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Doi: 10.5212/OlharProfr.v.13i2.

0008

Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

School institutional assessment: concepts, contexts and practice


Mary Ângela Teixeira Brandalise*

Resumo: A relevância dos processos avaliativos para a concretização dos fins educacionais e da escola
e o reconhecimento da interdependência dos múltiplos objetos de análise da avaliação educacional e dos
seus níveis de estrutura – micro, meso, macro e megassociológicos – para a efetivação de um processo
avaliativo na escola são os propósitos da investigação apresentada neste texto. A pesquisa de cunho
qualitativo, exploratória/bibliográfica, teve como procedimento a análise documental de livros e publi-
cações relacionados à avaliação educacional e à avaliação de instituições escolares, numa perspectiva
sociológica, com ênfase na autoavaliação da escola. O artigo está estruturado em três partes: avaliação
educacional na contemporaneidade, avaliação institucional da escola, e autoavaliação da escola e de-
senvolvimento institucional. Nelas são discutidos alguns aportes e subsídios teóricos sobre a avaliação
institucional e as possibilidades de operacionalizá-la na escola.

Palavras-chave: Avaliação institucional. Autoavaliação de escolas. Desenvolvimento institucional.

Abstract: The relevance of assessment processes to meet educational goals and school aims as well
as the acknowledgment of the interdependence of the multiple objects of analysis of educational
assessment and of their micro, meso, macro and mega sociological structure levels to the implementation
of the assessment process in schools are the purposes of the investigation discussed in this article. The
qualitative exploratory/document research included a document analysis of books and publications
related to educational assessment and school institutional assessment from a sociological perspective
paying special attention to school self-assessment. The article is divided in three parts: contemporary
educational assessment, school institutional assessment and, school self-assessment and institutional
development. Some of the theoretical frameworks about institutional assessment and the possibilities of
its implementation in schools are discussed.

Keywords: Institutional assessment. School Self-assessment. Institutional development.

Introdução

As razões de ordem socioeconômica, contribuam, por um lado, para a compreensão


político-administrativa, científico-pedagó- da avaliação educacional e da avaliação da
gica e legal que justificam a necessidade de escola para captar o movimento institucional;
a escola se autoavaliar são abordadas neste e, por outro lado, para propiciar um refina-
ensaio teórico a fim de explicitar a impor- mento metodológico no campo da avaliação
tância da avaliação institucional das escolas de escolas, compreendendo que a avaliação,
e também trazer elementos conceituais que se entendida como uma análise crítica da

*
Doutora em Educação: Currículo pela PUC/SP e professora do Programa de Pós-graduação em Educação da
UEPG. Email: marybrandalise@uol.com.br

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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

realidade, é fonte valiosa de informação, pro- valorativa da ação educacional. Casali


blematização e ressignificação dos processos (2007, p.10) define avaliação, “de modo ge-
educativos, tendo, consequentemente, função ral, como saber situar cotidianamente, numa
estratégica no desenvolvimento institucional certa ordem hierárquica, o valor de algo en-
da escola e na gestão educacional. quanto meio (mediação) para a realização da
Com o ensaio teórico aqui apresenta- vida do(s) sujeitos(s) em questão, no contex-
do pretende-se não apenas socializar parte da to dos valores culturais e, no limite, dos va-
produção da pesquisa já realizada, mas tam- lores universais.”
bém apresentar aos leitores e pesquisadores, Para o autor avaliar é reconhecer ou
em educação e avaliação, alguns contributos atribuir um valor. Em se tratando de valor
teórico-metodológicos de referência para a em educação, ele defende que há que se ado-
realização de estudos, pesquisas e projetos tar uma postura radicalmente ética e episte-
relativos à avaliação de escolas e ao desen- mológica. Os valores são histórica e cultu-
volvimento institucional por meio de uma ralmente construídos, consequentemente a
exposição lógica e reflexiva, e uma argu- avaliação é histórica e cultural. Já que o va-
mentação rigorosa oriunda de pesquisas so- lor só existe como referência mediadora de
bre avaliação de escolas e práticas em gestão uma ação concreta, a decorrência disso é que
e avaliação educacional a avaliação educativa não é um fim de pro-
O artigo está estruturado em três par- cesso, mas o seu meio. Existem três âmbitos
tes. Na primeira parte, busca-se na pesquisa de alcance dos valores, logo, das avaliações:
e na produção teórica sobre avaliação edu- “Há valores para um sujeito, há valores para
cacional novas concepções e compreensões uma cultura, há valores para a humanidade.
sobre os processos avaliativos na contem- O singular, o parcial, o universal. A avalia-
poraneidade. Na segunda, discute-se alguns ção é uma medida e uma referência de va-
aportes e subsídios teóricos sobre a avaliação lor para um, ou dois, ou os três âmbitos.”
institucional da escola, trazendo-se à reflexão (CASALI, 2007, p. 13).
os conceitos de avaliação, seus fundamentos O autor explica que a avaliação
epistemológicos, suas relações com diferen- refere-se à determinação do mérito ou valor
tes contextos e as possibilidades de opera- de um dado processo ou do que dele resul-
cionalização do processo de autoavaliação tou, seja no âmbito do sujeito, da cultura, ou
da escola, considerando-se desde a fase do de toda humanidade.
planejamento até a fase de comunicação dos
A complexidade inerente aos proces-
resultados obtidos. Na terceira, trata-se da
sos avaliativos torna evidente a exigência
utilização dos resultados na elaboração do
com os resultados do desempenho dos alu-
plano de ação da escola, ou seja, da utilidade
nos e com o desempenho das escolas, mostra
da autoavaliação institucional.
que atualmente a avaliação educacional tem
uma perspectiva muito mais ampliada, não
se atendo apenas aos resultados do rendi-
Avaliaçao educacional na mento escolar, mas a todos os elementos que
contemporaneidade permeiam o processo ensino-aprendizagem,
ou seja, a toda a realidade educativa.
A palavra avaliação contém a palavra Figari (1996) afirma que, nessa acep-
“valor” acrescida da palavra “ação”; por- ção mais alargada de avaliação educacional,
tanto, não se pode fugir dessa concepção há a noção de estrutura que define realidades

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diferentes: as macroestruturas (os sistemas e tem como objetivo verificar a qualidade


educacionais), as mesoestruturas (as esco- do ensino e da educação no país. No Brasil
las) e as microestruturas (as salas de aulas). há o INEP – Instituto Nacional de Estudos
No espaço da macro e da mesoestrutura, a e Pesquisas Educacionais, que coordena os
avaliação geralmente é o processo de ob- processos de avaliação externa às escolas.
servação e interpretação dos resultados da São exemplos desse tipo de avaliação a Pro-
aprendizagem que objetiva orientar as deci- va Brasil, o SAEB – Sistema de Avaliação da
sões necessárias ao bom funcionamento da Educação Básica, o ENEM – Exame Nacio-
escola, dos sistemas educacionais e subsidiar nal do Ensino Médio.
a formulação de políticas públicas. O nível megassociológico da avalia-
Na mesma linha de raciocínio, Al- ção é aquele desenvolvido por organismos
merindo Afonso (2003) analisa a avaliação internacionais que buscam fixar padrões de
educacional numa perspectiva sociológica, desempenho, de referência para a criação de
nos seguintes níveis: micro, meso, macro e metas e diretrizes para os sistemas educacio-
mega. A perspectiva de avaliação defendida nais de diferentes países, em nível global.
pelo autor entende que a “escola é confron- Tem-se como exemplo o PISA – Programa
tada com dimensões éticas, simbólicas, po- Internacional de Avaliação de Alunos, coor-
líticas, sociais e pedagógicas que devem ser denado pela Organização de Cooperação e
consideradas como um todo por quem tem Desenvolvimento Econômico - OCDE.
especiais responsabilidades na administra- A criação desses níveis mais globais
ção da educação quer em nível do Estado, (mega e macro) deve-se ao fato de a avalia-
quer em nível municipal e local, quer em ní- ção ter adquirido grande centralidade nas
vel da própria unidade escolar”. (AFONSO, políticas públicas pelos organismos gover-
2003, p. 49). namentais, particularmente nas políticas
O nível microssociológico da avalia- educacionais, com o propósito de os Estados
ção ocorre no âmbito da sala de aula, é a ava- ampliarem as ações de controle e fiscaliza-
liação da aprendizagem, de responsabilidade ção sobre as escolas e os sistemas educacio-
do docente. Ela deve ter caráter fortemente nais, fenômeno apontado pelos estudiosos
formativo, ser contínua e baseada na reflexão em avaliação como a presença do “Estado
do processo ensino-aprendizagem. Avaliador” na educação.
O nível mesossociológico da avalia-
ção é aquele que envolve a análise de uma
instituição escolar na sua totalidade, ou seja, Avaliação institucional da escola
engloba todos os componentes do processo
educacional: gestão e organização da esco- A avaliação institucional da escola bá-
la, processo ensino-aprendizagem, currículo, sica ainda não se constitui uma prática con-
qualificação docente, infraestrutura escolar, solidada no contexto da educação brasileira.
resultados educacionais, perfil socioeconô- A avaliação externa promovida pelos orga-
mico dos alunos, ação da escola com a so- nismos oficiais como o SAEB, e com as re-
ciedade, participação dos pais, entre outros centes propostas da Prova Brasil e do IDEB,
aspectos da escola. é uma avaliação do sistema educacional, em
O nível macrossociológico da ava- larga escala, que analisa a proficiência dos
liação é aquele desenvolvido em âmbito estudantes ao final de um ciclo da escolarida-
nacional, por organismos externos à escola, de. No entanto, a avaliação interna é pouco

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realizada no interior das escolas, não está in- de processos e relações que se produzem em
serida nas várias ações nelas desenvolvidas, seu cotidiano pelos sujeitos nela inseridos:
como uma análise sistemática da instituição educadores e educandos, essencialmente.
com vistas a identificar suas fragilidades e A avaliação institucional numa pers-
potencialidades e a possibilitar a elaboração pectiva crítica é aquela que consegue cap-
de planos de intervenção e melhorias. Estu- tar o movimento institucional presente nas
dos e pesquisas revelam a carência de for- relações da instituição. Toda instituição é
mação dos profissionais da escola para de- constituída por dois princípios em perma-
senvolvê-la, devido ao desconhecimento de nente tensão: o instituído e o instituinte.
fundamentos teórico-metodológicos sobre a Castoriades (1975) explica que o instituído é
avaliação institucional. o conjunto de forças sedimentadas, consoli-
Com o propósito de contribuir para dadas, que buscam a conservação e reprodu-
a formação dos profissionais da escolas e ção do quadro institucional vigente. O insti-
também para a operacionalização do proces- tuído é a forma. Já o conjunto de forças em
so de autoavaliação, discute-se aqui alguns constante estado de tensão, de mudança, de
fundamentos teórico-metodológicos sobre a transformação, de recriação é o instituinte. O
avaliação institucional da escola, suas rela- instituinte é o campo de forças.
ções com diferentes contextos e as possibi- A avaliação institucional é formalmen-
lidades de operacionalização de processo de te a avaliação desse instituído e instituinte.
auto-avaliação da escola. Ela tem que identificar aspectos concretos,
formais e informais, explícitos ou não, inter-
nos e externos, que viabilizam a realização
Avaliação da escola: conceitos, contextos dos objetivos e fins educacionais propostos
e relações num projeto institucional. Há, portanto, que
se considerar toda a dinâmica institucional
A avaliação das instituições escolares para captar o espírito da instituição avaliada.
e a de outros objetos educacionais avaliados Nesta perspectiva, a avaliação institucional
podem (ou não) assentar-se nos mesmos fun- tem um caráter formativo, está voltada para
damentos teóricos. Assim, quando se fala na a compreensão e promoção da autoconsciên-
concepção de avaliação adotada num pro- cia da instituição escolar.
cesso avaliativo, ele pode ser atribuído tanto Nos debates contemporâneos sobre a
à avaliação da aprendizagem, de currículo, educação há uma exigência cada vez maior
de docentes, de políticas públicas, de pro- com o desempenho da escola, porque ela é
gramas, de projetos quanto à avaliação das considerada uma instituição social impres-
instituições escolares específicas, como as cindível à sociedade atual, à formação hu-
escolas básicas, os institutos de ensino supe- mana, ainda que essa exigência se exprima
rior, as universidades, entre outras. de modos variados e contraditórios.
Toda instituição, sobretudo a educa- Após um período de oscilação das
cional, apresenta características orgânicas questões avaliativas entre o nível macro do
que justificam essa correspondência e, con- sistema educacional e o nível micro da sala
sequentemente, o similar fundamento para de aula, é justamente para o contexto da ins-
os processos de avaliação. Uma instituição tituição escolar – nível meso – que as pro-
escolar é compreendida como um conjunto postas de inovações educacionais, segundo

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Nóvoa (1995), têm se voltado, acreditando- avaliação externa deverá completar-se com
se que é no espaço escolar que elas podem o processo de autoavaliação institucional, e
implantar-se e desenvolver-se. vice-versa. É a coavaliação, como propõe
No entanto, uma das abordagens da Santos Guerra (2003), isto é, a combinação
avaliação institucional das escolas que se do processo de avaliação externa, mais vol-
apresenta compreende aquela que tem como tado aos resultados do processo educativo, e
eixo direcionador a ação ordenada de normas avaliação interna, centrada na melhoria dos
e prerrogativas da União, isto é, o Estado se processos internos do trabalho escolar.
transforma num avaliador externo, conforme Cabe aqui chamar atenção para os
já apontado anteriormente. Denominado de problemas que podem surgir na escola con-
Estado Avaliador, ele tem o papel de contro- forme a natureza que lhe dá origem, associa-
lar, monitorar, credenciar e oferecer indica- da com o tipo de avaliação escolhida:
dores de desempenho para as escolas e os 1ª) avaliação externa de iniciativa
sistemas de ensino dos países. Normalmente externa (organismos oficiais);
decidida por razões de ordem macroestrutu-
ral que se prendem às necessidades de con- 2ª) avaliação externa de iniciativa
trole organizacional no nível dos sistemas de interna (da própria escola);
ensino, essa modalidade é chamada de ava- 3ª) avaliação interna de iniciativa
liação institucional externa. interna.
A avaliação externa é, portanto, aque- Na primeira, avaliação externa de
la em que o processo avaliativo é realizado iniciativa externa, geralmente há uma in-
por agentes externos à escola (pertencentes terpretação dos avaliados de que está se de-
a agências públicas ou privadas), ainda que sencadeando um processo de fiscalização e
com a colaboração indispensável dos mem- controle do trabalho escolar, com objetivo de
bros da escola avaliada, da comunidade edu- estabelecer medidas comparativas, rankings,
cativa. ou ainda, com uma característica de punição
Outra abordagem é aquela denomi- ou premiação, para piores e melhores desem-
nada de autoavaliação institucional ou ava- penhos. O que pode acontecer num processo
liação interna da escola. Diferentemente da de avaliação externa da escola é a geração
avaliação externa, ela é uma modalidade de de mecanismos internos de defesa, buscando
avaliação que ainda carece de maior apro- dar aos avaliadores uma imagem distorcida
fundamento teórico e metodológico, particu- da realidade escolar.
larmente no contexto brasileiro. Na avaliação externa de iniciativa in-
A avaliação institucional da escola é terna, a escola pode escolher um avaliador
produto da integração e entrelaçamento dos para atender seus interesses, que esteja de
processos de avaliação externa e interna. É acordo com a filosofia adotada pela escola,
evidente que a avaliação das escolas é uma e as informações podem ser ocultadas se os
tarefa complexa, tendencialmente confli- resultados forem contrários aos anseios e in-
tuosa, pois as instituições escolares são or- tenções da comunidade escolar.
ganizações, e o poder é inerente a todas as Quanto à avaliação interna, proposta
organizações. Ao “mexer” nesse poder, num pela própria instituição escolar, é preciso es-
processo de avaliação da escola, interfere-se tar atento a diversos problemas que podem
nos interesses, posturas, motivações e obje- surgir: a hostilidade e resistência em relação
tivos da comunidade escolar. O processo de

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ao processo avaliativo, a credibilidade ética a) Razões de ordem socioeconômica:


profissional do avaliador, o caráter indivi-
dualista da função docente, a falta de apoio - A contenção de recursos financeiros
técnico, logístico e de tempo, a impaciência para os gastos públicos, consideran-
do-se as recentes e repetidas crises
pela obtenção dos resultados, a ocultação de
econômicas.
informações fundamentais, a falta de moti-
vação profissional, a imersão da equipe ava- - A democratização da sociedade e o
liadora na realidade avaliada, as pressões in- desenvolvimento dos processos de
ternas por interesses, a inércia institucional, participação social, particularmente
ou seja, a própria cultura da escola. no campo educacional.
Aliado aos aspectos apontados, outro - A pressão da opinião pública geral-
mente apoiada numa avaliação “sel-
que consideramos de muita relevância é a
vagem” baseada em boatos, na com-
formação da equipe responsável pelo pro-
paração entre escolas, ou seja, em
cesso avaliativo, pois poucos profissionais
ranqueamentos, ou ainda, na expo-
dedicam-se ao campo da avaliação de esco-
sição pública de resultados e fragili-
las como objeto de estudo. dades do sistema educacional pela
Nesse contexto, o desconhecimento mídia, muitas vezes não condizente
dos fundamentos teóricos da avaliação ins- com a realidade das escolas e com as
titucional, especificamente das escolas da concepções dos programas e projetos
Educação Básica, pode gerar a falta de pla- de avaliação adotados.
nejamento, objetividade e credibilidade pe-
rante a comunidade escolar. Deve-se ter uma b) Razões de ordem político-administrativa:
competência científica e técnico metodológi- - A sociedade tornou-se mais exigente
ca que direcione o desenvolvimento da ava- quanto ao desempenho das escolas e
liação interna da escola, proporcionando-lhe a sua função de diminuir as desigual-
assim legitimidade. dades sociais. Os poderes públicos
As escolas são cada vez mais carac- passam a investir mais na educação e,
terizadas como centros de aprendizagem consequentemente, a solicitar às esco-
de todos os seus membros e da sua pró- las que justifiquem tais gastos e suas
pria organização. Enquanto organizações aplicações.
nucleares das sociedades atuais, elas não po- - O aumento da autonomia das escolas
dem ficar indiferentes às mudanças e trans- a partir dos anos 90 (noventa) com
formações que nelas acontecem, sejam de a democratização da sociedade e a
natureza econômica, política, científica, pe- descentralização administrativa, em
dagógica ou legal. Para tanto, não se deve pro- virtude da ineficiência do Estado em
ceder à sua apreciação através de uma análise gerir com eficácia o sistema educacio-
individualizada de cada um dos seus ele- nal.
mentos, mas sim apreendê-la como um todo, - A legitimidade de os governos demo-
como uma entidade global, original. Segun- cráticos controlarem, no âmbito das
do Rocha (1999), a necessidade de avaliá-las suas competências, o desempenho
é devida a um conjunto de razões: das escolas, questionando-as sobre
a eficiência, eficácia, efetividade e
relevância da sua ação educativa, par-
ticularmente a das escolas públicas.

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- À medida que a sociedade se comple- d) Razões de ordem legal:


xifica, as mudanças sociais são mais
rápidas e imprevisíveis e os sistemas - As mudanças na legislação nacional
educacionais são maiores, a escola- a partir da Lei de Diretrizes e Ba-
organização vai se tornando o meio ses da Educação Nacional - LDBEN
natural e mais importante de muitos 9394/96, que aponta para a autonomia
projetos de mudança educacional. das escolas e consequente abertura
para a necessidade da sua avaliação.
Faz referência à Organização da Edu-
c) Razões de ordem científico-pedagógica: cação Nacional, no artigo 9º., incisos
V, VI e VIII, ressaltando o princípio
- Novas abordagens sobre os problemas
da avaliação como uma das partes
das escolas e da educação, introduzi-
centrais da estrutura administrativa da
das pela comunidade científica a par-
educação.
tir de suas investigações: a valoriza-
ção dos contextos escolares, a busca
pelos fatores explicativos da diferença As razões apresentadas justificam a
de qualidade entre as escolas, a pas- necessidade da existência da avaliação das
sagem de uma pedagogia centrada no escolas. É uma nova exigência com a qual as
aluno para outra centrada na escola, e escolas são confrontadas, e precisam apren-
a problematização da eficácia das re- der a fazer.
formas educacionais, tanto em nível
local como global.
Autoavaliação da escola: alinhavando
- A consideração progressiva da ava-
liação da escola como estratégia de sentidos, produzindo significados
inovação para introdução dos próprios
processos de mudanças nos espaços A problematização em torno da ava-
escolares. liação da escola tem evidenciado a necessi-
- A evolução das concepções de avalia- dade de discutir, por um lado, a importância
ção da educação, que, de uma visão da avaliação institucional como processo
voltada quase que exclusivamente que permeia o trabalho educativo e o apri-
para os alunos e programas, passaram moramento do processo de gestão escolar;
a valorizar os fatores relacionados não por outro, a possibilidade de institucionaliza-
somente ao contexto de sala de aula, ção de práticas avaliativas assentadas numa
mas também os fatores que permitem política de mudança e desenvolvimento da
uma ação mais ajustada aos demais qualidade educativa, levando-se em conta a
contextos e objetivos educacionais, na singularidade de cada escola, e não somente
busca da melhoria da qualidade dos a obrigação de resultados pré-estabelecidos
processos educativos (práticas) e dos e estandardizados pelos organismos oficiais,
seus resultados (produtos). como na avaliação externa.
A autoavaliação da escola é aquela
em que o processo é conduzido e realiza-
do por membros da comunidade educativa.
Pode ser definida como uma análise sistemá-
tica da escola com vistas a identificar os seus

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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

pontos fortes e fracos e a possibilitar a ela- • é o processo pelo qual a escola é capaz
boração de planos de intervenção e melho- de olhar criticamente para si mesma
rias. Frequentemente é realizada tendo como com a finalidade de melhorar o seu de-
motivação principal o acompanhamento do sempenho, através da identificação de
projeto pedagógico da escola, no quadro de áreas mais problemáticas e da procura
uma dinâmica de desenvolvimento organiza- de soluções mais adequadas, para o
cional e institucional. A avaliação inserida desenvolvimento do trabalho escolar;
nas várias ações desenvolvidas na escola se • é uma investigação permanente do
coloca como mediadora do crescimento da sentido da organização e das ações
comunidade escolar, portanto: da escola conduzida pelos próprios
profissionais do estabelecimento de
O projeto pedagógico e a avaliação insti-
ensino;
tucional estão intimamente relacionados.
A não existência de um desses processos • é o processo de melhoria da escola,
ou a separação deles trará danos para a conduzido através quer da construção
própria escola, Sem um projeto pedagógi- de referenciais, quer da procura de fa-
co que delimite a intencionalidade da ação tos comprobatórios, evidências, para
educativa e ofereça horizontes para que a formulação de juízo de valor;
escola possa projetar seu futuro, faltará
sempre à referência de todo o trabalho e
• é um exercício coletivo, assentado no
suas concepções básicas. (FERNANDES, diálogo e no confronto de perspecti-
2002, p.58). vas sobre o sentido da escola e da or-
ganização;
Porque a avaliação institucional inter- • é um processo de desenvolvimento
na das escolas não é tão facilmente opera- profissional;
cionalizável como se acredita ou propõe ser, • é um ato de responsabilidade social;
não é fácil construir formas de autoavaliação
• é uma avaliação orientada para a utili-
que consigam lidar com os efeitos e tensões
zação;
que são decorrentes da pluralidade de senti-
dos, poderes, dilemas e perspectivas que se • é um processo conduzido internamen-
estabelecem/interagem num contexto esco- te, mas que pode e deve contar com a
lar. assessoria de agentes externos.
A avaliação institucional interna ou
autoavaliação constitui-se num processo de
busca da realidade escolar, com suas tendên- Abordagens teórico-metodológicas da
cias, seus saberes, seus conflitos e dilemas. autoavaliação da escola
Deve dar suporte às decisões e mu- Abordagem racionalista ou naturalista?
danças na prática educativa. É dinâmica, por
isso tem que ganhar lugar como processo que Para a realização de qualquer proces-
perpassa a ação escolar e o desenvolvimento so de avaliação de escolas é fundamental a
curricular, explicitando assim os propósitos escolha e aceitação de uma concepção de
da escola e suas relações com a sociedade. análise. Tradicionalmente duas abordagens
A avaliação institucional centrada na epistemológicas de avaliação se destacaram:
escola tem as seguintes características: a concepção racionalista de origem positivis-
ta, também denominada de quantitativa, e a

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concepção naturalista de origem construti- ser entendidas como complementares e se-


vista, também chamada de qualitativa. Tais rem usadas em função das necessidades do
perspectivas teóricas também são válidas processo avaliativo. Eles argumentam que,
para a avaliação das escolas, pois irão defi- embora essa prática possa exigir mais tem-
nir a estrutura científica, a visão de mundo, po, formação e recursos, o esforço vale a
a filosofia através da qual se fará a leitura da pena para “realizar triangulações necessárias
realidade social que se quer avaliar. ao suporte das conclusões, para se conseguir
Ao optar-se pela abordagem quan- um fortalecimento mútuo de métodos e para
titativa considera-se a educação como um atender a pluralidade e diversidade das ini-
processo tecnológico, acredita-se na obje- ciativas, dos tipos, das finalidades, dos enfo-
tividade da avaliação e utiliza-se o método ques e dos objetos de avaliação”. (ROCHA,
hipotético-dedutivo. Os resultados são mais 1999, p. 49).
valorizados que os processos da educação, a
finalidade da avaliação é o controle e se atri-
bui mais valor ao caráter estável do que ao Operacionalização do processo de autoa-
caráter dinâmico da realidade educacional. valiação da escola
A abordagem qualitativa, ao contrário, con-
sidera a educação sempre ligada a valores,
Cada escola pode estabelecer as eta-
problematiza a objetividade da avaliação uti-
pas para a construção do processo interno de
lizando métodos mais qualitativos e compre-
avaliação. Para defini-lo algumas escolhas
ensivos, valoriza os processos mais que os
de fundo são necessárias, tais como: - O que
resultados da educação, considerando como
avaliar; quais dimensões? (objetos de análi-
finalidade principal da avaliação a melhoria.
se ou de avaliação da escola); - Quem pode/
Além disso, valoriza mais o caráter dinâmico
deve avaliar a escola? (sujeitos, grupo de tra-
e subjetivo da realidade educacional.
balho); - Com que finalidades? (objetivos); -
As duas perspectivas avaliativas têm Com quais enfoques? (concepções e tipos de
suas fragilidades. A racionalista ou quantita- avaliação: interna /externa); - Como, quan-
tiva procura traduzir a realidade escolar em do, onde, com quem, com quais recursos?
números, medidas e corre o risco de defor- (metodologia, fontes; instrumentos; coleta,
má-la, parecendo que a exprime fielmente. organização e análise dos dados; cronogra-
Isso ocorre porque, por um lado, desvaloriza ma); - Como divulgar os resultados e propor
a importância dos contextos, fontes ricas de
melhorias? (planos de intervenção).
significação; e, por outro, a simplifica, redu-
zindo a sua multidimensionalidade qualitati- Para que essas escolhas venham a con-
va a uma unidimensionalidade quantitativa. substanciar-se num plano é essencial relacio-
A abordagem naturalista, crítica ou qualitati- ná-las entre si e articulá-las com a finalidade
va, ainda que atualmente seja considerada a e o foco da avaliação, isto é, estabelecer a
melhor para o estudo dos fenômenos educa- operacionalização do processo avaliativo.
cionais, pode intensificar algum subjetivis- Fernandes (2002) propõe três etapas,
mo intencional e gerar interpretações distor- que aqui apresentamos a título de sugestão:
cidas da realidade educativa. preparação, implementação e síntese.
Atualmente estudiosos (BONNIOL,
2001; FERNANDES, 2002) apontam que as
abordagens quantitativa e qualitativa devem

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1ª) Etapa de Preparação - compreende considere a sua identidade institucional,


as ações que antecedem a implementação do seus sujeitos e as finalidades da avaliação.
processo avaliativo. O primeiro passo é a definição de dimen-
- constituição da equipe de trabalho da sões, categorias de análise ou subdimensões,
escola; e aspectos (indicadores) a serem avaliados.
Existe uma hierarquia entre essas palavras,
- elaboração de uma proposta de avalia-
partindo-se de dados mais gerais para dados
ção preliminar para a escola;
mais específicos:
- discussão da proposta com a comuni-
- Dimensões: são os pontos de abran-
dade escolar.
gência que deverão ser avaliados, as
- definição do projeto de autoavalia- grandes áreas da avaliação. Elas po-
ção contendo os seguintes elementos: dem abranger aspectos administrati-
justificativa, referencial teórico, ob- vos, pedagógicos, físicos e estruturais,
jetivos, dimensões a serem avaliadas relacionais.
(objetos de avaliação), procedimentos
- Categorias de análise ou subdimen-
metodológicos, cronograma, recursos,
sões: são os pontos básicos dentro da
referências.
dimensão escolhida que se pretende
(2ª) Etapa de Implementação – com- avaliar.
preende as ações de elaboração e aplicação - Aspectos ou indicadores: são peque-
de instrumentos de coleta de dados, organi- nos pontos indicadores para as per-
zação e análise dessas informações. guntas em cada uma das categorias de
- elaboração, discussão, testagem e análise.
aplicação dos instrumentos de coleta Embora existam diferentes maneiras
de informações; de se construir um referencial de análise
- apuração e organização dos dados co- para a realização da autoavaliação da escola,
letados; apresenta-se neste texto o referencial pro-
- discussão coletiva dos dados coleta- posto por Alaiz, Góis, Gonçalves (2003), o
dos com a comunidade escolar. qual indica seis áreas ou dimensões:

(3ª) Etapa de Síntese – compreende a) Dimensão I - Contexto externo: as


as informações já organizadas, que deverão variáveis de contexto externo não
servir de orientação para ações que a escola são maleáveis, ou seja, não são dire-
desenvolverá a partir da análise dos resulta- tamente influenciadas pela ação da
dos pela comunidade escolar. escola, mas esta é uma das áreas de
avaliação de extrema importância, na
- revisão e ajustes no processo avaliativo;
medida em que permite enquadrar so-
- elaboração de relatórios conclusivos; cialmente a escola. Ela pode ser com-
- discussão sobre o uso dos resultados, posta pelas seguintes categorias de
com encaminhamento de ação; análise: caracterização social, econô-
- publicação e divulgação do relatório mica e cultural das famílias e alunos;
final. expectativas das famílias e da comu-
nidade quanto ao trabalho da escola;
Para se autoavaliar, a escola preci- pressão para a qualidade na perspec-
sa construir um referencial de análise que tiva do contexto externo, exercida por

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entidades ou grupos externos à escola: estandardizadas, outros resultados não


secretarias, núcleos regionais, asso- acadêmicos) e cumprimento da esco-
ciações de pais, ou outras instituições. laridade
b) Dimensão II - Contexto interno: cor- A escola pode ser avaliada conside-
responde, numa linguagem simples, rando-se as seis dimensões apresentadas, ou
“às condições com que a escola con- pode escolher aquelas consideradas mais ne-
ta”: história da instituição escolar; cessárias. No entanto, fundamental é que se
recursos físicos, estrutura curricular; parta de uma avaliação diagnóstica de todas
corpo docente, administrativo e dis- as dimensões e que, a partir dos resultados
cente. alcançados, novas etapas avaliativas sejam
c) Dimensão III - Organização e gestão: desenvolvidas no interior da escola.
as categorias de análise que compõem
a área de organização e gestão dizem
respeito à proposta pedagógica da es- Instrumentos: elaboração e aplicação
cola e à sua execução e avaliação.
d) Dimensão IV - Ensino e aprendiza- Após a definição das dimensões, cate-
gem: as categorias de análise de ava- gorias de análise e indicadores, vem à etapa
liação contempladas na área de ensino da escolha dos instrumentos e técnicas a se-
e aprendizagem convergem no traba- rem utilizados no processo de autoavaliação
lho realizado na sala de aula. para coleta dos dados – questionários, en-
trevistas, grupo focal, observação, portfólio,
e) Dimensão V – Cultura da escola:
seminários, pesquisa em arquivos, análise de
as categorias associadas à cultura da
documentos, análise quantitativa, relatórios,
escola podem ser: identidade institu-
dentre outros – os quais podem ser aplicados
cional; ênfase no ensino e na apren-
em grupos ou individualmente.
dizagem; participação nos processos
de decisão, motivação dos professo- Os instrumentos escolhidos devem
res, expectativas acerca dos alunos, estar adequados às dimensões, categorias e
indicadores propostos no projeto. É impor-
trabalho em equipe, aprendizagem e
tante considerar que nenhum instrumento de
desenvolvimento profissional, reco-
avaliação é completo por si só, razão pela
nhecimento dos profissionais da es-
qual podem ser escolhidos tipos que se com-
cola; disciplina e segurança na escola,
plementam.
aprazibilidade do espaço escolar, rela-
ção com a comunidade escolar. Definidos os procedimentos, devem
ser escolhidas as fontes de informação para
f) Dimensão VI - Resultados Educacio-
coleta dos dados, as quais podem ser: docu-
nais: os resultados dos alunos são as
mentos, projetos, planos, regimento escolar,
medidas de desempenho da escola. gestores, professores, alunos, pais, funcioná-
Em última análise, eles refletem a rios, membros colegiados, membros da co-
qualidade dos resultados interme- munidade externa, dentre outros.
diários contemplados nas restantes
A etapa de aplicação dos instrumentos
áreas. Ela pode ser composta pelas
para coleta das informações constitui a fase
seguintes categorias de análise: quali-
mais difícil da pesquisa, que é passar pelo
dade do sucesso (classificações inter-
confronto com os sujeitos da avaliação, ou
nas, estatísticas de resultados, provas

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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

seja, com o seu público-alvo. É a fase de im- ser sujeitos a uma análise de conteúdo. Antes
plantação do projeto, de provação, confronto de se dar início ao tratamento das informa-
com a realidade, de constatação de imperfei- ções, procedeu-se a uma verificação dos da-
ções, de ajustes que garantam a sua validade. dos brutos para prepará-los para a primeira
Se este fosse o processo de uma rela- análise, o que comumente se designa “lim-
ção amorosa, dir-se-ia que passadas a fase do peza” dos dados.
romance, em que domina o encantamento e Em seguida realizou-se a análise pro-
o entusiasmo - A avaliação é a melhor for- priamente dita, integrando e sintetizando os
ma de conhecer a escola e tem tudo para ser resultados. O trabalho de análise de dados
útil; nunca foi feito nada assim na escola - e consiste em reduzi-los ou condensá-los em
a fase da crise, em que se descobre que nem tabelas, gráficos, sumários estruturados em
tudo é perfeito e fácil - Para avaliar é neces- função de categorias de análise, sinopses,
sário dominar as técnicas, escolher bem os registros de pequenos episódios, diagra-
instrumentos, ultrapassar dificuldades e gerir mas que mostram a relação entre eles. São
conflitos. (ALAIZ, GÓIS, GONÇALVES, apresentações das informações coletadas
2003, p. 97) nos instrumentos de modo sintetizado, que
Os autores complementam que é o permitem uma primeira análise para a qual
momento de perceber se há motivação e é importante ter presentes os objetivos e as
disposição dos participantes para contribuir questões de avaliação inicialmente propos-
com as suas percepções sobre os aspectos tas. Dela emergem as primeiras tendências,
solicitados na avaliação da escola. A coleta as primeiras imagens da escola, ainda não
de dados precisa ser feita de uma forma não articuladas numa imagem global: são os re-
incomodativa, com discrição, com profissio- sultados preliminares. Eles geralmente sus-
nalismo, pois a escola não para porque nela citam mais perguntas, ora porque se encon-
está em desenvolvimento um processo de tram discrepâncias, ora porque existe uma
autoavaliação. Portanto, discussões em gru- combinação de informações não prevista ou
po, entrevistas, aplicação de questionários, pensada, que implica um novo olhar aos da-
observações, devem ser realizados nos mo- dos originais.
mentos que representem a menor alteração Concluída essa etapa, os resultados
do cotidiano dos seus respondentes, pois nin- devem ser organizados de acordo com as di-
guém deve deixar de realizar o seu trabalho mensões, categorias e indicadores propostos
habitual por causa da avaliação da escola. no projeto de autoavaliação. Assim, serão re-
veladas as imagens da escola.
A obtenção deste retrato é um mo-
Tratamento, análise e interpretação dos mento de celebração no desenvolvimento do
dados processo avaliativo. Por um lado, porque se
chegou a esse retrato da escola, por outro,
porque estes resultados são a matéria-prima
Dependendo da natureza da informa-
para o momento mais difícil do processo, o
ção coletada e das questões de avaliação, é da interpretação e consequente elaboração
possível optar-se por um processo de análise de conclusões e reco-mendações; o momen-
específico. Os dados de natureza quantitativa to de extrair da autoavaliação a sua utili-
deverão ser objeto de análise estatística, e os dade, mas também o momento de todos os
de natureza qualitativa poderão ser apresen- conflitos. (ALAIZ, GÓIS, GONÇALVES,
tados em descrições, mas também poderão 2003, p. 102).

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Os significados desses resultados ex- Autoavaliação da escola e


pressam o pensamento do coletivo escolar desenvolvimento institucional
que participou do processo avaliativo. Os
dados não falam por si só, por isso há ne- A autoavaliação da escola é um pro-
cessidade de interpretá-los, ou seja, estabe- cesso necessário para compreender a dinâ-
lecer em que medida os resultados são po- mica institucional, que pode e deve ser útil
sitivos ou negativos, significam sucessos ou para a escola, desde que não se traduza ape-
fracassos, pontos fortes ou pontos frágeis, nas na identificação de pontos fortes e de
mostrando assim as potencialidades e fragi- fragilidades, mas, também, na elaboração de
lidades da escola, e as áreas em que a escola recomendações que deverão ser considera-
precisa melhorar. das na proposição de melhorias qualitativas
A divulgação dos resultados à comu- para a instituição. Trata-se da utilização dos
nidade escolar é fundamental para legitima- resultados para a elaboração dos planos de
ção do processo avaliativo. Eles devem ser ação para o desenvolvimento da escola. É,
apresentados, divulgados e debatidos de for- portanto, na mobilização dos resultados que
ma alargada, oportunizando a manifestação reside a utilidade da autoavaliação.
de pontos de vista e a revisão de conclusões, Um plano de desenvolvimento da es-
quando as discussões acrescentarem contri- cola é um documento que contém as inten-
buições que auxiliem no aprofundamento da ções do coletivo escolar, refletindo a visão
interpretação. Um relatório deve responder de futuro e desenvolvimento necessário à
necessariamente a três questões: Quais são escola. Identifica as prioridades de ação, es-
os resultados da avaliação? Como se chegou tabelece as metas e os modos para sua con-
a esses resultados? Face a esses resultados, cretização. Bolívar (2003) argumenta que a
o que se pode fazer para melhorar? Portan- melhoria da instituição escolar precisa in-
to, um relatório de autoavaliação da escola cidir em toda a escola, com uma interseção
constitui-se não só num documento em que em três grandes níveis: desenvolvimento da
a escola fala de si, mas também num instru- escola enquanto organização, desenvolvi-
mento de trabalho para subsidiar a análise do mento dos professores e desenvolvimento do
que se pode fazer para melhorar. currículo. O desenvolvimento do currículo e
Ainda que a opção teórico-metodoló- da organização escolar constitui um campo
gica do processo avaliativo deva ser escolhi- indissociável.
da pela escola, há que se iniciar o trabalho
com um planejamento de preparação do pro- O desenvolvimento profissional é con-
jeto coletivo, seguido de sua implementação cebido como um processo contínuo de
e síntese dos resultados obtidos. É um ciclo aprendizagem, que provoca mudanças na
avaliativo que envolve diferentes momentos acção profissional do professor, através
da forma como atribuem sentido às suas
possibilitadores de se construir um retrato da
experiências e como estas influenciam as
escola para analisá-la com base em evidên- suas práticas diárias, mas, por sua vez,
cias válidas e fiáveis, retirando da autoava- na medida em que o desenvolvimento
liação aquilo que dá sentido à vida da escola, pessoal e profissional está condicionado
bem como a sua utilidade para a criação de pelo contexto da escola enquanto local de
propostas de melhorias internas voltados ao trabalho e relação, a formação orienta-se
desenvolvimento institucional. para a consecução de uma estreita arti-
culação entre as práticas formativas e os

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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

contextos de trabalho, optimizando a di- Na segunda, é feita a seleção das priorida-


mensão educativa dos processos de traba- des de ação da escola, transformando-as em
lho, mediante uma aprendizagem reflexi- metas específicas, definindo-se as estratégias
va e colegial. (BOLÍVAR, 2003, p.68). e critérios para alcançá-las. A implementa-
ção do plano de desenvolvimento constitui
Na acepção do autor o desenvolvi-
a terceira etapa; nela se deve assegurar que
mento profissional e o desenvolvimento ins-
o plano é seguido e que as ações previstas
titucional das escolas devem caminhar lado a
estão sendo desenvolvidas. Na quarta etapa
lado, pois um não existe sem o outro. A pos-
avalia-se o sucesso das medidas implemen-
sibilidade de desenvolvimento institucional
está ligada à capacidade interna de mudança, tadas e recomendações são propostas para
que é diferente para cada escola, consideran- alterações no plano ou para a construção de
do-se a sua história de vida, sua identidade e um novo projeto. Ressalta-se que a avaliação
singularidade, e está condicionada à política deve ocorrer ao longo do processo de desen-
educacional e ao contexto social no qual ela volvimento do plano, numa perspectiva pro-
se insere. O desenvolvimento institucional ativa, formativa e reflexiva, possibilitando a
é entendido “como as mudanças nas esco- introdução dos ajustes necessários durante o
las enquanto instituições que desenvolvem seu período de realização.
as suas capacidades e actuações com vista Em síntese, pode-se apontar que na
a uma melhoria permanente”. (FULLAN, elaboração do plano de desenvolvimento
1992, apud BOLÍVAR, 2003, p.75). institucional da escola é necessário contem-
O plano de desenvolvimento da escola plar os seguintes procedimentos:
enquanto instituição deve ser compreendido - respeito pelo contexto social, con-
como o conjunto de ações necessárias para
siderando as orientações da política
planejar e gerir o crescimento da escola, a
educacional, o projeto pedagógico da
sua melhoria contínua, o que pressupõe o
escola, as características da comuni-
fortalecimento da capacidade institucional
dade escolar e os recursos disponíveis
nos processos internos de trabalho da escola
e necessários;
e de decisão sobre as mudanças a serem im-
plementadas. - consulta e decisão acerca das priori-
dades, elaborando o plano de forma
A elaboração de um plano de desen-
coletiva, democrática e negociada;
volvimento institucional pode orientar-se
pelos seguintes questionamentos: Quais mu- - redação e divulgação do plano, escla-
danças necessitamos fazer na escola? Como recendo a articulação com os objeti-
essas mudanças podem ser geridas ao longo vos e fins da escola, justificando a se-
do tempo? Como podemos conhecer os efei- leção das prioridades, a metodologia
tos ou impactos das medidas adotadas? ou os recursos envolvidos.
De acordo com Alaíz, Góis e Gonçal- O plano de desenvolvimento insti-
vez (2003), a elaboração e o desenvolvimen- tucional, no entanto, não é um fi m em si
to do plano de desenvolvimento institucio- mesmo; ele é um documento operacional,
nal envolvem quatro etapas: autoavaliação orientador da ação da escola no seu proces-
ou auditoria, planejamento, implementação so de melhoria. No entanto, a sua elaboração
e avaliação. A primeira etapa constitui-se da constitui, também, uma oportunidade para a
análise dos resultados da autoavaliação, iden- escola e os seus profisionais se desenvolve-
tificando os pontos fortes e fracos da escola. rem, porque:

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• está centrado nos objetivos da escola, ticamente sobre si mesma, ou seja, sobre a
especial mente nos processos de ensi- concretização dos seus objetivos principais
no e de aprendizagem; e dos fins educacionais relacionados com o
• possibilita uma abordagem integrada ensino e a aprendizagem. E, enquanto docu-
de todas as dimensões da escola: o mento contextualizado deixa que a institui-
currículo, aprendizagem; a avaliação, ção escolar interprete as dinâmicas internas
o ensino, a gestão e organização, o e o integre na sua vida e cultura.
contexto interno, o contexto externo,
os resultados das aprendizagens e da
avaliação externa da escola; Considerações finais
• proporciona uma visão de futuro, de
longo prazo, da escola na qual os ob- As reflexões teóricas apresentadas
jetivos específicos de curto prazo se neste artigo tiveram como questão central
enquadram, representando as priori- a avaliação da escola e o desenvolvimento
dades do plano de desenvolvimento institucional, ou seja, a relação entre ava-
institucional. liação na/da escola e a qualidade educativa.
• auxilia na superação da ansiedade dos Objetivou-se elaborar teoricamente questões
professores que assim podem contro- sobre a avaliação institucional da escola bá-
lar melhor a mudança em vez de se- sica, com ênfase na autoavaliação da escola.
rem por ela controlados. Refletiu-se sobre avaliação educacio-
• permite maior valorização e reconhe- nal na contemporaneidade, situando o deba-
cimento do trabalho docente e do de- te científico sobre seus objetos de análise e
sempenho dos professores na promo- posturas teórico-metodológicas.
ção da mudança. Acredita-se que o estudo é funda-
• melhora a qualidade da instituição mental para que, por um lado, se perceba a
e dos que nela trabalham, porque as importância da avaliação educacional para
reflexões, discussões e decisões co- a concretização dos fins educacionais e da
letivas por um lado, ajudam a esco- escola; e, por outro, se sensibilize para o re-
la a trabalhar mais eficazmente e, conhecimento da interdependência dos múl-
por outro, ajudam os professores a tiplos objetos de análise da avaliação educa-
adquirirem saberes e competências cional e dos seus níveis de estrutura – micro,
como parte do seu desenvolvimento meso, macro e megassociológicos –, para a
profissional. efetivação de um processo avaliativo na es-
• fortalece as relações interpessoais na cola.
escola, em especial as da equipe ges- A importância da compreensão dos
tora com os professores. profissionais da escola de que um proces-
• melhora substancialmente a qualidade so de avaliação desenvolvido numa postura
do processo educativo e da gestão es- crítica é essencial para captar o movimento
colar. institucional da escola e contribuir para o seu
desenvolvimento institucional ficou eviden-
Concluindo, o plano de desenvolvi- ciada nos diálogos com os autores escolhidos
mento institucional é um documento estra- e com as reflexões teóricas desencadeadas.
tégico da escola, pois lhe permite olhar cri-

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Avaliação institucional da escola: conceitos, contextos e práticas

A análise das características e aborda- CASTORIADIS, C. A instituição imagi-


gens teórico-metodológicas do processo de nária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e
autoavaliação institucional evidencia que a Terra, 1975.
escola que passa por um processo avaliativo
FERNANDES, M. E. A. Avaliação institu-
numa postura crítica descobre sua identidade
cional da escola e do sistema educacional:
e acompanha a sua dinâmica institucional.
base teórica e con do projeto. Fortaleza: Edi-
Espera-se que a revisão bibliográfi- ções Demócrito Rocha, 2002.
ca realizada aponte novos rumos tanto para
o desenvolvimento de novas pesquisas como FIGARI, G. Avaliar: que referencial? Porto:
para a realização da avaliação das escolas, Porto Editora, 1996.
particularmente para a autoavaliação institu- GUERRA, M. A. S. Tornar visível o quoti-
cional, pois se criada e desenvolvida com os diano: teoria e prática de avaliação qualita-
sujeitos da escola, ela será possibilitadora do tiva das escolas. Porto: Edições Asa, 2003.
seu autoconhecimento e de ações voltadas ao
desenvolvimento institucional, alinhavando LDB 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases
sentidos e produzindo significados, tanto aos da Educação Nacional. Texto na íntegra.
processos educativos como à comunidade Lei de 20 de dezembro de 1996. Editora e
escolar. Gráfica Universitária – Unioste.
NÓVOA, A. (Coord.). As organizações
escolares em análise. Lisboa: Publicações
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ROCHA, A. P. Avaliação de escolas. Lis-
AFONSO, A. Avaliar a escola e a gestão es- boa: Editora Asa, 1999.
colar: elementos para uma reflexão crítica.
In: ESTEBAN, M. T. (Org.). Escola, currí-
Enviado em: 12/10/2011
culo e avaliação. São Paulo: Cortez, 2003.
Aceito em: 03/03/2011
ALAIZ, V.; GÓIS, E. GONÇALVEZ, Con-
ceição. Auto-avaliação de escolas: pensar e
praticar. Porto: Edições Asa, 2003.
BOLÍVAR, A. Como melhorar as escolas:
estratégias e dinâmicas de melhoria das prá-
ticas educativas. Porto: Edições Asa, 2003.
BONNIOL, J, J.; VIAL, M. Modelos de
avaliação: textos fundamentais. Porto Ale-
gre: Artmed Editora, 2001.
CASALI, A. Fundamentos para uma ava-
liação educativa. In: CAPPELLETTI, I. F.
Avaliação da aprendizagem: discussão de
caminhos. São Paulo: Editora Articulação
Universidade/Escola, 2007.

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330 Disponível em <http://www.uepg.br/olhardeprofessor>

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