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ISSN: 0874-4696
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Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Portugal
Agostinho, Paula
Perspectiva psicossomática do envelhecimento
Revista Portuguesa de Psicossomática, vol. 6, núm. 1, janeiro-junho, 2004, pp. 31-36
Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Porto, Portugal
PERSPECTIVA PSICOSSOMÁTICA DO
ENVELHECIMENTO
Paula Agostinho*
R E V I S TA P O RT U G U E S A D E P S I C O S S O M Á T I C A
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catastrófico que põe em causa a integridade da ção conjunta de variáveis biológicas e psicológi-
própria vida. cas. Deste modo, variáveis psicológicas, tais
Por último, as Teorias do Tipo Evolucionista ex- como a atitude e a personalidade, determinam a
plicam o envelhecimento como sendo produto capacidade do indivíduo enfrentar as mudanças
de selecção natural, a qual seria responsável pela fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento
permanência de genes prejudiciais de acção re- (Aiken, 1989).
tardada que afectam os indivíduos que vivem Existem determinadas circunstâncias da vida
mais tempo (Weisman, 1990). de uma pessoa que podem, subitamente, focali-
Bromley (1966) atribui o envelhecimento, zar a sua atenção nas alterações físicas, fazendo,
acima de tudo, a alterações físicas degenerativas provavelmente, com que o próprio ritmo de en-
que ocorrem no corpo com o tempo e que são: a velhecimento se acelere (Kastenbaum, 1981). As-
redução da taxa de metabolismo basal, a redu- sim sendo, determinadas circunstâncias frequen-
ção do oxigénio no cérebro por circulação cere- tes na velhice, como a perda da pessoa amada, de
bral insuficiente, a redução de acuidade visual, a um amigo e de estatutos e actividades significati-
redução de acuidade auditiva, a diminuição da vas, podem não só precipitar o declínio físico e
sensibilidade ao nível do sabor e olfacto, dor e psicológico, como também agravar uma doença
vibração, aumento de susceptibilidade às varia- em qualquer altura da vida (Aiken, 1989).
ções da temperatura, problemas digestivos, de- O desafio da última fase da vida consiste em
terioração de dentes, perda do cabelo, secura da saber negociar o declínio fisiológico inevitável
pele e aumento da pigmentação, atrofia muscu- aliado à acumulação das perdas no percurso
lar, redução da função renal, redução do rendi- existencial, bem como valorizar a imagem de si,
mento cardíaco e perda de neurónios do sistema mantendo a capacidade de independência
nervoso central. (Gaudet, 1992).
O progresso do envelhecimento (Coelho, A Teoria Psicanalítica (Belsky, 1990) susten-
1989), transporta consigo um declinar das fun- ta-se na ideia de que na velhice ocorrem «life
ções físicas, que se caracterizam por uma lenti- events» stressantes, tais como o adoecer, viuvez,
dão e empobrecimento do comportamento mo- entrar na reforma, etc… que se apresentam
tor, uma redução da capacidade anatómica e da como testes do funcionamento psicológico, evi-
capacidade adaptativa. Os sinais da velhice, denciando a capacidade do ego em se adaptar.
como indica este autor, podem combinar-se de Nesta fase da vida, se as experiências que o indi-
múltiplas formas e em proporções variadas, o víduo viveu na infância não foram boas é pro-
que comprova o seu carácter biológico. vável que desenvolva mecanismos de defesa
As alterações biológicas que ocorrem no pro- para enfrentar estes «life events» e, consequen-
cesso de envelhecimento reflectem-se nos pro- temente, problemas psicológicos.
blemas de saúde dos idosos, principalmente no A idade avançada é um tempo de stress ex-
aumento de vulnerabilidade a certas doenças, tremo e por isso mesmo, propícia a potenciais
sendo disso exemplo a incidência das doenças distúrbios psicológicos.
crónicas que tendem a aumentar com a idade. A Teoria de Jung opõe-se à teoria psicanalíti-
Os problemas de saúde na velhice, ao contrário ca ortodoxa. Este autor considera que a última
do que acontece com pessoas mais jovens, são metade da vida é mais interessante e mais im-
frequentemente múltiplos e crónicos e apesar de portante que a primeira e coloca a hipótese de
poderem ser tratados, não são curáveis (Gatz, que a meia idade constitui um ponto crucial da
Pearson & Weicker, 1987). viagem emocional.
Um número elevado de indivíduos não é ca-
Alterações no Processo Psicológico do paz de abandonar a orientação psicológica ca-
Envelhecimento racterística da fase juvenil, permanecendo
«agarrados» a ela na meia idade e mesmo na
O processo de uma doença e o declínio da velhice. Jung defende que esta transição tem o
saúde, em geral, são também afectados pela ac- objectivo último de preparar o sujeito para a
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morte, que é, para o autor, o culminar da vida tirando proveito do seu tempo. Ao contrário, se
(Belsky, 1990). se sente marginalizado, indesejado pela família
Por último, a Teoria de Erikson assenta na e a funcionar como um peso, a reforma é vivida
ideia da existência de pontos de mudança críti- como uma etapa penalizante e favorecedora de
cos, ou etapas de desenvolvimento, pelas quais todos os sentimentos negativos.
o sujeito passa ao longo da vida, desde o nasci-
mento até à idade avançada.
Assim, as crises de desenvolvimento da vida 2. TEORIA PSICOSSOMÁTICA
exigem integridade do Eu, e toda a pessoa que
atingir tal integridade é, potencialmente, capaz Modelo Psicossomático de Sami-Ali
de aceitar a morte.
Segundo Sami-Ali (1974), o corpo possui
um poder original de projecção, pois fornece um
Alterações no Processo Social do Enve- esquema de representação mental da realidade
lhecimento constituindo, no imaginário, um espaço, um
tempo e um objecto.
O envelhecimento social é definido como A relação com o corpo imaginário determi-
um percurso do ciclo de vida estabelecido por na a relação com o corpo real. É a partir do cor-
uma sociedade. Neste contexto, Salgado (1980, po que se torna possível elaborar as complexida-
in Lima e Viegas, 1988) defende que a categoria des do espaço imaginário. A distinção entre cor-
de idoso foi produzida pelos sistemas de aposen- po real e corpo imaginário corresponde a duas
tadoria que resultam, eles mesmo, dos mecanis- funções favorecedores de um determinado pro-
mos da Previdência Social. cesso. Este processo é induzido pelo imaginário,
A velhice, como questão social, surge ape- no qual a actividade onírica tem um papel fun-
nas com as sociedades modernas e industrializa- damental.
das. Com efeito, de acordo com Caldeira (1978), O imaginário não é mais que o sonho e os
Paes de Sousa e Barahona Fernandes (1976, in seus equivalentes na vida vigil. Numa palavra, a
Lima e Viegas, 1988), somente as características subjectividade do indivíduo.
inerentes a este tipo de sociedades tornam pos- A relação com a doença transforma a pessoa
sível o prolongar das hipóteses de longevidade num objecto único fora do quadro relacional.
do indivíduo para além do tempo em que ele é Todo o corpo orgânico participa na desregu-
considerado como uma unidade produtiva para lação. A identidade celular transforma a identi-
a sociedade em que está inserido. dade biológica e relacional. Coloca-se a objectivi-
Segundo Caldeira (1978), o idoso é exposto a dade, a doença em si, no lugar da subjectividade,
uma série de condicionantes sociais, sendo a mais da pessoa, da relação e dos afectos.
importante a reforma, na medida em que se con-
fronta com sentimentos de inutilidade, de esva-
ziamento, de marginalização e de morte social. Tipo de funcionamento em que predomina o
No percurso da velhice, a componente famí- real ou patologia da adaptação
lia assume particular significado. O idoso sente-
-se muitas vezes destituído de um papel que ou- A pessoa adapta-se respondendo sempre às
trora representava, que era concebido como im- exigências da família e da sociedade. As regras
portante no núcleo familiar, com o qual se iden- adaptativas vêm preencher uma vida que se es-
tificava e estabelecia o seu lugar na família. vazia. A pessoa adopta uma identidade de fa-
Nesta perspectiva, o idoso vive socialmente chada que a torna conformista sem a possibili-
a velhice consoante o ambiente em que se en- dade de ter conflitos psíquicos.
contra inserido. Se se sente respeitado, querido, No interior de si existe um Superego corpo-
integrado na sua família e útil, não perde a sua ral tão grande quanto o seu próprio Eu.
auto-confiança, vivendo a reforma em pleno e O sujeito depende de um Superego corporal
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conforma, mas não aceita, estando-se então pe- • Caldeira. Socioterapia na Velhice. Lisboa: Edições Ciba Geigy, 1978.
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