Вы находитесь на странице: 1из 12

OS SENTIDOS DO PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO: aproximações entre

a “revolução brasileira” e a “revolução anticolonial”

Matheus Carlos Oliveira de Lima


Mestrando do PPGH/ UFAL
Orientadora Profa. Drª. Arrisete C. L. Costa
Grupo de Pesquisa: Documentos, Imagens e Narrativas (CNPq).

RESUMO:

Quais os sentidos da revolução no pensamento econômico brasileiro? Podemos indicar que a


obra de Caio Prado Júnior se resume à análise da formação econômica do Brasil com foco no
sentido da colonização? O trabalho proposto pretende debater essas indagações que se situam
na compreensão da fecundidade da obra caiopradiana, em especial aquela produzida entre as
décadas de 1960 e 1970 como A Revolução Brasileira (2014). Para tanto, procurou-se debater
o caráter da revolução anticolonial desenvolvida e aplicada de forma mais ampliada também
durante essas décadas, tendo como característica a construção de um arcabouço teórico
fundado na resolução de questões nacionais determinadas pelas particularidades regionais
(CABRAL, 2013; LOSURDO, 2018). Assim, por meio de aportes metodológicos
desenvolvidos pelas pesquisas de fontes bibliográficas localizadas em acervos digitais acerca
da História Econômica brasileira procura-se mostrar as características de natureza
historiográfica. Deste modo, tem-se como tarefa a discussão e explicação para o entendimento
do Brasil, de matrizes do pensamento econômico e das formas que esse campo de estudos das
ciências humanas pode contribuir para um salto qualitativo na forma de organização
societária.

Palavras-chave: História Econômica. Revolução. Anticolonialismo.

O presente trabalho é fruto de uma intensa e diversa rede de reflexões desenvolvidas


que vão desde as pesquisas empreendidas para a dissertação de mestrado do Programa de Pós-
Graduação em História da UFAL, passando por diálogos e debates no cotidiano do Instituto
de Ciências Humanas Comunicação e Arte da Universidade Federal de Alagoas, como
também no Grupo de Pesquisa Documento, Imagens e Narrativas (CNPq). O viés específico
dessas reflexões é marcado pelo pensamento econômico e pela lacuna na formação do
historiador na UFAL que a ausência da disciplina de História Econômica provoca. Porém, um
aviso antes de qualquer avanço é preciso: as questões levantadas aqui ainda estão em
desenvolvimento, não estão maduras e entendemos que colocá-las para serem debatidas é uma
fase fundamental para o seu amadurecimento.

A questão que norteará o desenvolvimento das outras indagações está fundada no


seguinte enunciado: Caio Prado Júnior pode ser localizado em alguma das vertentes do
marxismo apresentadas pelo filósofo da história Domenico Losurdo? O pensamento de Caio
Prado Júnior (1907-1990) será nossa fonte historiográfica, em especial o livro A revolução
brasileira (2014), enquanto que o nosso referencial de problematização acerca das revoluções
anticoloniais está baseado no livro O marxismo ocidental (2018) escrito pelo italiano
Domenico Losurdo.

Essa hipótese foi desenvolvida a partir da necessidade de aquisição de um modelo


analítico para o pensamento econômico de Caio Prado Júnior, considerando a demanda
motivada pelo reaparecimento da História Econômica, não no sentido quantitativo, mas no
sentido da sua forma social. Tendo em vista que:

[...] os historiadores devem partir da observação de Marx de que a economia é


sempre historicamente específica, a produção é sempre ‘produção em um
determinado estágio de desenvolvimento social, produção por indivíduos sociais
(HOBSBAWN, 1998, p. 124).

Parte-se do pressuposto de que o fazer história vem se tornando uma tarefa árdua e
para os mais desavisados a materialização da metáfora: “enxugar gelo”. Talvez essa condição
seja questionada, é importante que seja, tendo em vista que consideramos que há um avanço
na disponibilização de fontes e, inclusive, na digitalização de acervos, condição que
logicamente pode tornar a pesquisa histórica mais confortável.

Todavia, quando se pensa no fazer da história, percebe-se que esta não é uma tarefa
individualizada, nem é solitária, pelo menos não mais, exatamente porque estamos vivendo
em um momento histórico em que há uma maior participação popular sobre temas das
ciências humanas, o contrário de momentos anteriores, onde o ofício da história, por exemplo,
se configurava num invólucro gabinete.

Porém, a democratização da discussão histórica possibilitou um maior apanhado de


temas e fontes, dando voz aos subalternizados e excluídos historicamente. Essa condição fez
com que o fazer da história assumisse outros contornos, tanto pela amplitude de questões
apresentadas como também pelo tom cada vez mais agudo dos debates que vão de uma
tremenda exaltação da história até sua total negação enquanto ciência.

O papel das comunidades científicas, dos pares que podem aprovar determinada
proposta, se torna, assim, cada vez mais cadente. Não num sentido fiscalizador, mas como um
estimulador de um debate científico. Considerando que a própria definição dos objetivos
estudos e o método utilizado para tal empreitada é construída socialmente, os esforços de
referência e aprovação científica pelos pares passam também por essa determinação social.
Para isso, segundo Michel de Certeau sobre a escrita da História:

[...] sublinhar a singularidade de cada análise é questionar a possibilidade de uma


sistematização totalizante, e considerar como essencial ao problema a necessidade
de uma discussão proporcionada a uma pluralidade de procedimentos científicos, de
funções sociais e de convicções fundamentais (CERTEAU, 1982, p. 32).

Deve-se dizer, contudo, que esse campo cientifico deve ser popularizado, que os
sujeitos sociais devem intervir em suas formulações. No entanto, tem-se que assumir
determinados parâmetros, porque de outra maneira se mantém no campo da opinião e não da
história, tendo em vista que esta segunda precisa estar acompanhada, pelo menos por
convenção, de um estatuto cientifico, assim como indicado na citação anterior. Posto que o
conhecimento histórico assume a sua vitalidade quando é utilizado para a transformação.

Assim, o presente trabalho se propõe exatamente à busca de aproximações entre a


teoria da Revolução Brasileira e a perspectiva revolucionária anticolonial, exatamente por
entender que o sentido da colonização também pode ser estudado como uma estrutura de
longa duração1, onde a presença dos elementos norteadores da colonização se manteve ou
assumiu novas roupagens. Logo, a compreensão de quais são os limites estruturais para a
edificação de uma política econômica para o desenvolvimento, faz-se como tarefa
fundamental para estudar as contradições que ainda se apresentam na sociedade brasileira,
além de contribuir para a produção acadêmica no campo da historiografia econômica.

A apresentação oral das ideias aqui presentes no 10º Encontro Nacional de História na
Universidade Federal de Alagoas, associada com as questões levantas no debate motivaram o

1
O conceito de longa duração é referenciado em Fernand Braudel (1972).
seu desenvolvimento neste artigo e também o aprofundamento em pesquisa para trabalhos
futuros.

Como já dito anteriormente, a discussão que o artigo em tela levanta é movida por
pesquisas em direção ao pensamento econômico brasileiro, em especifico o de Caio Prado
Júnior no tocante ao desenvolvimento nacional. Nesse sentido, todo o empenho investido aqui
está voltado para a reflexão sobre as possíveis aproximações entre a teoria da revolução
brasileira e os debates constituídos nas lutas anticoloniais africanas. Todavia, neste momento
não iremos trabalhar com os elementos particulares de cada nação em luta pela
descolonização e sim com os pontos que se tornam comuns em sociedades cujo capitalismo é
dependente.

Ao notar o desenvolvimento da produção intelectual de Caio Prado Júnior podemos


perceber a permanência de determinadas questões que dão movimento ao seu trabalho e
funcionam como uma espécie de marca registrada. A categoria do “sentido da colonização”
geralmente a primeira a ser lembrada e por isso é caracterizada como principal referência no
tocante às discussões levantadas pelo autor em questão.

Por outro lado, CPJ2 articula seu pensamento mediante as circunstâncias sócio-
históricas decorrentes do processo de transformação das estruturas políticas e econômicas do
Brasil. O autor em questão está vinculado às particularidades históricas como por exemplo, a
ruptura pelo alto com a República oligárquica através do processo que ficou conhecido como
Revolução de 1930, a profunda crise inaugurada em 1929, até mesmo a movimentação
intelectual promovida pelos modernistas com destaque para a Semana de Arte Moderna de
1922.

Esses aspectos são alguns exemplos que podem ser apresentados em escalas de
análises variadas, num nível mais macro ou numa perspectiva mais micro, e também são
complementares. O movimento modernista foi um intento da intelectualidade que se
preocupou em produzir uma arte própria de “brasilidade”, que rompesse com a cópia de
modelos europeus e se lançasse atenção aos temas nacionais, porém se localiza no campo da
oposição à República oligárquica, fazendo crítica a sua estrutura corrupta e antiliberal.
Enquanto que a crise de 1929 acelera a dissolução da política do “café com leite” a partir da
pressão econômica lançada sobre as débeis estruturas do Brasil. A revolução de 1930, seria

2
A sigla CPJ será utilizada como forma abreviada do nome do historiador paulista Caio Prado Júnior.
assim, uma espécie de culminância de todo um processo de crise e desestruturação gestado no
interior do governo.

O autor de Formação do Brasil Contemporâneo é influenciado por essa conjuntura. A


sua produção assim, permeia a necessidade de compreender a história do Brasil a partir da
perspectiva dos subalternizados e, além disso, tendo como pressuposto a procura de condições
particulares do desenvolvimento do Brasil. Essas mesmas particularidades provocam o
encadeamento teórico e metodológico sobre elas, contudo não de maneira mecânica e
acabada, mas sim de forma dialética e contraditória, sendo elemento de disputa na própria
sociedade. Sobre isso:

Compreende-se que as fases particulares do desenvolvimento socioeconômico são


marcadas por significativas inovações teóricas e metodológicas, de acordo com as
circunstancias em modificação. É importante salientar, porém, que nem todas essas
mudanças metodológicas e transformações teóricas têm de se acomodar em relação
aos limites restritivos da moldura estrutural comum que define a época em sua
totalidade (MÉSZÁROS, 2009, p. 9).

A não acomodação dessas mudanças teóricas e metodológicas se relaciona ao processo


de crítica à totalidade. A busca pela superação desse todo por meio da crítica das suas
contradições é o elemento mobilizador que passa a instigar o debate afim das questões
socioeconômicas particulares à formação histórica de um país. Caio Prado Júnior mobiliza a
sua produção teórica nesse sentido, busca compreender os elementos históricos constituintes
da sociedade brasileira, ao mesmo em que analisa a manutenção de determinados pontos e por
fim propõe uma teoria de ação, que supera esse enquadramento com respeito às
especificidades do objeto de pesquisa.

Deste modo, Caio Prado Júnior tem como objetivo narrar uma História do Brasil que
saia dos grandes, dos grandes feitos e acontecimentos e se direcione ao movimento
contraditório das estruturas da nação. Essas estruturas são exatamente o meio por onde as
relações sociais de produção passam a se estabelecer. A compreensão destas é um itinerário
importante, pois nos permite, assim como a CPJ, a busca das raízes dos elementos
constituintes da sociedade brasileira contemporânea.

Assim, pensar o desenvolvimento econômico, tal como a superação da desigualdade


social e a elevação de índices sociais historicamente marcados por deficiências exige localizar
as raízes dos problemas. De outra forma, se isso não for feito, caminha-se apenas pelos
aspectos exteriores, da aparência, e deixa de tocar na essência desses problemas. CPJ inaugura
sua participação nesse debate a partir da perspectiva do materialismo histórico já em 1933 por
meio da publicação do ensaio Evolução Política do Brasil. No prefácio à primeira edição
desse livro o autor assinala que:

Os nossos historiadores, preocupados unicamente com a superfície dos


acontecimentos [...] esqueceram, quase por completo, o que se passa no íntimo da
nossa história, de que esses acontecimentos não são senão reflexo exterior. [...] Quis
mostrar, num livro ao alcance de todo mundo, que também na nossa história os
heróis e os grandes feitos não são heróis e grandes senão na medida em que acordam
com os interesses das classes dirigentes, em cujo benefício se faz a história oficial.
(PRADO JR., 2012, p.9-10)

Como é visto, o autor em questão procura ressaltar seu empenho em romper com o
enquadramento oficial do fazer história. Para ele, havia a necessidade de pensar uma história
do Brasil que contemplasse as suas contradições e particularidades, sem deixar, contudo, de
considerar os fatores determinantes exteriores.

Para tanto, não se põe em questão uma teoria dissociada das relações internacionais,
pelo contrário, é proposta exatamente uma perspectiva analítica que compreenda o
movimento particular do Brasil quando inserido na roda da economia internacional,
propriamente a partir da divisão internacional do trabalho. As relações de poder, tanto interna
quando externamente, passam por esse caminho. E dessa forma, o rompimento com os
elementos motivadores do atrasado no desenvolvimento do país inclinariam a uma resistência
internacional. Para tanto se deve fazer uma caracterização, mesmo que rápida para não fugir
do nosso objetivo, da burguesia dependente, assim recorre-se ao pensamento de Florestan
Fernandes:

Uma burguesia dependente não é só instrumental para com seus interesses


conservadores ‘nacionais’; ela é também um instrumental para com os interesses
conservadores externos, ‘internacionais’, ou seja, ela ata em permanente aliança com
o imperialismo e dele recebe parte de sua força econômica, cultural e política
(FERNANDES, 2015, p.70).

Assim, pondera-se o potencial de independência política que poderia ser assegurado


por elites de caráter dependente. Até que ponto, portanto, os processos de independência
marcaram a ruptura com o antigo sistema colonial? Por isso, levanta-se a questão da
libertação nacional como preponderante no processo de ruptura com esse fardo. Considerando
que as revoluções anticoloniais são fortemente marcadas pela luta de libertação nacional que é
a proposta dada por Amílcar Cabral, Kwane Kkrumah na África, assim como é apontada no
mesmo sentido por José Carlos Mariátegui, no Peru, Caio Prado Júnior, no Brasil e Ernesto
Che Guevar,a em Cuba. Esse elemento da libertação nacional supera o processo de
independência formal, é fundado na demanda por soberania política e econômica.

Desta forma, o desenvolvimento econômico de uma nação nem sempre acontece em


consonância com os interesses internacionais. Isso porque o desenvolvimento do capitalismo
é desigual e combinado, ou seja, esse modo de produção a partir da sua totalidade, funciona
através do intercambio desigual. Necessita do “desnível” de desenvolvimento entre as nações
para que, por meio da divisão internacional do trabalho, gire a roda da economia.

A alteração das posições nessa divisão internacional do trabalho assevera as


contradições entre os interesses dos países, as guerras mundiais do início do século XX são
prova disso, e os vários conflitos regionalizados pós 1945 no contexto da Guerra Fria nas
regiões caracterizadas como Terceiro Mundo também.

Para assegurar a combinação dessa troca desigual, na forma de um metabolismo, o


capitalismo acaba apresentando como ferramenta o neocolonialismo, parte integrante da fase
superior desse modo de produção. Por meio do neocolonialismo as trocas desiguais assumem
novas formas e patamares, entretanto, atentando aos mesmos interesses. Nesse sentido:

[...] ao estudar as teorias do imperialismo, Nkrumah desloca para o centro de suas


interpretações e reflexões sobre o continente africano para o neocolonialismo,
identificando-o como ‘o maior perigo que a África enfrente atualmente’
(NKRUMAH, 2011, p. 287 apud SCHERER, 2016, p. 151).

Com isso, pode-se notar a importância da história econômica nos estudos decoloniais e
pós-coloniais. Uma questão que se faz relevante nesse momento é a problematização que
implica no reconhecimento de um giro de perspectiva, onde o debate acerca da história
econômica é girado para outro eixo: num primeiro momento, a história econômica e a
economia política se concentrava no norte – ou Ocidente –, em especial nos centros de
desenvolvimento industrial da Europa ao qual assume uma crise a partir da década de 1960;
enquanto que posteriormente passa a se localizar na periferia desse sistema, nas regiões em
que há a luta pela libertação nacional, tendo em vista a cadência do debate sobre a superação
das antigas estruturas coloniais. O sul é a região em que passa a predominar esse debate e o
Brasil também se insere nessa discussão também, porém assumindo outro viés de debate
devido as suas circunstâncias particulares.

As questões pertinentes à libertação nacional ou a Revolução Brasileira passam pela


aspiração da construção de um novo momento. Todavia, cabe ponderar até que ponto há o
rompimento desse “novo” com o “velho”. Em outras palavras, é precioso debater as reais
possibilidades que as revoluções anticoloniais geraram, tendo em vista a demanda por um
desenvolvimento acelerado por parte das economias semicoloniais, fundamental para
assegurar a sua independência econômica e por esteira política. Tendo em vista que:

[...] com o neocolonialismo, os países sofriam com a ingerência e controle externo,


‘a essência do neocolonialismo é de que o Estado que a ele está sujeito é
teoricamente, independente e tem todos os adornos exteriores da soberania
internacional. Na realidade seu sistema econômico e, portanto, seu sistema político é
dirigido do exterior (NKRUMAH, 1967, p. 1 apud SCHERER, 2016, p. 151).

O entendimento da presença do imperialismo e do neocolonialismo perpassa o debate


acerca da libertação nacional. Essas são as novas formas que asseguram o funcionamento da
engrenagem do capitalismo a partir do século XX, problematizá-las faz parte da análise
promovida pela história econômica produzida nesse contexto.

Assim, têm-se como hipótese que as definições dos modelos econômicos pós-coloniais
são marcadas pela síntese das contradições do neocolonialismo. Entende-se, por exemplo, que
a Moçambique independente “herda” a base econômica do período anterior. O que fazer com
essa base? Como construir novos patamares de desenvolvimento para a superação do estágio
anterior e do fardo colonial? Com toda certeza, a manutenção da concentração na produção
primário-exportadora associada à indústria de extração e transformação dependente do
investimento estrangeiro não é o caminho, tendo em vista a manutenção da crônica
mortalidade devido à fome e as doenças a ela relacionadas. Exemplo dessa questão pode ser
notada na seguinte citação de Patrícia Villen quando comenta o pensamento de Amílcar
Cabral:

Como agrônomo, Cabral põe em evidencia como esse governo inerte e atrasado
respondia acima de tudo ao objetivo de provoca a fome, instrumento que teria sido
utilizado de propósito no passado para preserva a submissão dos africanos e que, na
época do Segundo Pós-guerra, servia como ‘nova arma de opressão’ para
enfraquecer a luta anticolonial. [...] O trabalho forçado e a exportação forçada de
jovens trabalhadores das colônias portuguesas eram outras armas potentes e sempre
ativas do poder colonial para provocar uma ‘hemorragia das forças vivas’ das
colônias (VILLEN, 2013, p. 136).

É destas questões que a história econômica passa a se mobilizar, buscando entender os


condicionantes que tenham inclinado às dificuldades econômicas que o país recém-
independente irá ter. O perfil agroexportador, por exemplo, manteve o perfil periférico e
dependente na economia brasileira – assim como também em outras economias africanas
como Angola, Moçambique e Congo –, fazendo com que a estrutura de dominação pouco se
alterasse.

Deste modo, quando nos baseamos no livro O marxismo ocidental (2018), nos
detemos às teorizações levantas, tais como: a caracterização do que seria o marxismo
ocidental, numa clara distinção em relação à via oriental, e ainda em relação ao debate
construído no entorno da demanda por uma teorização nacional do socialismo. Essa
teorização, contudo, demandaria a compreensão das diferenças culturais que caracterizam a
determinada sociedade. Para tanto, Losurdo assinala que: “Sim, o comunismo se revela a
força dirigente das revoluções anticoloniais e, uma vez conquistado o poder, do
desenvolvimento acelerado de que urgentemente necessitavam as ‘economias semicoloniais’”
(LOSURDO, 2018, p. 10).

Como pode ser notado na citação acima, a presença da perspectiva comunista de


sociedade foi um elemento importante na mobilização da luta anticolonial assim como
também na perspectiva da revolução brasileira indicada por Caio Prado Júnior e, ainda, como
já indicamos, o neocolonialismo é uma ferramenta para atender aos interesses imperialistas no
cenário de contração das possibilidades exploratórias.

Além disso, também se nota a questão das “economias semicoloniais”, a superação do


jugo colonial só poderia ser completa a partir da independência política e fundamentalmente
econômica. Seriam aspectos correlacionados. A não superação ou a quase superação manteria
o sentido da colonização por meio das estruturas e instituições que não foram substituídas. Ou
seja, a questão não se remete unicamente ao imediato rompimento, ela também se dá de
maneira processual por meios dessas transformações. Onde, para isso, Caio Prado Júnior
assevera acerca da revolução brasileira: “O significado próprio se concentra na transformação
e não no processo imediato através do qual se realiza” (PRADO JÚNIOR, 2014, p. 11).
Desta forma, o processo de luta anticolonial também demanda a superação da
dependência econômica. A redefinição, nesse caso, da divisão internacional do trabalho
perpassa pelo rompimento do sentido da colonização, enquanto a determinada sociedade não
rompe com este sentido não há transformação na direção de superação do seu perfil colonial e
dependente.

Tendo em vista que as bases que sustentam o imperialismo são as mesmas que atestam
o “atraso” no desenvolvimento econômico-social desses países. Para isso, Caio Prado Júnior
indica que “[...] não somente as contradições e forças essenciais que irão eventualmente
constituir os fatores decisivos do desencadeamento e desenvolvimento da revolução, como
ainda as bases em que assunta a dominação imperialista” (PRADO JÚNIOR, 2014, p. 183).

Pode-se depreender, com isso, que o processo de dominação colonial é um


componente contraditório da dinâmica capitalista, que se acentua à medida que se outras
partes passam a exigir participação nessa expansão. Assim, tanto as regiões submetidas à
colonização por meio de estratégias específicas, resistem e enfrentam a colonização como os
próprios países imperialistas se chocam na disputa por territórios a fim de assegurar a sua
posição central. Ou seja, a dinâmica colonial assume contradições em seu processo interno e
externo. Sendo assim, podemos indicar que as guerras imperialistas são a manifestações
externas dessas contradições e as lutas pela libertação nacional seriam a via de contradição
interna. Obviamente, esse processo não é mecânico e tampouco estanque.

Entretanto, pode-se notar que o choque interno é direcionado para o externo e vice-
versa. Onde a luta anticolonial é direcionada ao rompimento com a presença imperialista na
região, assim essa luta é direcionada no contexto interno do país, mas impacta diretamente no
país colonizador. Para essa questão, apresentamos a seguinte ponderação do italiano
Domenico Losurdo:

Seria inadmissível apoiar a luta contra a submissão colonial ou neocolonial e, ao


mesmo tempo, absolver os responsáveis por tal política. E não é apenas por razões
éticas: as duas guerras mundiais demonstraram que o expansionismo colonial
desemboca em desastrosas rivalidades interimperialistas de impacto global, o
incêndio provocado poucos anos antes por Hitler na tentativa de erguer na Europa
oriental um império colonial alemão provocou um incêndio também no ocidente e
na própria Alemanha (LOSURDO, 2018, p. 12).
Compreender esses “choques” passa a ser uma tarefa importante para o estudo das
políticas econômicas e da própria historiografia destinada a esta temática. A aproximação da
perspectiva da revolução brasileira e das revoluções anticoloniais gira entorna da pauta da
liberação nacional. As aproximações entre essas duas perspectivas, quando dadas as devidas
particularidades, se situam exatamente no momento em que se propõe a superação do sentido
da colonização, mesmo que não cheguem a atingir esse processo plenamente.

Nesse caso o que se considera em comum são os elementos processuais que se


movimentam numa escala mais ampla como o imperialismo e o neocolonialismo, ou seja,
mesmo havendo aspectos distintos e particulares que fazem com que cada país ex-colônia seja
único do ponto de vista da história econômica, há também elementos gerais que extrapolam
essas particularidades e os inserem no circuito da totalidade.

REFERÊNCIAS

BARAN, Paul. A economia política do desenvolvimento. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
BHABHA. Homi K. O local da cultura. Minas Gerais: Ed. UFMG, 2013.
CARODOSO de MELLO, João Manuel. O capitalismo tardio. Campinas: Ed. Unicamp,
1998.

CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FERNANDES, Florestan. Poder e contrapoder na América Latina. São Paulo: Expressão


Popular, 2015.

HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

KATZ, Cláudio. Neoliberalismo, neodesenvolvimentismo, socialismo. São Paulo: Expressão


Popular/Perseu Abramo, 2016.

LOSURDO, Domenico. O marxismo ocidental: como nasceu, como morreu, como pode
renascer. São Paulo: Boitempo editorial, 2018.

MÉSZÁROS, István. Estrutura social e formas de consciência: a determinação social do


método. São Paulo: Boitempo, 2009.

PEREIRA, Luciana Lamblet. História econômica: algumas questões metodológicas. ANPUH


– XXIII Simpósio Nacional de História. Londrina, 2005.

PERICÁS, Luiz Bernardo. Caio Prado Júnior: uma biografia polítia. São Paulo: Boitempo,
2016.
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2012.

________________. A revolução Brasileira; A questão Agrária no Brasil. São Paulo:


Companhia das Letras, 2014.

PRADO, Fernando Correa. A ideologia do desenvolvimento e a controvérsia da dependência


no Brasil contemporâneo. Tese (Doutorado), UFRJ, 2015.

SCHERER, Mathias Inácio. Kwame Nkrumah: o neocolonialismo e o pan-africanismo. In:


MACEDO, José Rivair (Org.). O pensamento africano no século XX. São Paulo: Outras
expressões, 2016.

VILLEN, Patrícia. A crítica de Amílcar Cabral ao colonialismo: entre a harmonia e a


contradição. São Paulo: Expressão Popular, 2013.

Вам также может понравиться