- priamente dita, integrando e sintetizando os
ma de conhecer a escola e tem tudo para ser resultados. O trabalho de análise de dados
útil; nunca foi feito nada assim na escola - e consiste em reduzi-los ou condensá-los em
a fase da crise, em que se descobre que nem tabelas, gráficos, sumários estruturados em
tudo é perfeito e fácil - Para avaliar é neces- função de categorias de análise, sinopses,
sário dominar as técnicas, escolher bem os registros de pequenos episódios, diagra-
instrumentos, ultrapassar dificuldades e gerir mas que mostram a relação entre eles. São
conflitos. (ALAIZ, GÓIS, GONÇALVES, apresentações das informações coletadas
2003, p. 97) nos instrumentos de modo sintetizado, que
Os autores complementam que é o permitem uma primeira análise para a qual
momento de perceber se há motivação e é importante ter presentes os objetivos e as
disposição dos participantes para contribuir questões de avaliação inicialmente propos-
com as suas percepções sobre os aspectos tas. Dela emergem as primeiras tendências,
solicitados na avaliação da escola. A coleta as primeiras imagens da escola, ainda não
de dados precisa ser feita de uma forma não articuladas numa imagem global: são os re-
incomodativa, com discrição, com profissio- sultados preliminares. Eles geralmente sus-
nalismo, pois a escola não para porque nela citam mais perguntas, ora porque se encon-
está em desenvolvimento um processo de tram discrepâncias, ora porque existe uma
autoavaliação. Portanto, discussões em gru- combinação de informações não prevista ou
po, entrevistas, aplicação de questionários, pensada, que implica um novo olhar aos da-
observações, devem ser realizados nos mo- dos originais.
mentos que representem a menor alteração Concluída essa etapa, os resultados
do cotidiano dos seus respondentes, pois nin- devem ser organizados de acordo com as di-
guém deve deixar de realizar o seu trabalho mensões, categorias e indicadores propostos
habitual por causa da avaliação da escola. no projeto de autoavaliação. Assim, serão re-
veladas as imagens da escola.
A obtenção deste retrato é um mo-
Tratamento, análise e interpretação dos mento de celebração no desenvolvimento do
dados processo avaliativo. Por um lado, porque se
chegou a esse retrato da escola, por outro,
porque estes resultados são a matéria-prima
Dependendo da natureza da informa-
para o momento mais difícil do processo, o
ção coletada e das questões de avaliação, é da interpretação e consequente elaboração
possível optar-se por um processo de análise de conclusões e reco-mendações; o momen-
específico. Os dados de natureza quantitativa to de extrair da autoavaliação a sua utili-
deverão ser objeto de análise estatística, e os dade, mas também o momento de todos os
de natureza qualitativa poderão ser apresen- conflitos. (ALAIZ, GÓIS, GONÇALVES,
tados em descrições, mas também poderão 2003, p. 102).
• está centrado nos objetivos da escola, ticamente sobre si mesma, ou seja, sobre a
especial mente nos processos de ensi- concretização dos seus objetivos principais
no e de aprendizagem; e dos fins educacionais relacionados com o
• possibilita uma abordagem integrada ensino e a aprendizagem. E, enquanto docu-
de todas as dimensões da escola: o mento contextualizado deixa que a institui-
currículo, aprendizagem; a avaliação, ção escolar interprete as dinâmicas internas
o ensino, a gestão e organização, o e o integre na sua vida e cultura.
contexto interno, o contexto externo,
os resultados das aprendizagens e da
avaliação externa da escola; Considerações finais
• proporciona uma visão de futuro, de
longo prazo, da escola na qual os ob- As reflexões teóricas apresentadas
jetivos específicos de curto prazo se neste artigo tiveram como questão central
enquadram, representando as priori- a avaliação da escola e o desenvolvimento
dades do plano de desenvolvimento institucional, ou seja, a relação entre ava-
institucional. liação na/da escola e a qualidade educativa.
• auxilia na superação da ansiedade dos Objetivou-se elaborar teoricamente questões
professores que assim podem contro- sobre a avaliação institucional da escola bá-
lar melhor a mudança em vez de se- sica, com ênfase na autoavaliação da escola.
rem por ela controlados. Refletiu-se sobre avaliação educacio-
• permite maior valorização e reconhe- nal na contemporaneidade, situando o deba-
cimento do trabalho docente e do de- te científico sobre seus objetos de análise e
sempenho dos professores na promo- posturas teórico-metodológicas.
ção da mudança. Acredita-se que o estudo é funda-
• melhora a qualidade da instituição mental para que, por um lado, se perceba a
e dos que nela trabalham, porque as importância da avaliação educacional para
reflexões, discussões e decisões co- a concretização dos fins educacionais e da
letivas por um lado, ajudam a esco- escola; e, por outro, se sensibilize para o re-
la a trabalhar mais eficazmente e, conhecimento da interdependência dos múl-
por outro, ajudam os professores a tiplos objetos de análise da avaliação educa-
adquirirem saberes e competências cional e dos seus níveis de estrutura – micro,
como parte do seu desenvolvimento meso, macro e megassociológicos –, para a
profissional. efetivação de um processo avaliativo na es-
• fortalece as relações interpessoais na cola.
escola, em especial as da equipe ges- A importância da compreensão dos
tora com os professores. profissionais da escola de que um proces-
• melhora substancialmente a qualidade so de avaliação desenvolvido numa postura
do processo educativo e da gestão es- crítica é essencial para captar o movimento
colar. institucional da escola e contribuir para o seu
desenvolvimento institucional ficou eviden-
Concluindo, o plano de desenvolvi- ciada nos diálogos com os autores escolhidos
mento institucional é um documento estra- e com as reflexões teóricas desencadeadas.
tégico da escola, pois lhe permite olhar cri-