Вы находитесь на странице: 1из 3

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/262616931

Hegemonia às avessas: economia, política e cultura na era da servidão


financeira

Article · June 2012


DOI: 10.1590/S1981-77462012000100012

CITATIONS READS

0 1,066

1 author:

Ivan Junckes
Universidade Federal do Paraná
15 PUBLICATIONS   15 CITATIONS   

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Ivan Junckes on 14 June 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Reviews 179

Hegemonia às avessas: economia, política e banquete que se anuncia para o próximo de-
cultura na era da servidão financeira. Fran- cênio, 2008 evidencia a intensificação de uma
cisco de Oliveira, Ruy Braga e Cibele Rizek reforma às avessas, subvertida a ponto de ser
(Orgs.). São Paulo: Boitempo, 2010, 400 p. conceituada como uma contra-reforma. O con-
teúdo concedente e modernizante que carac-
Ivan Jairo Junckes terizaria uma revolução passiva é forçosamente
Universidade Federal do Paraná (UFPR) afastado no tempo e no espaço pelo aprofunda-
<ivanjj@uol.com.br> mento das persistentes práticas de precarização
do trabalho, tal aquelas assinaladas por Arne
Os 19 textos que compõem a coletânea Hegemo- Kalleberg em sua pesquisa.
nia às avessas têm o mérito de fundar, em gran- Os diversos textos promovem a percepção
de estilo, o debate histórico sobre o lulismo. As de que a combinação que nos confina à peque-
significações sobre os fatos e os principais pro- na política pouco ou nada nos indica qualquer
tagonistas desta era devem ser lidos como ten- revolução. Ante a pluralidade de posições que
ras e necessárias provocações acadêmicas. Assim induz a esquerda à comemoração pelo desnor-
o é porque as discussões sobre os fundamentos teamento da direita, o compromisso sugerido por
e os impactos econômicos, políticos e culturais Maria Elisa Cevasco em seu texto, o de uma des-
dos governos de Lula da Silva possivelmente naturalização dos horrores da vida cotidiana sob
atravessarão décadas. o capitalismo, parece-nos irrecusável. Invadir,
O desafio analítico vivido pelos autores e matar e pilhar o novo mundo fora significado,
autoras e seus leitores e leitoras é tamanho que ao longo de séculos, como descoberta e evange-
o professor Francisco de Oliveira aponta o esta- lização para a cura e a libertação. Produzido o
belecimento de uma revolução epistemológica. ocidente e acumulados os recursos para realizar
A qual apresenta, dentre outras dificuldades, a duas revoluções, a modernidade ampliou as prá-
agrura da indisponibilidade de um instrumen- ticas coloniais significando a barbárie do traba-
tal teórico adequadamente desenvolvido para lho como ordem, progresso e desenvolvimento.
sua realização. A irreversibilidade da história firma-se como
Evidência das exigências deste momento marca contemporânea porque naturalizamos a
são os diferenciais de significação do lulismo barbárie mercantil. Parecemos crer na realidade
presentes ao longo dos textos. Inicialmente, social que construímos tal qual os soviéticos
Lula é vaticinado por ter perdido inteiramente tentaram fazer da sua máquina burocrática um
o rumo logo no início de seu segundo mandato, regime produtivo. Eles, e elas, tentaram impor
e por se assemelhar a uma barata tonta que es- o normativo ao real e se deram mal, tal qual des-
vazia todo o conteúdo crítico da profícua era creve Yves Cohen em sua bela crítica ao plane-
que o antecedeu. Ao final do mesmo mandato, jamento normativo centralizado. Tanto quanto
o ex-presidente está significado com realizações os soviéticos falsificavam sistematicamente seus
próprias de um governante calculista que subs- dados para ajustá-los aos planos imperativos de
tituiu a política pela administração, com requin- seus líderes, também vivemos sob a necessidade
tes de espetáculos midiáticos diários. Indubi- de produzirmos estatísticas e relatórios que tor-
tavelmente “existe sempre uma íntima relação nam riqueza a ficção dos papéis.
dialética entre aparência e essência”, tal qual O rentismo seduz a (quase) totalidade dos
aponta Ruy Braga em sua apresentação. seres que sonham porque formaliza no saldo da
Ao longo de suas 376 páginas estão contidas aplicação financeira, seja ela a modesta poupança
discussões que se complementam de forma bas- ou o opulento mercado aberto global, o mágico
tante interessante, dentre as quais destaca-se a con- poder de, legalmente, consumir sem produzir.
tribuição de Nelson Coutinho para identificarmos Esta ficção nos implica como agentes ativos da
a composição de avanços e retrocessos da época ocultação sistemática da barbárie promovida
neoliberal. Provocados pelo texto escrito antes da pelo capitalismo rentista e de seu correlato es-
crise de 2008, percebemos que o autor antecipa-se tado de emergência tão bem discutido por Leda
a seu próprio tempo em vários questionamentos. Maria Paulani em seu texto.
Mesmo que a crise tenha sido, segundo Car- Para aplacar os temores provocados pela fi-
los Eduardo Martins, apenas um petisco para o nanceirização em nossa douta intelectualidade

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 10 n. 1, p. 177-180, mar./jun.2012


180 Resenhas

desenvolvem-se programas de domesticação ideo- A fábrica das cidades globais, descritas por
lógica, tais quais os investigados pelo professor João Sette, é um bom exemplo dessa nova arqui-
Ary Cesar Minella. Identificando as conexões tetura capturada por um urbanismo de merca-
entre associações político-ideológicas ligadas do que faz da cultura e do desenvolvimento os
às associações de classe do empresariado finan- agentes da valorização fundiária. No Brasil, há
cista, Minella revela esquemas de construção décadas arrastamos a reforma agrária por conta
da hegemonia rentista em diferentes pontos da de uma oligarquia grileira, todavia em poucos
América Latina. anos teremos campos férteis para a pirotecnia
Concentrando seus estudos transcorpo- da arquitetura da renda com uma avalanche de
rativos no complexo de formação ideológica super arenas esportivas para sediar eventos.
Center for International Private Eterprise (Cipe), Legitimados no grande público, os atrativos
o autor evidencia a atuação do Instituto Brasi- globais de concreto, cristais e aço têm sua im-
leiro de Governança Corporativa (IBCG) na defe- plantação estatizada e sua exploração privada,
sa de temas centrados na democracia e no livre tal qual ocorrido com o fantástico Domo do
mercado em programas para economistas, jor- Milênio. O estilizado circo custou ao erário bri-
nalistas, empresários e juristas que discutem o tânico quase dois bilhões de dólares e rende a
combate à corrupção, a governança corporativa, sua operadora, a O2/Telefónica S.A., o status de
a formalização econômica, a governança demo- maior promotora de megaeventos culturais do
crática, o apoio às mulheres e à juventude, a re- planeta. Semelhante cartilha, com requintes de
dução dos extremos de renda by empresariado megalomania produtiva, segue o megaprojeto
e a redução das barreiras aos negócios. Coega (energia nuclear, processamento de alu-
Dialético, Minella aponta para o tensiona- mínio, porto, complexo automotivo e petro-
mento intracapitalista provocado pela disputa leiro), relatado por Patrick Bond em seu texto
de territórios simbólicos entre os complexos de “A desorientação do ‘Estado desenvolvimen-
formação ideológica. Distintos blocos de capital tista’” na África do Sul.
financista, vinculados a distintas identidades Refletindo sobre a trajetória sul-africana,
governamentais, desenvolvem distintos progra- sobre o quanto a dominação branca miscige-
mas de expansão da sua hegemonia. Ou seja, nou-se para que a subordinação continuasse ne-
sob a mesma bandeira da democracia e do livre gra, tal qual analisado por Luís Cabaço, ques-
mercado são executados diferentes hinos por tionamo-nos um pouco mais sobre o quanto o
distintas orquestras que nos motivam para er- autoritarismo democratiza-se no Brasil para que
guer outras flâmulas e tocar outras partituras. se amplie a dominação econômica. Os textos con-
Percebe-se também, ao longo de outros tex- têm bons questionamentos sobre os limites da
tos, como esse capitalismo financeirizado vi- democracia burguesa e sobre a funcionalização
ve paradoxos admiráveis. Um deles é depender da participação popular na institucionalidade
da proteção estatal contra o próprio mercado, socioeconômica. Provocam angústias que são
uma prática típica da acumulação primitiva, confortadas no texto de Álvaro Bianchi sobre as
para fomentar arquiteturas sustentadas pela reverberações do comunismo e da emancipação
des-formidade, pela retorção, pela descons- nos espaços criados pelas crises vividas sob a
trução e des-constituição de seus objetos, tal égide neoliberal. Torna-se persistente a questão
qual descritas por Pedro Arantes. de como tornar-se, ou manter-se, um agente co-
Dependentes do compadrio e do privilégio letivo da emancipação nos meandros da insti-
de proximidade com o erário, os grupos espe- tucionalidade burguesa e de uma economia em
cializados na especulação imobiliária constroem ascenso. É um excelente motivo à leitura dos
o sucesso das formas evanescentes promoven- textos de Hegemonia às avessas.
do a diferenciação, a exclusividade, a exclusão
e a concentração. Em densas páginas o autor
aponta como a arquitetura confunde-se com
a genialidade midiática das marcas para rea-
lizar o fetiche de seus objetos arquitetônicos,
fazendo-os valorizar-se exponencialmente nos
circuitos rentistas.

Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 10 n. 1, p. 177-180, mar./jun.2012

View publication stats

Вам также может понравиться