Ja

Estado pode sentar-se no banco dos réus

SEMANÁRIO GRATUITO
ANO I • N.º 17 • 11 Novembro 2010
Director: Vlademiro Marçal
Propriedade: Medi@Capital, SA
Guarda-Fiscal chumba
estatuto da Polícia
Guarda-Fiscal não se dispõe a fechar os
olhos a um estatuto da Polícia que cheira
a contrabando. Não serve à nova direção
da Associação Sócio-Profissional e esta
dispõe-se a manter luta reivindicativa.
Para já foi aprovado, por unanimidade em
assembleia-geral, um “Manifesto contra a
Segregação”. Pág. 3

Notas soltas Documento põe tudo a descoberto

Ministério
desmente
propaganda
Empresas
das bolsas obrigadas
a investir
na propaganda
18.000 bolsas de estudo em 10 anos?
Bazofaria do governo é desmentida por
documentos do Ministério da Educa-
de Inocêncio
São milhares de contos desbaratados em publi-reportagens
ção: não houve mais que 4.048. Mais eleiçoeiras na TCV e Tiver, designadas como “documentários
depressa se apanha o governo aldrabão
do que um coxo. Pág. 13
com informação educativa e promocional patriótica”. Para esta
propaganda massiva, o governo saca dinheiro às empresas para
Bai-bai terem “o privilégio de agradecer o envolvimento, da forma
possível, e com os montantes possíveis”, na propaganda da

Lura “obra”. É a voragem do erário público pela propaganda

governamental, patrocinada pelo ministro das Infra-estruturas,
onde tudo está preto no branco. De facto, “é bom assistir a
entre dois esta pouca vergonha”, nada inocente. Pág. 9

mundos No mercado do Plateau O que por aí vai

Gente feliz com lágrimas Prémio Cidade Velha

Entre vendedeiras e rabidan-
tes, Já ouviu e registou: so-
nhos e tristezas, dores e ale-
levou sumiço
grias. E também auscultou a Ministério da Cultura está des-
grande transformação que, por capitalizado: porquê? como é
ação da Câmara, se prepara no que isso aconteceu? para onde
A história da menina que queria ser principal mercado da capital – foi o dinheiro? Para alimentar a
bailarina e se fez uma grande cantora, em breve, tudo vai ser diferen- propaganda massiva do Gover-
internacionalmente reconhecida. Não te, para muito melhor. É a no são rapados todos os “sacos
recusa a sua nacionalidade portuguesa, primeira das grandes reporta- azuis”. Resultados: o Prémio
nem a sua alma cabo-verdiana. O que gens a que o nosso jornal dá Cidade Velha levou sumiço; o
recusa ser: a herdeira de Cesária. É guarida. Centrais IIPC está de tanga. Pág. 8
Lura. Pág. 20
2 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010
marco do correio
O Já reserva-se o direito de seleccionar e, eventualmente, reduzir os textos não solicitados,
José Maria Almeida
corrige Fernando
Monteiro
No Semanário Já, Ano I, n.º 13, de
14 de Outubro de 2010, a páginas 1
e 13, o Sr. Fernando Monteiro faz
afirmações falsas a meu respeito,
pelo que, ao abrigo da legislação
em vigor, venho exercer o meu
direito de resposta, solicito e
agradeço a V. Exa. se digne mandar
publicar o que se segue:
1 - A 24/05/ 2001, fui empossado
no cargo de PCA da Inforpress, não
tendo, em momento algum,
recebido instruções do Primeiro
Ministro, Dr. José Maria Neves,
para demitir o Sr. Fernando
Monteiro.
2 – O Sr. Fernando Monteiro foi
demitido do cargo de “Director
Editorial da Inforpress”, a coberto
da nota de 28/05/ 2001, tendo-lhe
solicitado um “Relatório” do
referido cargo. Após receber esta
nota o Sr. Fernando Monteiro veio
ao meu gabinete e disse-me que
«não sabia qual era o seu lugar de
origem». Pedi-lhe a elaboração de
"um apanhado da sua vida
profissional", que ele intitulou de
«Notas Biográficas» e me entregou
a 07/06/2001.
3 – Destas «Notas Biográficas»
resulta que o Sr. Fernando Monteiro
nunca tinha sido quadro da
Inforpress. Foi quadro do
PAIGC/PAICV desde Janeiro de
1980, trabalhou como jornalista no
Jornal Tribuna de Junho de 1984
até Maio de 1990, altura em que o
PAICV fez a inclusão de seus
funcionários no quadro de adidos
da Função Pública, passando em
1991 a integrar o Ministério das
Finanças;
3.1 - Por Despacho do Secretário de
Estado da Administração Pública,
de 19 de Novembro de 1991, foi
«Fernando Jorge Almeida
Monteiro, 3.º oficial, provisório, do
Anuncie Já
no jornal de maior
tiragem do País
semanarioja@gmail.com
Aproveite os preços promocionais. Ligue 262 38 17 e reserve o seu espaço
As cartas destinadas a esta secção devem indicar o nome e a morada do autor,
bem como um número telefónico de contacto.
nem se prestará informação postal sobre eles.
ex-quadro privativo do PAICV –
colocado no quadro do Instituto de
Apoio ao Imigrante, na mesma
categoria e situação», (página 732
do B.O. n.º 50, de 14 de Dezembro
de 1991);
3.2 - Por Despacho conjunto do
Ministro da Cultura e Comunicação
e do Secretário de Estado da
Emigração e Comunidades, de 21
de Outubro de 1994, foi
«requisitado para exercer as suas
funções na mesma categoria e
situação no Novo Jornal Cabo
Verde», (página 763 do B.O. n.º 45,
de 07 de Novembro de 1994);
3.3 - Por Despacho do Presidente
do IAPE, de 19 de Maio de 1997,
foi «nomeado definitivamente no
quadro», (página 197 do Boletim
Oficial n.º 14, II.ª série, de 07 de
Abril de 1997);
3.4 - O Sr. Fernando Monteiro
solicitou e obteve do IAPE, «uma
licença sem vencimento de longa
duração, com efeitos a 01 de
Fevereiro de 1998», (página 273 do
B.O. n.º 14, II.º série, de 06 de
Abril de 1998).
4 – A 07/06/2001 o Sr. Fernando
Monteiro entregou-me o "Relatório
da Direcção Editorial", no qual
“assume” ter “cessado” as suas
funções de «Director Editorial da
Inforpress» e afirma que era,
«desde Novembro de 2000, o único
Director para os dois órgãos da
Inforpress».
5 – A 26/06/2001 a assembleia dos
jornalistas da Inforpress constituiu
uma “Mesa de Trabalhos”, tendo o
Sr. Fernando Monteiro sido eleito
escrutinador. Esta Mesa dirigiu a
discussão do «Regulamento
Eleitoral Provisório» que foi
aprovado por consenso do colectivo
dos trabalhadores do Jornal
Horizonte, tendo o Sr. Fernando
Monteiro sido eleito membro
efectivo do «Conselho de
Redacção».
6 – Por Despacho de 28/06/ 2001,
exarado no verso do «Pedido de
férias», de 07/06/2001, fica
provado que analisei
cuidadosamente a situação do Sr.
Fernando Monteiro, quando
despachei: «5 - Tendo em conta o
tempo de serviço prestado à
Comunicação Social Cabo-verdiana
desde Junho de 1984»; «6 - Visto a
actual grelha salarial em vigor na
Inforpress e os casos similares»; «7
- Por fim o Conselho de
Administração da Inforpress
decidiu fixar ao Sr. Fernando Jorge
Almeida Monteiro um salário
ilíquido de sessenta mil escudos
(60.000$00) como Jornalista desta
empresa»; «7.1 - Dar a conhecer ao
interessado, aos Srs.
Administradores e ao Chefe
Administrativo e Financeiro», com
efeitos a 01/07/2001, tendo o Sr.
Fernando Monteiro tomado
conhecimento no dia seguinte.
7 – E, por Despacho n.º 001/2001,
de 01/09/2001, foi o Sr. Fernando
Monteiro nomeado Rewriter do
Jornal Horizonte, cargo em
comissão de serviço, cujo salário
mensal ilíquido de 80.000$00
(oitenta mil escudos), foi fixado por
Deliberação n.º 004/2001, de 24/09/
2001, do C.A. da Inforpress e
homologado pelo Delegado de
Governo para a A.G. da Inforpress,
Dr. Ilídio Cruz, no dia 05/10/2001,
tendo ele desempenhado estas
funções de 01/09 até 30/11/2001;
8 – A 29/10/2001 o Sr. Fernando
Monteiro, «alegando motivos de
saúde, solicitou um ano de licença
sem vencimento», cujo pedido foi
atendido, após receber os devidos
pareceres, por meu Despacho
n.º002/2001, de 30/11/2001,
seguido da Guia de Marcha n.º
03/2001, da mesma data, ambos
com efeitos a 01/12/2001, tendo
destes tomado conhecimento no
próprio dia.
Senhor Director, estou em crer que
já respondi ao Sr. Fernando
Monteiro e esclareci o público em
geral.
Atenciosamente,
José Maria Almeida
20 000 exemplares!
Já SEMANÁRIO GRATUITO
Administração e Redação:
Largo Eusébio da Silva Ferreira,
Achada de Santo António, Cidade da Praia,
Ilha de Santiago, Cabo Verde C.P. 669
editorial
Vlademiro
Osvaldo Marçal
semanarioja@gmail.com
Já perderam
É
dos livros: quando um partido se mete a imitar outro e
tenta chamar a si as palavras de ordem de outro – está
perdido. Assume-se como partido perdedor.
A nova vaga de outdoors do governo/PAICV desenvolve algo que
já antes transparecera nas palavras do seu líder: Neves a querer para
si uma palavra de ordem que já marcou profundamente este
processo eleitoral, irrecusavelmente em marcha – o Mesti Muda!
De maneira pouco inteligente e taticamente errada, o mais que
cansado ainda chefe do governo veio dizer que Cabo Verde precisa
de mudar e que ele é aquilo que não conseguiu ser durante dez
anos: o agente dessa mudança. Ora se um partido, ao cabo de dez
anos de governação, entende que o país que governa precisa de
mudança… está tudo dito. Poder-se-á pensar que as insónias de
JMN incapacitam-no para sequer pensar.
Esperava-se, então, que a sua entourage servisse para o aconselhar.
Mas quando se topa o sr. Filu, peso-pesado ridiculamente com ares
de bailarino, tomar para as suas últimas intervenções precisamente
essa tese – Cabo Verde está a mudar, o PAICV/JMN é o fator de
mudança –, faz-se evidente que os conselheiros de Neves são
baratas já atordoadas pelo DDT.
Um partido cuja propaganda não produz uma ideia nova e sequer
salta à vista quando confrontada com a do opositor; um partido cuja
propaganda se sente compelida a ir na cola da propaganda adversa;
um partido que não consegue gerar um leitmotiv, um sound bite
que mobilize massas populares ou sequer os seus próprios
militantes; um partido que agenda para aqui e para ali “aberturas do
ano político” que tresandam a fiasco – sem chama, sem mística,
sem ideias, sem política e sem gente; um partido que, nos apertos
das horas finais, não consegue tirar do fundo do balaio uma única
medida de política social estruturada e apenas consegue percorrer
quilómetros a depositar “primeiras pedras” (ao fim de dez anos de
governo!)… é um partido que pode começar já a arrumar as malas.
Pode o governo comprar sondagens, com recurso ao erário público;
pode subsidiar parentes da governação para, através de antenas em
Lisboa, fazerem-se de eco dessas sondagens que cheiram mais a
falsidade que a bosta da vaca cheira a estrume; podem as
parangonas da sua imprensa berrar tais sondagens que nem aos
militantes mais inteligentes convencem. A realidade salta aos olhos,
só não vê quem não quer: JÁ PERDERAM!
Falta a luta final, o desenlace. Certamente que com mais sondagens,
mais inquéritos, mais burlas, mais controlo da comunicação pelo
Poder para que ela não seja livre… e, portanto, perigosa. Mas
apetece lembrar a Neves o poeta cabo-verdiano Daniel Filipe:
“Tendes armas, usai-as/ Tendes jornais, usai-os/ Nós somos o sol da
terra/ Cantando venceremos” (Pátria lugar de exílio)

Telefone: (00238) 2623817
E-mail: semanarioja@gmail.com
Propriedade: Medi@capital, SA
Director: Vlademiro Marçal
Design e Paginação: Medi@capital, SA
Impressão: Grafedisport SA
Tiragem: 20.000 exemplares

na rota dos dias
Novo presidente da ASPP-GF garante:
Guarda-Fiscal pondera
levar Estado
a Tribunal
Damião Gomes é o novo presidente de Associação Socioprofissional do Pessoal Policial da
Guarda-fiscal (ASPP-GF). A classe considera-se parente pobre da PN e acusa o governo de lhes
ter ignorado aquando da elaboração do Estatuto da Polícia Nacional
J
oão Barros Nuna deixa ASPP-GF
com a sensação de dever cum-
prido, mas tem a consciência
que muita coisa ficou por fazer. Foi du-
rante o consulado de Nuna que a Guar-
da-Fiscal, juntamente com a Polícia de
Ordem Pública, a Polícia Marítima
(PM) e com a Polícia Florestal (PF) se
integrou na Polícia Nacional (PN). In-
tegração não de todo pacífico no seio
da GF. Aliás, José Barros, numa entre-
vista concedida a Já foi peremptório
em afirmar que a “PN é um projeto fal-
hado do governo Neves”, devido à au-
sência de um estudo de base científico,
por ocasião da criação da PN e que
deixou de fora várias propostas de me-
lhorias apresentadas pela ASPP-GF.
Aposta na “continuidade”
A nova direção da ASPP-GF já fez
saber que o seu plano de atividade é de
continuidade ao ambicioso programa
da anterior direção. Para já, Damião
Gomes e equipa têm em cima da mesa
um problema a resolver, tendo em
conta que existe no seio da corporação
um clima de total descontentamento.
Os elementos da GF consideram que
Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 3
Princípio de Registo Predial violado
Governo
usurpa
e não paga
terreno de cidadão
Rito Vaz é mais uma das vítimas do governo de José
Maia Neves que vem de forma sistemática atropelando
os direitos dos cidadãos. Ao visado foi-lhe usurpado o
seu terreno em S. Domingos para construção do Liceu, e
mais uma outra parte significativa para a construção da
estrada alternativa, inaugurada em 2008
R ito Vaz contatou Já para
denunciar a situação. “Este
caso é antigo. Em 1983, Pedro
ministra das Finanças, sem nunca
ter recebido uma resposta sobre a
possibilidade ou não de qualquer
Pires pediu a compra do terreno audiência.
para a construção de um poliva- Rito Vaz sublinha que não está a
lente. O meu pai queria vender atuar como porta-voz da família,
são parentes pobres da PN e acusam o Havia vários assuntos discutidos cada metro quadrado por 150$00, porque entende que ele deve
Governo de lhes ter, pura e simples- aquando da pseudo-socialização do porque tinha um comprador, e o responder por inteiro sobre essa
mente, ignorado aquando da elabo- projeto de Estatuto e que tinha a ver governo propunha 50$00, acaban- denúncia, e assegura que toda essa
ração do Estatuto da PN. Por isso, com a questão dos ‘subsídios de do mesmo por fim por nos roubar manobra de que é vitima, resulta do
durante a Assembleia-geral foi apre- condição policial e de risco’; salva- esse terreno”, denuncia, acrescen- seu posicionamento político que
sentado o “Manifesto contra guarda do ‘estatuto remuneratório da tando que o caso veio a complicar- não agrada o partido da estrela
Segregação” que mereceu, imediata- GF’; ‘sanções disciplinares’ para um -se aquando da construção do negra.
mente, o apoio de todos os associados.elemento da GF que cometesse uma Liceu, onde nem sequer fizeram O nosso interlocutor diz-se indig-
infração fiscal e tantos outros, que não
GF não revê no Estatuto foram absorvidos na redação final do
expropriação. Prossegue dizendo nado porque desde 1800 (há mais
que mais tarde construíram um de 200 anos) que o terreno onde
da PN diploma. Esta atitude do governo é polivalente e uma biblioteca nesse está instalado o Liceu (10 mil
De acordo com Gomes, este documen- absolutamente inadmissível num terreno, com vista a conquistar metros quadrados) e a parcela da
to vai ser enviado aos Estado de Direito. Por votos e os donos não foram nem estrada S. Domingos/Assomada
órgãos de soberania – Durante a isso, sentimo-nos ultra- tidos, nem achados. (cerca de 2 km) é pertença da
enquanto garante dos Assembleia-geral foi jados nos nossos dire- Quando decidiram construir a família e, agora, num ato de despo-
direitos constitucionais itos e a única forma de tismo, o governo faz de forma
-, aos líderes dos parti- apresentado luta é manifestar, or-
“estrada desvio” que dá acesso à
Assomada volta a acontecer o descarada a usurpação de uma pro-
dos políticos com as- o “Manifesto contra deira e profissional- mesmo. “Fomos enganados pelo priedade que está devidamente
sento parlamentar; di- Segregação” mente, aos órgãos de Sr. Paulo Soares que era Director registada na Conservatória de Re-
retor da PN e coman- soberania e não só, o
dante da Guarda-Fis-
que mereceu, do Património, e que sempre nos gistos Predial, documento esse que
nosso repúdio face a enganava dizendo para irmos rece- está na posse dos herdeiros.
cal. “Este documento, imediatamente, esta barbárie do Execu- ber a indemnização. Marcava dias, Face a este caso, Rito Vaz, ques-
explica Damião Go- o apoio de todos tivo de JMN”. desmarcava, sempre numa atitude tiona onde está justiça neste país, e
mes, contém um con- os associados Segundo Gomes, se os de hipocrisia e maldade. Pelos pede a quem de direito para
junto de reivindicações problemas não forem feitos, ele foi premiado com um averiguar o que está acontecer com
decorrentes do Estatuto da PN e do resolvidos, ao nível das autoridades cargo agora no IFH”, ironiza, este governo, que não entende, e
Regulamento Disciplinar. Para nós competentes, a GF pondera a hipótese avançando ter já marcado audiên- não quer ouvir, “o que para ele é
estes documentos ignoram a figura da de levar ao Estado às barras da justiça cia com o primeiro-ministro, com a pior”.
GF e da PM e dão forte ênfase à PN. cabo-verdiana.
4 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010
na rota dos dias
Bom ritmo nas obras na Praia inquieta tambarinas Ainda a demolição da “Casa Adriana”
“PAICV não ama
a sua cidade”
Indiferente aos remoques e a um certo nervosismo evidenciado nos ataques descabelados vindos
do PAICV, o executivo da câmara da Praia prossegue em bom ritmo a remodelação da imagem
urbana da capital cabo-verdiana, como ficou patente na visita que deputados nacionais e
membros da Assembleia Municipal do MpD efetuaram sábado passado a várias zonas da cidade
O
bjetivo, fiscalizar os prazos
estabelecidos e impacto dos
projetos na vida dos mora-
dores, num périplo que começou na
Rua 5 de Julho, onde está em curso a
pavimentação da artéria, reconstrução
de casas e estabelecimentos comerciais
(a Câmara vai disponibilizar meios ma-
teriais e humanos para os proprietários
remodelarem os edifícios) - transfor-
mando um ponto de “grande bagunça
porque o PAICV não ama a sua capital
e não queria esta obra”- como referiu
ao Já, João Cabral, líder dos democ-
ratas na Assembleia Municipal - num
verdadeiro ex-libris da cidade, com
abertura de canteiros e rega gota a gota,
esplanadas, espaços comerciais e cul-
turais, a exemplo do que acontece em
outras grandes artérias cosmopolitas de
capitais por esse mundo fora.
Não fora os “percalços” provocados
pela Electra e CV Telecom, que não
cumpriram os prazos na instalação de
cabos, os trabalhos, a cargo da empresa
MSF poderiam já estar numa fase mais um campo de futebol relvado, com o
adiantada. De qualquer forma, antigo mercado abandonado pelo ante-
"podemos garantir que os praienses rior executivo camarário a ser alvo de
terão a sua grande prenda de Natal este recuperação, dando lugar a uma área de
ano com a conclusão dos trabalhos de serviços, gabinetes e balneários.
repavimentação da Rua 5 de Julho", Ainda esta semana, os deputados do
garantiu João Cabral. MpD na AM manifes-
A visita dos elementos “A desorientação do taram, em comunicado,
do MpD estendeu-se, a sua satisfação pela
em seguida, às obras PAICV é tanta que até gestão transparente do
em curso na Praça se esquecem que no executivo camarário
Ponte Vila Estádio do Coco, onde liderado por Ulisses
Nova/Calabaceira,
onde está a crescer uma
se irá construir o novo Correia e Silva, que
“nada tem a ver com a
zona de lazer, com mercado, tinham gestão corrupta do
esplanada, quiosques, distribuído lotes para a PAICV no mandato
parque infantil, espaço construção de oito anterior”. Aludiram
que foi recuperado à ainda às manobras de
ribeira que passa perto, torres no mandato diversão lançadas pelos
esperando-se que esta anterior...” tambarinas, as quais, no
construção fique con- seu entender, mais não
cluída no final do mês. Os deputados visam do que ofuscar o grande número
estiveram ainda na Achada Grande de obras em curso na cidade. Em causa
Frente, onde está a ser construído um a reformulação no pelouro do vereador
novo complexo desportivo englobando Abailardo Amado o qual, por motivo
de doença, suspendeu o seu mandato
por ter de efetuar um tratamento clínico
nos EUA. Este facto levou o presidente
da Câmara a delegar no vereador,
Victor Coutinho, a coordenação e a
superintendência da área de segurança
municipal e proteção civil.
“A desorientação do PAICV é tanta que
até se esquecem que no Estádio do
Coco, onde se irá construir o novo mer-
cado, tinham distribuído lotes para a
construção de oito torres no mandato
anterior, quando o terreno pertencia a
um privado”, sublinham ainda os ele-
mentos afetos ao MpD, relevando a
desorientação existente na oposição
camarária afeta ao PAICV.
Mindelenses
querem explicações
de Neves
Afinal, o Movimento para a preservação do Património
Histórico da cidade do Mindelo não baixou os braços,
após a demolição da casa do Doutor Adriano Duarte
Silva. Voltam à carga e exigem do governo a
reconstrução da moradia
I
sto num momento que se lev- sua extrema gravidade”.
antam outras vozes, como Segundo Maurino Delgado – uma
Germano Almeida, dizendo das vozes do protesto -, “a demo-
que “a destruição da casa é um erro lição da Casa do Dr. Adriano Duarte
que se vai pagar muito caro”. E nas Silva, sob todos os aspetos é um ato
redes sociais começa-se a divulgar de gestão danosa da coisa pública.
o trabalho que Duarte Silva fez por Demonstra que o nosso governo
São Vicente e Cabo Verde. O gover- perdeu a perspetiva das coisas, fa-
no e o partido que o sustenta não zendo-nos duvidar se ainda tem o
fogem as críticas que vão no sentido equilíbrio necessário para continuar
de “estar a querer limpar da memó- a cumprir o papel de que foi incum-
ria dos sanvicentinos a sua história.bido”.
Insistem que a história da ilha O Movimento vai fazer tudo para
que JMN vá ao Parlamento explicar
comece apenas a partir do dia 5 de
Julho de 1975”. o ato de demolição da “Casa
Adriana”. Queremos pedir aos De-
O uso da força putados Nacionais para chamarem o
em vez do diálogo senhor primeiro-ministro, para ex-
O movimento aponta o dedo direta- plicar à Nação Cabo-Verdiana a ra-
mente ao primeiro-ministro dizendo zão de tal ato, lesivo dos interesses
que “o governo po- do povo de Cabo
dia evitar a demo- Segundo Maurino Verde, politicamente
lição, mas não o fez. Delgado – uma das muito grave, que
O cidadão conscien-
te sabe que este ato é
vozes do protesto -, “a viola a Constituição
da República e a éti-
muito grave, equiv- demolição da Casa do ca política, chaman-
alendo a um golpe Dr. Adriano Duarte do a atenção dos Se-
institucional, para Silva, sob todos os nhores Deputados
resolver um proble- para os artigos, 3º,
ma fazendo uso da aspetos é um ato de 7º, 79, 168º e 175º
força em vez do diál- gestão danosa da da Constituição. É
ogo, do bom senso e triste ver pessoas a
coisa pública.
do respeito pelas quem o Povo, na sua
instituições. Igno-
Demonstra que o boa fé, confiou a res-
rou-se a sociedade nosso governo perdeu ponsabilidade de
cabo-verdiana. A de- a perspetiva das coisas promover o desen-
mocracia foi, portan- volvimento do país e
to, duramente violentada, e de- melhorar a qualidade de vida do
vemos passar esta mensagem para cabo-verdiano, a destruir gratuita-
alertar todos os cabo-verdianos da mente a riqueza deste país”.

sem perdão
Tragédia em São Vicente
Dispara sobre ex e
suicida-se na cadeia
Tentativa de homicídio termina em suicídio: mais uma tragédia
passional em Cabo Verde. Violência de homem contra a mulher,
praga a que é preciso pôr fim
U
m homem de 29 anos de
idade suicidou-se na cadeia
da Ribeirinha, em São
Vicente, no passado dia 6: na véspera
disparara três tiros sobre a ex-compa-
nheira. Depois de ter ferido a mãe do
seu filho, o homem esteve a monte,
acabando por entregar-se à Policia.
Presente ao Juiz de Instrução Cri-
minal, foi conduzido à Cadeia da Ri-
beirinha em prisão preventiva. De
acordo com o testemunho de um fa-
miliar, o chefe da Cadeia ter-lhe-á
dito: “o seu irmão colocou dois baldes
existentes na cela, um em cima do
outro, e atou as correias da sapatilha
na grade e executou o suicídio. Não
sabemos o porquê da atitude mas, a
dada altura, ele confessou que um pro-
blema o afetava sem dizer-nos o que
se passava”.
O problema está relacionado com facto
de, a 5 de Novembro, o indivíduo ter
tentado matar a ex-companheira. Ela
contou a sua versão: foi baleada com
três tiros. Um entrou pelo abdómen,
outro pelo nariz e saiu pela boca e a
última foi se alojar na perna. A vítima
conseguiu sobreviver aos disparos e
ficou internada nos serviços de cirurgia
do Hospital Baptista de Sousa.
Amor sem medida, é amor?
O ex-companheiro, que se colocara em
fuga após o ato, acabou por se entregar
no Comando Regional da Polícia
Nacional, em São Vicente. Os acontec-
imentos tiveram lugar junto da casa da
Maria de Fátima, na zona de Espia. De
acordo com a versão da vítima, ela ter-
minara o relacionamento com o ex-
-companheiro, de quem tem um filho
de um ano, e regressou a São Vicente.
Conta a vítima: “Ele veio da Praia, na
quarta-feira, onde residia há dez anos,
e pediu-me para levar o nosso filho
para sua casa. Mas devido aos proble-
mas no nosso relacionamento e a sepa-
ração, tive receios e mandei a minha
irmã levar o meu filho. Ele vinha me
ameaçando de morte e que tinha uma
semana para decidir, senão teria uma
surpresa”.
A agredida diz que evitou o contato
com o pai do filho, porque tinha medo
devido às ameaças. E explica: "Antes
das 16 horas, ele queria que eu fosse à
casa da sua mãe, porque somos vizin-
hos; porém, disse-lhe que preferia con-
versar em minha casa, para estar mais
segura. Chegou às 16 horas e ficámos
à porta. Ele estava calmo, mas tirou-
me o telemóvel da mão. De repente,
meteu as mãos na mochila, retirou a
pistola e disparou. Não senti dor.
Pensei que era um pesadelo e desatei a
correr. Ele veio atrás de mim, dis-
parando outra bala que entrou na
minha perna”.
Mais uma tragédia passional: resultou
numa morte e em ferimento graves
numa mulher.
Caso Santaninha/Praia
Fiscal da Câmara
acusado de roubo
Caso Santaninha com novos
contornos - o fiscal da
Câmara Municipal da Praia
(CMP), José Carlos Almeida,
conhecido por Português, que
a 14 de Agosto liderou a
fiscalização do embargo em
Terra Branca/Santaninha, foi
de novo chamado à esquadra
de Eugénio Lima para depor
por alegado roubo de
materiais de construção
naquela obra
O embargo, recorde-se, foi decreta-
do por despacho do presidente da
CMP, quando Manuel Tavares foi sur-
preendido em obras de construção da
sua moradia, à revelia das autoridades
municipais. Quando assim é, explica o
jurista da CMP, a lei obriga a Câmara
a agir em conformidade para travar a
ilegalidade. Foi o que aconteceu com a
construção da casa de Tavares, que não
estava licenciada.
“Fui chamado à Esquadra de Eugénio
Lima, no passado dia 2, para ser ouvi-
do num processo por alegado roubo de
materiais de construção. Sou acusado
por Manuel António Tavares, proprie-
tário da obra embargada, de ter rouba-
do 52 toneladas de areia, 52 de britas e
número indeterminado de ferro de vá-
rias dimensões”, confirma José Carlos
Almeida para quem a acusação, para
além de absurdo, é manobra de diver-
são para ludibriar a opinião pública.
Diz o jurista da CMP que se trata de
perseguição com contornos profission-
ais, pois o fiscal, enquanto autoridade
municipal, limitou-se a cumprir o
mandado de embargo emitido pelo
presidente da CMP. Efetivamente,
houve apreensões de materiais, mas a
quantidade é de longe inferior ao
declarado pelo proprietário da obra.
Eventuais responsabilidades na prática
das apreensões seriam atribuídas à
Thug mata thug em Brasil
R ivalidades entre grupos de thugs
provocam mais uma morte na
cidade da Praia. Aconteceu na segunda-
feira, dia 8, por volta das 17 horas, em
Brasil, Achada de Santo António: um
jovem de 13 anos, Alex, foi baleado na
testa com uma 6,35 – teve morte imedi-
ata. O presumível assassino, com 17
anos, conhecido por Farroba, foi cap-
turado mais tarde para ser entregue ao
tribunal.
O crime ocorreu em plena via pública,
diante de dezenas de olhares atónitos e
impotentes. O Alex rondava na zona de
Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 5
Câmara e nunca ao funcionário, pois
foi ela que, através dos seus fiscais,
apreendeu um camião com britas que
estão neste momento nas suas insta-
lações, em Monte Babosa.
“É completamente falsa a acusação de
Manuel Tavares. A CMP, na sequência
do embargo às obras, apercebeu-se que
o dono continuava os trabalhos como
se nada tivesse acontecido. Então, o
diretor de fiscalização, António Fortes,
ordenou a apreensão de um camião
com britas”, explica José Carlos
Almeida, que desafia Tavares a provar
o seu envolvimento no roubo.
O próprio instrutor do processo, o
agente Delgado, da Esquadra de
Eugénio Lima, achou a história muito
mal contada. “É estranho que esse sen-
hor tenha deixado uma quantidade tão
grande de material na rua, depois do
embargo das obras. Podemos estar per-
ante uma manobra para encontrar um
bode expiatório para esta estória”,
disse fonte daquela esquadra com
quem Já conversou.
Tentámos falar com o agente Delgado
sobre o assunto. Fomos informados
que tinha acabado de sair. Podemos,
entretanto, avançar que já foram notifi-
cados os colegas do fiscal da CMP, que
participaram na operação de embargo,
a fim de serem ouvidos em declara-
ções.
Brasil, foi avistado por Farroba. Este
aproximou-se de pistola em punho e
disparou à queima-roupa. Motivo?
Ajuste de contas entre gangs rivais, vio-
lência que se prolonga há muito na
Achada de Santo António: Farroba,
integra o bando de Brasil; Alex perten-
cia ao grupo de Achada Riba.
Periodicamente surgem notícias de
confrontos entre os gangs nesta zona da
Praia. A Polícia, de vez em quando
aparece, mas é impotente para pôr
cobro a esta situação. Na terça-feira,
mais uma vida ceifada.
6 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010

cá se fazem
Euforia, esperança, onda de vitória. Não há outras palavras para
descrever a forma como Carlos Veiga foi recebido em toda a ilha
de Santo Antão. Se a natureza vestiu a ilha de verde, as pessoas
vestiram as localidades e as ruas de esperança a cada passagem
do líder do MpD

Santo Antão saiu às ruas

para abraçar Carlos Veiga
C
onsciente da sua provável escolha
para liderar os destinos de Cabo Verde
a partir das próximas eleições legisla-
tivas, o líder ventoinha continua o seu périplo
pelo país à procura da actual e verdadeira rea-
lidade. Em Santo Antão contatou e foi abraça-
do por milhares de pessoas ao longo de cente-
nas de quilómetros de carro e dezenas de
quilómetros a pé, de casa em casa, de caminho
em caminho, de olhar em olhar, “mon na mon”
com aquele povo cabo-verdiano. Encontrou
populações abandonadas e esquecidas ao
longo de uma década, pobreza extrema,
desemprego, habitações sem as mínimas
condições de dignidade, discriminação política
descarada por parte do governo e dos autarcas
do PAICV, revolta das pessoas, e, apelos de
mudança imediata. Frases como “Deus o ajude
a voltar para o governo” ou “Sr. Veiga, o se-
nhor é a nossa salvação”, foram recorrentes na
abordagem da população a Carlos Veiga.
Nas noites de encontros com a juventude, a
euforia foi total e milhares de jovens e não
jovens encheram os espaços de Porto Novo,
Paúl e Ribeira Grande. Cantou-se e gritou-se
“Meste Mudá” e “Veiga, Veiga, Veiga…”.
Enfim, um povo sábio que, apesar da sua
pobreza e isolamento, sabe o que quer e recon-
hece em Carlos Veiga o único líder capaz de
tirar o país do pantanal em que se encontra.

Empresa cabo-verdiana aposta em boas práticas
O Certificado
TECNICIL celebra prestígio
e reconhecimento internacional
A marca Trindade tem razões
para estar feliz.
A certificação de qualidade
alimentar entregue por
reputada empresa
internacional, assinala anos de
trabalho pela afirmação de
uma marca que, agora, tem
mais argumentos para se
afirmar no mercado exterior
Alfredo Carvalho
P
ela primeira vez, uma empresa cabo-
verdiana foi certificada com o sistema
de segurança alimentar (Certificação
ISO22000). Trata-se da Tecnicil Indústria, de-
tentora da marca Trindade, que desde há 11
anos distribui no mercado as suas águas e
refrigerantes. Para assinalar o feito e celebrar o
prestígio decorrente, a empresa juntou, a 2 de
Novembro, no Hotel Trópico (Praia) várias per-
sonalidades, clientes, consumidores, trabalha-
dores e comunicação social numa sessão solene
que antecedeu um jantar servido aos convida-
dos, e que contou com a presença do primeiro-
-ministro, da ministra do Turismo, Comércio e
Produtos Trindade, marca de qualidade
Barbara Faria da Garantia
notícias do jet-set
Marisa Araújo do BAI
Olvao Correia e Jorge Benchimol
Indústria, bem como de outros membros do
governo.
Júlio Almeida, administrador-delegado da
Tecnicil, não cabia em si de contente ao dirigir-
-se, emocionado, aos convidados. Para o admi-
nistrador, a conquista agora plasmada pela cer-
tificação, foi resultante de anos de trabalho
árduo e empenhamento dos seus colaboradores
que, aliás, num gesto de grande simbologia
foram contemplados com diplomas de mérito e
reconhecimento. Diplomas, aliás, também
entregues a clientes, fornecedores e consumi-
dores – neste caso, em particular – representa-
dos por duas crianças que, simbolicamente, fir-
Júlio Almeida não cabia em si de
contente ao dirigir-se,
emocionado, aos convidados. Para
o administrador, a conquista agora
plasmada pela certificação, foi
resultante de anos de trabalho
árduo e empenhamento dos seus
colaboradores
Os directores...
Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 7
Simão Monteiro
maram o futuro de uma empresa permanente-
mente apostada no desenvolvimento de boas
práticas e na segurança alimentar.
A certificação, entregue por representante da
empresa que documentou o processo e realizou
aturado controlo e recomendações, integral-
mente satisfeitas pela Tecnicil, é válida por três
anos. Aos convidados foi dada oportunidade de
perceberem o rigor e o grau de exigência que
antecede a certificação, por aturada explanação
do representante da TUV Rheinland, Portugal –
empresa internacional líder no mercado das cer-
tificações de qualidade, em particular na área
alimentar.
José da Rosa
... e os trabalhadores entre a assistência
8 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010

o que por aí vai

Onde pára o Prémio Cidade Velha?

Voragem eleitoralista
rapa verbas
da Cultura
O “desaparecimento” do Prémio Cidade Velha (entrou no esquecimento como o ALUPEC, outra
menina dos olhos de Manuel Veiga) é intrigante. Diz-se que o Ministério da Cultura está de
bolsos vazios…

O
Prémio Cidade Velha levou
sumiço. Foi “inventado” por
Manuel Veiga, o anterior mi-
nistro da Cultura (de José Maria Ne-
ves), teve pompa e circunstância como
um dos principais prémios da Cultura
cabo-verdiana, foi atribuído e
entregue em 2008, depois o prémio
escapuliu – ninguém mais ouviu falar
dele.
Criado em 2003, com o valor de 700
contos, em 2008 foi aumentado para
1000 contos. Em 18 de Outubro (Dia
Nacional da Cultura) do ano passado,
foi atribuído a Elias Alfama Moniz,
professor universitário, pelo seu
ensaio "Africanidades e eurocentris-
mos em pelejas culturais e educa-
cionais no fazer-se histórico de Cabo
Verde".
O que aconteceu a este prémio que, no
gongórico linguajar governativo, pre-
tende chamar a atenção de Cabo Verde
e do mundo para a "importância da
Ribeira Grande de Santiago (Cidade
Velha) e estimular a investigação, a
interpretação e o conhecimento da rea-
lidade sócio-cultural cabo-verdiana”?
Passou 2009, chegou 2010, celebrou-
se o 18 de Outubro, mas do Prémio Ci-
dade Velha… nada! No Berço da Na-
ção, a reportagem de Já apenas encon-
trou encolher de ombros. O autarca
Manuel de Pina esclarece: “O Prémio verbas. Era uma aposta forte do
Cidade Velha? Boa pergunta. Criaram próprio IIPC, o Instituto andou a bater
o Prémio, ninguém falou com a Cida- à porta da Câmara Municipal da Ri-
de Velha. Entregaram o Prémio, nin- beira Grande de Santiago para que, ao
guém falou com a Cidade Velha. O menos, custeasse a ida de um grupo de
Prémio levou sumiço? Também nin- batukaderas a Gorée: todavia, a Câma-
guém falou com a Cidade Velha”. ra, em consequência da política hostil
do Governo, também se encontra na
Onde param as verbas? penúria. Comitiva cultural para Go-
O nosso jornal sabe rée? Não houve.
que o “esquecimento” Correm rumores de Se há quem lembre, em
governamental relati- que o Ministério da louvor de Manuel Vei-
vamente ao prémio Cultura, agora liderado ga, um velho ditado
causa engulhos nos português (“depois de
meios culturais. Pre- por Fernanda Marques, mim virá, quem bom
tende-se saber o que se está descapitalizado. de mim fará”), há tam- Manuel Veiga “esquecido” por Neves
passa, porque é que No IIPC há queixumes: bém quem aponte às
deixou de ser atribuído
e entregue no Dia Na-
“não há dinheiro para necessidades propa-
gandísticas de José
vestigasse onde param alguns milha-
res de contos (mais de 50 mil), que te-
que uma boa parte dos espetáculos e
atos que celebraram as efemérides
cional da Cultura. Cor- mandar cantar um Maria Neves, que tudo rão sido desviados para financiar foram subsidiados na origem
rem rumores de que o cego”, é o que se diz. tem sacrificado às pre- necessidades de propaganda. O Pré- (Portugal, Brasil, Angola) e por enti-
Ministério da Cultura, Ainda recentemente, mências de um eleito- mio Cidade Velha também foi levado dades privadas, que funcionaram
agora liderado por Fer- ralismo que devora o nessa voragem”. como mecenas e “cobriram” o que já
nanda Marques, está houve que abdicar de erário público e semeia vinha patrocinado de fora. Então se
descapitalizado. No se levar uma o deserto em sua volta. Mistérios paicvianos comentou, em meios que estiveram
IIPC há queixumes: importante comitiva “Seria bom que fi- Há uma explicação aparente para a ligados aos festejos: “ou alguém se es-
“não há dinheiro para zessem contas ao que volatilização do orçamento cultural: tá a encher, ou estão a captar-se fundos
mandar cantar um ce- cultural a Gorée, no se passa na Cultura, os elevados gastos havidos com as cel- para as campanhas”.
go”, é o que se diz. Senegal, por falta de que está a ser uma es- ebrações dos 550 Anos do Achamento São mistérios paicvianos. Fora de dú-
Ainda recentemente, verbas pécie de saco azul que de Cabo Verde e o 35º Aniversário da vidas: é matéria que Governo e
houve que abdicar de o Governo vem rapan- Independência. No entanto, se foi PAICV devem esclarecer. Há que
se levar uma importante comitiva cul- do” – disse ao Já alguém conhecedor muito o dinheiro “consumido” em fes- aguardar. Afinal, a verdade é como o
tural a Gorée, no Senegal, por falta de dos meandros. “Seria bom que se in- tejos que encheram o olho, a verdade é azeite. Vem sempre ao de cima.

Neves arde no Fogo

“Em nenhuma ilha o embate eleitoral está ganho”
O presidente do PAICV, José
Maria Neves, admitiu no último
fim-de-semana na ilha do Fogo que
afinal, “kau sta mau” entre os tam-
barinas e que apesar da euforia “em
nenhuma ilha o embate eleitoral está
ganho”. O primeiro-ministro avisa
que “é preciso trabalho árduo, e fazer
política com humanismo e humil-
dade” para ganhar as eleições.
Na abertura do ano político na ilha do
vulcão com uma afluência de pouco
mais de centena e meia de populares –
e que deixou o correspondente de
“asemana on-line de queixo caído -,
JMN disse também que o seu partido
vai às eleições "com naturalidade e
com toda tranquilidade", porque no
seu entender “Cabo Verde está a mu-
dar e PAICV é força desta mudança”.
A abertura do ano político aconteceu
no polidesportivo Simão Mendes, em
S.Filipe. De acordo com “asemana
on-line” – jornal próximo do PAICV -
, a má organização do evento, que
contou com pouca ou nenhuma divul-
gação, foi uma das causas apontadas
por dirigentes locais numa ilha tida
como baluarte dos tambarinas para
tão pouco público.
Mas dados recolhidos por Já, apon-
tam para um natural desencanto dos
foguenses em relação a JMN que só
vai ao Fogo para lançar pedras.
Inaugurações nem vê-las. São dados
que apontam para o despertar da ilha
em relação à propaganda do governo
que mantém os foguenses ao total
abandono e com altas taxas de desem-
prego e pobreza.

sem tirar nem pôr
PAICV faz propaganda à custa dos contribuintes
Inocêncio desbarata
erário público
É um escândalo! Sob o patrocínio do ministério e a contribuição generosa de empresas públicas,
o partido de José Maria Neves “exalta ao patriotismo” à imagem de Salazar, Hitler e Estaline
D
esde Junho, sob determinação
do Ministério das Infra-estru-
turas, Transportes e Teleco-
municações, numa ação que se vai pro-
longar até Dezembro – em previsível
véspera de eleições –, a RTC e a
TIVER, onde pontifica como presiden-
te o também ex-assessor do ministro
Manuel Inocêncio Sousa (sinal de es-
tranha promiscuidade entre comunica-
ção social e poderes públicos), estão al-
ternadamente a levar para o ar publi-re-
portagens de contornos eleiçoeiros,
pomposamente chamadas “Documen-
tários com informação educativa e pro-
mocional patriótica”.
Desde logo, sem desprimor de análise
mais atenta, como adiante se lerá, rete-
mo-nos na expressão “informação edu-
cativa e promocional patriótica”, coisa
que tresanda a salazarismo de aviário –
e que avivará a memória dos mais ve-
lhos, de um passado colonial onde a
Mocidade Portuguesa pontificava pela
“educação de exaltação patriótica” (vi-
de, propaganda da época) -, ou ainda as
ditaduras da Europa de Leste, de cuja
iconografia e verborreia o partido do
governo – como uma sarna – nunca se
conseguiu libertar, pese embora a sua
adesão apressada à chamada “Interna-
cional Socialista”, autêntico saco de
gatos de convívio entre neo-liberais e
relapsos estalinistas recauchutados…
Um documento esclarecedor
Mas, continuando, o ministro Inocên-
cio – em documento a que o Já teve
acesso –, para além dos frémitos de
“exaltação patriótica”, exorta empre-
sas públicas e/ou com capitais públi-
cos a contribuírem solidariamente,
manifestando o “privilégio de agra-
decer o envolvimento, da forma pos-
sível [mas que supomos generosa –
nr], e com os montantes possíveis”,
indo mais além ao apelar a “Em-
presas de Construção e outros organ-
ismos que atuam nos setores dos
mais diversos temas a serem abor-
dados” (sic). Percebe-se porquê: en-
tão, não é o Inocêncio responsável (e
regulador) das obras públicas? E não
será suposto as empresas de constru-
ções quererem estar nas boas graças
do ministro de Neves? Mais, ainda:
não é o espertalhão Inocêncio sócio
da TECNICA – empresa privada que
fiscaliza obras públicas? Empresa
essa responsável pela fiscalização da
obra da Estrada da Ribeira da Torre,
Ribeira Grande de Santo Antão, que
aluiu com as chuvas de Outubro –
enferma de erros de conceção e
desenho do traçado – que, segundo se
prevê, poderá custar ao erário público
um prejuízo na ordem de meio
milhão de contos? Como se percebe
o Inocêncio não está Inocente! Po-
rém, sabe-a toda…
Fazendo a apologia dos 17 do-
cumentários (com 25 minutos) de
propaganda do governo, cujo valor
total de custos não nos foi possível
Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 9
determinar, mas que previsivelmente
– pela natureza dos preços de pro-
dução praticados no mercado –
orçará em muitos zeros contabilís-
ticos, o documento em referência tem
aposto, logo na primeira página, o
generoso contributo da ASA - E.P.,
O exemplar do documento
Empresa Nacional de Aeroportos e
Segurança Aérea que, por determi- a que tivemos acesso
nação do seu presidente, Mário
Paixão, avança com uns generosos 2
mil e quinhentos contos.
tem aposto o generoso
Apagar a História contributo da ASA que,
Da generosidade dos figurantes no
“portal de altos patrocinadores”,
como escreve o ministro, não nos foi
por determinação
possível aferir. Mas, em razão directa
das empresas “convidadas” – além da do seu presidente,
ASA, surgem CV Telecom, Enapor,
TACV e Electra – e constantes do
documento, é de supor que a delapi-
Mário Paixão,
dação do erário público atinja verbas
de considerável montante. avança com uns
Se dúvidas houvesse sobre a natureza
propagandística dos “documentários
patrióticos”, bastaria ater-nos ao apo-
generosos 2 mil
logético (e esclarecedor) trecho do
texto em apreço: “É assim que este e quinhentos contos
Media quente [o sublinhado e des-
taque é do próprio ministério - nr] no
sentido de levar a cumprir os obje-
tivos específicos de explorar e exaltar
os mais diversos ganhos que Cabo
Verde tem tido na convergência de
múltiplos setores de que o Ministério
das Infra-estruturas, Transportes e
Telecomunicações, na ação estratégi-
ca ao longo dos anos, com destaque
dos anos de 1990 a esta parte” [o su-
blinhado é nosso].
Entende-se: segundo a velha lógica
fascista e/ou estalinista havia que
apagar os 10 anos de governação do
MpD… e fazer passar o PAICV – es-
petro da ditadura de partido único –
como força motriz da “abertura do
país às reformas democráticas pluri-
partidárias em 1991” [diz-se, ainda,
no documento]. Como se o partido de
Neves não tivesse sido obrigado às
ditas reformas por força da deter-
minação, coragem e querer coletivo
das mulheres e homens livres de Ca-
bo Verde!
10 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010
grande reportagem
O Mercado do Plateau é uma instituição da Praia, espaço repleto de história
viveu a ditadura do partido único e rejubilou com os alvores da democracia.
Entre a tradição e a modernidade
Gente feliz com
Reportagem: António Alte Pinho e Zuca Moniz
Fotografia: José Ramos
ão quase 7 horas da manhã de
S um sábado prazenteiro quando
a equipa de reportagem do Já
chega ao mercado. O corrupio
dos vendedores havia começado mais
cedo, fazem-se as últimas transações
antes da abertura ao público, trocam-se
produtos por moeda, num negócio pa-
ralelo que cimenta ligações entre ven-
dedores com pedra paga e as rabidan-
tes que estendem os produtos no aces-
so ao mercado.
Os cheiros são intensos, as frutas entre-
Plateau
cruzam apelos olfativos com as ervas de
cheiro que a jovem crioula exibe apelan-
do à compra. O sorriso das mulheres do-
mina o espaço e envolve-nos com inten-
sidade, porque, mais do que qualquer
estratégia de venda, o sorriso é coisa que
lhes vem da alma, desse tão antigo Ser
cabo-verdiano que – mesmo na adver-
sidade - encontra sempre uma abertura
de oportunidade e de esperança.
E há um receio sentido – infundado, di-
ga-se –, uma incerteza quanto ao futu-
ro do mercado, alimentado por oposi-
tores da atual vereação da Praia. Para
que se relembre, uma das propostas
eleitorais da equipa liderada por Ulis-
ses Correia e Silva foi a reativação dos
mercados da cidade que, por anos e
anos de incúria e abandono, haviam
chegado a uma situação de rotura es-
trutural, funcional e sanitária. A Câma-
ra eleita empenhou-se nesse projeto e
são visíveis as alterações efetuadas,
nomeadamente: o mercado do peixe de
Sucupira, bem como o mercado adja-
cente, estão aí para se perceber as mu-
danças, as reformas e melhoramentos.
E o plano prevê a criação de condições
condignas em todos os pequenos mer-
cados locais.
Falta de comunicação
Ao contrário dos receios, será provisó-
ria a transferência das vendedeiras do
Plateau que, após as obras de remode-
lação, regressarão ao mercado por di-
reito próprio. Mas as queixas são, fun-
damentalmente, resultantes de um cer-
to bloqueio de comunicação entre a
Câmara e as pessoas que ali laboram –
uma brecha aproveitada pelos “pesca-
dores de águas turvas”, apostados em
campanhas insidiosas contra os res-
ponsáveis autárquicos.
As taxas aplicadas são, também, moti-
vo de descontentamento. Nandinha
queixa-se do preço de entrada das car-
gas no mercado. Cem escudos por 3
volumes parece-lhe elevado, porque se
quiserem fazer um stock de produtos o
preço dispara, o que a deixa revoltada.
Por isso, Nandinha e mais quatro cole-
gas foram conversar com os funcioná-
rios do SEPAMP (serviço da Câmara
que superintende os mercados), mas a
situação mantém-se. Nandinha não de-
sarma e desabafa: “nos ki ta bem de fo-
ra, nu sta tudo prejudicado, mas só 5
alguén ca ta resolve es problema li,
preço sta caro di mas. Nu sta li pamodi
nós vivência li ki sta, nu ta bem cu
ideia ma nu ta atcha um catchupa”.
Ser solidário
Os problemas são muitos, mas não são
comuns a todas as vendedeiras. Do ou-
tro lado da moeda está Geralda Sanches
Martins, que vende no mercado há 22
anos e, desde essa altura, tira daí o sus-
tento da família. Além de ser o braço
direito do lar, Geralda também se pre-
ocupa em ajudar as colegas que passam
por dificuldades várias, devido à falta
de espaços para exporem os produtos.
Yaya - como é conhecida – decidiu, há
anos, comprar os produtos para reven-
da nas ruas do mercado, nas compa-
nheiras que se deslocam do interior pa-
ra venderem a grosso na Praia. Graças
a esse espírito de entreajuda que carate-
riza os cabo-verdianos, essas também
tiveram melhorias significativas nas
suas vidas. Além dessas companheiras,
Geralda dá produtos aos mais vulnerá-
veis para revenderem nas suas zonas e
pagarem no dia seguinte. São essas
obras que fazem Yaya destacar-se, o
que faz dela uma mulher orgulhosa e
credora da consideração dos colegas.
João Fernandes, de 50 anos, também
passa a maior parte do tempo no mer-
cado e, em conversa com o Já, revelou
que vende no espaço há cerca de 12
anos e que, apesar de não ganhar mui-
to, se diz satisfeito com a vida que le-
va, sentindo prazer naquilo que faz.
Por outro lado - confessa -, o que ganha
não é suficiente para resolver os pro-
blemas, mas vai dando para sobreviver.
A mesma opinião é partilhada por
Agostinha Sanches, de 77 anos, que
desde muito cedo ganha a vida como
vendedeira. Atualmente vende ervas
medicinais e garante a eficácia das
mesmas, mas desabafa: “kel ki nu ta
ganha li, ka ta da pa paga pedra, mas ta
da pa vive, pa tem um djanta tudo dia”.
Indira, 22 anos, trabalha na peixaria e,
para garantir o seu sustento e do filho
que está para vir, tem um princípio: tra-
ta bem os clientes por mais exigentes
que sejam, para que voltem mais vezes
e sintam que são atendidos com satis-
fação.
O espaço é frequentado por todo o tipo
de pessoas e cada uma com a sua parti-
cularidade. Os profissionais que ali es-
tão, na sua maioria mulheres, são
exemplos de pessoas batalhadoras que
deixam as suas casas e filhos de ma-
nhãzinha e só regressam com o pôr-
-do-sol, como a maioria dos cabo-ver-
dianos que penosamente ganham o pão
de cada dia.
Apesar de tudo, as frequentadoras mais as-
síduas afirmam que estar no mercado é
aprazível e funciona como a segunda casa.
Um bairro
com História dentro
Segunda casa, diga-se de passagem, já
inadequada às necessidades dos tem-
pos modernos e às exigências de quali-
dade e higiene próprias de uma socie-
dade que, cada vez mais, sente preocu-
pações ao nível do consumo, nomea-
damente o de produtos alimentares.
Herdeiro do período colonial, o Mer-
cado do Plateau, outrora espaço de es-
tratificação social, onde só tinham
guarida vendedores, senhoras dos co-
lonos e respetivas serviçais, tornou-se,
com a independência da Pátria, pólo de
diversidade e de confluência popular,
ganhando por essa via outro colorido e
outra força representativa. Democrati-
zou-se o mercado à afluência, ao mes-
mo tempo que a sociedade dava os pri-
meiros passos para a democracia, há

viva. Foi testemunha da ignomínia colonial,
Vai agora ser alvo de requalificação
lágrimas
Do velho se faz novo, ou
seja, preservando a malha
histórica de um tempo
remoto, fundindo-a com
os novos conceitos
da modernidade, parece
ser o mote assumido pela
Câmara Municipal da Praia
u
20 anos, depois de quinze de partido
único e mão pesada.
O Plateau, não o mercado em particu-
lar, mas o bairro – ainda num período
anterior à construção do mercado -, es-
tá marcado como ferrete na História e
na consciência patriótica deste povo.
Símbolo da dominação portuguesa, ali
se concentrava o comércio, os “senho-
res” e a administração colonial. No jar-
dim fronteiro ao edifício onde é hoje a
Câmara Municipal, corria a última me-
tade do século XIX, habitava “Sua Ex-
celência” o governador. Ao jardim
fronteiro estava vedado o acesso aos
crioulos, não fossem os ventos inde-
pendentistas de Ponta Belém – mesmo
ali ao pé – incendiar ímpetos secessio-
nistas, ganhando “almas” para a revol-
ta que gritava muda pelos becos, pelas
ruelas estreitas, pela memória ances-
tral dos escravos.
Fazer do velho, novo
O ousado projeto municipal para a
reconversão do Mercado do Plateau,
integrado num plano mais vasto de or-
denamento e valorização do bairro, co-
locando-o cada vez mais à fruição pú-
blica, quer pelo conceito mais vasto de
conquistar espaços aos caos automo-
bilístico, quer promovendo a rua como
espaço de afirmação de cultura e con-
vívio coletivos, irá, seguramente, mar-
car o mandato de Ulisses Correia e Sil-
va. Porque, depois de anos e anos de
imobilismo e demagogia populista,
sob o reinado de Filú – que se julgava
imutável, mais por supor ser o povo
estúpido do que por auto-convenci-
mento da “excelência de obra feita” -,
a cidade começa a dar passos seguros
no sentido da sua modernização e re-
novação urbana.
Do velho se faz novo, ou seja, preser-
Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 11
Ao contrário dos
receios, será
provisória a
transferência das
vendedeiras do
Plateau que, após as
obras de
remodelação,
regressarão ao
mercado por direito
próprio. Mas as
queixas são,
fundamentalmente,
resultantes de um
certo bloqueio de
comunicação entre a
câmara e as pessoas
que ali laboram
vando a malha histórica de um tempo
remoto, fundindo-a com os novos con-
ceitos da modernidade, parece ser o
mote assumido pela Câmara Munici-
pal da Praia que tem, para o Mercado
do Plateau, projeto audaz que irá de-
correr em duas fases distintas – e cujo
concurso público foi agora anunciado Nandinha
pela autarquia.
A primeira fase contempla a edifica-
ção, no rés-do-chão, de um parque de
estacionamento para clientes, vende-
dores e administração, bem como de
81 módulos de venda (com 9 metros
quadrados) e uma creche e jardim-de-
-infância para os filhos dos vendedo-
res. O primeiro piso, para além de mais João
63 módulos, irá comportar uma Câma-
ra de frio para conservação de produ-
tos alimentares, bem como um espaço
de exposição/venda de artesanato, e
um pólo de arte e de cultura.
A segunda fase contempla a cons-
trução do segundo piso, comportando
33 módulos de venda de produtos, 9
para fast food, bem como um restau-
rante popular com espaço para 216 Indira
pessoas. O terceiro piso (último elo do
projeto), vai ter 49 módulos, um cyber-
caffe, uma livraria/papelaria, para além
de um pequeno parque lúdico.
O fio condutor deste inovador projeto,
reside no conceito arquitetónico de
Shopping Center –, mas valorizando a
estrutura inicial do mercado. Uma
ideia e um projeto que, a par da uma a- Agostinha
ção ordenada de requalificação urbana,
pode fazer sair a Praia do período de
trevas a que a anterior administração
de Filú a havia votado, principalmente
ao não ter posto fim ao caos urbanísti-
co que carateriza a cidade, e desbara-
tando fundos públicos em megaloma-
nias faraónicas, nomeadamente a bi-
zarra ideia de construir “a maior ár-
vore de Natal de África”, que custou Yaya
milhares de contos ao erário público.
12 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010
isto vimos
Pilotos e Administração em rota de colisão
Nuvens de turbulência
na TACV
Depois de um período de aparente acalmia, no qual a Associação dos Pilotos tinha deixado o piloto automático conduzir as
relações entre a Administração da TACV e os seus associados, eis que surge no ar a tendência favorável para o surgimento
de turbulências nas relações entre António Neves e a classe
A
gota de água terá sido a entre-
vista que António Neves con-
cedeu ao jornal A Nação onde
responsabiliza os pilotos pelos proble-
mas da companhia. Ao jornal “A
Semana”, o presidente da Associação
dos Pilotos, Lito Semedo já vai avisan-
do que se o PCA “quer guerra, vai tê-
la”.
Na referida entrevista, Neves disse
haver pilotos da TACV que pensam que
poderiam estar na Air France ou na
Singapore Airlines, contrapondo
Semedo que há colegas que recente-
mente estiveram na TACV e agora se
encontram a trabalhar em companhias
aéreas na Suiça, no Qatar e agora na
Guiné Equatorial. “Queremos ver o
António Neves, nem que seja por 10
minutos, numa dessas companhias. Ele
é gestor apenas na TACV”, disse Lito
Semedo.
Face à atitude do PCA da TACV, os
pilotos vão cumprir à risca os regula-
mentos, significando isso que vão
deixar de voar no seu período de folga
(como tem acontecido, para que alguns
voos se efetivassem), o que vai criar
enormes transtornos à companhia, prin-
cipalmente agora que nos aproxi-
mamos do período de Natal.
Neves escreve
aos trabalhadores
Entretanto, fontes bem informadas na
empresa dizem-nos que “sempre que as
coisas apertam pelos lados da TACV,
Tony Neve decide escrever uma carta
aos colaboradores”. A última que saiu
dos seus punhos tem causado gargal-
hadas monumentais no seio dos traba-
lhadores. Mas, em privado, e longe dos
ouvidos dos “bufos e bufas” que ale-
gadamente tem na sede e no aeroporto.
Nesta última carta, António Neves
regozija-se primeiro pela vitória da
companhia: ter conseguido o COA
(Certificado de Operador Aéreo) por
um ano. Mais adiante defende-se que
nenhum familiar “é protegido na
TACV” e que “não despediu piloto tostões que deve ao PNC mas tem eleições é quase certo que o Conselho gases raros que pairam na sede) que no
nenhum”. milhões para comprar um avião. “É de Administração caia, nada melhor de Natal vai haver prémios “só para os
“Não é bem verdade”, dizem as nossas regra dos fabricantes de aviões, você que um contrato por mais três anos. O bons profissionais”, porque é preciso
fontes: “a atual diretora financeira da compra, então tem direito a uma comis- Estado teria de os indemnizar, obvia- distinguir “aqueles que merecem
TACV é radiologista de profissão, há são”. Cada um que tire as suas ilações. mente. daqueles que não merecem”.
anos que veio do Hospital da Praia para Principalmente numa altura em que se “Só não disse, é como irá fazer essa
a empresa onde recentemente teve uma fala que o mandato de dois anos do
Prémio de Natal… triagem. Se o próprio vai receber esse
ascenção meteórica, conseguindo ultra- atual Conselho de Administração ter- só para alguns prémio de Natal” e se “serão os bufos e
passar vários profissionais formados e minou em Julho e estes recusaram uma Ainda em relação à carta, António bufas a escolherem os sortudos”. Existe
com competência para preencher o renovação por mais um ano. Tanto Pereira Neves não termina a sua missi- uma terceira hipótese: a poucos meses
cargo”. A irmã gémea de José Maria Neves como Georgina Melo querem va aos trabalhadores sem antes avisar (e das eleições e com o irmão candidato a
Neves e mana de Tony Neves (Maria um novo contrato de 3 anos. Como o confirmar que tem “bufos e bufas” na mais um mandato, deixar de fora todos
José) esteve na empresa com João governo pode mudar nas legislativas do empresa, que estarão a ouvir nos corre- aqueles que se identificam com o maior
Higino, com Gilles Filliatreault, mas próximo ano, e caso o MpD vença as dores e a contar-lhe todos os arrotos e partido da oposição.
nenhum deles se lembrou da colabo-
radora para o cargo.
Neves não respeita a lei
Quanto ao piloto, “não só o despediu
como até a última sexta-feira (5 de
Novembro) não o tinham readmitido e
reenquadrado na empresa, conforme
nova decisão do Tribunal do Trabalho e
que António Neves teima em não
acatar.
Na missiva, falou dos subsídios que
decidiu reduzir ao Pessoal Navegante
de Cabine (PNC), classe, a quem fez
juras de amor, e a quem teima em
ressarcir do seu dinheiro, mesmo
depois de decisão judicial. Há casos em
que a TACV vai ter de pagar mais de
400 contos a trabalhadores, a quem o
PCA decidiu unilateralmente retirar os
direitos adquiridos, enquanto Neves
continua a assobiar para o lado.
Pediu maior profissionalismo aos PNC
e aos pilotos de ATR e falou da novi-
dade que já tinha anunciado no seu jor-
nal de eleição: apesar dos problemas de
tesouraria, do incumprimento da
empresa para com os trabalhadores, Tanto Neves como Georgina Melo querem um novo contrato
Tony Neves considera ser fundamental
a renovação da frota jet, ou seja, o PCA de 3 anos. Como o governo pode mudar nas legislativas do próximo
quer comprar mais um Boeing ou
Airbus, e avança que isso deverá acon-
ano, e caso o MpD vença as eleições é quase certo que o Conselho
tecer “nos próximos poucos meses” de Administração caia, nada melhor de que um contrato por mais
(antes das eleições?). “Aí, a gargalhada
foi geral”, acrescentam as nossas três anos. O Estado teria de os indemnizar, obviamente
fontes. António Neves recusa pagar uns
 Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 13

nota$ solta$
Bolsas de estudo: façamos contas

Números oficiais
arrasam
propaganda do governo/PAICV
Num dos outdoors de propaganda do governo/PAICV, pago pelos impostos dos
cidadãos, pode ler-se que foram atribuídas 18.000 bolsas de estudo nos dez anos dos
dois mandatos de JMN. Comparando a propaganda (nos outdoors) com o que é dito
pelo próprio Ministério da Educação, ME, na brochura “Cabo Verde e a Educação,
Ganhos e Desafios”, publicado em Junho de 2010, constata-se que estamos perante
“publicidade enganosa” – o que, nos termos da lei, é crime público

T
ome-se como referência a bro-
chura do ME, publicada há
seis meses – é documento ofi-
cial, do próprio governo. Aí se apresen-
ta, no quadro 6 inserto na página 19, o
número de novas bolsas e subsídios
atribuídos ano a ano. Ver, na Tabela 1,
o resumo.
Portanto: o total acumulado de bolsas e
subsídios concedidos pelo governo en-
tre 2001 e 2009, segundo o próprio
ME, foi de 4.048. Não oferece dúvidas:
são os dados do departamento gover-
namental da área da educação que
mostram que o governo atribuiu nos
seus dois mandato, 4.048 bolsas, en-
quanto a propaganda nos outdoors
governamentais diz que o governo
atribuiu 18.000 bolsas no mesmo pe-
ríodo.
A isto não é possível fugir: o ME des-
mente frontalmente a propaganda do
governo/PAICV e revela que o número
de bolsas e subsídios corresponde ape-
nas a 1/5 das 18 mil bolsas propagan-
deadas nos seus outdoors. Chamando
os nomes aos bois: apresentando dados
falsos, o governo/PAICV mente aos ci-
dadãos. Multiplica os números do ME
atribuiu este ano (2010) 5.000 bolsas contos. Isto é, apenas 13,7 mil contos
Tabela 1 de estudo, contra as 4.000 atribuídas o foram pagos em 2009 a novos bolsei-
Número de novas bolsas concedidas pelo governo ano passado (2009)”. Se interpretarmos ros. O remanescente está afeto às bolsas
as tais 4 mil bolsas como o acumulado atribuídas em anos anteriores. Simples
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 em finais de 2009, esse número con- e direto, e talvez a pecar por excesso.
Nº de novas bolsas 404 424 350 357 450 528 472 417 646 trasta com a propaganda mentirosa do Mas se o governo/PAICV diz que
Total acumulado 404 828 1178 1535 1985 2513 2985 3402 4048 governo/PAICV das 18 mil bolsas. Se atribuiu 646 novas bolsas em 2009
for interpretado como novas bolsas, (vide o quadro anterior), dividindo
Fonte: ME “Cabo Verde e a Educação, Ganhos e Desafios”, Junho 2010
então o seu valor mensal seria tão irri- 13.676 contos por 646, encontra-se o
sório (apenas 284$00), que nem vale a valor médio anual das novas bolsas,
Tabela 2 pena discutir tal possibilidade. que é de 21.170$00 e o valor médio
Novas bolsas de estudo concedidas mensal 1.764$00.
Ainda mais contas O valor é tão irrisório que, mesmo nes-
2005 2006 2007 2008 2009 Mas façamos mais umas contas. Quan- te caso, a conclusão é direta: o gover-
Número de novas bolsas 450 528 472 417 646 to gastou na totalidade o Governo em no/PAICV mente sobre o número de
Valor total bolsas (000 ecv) 282.318 313.961 359.283 374.699 388.375 bolsas de estudo no ano 2009? Informa bolsas de estudo que atribuiu.
a documentação do próprio governo: Os números dos últimos cinco anos são
Valor total das novas bolsas (000 ecv) 31.643 45.322 15.416 13.676
388.375 contos (fonte: Contas do Es- resumidos na Tabela 2.
Valor médio anual das novas bolsas (000 ecv) 59,930 96,021 36,969 21,170 tado de 2009, publicadas no site do É assim: em desespero de causa, e para
Valor médio mensal das novas bolsas (000 ecv) 4,994 8,002 3,081 1,764 Ministério das Finanças, rubrica tentar atirar poeira aos olhos dos cabo
Fontes: ME Cabo Verde e a Educação - número de bolsas Bolsas de Estudo, mapa II-1.2. código -verdianos, a propaganda eleitoralista
MF - Contas do Estado - Valor total das bolsas 03.05.03.02). E quanto tinha gasto em do governo/PAICV envereda pela
2008? Informação do próprio governo: intrujice, esquecendo-se que os seus
por 4 ou 5, e diz aos cidadãos: vejam tes, quando atentamos nas afirmações 374.699 contos (mesma rubrica da con- próprios números o desmentem. É
como eu sou bom, como sou capaz de recentes do próprio Diretor Geral do ta do Estado de 2008). mais fácil apanhar o aldrabão que o
inventar e multiplicar bolsas para vos Ensino, e comparamos com os famosos Ou seja, o montante atribuído a novas coxo. Apesar desta propaganda a si
enganar! 18 mil da propaganda outdoor do gov- bolsas em 2009 é, grosso modo, a dife- mesma se desacreditar, Já continuará a
A manipulação e a falsidade desta pro- erno/PAICV. Segundo esse alto respon- rença entre esses dois valores (388.375 desmontá-la – porque só a verdade nua
paganda tornam-se igualmente eviden- sável do setor da Educação, o Governo e 374.699 contos), o que perfaz 13.676 e crua verdadeiramente interessa.

De positivo, só a cobrança de impostos em Cabo Verde

Números do Banco Mundial descredibilizam Economia

O s dados sobre a desastrosa situa-
ção económica em Cabo Verde
continuam a chover, em catadupa, so-
bre o governo do PAICV, contrariando
os discursos otimistas e laudatórios de
José Maria Neves: os números publi-
cados na semana passada pelo “Doing
Business 2011” colocam Cabo Verde
na 132ª posição entre 183 países no
“ranking” sobre “Facilidade para fazer
negócios”. Indicadores que não cre-
dibilizam a imagem do país no exterior
nem constituem fator de confiança
para empresários e investidores. Ape-
sar disso, alguma comunicação social
“alinhada” e simpática enfatiza a su-
bida de dez lugares no referido relató-
rio, omitindo a dura realidade: Cabo
Verde continua a figurar abaixo da me-
tade da tabela e até desceu em alguns
subtemas considerados chave, como é
o caso das “permissões para constru-
ção”, com uma descida de 5 lugares
(84 para 89); “conseguir crédito”, dois
lugares (150 para 152); e “proteção dos
investidores”, um lugar (131 para 132).
O País manteve-se estável, mas igual-
mente nivelado para baixo, nos subte-
mas “cumprimento de contratos” (38ª
lugar) e “fecho de negócios” (183ª e
última posição), este último item sinto-
mático para aquilatar da falta capaci-
dade do governo em avançar com no-
vos projetos estruturantes de desenvol-
vimento e do ceticismo evidenciado
pela classe empresarial em conseguir
novos parceiros. Um aspeto negativo
contrariado no mesmo “ranking”, no
capitulo “Iniciar um negócio”, onde se
registou uma subida de 19 lugares
(138ª para a 120ª posição) – ou seja: há
projetos que arrancam mas “morrem
na praia”, sendo apontado como um
dos fatores para esta situação as difi-
culdades de acesso e o elevado custo
do crédito, de que é paradigmática a
situação do setor da Construção, onde
o indicador de confiança dos investi-
dores resvalou para a linha vermelha.
De positivo no «ranking», de assinalar
que a subida mais acentuada (43 luga-
res) ocorrem no tópico pagamento de
impostos: Cabo Verde ascendeu da
143ª posição para a 100ª (apesar de,
como noticiou o Já, José Maria Neves
e o director-geral do Fisco fugirem ao
pagamento dos impostos), impondo-
se, por isso, a seguinte pergunta: para
onde vai o dinheiro pago pelos contri-
buintes se a economia continua esta-
gnada? Será que apenas reverte para as
obras de fachada de que tem sido pró-
digo JMN nos últimos tempos no fre-
nesim de tentar enganar o povo à cata
de votos?
14 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010

coisas do mundo
Costa do Marfim
No rescaldo da derrota democrata
Presidenciais vão
a segunda volta
A grande incógnita mantém-se:
terá a Costa do Marfim
condições para ultrapassar
um historial de instabilidade
política e pronunciamentos
bélicos?

Obama C ontrariando as suas previsões, menos do que 11 candidaturas. Mas os

Laurent Gbagbo irá disputar a
segunda volta das eleições presidenci-
ais da Costa do Marfim com o seu
arqui-rival e antigo primeiro-ministro
Alassane Ouattara.
resultados eleitorais estão a ser contes-
tados pelo PDCI que apontou “opaci-
dade” de procedimentos e “atrasos
injustificáveis” – o que não deixa de
ser interessante, por razão de vir de um

sitiado
Gbagbo, historiador e líder da Frente
Popular Marfinense (FPI), obteve 38,3
porcento dos votos expressos, contra
38,08 do seu mais próximo adversário,
líder da União dos Republicanos
(RDR). O ex-presidente Henri Konan
Bédié, que ficou em terceiro lugar,
partido que foi responsável por uma
feroz ditadura que privou o povo
marfinense da liberdade e da vivência
democrática.
Num país dominado pela instabilidade
política, pelos golpes e pronunciamen-
tos militares, mas que é também um

pelos republicanos candidatou-se com o apoio do Partido

O ressentimento dos conservadores e da extrema-direita pela eleição de um presidente
negro, materializado em aturado trabalho de sapa e desinformação, aliado às dificuldades
de comunicação da Administração, permite compreender a vitória republicana
O Esquerda cúmplice
resultado das eleições ame-
ricanas assinala um revés
para as políticas liberais
defendidas por Barack Obama. Ao
perder a maioria que detinha no
Congresso para o adversário republi-
cano, mas ainda assim conseguindo
resistir no Senado, os democratas
registam a primeira derrota eleitoral
desde que, em 2008, uma nação
cansada do desnorte da Adminis-
tração Bush, elegeu o primeiro presi-
dente negro da História dos Estados
Unidos da América (EUA).
Mais do que uma vitória republicana,
a derrota de Obama é resultante do
trabalho de sapa promovido pelo
movimento informal “Tea Party”,
ligado aos sectores mais conser-
vadores da sociedade americana - e
profundamente influenciado pela
extrema-direita -, que nunca aceitou
de bom grado a eleição do presidente
e soube capciosamente manipular a
opinião pública.
Numa primeira análise, importa reter
que há algum descontentamento
popular, mais por dificuldades de
comunicação do que por demérito
das políticas defendidas por Barack.
E esse é o fio condutor que explica a
derrota. A euforia da vitória nas pre-
sidenciais fez baixar a guarda demo-
crata e deu armas aos adversários.
Democrático da Costa do Marfim
(PDCI) – o partido único que gover-
nou o país durante vários anos -, de-
posto em 1999 por um golpe militar
que abriu caminho à democracia for-
dos maiores produtores mundiais de
cacau, tendo sido até considerado o
país mais rico da África Ocidental
francófona até ao golpe de Estado de
1999, é grande a expectativa para a
segunda volta das presidenciais –
mal. provavelmente a ter lugar em 28 de
As eleições registaram uma profusão Novembro -, prevalecendo a dúvida
de candidatos para todos os gostos. legitimada pela História: entrará a
Além dos três já referidos, apresen- Costa do Marfim na senda de um
taram-se a sufrágio nada mais, nada Estado de Direito democrático?
Dilma dá sinais
canos, não entenderam o essencial. É
que os ataques a Obama, no atual
dos falcões contexto, rotulando-o ingenuamente
Obama é um homem sitiado. Depois
da – assim entendida por muitos –
“revolução social”
de “chefe imperialista”, ao contrário
de empurrarem os EUA para uma
política de paz e coex-
África no centro
das atenções
que constituiu a apro- istência, dão mais
vação do seu plano de força aos grupos de
saúde, o presidente pressão conservadores
viu agora, também, que, a pretexto da
sufragada a discreta crise e da perda de Antes mesmo de se conhecer quem será quem no Governo de
(mas, de algum modo, influência da super- Dilma, a Presidente eleita do Brasil acompanhou Lula da Silva,
segura) inversão da potência, pretendem Presidente cessante, numa viagem de dois a Moçambique
política externa ameri- um retrocesso na linha
cana.
Com Obama, a situa-
moderada da nova
administração ameri-
A viagem da dupla Lula-Dilma a
Maputo tem especial significa-
do: Lula quis vincar, em jeito de des-
Mas outras indicações que chegam
do Brasil apontam para que Dilma
Roussef se dispõe a dar mais subs-
ção alterou-se. É in- Mais do que uma cana. pedida, dois eixos da política externa tância ao relacionamento Sul-Sul, o
questionável que a
vitória republicana, a Concorde-se ou não
com as posições do
que inculcou na potência brasileira – que pode projetar dinâmicas novas
presença militar ame- o eixo Sul-Sul, que fez de Brasília para os países africanos de expressão
ricana no Iraque tem derrota de Obama e presidente americano, grande protagonista de uma irman- portuguesa. Quanto ao eixo lusófono
vindo a decrescer e dos democratas é os EUA de hoje têm dade afro, ganhando aí força para - também segundo o “diz-se”, de que
que, ao nível da NA- resultante do uma postura comple- lançar as cartas na roleta interna- a imprensa brasileira é fértil – aí é
TO, já se começa a tamente diferente do cional; e o eixo da lusofonia, guinan- que a porca pode torcer o rabo para o
equacionar a possibili- trabalho se sapa tempo em que pontifi- do a capital brasileira a mater de um parceiro português: Dilma estará far-
dade de, num prazo re- promovido pelo cavam os “falcões” na espaço político em fase de orfan- ta das encolhas e engonhas de Lis-
lativamente curto, pro- movimento informal Casa Branca. E isso dade, por força da inoperância, trau- boa, disposta a dizer aos portugueses
ceder à saída do con-
tingente militar inter-
“Tea Party”, ligado à tem o ADN de um
homem talhado para a
mas e capitulação política do gover- “decidam-se de uma vez por todas,
no português. ou querem ou não querem”. Se Por-
nacional. E isto tem, extrema-direita política no universo Por seu turno, Dilma-acompanhante- tugal continuar a coçar as costas, o
inegavelmente, o selo enriquecedor dos mo- de-Lula parece evidenciar que esses Brasil pode entender que o eixo lusó-
de Obama. vimentos sociais americanos e da dois eixos do lulismo são para ter fono é afinal parte do eixo Sul-Sul e,
A América está a mudar, mas a es- intervenção cidadã, agora de algum continuidade (elemento significante em consequência, deixar Portugal
querda europeia e os populistas modo abalada pela vitória republi- para a leitura dos dias que aí vêm). entregue ao fado e à saudade.
“esquerdofrénicos” latino-ameri- cana.
 Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 15

polichinelo Aviso à navegação:

polichinelo é sátira e xuxadera. Aqui não se respeita ninguém: são ditas as coisas sem recato. É o reino da má-língua, pura
e dura. A quem tenha temores e pudores, um conselho: não leia. Quem goste de rumores e tenha bons humores, leia, leia!

Então diga lá, sr. Armindo
N a rota do uísque ianque, Armindo Maurício ocupa-se, durante uns dias, das
mazelas tambarinas em terras do Tio Sam: parece que a coisa está brava entre
os amarelos dos States e que há muita lenha a rachar. O pobre não vai ter grande
folga para uns drinks de Black Label, pelo que Polichinelo manifesta-lhe aqui a sua
solidariedade. E ainda há aquela trapalhada toda do recenseamento que o bom do
Sidónio andou por lá a baralhar, com o know-how de tais coisas que se lhe reco-
nhece.
Mas as azáfamas de Maurício no país de Obama não são nada comparado com o
que o espera no regresso à Praia. Polichinelo sabe que há por aí uns malvados que
se preparam para o questionar, mal ponha os pés no aeroporto Francisco Mendes:
“Então diga lá, sr. Armindo, onde é que o PAICV foi escarafunchar dinheiro para
pagar a sua massiva campanha de outdoors em curso? Depois que você lançou o
repto ao MpD para esclarecer os cabo-verdianos sobre o financiamento da sua
campanha, impõe-se agora que tenha a disponibilidade para você mesmo apresen-
tar as suas próprias contas. E dessa já não se safa. Então diga lá, sr. Armindo”.
!?!
Quebradores de santo !!
A novela dos “quebradores de santo”, ocorrida há 14
anos, tem agora continuidade: com o arquivar do
processo, por prescrição, e as reações dos que tinham sido kasu-bodi
acusados de profanadores (politizando a questão e procu-
rando utilizá-la como arma de arremesso contra Carlos “As críticas do Presidente
Veiga), fica demonstrado que nesta tropelia houve e há
muito jogo subterrâneo. Polichinelo recorda-se bem que, do MpD não têm fundamento
há 14 anos, quis-se responsabilizar o governo MpD pelas
profanações dos templos católicos, procurando-se atirar a
e revelam um total desespero
Igreja contra o movimento democrático. E Polichinelo de quem está a sentir a
recorda-se também que de imediato houve quem torcesse
o nariz a tal balela: não fazia sentido. A verdade é que derrota em Santo Antão.
depois do regresso do PAICV ao poder houve o “milagre”
- não se registaram mais casos de “quebradores de santo”.
Prova isso, o facto de o
E, agora, estando a luta política a aquecer, o caso é retira- presidente do MpD, Carlos
do, por via do seu arquivamento, da muita poeira da
Procuradoria da República e, através da situada “Nação”, Veiga, ter sido recebido com
posto à disposição para o que der e vier: adivinha-se que
será matéria para a mais baixa intriga política. E
indiferença em todas as
Polichinelo faz contas de cabeça: “quebradores de santo” localidades da ilha”
serviram, há 14 anos, para se tentar indispor a Igreja con-
tra o governo MpD; passada a governação MpD, deixaram Carlos Alberto Delgado,
de existir “quebradores de santo”; agora o PAICV está em presidente da Comissão Política
dificuldades perante o MpD, volta a falar-se em “que-
bradores de santo”. Ora, se dois mais dois são quatro e
do PAICV em Santo Antão
quatro mais quatro são oito…
Moral da história: Delgado ou
é surdo, ou é cego ou escapou
para S. Vicente enquanto Veiga

boka bedjo andou por Santo Antão.

Indubitavelmente: é delgado de
inteligência.

“Ainda bem que Cabo Verde

LADRA!!! está a mudar”
Felisberto Vieira (Filu)
Amem. Se até Filu se
entusiasma com a onda do
Mesti Muda…

MIAU!
Ternura familiar
Por Decreto-Presidencial nº 20/2010, de
4 de Outubro, o Presidente da República,
comandante Pedro Pires, nomeou
Edeltrudes Rodrigues Pires Neves como
membro do Conselho da República. Esta
nomeação comoveu profundamente
Polichinelo, que descobre nela o nobre
sentimento da fraternidade, que honra os
grandes homens. É que
Edeltrudes Rodrigues
Pires Neves é, nada
mais nada menos,
irmã de Pedro
Pires. E estando
Pedro Pires quase
em fim de mandato,
esta especial ternura
pela família
evidencia o enorme
coração do ainda
Magistrado
Supremo.
16 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010

em jogo
Futebol: S. Vicente Jogo de preparação marcado para terça-feira

Mindelense empata Derby

no torneio de abertura
O Derby e o Mindelense
encerraram a 4ª jornada
do torneio de Abertura
em S. Vicente com um
empate a duas bolas
numa partida que muitos
não irão esquecer tão
cedo devido ao futebol
praticado pelas duas
equipas. Do lado derbiano,
Gaussou e Kula
Cabo Verde
apontaram os golos
enquanto o lateral do
Mindelense, Guga, bisava
com novidades frente à

O
jogo foi marcado por muita
agressividade e logo aos
cinco minutos o Mindelense
perdeu o defesa Vally. Numa disputa
de bola pelo ar, Vally chocou com o
avançado derbiano Danny Koué e teve
de ser transportado ao hospital.
Nos primeiros 15 minutos, alguns
jogadores poderiam ter abandonado o
relvado mais cedo. Como foi o caso do
trinco dos leões, Sténio, que por duas
vezes fez entradas violentas sobre o
adversário com o árbitro Victor Lima a
condescender. Aliás, não foi caso
único durante toda a partida, que teve
entradas violentas, punidas apenas
com o cartão amarelo.
Só aos 19’ é que o jogo começou a ter
outro rumo, com as equipas à procura
do golo. Guga não fez o primeiro para
o Mindelense porque o guardião Vavá
desviou a bola para a barra. O Derby lá
conseguia alguns remates sem muito
perigo para a baliza adversária, à guar-
da de Vozinha. Ambas as equipas cria-
vam lances de perigo mas falhavam na
finalização.
No segundo tempo foi o Derby a criar
o primeiro lance de perigo, através de
um cabeceamento de Bamba que pas-
sou rente ao poste do Mindelense.
Aos 70’, o Derby chegou à vantagem
por intermédio de Gaussou, após
cruzamento de Caconhe. O Minde-
lense ficou em desvantagem no placar
e um minuto depois reduzido a dez
unidades depois duma entrada de-
sumana de Nhambú sobre o autor do
golo. O central e capitão do Minde-
lense agrediu Gaussou com um pon-
tapé na cabeça e foi expulso.
O treinador Almara teve que reformu-
lar a sua defesa, entrando Django que
viria a estar envolvido numa grande
penalidade a favor dos azuis e brancos.
Mas antes, aos 87’, o Mindelense
chegou ao empate num golo que
levantou o Estádio Adérito Sena. Guga
rematou cruzado pelo lado esquerdo
(30m) e a baixa estatura de Vavá foi
na partida
suficiente para que a bola acabasse no
fundo das redes do Derby.
O empate moralizou o vivenciou o
jogo e as claques que se levantavam
para apoiar as suas equipas. Aos 93’ o
Mindelense deu uma cambalhota no
marcador e passou para a frente,
através dum erro clamoroso do árbitro
que não assinalou uma falta anterior de
Djassa sobre o central derbiano Kula.
No seguimento do lance Kula escorre-
gou e caiu com a mão esquerda em
cima da bola. Guga voltou a marcar na
partida, desta vez, de grande penali-
dade. Foi uma loucura no estádio vivi-
do pelos adeptos do Mindelense que
viram a sua equipa passar para a frente
do marcador.
Quando já se adivinhava a vitória dos
leões, o central Django resolveu fazer
um disparate na sua área e cometeu
penalti. Estavam decorridos 95’ de
jogo. Chamado a converter o castigo
máximo, Kula restabeleceu a igual-
dade, mesmo no final da partida.
Guiné Bissau
O guarda-redes Nelson, os defesas João Vicente e
Josimar, o médio Odair e o avançado Helton são as
novidades da convocatória do selecionador nacional
Lúcio Antunes para o amigável contra a Guiné Bissau,
na terça-feira, 16, em Portugal
O jogo marcado para o Restelo, em
Lisboa, vai servir de preparação
para o encontro da 3ª jornada das elim-
(Corunha, Espanha), Josimar
(Willem II, Holanda), Gêgê
(Trofense - Portugal), Tony Varela
inatórias para o CAN 2012, em Março, (Waalwijk, Holanda) e João Vicente
no Estádio da Várzea, frente à Libéria. (Moreirense - Portugal).
Ficaram de fora da lista, o guarda-re- Médios: Guy Ramos (Dordrecht,
des Ernesto, os lesionados, Marco Holanda), Dário (Sporting da Praia,
Soares, Zé Luís e Moreno. Cabo Verde), Roni (Fola,
Luxemburgo), Odair (Stade Reims,
Eis a lista dos convocados: França), Babanco (Arouca, Portugal)
Guarda Redes: Fock (Ceuta, e Sita (Marítimo, Portugal).
Espanha) e Nelson (Louletano, Avançados: Helton (Grenoble,
Portugal) França), Lito (Portimonense,
Defesas: Nando (Banik Ostrava, Portugal), Heldon (Marítimo,
República Checa), Fernando Varela Portugal), Dady (Bucaspor, Turquia)
(Trofense, Portugal), Stopira e Ryan (Havre, França).

Boavista conquista
“Supertaça Mundinho”
O Boavista da Praia venceu a Supertaça Mundinho frente ao Sporting da Praia,
por 4 a 2, na marcação de grandes penalidades depois do nulo verificado
durante o tempo regulamentar. Num jogo de início de temporada e com
poucos lances de verdadeiro perigo junto das balizas, os axadrezados
conquistaram o primeiro troféu da época. Com uma particularidade: os
penalties foram apontados quando já caía a noite na Várzea
PUB
18 • Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010

cachupada
Conto infantil

Horóscopo De 7 a 13 de Novembro

Carneiro Leão Sagitário

21-3 a 20-4
Carta Dominante: O Louco, que significa
Excentricidade.
Amor: Sentir-se-á muito alegre e bem-disposto.
Aproveite bem este momento.
Saúde: Esteja mais atento às suas necessidades
fisiológicas. Consuma alimentos ricos em ferro.
Controle o seu sistema nervoso para que a sua
saúde não saia prejudicada.
Dinheiro: Assuma com responsabilidade os seus
compromissos profissionais. Honre a sua
palavra.
Número da Sorte: 22
Números da Semana: 10, 1, 4, 7, 8, 9
Dia mais favorável: quarta-feira
Lema da Semana: Nunca deixo de sonhar!
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 11
23-7 a 22-8
Carta Dominante: 9 de Copas, que significa
Vitória
Amor: Entenda os pontos de vista do seu par e
procure entender que cada pessoa tem a sua
própria personalidade.
Saúde: Viverá momentos de grande agitação
mental. Tire uma hora no final do dia para
relaxar.
Dinheiro: Dê mais valor às relações entre os
colegas. O bom ambiente ajuda a aumentar a
qualidade do trabalho.
Número da Sorte: 45
Números da Semana: 12, 14, 15, 7, 8, 9
Dia mais favorável: segunda-feira
Lema da Semana: Venço as minhas
fragilidades!
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 15
21-11 a 20-12
Carta Dominante: Cavaleiro de Ouros, que
significa Pessoa Útil, Maturidade
Amor: Trabalhe mais o seu lado espiritual, pois
isso vai ser bastante útil para controlar os seus
impulsos.
Saúde: Procure fazer uma vida mais saudável.
Alie a alimentação equilibrada à prática de
exercício físico.
Dinheiro: Uma promoção poderá recompensar o
seu esforço. A partir de agora aja de forma a
corresponder a este voto de confiança.
Número da Sorte: 76
Números da Semana: 6, 9, 4, 10, 20, 30
Dia mais favorável: quinta-feira
Lema da Semana: Tenho maturidade para tomar
as decisões certas.
Horóscopo Diário - Ligue já! 760 30 10 19

Touro Virgem Capricórnio

21-4 a 21-5
Carta Dominante: Ás de Espadas, que significa
Sucesso
Amor: Controle os ciúmes. Não seja tão
possessivo com a pessoa amada pois esta pode
sentir-se sufocada. Dê-lhe espaço para se
23-8 a 22-9
Carta Dominante: 10 de Espadas, que significa
Dor, Escuridão
Amor: Procure passar mais tempo com a sua
família. Será benéfico para todos.
Saúde: Tendência para algum mau humor e
21-12 a 20-1
Carta Dominante: 7 de Espadas, que significa
Novos Planos, Interferências
Amor: Os laços familiares fortalecer-se-ão e a
paixão vai tomar conta de si.
Saúde: Beba sumos naturais para fortalecer o

Mia, a baleia do Bairro Manguí-XV

movimentar.
Saúde: Pratique um desporto relacionado com a
água. O seu organismo necessita do contacto
com este elemento para se sentir bem e
equilibrado.
Dinheiro: Poderá enfrentar uma situação difícil
no seu ambiente laboral. Procure estar longe dos
conflitos.
Número da Sorte: 51
Números da Semana: 10, 2, 4, 5, 8, 7
Dia mais favorável: sexta-feira
Lema da Semana: Eu mereço ter sucesso!
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 12
Gémeos
21-5 a 20-6
Carta Dominante: Valete de Paus, que significa
Amigo, Notícias Inesperadas.
Amor: Contribua para a harmonia familiar com
uma boa base de compreensão. Não acredite em
boatos sobre uma pessoa da sua família. Procure
saber a verdade através de uma conversa com a
pessoa sobre quem falam.
Saúde: Avalie o seu estado de saúde de uma
forma consciente. Procure o seu médico de
família.
Dinheiro: O seu desempenho profissional será
recompensado. Boas notícias a nível financeiro.
Não desperdice oportunidades.
Número da Sorte: 33
Números da Semana: 23, 5, 6, 15, 14, 8
Dia mais favorável: quinta-feira
Lema da Semana: A vida reserva-me muitas
surpresas.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 13
Caranguejo
21-6 a 22-7
Carta Dominante: 4 de Espadas, que significa
Inquietação, agitação
Amor: Combine um jantar onde possa reunir
todas as pessoas que são importantes para si.
Ajudá-lo-á a sentir-se melhor.
Saúde: Evite abusar do café, pois pode
provocar-lhe fortes dores abdominais.
Dinheiro: Mostre o que vale e será bem
sucedido. Não tema demonstrar as suas
verdadeiras capacidades.
Número da Sorte: 54
Números da Semana: 3, 6, 8, 4, 12, 11
Dia mais favorável: terça-feira
Lema da Semana: Aprendo a tranquilizar a
minha mente.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 14
irritabilidade. Faça exercícios de auto-controlo.
Cuidado com o que come, corre o risco de ter
uma crise de fígado.
Dinheiro: Aprenda a ser um bom gestor das suas
poupanças. Aos poucos irá ver a diferença na sua
conta. Não seja demasiado tolerante. Podem
aproveitar-se da sua boa vontade.
Número da Sorte: 60
Números da Semana: 20, 8, 5, 45, 41, 33
Dia mais favorável: domingo
Lema da Semana: A luz da Fé dá-me força em
todos os momentos.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 16
Balança
23-9 a 22-10
Carta Dominante: A Roda da Fortuna, que
significa que a sua sorte está em movimento.
Amor: Opte pela tolerância para resolver os seus
problemas afectivos. Veja-a como uma virtude.
Motivos familiares podem deixá-lo de mau
humor. Não se deixe abalar, resolva as coisas
com calma.
Saúde: Faça uma alimentação mais equilibrada.
O seu organismo agradecer-lhe-á.
Dinheiro: Semana muito favorável sob o ponto
de vista profissional. O seu trabalho será
reconhecido.
Número da Sorte: 10
Números da Semana: 22, 33, 44, 4, 8, 5
Dia mais favorável: quarta-feira
Lema da Semana: a vida é uma viagem cheia
de surpresas.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 17
Escorpião
23-10 a 21-11
Carta Dominante: Morte, que significa
Renovação.
Amor: Evite conflitos com familiares por causa de
assuntos financeiros. Dê um passo de cada vez em
prol da harmonia.
Saúde: Sentir-se-á cheio de energia e vitalidade.
Aproveite para praticar exercício físico.
Dinheiro: Procure não exigir tanto dos outros.
Invista num negócio, pois o seu sector financeiro
está bastante favorecido.
Número da Sorte: 13
Números da Semana: 2, 5, 8, 1, 11, 3
Dia mais favorável: segunda-feira
Lema da Semana: Todos os dias são bons para
começar de novo.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 18
organismo com vitaminas.
Dinheiro: Rentabilize o seu dinheiro e invista
em algo que lhe permita amealhar alguns lucros.
Número da Sorte: 57
Números da Semana: 25, 14, 36, 8, 9, 11
Dia mais favorável: segunda-feira
Lema da Semana: sou persistente nos meus
planos, não desisto!
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 20
Aquário
21-1 a 18-2
Carta Dominante: 9 de Paus, que significa
Força na Adversidade
Amor: Um pequeno desentendimento poderá
fazer com que ponha em risco uma amizade de
longa data. Mantenha a calma.
Saúde: O seu descontentamento com a sua
silhueta levá-lo-á a pensar seriamente em fazer
uma dieta.
Dinheiro: A sua força de vontade será
determinante para ultrapassar um desafio
profissional. Continue empenhado.
Número da Sorte: 31
Números da Semana: 11, 14, 44, 5, 8, 7
Dia mais favorável: sábado
Lema da Semana: Tenho ainda mais força nos
momentos difíceis.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 21
Peixes
19-2 a 20-3
Carta Dominante: 4 de Copas, que significa
Desgosto
Amor: Torne os seus sonhos em realidade,
declarando o seu amor à pessoa que preenche o
seu coração.
Saúde: Semana sem grandes problemas ao nível
da saúde. Mantenha o equilíbrio.
Dinheiro: Avalie bem as suas potencialidades,
pois as mudanças de ocupação estão favorecidas.
Lute pelos objectivos que pretende atingir a nível
profissional.
Número da Sorte: 40
Números da Semana: 6, 9, 41, 40, 2, 23
Dia mais favorável: quarta-feira
Lema da Semana: a confiança em mim mesmo
ajuda-me a superar qualquer desgosto.
Horóscopo Diário Ligue já! 760 30 10 22
O avô Irondino estava à janela da sua casinha, «pé na chon», a fumar o seu
velho cachimbo, quando os amiguinhos do bairro Manguí chegaram.
Vinham ainda com o coração a bater forte com a emoção de terem falado com a
sereia-baleia e de serem agora guardadores de um segredo do tamanho do mundo.
– Avô Irondino, avô Irondino, afinal a sereia existe mesmo, e é a Mia! – gritaram
os três mais velhos, perante um sorriso cúmplice entre o avô Irondino e Juninho.
– Eu sei, eu sei, mas agora falem baixo, porque ainda se ouve por aí e, depois, ou
ninguém vai acreditar e vocês passam por maluquinhos, ou podem ser espiados e
mal tratados…
– Mas avô, ela quer falar consigo. Disse para o avô passar pelo Porto Velho, aman-
hã, a esta hora. Não vai?
– Ainda não sei, ela sabe que é perigoso para ambos, mas talvez vá.
– E depois conta-nos? – perguntou Juninho.
– Vamos ver, vamos ver…
O que os meninos não sabiam é que o avô Irondino já há muitos anos que conhe-
cia a sereia! Só não sabia que era Mia. Tinha sido há mais de trinta anos que ela
lhe tinha aparecido, ali mesmo, no Porto Velho de Manguí, e lhe tinha falado do
seu bairro no fundo do mar, de como as pessoas viviam em liberdade, com
amizade, sem medo dos que mandavam e sempre com comida para sobreviver!
Não havia uns com mais do que outros e todos respeitavam as opiniões uns dos
outros!
Foi nesse tempo que o avô Irondino começou a dizer no bairro que havia outros
bairros bem diferentes do de Manguí e a falar da sua liberdade. Foi nessa altura
que os senhores que mandavam no bairro, na Ilha e no Arquipélago, mandaram
prender o avô Irondino, acusando-o de ser doido e traidor! Bateram-lhe, tortu-
raram-no, obrigaram-no a passar fome e quase o deixaram morrer na cadeia para
onde iam as pessoas que pensavam de maneira diferente dos governantes. Era
assim nesse tempo! Todos os que passaram por isso foram marcados pelos gover-
nantes dessa altura com uma tatuagem de uma estrela negra, que nunca mais sai
do corpo e dói muito na memória dessas pessoas…
Entretanto os anos foram passando, o povo revoltou-se e conseguiu criar outra
maneira de viver, onde todos podem falar, onde são as pessoas que escolhem
quem vai mandar no bairro, na ilha e no arquipélago, onde as opiniões são
respeitadas. Chamaram a isso «democracia».
Talvez fosse sobre isso que Mia queria falar com o avô Irondino e saber se as
coisas estavam melhor. Avô Irondino estava com receio de falar com a sereia
porque sabia que ela não ia gostar de saber que, de uma forma diferente, as coisas
não estavam muito bem e que se os amiguinhos do bairro Manguí fossem atrás do
seu entusiasmo, eles e os pais ou mães poderiam ter problemas…
Como será a conversa da sereia com o avô Irondino? E depois haverá problemas
para ele ou para os meninos do bairro Manguí?
José Braga-Amaral
 Já • Quinta-feira 11 Novembro 2010 • 19

cachupada
Telenovelas PALAVRAS CRUZADAS
RECORD • Ribeirão do Tempo
Horizontais:
1 – Mossas; Suprir.
2 – Pira; Poesia própria para canto; Jarro
(planta).
3 – Ama de leite; Resina da elemineira; O.
4 – Lamiré.
5 – Pilha; Mais longe que.
6 – Não ignora; Esvaziar.
7 – voz unânime (fig.); Estavam.
8 – Grande arara preta.
9 – Nome que os antigos, no Egipto, davam ao
Sol; Arriosca (prov.); Aspecto.
10 – Alna; Empregue; Manta de lã
grosseira, em uso na Turquia.
Nicolau anuncia casamento com Arminda 11 – Deus da sátira e do riso (pl.); Tiras à força.

F ilomena e Tito estão diante da juíza, que fala sobre a importância do casamen-
to. Marisa explica a Esculápio que não foi ao casamento, pois o solar não é
lugar para ela. Filomena lê um poema romântico. Ela e Tito colocam as alianças
Verticais:
1 – Falar com dificuldade (fig.); Disfarçam
(fig.).
um no outro. André e Sérgio estão reunidos na praça com um grupo de jovens dis- 2 – Além disso; Emprego frequente;
cutindo sobre a última mensagem do Comando Invisível quando Sónia chega e Aniversário natalício.
beija o namorado. Cardoso chega um pouco depois e fica a observar os jovens. A 3 – Aqui; Afasta para o mar largo; Antes do
juíza declara Filó e Tito casados. Karina esbarra numa jarra de vinho e chama a meio-dia (abrev.).
atenção de todos. Cardoso liga para Ajuricaba e diz que Sónia está com uns ami- 4 – Prepara.
gos conversando numa praça. Léia cumprimenta Clorís e Flores e dá uma alfine- 5 – Planta do pé; Sapos das regiões
tada neles. Nicolau cumprimenta Tito e Filó. Tito fica irritado. Ari discursa na amazónicas.
festa de casamento. Ajuricaba dispensa Cardoso e vai atrás da filha. Sónia está 6 – Pessoa astuta; Herdades divididas por
marcos.
abraçada com André, que se esconde logo que vê o delegado. Nicolau avisa aos
7 – Salvei; Formes em alas. RA; AROLA; AR. 10 –ANA; USE; ABA. 11 – MOMOS; SACAS.
convidados que o futuro prefeito de Ribeirão vai falar. Querêncio diz algumas 8 – Pessoa meiga (Bras.). SABE; OCAR. 7 – CORO; E; ERAM. 8 –O; ARARAMA; I. 9 –
palavras bonitas. Sérgio explica a Ajuricaba que eles estão organizando uma hom- 9 – A parte mais larga do remo; ELEMI; EL. 4 – A; ALAMIRE; A. 5 – RUMA; O; ALÉM. 6 –
enagem surpresa ao diretor do colégio. Lílian vai até a Folha da Corredeira e diz Agarrara-se (a planta) com as suas Horizontais: 1 – BOCAS; REPOR. 2 – ARA; ODE; ARO. 3 – BA;
a Lincon que está preocupada com a função dela no jornal. Karina faz um brinde gavinhas; Antes de Cristo (abrev.). Soluções:
ao casal, elegante, mas venenosa. Ajuricaba conta a Virgínia que montou uma 10 – Peça; Período; Parte que rodeia
campana para vigiar Sónia. André propõe a Sónia que eles abram o jogo com exteriormente a boca do chapéu.
Ajuricaba. Lílian conta a Lincon que se sentiria útil se pudesse ser secretária dele. 11 – Cortam rente (uma árvore); Propósitos.
O jornalista gosta da ideia. Filó percebe que Ellen está triste e diz-lhe que logo o
pesadelo vai passar. Marisa chega ao casamento no final da festa. Zuleide ampara
Karina que não se contém e explode num choro. Arminda pega o bouquet de
Filomena e sorri sem jeito. Nicolau empolga-se e anuncia que em breve vai se
casar com a executiva. Joca quase desmaia.
Boa Mesa Farmácias
de serviço
SIC • Passione Restaurante “O Poeta” Praia
Ponto de encontro e 11/11 - Farmácia
Moderna
12/11 – Farmácia Central

de famosos grelhados 13/11 – Farmácia Santo

António
espaços mais requintados da capital. 14/11 – Farmácia
Com uma vista panorâmica, o restau- Africana
rante tem como especialidade polvo 15/11 – Farmácia
grelhado com legumes, uma iguaria
Avenida
muito apreciada por aqueles que por
Bete recebe Carta anónima ali passam. Igualmente aos Sábados a 16/11 – Farmácia Santa

C lara atende Totó e Felícia na cantina. Saulo promete vingar-se de Mauro.

Bete repreende Melina por humilhar Diana na metalúrgica. Agostina exige
que Berilo se divorcie de Jéssica. Candê dá o endereço de Agostina para Mimi.
música ao vivo é um dos atrativos que
tem transformado “O Poeta” como
Isabel
17/11 – Farmácia
espaço para bons encontros. Go-
Totó fica perturbado com a presença de Clara e desculpa-se com Felícia. vernantes, Corpo Diplomático acre- Universal
Amendoim pede abrigo na casa de Candê e implora que ela não o devolva para a ditados no país, têm ali o seu poiso 18/11 – Farmácia 2000
família que o adotou. Felícia tenta convencer a mãe a avisar ao abrigo sobre a pre- predileto.
sença do menino em sua casa. O menu tem como destaque os
Clara afirma a Kelly que Totó não quer mais ficar com ela. Gemma fica surpresa
famosos grelhados, mas também, uma S. Vicente
ao saber que Clara está a trabalhar. Fred comenta com Melina sobre o desfalque
ocorrido na metalúrgica. Brígida flagra Antero com uma foto antiga de Gemma.
Diógenes fala de Benedetto a Bete e avisa a Antero que Olga testará os dotes de O Restaurante “O Poeta” é um dos
mais prestigiados espaços gas-
tronómicos da capital cabo-verdiana.
dimensão diversificada, onde o cliente
tem liberdade de escolher e poder
apreciar a gastronomia nacional, e não
11/11 – Farmácia
Avenida
jardineiro do seu irmão. Gemma recebe Mimi e Benedetto na sua casa. 12/11 – Farmácia Leão
Lorena discute com Stela por ter voltado a encontrar-se com Agnello. Adamo, A funcionar há mais de três décadas, só.
Alfredo e Agnello animam-se com o treino de Gerson. Danilo vende o seu carro esse restaurante é, hoje, um ícone da Relativamente aos preços, há uma 13/11 – Farmácia Nena
para conseguir dinheiro. Stela descobre que Sinval lhe mentiu a respeito do irmão. Praia. Muito procurado pelos turistas, oscilação, conforme o prato. O mais 14/11 – Farmácia Higiene
Sinval declara-se a Fátima e Mônica surpreende os dois. Melina ameaça demitir e também por nacionais, “O Poeta” é barato custa 800$00, chegando ao
15/11 – Farmácia Jovem
Laura se ela não confirmar a Bete a história que inventou sobre Diana. Fred insin- propriedade de Elias Sousa Ramos, mais caro que pode ir aos 2.200$00. A
ua com Noronha que sabe da sua cumplicidade com Saulo no golpe contra a met- desde de 1999, sendo este o seu pró- verdade é que “O Poeta”, pelo seu 16/11 - Farmácia
alúrgica. Brígida convida Gemma para visitá-la. Bete recebe uma carta anónima prio gerente, que não tem poupado es- requinte, marca a diferença no panora- Mindelo
revelando que Eugénio foi assassinado. forços em promovê-la como um dos ma da restauração da Capital.
 Já SEMANÁRIO GRATUITO

bai-bai
Quinta-feira 11 Novembro 2010
Escreva-nos:
semanarioja@gmail.com

Lura
entre dois mundos

Lurdes Assunção, Lura: nascida na Maternidade Alfredo da Costa, crioula de Lisboa e cidadã do Mundo, queria ser bailarina.
Aos 17 anos a música apanhou-a. É hoje referência de Cabo Verde e um caso surpreendente de sucesso internacional
menina da voz rouca e sedutora regressou In Love, onde parece perpassar alguma coisa de Are-

A em grande à terra natal dos pais, onde can- tha Franklin e de Steve Wonder, a sua primeira onda:
tou e encantou na apresentação do seu no- “Na procura do meu estilo, acabei por cair na música
vo trabalho “Best of Lura” no palco da As- americana. Embora depressa tenha percebido não ser
sembleia Nacional, na Praia, ilha de Santiago. esse o meu caminho. Não é esse o meu ‘vestido’”.
Lura é hoje imagem de marca dos cantores da luso- Com Di Korpu ku Alma e Eclipse Lura regressou a
fonia e, apesar de ter nascido em Lisboa, assume que essas mesmas origens que a levam, por muitos, a ser
- através da música - se tenta reafirmar como cabo- considerada como a sucessora de Cesária Évora.
-verdiana, talvez porque o chamamento das ilhas é Lura recusa, com sorriso modesto estampado no ros-
mais forte ou por os pais lhe terem incutido esse ape- to, fazer comparações com a «diva dos pés descal-
lo às raízes e aos cantores mais genuínos do arquipé- ços»: “Não existe uma herdeira da Cesária Évora, da
lago… ou não fosse a música cabo-verdiana, com o mesma forma que não existe herdeira da Amália. São
seu sentido nostálgico, sentimentos e emoções à sol- pessoas de um tempo, são únicas. Mas, por um lado,
ta, sempre um ponto de retorno às sinto-me lisonjeada porque não me
origens. estão a comparar com uma senhora
“O amor e a nostalgia são sempre o qualquer. A minha intenção não é
fio condutor de duas culturas que trabalhar para ocupar o lugar de al-
se cruzam e se completam, até na guém. E o respeito que tenho pela
saudade”, refere a cantora. Lura foi Cesária leva sempre a que não me
crescendo a ouvir Cesária Évora cale quando ouço um comentário”.
(que, mais tarde, a viria a adotar A sua primeira grande paixão foi o
como sua “discípula”), Bana, bailado, coisas de criança quando
Tito Paris, interpretando agora os no recreio da escola, os colegas
seus temas, assim como os de cabo-verdianos juntavam-se com
Zeca di Nha Reinalda e Manuel um “tijolo” e faziam concursos de
d’Novas, entre outros, não es- “Eu nasci em Portugal. Mas dança. “Eu achava imensa piada,
quecendo a eterna Amália – ou isso para mim nem é atraía-me imenso, até porque eu
não tivesse a morna certas sempre adorei dançar. Mas nós nas-
cumplicidades com o fado. muito importante, porque cemos para fazer uma coisa na vida
“Podemos passar por fases me sinto dos dois lados. e isso, para mim, acho que é mes-
assim: ‘De onde é que Nasci assim, os meus mo cantar”.
eu sou, afinal?’ A mi- amigos estão nos dois O convite de Juka foi o primeiro
nha mãe sempre fez grande passo. A partir daí assumiu
questão que eu começasse por lados de mim. E não faz a responsabilidade de ser cantora,
aprender a falar o português. Eu sentido nenhum distinguir “uma agradável surpresa e uma en-
sou portuguesa. Os meus colegas essas coisas” trega”. Total, tanto que a levou a
até dizem ‘que vergonha’. Mas eu compor alguns dos seus próprios
vou ser portuguesa até morrer. Eu nasci em Portugal. temas. “É verdade. No primeiro disco, eu não conhe-
Mas isso para mim nem é muito importante, porque cia compositores, fiquei com a ‘batata quente’ nas
me sinto dos dois lados. Nasci assim, os meus ami- mãos. Os cabo-verdianos e os brasileiros têm em co-
gos estão nos dois lados de mim. E não faz sentido mum essa necessidade interior de estarem agarrados
nenhum distinguir essas coisas”. a uma guitarra, a improvisar. São as tocatinas, como
Já pisou os grandes palcos do Mundo, primeiro atu- dizemos em Cabo Verde, quando nos juntamos com
ando em conjunto com Cesária Évora e agora a solo um grupo de amigos e vamos tocar”.
e por conta e risco, granjeando as atenções interna- Graças a Deus que se perdeu uma dançarina e se ga-
cionais, dando nas vistas logo no seu segundo álbum, nhou uma cantora. Di mundu pa mundu.