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Mas agora me perdi, qual era o ponto disso? Ah, o segundo parque. Pois então, quando
terminou o primeiro, ele não queria mais saber de parques de diversões, queria dar o passo
além: queria construir uma cidade inteira, uma sociedade planejada, a sua visão pessoal
do futuro do urbanismo. Isso é algo que eu admiro num homem, é uma coisa terrível que
só ditadores e artistas têm, de querer remodelar o mundo à sua vontade, nem que seja à
força. Os psicólogos chamam de “paracosmos”, que nada mais é do que a criação de um
universo fictício, inventado, que se pode controlar, uma vez que a realidade foge ao nosso
controle.
O Amigo Brasileiro
P. 19 – Fordlância
O tempo que fiquei a mais foi para poder conhecer Fordlândia”. Referia-se à cidade
planejada por Henry Ford no meio da Floresta Amazônica trinta anos antes, hoje pouco
lembrada. Parte utopia, parte hubris, fora feita para baratear os custos de extração de
borracha, condenada ao fracasso pelo desprezo que Ford nutria pelas pesquisas em prol
de experiências práticas. Isso levou seus homens a penetrarem na selva sem conhecer
nada sobre ela ou sobre o plantio de seringueiras. Mas a ideia permaneceu lá, e quem não
garante que a loucura de Ford não foi ali transmitida para Disney?
Episódio 1 - 1984
Década Perdida
P. 35-36 – Carta Bomba – Morte de Dona Lydia na carta bomba enviada à OAB em 1980
(o livro não dá o ano), situa essa parte do romance na década de 1980 com o clima político
ainda tenso no Brasil. Isso é importante devido aos inimigos do livro serem os
integralistas, mas também porque dá um ar distópico àquela época, dando motivação para
a própria criação de tupinilândia como um projeto utópico.
A mesa de dona Lyda encontra-se hoje exposta no memorial da sede da OAB de Brasília,
recomposta e envolta numa faixa com as cores da bandeira nacional. O impacto que a
rachou ao meio também arrebentou os vidros da janela, derrubou pedaços de reboco do
teto, que ficaram pendurados por fios elétricos em curto-circuito, e deixou a sala
destruída. A explosão da carta-bomba em suas mãos fez com que dona Lyda tivesse o
braço arrancado, além de uma série de outros ferimentos graves, que a levaram a falecer
pouco depois, a caminho do hospital.
Em abril de 1981, Tiago Monteiro caminhava pelas ruas do Rio de Janeiro sob o peso de
uma desilusão amorosa, uma onda de crimes assustadora, e enfrentando uma inflação de
cento e dez por cento com um salário de jornalista iniciante. Tinha vinte e quatro anos e
viera trabalhar naquela cidade movido por um relacionamento. Agora que acabara, não
havia sol ou praia que o prendesse ali, somente a inércia na vida pessoal e a falta de
vontade de regressar à cidade de onde viera, Porto Alegre.
O país se encaminhava para a abertura política. A economia, para o abismo dos
empréstimos do FMI. A saúde pública, para a epidemia da aids. E ele, para a banca de
revistas onde costumava comprar o Pasquim e o Pato Donald.
[...]
Tiago atravessou a rua e chegou em frente à banca. Estava fechada, o que era incomum
para o horário. Decidiu que iria tomar um suco e voltaria mais tarde. Mal pensou em dar
meia-volta, quando a banca explodiu.
Riocentro
Fordlândia
São Paulo
Referência a 1984 em uma livraria em SP –
p. 56 - Resolveu matar tempo numa livraria. Logo à entrada, porém, algum vendedor,
fosse por humor negro, pela coincidência de datas ou pelo senso de oportunidade com o
lançamento do filme, amontoara todos os livros de George Orwell num estande, com
destaque para os muitos exemplares de 1984 sob um cartaz jocoso: “O Grande Irmão zela
por ti”. Tiago achou a piada de mau gosto.
O pato paga
p. 63 – escolha da Arara
31 de outubro, 1983: A equipe me trouxe uma arara. Uma arara de verdade, viva. Falei
que não queria outro Zé Carioca! Mas me convenceram de que arara não é papagaio, as
cores são diferentes, amarelo e azul têm bom contraste, e além disso não podemos usar
um animal doméstico como símbolo nacional. Temos que pensar como se fossem
Olimpíadas: os ursos tiveram seu Misha, os americanos terão em breve sua águia Sam.
Concordei, nem que fosse só para tirar aquela arara da sala antes que alguém venha nos
multar.
Temos que pensar com responsabilidade, mas sem sermos excessivamente lúdicos, ou a
coisa toda vai ficar com retrogosto de lição de casa, e aí a criançada não quer. É por isso
que todos gostam mais do Pato Donald que do Mickey. Até os quadrinhos do Donald são
melhores. Enfim, pedi que me trouxessem algo divertido. E pelo amor de Deus, que não
seja policial, soldado ou qualquer figura de autoridade. Nenhuma criança gosta de figuras
que lhe deem ordens, elas já passam o dia escutando dos adultos, vejo isso pelos meus
três netos. E há que se levar o momento político em conta, ninguém mais gosta do governo
ou dos militares. Nosso personagem deve ser alguém que ergue o braço para estender a
mão, não para apontar o dedo. (E ele acaba apontando o dedo quando os militares o
absorvem)
p. 65 – Fordlândia era pra ser a cidade americana perfeita mas tudo deu errado
Você já ouviu falar da cidade de Fordlândia, no Pará? Construída pelo empresário Henry
Ford nos anos 20, foi feita para extrair látex direto da floresta para as fábricas de
automóveis da Ford, para que não dependessem mais de fornecedores. Mas, apesar de
planejada para ser uma cidade americana perfeita, com cercados de madeira, bailes de
quadrilha e muito hambúrguer com batata frita no refeitório, tudo deu errado.
SNI