Drogas e saúde na imprensa brasileira

Uma análise de artigos publicados

em jornais e revistas (Unifesp)

Mayra Matuck
Ricardo Aguiar
Ricardo Manini

Jornalismo Científico e Saúde

Graça Caldas
Maio 2013
 Características do estudo

• 502 artigos,
• Publicados em 1998
• Imprensa escrita
 Contradições da comunicação

• Drogas lícitas e ilícitas são semelhantes em vários

aspectos
• “perigos das drogas” (cocaína, entre outras)
• “estímulos de vendas” (álcool, tabaco)
 Drogas ilícitas
• Anos 70: EUA: guerra às drogas

• Mídia brasileira: houve aumento do uso

– Não havia pesquisas para comprovar isso
– Pesquisas mais tarde: realidade era outra
– Anos 90: consumo aumenta de fato
 Mídia alardeou antes

• Mídia como indutora do uso

• Mídia como indicador epidemiológico

• Mero acaso, variáveis independentes

 Jornais e revistas pesquisados

• Jornais de abrangência estadual (O Povo, A

Crítica, Folha, Estado)

• Revistas de circulação nacional (Isto É, Veja,

Época)
 Classificação do material
• Tema destacado nas manchetes

– Ou nome da droga

– Ou termos gerais (ex: prevenção, política

pública)
 Análise de conteúdo
• Planilha:
– Temas centrais (manchete e texto)
– Personagens
– Droga
– Intervenções mencionadas (repressão, prevenção,
tratamento, legislação)
– Fontes
– Autoria
 Resultados
• 7% do total de artigos na área da saúde são
sobre drogas
• Drogas mais mencionadas:
– Tabaco
– Coca
– Maconha
– Álcool
– Anabolizantes
 Apanhado da ótica da imprensa brasileira

Tabaco – 18,1% Derivados de coca – 9,2%

Maconha – 9,2%

Álcool – 8,6%

Anfetaminas – 3,2%
Ansiolíticos – 0,8%
Solventes – 0,2%

* O álcool é o psicotrópico mais consumido, porém não foi

considerado prioridade.
Consequências
Drogas mais mencionadas

Tabaco
Coca
Maconha
Álcool
Anabolizantes
Outras drogas
Sem menção
Medida da matéria

Um quarto de página
Meia página
Página inteira
Duas páginas ou mais
Notas
 Fontes das informações

Usuários
Leis
Especialistas
Profissionais

0 17,5 35 52,5 70
 Psicotrópicos
• Maioria dos artigos fala sobre prejuízos
decorrentes do uso (80,3%)

Exceção: Maconha
• 54,3% : benefícios do uso
 Ênfase emocional
“Embora os jornalistas escrevam textos
aparentemente isentos, é notória a
tendenciosidade dos temas abordados”

Porém: tendenciosidade é maior no caso de

textos escritos por outros profissionais
 Artigos sobre cigarro (tabaco)
• Referência a danos e políticas
antitabagistas

• “Dicas” ou tratamentos para parar de

fumar

• Conseqüências: dependência e
complicações orgânicas (pulmonares e
cardiovasculares)

• Intervenções: mais relacionadas à

legislação (em geral, voltada para o
aumento da restrição ao uso)
 Artigos sobre bebidas alcoólicas
• Enfatizou os riscos (danos ao
organismo, dirigir alcoolizado)

• Consequências: dependência, acidentes

e violência em geral

• Frequente presença de dados

epidemiológicos

• Benefícios do vinho

• Intervenção: tratamento do alcoolismo,

legislação e prevenção.
 Artigos sobre anabolizantes
• Não são classificados como psicotrópicos
- incluídos em função de seu potencial de
abuso.

• Aumento do uso e os riscos para atletas

que buscam obter um melhor
desempenho

• Sexo predominante foi o masculino

• Intervenções: ligadas a legislação e/ou

repressão (doping).

• Não foram observados comentários sobre

medidas preventivas ou tratamento.
Artigos sobre anfetaminas/anorexígenos
• Número de artigos relativamente pequeno,
comparado ao consumo dessas substâncias
pela população

• Aumento do uso

• Uso terapêutico, alternativa para tratamento

da obesidade

• Possíveis prejuízos à saúde – dependência

• Menção ao sexo feminino superior à

observada para os demais psicotrópicos

• Intervenções, na maioria, foram referentes à

repressão ao comércio.
 Artigos sobre heroína
• Dos 15 artigos divulgados no ano de 1998,
dez foram veiculados em um único mês
(março), todos fazendo referência a uma
suposta “explosão” do uso de heroína no
Brasil

• Prejudicial (dependência, síndrome de

abstinência, riscos de overdose e AIDS)

• Classe alta ou média alta

• Predominância do sexo feminino

 Artigos sobre derivados da coca

(cocaína, crack e merla)
• Prejuízos do uso

• Aumento do consumo na população

• Predominância do sexo masculino

• Quando definida classe social, mais

frequentes as classes baixa e/ou média
baixa, envolvendo sobretudo a população
de rua

• Intervenções: tratamentos para

dependência de cocaína (45,6%)
 Artigos sobre maconha
• Apresentada como uma droga
relativamente segura ou até mesmo
benéfica (uso terapêutico - 54,3%)

• Intervenções: aspectos legais (32,6%),

em especial os debates sobre
descriminalização da maconha.

• As fontes de informação, na maioria,

foram de origem internacional (86,9%) -
relatórios, pesquisas científicas e/ou
políticas.
 Comparação:
Maconha x Derivados da coca
 Comparação: 

Maconha x Derivados da coca
 Lícito X Ilícito
A partir do momento que a cobertura qualifica
as drogas nessas duas categorias de adjetivos, o
real significado (prejuízos ou benefícios) para a
saúde, a forma de entender o processo delas no
organismo, que seria o fundamental na cobertura
de saúde, acaba sendo irrelevante. O que torna
uma mais aceitável do que a outra sem grande
crítica. O que seria informativo, entra como mais
aceitável ou menos aceitável.
 Impregnado
• A heroína é apresentada como um problema
crescente no país.
• A cocaína como um problema já instalado –
causadora de violência. A mídia sempre
apresenta essa droga associada a casos
dramáticos e violentos, sempre com
crescimento de consumo.
• A maconha como uma droga segura.
• Em função do movimento norte-americano da déc.
70 de “guerra às drogas”, e ausência de estudos
brasileiros sobre o assunto, a imprensa divulgou a
“explosão” no uso de drogas ilícitas (maconha,
cocaína, LSD e heroína).
• Estudos brasileiros do final da déc. 80, já sobre o
assunto, revelou que até antes da divulgação, o
consumo aqui era estável, e aumentou depois de 90.
• Resultado: a mídia como indutora do uso. MAS
podem ser fatos independentes entre si.
Anabolizantes associados a imagem de
atletas: indução ou fato