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CONDOMÍNIO EDILÍCIO:
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FRAÇÃO IDEAL COMO CRITÉRIO DE
RATEIO DE DESPESAS CONDOMINIAIS
Belo Horizonte
2015
ANELISE SIQUEIRA MACHADO
CONDOMÍNIO EDILÍCIO:
uma análise crítica da fração ideal como critério de rateio das despesas
condominiais
Belo Horizonte
2015
ANELISE SIQUEIRA MACHADO
CONDOMÍNIO EDILÍCIO:
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FRAÇÃO IDEAL COMO CRITÉRIO DE
RATEIO DE DESPESAS CONDOMINIAIS
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Milagres
Orientador
__________________________________________________
Prof(a). Dr(a)...............................................................................
Examinador(a)
___________________________________________________
Prof(a) Dr.(a) ...............................................................................
Examinador(a)
AGRADECIMENTOS
O objetivo geral do presente trabalho é analisar o problema da aplicação da fração ideal como
critério de divisão de despesas condominiais. Os principais exemplos da inadequação da
fração ideal são os moradores de cobertura e proprietários de lojas localizadas em pavimento
térreo. A partir desses exemplos e do estudo da natureza jurídica do condomínio edilício, é
possível demonstrar que a diferença das taxas pagas pelos condôminos é desarrazoada e gera
o enriquecimento sem causa. O cálculo da fração ideal está intrinsecamente ligado à área da
unidade autônoma, contudo, a área não guarda relação direta com as despesas do condomínio.
O pressuposto lógico de que uma maior unidade autônoma gera mais despesas ao condomínio
deve ser combatido, pois comporta exceções. As despesas condominiais estão ligadas à
utilização das áreas e serviços comuns a que todos os condôminos têm igual direito. O atual
trabalho propõe-se a examinar outros critérios para o rateio de despesas com fundamento nas
características gerais da propriedade horizontal. Não se pode olvidar que a fração ideal gera
desigualdades nas taxas pagas pelos condôminos. Faz-se necessária, portanto, a análise crítica
deste critério com o fim último de alcançar a igualdade, além da proporcionalidade e
razoabilidade das relações condominiais.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
5. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 34
INTRODUÇÃO
três peças, fossem destinados a escritórios ou residência particular. Pela mesma lei ficou
disciplinada que tanto o terreno, onde foi construído o edifício, como as instalações comuns
são inalienáveis e indivisíveis, pertencendo a todos os proprietários do prédio (SILVA, 1981,
p. 33).
Uma vez que os condôminos são coproprietários das áreas comuns, tal condição os
sujeita a uma série de obrigações, sendo a principal delas, a contribuição com as despesas do
condomínio que, segundo a lei, serão divididas de acordo com a fração ideal, salvo se a
convenção dispuser de outra forma.
Entretanto, a fração ideal não se mostra como o critério mais adequado para a divisão
de despesas, sendo os principais paradigmas desta inadequação os moradores de cobertura e
os proprietários de lojas no térreo, que na maioria das vezes pagam uma taxa muito maior de
despesas condominiais, comparado aos demais condôminos.
Esta diferença entre as taxas pagas têm gerado certa indignação em alguns
condôminos e, via de consequência, o aumento do número de ações judiciais que objetivam a
alteração da convenção para a mudança do critério de rateio de despesas.
parâmetro para o rateio com base nas características gerais dos condomínios existentes no
Brasil.
Busca-se realizar ainda uma nova leitura sobre o condomínio edilício de modo a
analisar suas especificidades em relação ao condomínio tradicional com o fim de indicar a
inaplicabilidade da fração ideal diante da realidade vivida dentro dos edifícios em
apartamentos.
10
A natureza jurídica é definida por Maria Helena Diniz como a "afinidade que um
instituto tem em diversos pontos, com uma grande categoria jurídica, podendo nela ser
incluído o título de classificação" (DINIZ, 1996, p.101). Portanto, determinar a natureza
jurídica de um instituto consiste em determinar sua essência para classificá-lo dentro do
universo de figuras existentes no Direito.
Constitui tarefa árdua ao jurista fixar a natureza jurídica da propriedade horizontal, eis
que abrange uma série de especificidades que a diferenciam do condomínio tradicional, ao
mesmo tempo que a ideia deste instituto está contida na figura do condomínio edilício.
[...] no condomínio a ideia mestra está no exercício conjunto das faculdades inerentes
ao domínio pela pluralidade de sujeitos, por tal arte que cada um deles tenha um poder
jurídico sobre a coisa inteira, em projeção de sua quota ideal, sem excluir idêntico
poder nos consócios ou coproprietários1
1
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Condomínio e incorporações. 10. ed. /atual. segundo a legislação vigente e
elaboração jurisprudencial. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 76
11
Pode-se dizer, então, que a ideia de condomínio tradicional está inserida no conceito
de condomínio edilício. E pelo mesmo motivo de o condomínio tradicional não abranger
completamente a figura do condomínio edilício é que se pode estatuir que este é de natureza
complexa ou, ao menos, ambivalente, uma vez que é formado por dois espaços diferentes: as
áreas comuns, regidas pelas regras de condomínio tradicional e as unidades autônomas, sob as
quais os condôminos exercem domínio exclusivo. O art. 1.331, §§ 1º e 2º do Código Civil
reflete esta noção:
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes
que são propriedade comum dos condôminos.
Sobre o caráter complexo da propriedade horizontal, Caio Mário acentua que: “no
deslindar o problema de sua natureza jurídica, é essencial ter em vista que dois tipos de
propriedade aí coexistem: a propriedade individual e a propriedade coletiva. Não se pode
conceber o domínio sobre a unidade autônoma sem o condomínio das partes comuns”
(PEREIRA, 1994, p. 79)
Everaldo Augusto Cambler define-o como uma situação jurídica complexa entre
copropriedade e domínio exclusivo.
2
CAMBLER, Everaldo Augusto. Condomínio edilício. Estudos em homenagem ao Acadêmico Ministro
Moreira Alves. São Paulo: Fiuza Ed.; Academia Paulista de Magistrados, 2003, p. 178
12
pátios, os elevadores, a portaria, a fachada, etc. As áreas de uso exclusivo são constituídas
pelas unidades autônomas.
Conforme art. 24 da Lei 4.591/64, obrigatoriamente, será realizada uma vez ao ano
Assembleia Geral para deliberar sobre as despesas ordinárias e decidir as matérias de interesse
geral do condomínio. A todos os condôminos é atribuído o direito de participar, manifestar e
votar nas assembleias gerais, desde que esteja adimplente com suas obrigações. Ressalte-se
que este direito não é exclusivo do proprietário de unidade autônoma, mas ao condômino, ou
seja, aquele que participa ativamente da vida do condomínio. Nesse sentido, o não
proprietário, a exemplo do locatário, tem o direito de participar das assembleias gerais. A
Assembleia Extraordinária, por sua vez, não tem a obrigatoriedade de ser realizada
13
anualmente, mas poderá ser convocada para deliberar sobre despesas extraordinárias,
alteração da convenção, destino do condômino nocivo, entre outros assuntos.
O Código Civil de 2002 dispõe nos arts. 1.335 e 1.336 o rol dos direitos e deveres dos
condôminos, sendo que entre os principais deveres figura o de concorrerem para as despesas
de condomínio, expressão ampla que abrange não somente as verbas dispendidas com a
conservação ou manutenção do edifício, mas também as destinadas a obras ou inovações
aprovadas pela assembleia de condomínio. O estudo dessas despesas será feito
detalhadamente no capítulo seguinte.
14
Jorge Tarcha e Luiz Antônio Scavone Junior definem despesas de condomínio como
sendo aquelas necessárias ao funcionamento do edifício, seu embelezamento e manutenção
(TARCHA; JUNIOR, 2000, p. 1).
3
§ 1º Por despesas ordinárias de condomínio se entendem as necessárias à administração respectiva,
especialmente:
a) salários, encargos trabalhistas, contribuições previdenciárias e sociais dos empregados do condomínio;
b) consumo de água e esgoto, gás, luz e força das áreas de uso comum;
c) limpeza, conservação e pintura das instalações e dependências de uso comum;
d) manutenção e conservação das instalações e equipamentos hidráulicos, elétricos, mecânicos e de
segurança, de uso comum;
e) manutenção e conservação das instalações e equipamentos de uso comum destinados à prática de
esportes e lazer;
f) manutenção e conservação de elevadores, porteiro eletrônico e antenas coletivas;
g) pequenos reparos nas dependências e instalações elétricas e hidráulicas de uso comum;
h) rateios de saldo devedor, salvo se referentes a período anterior ao início da locação;
i) reposição do fundo de reserva, total ou parcialmente utilizado no custeio ou complementação das
despesas referidas nas alíneas anteriores, salvo se referentes a período anterior ao início da locação.
4
Parágrafo único. Por despesas extraordinárias de condomínio se entendem aquelas que não se refiram aos
gastos rotineiros de manutenção do edifício, especialmente:
a) obras de reformas ou acréscimos que interessem à estrutura integral do imóvel;
b) pintura das fachadas, empenas, poços de aeração e iluminação, bem como das esquadrias externas;
c) obras destinadas a repor as condições de habitabilidade do edifício;
d) indenizações trabalhistas e previdenciárias pela dispensa de empregados, ocorridas em data anterior ao
início da locação;
e) instalação de equipamento de segurança e de incêndio, de telefonia, de intercomunicação, de esporte e de
lazer;
f) despesas de decoração e paisagismo nas partes de uso comum;
g) constituição de fundo de reserva.
15
forma, aumenta seu valor. Envolvem a estrutura do prédio ou serviços comuns, no interesse
de toda comunidade, bem como as inovações introduzidas no edifício.
A matéria foi regulada no Brasil originalmente pelo Dec. 5.481/1928, que só permitia
a propriedade fracionada em edifícios com mais de cinco pavimentos, sendo posteriormente
reduzido para três pavimentos pelo Dec.-Lei 5.234/1943.
Posteriormente, a matéria veio a ser tratada de forma mais próxima à realidade social
pela Lei 4.591/64, que acabou por inovar ao regular questões como a configuração dos
encargos condominiais e acessórios como obrigações de natureza propter rem; a necessidade
de uma convenção de condomínio, entre inúmeros outros direitos, obrigações e deveres.
16
O novo Código Civil não se limitou a trazer disposições gerais, nem trazer novas
disposições especiais sobre condomínio edilício. A intenção foi regular inteiramente a
matéria, embora tenham permanecido algumas lacunas. De acordo com a crítica de Arnoldo
Wald, o Código Civil acabou por perder a oportunidade de tratar especificamente de temas
como os shopping centers, os apart-hotéis e as propriedades compartilhadas com o time
sharing. (WALD, 2009, p. 162-163).
O Código Civil de 2002 dispõe em art. 1.331, §3º sobre a fração ideal:
§ 3o A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no
solo e nas outras partes comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária
no instrumento de instituição do condomínio.
pela quantidade de unidades autônomas, cujo resultado é somado com a área de cada da
unidade autônoma, resultando em um número fracionário que será equivalente à fração ideal.
Desse modo, unidades autônomas com área de construção idênticas receberão a mesma fração
ideal. Em contrapartida, aos apartamentos com áreas edificadas distintas, serão concebidas
frações ideais diferentes.
Não é tão simples fazer-se o cálculo, como seria se se dividisse o prédio pelo número
de apartamentos e se atribuísse a cada um, como cifra representativa da fração ideal, o
quociente respectivo. Não pode ser assim, como não pode ser adotado puramente o
critério da área, e, em razão da quadratura de cada unidade, apurar-se o valor da quota
ideal. É que vários fatores concorrem na composição do valor, dos quais podemos,
sem dúvida, mencionar a área mesma, pois é evidente que dentro de um critério
relativo as comodidades decorrentes de área maior importam em maior valorização.5
O Código Civil de 2002 preceitua que a fração ideal de cada unidade deve ser
determinada no ato de instituição do condomínio edilício:
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento,
registrado no Cartório de Registro de Imóveis, devendo constar daquele ato, além do
disposto em lei especial:
[...]
II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e
partes comuns;
5
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Op. cit., p. 98
19
cada unidade, exceto, se comprovado algum equívoco no ato que atribuir as frações ideais a
cada unidade.
Acreditamos que a fração ideal é uma divisão fictícia do edifício em cotas especiais e
individualizadas e por ser fixada no ato de constituição do condomínio não deve sofrer
variações conforme a valorização ou desvalorização das unidades autônomas. Embora um
apartamento possa ser mais valorizado do que outro, ambos têm os mesmos benefícios do
condomínio e, portanto, as mesmas responsabilidades.
Na opinião de Antônio José Ferreira Carvalho, “o critério do rateio com base nas
frações ideais é o melhor e também o mais justo, pois quem possui um maior quinhão da
coisa, evidentemente deve pagar proporcionalmente, mais do que quem possui uma menor
parcela” (CARVALHO, 1985, p. 58).
6
VIANA, Marco Aurélio S. Propriedade horizontal. Belo Horizonte: Del Rey, 1990, p. 96
20
Por isso, se um condômino não tem, em razão do tipo ou localização de sua unidade,
ensejo de utilizar-se de um serviço ou coisa de propriedade comum, a ele não deve ser
atribuído, na Convenção, encargo algum nas respectivas despesas [...]. Logo, onde não
existe o uso ou gozo da coisa ou bem comum não há obrigação de suportar as
correspondentes despesas de manutenção.7
Ousa-se divergir dos referidos doutrinadores, pois consideramos que a fração ideal não
é o critério mais adequado para a divisão de despesas. Em relação ao critério de uso e gozo
das partes comuns, apresentaremos nossas ressalvas no capítulo seguinte.
Se o uso das partes indivisas e o serviço são comuns a todos, as despesas são da
totalidade dos coproprietários. Quando as partes indivisas são de uso de todos e o serviço é
um só para todo o edifício, as despesas devem ser rateadas igualmente. Se os condôminos
usam os serviços na mesma proporção, devem suportar os encargos em igual proporção.
Um morador de unidade maior e que, portanto, detém cota ideal maior, não pode
utilizar-se das coisas e serviços comuns desrespeitando o direito dos demais condôminos. A
fração ideal não lhe confere maior direito sobre as partes comuns. Em princípio, a utilização
7
FRANCO, J. Nascimento (João Nascimento); GONDO, Nisske. Condomínio em edifícios. 5. ed. rev. e
ampliada. São Paulo: R. dos Tribunais, 1988, p. 101.
21
das partes e coisas comuns é assegurada a todos os condôminos e ocupantes do edifício. Ela é
igual para toda a comunidade, independente das dimensões da unidade autônoma e de sua
respectiva fração ideal.
O direito de cada proprietário tem por objeto o conjunto, e não uma porção
determinada da coisa comum. A coisa permanece indivisa, de modo que o domínio de cada
um dos condôminos não versa sobre uma parte material da coisa, tampouco sobre uma parte
ideal, porque a parte ideal da coisa é nada, não tem existência real nem significação prática
(MALUF, 1989, p. 39).
Igualmente, embora a lei preveja que nas deliberações das assembleias os votos serão
proporcionais às frações ideais (art. 1.352, parágrafo único do Código Civil8), tal critério, por
si só, não é motivo razoável para ensejar a diferença no valor dos votos. Na medida em que a
todos os condôminos são atribuídos direitos iguais, essa situação deve refletir também no
momento de deliberação das assembleias, em que todos os votos devem possuir igual valor.
8
Parágrafo único. Os votos serão proporcionais às frações ideais no solo e nas outras partes comuns pertencentes
a cada condômino, salvo disposição diversa da convenção de constituição do condomínio.
22
O art. 12, § 5º da Lei 4.591/64 é claro ao determinar que não haverá isenção ou
redução das despesas pagas pelo condômino que renunciar ao direito de utilizar o bem ou
serviço comum:
§ 5º A renúncia de qualquer condômino aos seus direitos, em caso algum valerá como
escusa para exonerá-lo de seus encargos.
As lojas térreas são mais um exemplo que prova a impropriedade da fração ideal.
Assim como as demais unidades autônomas, é-lhes atribuída uma fração ideal, contudo, esta
quota é apenas representativa, não servindo para justificar as taxas condominiais pagas pelas
lojas, uma vez que estas não usufruem do conjunto arquitetônico do condomínio e todos os
atributos que lhes são inerentes, como o elevador, limpeza, serviços de portaria, etc., de modo
que as lojas deveriam ser isentas destas despesas. Não usufruindo tais serviços, comuns, ao
proprietário não cabe contribuir para sua manutenção.
As despesas devem ser correlativas a um direito próprio de gozo. Disso resulta que as
partes excluídas dos benefícios de determinados serviços prestados à totalidade das unidades
dos edifícios não obrigam seus proprietários pelas despesas de tais benefícios decorrentes.
Não se podem atribuir ônus de despesas a comunheiros que nada têm, direta ou indiretamente,
com serviços que nenhuma utilidade lhes prestam (PEREIRA, 1994, p. 117).
9
FRANCO, J. Nascimento (João Nascimento); GONDO, Nisske. Op. Cit., p. 04.
25
Ademais, nem todo serviço ou coisa de propriedade comum pode ser contabilizada
pela quantidade e/ou intensidade do uso. Exemplo disso é o serviço de limpeza e zeladoria,
que beneficia igualmente a todos os condôminos. O direito de uso e gozo sobre as partes e
serviços comuns está sujeito ao princípio da igualdade, de modo que se a todos os
condôminos compete igual direito, corresponde-lhes o dever de contribuir em igual medida.
diferenciador seria a vida privada de cada morador, dentro de sua respectiva unidade
autônoma.
A vedação do enriquecimento sem causa é regra expressa no art. 884 do Código Civil:
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado
a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a
recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará
pelo valor do bem na época em que foi exigido.
O enriquecimento sem causa pode ser definido como transferência patrimonial sem
causa justificadora.
Tanto o enriquecimento sem causa quanto o abuso de direito, além de serem regras
positivadas no ordenamento, são princípios informadores do direito privado e orientadores da
27
hermenêutica jurídica. Sobre o enriquecimento sem causa como princípio geral do Direito,
Hugo Evo Magro Corrêa Urbano leciona:
No âmbito dos condomínios edilícios, pode-se ser verificada a presença dos requisitos
que configuram o enriquecimento sem causa no rateio das despesas condominiais pela fração
ideal.
10
URBANO, Hugo Evo Magro Corrêa.; OLIVEIRA, Amanda Flávio de. Repensando o instituto do
enriquecimento sem causa no direito brasileiro : da teoria unitária à teoria da divisão. 2013. Tese (doutorado)
- Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito, p. 47
28
Em seu voto, o Ministro César Asfor Rocha admitiu o rateio igualitário e apresentou
justificativa que respeitosamente citamos:
[...] os gastos mais substanciais suportados pelo condomínio - v.g. o pagamento dos
funcionários, a manutenção das áreas comuns e os encargos tributários incidentes
sobre essas áreas - beneficiam de forma equivalente todos os moradores,
independentemente de sua fração ideal. Assim, não prevalece a presunção do aresto
hostilizado de que os proprietários de menores economias "acarretam menor despesa
", porquanto os custos, em sua maior parte, não são proporcionais aos tamanhos das
31
A decisão evidencia que a aplicação da fração ideal para cobrar taxas condominiais
não correspondentes ao uso e gozo da unidade autônoma fere o princípio da isonomia,
acarreta cobrança abusiva e contraria a boa-fé.
A propósito:
benefícios ofertados com a despesa - inteligência dos artigos 12, § 1º da Lei 4.591/64
e artigo 1336, inciso I do Código Civil, com a redação dada ao inciso pela Lei nº
10.931, de 02/08/2004. A cobrança de rateio de despesas de condomínio de
unidade com fração ideal maior, sem se observar o princípio do proveito efetivo
revela enriquecimento sem causa abominado pelo artigo 884 do Código
Civil. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.04.504058-1/001, Relator(a): Des.(a)
Sebastião Pereira de Souza , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 30/01/2008,
publicação da súmula em 07/03/2008) [grifamos]
Não obstante, são dignos de celebração o acórdão do STJ e os arestos dos tribunais
estaduais que admitem o rateio igualitário. Esperamos com esse trabalho o aumento de
decisões nesse sentido, de modo que o Poder Judiciário possa assegurar a justiça e a igualdade
através de uma interpretação sistemática e concreta da lei.
34
5. CONCLUSÃO
O principal exemplo é a cláusula que define o rateio das despesas condominiais pela
fração ideal, conforme previsão do art. 1.336, I do Código Civil. Historicamente, este é o
critério fixado na maioria das convenções e prevalece até os dias atuais. Não obstante, faz-se
necessária uma discussão profunda a respeito da adoção da fração ideal como critério de
rateio e suas implicações.
Buscou-se com esse trabalho demonstrar que a fração ideal não é o parâmetro mais
adequado para a divisão de despesas condominiais, uma vez que gera desigualdades entre as
taxas pagas pelos condôminos e, muitas vezes, acarreta em enriquecimento sem causa do
condomínio.
A revisão da fração ideal e evocação do enriquecimento sem causa servem como meio
de vedar situação injusta entre os condôminos e o desequilíbrio patrimonial. Respeitados os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, é possível realizar o rateio das despesas
condominiais de forma equânime e justa.
Por fim, conclui-se o critério defendido não deve ser aplicado sem restrições a todo e
qualquer condomínio. A convenção deve adotar o sistema que melhor atender à situação
peculiar do edifício. Ressalvamos, apenas, que a escolha da divisão não poderá acarretar
enriquecimento sem causa ou prejuízo injusto para nenhum dos condôminos.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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em <http://jus.com.br/artigos/27382/a-fracao-ideal-e-o-rateio-das-despesas-condominiais>
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URBANO, Hugo Evo Magro Corrêa.; OLIVEIRA, Amanda Flávio de. Repensando o
instituto do enriquecimento sem causa no direito brasileiro : da teoria unitária à teoria da
divisão. 2013. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de
Direito.
WALD, Arnoldo. Direito Civil. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Vol. 4 Direito das coisas.