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RESUMO:
Parte-se do pressuposto de que o fazer história vem se tornando uma tarefa árdua e
para os mais desavisados a materialização da metáfora: “enxugar gelo”. Talvez essa condição
seja questionada, é importante que seja, tendo em vista que consideramos que há um avanço
na disponibilização de fontes e, inclusive, na digitalização de acervos, condição que
logicamente pode tornar a pesquisa histórica mais confortável.
Todavia, quando se pensa no fazer da história, percebe-se que esta não é uma tarefa
individualizada, nem é solitária, pelo menos não mais, exatamente porque estamos vivendo
em um momento histórico em que há uma maior participação popular sobre temas das
ciências humanas, o contrário de momentos anteriores, onde o ofício da história, por exemplo,
se configurava num invólucro gabinete.
O papel das comunidades científicas, dos pares que podem aprovar determinada
proposta, se torna, assim, cada vez mais cadente. Não num sentido fiscalizador, mas como um
estimulador de um debate científico. Considerando que a própria definição dos objetivos
estudos e o método utilizado para tal empreitada é construída socialmente, os esforços de
referência e aprovação científica pelos pares passam também por essa determinação social.
Para isso, segundo Michel de Certeau sobre a escrita da História:
Deve-se dizer, contudo, que esse campo cientifico deve ser popularizado, que os
sujeitos sociais devem intervir em suas formulações. No entanto, tem-se que assumir
determinados parâmetros, porque de outra maneira se mantém no campo da opinião e não da
história, tendo em vista que esta segunda precisa estar acompanhada, pelo menos por
convenção, de um estatuto cientifico, assim como indicado na citação anterior. Posto que o
conhecimento histórico assume a sua vitalidade quando é utilizado para a transformação.
A apresentação oral das ideias aqui presentes no 10º Encontro Nacional de História na
Universidade Federal de Alagoas, associada com as questões levantas no debate motivaram o
1
O conceito de longa duração é referenciado em Fernand Braudel (1972).
seu desenvolvimento neste artigo e também o aprofundamento em pesquisa para trabalhos
futuros.
Como já dito anteriormente, a discussão que o artigo em tela levanta é movida por
pesquisas em direção ao pensamento econômico brasileiro, em especifico o de Caio Prado
Júnior no tocante ao desenvolvimento nacional. Nesse sentido, todo o empenho investido aqui
está voltado para a reflexão sobre as possíveis aproximações entre a teoria da revolução
brasileira e os debates constituídos nas lutas anticoloniais africanas. Todavia, neste momento
não iremos trabalhar com os elementos particulares de cada nação em luta pela
descolonização e sim com os pontos que se tornam comuns em sociedades cujo capitalismo é
dependente.
Por outro lado, CPJ2 articula seu pensamento mediante as circunstâncias sócio-
históricas decorrentes do processo de transformação das estruturas políticas e econômicas do
Brasil. O autor em questão está vinculado às particularidades históricas como por exemplo, a
ruptura pelo alto com a República oligárquica através do processo que ficou conhecido como
Revolução de 1930, a profunda crise inaugurada em 1929, até mesmo a movimentação
intelectual promovida pelos modernistas com destaque para a Semana de Arte Moderna de
1922.
Esses aspectos são alguns exemplos que podem ser apresentados em escalas de
análises variadas, num nível mais macro ou numa perspectiva mais micro, e também são
complementares. O movimento modernista foi um intento da intelectualidade que se
preocupou em produzir uma arte própria de “brasilidade”, que rompesse com a cópia de
modelos europeus e se lançasse atenção aos temas nacionais, porém se localiza no campo da
oposição à República oligárquica, fazendo crítica a sua estrutura corrupta e antiliberal.
Enquanto que a crise de 1929 acelera a dissolução da política do “café com leite” a partir da
pressão econômica lançada sobre as débeis estruturas do Brasil. A revolução de 1930, seria
2
A sigla CPJ será utilizada como forma abreviada do nome do historiador paulista Caio Prado Júnior.
assim, uma espécie de culminância de todo um processo de crise e desestruturação gestado no
interior do governo.
Deste modo, Caio Prado Júnior tem como objetivo narrar uma História do Brasil que
saia dos grandes, dos grandes feitos e acontecimentos e se direcione ao movimento
contraditório das estruturas da nação. Essas estruturas são exatamente o meio por onde as
relações sociais de produção passam a se estabelecer. A compreensão destas é um itinerário
importante, pois nos permite, assim como a CPJ, a busca das raízes dos elementos
constituintes da sociedade brasileira contemporânea.
Como é visto, o autor em questão procura ressaltar seu empenho em romper com o
enquadramento oficial do fazer história. Para ele, havia a necessidade de pensar uma história
do Brasil que contemplasse as suas contradições e particularidades, sem deixar, contudo, de
considerar os fatores determinantes exteriores.
Para tanto, não se põe em questão uma teoria dissociada das relações internacionais,
pelo contrário, é proposta exatamente uma perspectiva analítica que compreenda o
movimento particular do Brasil quando inserido na roda da economia internacional,
propriamente a partir da divisão internacional do trabalho. As relações de poder, tanto interna
quando externamente, passam por esse caminho. E dessa forma, o rompimento com os
elementos motivadores do atrasado no desenvolvimento do país inclinariam a uma resistência
internacional. Para tanto se deve fazer uma caracterização, mesmo que rápida para não fugir
do nosso objetivo, da burguesia dependente, assim recorre-se ao pensamento de Florestan
Fernandes:
Com isso, pode-se notar a importância da história econômica nos estudos decoloniais e
pós-coloniais. Uma questão que se faz relevante nesse momento é a problematização que
implica no reconhecimento de um giro de perspectiva, onde o debate acerca da história
econômica é girado para outro eixo: num primeiro momento, a história econômica e a
economia política se concentrava no norte – ou Ocidente –, em especial nos centros de
desenvolvimento industrial da Europa ao qual assume uma crise a partir da década de 1960;
enquanto que posteriormente passa a se localizar na periferia desse sistema, nas regiões em
que há a luta pela libertação nacional, tendo em vista a cadência do debate sobre a superação
das antigas estruturas coloniais. O sul é a região em que passa a predominar esse debate e o
Brasil também se insere nessa discussão também, porém assumindo outro viés de debate
devido as suas circunstâncias particulares.
Assim, têm-se como hipótese que as definições dos modelos econômicos pós-coloniais
são marcadas pela síntese das contradições do neocolonialismo. Entende-se, por exemplo, que
a Moçambique independente “herda” a base econômica do período anterior. O que fazer com
essa base? Como construir novos patamares de desenvolvimento para a superação do estágio
anterior e do fardo colonial? Com toda certeza, a manutenção da concentração na produção
primário-exportadora associada à indústria de extração e transformação dependente do
investimento estrangeiro não é o caminho, tendo em vista a manutenção da crônica
mortalidade devido à fome e as doenças a ela relacionadas. Exemplo dessa questão pode ser
notada na seguinte citação de Patrícia Villen quando comenta o pensamento de Amílcar
Cabral:
Como agrônomo, Cabral põe em evidencia como esse governo inerte e atrasado
respondia acima de tudo ao objetivo de provoca a fome, instrumento que teria sido
utilizado de propósito no passado para preserva a submissão dos africanos e que, na
época do Segundo Pós-guerra, servia como ‘nova arma de opressão’ para
enfraquecer a luta anticolonial. [...] O trabalho forçado e a exportação forçada de
jovens trabalhadores das colônias portuguesas eram outras armas potentes e sempre
ativas do poder colonial para provocar uma ‘hemorragia das forças vivas’ das
colônias (VILLEN, 2013, p. 136).
Deste modo, quando nos baseamos no livro O marxismo ocidental (2018), nos
detemos às teorizações levantas, tais como: a caracterização do que seria o marxismo
ocidental, numa clara distinção em relação à via oriental, e ainda em relação ao debate
construído no entorno da demanda por uma teorização nacional do socialismo. Essa
teorização, contudo, demandaria a compreensão das diferenças culturais que caracterizam a
determinada sociedade. Para tanto, Losurdo assinala que: “Sim, o comunismo se revela a
força dirigente das revoluções anticoloniais e, uma vez conquistado o poder, do
desenvolvimento acelerado de que urgentemente necessitavam as ‘economias semicoloniais’”
(LOSURDO, 2018, p. 10).
Tendo em vista que as bases que sustentam o imperialismo são as mesmas que atestam
o “atraso” no desenvolvimento econômico-social desses países. Para isso, Caio Prado Júnior
indica que “[...] não somente as contradições e forças essenciais que irão eventualmente
constituir os fatores decisivos do desencadeamento e desenvolvimento da revolução, como
ainda as bases em que assunta a dominação imperialista” (PRADO JÚNIOR, 2014, p. 183).
Entretanto, pode-se notar que o choque interno é direcionado para o externo e vice-
versa. Onde a luta anticolonial é direcionada ao rompimento com a presença imperialista na
região, assim essa luta é direcionada no contexto interno do país, mas impacta diretamente no
país colonizador. Para essa questão, apresentamos a seguinte ponderação do italiano
Domenico Losurdo:
REFERÊNCIAS
BARAN, Paul. A economia política do desenvolvimento. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
BHABHA. Homi K. O local da cultura. Minas Gerais: Ed. UFMG, 2013.
CARODOSO de MELLO, João Manuel. O capitalismo tardio. Campinas: Ed. Unicamp,
1998.
CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LOSURDO, Domenico. O marxismo ocidental: como nasceu, como morreu, como pode
renascer. São Paulo: Boitempo editorial, 2018.
PERICÁS, Luiz Bernardo. Caio Prado Júnior: uma biografia polítia. São Paulo: Boitempo,
2016.
PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2012.