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TEXTOS TEATRAIS CRISTÃOS DE MARCOS

ALEXANDRE DORNELLES DA SILVA

PÁSCOA ONTEM E HOJE

NARRADOR: Dois mil anos atrás, nossa páscoa, que é cristo, aconteceu. Há mais tempo
atrás aconteceu a páscoa dos judeus, pois não sofreram os danos do anjo da morte que
havia passado no Egito, onde os judeus eram escravos. Páscoa dos judeus que apontou
para a nossa páscoa, a páscoa de toda humanidade. Páscoa que permanece até hoje,
pois em Cristo, a nossa páscoa, estamos livres da morte, vivos PARA SEMPRE. Páscoa
que é sempre atual.

SEQUÊNCIA 1
CENA 1 - Mulher ungindo Jesus
ATOR 1: (Simão fariseu) Sim, minha casa tem sido um lugar onde debatemos sobre os
assuntos acerca do templo.
ATOR 2: (coadjuvante) Sem contar a meditação sobre o seguir à risca a lei.
ATOR 1: Seja membro do sinédrio, seja sacerdote ou sumo sacerdote ou qualquer ilustre
judeu que seja, sempre será tratado com dignidade em minha casa.
ATOR 2: Ah, isso sim é um fariseu zeloso.
ATOR 3: (Jesus, entrando em cena com outro coadjuvante [discípulo]) Olá, Simão.
Posso entrar.
ATOR 2: Ei! Quem é esse?
ATOR 1: Ah, é Jesus de Nazaré, um líder popular que eu convidei para almoçar. Entre
Jesus, sente em qualquer lugar.
ATOR 3: Obrigado, Simão.
ATOR 4: (a Jesus)Vamos embora, Jesus! Olha que nem te cumprimentaram com
dignidade quando você chegou.
ATOR 3: Não murmure. Um lição de vida você vai receber hoje nesse lugar, meu
discípulo.
(Atriz entra em cena e, ao som da música de fundo, primeiro chora aos pés de Jesus, com
rosto bem próximo aos pés e, por isso, enxugando-os com seus cabelos. Depois, derrama
um perfume precioso nos mesmos pés, despertando várias reações. Jesus, olhando com
admiração a mulher. O discípulo com olhar de aprendiz. O coadjuvante que estava com
Simão o fariseu, com uma expressão de estranheza.)
ATOR 1: É. De fato você tem toda a razão. Pode até ser líder popular, mas de profeta
não tem nada. Se fosse, saberia que essa mulher é pecadora, e evitaria ao máximo a
proximidade com a mesma.
ATOR 4: (percebendo a reação negativa de Simão e dos seus amigos)Simão... Por
incrível que possa parecer, por mais que as aparências mostrem o contrário, e atitude
dessa mulher foi a demonstração de ATITUDE IDEAL PARA COMIGO. Pode até ser uma
pecadora, mas lhe deu uma lição de sensibilidade para assuntos espirituais e
arrependimento, sobretudo por saber quem eu sou. E você nem ao menos me
cumprimentou direito quando entrei na sua casa. São estas pessoas que antecedem em
muito pessoas como você, em se tratando de reino dos céus.
NARRADOR: Não se importe com reputação! Se importe com RESPONSABILIDADE.
(Tais atores, durante a narração, saem de cena, para dar início situação semelhante nos
dias atuais, e a lição desse momento colocada em prática. Passagem de cena de igual
maneira ocorrerá em todas as outras cenas.)
ATOR A: (atendendo o interfone)Sandra! O pessoal para a reunião do Sistema Inteligente
de Marketing chegou.(ao público)Pra quem não sabe, Sistema de Marketing Inteligente é a
rede de marketing que a gente participa. Mas fiquem tranquilo! Não é pirâmide não! Crente
pode participar sim! Minha esposa é cristã e é uma bênção pra gente!
ATRIZ B: Amor, convidei aquele casal de empresários abençoado lá da igreja para a
reunião.
ATOR A: Usou aquela tática do “vai sem compromisso”?
ATRIZ B: Claro. Inclusive disse que quem entra para o Sistema Inteligente de Marketing
com a gente, automaticamente entra para a minha lista de oração.
ATOR B: Maravilha! Maravilha! Acho que inclusive eles estão aí em baixo com o Eliomar,
o faxineiro lá do escritório. Foi o que aceitou o convite. Fazer o que, a filosofia do Sim é
pra chamar todo mundo sem olhar a aparência, eu chamei e ele aceitou.
(O faxineiro e o casal entram em cena)
ATRIZ B: Oi, queridos, podem entrar. Todos se cumprimentam
ATOR C: Eu só queria dizer uma coisa, antes de ir para reunião. Não trouxe hoje a
quantia para comprar os produtos hoje.
ATOR A: Não liga pra isso hoje, Eliomar. Hoje é só pra você conhecer.
(O casal que chegou olha a casa.)
ATOR C: Beleza. Eu também estou com uma ideia de a gente sempre orar antes das
reuniões.
Atriz B – Que bom, Eliomar. Conta pra gente como é essa ideia.
ATOR C: É simples. Antes de qualquer reunião...
ATOR D: (interrompe)Ferreira, esse tapete por acaso é um Ziegler Mahal? ATOR A: É
sim. Vc aprecia tapetes autênticos?
ATRIZ E: Se tem uma coisa que cultivamos é o apreço por tecelagem para a decoração
da nossa casa.
ATOR D: Verdade. Temos Ziegler Mahal, Ushak e MOHATASEHM KASHAM.
ATOR A: Que bom gosto em decoração. Amor, não sabia que na sua igreja havia
pessoas assim cheia de estilo.
ATRIZ B: Não falei?
ATOR C: É, com licença, Ferreira. E sobre aquela ideia que a gente estava falando de...
ATOR A: Eliomar, outra hora você me fala. Vamos pra reunião que está quase na hora.
ATRIZ B: Vamos!
ATOR C: Eu não estou de carro.
ATOR D: Sem problema. Tem um lugarzinho na mala.
(Todos riem)
ATRIZ B: É brincadeira do Assis. Vem com a gente.
(Saem de cena)

CENA 2 – Ceia

Jesus sentado com apóstolos


NARRADOR: Momento de companhia com os seus. Momento que poderia ter sido
agradável, mas foi muito tenso.
ATOR 3: Muito bom estar com o meu amado colegiado de apóstolo, mas preciso dizer
que um de vocês vai me trair.
(Jesus se levanta pra fazer algo. Para efeito de enfoque segundo a presente metodologia
cênica, apenas três apóstolos estão ali. Um à esquerda, outro à direita e outro mais
afastado. Quando Jesus se levanta pra ir até o afastado, os outros dois conversam.)
ATOR 1: Só pode ser você, Pedro. Você só dá mancada.
ATOR 2: Eu, João?! Óbvio que não! Ainda que todos traiam, eu não vou trair! Ainda que
todos pequem, eu não vou pecar!
ATOR 1: O problema não é pecar. O problema é Deus lhe imputar pecado.
ATOR 3: (sussurrando)Oque você tiver que fazer, faça-o depressa.
ATOR 4: Não sei do que o senhor, meu mestre, está falando. Mesmo assim, preciso sair.
NARRADOR: Sair de um lugar onde nunca de fato esteve.
ATOR 3: (retornando ao dos outros dois)Esse é o pão. Simboliza meu corpo. Esse é o
vinho. Simboliza meu sangue. Comei e bebei de mim.
(Todos comem e se retiram como se estivessem limpando o recinto. Transição para a
atualidade)
ATOR D: E com essas ferramentas que eu lhes apresentei, buscaremos os gastos totais
com a produção quando avaliarmos as informações, pois isso favorecerá a gestão e as
tomadas de decisão que serão muito importantes para o grupo.
(Aplausos)
ATRIZ B: Não falei, amor, que ele fala bem?
ATRIZ E: Meu marido é um must!
ATRIZ B: E ele salvou minha vida hoje, porque não estava tão bem disposta pra dirigir a
reunião.
ATOR A: Ele é muito capacitado. Vai ser um sucesso para o Sistema Inteligente de
Marketing.
ATOR C: (surrando ao ouvido)Mas vocês não acham que está muito cedo para que ele
assumir uma posição de liderança nessa de rede?
ATOR A: Eliomar, um potencial desse, nós precisamos aproveitar logo. Resultado e
velocidade precisam estar harmonizados. Nesse grupo, o que fala mais alto são as
habilidades como as que o Assis tem.
ATOR D: Eu gostaria de implantar umas ideias aqui na SIM na próxima reunião, se
vocês me permitirem.
ATOR A: Amigo, o que você tiver que fazer, faça-o depressa!!!
ATOR C: E sobre aquela minha proposta de orarmos antes das nossas reuniões aqui da
rede.
(faz-se um silêncio)
ATRIZ B: Ele tem razão.
ATRIZ E: Também concordo.
ATOR A: Bom, Eliomar. Então esteja à vontade pra fazer sua oração, porque
começamos e eu não atentei pra esse detalhe, que como vocês mesmos dizem, é
imprescindível. Pode orar, meu caro Eliomar.
ATOR C: Oremos então. “Senhor, que esse corpo possa estar honrando o seu corpo. E
que o nosso sangue dando para o êxito dessa rede abençoada possa honrar o seu sangue
vertido na cruz para nós pudéssemos ter vida e vida em...
ATOR A: (interrompendo)Já está bom, Eliomar. Já está bom. Além disso, não acho que é
uma boa misturarmos religião com a rede, já que tem pessoas de todos credos na SIM,
concordam comigo?
ATOR D: Como você preferir.
ATOR A: Pois então vamos, pois precisamos fazer mais contato para que o nosso
núcleo cresça ainda mais.

CENA 3 - Getsêmani

(O ator 3 [Jesus] encontra outros apóstolos dormindo ao invés de orar. Jesus então os
acorda, para que saibam a importância da oração.)
ATOR 3: Ei! Acordem! É preciso que você orem. Não somente eu, mas meus seguidores
precisam também orar. Nem ao menos conseguem separar um tempo da vida de vocês
para orar num momento tão marcante para a nossa história. Orem, para que não caiam
em tentação.

CENA 4 - Traição de Judas

(Ator D aplica um beijo jocoso no rosto do ator A)


ATOR D: Nossa rede está sendo um sucesso!
ATOR A: Vocês foram um casal que realmente fizeram a diferença!
ATRIZ B: Também não podemos esquecer do Eliomar, não é, amor?
ATOR A: Claro, claro. Aliás, ele demonstrou que é muito submisso, pois pode continuar
exercendo a vontade dele de orar, mas fazendo orações silenciosas. Você também está
sendo muito importante para e a equipe, Eliomar.
(Transição)
ATOR 3: (vendo Judas se aproximando)A que vieste, amigo?
(Três atores se aproximam [a mulher também pode estar nesse grupo, desde que
caracterizada como guarda sacerdotal) e seguram Jesus para o levarem.
ATOR 3: (bem incisivo)Judas. Com um beijo, a mais bela demonstração externa de quem
ama alguém, você trai o filho do homem?
NARRADOR: Um beijo. Sinal de quem ama, mas não evidência de quem ama. Quantos
beijos você já viu por aí? Entretanto, te faço uma pergunta: quantas demonstrações do
verdadeiro amor por nós você viu com a que Jesus demonstrou por você! NENHUMA! ELE
TE AMA! ELE MORREU POR VOCÊ! VEJA AMANHÃ OS PRÓXIMOS CAPÍTULO DESSA
HISTÓRIA QUE TAMBÉM É SUA!

SEQUÊNCIA 2
CENA 1 – Julgamento

(Os judeus tecem vários julgamentos injustos contra Jesus que somente ouve as
acusações:)
NARRADOR: Sejam bem vindos à audiência do mais injusto julgamento de toda a
história da humanidade.
ATOR 1: Este homem disse: ‘Sou capaz de destruir o santuário de Deus e reconstruí-lo
em três dias”.
ATOR 2: Você não vai responder à acusação que estes lhe fazem?Exijo que você jure
pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, confesse a nós".
ATOR 3: Você mesmo com suas palavras demonstrou quem eu sou. E a partir das
minhas palavras, fiquem com a seguinte informação: está pra chegar o dia em que vão ver
o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.
ATOR 2: Blasfemou!Porque precisamos de mais testemunhas?Vocês acabaram de ouvir
a blasfêmia.
ATRIZ 5: É réu de morte! É réu de morte!
(Todos aplicam tapas em Jesus.)

(Transição)
ATRIZ E: A rede Sistema Inteligente de Marketing está bombando.
ATOR A: Fato! Vocês, Assis e Deise, realmente fizeram a diferença na nossa rede. O
Sistema Inteligente de Marketing está de fato crescendo a todo custo.
ATOR C: Mas aí pode existir um problema, Ferreira. Será que vocês não enxergam que
crescer a qualquer custo não é uma boa! Estamos passando por cima de questões éticas
que são princípios da própria rede e marketing que fazemos parte. Assim não dá!
ATOR D: Assim não dá mesmo! Ferreira, o Eliomar está atrapalhando o crescimento da
rede. Ele é santinho demais para focar no lucro, em no crescimento, na gestão! Sou
evangélico como ele e não sigo à risca tudo que Bíblia fala! Ninguém segue! É impossível
seguir!
ATOR C: Isso não é verdade! É possível seguir sim! Não estou almejando sucesso!
Estou almejando triunfo! E só pra eu crescer com essa empresa, não admito traição à
Palavra de Deus, ainda mais de um que se diz cristão!
ATOR D: Você que está traindo os elementos da gestão, da administração, da
contabilidade...
ATOR A: Chega dessa confusão! Já resolvi o que vou fazer! E o que me surpreende é
que vejo o povo que se diz representante do verdadeiro amor bem dividido, hein? Eliomar.
Perdoe-nos. Você é um rapaz muito bom, mas a sua bondade precisa ficar restrita tanto à
sua igreja como ao escritório, como excelente faxineiro que você é! Aqui você precisa ser
um pouco ambicioso, audacioso, com espírito empresarial e, claro, visar acima de tudo o
lucro. Portanto, não podemos mais contar com você para essa rede!
ATRIZ B: É verdade, Eliomar. Muitas vezes abro mão de vários princípios para que a
rede de marketing cresça.
ATRIZ E: Você é muito radical.
ATOR C: (reflexivo e triste, mas de cabeça erguida)Não sou radical. Tenho atitudes
radicais, como por exemplo, não negociar minha fé.
ATOR A: Por isso então que você está fora.
ATOR C: Ok. Ok não. Amém.

CENA 2 - Pedro nega Jesus

NARRADOR: Negar os princípios fundamentais da fé cristã é negar a Jesus.


ATOR 1: Não conheço tal homem!
ATOR 2: O que é a verdade?
ATOR 1: Não conheço tal homem!
ATRIZ 5: (ao ator 2)Tive um sonho com esse homem! Ele é justo! Ele é justo!
ATOR 2: Não conheço tal homem!
ATOR 4: Soltem Barrabás! E crucifiquem Jesus!
(Trazem a cruz para o ator 3, que carrega até a entrada da igreja, sendo que o ator 1
(Pedro) está chorando, sendo consolado por atriz 5, enquanto o ator 2 só observa o trajeto
e o ator 4 acompanha Cristo aos gritos de “crucifica-o”, convidando o público a fazer o
mesmo.)
NARRADOR: Não conseguem gritar? Mas muitas das vezes as suas atitudes gritam
por vocês! E continuam a gritando, gritando, gritando, quando o arrependimento nunca
vem.
Jesus, ao dar a volta pela igreja com a cruz, é posicionado ao lado de dois ladrões,
crucificados, já na frente da igreja.
ATOR 4: És um pior do que nós mesmo!
ATOR 2: Ainda se diz filho de Deus!
ATOR 1: (que não é um dos ladrões crucificados) Desce daí! Não é o filho de Deus! Se
fosse, ele te tiraria daí!
ATOR 3: Perdoe-os, Senhor! Eles não sabem o que fazem!
ATOR 2: Mas que sentimento mais fraco! Perdoando os que te ofendem! Merece mesmo
ser crucificado como nós!
ATOR 4: Meu Deus! Nem ao menos em situação humilhante como a nossa você tem a
sensibilidade de perceber o que está acontecendo? Ele de fato é o filho de Deus. Ei!
Lembra de mim quando estiver entrando no seu reino.
ATOR 3: Hoje mesmo, amigo, estará comigo no paraíso.

(Transição)

ATRIZ B: Eliomar faz uma falta aqui na rede, não faz?


ATRIZ E: Faz nada. Até oração demais enjoa. Isso aqui é selva, minha filha. Quer ficar
só no paraíso aqui na terra, vai ficar só orando. Precisamos focar no lucro, na conquista de
outros membros pra rede de marketing! Só assim que vamos crescer como rede. Às
vezes, a gente tem que deixar essas coisas de fé cristã de fora. Senão, a gente não
cresce.
NARRADOR: E mesmo hoje, quantas formas de crucificar ainda há!
ATOR A: Deise, posso falar com você?
ATRIZ E: Claro, Ferreira.
ATOR A: Acho que o Assis exagerou quando ele postou na rede social uma crítica de
julgamento contra o Eliomar.
ATRIZ E: Não achei não! Você leu a postagem? Está escrito que o Eliomar quer
transformar a rede de Sistema Inteligente de Marketing numa igreja, pois não pensa em
fazer ela crescer, mas apenas em colocar todo mundo pra ficar orando o tempo inteiro.
Ainda postou uma foto dele de joelhos e umas montagens de modo a ridicularizar.
ATRIZ B: O Assis fez isso? Não acredito! Isso está errado!
ATOR A: Isso é zombar da própria fé de vocês. Vocês são o único exército que que eu
conheço que atira em si próprio.
ATRIZ E: Não achei exagero do meu marido! Ele apenas está precavendo outros
núcleos de fazer a mesma coisa e comprometer a rede toda!
ATRIZ B: Não, isso está errado! ATOR A: (vocifera)Claro que está!
ATRIZ E: Olha aqui, Ferreira. Você por acaso está gritando comigo?
ATOR A: Não gritei contigo! Apenas gritei! Isso está errado mesmo!
ATRIZ E: (aterrorizada)Eu nunca fui destratada dessa maneira como estou sendo aqui.
ATOR D: (entra em cena)O que está acontecendo aqui?
ATRIZ E: Assis, o Ferreira gritou comigo e criticou sua atitude de proteger a rede de
Marketing inteligente ao postar a foto na rede social alertando as pessoas para não deixar
o Eliomar entrar pra ficar o tempo todo orando ao invés de visar o crescimento da rede.
ATOR D: Ah é, Ferreira! Você fez isso? Você é um ingrato, Ferreira! A rede de Marketing
Inteligente não ia crescer como cresceu se não fôssemos nós dois. Se você está aí
posando de líder diamante, é por causa da gente. Você sempre ficou nas minhas costas,
Ferreira! Você e essa sua mulherzinha que fica usando a igreja pra chamar as pessoas
para essa rede!
ATRIZ B: Isso é uma mentira!
ATOR A: Amor, deixa. Acho que é hora de você por em prática aquilo que você sempre
me ensina sobre o uso da palavra branda nessas horas para não atiçar o furor.
ATRIZ B: Verdade.
ATOR D: E tem mais! Vou sair e vou levar junto todos os membros que eu trouxe para
rede.
ATRIZ E: Isso mesmo! Está na palavra! Olho por olho, dente por dente!
(Ator D e atriz E saem de cena.)
ATRIZ B: Misericórdia.
ATOR A: Deixa, Sandra.
(Ator A e atriz B saem de cena)

CENA 3 - Crucificação

NARRADOR: Uma fase da vida pode até ter uma aparência de derrota, mas
precisamos entender que a história não acabou ainda.
Transição para cena em que Jesus está agonizando na cruz, ensanguentado,até que
expire, após dizer:
ATOR 3: (Jesus na cruz) e ATOR C: (Eliomar, num canto) Deus meu, Deus meu! Por que
me desamparou? Em suas mãos que eu me entrego a ti!
(Nessa cena, percebe-se Eliomar andando entristecido pela igreja.)
NARRADOR: Chorem! Mas não por todo o tempo! Porque o choro pode durar apenas
uma noite.

SEQUÊNCIA 3
CENA 1 - Manhã da ressurreição

ATRIZ 5: (Maria de Magdala pela igreja procurando alguém para falar algo) Seu
jardineiro. Nosso mestre morreu, e foi sepultado nesse sepulcro. Homem justo,
misericordioso, profeta, que curou por meio de seus milagres e prodígios. Mas infelizmente
o mataram. O pregaram numa cruz. E sob acusações injustas que o mataram, além de
terem o humilhado moral, física e espiritualmente. Estamos procurando o seu corpo, pois
uns homens disserem que não está aqui por ter ressuscitado. O senhor, por sempre estar
por aqui e conhecer muito bem esse lugar, deve saber onde está o corpo do nosso senhor.
NARRADOR: Lembra do choro da noite anterior? É óbvio que não! Porque a alegria da
manhã posterior ofuscou de vez esse choro.
O homem que estava o tempo todo dessa fala de Maria de Magdala com o rosto sem ser
visto por ela nem pelo público se vira e se deixa conhecer
ATRIZ 5: (alegria esfuziante)Mestre!

(Transição)

(Ator A e atriz B pela igreja, procurando Eliomar (Ator C).)


ATOR A: Vamos procurar aquele servo fiel que muito me influenciou a mudar totalmente
a minha forma de ver o mundo. Me entrego ao cristianismo porque encontrei de fato
alguém imitador de Cristo.
ATRIZ B: E eu, de fato hoje conheci de verdade o meu senhor Jesus.
ATOR A: Nada na minha vida vai se harmonizar com morte. Nada! Nem a rede de
marketing que faço parte, nem os meus negócios, nem o meu ...
ATRIZ B: Nem a nossa família.
ATOR A: (interagindo com a igreja)Ao ver a vida de um verdadeiro cristão, senti a páscoa
acontecendo dentro de mim! A morte não mais me assustando, mas minha alma sabendo
que agora ela viverá para sempre!
ATRIZ B: Olha, o Eliomar está ali!
(Eliomar estava sentado num dos bancos da igreja. Os três caminham até à frente, juntos.)
ATOR A: Seja bem vindo de novo aos nossos negócios, Eliomar, servo fiel, porque agora
isso aqui não é apenas o nosso negócio. É também, e pra sempre será, uma casa de
oração. Até a volta do senhor Jesus, a nossa páscoa, pois é ele que em todos os
sentidos...
Ator A, ator C e ATRIZ B: NOS LIVRA DA MORTE!

CENA FINAL - Jesus entronizado nos céus e buscando sua igreja

NARRADOR: Jesus foi assunto aos céus! E é ainda assunto presente na vida dos que
realmente são os seus discípulos, seus amigos! Ele foi, mas ele vai voltar. Ele foi, mas ele
está voltando! Ora vem, páscoa nossa, cujo nome é Cristo Senhor, cordeiro de Deus,
ontem, hoje e sempre!
Durante o texto, no telão do data show, um vídeo mostrará Jesus sendo assunto aos céus,
observado pelo primeiro núcleo de atores (este estava trabalhando quando o retorno de
Jesus acontece), que sairá para entrada do outro núcleo que verá o vídeo da volta do
senhor Jesus. Ambos os vídeos estarão mixados para a projeção dessa cena final.

Fim
E SE NIETZSCHE SE ENCONTRASSE COM JESUS?

CENA I

Sonho de Nietzsche

(Vozes)

Sobe o pano. Cenário infestado de fumaça. Balões de gás, estampados com as faces de Friedrich
Nietzsche e de Jesus Cristo são lançados aleatoriamente em meio a nebulosa imagem cênica.

JESUS CRISTO (Voz em off): (exorta) Nietzsche, Nietzsche! Por que me persegues?!

FRIEDRICH NIETZSCHE(Voz em off) :Por preconizar a cultura de rebanho! Agente castrador do homem!

JESUS CRISTO(Voz em off) : (indaga mansamente) Nietzsche, Nietzsche! Por que me persegues?

FRIEDRICH NIETZSCHE(Voz em off) : (murmura) Defino essas homilias como tautologias imbecis que
afeminam a nossa existência!

JESUS CRISTO(Voz em off) : Nietzsche, Nietzsche, por que...

FRIEDRICH NIETZSCHE(Voz em off) : Refuto! Refuto e até o fim refutarei! Quero me diferenciar dos
covardes que não ousam a questionar essa moral cristã!

JESUS CRISTO(Voz em off) : Nietzsche, Nietzsche...

FRIEDRICH NIETZSCHE(Voz em off) : És mesmo o judeu da antiguidade que se faz de manso e


compassivo para implorar a adesão de mais um, ó voz que invade os meus devaneios? Oponho-me a ti,
cristianismo, falso e casto dogma!

JESUS CRISTO(Voz em off) : (sussurra) Nietzsche...

O INÍCIO DO SILÊNCIO ABSORTO

Quarto de Nietzsche

CENA II
Friedrich Nietzsche aparece em cena deitado em seu leito, mantendo firme a expressão de inexorável,
mas exprimindo um semblante agonizante. Friedrich Nietzsche só tem os movimentos da parte de cima
do corpo, a partir de seu tronco.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Perseverei até este que presumo ser meu fim. Apeguei-me à trans valoração
dos conceitos moralistas, feitores do cárcere subjetivo. Concluo que injetei asas na compleição humana,
putrefata pela eticidade, pela falsa filosofia romântica, pela religiosidade. Agradeço e louvo aos espíritos
livres de Schiller, Hoderlin e Byron . E tu, ó Wagner, quase chegou lá. Contudo, não é para qualquer um.
Optar por um pensador ou esteta privado é não se conformar com a unanimidade burra e pusilânime da
aclamação pública! Em paz, como nos campos de Haute-Engadine, vejo que o estado de enfermidade
não é tão niilista assim. Assombro-me com a profunda nitidez que uma doença pode ceder à alma. Se
estivesse são, estaria eu movido pela riqueza e pelo prazer, e assim, filosofando. Mas mesmo em
silêncio, minha existência prossegue contribuindo para as futuras andorinhas, como sugeriu Epicuro, ao
tratar de discípulos de nós cisnes. (murmura) Epicuro, ah! Foi um covarde ao associar a serenidade com
o hedonismo, um estoico hipócrita, deturpando o conceito "filosofia". Contudo, porque sou tão sábio, por
que sou tão esperto e por que escrevo livros tão bons, não me comparo com algum filósofo que opta por
ignorar a trágica visão. Aprecio a filosofia intuitiva, colocando-me diante da experiência e da vida. Não
sou homem, sou dinamite. Acendo hoje o estopim da reflexão. E é por renegar os dogmas e religiões,
deixando de olhar para o que foi, mas antevendo o que será, que me apresento: Friedrich Nietzsche, o
anticristo! O anticristo!

JESUS CRISTO (Voz em off): Um!

FRIEDRICH NIETZSCHE: (reclama) Ai, de novo não...(tom) Ora, quem ousa invadir com vozes a minha
reflexão?! Sou o anticristo!

JESUS CRISTO: Um dos uns! Apenas mais um!

FRIEDRICH NIETZSCHE: Oooooooooooo!!!!!!!!

ACAREAÇÃO

Quarto de Nietzsche

CENA III

A cama em que Friedrich Nietzsche está deitado gira. Em um momento, para subitamente, com
iluminação focal em baixo do estrado do colchão. Local este de onde sai a voz de Jesus Cristo.

FRIEDRICH NIETZSCHE: (brada) Alucinação covarde! Aproveita de minha situação debilitada para me
aprisionar, ou tentar me aprisionar, como fez com o desangelista Paulo!
JESUS CRISTO (voz em off): Não vim para sãos, mas para pecadores ao arrependimento.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Alucinação que se apodera de trechos insanos, ditos sagrados de um Deus
imaginário de Israel tornado coisa em si, jamais me acometerão! Não sou o alucinado Paulo! Já falei!

Jesus Cristo aparece deitado, debaixo da cama.

JESUS CRISTO: Duro é recalcitrar contra os aguilhões! Ages de forma semelhante ao que tu mais
criticas.

FRIEDRICH NIETZSCHE: (tapando os olhos) Já que me compara com esse vil difusor da castidade
cristã, me faça cego com ele!

JESUS CRISTO: Não o fiz cego. O Pai o tornou momentaneamente. E tu só estás em silêncio, para ser,
finalmente, luz.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Atribui o meu momento de elevação, redenção e alheamento em mim ao fato
de querer me contaminar com essa luz que tenta ofuscar a autoestima!

Jesus sai de baixo da cama e se levanta.

JESUS CRISTO: Sei que relutarás contra o sal da terra...

FRIEDRICH NIETZSCHE: O qual amarga o sabor sempiterno insosso, par excellence, do paladar
humano, demasiado humano!

JESUS CRISTO: Pensas que o nosso Pai é mau por tu teres perdido os teus movimentos. Contudo,
sabes que Ele é bom.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Sei apenas para concluir que tudo isso não é para se saber! Como dizia o meu
Zaratustra, primeiro sou camelo, depois, leão. Enfim, sou criança, o triunfo de uma nova concepção!

JESUS CRISTO: Para antes, como camelo, sobrecarregar-te do aprendizado para depois, como leão,
reteres todo conhecimento para se achar o maior dos animais. Finalmente, seres criança para purificar-te
de todo o conhecimento errôneo. Gosto de saber que possui o mesmo gosto por parábolas e apólogos
como eu. Proponho que também gostes de ser criança na malícia!

FRIEDRICH NIETZSCHE: Como poderia algo nascer do seu oposto? Ser criança, para mim, é ser
supostamente o mau, tão renegado e estereotipado por seu metafisicismo extramundano!

JESUS CRISTO: Já percebi que tua astúcia é usufruir das expressões vocabulares de efeito para se
fazer dono da razão. É de se esperar, tratando-se de um filólogo. Aceito o combate! Todavia, me apodero
da seguinte arma: a simplicidade do amor. Lembra-te que Deus apanha o sábio em sua própria astúcia.

FRIEDRICH NIETZSCHE: O que não se tem não apanha ninguém.


JESUS CRISTO: Não digas isso. Trará a lume uma contradição. Muitos de seus ressentimentos são
objetos de algo que tu não tens! E te apanhou em cheio!

FRIEDRICH NIETZSCHE: Não obscureça meu entendimento. (à parte) Isso é tipo da mesquinharia cristã.
Deixar vago um ensinamento para parecer inteligível aos que possuem discernimento espiritual.
(escarnece) "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça..."

JESUS CRISTO: Se preferes ver, como Tomé, não seja por isso! Deixar-te-ei sozinho, com seus
pensamentos.

Jesus Cristo sai de cena.

FINALMENTE, LÁGRIMAS

(Pensamento de Nietzsche)

CENA IV

O palco, que esteve na cena 3 iluminado, escurece. Nietzsche adormece, mas contorce a expressão a
cada fala dos personagens Lou Andreas Salomé , Cosima Wagner e o barão Heinrich von Stein, que
entrarão em cena. Focos luminosos móveis acompanharão somente o semblante dos personagens. A
cama de Nietzsche está no centro do palco. A primeira, posiciona-se ao lado da cama de Nietzsche,
enquanto que os outros, na extremidade do palco. O jovem barão, cabisbaixo, enquanto Lou Andreas
Salomé o acusa. Cosima Wagner o defende.

LOU ANDREAS SALOMÉ: Barão covarde!

COSIMA WAGNER: Não sabe o que dizes! O barão Heinrich von Stein é um exemplo de imparcialidade!
Seguiu como fiel exemplo de meu marido Wagner e fora um sincero discípulo de Nietzsche,
completamente à parte da divergência dos dois! Fora intitulado pelo próprio Nietzsche de perfeito
capacitado à interpretação do Zaratustra, obra tão polêmica.

LOU ANDREAS SALOMÉ: Acuso-o de covarde por precocemente falecer! Como se estivesse afetado
pelos escritos penetrantes de Nietzsche.

HEINRICH VON STEIN: Ora... Que culpa eu tenho de ter morrido? É óbvio que não foi a desistência do
desafio! Quem és tu para acusar-me de fuga, Lou Andreas Salomé? Forjou uma aproximação
compadecida para massagear o ego deprimido de Nietzsche, por ter este demostrado sofreguidão ao se
entregar à profunda depressão por não ter tido uma desilusão amorosa por sua causa!
Lou Andreas Salomé se enerva. Logo após, reconhece que está acusando o barão injustamente.

LOU ANDREAS SALOMÉ: (suspira) Perdoe-me, Von Stein. Estou culpando a todos pelo motivo do
estado deplorável d Nietzsche, querendo eximir-me da culpa. Eu não deveria ter sido tão cruel ao
desprezá-lo. Entretanto, a aspereza dele contra a moral e meus planos para me tornar uma psicanalista
não demonstravam compatibilidade.

COSIMA WAGNER: É melhor mesmo você reconhecer a culpa! Não despeje essa tua acusação injusta
no barão Heinrich von Stein, uma das poucas esperanças de Nietzsche de ser compreendido em vida.

Lou Andreas Salomé olha com desdém para Cosima.

LOU ANDREAS SALOMÉ: Que ímpeto convicto racional é esse, Cosima Wagner. Achas livre da causa
da situação agonizante de Nietzsche?

COSIMA : O que insinuas, Salomé?

LOU ANDREAS SALOMÉ: Não te faças de desentendida. Todos sabem que és tu o resquício de
romantismo platônico contido em sua individualidade de Nietzsche, impedindo-o, pioneiramente, de
deixá-lo continuar dele, mas fazendo-o propriedade de suas desilusões! Ou você acha que
constantemente ele gritava "quero continuar meu" apenas em contraposição ao cristianismo ou à filosofia
de Sócrates? É do conhecimento de todos que és tu a tão misteriosa Ariane, teu pseudônimo, que
denuncia a verdadeira causa da crise existencial de Friedrich Nietzsche!

COSIMA WAGNER: Ora, não aceitarei a falsa etiologia de uma aduladora de Freud jamais!

Cosima Wagner e Lou Andreas Salomé se engalfinham, sendo detidas por Heinrich von Stein. Os três
caem no leito de Nietzsche, sufocando-o. Um grande pano preto cai sobre os quatro, cobrindo, por
completo, a cama. Cosima Wagner, Lou Andreas Salomé e o barão Heinrich von Stein saem de cena, por
baixo do grande pano preto, levando-o para fora. Nietzsche se incomoda com seus próprios
"pensamentos", indo, em silêncio, às lágrimas.

ACAREAÇÃO II

Quarto de Nietzsche

CENA V
As luzes, novamente, focalizam a imagem de Jesus em baixo do leito de Nietzsche. Este, ainda deitado,
contorce o semblante, não permitindo que suas lágrimas fiquem à mostra.

JESUS CRISTO: Ainda queres negar que esse é o fardo que sempre carregaste?

FRIEDRICH NIETZSCHE: Por que se coloca a baixo do meus pés? Quer impelir-me a sentir comiseração
por você, da mesma forma que fez ao lavar os pés dos apóstolos?

JESUS CRISTO: Sei que, para ti, humildade é a arma dos fracos. (suspira) Sempre fui contra a
comiseração por mim. Até mesmo atribuir o fato de Pedro não concordar com a minha aceitação pela
morte. Não fui um estoico Fui consciente e conformado com os desígnios de meu Pai.

FRIEDRICH NIETZSCHE: E chama Pedro de Satanás! É, Satanás! Esse mau místico inventado por
vocês, para que se apropriem de pessoas sedentas de esclarecimento sobre os mistérios da vida.

JESUS CRISTO: E ainda duvidas, mesmo com minha presença?

FRIEDRICH NIETZSCHE: Torno a repetir. Estou debilitado. E como humano, demasiado humano, sou
passível de alucinações! Se não posso livrar-me de você, aproveito meu momento de acareação
maniqueísta: não tão maniqueísta, já que me situo além desse bem e mal proposto pelo mundo: para
esclarecer questões!

JESUS CRISTO: Então confessas que as terá dirimida a partir de uma conversa comigo?

FRIEDRICH NIETZSCHE: Não é com maiêutica que irá me dissuadir! Acha capacitado para responder,
porta-voz da teleologia imaginária, ou não?

JESUS CRISTO: O que for proposto, eu aceitarei. Até mesmo andar duas milhas, se me convidar para
andar uma milha.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Pois bem... Por que, se és mesmo o Cristo niilista, ó imagem pseudo-cândida,
pediu para que o seu Pai afastasse de você o cálice? Não afirmou juntos aos apóstolos que estava
confiante da morte?

JESUS CRISTO: Quando terminamos as orações respondendo da seguinte forma, "mas que seja feita a
tua vontade , não a minha", anulamos tudo aquilo dito anteriormente.

FRIEDRICH NIETZSCHE: (resmunga) Resposta vaga e previsível.

JESUS CRISTO: Mas não calei nem consenti.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Então responda esta: que Jesus bom é este que expulsa vendilhões com
chicotadas?

JESUS CRISTO: Empunhar um azorrague não quer dizer que os agredi.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Evasiva pura.

JESUS CRISTO: Nietzsche, Nietzsche... Sei que a raiva, geralmente, serve para camuflar a aceitação.
FRIEDRICH NIETSCHE: Está bem. Não quero perder tempo em deixar você pensar para preparar as
respostas. Lá vai outra, judeu eterno par excellence: por que mentiu ao dizer que não iria na festa dos
tabernáculos?

JESUS CRISTO: Disse o seguinte: "por enquanto, eu não subo". Ou essa locução conjuntiva não tem
valor?

FRIEDRICH NIETZSCHE: (à parte) Só restava agora um filólogo receber aula de gramática de um


carpinteiro.

JESUS CRISTO: Alguma outra questão a ser esclarecida?

FRIEDRICH NIETZSCHE: Bem... Tenho a última cartada...É meu trunfo para presenciar o silêncio mais el
shadai, mais adonai presenciado pelo povo alemão, o povo mais privilegiado, por possuir a maior
quantidade de ateus, segundo Shopenhauer. (pausa) Por que se desiludiu com seu Pai ex-machina,
judeu crucificado?

JESUS CRISTO: Nunca isso ocorreu. Eternamente sou grato por ter ressuscitado, por ter aberto o livro,
por ter sentado a destra de seu trono...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Então o que me diz dessa expressão: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni"?

Nietzsche fica alguns momentos em silêncio, rodeando Jesus Cristo.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Você sabe muito bem o que quer dizer! (sussurra) "Deus meu, deus meu... por
que... me desamparaste? "

JESUS CRISTO: Entoava o salmo de Davi, que os homens hoje encontram nas escrituras Sagradas. É o
vigésimo segundo salmo. Assim como a gíria evita um palavrão, um trecho da Bíblia se torna uma
reclamação, um clamor bisado, e não um murmúrio ou uma blasfêmia. E a minha angústia veio à tona
para corroborar o meu caráter humano, com emoções iguais a homens iguais a ti, mas com o poder de
controlar ao máximo o ato de proferir impropérios contra Deus.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Resposta vaga, previsível, evasiva...

JESUS CRISTO: (voz branda) Friedrich Nietzsche...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Não me importune! Selecionarei mais perguntas! Quero consultar meus livros:
Aurora, O Crepúsculo dos Ídolos, O Anticristo...

JESUS CRISTO: (voz exortativa) Friedrich Nietzsche, já sentiste o amor verdadeiro?

FRIEDRICH NIETZSCHE: (ironiza) Ora, é essa a sua pergunta? Acha mesmo que as paixões
personificadas em reminiscências de vida é sinônimo de vida em si? Não me foi dado o prazer de
reciprocidade carnal com Cosima e Lou Andreas Salomé, mas o destino me deu o privilégio de conservar
a mais maravilhosa limpidez dialética em meio aos sofrimentos produzidos pela cefalalgia. Meus vômitos
são espasmos, mais naturais do que gargalhadas falsas, do que fingir um orgasmo...
Jesus Cristo sai de cena, olhando para Nietzsche. Ao fundo, começa a tocar o tema 1-A da ópera "Tristão
e Isolda" (por exprimir "dor e aflição") de Richard Wagner. Friedrich Nietzsche se cobre, até a cabeça com
seu lençol. Permanecerá assim durante toda a cena 6.

JESUS CRISTO (Voz em off): Já citaste trechos dos evangelhos. Citarei um trecho de um livro seu:
*"Desde o momento em que tive em mãos uma partitura de piano do Tristão,... tronei-me wagneriano. As
obras anteriores de Wagner pareciam-me insignificantes, vulgares, demasiado alemãs... Ainda hoje eu
procuro uma ópera duma fascinação tão perigosa, tão infinitamente terrível e doce como o Tristão."
Nietzsche, Nietzsche... sabes, lá no teu interior, que Richard Wagner, ou aquilo que tu, inexoravelmente,
chama de "infinitamente terrível e doce", é o amor verdadeiro por um amigo. E este amor, vem de Deus!

ZARATUSTRA versus PAULO

Quarto de Nietzsche .( Sonho )

CENA VI

Friedrich Nietzsche continua deitado em sua cama, mas se movimenta com mais profusão.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Cristo, Cristo. Porque me persegue? Nem tente entrar em meu sonho. Nele eu
posso recuperar o vigor. Você me esmorecerá ao adentrar nele!

JESUS CRISTO (Voz em off)– Contudo, estás me chamando. Eis que estou à porta e bato! É só me
convidar para entrar.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Não o convidaria para entrar nunca, pois já entrou na Alemanha sem ser
convidado, devido a esse permissivo povo alemão, que não dera cabo do malogrado padre Lutero que
passou a vitorioso em Roma, crescendo em cima de seu ódio pelo Renascimento e pelo Clero.

JESUS CRISTO (Voz em off)– Não quero perseguir-te nem que persigas mais ninguém. Quero que
perenemente me sigas.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Jamais serei engrenagem do niilismo. Sou forte o bastante para poder
envergonhar-me de uma crença. Nunca permitirei aos meus ouvidos o vilipêndio submisso ao "tu deves".
Eu posso! Eu quero continuar sendo meu!

JESUS CRISTO (Voz em off)– Já que podes tanto, será que podes...pedir?

Friedrich Nietzsche fica uns instantes em silêncio. Logo após, dialoga com a voz de Jesus Cristo.
FRIEDRICH NIETZSCHE: Pode ser que algo, ó voz escravista, eu peça, já que pediria a qualquer um que
vence uma batalha devido a dogmas castradores, martírios persuasivos, citações sofismáveis e
artimanhas desleais num confronto de idéias.

JESUS CRISTO (Voz em off)– Então peça...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Revanche! Quero uma revanche!

JESUS CRISTO (Voz em off): Não quero entrar em embates, quero...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Que se cumpra a promessa! Não se intitula ser a própria verdade
personificada. Isso é o que afirma a "boa notícia". Não vá se equiparar à virtude animalesca de Sócrates,
que ensina que os impulsos é a eterna procura de alimentos e a covarde fuga dos inimigos.

JESUS CRISTO (Voz em off): Em verdade te digo que procuro alimento para ti, mas não o tenho como
inimigo. É certo que Sócrates foi falho, mas deveria imitar sua humildade...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Como, se a única coisa que sei é que tudo sei?

JESUS CRISTO (Voz em off): Nietzsche, Nietzsche...Que tipo de revanche queres tu?

FRIEDRICH NIETSCHE: (suspira) Uma personificação do meu Zaratustra! Meu alter ego. Com os
mesmos poderes de persuasão que Paulo consegui fazer você.

JESUS CRISTO (Voz em off): Achas que o apóstolo Paulo difundira, com êxito, uma falsa imagem minha,
Nietzsche? Mesmo com essa tua falsa impressão, por enquanto, não o farei.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Como não? Dá-me, para ser equânime, o meu Zaratustra! Transformaste pão
em vinho quando quis! Ou só se faz de prestidigitador para animar as festas?

JESUS CRISTO (Voz em off): Por enquanto, não...

FRIEDRICH NIETZSCHE: Traga junto um adversário à altura. Gostou da proposta.

JESUS CRISTO (Voz em off): Quando sabes pedir, o Pai dá! Já que soubeste pedir, tomai o que é teu!

FRIEDRICH NIETZSCHE: (à parte) Ai, as eternas tautologias... (evoca) Venha! Venha, meu Zaratustra! O
juízo final ocorrerá em vida!! E agora!!

Zaratustra, com ar de arrogante, entra em cena vindo de cima, por meio de cordas amarradas em seus
membros. Quando chega ao palco, um crucifixo de madeira: que, para o público, aparenta ser a guia de
uma marionete, amarrado à corda que sustentava Zaratustra: cai nas mãos de Nietzsche. Este, ao
desatar as cordas que ligavam a cruzeta aos membros de Zaratustra, a despreza. Da própria cama,
arremessa a cruzeta para fora de cena. Zaratustra permanece estático.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Quem precisa dessa cruz é o Deus que mantém o seu sempiterno títere Jesus
ao seu domínio. (entusiasma-se) Agora que meu Zaratustra ganhou vida, posso me preparar para o
descanso merecido. (anuncia, apontando para Zaratustra) Zaratustra, aquele que veio de cima, sem
necessariamente ter vindo dos céus! E agora, judeu da antiguidade? Quem trará para a batalha? O Pai, o
Espírito Santo, ou o fará pessoalmente?

Jesus Cristo entra em cena, olhando para o público.

JESUS CRISTO: Não. Opto por trazer à memória simplesmente os escritos de um vaso escolhido.
Escritos de um homem que assolou a Igreja, mas que se redimiu. Saulo, Saulo! Vem como epístolas de
Paulo de Tarso. Um vaso usado por Deus para compor a espinha dorsal do Novo Testamento.

Jesus bate com as palmas das mãos e posiciona-se atrás do leito de Friedrich Nietzsche. Ambos
permanecerão estáticos durante o restante da cena. Jesus Cristo de pé. Nietzsche, porém, caído e
adormecido. Paulo, que estava situado entre o público, caminha em direção ao palco. Zaratustra e Paulo
se posicionam de frente para o público. Paulo, ao se posicionar ao lado de Zaratustra, permanece
estático como ele durante alguns instantes. Soa um gongo, para o início da declamação responsiva de
ambos.

VOZ FEMININA EM OFF: Primeiro Round! Defensiva ostensiva de si próprio!

ZARATUSTRA: (olhando para o público) * "Ó, homens superiores, que vos parece? Sou um adivinho?
Um sonhador? Bêbado? Um decifrador de sonho? Um sino de meia noite?

Uma gota de orvalho? Um vapor e perfume de eternidade? Não ouvis? Não sentis o aroma? Meu mundo
acaba de se consumar, meia noite é também meio dia: a dor é também prazer, a maldição é também uma
bênção, a noite é também um sol: ide embora ou aprendei: um sábio é também um parvo. Disseste
alguma vez sim a um prazer? Oh, meus amigos, então disseste sim a toda dor. Todas as coisas estão
encadeadas, enoveladas, enamoradas, - quisestes alguma vez uma vez duas vezes, falastes alguma vez
"tu me agradas, felicidade! Vem! Instante!", então quiseste tudo de volta! Tudo de novo, tudo
eternamente, tudo encadeado, enovelado, enamorado, oh, então amaste o mundo: vós, eternos, o amais
eternamente e todo o tempo: e também à dor vós falais: possa, mas retorna! Pois todo prazer quer:
eternidade!"

PAULO DE TARSO: (olhando para o público) ** "Eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do
pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim
o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto que a lei é boa. Neste caso, quem faz isto já não
sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita
bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não , porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que
prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz,
e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em
mim. Porque, no tocante a o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus ombros,
outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos
meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira nenhuma que eu, de mim mesmo, com a mente, sou
escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado."

VOZ EM OFF MASCULINA– Segundo round. Ofensiva incisiva na filosofia alheia.


ZARATUSTRA: (encara Paulo) * "Ó, sentimentais hipócritas, ó mentirosos! Falta-vos a inocência do
desejo, e agora caluniais por isso o desejar! Em verdade, não é como os que criam, os que geram, os
que têm prazer no vir-a-ser que amais a terra! Onde há inocência? Onde há vontade de gerar. E quem
quer criar para além de si, este tem para mim a mais pura das vontades. (...) Vontade de amor: isto é,
estar disposto também para a morte. Assim eu falo aos covardes que sois!"

PAULO DE TARSO: (olhando para o público, ignora Zaratustra) ** "Não ousamos classificar-nos ou
comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; (aponta para Zaratustra) mas eles, medindo-se
consigo mesmos, revelam insensatez."

VOZ EM OFF FEMININA: Terceiro round. Dicotomia convidativa à sabedoria.

ZARATUSTRA: (olhando, entusiasmado, para o público) * "Vontade de Verdade" é como se chama para
vós, ó mais sábios, o que vos impele e vos torna fervorosos? Vontade de que seja pensável tudo o que é:
assim chamo eu vossa vontade! Quereis antes tornar pensável tudo o que é: pois duvidais, com justa
desconfiança, de que seja pensável. Mas deve adaptar-se e curvar-se a vós! Assim quer vossa vontade!
Liso deve ele tornar-se, e submisso ao espírito, como seu espelho reflexo. Essa é toda a vossa vontade,
ó mais sábio dos sábios, como uma vontade de potência; e mesmo quando falais do bem e mal e das
estimativas de valores."

PAULO DE TARSO: (senta e fecha os olhos, suspirando) ** "A sabedoria deste mundo é loucura diante
de Deus; porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. E outra vez: O Senhor
conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos. Portanto, ninguém se glorie nos
homens..."

ZARATUSTRA: (interrompe-o com arrogância) * Pois bem! Esta é minha prédica para os seus ouvidos:
eu sou Zaratustra, o sem-Deus, que fala: "Quem é mais sem Deus do que eu, para que eu me alegre com
o seu ensinamento?" Eu sou Zaratustra, o sem-Deus: onde encontro meu semelhante? E são meus
semelhantes todos aqueles que dão a si próprios sua vontade e se desfazem de toda a resignação. Eu
sou Zaratustra, o sem-Deus: e ainda me cozinho todo acaso em minha panela. E somente quando ele
está bem cozido eu lhes dou boas vindas, como minha comida." (abaixa e ri, sarcasticamente)

PAULO DE TARSO: (levanta e olha para o público) ** Embora andando na carne, não militamos segundo
a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais e sim poderosas em Deus, para destruir
fortalezas; anulando nós, sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo o pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda
desobediência, uma vez completada a vossa submissão."

VOZ EM OFF MASCULINA: Entre nós não há favoritos, mas escolhidos!

VOZ EM OFF FEMININA: E nossa vida é o round final!

ZARATUSTRA: (sorri) * "Querer liberta: eis a verdadeira doutrina da vontade e da liberdade

- assim Zaratustra a ensina a vós. Não-mais-querer e não-mais-estimar e não-mais-criar! Ai, que esse
grande cansaço fique sempre longe de mim! Também no conhecer sinto somente o prazer de gerar e de
vir-a-ser de minha vontade; se há inocência em meu conhecimento, isso acontece porque há nele
vontade de gerar. Para longe de Deus e deuses me atraiu essa vontade; o que haveria para criar, se
deuses: existissem! Mas ao homem ela me impele sempre de novo, minha fervorosa vontade de criar;
assim o martelo é impelido para a pedra. Ai, vós humanos, na pedra dorme para mim uma imagem, a
imagem de minhas imagens! Ai, que ela tem de dormir na mais dura, na mais feia das pedras! E meu
martelo se enfurece cruelmente contra essa prisão. Pedaços da pedra pulverizam-se; o que me importa
isso? Consumar é o que quero: pois uma sombra veio a mim: de todas as coisas o mais silencioso e o
mais leve veio um dia a mim! A beleza do além-do-homem veio a mim como sombra. Ai, meus irmãos!
Que me importam ainda: os deuses! Assim falou Zaratustra!"

PAULO DE TARSO: Não pretendo aqui dizer-lhes sobre as minha experiências em prisões, pois não
almejo dissuadi-lhes pela dor. Quero dizer apenas que também **"expomos sabedoria entre os
experimentados; não, porém a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se
reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual preordenou desde
a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu;
porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória; mas, como está escrito:
nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam."

Soa o gongo. Paulo de Tarso e Zaratustra caem. Uma intensa luz, proveniente do palco, ofuscará a visão
do espectador. Enquanto isso, Paulo de Tarso e Zaratustra saem se arrastando do palco.

RESISTÊNCIA NIETZSCHIANA

Quarto de Nietzsche

CENA VII

O soar dos gongos fazem com que Nietzsche desperte. Jesus, que estava estático, volta a se
movimentar.

FRIEDRICH NIETZSCHE: (curioso) O que houve? Estava vendo com nitidez o meu sonho, mas uma
névoa impediu que eu continuasse divisá-lo. Como foi o embate?! Meus Zaratustra superou o ódio de
chandala ou se contagiou pelo inventor do cristianismo?

JESUS CRISTO: Insistes em interpretar o início de minha era como a difusão das supostas "fábulas
paulinas", denominação esta segundo a tua concepção.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Fábulas paulinas sim! Óbvio e notório! Somente com interpretações e
avaliações além-humanas , surgirão novas posições hierárquicas. Somente com o "voo da águia", ou
seja, uma visão mais intuitiva e panorâmica. Não sou como Sócrates, que teve ojeriza pelo trágico. Sou
capaz de entender o lógico-racional do trágico. Não sou como você, Jesus Nihilist, que apregoa a vida
terrestre como algo provisório. Se me apego as inversões, é porque troco de superfícies para angariar
novas estruturas, que não sejam místicas e platonistas.

JESUS CRISTO: Uma razão para cada um? Isso não dá certo. O conflito de Paulo de Tarso e Zaratustra
não foi visto pelos seus correligionários, e sim por indivíduos imparciais. Aqueles que analisaram os
escritos de ambos e tomaram suas conclusões através de avaliações prudentes.
FRIEDRICH NIETZSCHE: A prudência é a capacidade de cada um distinguir o que convém. Para mim, o
que convém é a vontade de potência de Dioniso.

JESUS CRISTO: Mas há o que pode. Para que adicionar ao que pode o que não se pode.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Para tudo poder e tudo criar, ora. Sem isso, os homens se tornam castrados e
pusilânimes.

JESUS CRISTO: A separação de um pai torna o homem pusilânime.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Não sou fraco pela perda do meu pai!

JESUS CRISTO: Teu pai foi pastor. Teu pai está na glória. Ele gostaria tanto que tu completasses os
estudos de teologia para que tu fosses livre.

FRIEDRICH NIETZSCHE: E o que isso me libertaria? Apenas me encarceraria à inveja de homens que
podem desfrutar da alegria terrestre sem culpa.

JESUS CRISTO: Paulo disse que quem crê em mim terá salvo a sua casa. Não será diferente com a casa
de teu pai. Você é a casa de teu pai.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Fui um tijolo que se desarraigou dessa edificação decadente. Meu pai era
bom, mas era mórbido.

JESUS CRISTO: E tu o estás. A doença incomoda sim, mas eu levei sobre mim a tua enfermidade.

FRIEDRICH NIETZSCHE: E por causa disso, eu tenho que ver virtude em resignação. Senhor Jesus
Cristo! Atenção! Não uso a forma de tratamento "senhor" por reverenciar-lhe, mais para demonstrar
totalmente falta de interesse em ter intimidade com o senhor! Não abri a porta para que o senhor ceasse
comigo. Saia de minha consciência, pois não a tenho para dar ouvidos a proposta de mitos que
prometem a salvação de alma. A força está nos homens que repudiam a arbitrariedade do cristianismo
em alterar o significado de determinadas palavras. A palavra bom, em latim, significa bônus, É "guerreiro"!
A vida é uma guerra! Estamos fartos de terras prometidas que não vemos!

JESUS CRISTO: (animado e sorridente) Chamaste a mim de senhor. Já é um começo.

FRIEDRICH NIETZSCHE: (furioso) Saia! Saia! Saia! Saia!

Jesus Cristo sai de cena, enquanto Nietzsche rasga seu lençol.

IMAGENS

(Quarto de Nietzsche)

CENA VIII
É executada ao fundo o tema nº 1-B da ópera "Tristão e Isolda" (por designar "desejo"), de Richard
Wagner. Nietzsche está sentado na cama, com o olhar ao relento. Atrás, um quadro seu, ilustrando sua
posição cênica (um quadro de Bettman Arckive). Por meio de uma corda, o quadro se eleva, sendo que
atrás dele está um espelho, ficando este exibido para o público. De mesma maneira, o espelho é elevado.
Seguindo a sequência, fica à mostra uma minitela cinematográfica, onde são exibidas cenas de,
respectivamente, um camelo, um leão e uma criança. Essa criança, bem vestida e de pele clara, retrata a
infância de Friedrich Nietzsche, sendo transmitida concomitante à narração de uma voz em off masculina.

VOZ EM OFF MASCULINA: Friedrich Nietzsche nasceu em Rocken, na Prússia. Era um menino amado.
Agora, não é mais amado, e sim idolatrado. Escolheu um patamar elevado e se afastou do
sentimentalismo afeminado. Uns não se incomodam e assumem a dependência de surtos emocionais;
outros, como Nietzsche, demonstram execração a eles, em defesa de sua força.

PRÉ-MORTE NIETZSCHIANA

(Quarto de Nietzsche)

CENA FINAL

Elisabeth, irmã de Friedrich Nietzsche, entra no quarto de Nietzsche, trazendo uns livros na mão. Ele
continua deitado, mais paralisado e com o semblante mais sisudo.

ELIASABETH: (à parte) Enfermeiro Lothar! Enfermeiro Lothar! Ai, onde está esse jovem enfermeiro de
Leipzig que não aparece. Só está aqui mesmo por ser de família conhecida da de meu pai. Meu irmão
está aí, entrevado numa cama devido a essa paralisia progressiva que o acometeu. Sei que ele não gosta
do meu marido, mas seus escritos combinam tão bem com o antissemitismo do meu amor... Lothar! Onde
está você, Lothar?

O jovem enfermeiro Lothar entra em cena.

ENFERMEIRO LOTHAR: Chamou-me, senhora Elisabeth?!

ELISABETH: Sim, Lothar. Cuide de Nietzsche enquanto vou encontrar-me com meu marido Herr Forster.
Mostrarei alguns escritos de meu irmão para ele.

Elisabeth sai de cena. Lothar coloca sobre a fronte de Friedrich Nietzsche um pano úmido, já que o
filólogo sua em demasia.
ENFERMEIRO LOTHAR: Como está passando, senhor Nietzsche? (não obtém resposta) Sei muito bem
como está passando. Revoltado com sua irmã, que quer transformá-lo num difusor de idéias antissemitas
É, senhor Nietzsche. Seus livros foram bastante deturpados. E eu queria dizer-lhe que seria melhor que o
senhor seguisse os conselhos de seu pai, o Pastor Karl Ludwig. Meu pai dizia que ele pregava com tanto
fervor que chegava a vir às lágrimas. Gostaria de conhecê-lo. Contudo, não só conheci o gênio filho dele
como estou tendo a oportunidade de despertar o arrependimento nesse momento que é o mais reflexivo
da vida de um homem: o da morte. Escute, senhor, pois sei que está escutando, já que a audição é último
órgão sensorial a ser perdido. O senhor que me ensinou isso, quando eu era ainda um menino e ficava
perturbando o senhor e meu pai, quando vocês serviam de enfermeiro na guerra contra a França. Pois
bem (olha ao redor, verificando se há alguém na casa) Escute... O pastor de minha igreja disse-me que
eu tenho o dom da profecia. Pois profetizo que suas obras, senhor Nietzsche, servirão de pretexto para
fortalecer ainda mais o sentimento antissemita do povo alemão, sentimento este tão odiado pelo senhor!
O terceiro Reich será comandado por um desvairado que assolará o mundo, e terá como base ideológica
muitos de seus escritos. Ele, como senhor, será conhecido como o anticristo, apesar de não ser o, mas
apenas um anticristo. Deturpará sua obra e assombrará o mundo. (sussurra) Senhor Nietzsche... aceite a
Jesus... aceite a Jesus...aceite a Jesus...

Lothar sai de cena. Friedrich Nietzsche com muita dificuldade, e se debatendo na cama, brada, agora
articulando as palavras.

FRIEDRICH NIETZSCHE: Já não quero mais ser dinamite!

Barulho de bombas explodindo

FRIEDRICH NIETZSCHE: Já não quero mais ser dinamite!

Barulho de bombas explodindo

FRIEDRICH NIETZSCHE: Já não quero mais ser dinamite!

Friedrich Nietzsche, ao gritar, sai de cena, e os barulhos de bombas prosseguem. Livros de Nietzsche
são jogados no palco, simultaneamente aos estrondos das bombas. Cessam os estrondos. Jovens
entram no palco, se apoderando dos livros e examinando-os, com diversificadas expressões faciais.

Fim
Glória a Deus!

O Código Di Abo

Cena 1
Jovens Promissores
Cenário: Rua
Dois jovens caminham juntos para a reunião da igreja, papeando.
ÉLDER BROWN: Você gostaria de ser famoso, rico ou inteligente, Marcos?
MARCOS: Ah, Élder... Gostaria de ser o que eu sou. Deus me fez assim, e é assim que eu vou louvá-lo.
ÉLDER BROWN: Deixe de bobeira, Marcos. Nós não estamos na frente do Pastor! Fala com sinceridade!
MARCOS: E você? Gostaria de ser o quê?
ÉLDER BROWN: Gostaria de ser inteligente. O mais inteligente. Já nasci feio, logo não posso ser bonito.
Nem cirurgião plástico dá jeito (risos). E rico sem inteligência e beleza é apenas um bobo na mão de
espertos, aproveitadores e bajuladores, sejam eles filhos, amigos ou esposa. Sendo inteligente, você
consegue ser rico e se passa por bonito sem fazer muita força. E é o que eu vou ser!
MARCOS: É, cada um com a sua opinião...Contanto que não use o intelecto para o mal, está tudo certo.
Tainá entra em cena, preocupada.
TAINÁ: E aí Marcos?!
MARCOS: Tudo bem, Tainá. Quer falar comigo?
TAINÁ: Não, eu quero falar com o Élder.
ÉLDER BROWN: Pois não, Tainá.
TAINÁ: Sabe o que é? O Fábio faltou e não sei quem eu coloco no lugar dele para dar o estudo para os
jovens.
ÉLDER BROWN: Deixa comigo! Estou sempre preparado para um imprevisto como esse!
TAINÁ: Que bom! E você vai falar sobre qual tema?
ÉLDER BROWN: Serve “As influências dos filmes hollywoodianos sobres os que refutam o cristianismo,
provocando o surgimento de novas seitas e heresias”?
TAINÁ: (aprovando) Hummm! Que profundo!
MARCOS: Caramba! Eu não me precipitaria em falar de um tema tão complexo, ainda mais de última
hora!
ÉLDER BROWN: Temos que ser ousados, Marcos. Então, vamos lá?
TAINÁ: Claro!
MARCOS: Vamos sim!
Os três saem de cena.

Cena 2
Mercado de Trabalho
Cenário: Estúdio de TV, com monitores e uma mesa de som.

Élder Brown entra em cena com uma roupa social.


ÉLDER BROWN: Como é, Rui? Preparou a pauta do próximo programa?
Rui – Peraí, Élder! Você não falou que a gente estava precisando de pessoal para completar a equipe de
produção?
ÉLDER BROWN: É mesmo. Estava me esquecendo. (pausa) Rui!
Rui – Fala, Élder.
ÉLDER BROWN: Quem diria que nós iríamos chegar a uma rede de TV!
Rui – É mesmo! Saímos daquela faculdade mediana e estamos aqui! Eu disse que quem faz a Faculdade
é o aluno.
ÉLDER BROWN: E aqueles livros filosóficos nos ajudaram muito.
Rui – Rapaz, você “devorou” todos eles! Foi de Platão a Baudrillard em poucos segundos. É por isso que
colei em você. Meu negócio é serviço braçal, e um só pouco de teoria, é claro.
ÉLDER BROWN: E eu apostei nos estudos. Tanto nos estudos como na credibilidade que o público tanto
dá aos simulacros da verdade. Vender ilusão é o melhor negócio. E nada melhor para vender essa ilusão
do que pela Televisão.
Rui – Olha só, marquei entrevista com roteirista para esta hora.
ÉLDER BROWN: Nesta hora, Rui?!
Rui – É, Élder! “Se vira” nos trinta, grande produtor executivo da TV Flash!
ÉLDER BROWN: É, mais eu não sou o “The Flash”. Vai entender a mente de continuista!
Rui – Está zombando do meu ramo?
ÉLDER BROWN: Brincadeira...Manda entrar o candidato a roteirista!
Rui caminha até a antessala do estúdio (fora de cena)
Rui – Ei, rapaz! Trouxe o currículo, a documentação e o texto? Então entra, que o produtor está te
esperando.
MARCOS: (de fora de cena) Qual é o nome do produtor executivo que está aqui na TV Flash hoje.
Rui – Élder Brown, conhece?
MARCOS: (entrando em cena, surpreso e feliz, com um envelope na mão) Élder Brown? Não acredito
que iria encontrar o Élder Brown, meu irmão em Cristo, trabalhando aqui.
ÉLDER BROWN: (surpreso, mas constrangido) Marcos! Que surpresa... (sussurra ao ouvido de Rui) Rui,
porque você não me disse o nome do rapaz?
Rui – (sussurra) E eu ia saber que você não ia querer entrevistar alguém.
ÉLDER BROWN: Tudo bom, Marcos. Como vai o pessoal lá da igreja?
MARCOS: Ué, da nossa igreja, né, Élder?
ÉLDER BROWN: Não, Rui, eu não sou mais de lá?
MARCOS: Como assim? Eu também não frequento mais aquela igreja, pois mudei de bairro, mas
pertenço à Igreja de Cristo
ÉLDER BROWN: (disfarçando) Não, Marcos, é que agora eu sou espírito livre, entendeu?
MARCOS: Mas...livre de quê? Livre da liberdade?(...) Ah, entendi...Você se desviou depois que entrou
para faculdade. Logo você, que se dizia preparado para resistir a qualquer proposta e filosofia que ferisse
os seus valores.
ÉLDER BROWN: Bom, é para falar sobre a minha fé que você veio até aqui? Estou ocupado.
MARCOS: (resignado) Não. Vim aqui trazer meu currículo. Quero trabalhar aqui de roteirista.
ÉLDER BROWN: Deixou eu examinar. (pega o envelope que estava na mão de Marcos) Hummm...Se
formou pela UFF... E em Produção Cultural. Não sabia que tinha esse curso não!
Rui – (olhando sobre os ombros de Élder Brown) Olha só, o título do roteiro: “Convertendo a TV à
Verdade”. Bem sugestivo!
ÉLDER BROWN: Não achei não!
Rui – Como não! Sua tese foi baseada nesse questionamento!
ÉLDER BROWN: Esquece o que escrevi! (tom) Marcos, me perdoe, mas já temos a ideia, o argumento e
o roteiro para o novo programa.
MARCOS: Como assim? E o anúncio que vocês pregaram lá na faculdade?
ÉLDER BROWN: Vai se acostumando, Marcos! Quer trabalhar em TV? As coisas na TV são assim. Num
piscar de olhos, tudo muda. Roteiros são modificados, elenco é demitido, cabeças rolam...
MARCOS: Entendi. Num lugar onde se mais precisa de luz, a luz é a primeira a ser rejeitada.
Rui – O que ele disse, Élder?
ÉLDER BROWN: Ele só está querendo espiritualizar o simples fato de o perfil dele não ter se encaixado
no nosso padrão daqui da TV Flash.
MARCOS: Você nem viu meu potencial em prática, Élder? Bom, um abraço para vocês e bom trabalho.
Com licença.
Sai de cena com seu envelope.
Rui – Rapaz, você mandou embora uma ideia originalíssima.
ÉLDER BROWN: Deixa de ser burro, Rui. Mandei embora um crente chato que vai ficar dando “pitaco”
em tudo que é programação nossa a favor do moralismo cristão. A ideia ficou.
Rui – Como assim “a ideia ficou”?
ÉLDER BROWN: Você não ouviu o ditado que para bom entendedor um pingo é letra? Só aqueles título
do roteiro dele “Convertendo a TV à Verdade” já me sugeriu algo.
Rui – Mas isso é plágio, Élder.
ÉLDER BROWN: Que plágio o quê, Rui?! Eu nem li o texto dele. Eu só vi o título. E a ideia não tem
registro, é patrimônio da humanidade.
Rui – Racionalizando tudo como sempre, né, Élder Brown?!
ÉLDER BROWN: Nem sempre...Presta atenção. Imagine o contrário: “Convertendo a TV à mentira” ou
“Pervertendo a TV à verdade”, sei lá.
Rui – Mas esse título vai causar aversão ao público!
ÉLDER BROWN: Esse título não vai ficar exposto. Estará no nosso inconsciente.
Rui – E o programa vai versar sobre o quê?
ÉLDER BROWN: Presta atenção na ideia Será uma visita às obras de arte de pintores renascentistas.
Vamos alegar que elas revelam um segredo. Um grande segredo. Um segredo que vai abrir os olhos dos
mais perspicazes. Como a roupa do rei, que na verdade é invisível. Só que a gente vai dizer que ela só é
visível para os mais inteligentes. E o público do nosso programa vai ser convencido por nossa produção
que de fato está vendo o invisível.
Rui – Ainda não entendi a ideia
ÉLDER BROWN: Vou explicar melhor. A gente vai com uma repórter dessas daqui da TV Flash e vamos
aos museus e galerias fazer umas reportagens sobre obras famosas. Então, nós dizemos que elas
transmitem um grande segredo apenas para aqueles que sabem vê-la de um modo enigmático.
Rui – Ah, então a gente vai enfeitar o pavão.
ÉLDER BROWN: É, Rui...É! Você e essas filosofias de esquina.
Rui – Mas qual será esse segredo?
ÉLDER BROWN: Calma...Deixe me pensar. (pausa) Já sei! A gente vai dizer que essas obras revelam
que Jesus não é divino coisa nenhuma! Que ele casou com Maria Madalena e teve filhos, etc.
Rui – Poxa, se você rejeitou um rapaz só por ele ser crente na entrevista, vai querer enfrentar um monte
de teólogo ligando para cá?
ÉLDER BROWN: Rapaz, você acha que eu não estou preparado? Já fui crente já, Rui! Quase entrei para
o Seminário para ser pastor!
Rui – Você, Élder? (risos)
ÉLDER BROWN: Chega, Rui! Olha só, existem uns evangelhos gnósticos, não considerados autênticos,
que volta e meia o pessoal usa para fazer sensacionalismo.
Rui – Que evangelhos são esses?
ÉLDER BROWN: Ah, os Evangelhos de Tomé, de Maria, de Felipe e outros. Nem se sabe porque
associaram esses nomes à autoria desses livros. Mas eles causam um estardalhaço grande. Falam que
Jesus beijava Maria Madalena na boca, coisa e tal.
Rui – Jesus! Há há! Sabia que até ele se amarrava numa mulher.
ÉLDER BROWN: E eu sei lá se isso é verdade! Os verdadeiros evangelhos foram aprovados por grandes
concílios da Igreja e não são contraditórios. Só tem diferença no ponto de vista, não na mensagem.
Esses evangelhos gnósticos são uma discrepância só, mas são os que dão ibope. E são estes que a
gente vai usar!
Rui – E o que tem a ver as obras de arte?
ÉLDER BROWN: Nós vamos falar que os pintores renascentistas faziam parte de uma seita que sabia de
todos os verdadeiros segredos de Jesus. E sutilmente revelavam em suas obras. Tem que ter uma
“viagem na maionese” para ilustrar!
Rui – Ah, agora você falou a minha língua.
ÉLDER BROWN: Eu tenho que me comunicar bem contigo! Você é meu braço direito. Olha que viagem:
nós podemos dizer que a escultura Davi, de Michelangelo, está nua para mostrar que o cristianismo e
favorável ao nudismo!
Rui – Claro. Ou então, dizer que a Mona Lisa é o Leonardo da Vinci travestido!
ÉLDER BROWN: É, mais aí é subestimar muito a inteligência do nosso público...(muda de ideia) Ah,
deixa para lá! O que importa é a audiência.
Élder Brown e Rui continuam conversando sobre várias ideias enquanto a luz se apaga.
Cena 3
Fama
Cenário: Salão de Festa no encerramento da série produzida.

Festa de encerramento do programa “O Código”. Vários flashes representando a consagração de Élder


Brown. No encontro, o Diretor Executivo da TV Flash parabeniza Élder Brown e sua equipe.
Donald Reis – Em nome da Rede Flash de comunicação, quero te dar os parabéns, Élder Brown, pelo
seu programa investigativo “O Código”. Ninguém alcançou tal índice de audiência nesse horário como o
seu programa, batendo o concorrente, antigo campeão de audiência no horário, em 11 pontos. Parabéns!
ÉLDER BROWN: O sucesso é nosso, Donald Reis. O sucesso é nosso.
Donald Reis – Quem quer vê-lo é o Presidente Executivo Artur Mendes. Pediu para que você fosse ao
seu gabinete em São Paulo.
Élder e Rui não escondem a satisfação ao terem sido elogiados.
ÉLDER BROWN: Com certeza estarei lá.
Donald Reis – Com licença, que tenho um outro compromisso. Passe bem! E mais uma vez parabéns
(aperta a mão de Rui e de Élder Brown).
Donald Reis sai de cena.
Rui – Garoto! Olha só, o Diretor Executivo falando com você de igual para igual.
ÉLDER BROWN: Não falei que um dia ele iria abaixar aquele nariz em pé! Só não sabia que seria tão
rápido.
Rui – Aí, hein! Vai ter um encontro com o Presidente Executivo das Organizações Flash! O que mais lhe
falta? O Presidente da República.
ÉLDER BROWN: O cargo ou o encontro? Brincadeira, Rui, brincadeira... Vamos curtir a festa de
encerramento do programa...
Élder Brown e Rui - ... “O Código”!
Rui – Nome bem sugestivo, hein?! Vai preparando mais uma falácia! Está sabendo que ele o Senhor
Artur Mendes tem no seu gabinete uma réplica do afresco “A Escola de Atenas”.
ÉLDER BROWN: Ah...bom saber disso, Rui. Bom saber...
Rui e Élder Brown se retiram para um canto, cercado de mulheres. Marcos está na festa. Agora fala com
um “clown”, à parte do que está ocorrendo, como se estivesse invisível pelos demais personagens.
MARCOS: Quem nunca conheceu a verdade e passa conhecê-la, age como se tivesse achado um
grande tesouro e deixa de dar tanto valor à moedinha que insistia em carregar. Mas para quem conheceu
a verdade e não preenche sua vida com santidade constante, um demônio vem com mais sete demônios
para atormentar.
A festa continua, em meio a gargalhadas. B.O. determina o fim da cena.
Todos saem.

Cena 4
Conversa com o Presidente Executivo da TV Flash
Cenário: Gabinete

Senhor Artur Mendes está esperando Élder Brown.


Secretária (Voz em off) – Senhor Artur. O senhor Élder Brown está entrando.
Élder Brown entra em cena.
ÉLDER BROWN: Como tem passado, Senhor Artur Mendes?
Artur Mendes – Bem, filho. Está precisando de alguma coisa?
ÉLDER BROWN: Não, só de tempo. Sabe como é, depois do sucesso do programa “O Código” estou
sendo solicitado para a produção de vários quadros aqui da TV Flash.
Artur Mendes – Indo bem, filho. Indo bem. Sente-se, por favor.
ÉLDER BROWN: Oh, sim.
Artur Mendes – Gosto de quem aprecia a arte renascentista, filho.
ÉLDER BROWN: É, temos algo em comum, Dr. Mendes. Eu sempre cri que ela me dizia algo mais. Veja
essa réplica da Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, em seu gabinete. Platão aponta para o alto.
Aristóteles, para baixo. Não parece que o quadro quer dizer que uma coisa é o divino e outra coisa é o
humano. Não parece que o afresco quer negar a natureza divina de Jesus.
Artur Mendes – Você tem mesmo um olhar esteta, Élder Brown.
ÉLDER BROWN: É, na verdade, quem me auxilia muito nessas percepções é minha esposa, exímia
professora de Artes.
Artur Mendes – Sabe, Élder Brown. Estava mesmo precisando de alguém assim como você para assumir
uma posição de direção aqui nas Organizações Flash.
ÉLDER BROWN: Estou às ordens, senhor Artur Mendes.
Artur Mendes – Bem, você não gostaria...
Secretária (Voz em off) – Senhor Artur! Tem uma notícia bombástica! Levo o jornal agora para o senhor
ou não?
Artur Mendes – Agora não! Não vê que eu estou numa entrevista?
Desliga o interfone.
ÉLDER BROWN: Será que foi Bin Laden atacou mais um prédio nos EUA?
Artur Mendes – Espero que sim(...) (aperta o interfone) Sônia, traga o jornal aqui.
A secretária leva o jornal e o deixa sobre a mesa do Senhor Artur Mendes.
Artur Mendes – Meu Deus? Você já viu a primeira notícia de hoje do jornal da concorrente?
ÉLDER BROWN: O que eles estão dizendo?
A manchete do jornal está ostentando a seguinte notícia: PROGRAMA DA TV FLASH PLAGIA O
ROMANCE DAUGHTER OF GOD (FILHA DE DEUS), DE LEWIS PERDUE.
Artur Mendes – Elder Brown! Você plagiou um romance para fazer esse programa?
ÉLDER BROWN: Claro que não, senhor Artur Mendes, eu...
Artur Mendes – (interrompe) E agora? Como vai ser! Já é a segunda acusação nesse semestre de plágio.
E isso é ponto contra as organizações.
ÉLDER BROWN: Meu Deus! E o que vamos fazer?
Artur Mendes – Vamos fazer não, você está fora!
ÉLDER BROWN: (pasmo) Como assim “fora”?
Artur Mendes – Fora! Fora do meu gabinete, fora do meu prédio, fora da minha empresa, fora! Ainda se
faz passar por quem tem uma boa concepção sobre arte! Nunca leu na Bíblia que não há nada de oculto
que não seja descoberto nem escondido que não seja revelado! Não tem Bíblia em casa não?! Fora!
Fora!
Élder Brown sai de cena. Artur Mendes anda de um lado para outro, preocupado.
B.O.

Cena 5
Casa humilde de Élder Brown

Ao fundo, uma música instrumental comovente. Élder está com uma garrafa de uísque, chorando e
olhando para o alto. Ao término da música, Élder Brown declara:
ÉLDER BROWN: É a Bíblia que eles querem? Pois é a Bíblia que eles vão ter. Só que eles terão uma
nova bíblia. Uma bíblia contemporânea. Uma bíblia que anuncie o profeta da última dispensação: a saber,
eu mesmo. Vou reunir todos os livros que tenho aqui, menos a Bíblia, é claro, que nem tenho mais aqui
em casa. Vou fazer uma miscelânea e criar uma nova religião. Não vou me render assim facilmente!
B.O. para determinar o fim da cena.
Cena 6
Praça Pública

ÉLDER BROWN: (gritando com um livro na mão) Se vocês querem ouvir sobre o verdadeiro Jesus, que é
diferente deste que nos ensinaram quando éramos crianças, venham! Venham para crer no verdadeiro
Jesus! O anjo me revelou o verdadeiro evangelho! Um anjo vindo do céu, trazendo mais mensagens do
que o anjo Gabriel, mais corajoso do que o arcanjo Miguel e mais coerente do que o pseudo-anjo Morôni!
Venham! Venham!
A multidão desperta interesse para a pregação e para o anúncio do livro de Élder Brown, que está junto
com sua esposa Tainá. Entre a multidão está Marcos, que reconhece Élder.
MARCOS: Elder Brown?! É você!
ÉLDER BROWN: Arreda-te daqui, Satanás. Cuidados, meus associados fiéis e discretos! Tudo que vem
desse homem aqui é perseguição de Satanás. Não deem atenção ao que ele fala!
MARCOS: Deixa de bobeira, Élder!
ÉLDER BROWN: Para trás! Para trás! Venham, meus servos fiéis, discretos e prudentes. Adquiram já a
verdadeira Tradução da Pérola de Grande Valor do Novo Mundo!
MARCOS: Meu Deus! O Élder Brown pirou! Tainá?! Você se casou com o Élder Brown!
TAINÁ: (conversando com Marcos à parte) Casei-me! E some daqui, senão você vai atrapalhar tudo! Ele
não quer te ver nem pintado! Você nem crente nenhum! Agora, para ele, todo mundo que não concorda
com suas ideias é do demônio.
MARCOS: E ele pelo menos acredita nisso?
TAINÁ: Isso não lhe interessa!
MARCOS: Não acredito que você vai fazer parte desse embuste, Tainá! Servir a Jesus é tão simples.
Porque vocês complicam?
TAINÁ: Ué, na Bíblia não ensina para que as esposas sejam submissas aos vossos maridos?
MARCOS: Submissão não é escravidão nem conivência com o erro.
TAINÁ: Na nossa Bíblia Contemporânea Tradução da Pérola de Grande Valor do Novo Mundo é! E com
licença.
Marcos vai se retirando de cena, enquanto Tainá e Élder Brown, aos berros, anunciam na praça sua
pseudo-bíblia, despertando interesse de muita gente.

Cena 7
Celebração caseira
Cenário: Uma casa muito confortável de Élder Brown e Tainá.

Tainá e Élder Brown se abraçam, agarrados a garrafas de uísque e gargalhando.


ÉLDER BROWN: Não falei que seria uma boa mandar os fiéis construírem uma mansão para a
“parousia”, ou seja, a volta iminente dos profetas e patriarcas.
TAINÁ: Você como sempre plagiando a ideia dos outros, Élder! E não é que dá certo?!
ÉLDER BROWN: Claro! O povo gosta de novidade, ou melhor, das antigas doutrinas e ideias vendidas
como novidade. Alguém já disse que nada se cria, tudo se copia!
TAINÁ: O que importa é que estamos numa boa de novo!
ÉLDER BROWN: Eu não falei que a gente ia se levantar?
TAINÁ: E com a ajuda de “Deus’!
Ambos riem. Marcos passa em frente à cena, perto do público, e inicia uma oração.
Voz em off – Ó língua enganadora! O que te será dado? O que te será acrescentado? Ó língua
enganadora?

Cena 8
Cenário: Casa humilde de Élder Brown

Voz em off – Extra! Extra! Charlatão é desmascarado! O livro que ele vende como Bíblia é classificado
como plágio grosseiro e sem nenhuma autoridade.
Élder Brown, um pouco envelhecido, chega em casa, trajando uma camiseta humilde. O telefone toca.
Elder Brown atende.
ÉLDER BROWN: Alô! (…) Fala Rui! (…) Pois é, rapaz! Perdi tudo de novo! Até mulher eu perdi!(...)
Também, né?! Fui defender a poligamia na religião que inventei, e não aguentei! Envolvi-me com um
monte de mulher. (...) Sabe como é? A carne é fraca! (...)Não, rapaz, dá certo sim! Está difícil agora pois
os evangélicos estão enfrentando as heresias com coragem e não estão ficando mais quietos! Chegou
um tempo que nós, embusteiros, temos uns adversários bem incômodos, que leem a Bíblia, pesquisam
outras fontes para verificar os fatos, não deixam a gente ter o nosso espaço e atrapalham a nossa
atuação. (...) Mas um dia a gente chega lá! (...) Como é que é? (...) Um ‘site” de ateu que está querendo
me contratar para escrever uns artigos? (...) Claro Rui! Estamos aí! Estou numa miséria mesmo! Sou tem
uma condição, quero ficar no anonimato, certo? (...) Se for assim, pode falar com a garotada desse “site’
que estou com eles! Eles pagam bem?(...)Ah, para começar, está bom! Depois que eles ficarem
apaixonados por mim de vez, eles me pagarão melhor (risos). Um abraço! (desliga o telefone).
Élder Brown procura uma Bíblia e não acha.
ÉLDER BROWN: (à parte) Tenho que achar uma Bíblia! Condenei tanto ela durante a minha religião que
não tenho nenhuma aqui. (pausa) Ah, já sei quem pode me arrumar! Vai me perturbar um pouco me
evangelizando, mas tenho que correr esse risco. O Marcos! Deixe-me ver se eu tenho o telefone
dele...Ah, está aqui! (pega o telefone e liga para Marcos) Marcos, sou eu, Élder Brown. Marcos, você
poderia me trazer uma Bíblia, que eu não tenho mais nenhuma! (...) Então tá. Estou te esperando!
B.O.
Acende a luz.
A campainha toca. Élder Brown atende à porta.
MARCOS: E aí, Élder?! Vai resistir até quando?
ÉLDER BROWN: (disfarça) Resistir a quê, Marcos.
MARCOS: A Jesus, Élder! Saiba que pode todo mundo ter desistido de você, mas Ele não desistiu nem
nunca desistirá.
ÉLDER BROWN: Não desistiu mas não voltou, né?!
MARCOS: Não é porque a profecia é tardia que ela é mentirosa.
ÉLDER BROWN: (desconversa) Trouxe a Bíblia, Marcos?
MARCOS: Claro! Está aqui. Toma! (entrega a Bíblia). Tenho que ir. Hoje vai ter o encontro do pessoal do
Teatro Cristão lá em casa, com o Davi, a Luíza e outros autores. Quer ir lá?
ÉLDER BROWN: Não, obrigado! Então...(aperta a mão de Marcos) Um abraço.
MARCOS: E lembre-se: Ele nunca vai desistir de você.
Marcos sai de cena.
ÉLDER BROWN: Bom, vamos ao que interessa. Ler a Bíblia, de novo, como nos velhos tempos. Meu
vacilo foi justamente ter deixado de lê-la. Até pra falar mal, a melhor fonte é ela.
Élder lê a Bíblia.

Cena final
Festa do pessoal do Teatro Cristão
Casa do Marcos

A campainha toca.
MARCOS: Esperem um pouco, que eu vou atender à porta.
Élder Brown entra em cena, de joelhos e clamando em voz alta.
ÉLDER BROWN: "Ele vive! Ele vive!"
MARCOS: (ao público) Estão vendo esse momento de conversão. Algo parecido aconteceu com Lew
Wallace.
LUÍZA: Lew Wallace , autor de Ben Hur, um dos romances mais conhecidos do mundo. Converteu-se
depois de ter reunido vários livros para escrever sobre a não existência de Deus. No momento em que
escrevia sua obra, caiu de joelhos, clamando ao verdadeiro Deus.
DAVI: Não foi o caso de Charles Taze Russell nem de Joseph Smith, que morreram sem clamar ao Deus
verdadeiro.
MARCOS: Durante suas vidas, perderam tempo clamando a um deus diferente do Deus da Bíblia.
DAVI: Para Dan Brown ainda há tempo.
MARCOS: Tempo de deixar de fazer miscelânea com escritos espúrios antigos ou de usar sua
concepção sobre a natureza de Jesus para fazer um livro totalmente antibíblico tendo como base um
superficial conhecimento sobre teologia e arte.
LUÍZA: Também não podemos perder tempo! Devemos orar pelos cristãos que se dedicam servindo o
único Deus verdadeiro, o da Bíblia Sagrada...
MARCOS, DAVI e LUÍZA: ...e orando também pelos que serão convertidos, reconhecendo que é a Bíblia
Sagrada é, de fato e de direito, o verdadeiro relato sobre Jesus Cristo.
Marcos, Davi e Luíza impõem as mãos sobre Élder Brown e oram.

Fim

Glória a Deus.

AVENTURAS DE UM NOVO CONVERTIDO

Cena 1
Entrega de panfleto
Cenário: Rua

Um jovem chamado Carlos está encostado na parede. Um homem humilde arrumado deseja um bom dia
ao jovem, passa por ele, mas logo retorna, entregando-lhe, então, um panfleto evangelístico.
HOMEM: Jesus te ama. Deus tem um propósito para sua vida.
O jovem olha surpreso para o homem. Depois do B. O., ao fundo a música “Avivamento”, versão do DJ
Rafael Cavallera.

Cena 2
Culto “Avivado”
Cenário: “Igreja”.
Duas pessoas, Elialda e Marinalva chegam ao culto da “Igreja”. Logo ao sentarem, sozinhas na igreja,
começam a papear.
ELIALDA: Oi, Marinalva. O culto da quinta-feira foi uma bênção, não foi.
MARINALVA: Ora se foi. Todo mundo na graça, na glória, na unção!
ELIALDA: É mesmo. O testemunho do Juninho então, ô benção.
MARINALVA: Se foi. Gostei da parte que ele disse que tava ficando resfriado, e começou a orar assim:
“eu não aceito, Senhor, eu não aceito”! E aí a gripe foi embora. Se ele não faz isso, ela virava pneumonia
e acabava com ele!
ELIALDA: E a parte que ele disse que estava no ônibus e, quando viu que e o ônibus ia ser assaltado,
começou a orar: “eu não aceito, eu não aceito, eu não aceito”. Aí, o ladrão foi embora desesperado.
MARINALVA: O ladrão até se benzeu!
ELIALDA: É, até se benzeu (risos)! E quando ele percebeu que ia ser demitido e aí, começou a orar ao
Senhor dizendo “eu não aceito, eu não aceito, eu não aceito”, e aí então...
Marinalva - ...E aí então...
ELIALDA: Não adiantou. Ele foi demitido mesmo.
MARINALVA: É, fazer o quê...
ELIALDA: Ah, mas a Igreja está muito abençoada!
MARINALVA: Também acho! Em relação a tudo! Os casais não estão se separando, os jovens estão sem
brigar e pararam com essa ideia de ficar uns com outros. E os membros até que estão se vestindo bem.
ELIALDA: Ah, em relação a se vestir bem, eu não tenho a mesma opinião que você não.
Marinalva.(começa a rir).
MARINALVA: O que foi, Elialda?
ELIALDA: Estou lembrando do Chico no casamento da irmã Denair com o irmão Odair. Estava de roupa
social e tênis.
MARINALVA: Hã! Pior o Clóvis no casamento da irmã Railda com o irmão Romildo. Tava de terno e bota.
ELIALDA: Homem não sabe se vestir mesmo!
MARINALVA: Ah, até que tem mulher que também não sabe se vestir não. A irmã Josirene. Não veste
uma roupa que combine.
ELIALDA: A Marinalva, trouxe aqueles brincos que combinam muito com você!
MARINALVA: Ah, que bênção! Quanto tá?
ELIALDA: Ó, um bem parecido, do mesmo modelo, eu vi lá fora por dois reais. Para você, eu faço por um
real oitenta e oito centavos.
MARINALVA: Ah, que bênção! Também trouxe umas pulseiras para te vender. Faz o seguinte, me dá só
um real e trinta e sete centavos e me dá o brinco. Já que a pulseira custa três e vinte e cinco centavos, o
brinco cobre a diferença.
ELIALDA: Ah, que bênção.
Carlos chega na Igreja.
CARLOS: Com licença! Bom dia, senhoras!
ELIALDA: Oi jovem! A paz do Senhor. Qual a sua graça?
CARLOS: Eu ainda não tenho graça não. Segundo o rapaz que me deu o panfleto, a gente encontra a
graça é aqui, não é.
ELIALDA: Não, meu filho, eu quero saber o seu nome.
CARLOS: Meu nome é Carlos. Eu vim aqui assisti o culto das nove.
MARINALVA: Pena que você chegou tão cedo, meu filho. Se você viesse mais tarde, apresentaríamos
você aos jovens da Igreja para você estar logo em comunhão com eles.
CARLOS: É, mas eu já fiz primeira comunhão.
MARINALVA: Não, para você está enturmado para pode conversar, se confraternizar...
ELIALDA: Ele não sabe dessas coisas, Marinalva. Jovem, fique sentado aí, que daqui a pouco o Líder
Apóstolo já chega para o culto.
O jovem senta-se atrás de Marinalva e Elialda, observando a Igreja. Marinalva sussurra a Elialda.
MARINALVA: Eu vi como você olhou para ele, hein, irmã!
ELIALDA: O que isso, Marialva. Ele tem idade para ser meu filho.
MARINALVA: Misericórdia.
As duas oram. O“Líder Apóstolo” entra em cena.
LÍDER APÓSTOLO: Bom dia, irmãos. Hoje o culto será tremendo! Hoje o culto será tremendo! Hoje o
culto será trrrrrrremendo.
JOVEM: (assustado, a Marinalva) Como assim tremendo?
MARINALVA: Você não entende agora porque você é muito novo aqui na Igreja.
ELIALDA: É, isso é muito complexo.
LÍDER APÓSTOLO: Eu vejo uma luz! Eu vejo uma luz! Eu veeeeeeejo uma luz!
JOVEM: Senhoras, vocês também estão vendo essa luz.
MARINALVA: Não atrapalhe agora, meu jovem.
ELIALDA: Calma, Marinalva. Jovem, feche os olhos e ore ao Senhor que você verá a luz!
JOVEM: Essa é boa, fechar os olhos para ver alguma coisa! Não estou entendendo nada!
LÍDER APÓSTOLO: Ablblshdfiwqoen fckjnfencken llkce oinfc llkr clkewmlcx welkxmolik!
JOVEM: O que ele disse? O que ele disse?
MARINALVA: Amém!
ELIALDA: Amém.
LÍDER APÓSTOLO: E o senhor está me revelando! O senhor está me revelando! Um jovem! Um jovem!
MARINALVA: (a Carlos) É você! É você, meu jovem!
ELIALDA: Sim, é você, vá lá na frente!
CARLOS: Eu não!
MARINALVA e ELIALDA: Nós vamos com você!
CARLOS: Não! Não!
Marinalva e Elialda conduzem o jovem à frente. O Líder Apóstolo olha o jovem.
LÍDER APÓSTOLO: Graças a Deus. Graças a Deus. Poijefknewk iljoerjcoklmelks çlkmepkxcfe rplk!
ELIALDA: Amém.
MARINALVA: Além.
LÍDER APÓSTOLO: Eu vejo um jovem com um escudo e com uma armadura.
CARLOS: Como o senhor descobriu a fantasia que eu vesti no carnaval?
LÍDER APÓSTOLO: Não, você ainda vai vestir.
CARLOS: Não, eu não quero mais me fantasiar não. Entrei nessa Igreja para mudar de vida.
LÍDER APÓSTOLO: Vai vestir sim!
O Líder Apóstolo dá um pulo do púlpito ao chão, perto dos três.
CARLOS: Aii!
LÍDER APÓSTOLO: Para se defender das setas do diabo. E agora, prepare-se para receber, o fooogo!
CARLOS: Ai, meu Deus, fogo não!
LÍDER APÓSTOLO: O Fogo do espírito!
Os três agarram, Carlos, circundando-o, pulando agarrado ao Jovem, rodando. Na quinta rodada, soltam,
em meio a gritos.
MARINALVA: Oh, mistério!
ELIALDA: É fogo puro!
LÍDER APÓSTOLO: Periuhfwejhnffn oweopwmewe kdmwoeimfioew!
Carlos cambaleia, tonto, bate com a cabeça no chão e desmaia. Os três se assustam com o que
aconteceu.
MARINALVA: Misericórdia. O jovem desmaiou.
ELIALDA: Claro, não está habituado ao batismo de fogo!
LÍDER APÓSTOLO: Se não acordar em um minuto é porque está endemoninhado.
MARINALVA: Jovem, acorda!
ELIALDA: Acorda, jovem!
Os três tentam reanimar o jovem, que não acorda. A luz se apaga para troca de cenário.

Cena 3
O Mundo mágico das Sensações
O jovem está assustado, olhando para um colorido fora do comum do lugar em que foi parar.
CARLOS: Caramba, onde eu fui parar. Cheio de cor para tudo que é lado. Será que eu estou sonhando?
Dando um grande salto, Impulsão entra em cena.
IMPULSÃO: Oiiiii!
CARLOS: Quem é você?
Sempre antes de sua fala, impulsão dá um salto.
IMPULSÃO: (dá um enorme salto) Você não desconfia?
CARLOS: O grilo falante?
IMPULSÃO: (...) Não!
CARLOS: Joana do pulo?
IMPULSÃO: Meu nome é (...)Im (...) -pul (...) –são!
CARLOS: Como é que é?
IMPULSÃO: (...) Impulsão, meu filho! Impulsão! Você nunca teve vontade de se lançar! De se deixar
mover pelo instinto? De sair pulando como um grilo?
CARLOS: Eu não, não sou animal...
IMPULSÃO: Ah, então experimente, venha!
Impulsão segura em Carlos, que vai pulando junto com Impulsão, dando uns dez pulos pela passeando
pela Igreja. Carlos se cansa, pedindo para que Impulsão pare.
CARLOS: (ofegante) Chega! Chega! Se soubesse que igreja era assim, eu tinha me preparado
fisicamente.
IMPULSÃO: Que igreja, meu filho? Onde você está vendo Igreja aqui?
CARLOS: Eu não estou numa Igreja?
IMPULSÃO: Não, você está no fantástico mundo das sensações. Aqui, o que importa é sentir! Sentir o
desejo de pular, sentir o desejo de dançar, sentir o desejo de falar enrolado, de cantar: “com muita
impulsão(...), com muita impulsão(...), com muita impulsão”
CARLOS: Única coisa que eu estou sentindo é medo. Ô dona impulsão, eu sei que a senhora é boa
intencionada, e o lugar aqui é todo coloridinho, mas olha só. Eu quero ir embora. Eu tenho um monte
coisa para fazer, como fiscalizar a natureza, contar quantos postes tem na minha rua, assobiar para as
meninas, etc. Dá para senhora me mostrar o caminho de casa?
IMPULSÃO: Olha, não dá para sair daqui não!
CARLOS: Claro que dá! O único lugar que a gente entra e não sai é o caixão! Mesmo assim eu tenho um
primo que...
IMPULSÃO: Olha só quem vem lá! Meus amiguinhos! O fogo de palha e a Língua de Trapo!
Fogo de Trapo e Língua de Trapo entram juntos. O fogo de palha parece mais um espantalho,e língua de
trapo, uma lula.
LÍNGUA DE TRAPO: Biwufhiowej ojowf wekrm omflkwermderm lkmlkdewkl!
FOGO DE PALHA: É! É fogo!
LÍNGUA DE TRAPO: Ijokjrenijnkn kjnknxkwn kjnkjens lkenfkjewn jkrnijwnx npopiu!
FOGO DE PALHA: Ih! Foi fogo!
IMPULSÃO: Viu, esses são meus amigos! Só andam juntos!
CARLOS: E porque não se casam!
IMPULSÃO: Eles não conseguem! A Língua de Tapo diz que ele é muito esquentadinho! E o Fogo d
Palha diz que não dá para entender nada o que ela fala!
CARLOS: Eu posso conversar com ele?
IMPULSÃO: Claro, vai lá! Aproveite para fazer amizade aqui no Mundo das Sensações!
CARLOS: Oi, aí!
FOGO DE PALHA: É fogo!
CARLOS: Poxa, se aqui é o mundo das sensações, o que você sente?
FOGO DE PALHA: Calor!
LÍNGUA DE TRAPO: Ppjoifwje!
CARLOS: Se você casasse com ela, qual presente que você queria ganhar de casamento?
FOGO DE PALHA: Um fogão!
CARLOS: Você só fala fogo, fogo! Não fala outra palavra, gíria, sei lá!
FOGO DE PALHA: É brasa, mora?!
CARLOS: (à Impulsão) Ô Compulsão!
IMPULSÃO: Meu nome é (...)Im (...) -pul (...) –são!
CARLOS: É, impulsão. O Fogo é que vai me deixar esquentado! Ele não fala outra coisa não?
IMPULSÃO: Ninguém conseguiu extrair outra coisa dele não. Só, isso, fogo, fogo, fogo!
FOGO DE PALHA: É fogo!
CARLOS: Ah, mas eu vou conseguir extrair outra palavra dos lábios dele que não seja relativa a fogo.
Quer ver? Olha só, esquentadinho! Quero te fazer uma pergunta!
FOGO: Manda brasa!
CARLOS: Qual é o seu time?
FOGO: (desanima)Ah, não fala isso não rapaz...
LÍNGUA DE TRAPO: (espantada) Poiopfjlkrewnwf?
FOGO DE PALHA: (desanimado)Botafogo...
CARLOS: Viu só?!
FOGO DE PALHA: Seu folgado!
CARLOS: E folgado também não vem de fogo!
Fogo de palha resmunga.
CARLOS: Pronto, um costume já foi quebrado aqui nesse mundo. Por isso que eu volto a perguntar. Se
eles dois andam tão juntos, porque eles não se casam.
IMPULSÃO: Não precisam casar não, é...Qual é mesmo o seu nome?
CARLOS: Carlos, prazer.
IMPULSÃO: Bom, Carlos, eles só andam juntos mesmo porque leram em algum lugar que a “língua é
fogo”(Tg 3:6) e estão assim, grudados como irmãos siameses.
CARLOS: E será que isso é uma coisa boa?
IMPULSÃO: (...) Não sei, mas tá na bíblia, então é pra gente fazer!
CARLOS: Hã, e depois vocês dizem que isso aqui não é Igreja. Olha só, dona impulsão, eu estou falando
sério agora, eu tenho que ir para a casa e...
Tico Profetada.
IMPULSÃO: (emburrada) Ih, olha só quem vem lá!
CARLOS: Quem, dona Impulsão?
IMPULSÃO: O Tico profetada! Fala o tempo todo que vai acontecer alguma coisa e nunca acontece.
Tico profetada para em frente ao Fogo de Palha, leva as mãos à cabeça e tem uma visão.
TICO PROFETADA: Estou vendo! Estou vendo que a Língua de Trapo vai queimar a língua!
Fogo de Palha sendo consolado pela Língua de Trapo sentado num canto desdenham de Tico Profetada.
TICO PROFETADA: Olha lá não falei! Acertei mais uma!
Tico Profetada para em frente a Impulsão e Carlos, leva a mão na cabeça e simula um transe.
TICO PROFETADA: Estou vendo! Estou vendo! Estou vendo que Impulsão ainda vai torcer os tornozelos
de tanto pular!
IMPULSÃO: Ah, fala sério, Tico Profetada! Isso aí é mal agouro, e não profecia.
TICO PROFETADA: (a Carlos) E quem é você?
CARLOS: Advinha aí, espertalhão! Você não é bom de adivinhação!
TICO PROFETADA: Me defende agora impulsão!
IMPULSÃO: (...) Tá bom, tá bom! Embora pareça que é a mesma coisa, o Tico quer ser profeta e não
adivinhador. Parece a mesma coisa, mas não é. O adivinho adivinha, ou diz que adivinha, por ele mesmo.
Enquanto que o profeta, recebe de alguém a mensagem de algo que vai acontecer. Mas eu tenho que
dizer uma coisa, Tico! A gente só vê que a profecia é verdadeira quando acontece o que foi predito. E
quando não acontece, não passa de uma profetada!
CARLOS: Ô seu Tico profetada. Se algo ou alguém lhe envia a mensagem, esse alguém pode me ajudar.
TICO PROFETADA: É verdade!
CARLOS: Então me Sá logo o telefone de contato dessa pessoa que te envia a mensagem que eu quero
falar com ele para me ensinar o caminho de casa.
TICO PROFETADA: Não dá!
CARLOS: Como não dá?
TICO PROFETADA: Porque não é alguém e algo! São ‘alguéns e algos”! Ou seja, quem me dá uma
mensagem, eu aceito, com muita gratidão e profiro para toda a multidão! Olhe só: (ao público)logo mais
vai chover! Um time de São Paulo vai ser campeão brasileiro! Alguém que está sonhando, vai acordar!
CARLOS: Sonhando? Acordar? É isso! Eu tô sonhando e preciso acordar! Eu preciso acordar! Mas
como? Como?! Eu preciso saber como?!
IMPULSÃO: Acho que é só abrir os olhos!
CARLOS: Abrir os olhos. Mas eles já estão abertos! Não, não é tão simples assim! Alguém tem que me
ajudar! Eu preciso encontrar...
IMPULSÃO: Ih, mais um!
TICO PROFETADA: Eu prevejo mais confusão!
FOGO DE PALHA: A batata dele também tá assando!
LÍNGUA DE TRAPO: Piiekrguwfhwerif oimorewimw!
CARLOS: Porque esse desânimo.
IMPULSÃO: Mais um que precisa encontrar!
CARLOS: Encontrar o que, ora bolas?!
IMPULSÃO: Ora, o tesouro! Você não sabe do tesouro?
CARLOS: Que tesouro?
IMPULSÃO: Eu sei lá, ué! A gente precisa encontrar para saber o que é!
TICO PROFETADA: Eu te avisei que não era hoje que iria aparecer aquele que vai ajudar a gente a
encontrar o tesouro.
Carlos percebe que eles só o ajudariam se ele dissesse que é ele a pessoa a ajudá-los a encontrar o
tesouro.
CARLOS: Quem disse que não sou eu? É..é...é claro que sou eu!
IMPULSÃO: É você?
CARLOS: Sim!
TICO PROFETADA: Não acredito! Se é você, mostre o mapa!
CARLOS: O mapa?
TICO PROFETADA: Sim, o mapa do Tesouro!
CARLOS: Ai, meu Deus. Onde eu vou arrumar um mapa? Ah, já sei!
Carlos pega um panfleto em seu bolso.
CARLOS: Tá aqui!
IMPULSÃO: Está parecendo mais um panfleto, desses que distribuem na rua!
FOGO DE PALHA: Parece mais uma nota fria! Deixa eu dar uma esquentada!
TICO PROFETADA: Nada disso! Você vai é queimar ele! Tá vendo? Mais uma profecia verdadeira! O
fogo vai queimar! O fogo vai...
Todos olham sério para Tico Profetada
TICO PROFETADA: Deixa pra lá.
IMPULSÃO: Carlos! Seja panfleto, nota ou mapa, veja o que está escrito nele!
CARLOS: Está escrito assim P V cento e vinte!
TICO PROFETADA: É um enigma
CARLOS: Não, deve ser a sigla de um partido político e o número do candidato.
IMPULSÃO: Não, Carlos. Está escrito Pv 1:20. (...)Tem dois pontos entre o um e o vinte.
CARLOS: E o que significa PV?
TICO PROFETADA: Bom, segundo meus estudos, é a abreviatura de Provérbio, uma sentença de caráter
popular , expressa de uma forma resumida e geralmente rica em imagens.
FOGO DE PALHA: Ih, minha cabeça ficou pegando fogo agora!
LÍNGUA DE TRAPO: Trowpoekw joeijwo!
IMPULSÃO: É um ditado, Carlos. Não liga para o Tico Profetada não, Carlos. (...)Ele estuda muito para
parecer que as profecias dele são verdadeiras. (...)Por exemplo, sabe que nessa estação do ano chove
muito para dizer que vai chover mais tarde...
TICO PROFETADA: Poxa vida, impulsão. Você implica muito comigo.
IMPULSÃO: Carlos! Eu sei quem pode te ajudar. Temos uns primos que moram num mundo perto daqui!
É o mundo dos sentimentos sinceros.
CARLOS: Ué, e vocês não são sinceros!
IMPULSÃO: Poderíamos ser mais! Se fôssemos, não estaríamos aqui, mas lá!
TICO PROFETADA: É verdade. Colocamos muito mais a nossa vontade à frente da manifestação natural.
FOGO: E por isso não amontoamos brasas vivas sobre nossas cabeças.
LÍNGUA DE TRAPO: Epefpeowifp!
CARLOS: E onde eles estão.
IMPULSÃO: (sussurra) Olhe, eles estão ali (aponta para o público) Mas cuidado! Eles são muito
sensíveis.
CARLOS: Ah, sensíveis?! Então pode deixar que eu sei o que eu vou fazer.
Carlos vai até ao público e senta perto de uma pessoa do público, começa a chorar.
CARLOS: Uaaahhh!! Eu gostaria tanto de saber o que é Provérbio 1:20. Por favor, me ajuda! (segura na
mão do espectador) Eu gostaria tanto de saber o que Provérbio 1:20. Ahhh! Por favor, me ajuda!
A pessoa acaba lendo para ele o que está na Bíblia em Provérbios 1:20.
CARLOS: Muito obrigado! Muito obrigado! Uaaaahhhh!
Carlos corre para perto de Impulsão, que o olha bem séria.
CARLOS: Consegui! Consegui! Consegui... O que foi impulsão?
IMPULSÃO: (...) Você brincou com os nossos sentimentos!
CARLOS: Ah, não esquenta! Sem alusões ao fogo, é claro! Olha só o que a pessoa disse que significa
Provérbio 1:20. É o seguinte: “A suprema sabedoria grita de fora; pelas ruas levanta a sua voz”.
IMPULSÃO: Então é essa a sabedoria que nós temos que achar.
TICO PROFETADA: Mas se ela grita de fora, eu presumo que não está aqui, pretendo recomendar que
procuremo-la e profetizo que vamos encontrar!
LÍNGUA DE TRAPO: Poenieneimn!
TICO PROFETADA: Fica quieta quando eu estiver falando, em sua linguaruda!
FOGO DE PALHA: Olha aqui, não encosta nela se não você vou queimar teu filme, hein?!
CARLOS: Parem com essa confusão. No meu mundo, na hora do sufoco, a gente tem ficar unido!
IMPULSÃO: O que mais vocês fazem no seu mundo quando estão no sufoco.
CARLOS: (constrangido) Bom...bom... a gente pede a Deus livrar a gente da enrascada.
TICO PROFETADA: Deus?
CARLOS: É, Deus. Os crentes lá perto de casa o chamam de Senhor, de Jesus. Bom, é a ele que a
gente tem pedir alguma coisa quando não mais nada que os homens possa fazer.
TICO PROFETADA: Então vamos pedir a esse Deus.
IMPULSÃO: E como fazemos?
CARLOS: Bom, a gente se ajoelha, fecha os olhos e ora. Ai, só sonhando que eu oro mesmo! Bom,
vamos lá! Repitam comigo por favor. Deus...me ajude nessa hora difícil...só o Senhor pode nos
ajudar...Amém.
IMPULSÃO: Hummm! Gostei!
TICO PROFETADA: Eu também. Até me deu vontade de conter as minhas profecias para não
desvalorizá-las.
FOGO DE PALHA: E eu senti que estou queimando a língua!
LÍNGUA DE TRAPO: Ai!
IMPULSÃO: Bom, e aí?
CARLOS: E aí que...
Carlos ouve, bem ao fundo, uma Senhora gritando seu nome e dos personagens, um por um, sem
cessar.
CARLOS: Vocês estão ouvindo?
IMPULSÃO: Não.
TICO PROFETADA: Eu também não!
CARLOS: Então deixem um pouco a vontade de vocês de lado que vocês vão ouvir!
IMPULSÃO: Ai, isso é muito difícil mas...vamos tentar!
Os outros também concordam e fecham seus olhos, sendo que a impulsão deixa de pular todo o tempo.
TICO PROFETADA: Ei, eu estou ouvindo!
IMPULSÃO: Eu também! Parece uma senhora!
CARLOS: Seja lá o que for, vamos atrás dela.
Todos saem de cena.

Cena 4
O encontro com sabedoria.
Cenário: Caverna com uma caixa
Tico Profetada, Impulsão, Fogo de Palha, Língua de Trapo e Carlos chegam num lugar onde tem uma
imensa caixa fechada, com uma senhora batendo desesperada.
SENHORA: Tico Profetada! Impulsão! Fogo de Palha! Língua de Trapo! e Carlos! Tico Profetada,
Impulsão, Fogo de Palha, Língua de Trapo e Carlos.
CARLOS: Meu Deus, que caverna escura! Olhem só!É uma caixa. E a senhora que grita os nosso nomes
está presa nela.
IMPULSÃO: E o que faremos para libertá-la?
TICO PROFETADA: Não sei!
CARLOS: Ai, já é uma evolução você dizer que não sabe algo. Fogo de palha! Será que você pode ajudar
com esse calor aí?
FOGO DE PALHA: Ai, tenho medo de queimar essa senhora que está aí dentro.
CARLOS: Ai, meu Deus. Impulsão, olha só, eu vi que no verso do mapa, ou do panfleto, sei lá, tinha outro
enigma! Está escrito assim PV, que é provérbio, né? Provérbio 9:10. Será que você, com seus imensos
pulos, pode ir rápido naquele mundo dos sentimentos sinceros e pedir para aquela pessoa decifrar para
mim.
IMPULSÃO: Não! Eu tenho medo de torcer os tornozelos.
CARLOS: E você, Tico Profetada!
TICO PROFETADA: Eu tenho medo de alguém não acreditar em mim. Minha fama de falso profeta já
correu por todos esses mundos.
CARLOS: Não posso acreditar! Agora que é para impulsão pular, ela não quer pular, e na hora que é
para o Tico Profetada falar, ele não quer falar! Será possível que, agora que o dom de vocês é para um
objetivo, vocês não podem prestar seus serviços?! É por isso! É por isso que vocês nunca vão ser
sentimentos sinceros! Nunca! Sabem o quer dizer a palavra sincero? Significa sem cera, ou seja,
autêntico, genuíno! Vocês não passam de instintos!
LÍNGUA DE TRAPO: É...eu vou!
Todos se pasmam.
CARLOS: Mas...mas você...
LÍNGUA DE TRAPO: Já está na hora de eu ser instrumentalizada para a edificação de alguém que não
seja eu mesma. Pode deixar que eu vou. Ainda que eu fale a língua dos homens ou de anjos, se não tiver
amor, eu não sou nada
CARLOS: Claro, claro. Tome, dona Língua. Olha, é o seguinte. Está escrito no papel assim Pv 9:10.
Agora que a gente sabe que PV é Provérbio, pergunte para aquela pessoa o que é Provérbio 9:10.
Incrivelmente, a porta se abre sozinha
SENHORA: O temor ao Senhor é o princípio da Sabedoria.
CARLOS: Meu Deus!!
SENHORA: Isso mesmo! O temor a Deus é o princípio da Sabedoria. E não adianta os homens contarem
histórias mitológicas, como o mito da Caixa de Pandora, onde uma suposta semideusa deixa escapar
calamidades para atormentar os homens se os próprios homens encaixotam a sabedoria. Eu, a
Sabedoria não gosto de ficar presa, inutilizada.. E o meu princípio está quando os homens temem ao
Senhor. Temem a Deus. E não adianta estes mesmos homens, inventores de mitologias, dizerem que a
única a ficar na caixa foi a esperança, pois ela está livre. Sim, livre. Como o profeta disse, lamentando
pela angústia sofrida por sua cidade, que queria trazer a memória aquilo que nos dá esperança. Sim, ela
está na memória, no coração, de quem acredita realmente que Deus é a nossa esperança e fortaleza no
dia da angústia. Mas haverá o dia de estabilidade dos tempos e abundância de salvação, sabedoria e
ciência. E o temor do Senhor será o seu tesouro.(Is 33:6) E foi nesse dia, você clamou, Carlos. Por isso
que você está conseguindo se aproximar de Deus. Mesmo com todas essas meninices te assustando. E
olha que elas insistem em serem chamadas de atributo da Igreja de Deus.
IMPULSÃO: Dona Sabedoria, de fato nós somos muito movidos aos nossos impulsos. Mas queremos
corrigir esse erro! Queremos, sim, sermos chamados de sentimentos sinceros.
SENHORA: Claro, claro! É para vocês, que aprendem como me buscar, que eu tenho algo a dizer. E
começo com você, Impulsão!
IMPULSÃO: Como sabe o meu nome?
SENHORA: Ora, eu sou a Sabedoria! Para que você esteja, de fato, no mundo dos sentimentos sinceros,
tire o impulso e seja somente unção. Impulso e unção não combinam. Unção verdadeira significa um
certificado. A contínua presença e ministério interno do Espírito Santo, protegendo-nos de falsos mestres
e auxiliando-nos a discernir o que é certo e o que é errado. O impulso faz cair. O Espírito Santo, faz
levantar.
IMPULSÃO: É verdade...
SENHORA: E você, Tico Profetada, fique sabendo que nenhuma profecia provém de elucidação
humana(2 Pe 1:20). Os antigos profetas iniciavam as profecias proferidas por eles com a seguinte
introdução: “Assim diz o Senhor”.
TICO PROFETADA: Mas foi só agora que eu descobri que temor ao Senhor é o princípio da Sabedoria.
SENHORA: Nunca nenhuma profecia foi dada por vontade humana. Não ponha palavras na boca do
Senhor. Deixe o senhor falar por você, pois se ele quiser falar por você, ele vai falar a qualquer momento,
sem que você esteja se auto promovendo por isso. Já você, Fogo de Palha!
FOGO DE PALHA: Ai...Estou queimado até com a sabedoria!
SABEDORIA: É verdade. Mas para ficar de bem comigo, tire logo essa palha toda de você! Não seja fogo
de palha, seja fogo de ourives. E fique sabendo que há fogo do céu e fogo do inferno. O fogo do inferno é
tudo de ruim, assim como esse teu desejo de estar o tempo todo queimando a língua. O fogo do inferno
queima tudo o que é bom. Já o fogo do Espírito Santo queima tudo de ruim, como a palha, que só serve
para ser queimada, e não cultivada. Até para o tipo de fogo temos que ter discernimento. Não é porque
tem fogo perto da gente que necessariamente é fogo bom! Agora você, língua, teve o verdadeiro
avivamento! Descobriu que não é o falar enrolado que vai edificar os outros, e sim os dons menos
egocêntricos. Mas se um dia o Senhor tiver um objetivo específico, como ele já demonstrou em outras
ocasiões, mas sempre com um objetivo específico, para que você volte a falar desse jeito, pode ter
certeza que ele concederá. Mas você descobriu, por deixar um pouco de ser egoísta, o maior de todos os
dons: o amor. Esse é que não pode faltar. O batismo do Espírito Santo é confirmado na pessoa que ama.
Se não ama e fala línguas, é metal que faz barulho!
IMPULSÃO: É, pelo o que estou vendo, vamos ficar muito tempo aqui, antes de passar para o mundo dos
sentimentos sinceros.
SENHORA: Ora, eu posso ensinar vocês. Estou liberta. Basta que os homens temam a Deus, como foi o
caso de Carlos, para que eu esteja livre para atuar.
CARLOS: Ô dona Sabedoria. Eu sei que o papo está bom, mas eu tenho que acordar. Eu estou me
sentindo com a Doroth do Mágico de Oz nesse sonho. E não adianta falar para eu bater tornozelinho não
que eu sou é macho!
SABEDORIA: Claro, Carlos. Para você ver como isso aqui não é filme de mágico de Oz, você não vai
nem se lembrar do que você sonhou! Só vai se lembrar de que tem um papel no bolso e precisa ler na
Igreja em que você está.
CARLOS: Está bem. Mas se não é batendo tornozelo nem abrindo os olhos, que eu já tentei, qual vai ser
o método para que eu acorde logo.
Senhora Sabedoria manda todos os alunos formarem, como um pelotão.
SENHORA: Atenção primeira turma de aprendizes de sentimento sincero! Primeiro objetivo específico a
ser atingido. Beliscar o Carlos até que ele acorde!
CARLOS: Não! Não! Nãããããããão!
Impulsão, Tico Profetada, Fogo de Palha e Língua de Trapo beliscam Carlos até que ele acorde.

Cena 5
Volta ao primeiro amor
Igreja
Carlos, vai acordando, deixando aliviados o Líder Apóstolo, Marinalva e Elialda.
ELIALDA, MARINALVA e LÍDER APÓSTOLO: Milagre! Milagre! Graças a Deus!
CARLOS: Não me roda não gente! Não me roda não que eu passo mal, e fico tonto...
MARINALVA: (interrompe-o) Calma, jovem. Você só não está acostumada com essas experiências.
ELIALDA: É, você ainda está no leite espiritual.
LÍDER: E um dia você também será uma elite espiritual como nós!
CARLOS: Elite espiritual é ter que ficar rodando que nem um pião e pulando que nem um canguru! Então
eu estou fora! Não aguento!
LÍDER: Jovem, você não sabe o que está dizendo.
MARINALVA: Isso é pecado contra o espírito, o único pecado que não é perdoado por Deus.
ELIALDA: Esperem, gente, vamos ver o que o jovem tem a dizer.
CARLOS: Dizer? Eu não quero dizer nada. Só vim aqui mesmo porque recebi um panfleto com endereço
de vocês. Eu nem li direito o panfleto, mas estava mesmo precisando acertar minha vida com Deus e vim.
Diz o seguinte(lê com dificuldade): “Tenho porém, contra ti, que abandonaste o primeiro amor. Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, senão, venho a ti e moverei o
lugar do teu candeeiro, caso não te arrependas”, é, é isso que está escrito no papel.
Aos poucos, Elialda, Marinalva e Líder Apóstolo choram, como arrependidos. Vão chorando cada vez
mais, se abraçando, deixando Carlos assustado.
CARLOS: Meu Deus, é o pessoal lá fora tem razão. Esses crentes são mesmo malucos. Estavam rindo
até pouco tempo, agora estão chorando. Eu vou é embora daqui.
Elialda, Marinalva e Líder Apóstolo prosseguem na choradeira. Carlos sai de cena de mansinho. Ao
fundo, novamente a música “Avivamento”, versão do DJ Rafael Cavallera para demonstrar que, agora, de
fato está ocorrendo um avivamento na Igreja.
Cena Final
Entrega do segundo panfleto
Cenário: Rua

O homem da primeira cena entrega a Carlo novamente um panfleto evangelístico.


HOMEM: Jesus te ama. Deus tem um propósito para sua vida.
CARLOS: Ai, você de novo!
HOMEM: E o que tem isso de mal? Isso é porque eu quero me aproximar de você.
CARLOS: Não parece! Eu vou na Igreja que vocês mandam ir e vocês mais assustam do que acolhem!
Ficam pulando e rodando ao mesmo tempo! Eu sofro de vertigem! Poxa, eu estou querendo sair do circo
que é o mundo e encontro outro circo dentro da Igreja! E tem mais, da última vez que fui, caí de cabeça e
desmaiei. Depois, li o panfleto que você me deu em voz alta para eles. Antes de eu ler, eles estavam
felizes e do nada, começaram a chorar sem parar. Aí eu fiquei pensando, será que eu sirvo para a Igreja.
HOMEM: Claro que serve! O pessoal antes de chorar estavam eufóricos, e não felizes. Você já pensou
que você foi instrumento nas mãos de Deus para corrigir o que estava errado naquele lugar que eles
dizem ser Igreja de Deus?
CARLOS: Claro, mas...Eu não entendi porque você me mandou lá.
HOMEM: Justamente por isso. Pessoas como você representam o primeiro amor, a sede pela palavra, a
vontade de verdade. Mas é preciso que você e eles também não expressem esse sentimento somente no
início, quando conhecem a verdade, mas com constância, perseverando até o fim.
CARLOS: E porque você não foi? Fique sabendo que por eu ter ido lá minha cabeça ficou doendo duas
semanas!
HOMEM: Um dia você vai entender. E se você lesse no panfleto primeiro a mensagem e depois o
endereço, você logo ao entrar perceberia alguma coisa errada. Iria ficar mais atento e precavido. Olha só,
vamos fazer um trato. Eu não lhe dou um panfleto e você age da seguinte maneira, a partir de agora. Não
procure Igreja certa para achar Jesus. Procure Jesus, e encontrará a Igreja Certa. E leia Bíblia.
CARLOS: Hã, pode deixar.
O homem vai saindo de cena, quando Carlos o chama.
CARLOS: Ei, moço. É difícil encontrar Jesus?
HOMEM: É mais fácil do que você imagina. Até logo.
CARLOS: Até...
Carlos reflete uns segundos e sai de cena.
VOZ EM OFF: Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abria a porta, entrarei em sua
casa e cearei com ele, e ele, comigo.(Ap. 3:20)
Fim

Glória a Deus!

VENDO O NATAL EM CONJUNTO

Cena 1
Uma menina foi incumbida de escrever o texto teatral de Natal para sua igreja. Ela entra em cena com
papéis, uma caneta e uma Bíblia, preocupada com o fracasso de sua missão.
Escritora – Meu Deus! Está chegando o Natal! Estou encarregada de escrever o texto e está me faltando
inspiração como nunca faltou. Estou na maior dúvida quanto ao que escrever! Não sei se convém
apresentar para a Ministra do Teatro algo tradicional ou se faço algo inovador, como por exemplo: o
“Natal da Família Buscapé”. Não acho que iria escandalizar os espectadores que vem à casa do Senhor
nessa época para poder aprender mais sobre o nascimento de Jesus. Ah, como é angustiante minha
situação. (para uns momentos pensativa e, num insight, tem uma ideia) Já sei! Eu posso conciliar as duas
coisas. Posso contar a estória do nascimento de Jesus, sem desrespeitar as origens das peças natalinas
com uma pitada de inovação, como as bênçãos de Deus que se renovam a cada dia. Então vejamos, tá
tudo aqui. Papel, caneta, inspiração e o que é mais importante: a Bíblia, a palavra de Deus. Bom, vou
começar a peça com uma cena bem convencional. O encontro do Anjo Gabriel com o Sacerdote
Zacarias, o pai daquele que preparou a o caminho do Senhor Jesus.
A menina continua escrevendo no canto da cena, enquanto que ao seu lado, Gabriel e Zacarias
contracenam, exprimindo o que está sendo escrito pela menina no papel.
Zacarias – Ah, que honra é exercer o sacerdócio no templo do Senhor e queimar o incenso como aroma
agradável à sua presença. Isso é um privilégio. Muitos sacerdotes só puderam fazer isso uma vez na
vida. O que me mais me falta acontecer? Estou muito feliz. O Senhor é muito bom comigo.
Gabriel entra em cena de súbito.
Gabriel – Pois pode se preparar Zacarias, pois a sua alegria vai aumentar.
Zacarias – (assustado) Quem é você? Como ousa me interpelar assim desse jeito? Eu sou um
sacerdote. Só tenho o privilégio de atuar dessa maneira duas vezes por ano. Não há mais nada de igual
grandiosidade, como o ofício sacerdotal, que eu posso estar envolvido nesse momento.
Gabriel – Você que pensa, Zacarias. Eu sou um mensageiro do Senhor. Um anjo. Vejo sua dedicação na
obra de Deus. Só que chegou a hora de sua oração ser atendida. Não fique atemorizado. Saiba receber a
bênção de Deus que ama ampliar cada vez mais os laços de amizade com os que o amam.
Zacarias – E que bênção é essa? Peço tantas coisas ao Senhor...
Gabriel – Sua esposa, Isabel, terá um filho.
Zacarias – Um filho. Não posso crer.
Gabriel – Por que não, Zacarias. Você, além de sacerdote, sempre foi um crente fiel nas coisas de Deus.
Zacarias – Mas minha esposa e eu somos velhos demais. Já estamos satisfeitos com o que temos.
Gabriel – Zacarias, Deus quer o abençoar mais e mais. Não acha que está querendo limitar o poder de
Deus?
Zacarias – Não é isso. O que eu vejo é que de fato não acontecerá isso, segundo a lógica humana. É o
que eu sinto em dizer-te, mesmo que sejas um mensageiro de Deus.
Gabriel – Zacarias, isso é o mesmo que duvidar. Pois eu, além de uma benção do Senhor, também lhe
entregarei uma advertência. Ficará mudo, Zacarias, mudo.
Zacarias – Como mudo. E minha função de sacerdote?
Gabriel – Ora, Zacarias, você não usa só sua língua para o sacerdócio. Você também fala para as
pessoas sobre como Deus é tão maravilhoso e tão misericordioso. Mas com uma mente duvidosa, você
iria alterar os fatos. E calado você vai ficar bem, em situação de espera, para aperfeiçoar a sua fé.
Zacarias – Mas durante o meu ministério?
Gabriel – Sim, Zacarias, será melhor para você.
Gabriel se despede de Zacarias. Este, já estando mudo, sai de cena após ter orado ajoelhado e através
de acenos ao Senhor.

Cena 2
Escritora – Excelente! Para começo de conversa, está muito bom. Começar uma peça desse jeito é a
melhor maneira de não escandalizar os irmãos. Mas agora...O que eu farei? Bom, posso acrescentar
pantomimas a esta próxima cena. Pantomima significa encenação apenas através de gestos e
expressões corporais. E a próxima parte é o encontro de José com Maria, logo após o anjo ter dito que
ela teria em seu ventre um filho gerado pelo Espírito Santo. E para ela contar para José, seu marido,
deve ter sido um momento difícil. Fazer essa cena com gestos vai ser legal. Um gesto vale mais do que
mil palavras!
Cena pantomímica. Não haverá falas. Apenas a chegada de Maria relatando, através de gestos que está
grávida, e que o filho foi gerado pelo Espírito Santo. Faz isso apontando para o céu e acariciando sua
própria barriga. José não entende. Por isso, Maria repete o gesto várias vezes. Isso entristece José, que
fica quieto por uns instantes. Maria se aproxima de José, que se desvencilha dela, não com estupidez,
mas com delicadeza. Ao se retirar, Maria fica no canto triste por José não ter entendido. Quando José vai
se retirando, Gabriel bloqueia sua passagem, sendo observado com espanto por José. Gabriel explica
também com gestos que ele é um mensageiro de Deus e que Maria está grávida do filho gerado pelo
Espírito Santo. Aos poucos, José vai aceitando. Após ter entendido, José se aproxima de Maria e,
também através de gestos, diz que entendeu e vai cooperar com o que for preciso com sua esposa.
Escritora – Ai...Acho que o público vai entender. Num momento como esse, suponho que as expressões
tanto de José como de Maria foram mais importantes. No caso de Zacarias não. Era só gesto mesmo, na
real, pois o coitadinho tava mudinho, mudinho! Olha que ideia maneira! Zacarias também, na próxima
cena, poderia interpretar uma pantomima ao se aproximar pela primeira vez de Raquel para dizer-lhe o
que aconteceu. Humm, que bom, ta nascendo a peça de natal!
Zacarias chega em casa, sem falar uma só palavra, mas tentando, através de acenos, se comunicar com
sua esposa.
Isabel – Meu marido! Já está em casa? Terminou o seu ministério? Que bom! Mas por que esse silêncio
todo?
Zacarias, através de gestos, explica que não pode falar.
Isabel – Como assim não pode falar. Aconteceu alguma coisa, Zacarias.
Zacarias aponta para o alto e leva a mão à boca.
Isabel – O que houve, meu senhor. Deus lá do alto lhe enviou uma mensagem para que você falasse
demais para os outros sacerdotes e, de tanto o senhor falar, você ficou afônico sem poder falar.
Zacarias meneava a cabeça, dizendo que não. Zacarias explicou novamente, através de gestos, que um
mensageiro do céu (fez isso ao se apoderar de um alforje, simulando a entrega de uma carta que estava
dentro dele, para que sua esposa pudesse entender) disse que sua esposa ficaria grávida.
Isabel – Zacarias, faça esses acenos um pouco mais devagar para que eu compreenda o que o senhor
quer dizer (interpretando a mímica de Zacarias) Bolsa...sim o que tem a bolsa. Ah, algo que tem dentro
da bolsa e é entregue....Entregue...Entregar! Ah, não é entregar? Então o que será? Mensagem talvez.
Ah é mensagem? Semelhante à mensagem? Mensageiro! É mensageiro! O que tem um mensageiro de
Deus? Ele disse para o senhor alguma coisa? O que ele disse? Prossiga, meu marido, que eu estou
entendendo aos poucos.
Zacarias simula um gesto de embalar bebês.
Isabel – Um bebê. Que lindo! Um bebê!
Zacarias agora acaricia a barriga de Isabel.
Isabel – Eu vou ter um bebê! Que bom! Eu vou ter um bebê! Glórias a Deus. O Senhor me contemplou
para destruir meu opróbrio diante dos homens. E o senhor, meu marido? Também, como eu, acreditou no
que o mensageiro de Deus lhe disse.
Zacarias meneia negativamente a cabeça e coloca sua mão sobre a boca.
Isabel – Não? E por isso ficou mudo? Não importa, meu marido. Não será isso que vai acabar com a
nossa alegria. Nossa família é um exemplo de exortação e promessa de Deus. E Ele vai exercer sua
misericórdia para conosco.
Isabel e Zacarias, abraçados, saem de cena.

Cena 3
Escritora – (sorri) E exerceu mesmo. Zacarias mesmo estando mudo ajudou a confirmar o nome do filho
deles. João foi o nome. E mais tarde, ele seria conhecido como João Batista, o privilegiado de ter
batizado o próprio Senhor Jesus. Ai, meu Senhor Deus... Será que as pessoas vão compreender o que
estou escrevendo. Bom, a palavra de Deus, em Lucas capítulo 1, versículo 22 mostra que Zacarias se
comunicou através de acenos, e com certeza deve ter dito à sua mulher o que aconteceu. Bom, chega de
gesto! Essa é boa... Chega de gesto, mas coloca o quê mais nessa peça? Bom, vamos verificar na Bíblia
o que vem agora.(lê a Bíblia) Maria visita Isabel...O cântico de Maria por estar feliz por está grávida do
Espírito Santo...O nascimento de João Batista... Zacarias cantando cheio do Espírito Santo... Ai, Senhor,
o que eu faço? (para uns instantes para refletir e...) É isso. Dois cantos, o de Maria e de Zacarias. Tem
que ter a parte musical da peça. Vou escrever esses dois cantos depois peço para o meu amigo do grupo
de louvor da Igreja colocar música nessa letra...
A menina prossegue escrevendo a peça no canto da cena, quando Maria entra em cena para entoar o
seu cântico, logo após ser seguida por Zacarias, que também entoa seu louvor ao Senhor.

Cântico de Maria
A minha alma engrandece ao Senhor
Meu espírito se alegrou em Deus,
No meu Deus e meu Salvador que me contemplou
Entre todas as gerações
Sei que me considerarão muito feliz.
E hoje eu louvo ao Senhor.
Vai de geração em geração
Sua misericórdia e compaixão.
O seu braço de valor;
Dispersou quem se rebelou.
Ao soberbo derribou, ao humilde exaltou.
Ao pobre alimentou e ao rico, exortou.
Amparou a Israel, pois o meu Deus é fiel
Foi de Abraão a favor,
E nos amparou.

Cântico de Zacarias
Bendito seja Deus de que está no céu,
Porque visitou e redimiu Israel,
Foi da casa de Davi
Que veio a salvação
Poderosa e plena
Por meio de profetas;
Foi anunciada a promessa
De misericórdia pra lembrar da aliança
E do juramento a Abraão, o nosso pai,
Para nos conceder libertação,
Para adora-lo em amor, em santidade e justiça.
O meu filho foi chamado para ser
Aquele que virá a preceder,
O Messias, o Deus-filho
Preparando-lhe caminhos.
Para dar ao seu povo
O conhecer da salvação e dos pecados
O povo terá a remissão
Graças à misericórdia do nosso Deus
Pela qual nos visitará o sol nascente das alturas
Para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte
E dirigir nossos pés pelos caminhos da sua paz.

Cena 4
Escritora – Bom, está aqui a letra dos cânticos. Depois eu falo para ele colocar a melodia. (olha para o
texto) Pôxa, está indo. Com dificuldade, mas está indo. O que não pode acontecer é passar em branco a
encenação sobre o natal de Jesus. Ah como seria bom se as pessoas comemorassem o nascimento de
Jesus o ano inteiro, e não uma vez só por ano. (suspira) Bom, vamos ver o que vem agora. (lê a Bíblia)
Tem o nascimento de Jesus. Mas eu não vou colocar agora não, pois essa parte eu tenho que caprichar.
Deixa eu ver... Hum, interessante. Tem o encontro com o anjo Gabriel com os Pastores aqui em Lucas e
lá em Mateus (folheia a Bíblia) tem o encontro com Herodes e os reis magos. (ora) Senhor, acho que eu
vou escrever essa cena com um pouco de comédia, pois está faltando um pouco de descontração. O
Natal é alegria. Como diz o meu pastor José Armando Sidaco, nós não comemoramos o funeral de
Jesus. Humm... Vou descrever os pastores com uma simplicidade alegre, bem parecidos com os
habitantes e trabalhadores da Zona Rural...
Os Pastores entram em cena, com seus cajados nas mãos e demonstrando bastante simplicidade. Logo
após, serão surpreendidos com a chegada súbita do anjo Gabriel, gritando a seguinte mensagem:
Gabriel – Não temais! Eis que trago boas novas de grande alegria, que será para todo o povo!
Os pastores ficaram muito assustados.
Pastor 1– O que isso, meu Deus do céu? Assombração numa hora dessa.
Pastor 2 – Ai, só faltava essa! Isso é que dá a gente ficar tomando sol na cabeça. Já estamos tendo
alucinação.
Pastor 3 – Ah, confessem logo que vocês estão querendo pregar uma peça em mim. Fantasiaram o seu
sobrinho de anjo para me assustar! Olhe aqui, eu não gosto desse tipo de brincadeira comigo não, estão
me ouvindo bem? Estão me ouvindo bem?
Gabriel – Vocês é que não estão me ouvindo bem. Será que não percebem que hoje nasceu na cidade
de Davi o salvador que é cristo, o senhor dos senhores.
Pastor 3 – Ih, acho que não é o vosso sobrinho mesmo não. Essa voz parece de um ser celestial mesmo.
Pastor 2 – Também acho. Quem viria vestido desse jeito aqui na roça? Só anjo mesmo!
Pastor 1 – Pois eu não estou acreditando que é anjo não. Tanta gente importante para anjo se comunicar
e ele vem falar logo com a gente, um bando de pastores que a sociedade costuma desprezar. Nós somos
considerados imundos, indignos até de fazer parte de cerimônias importantes. A sociedade sempre diz
que não somos dignos de confiança.
Gabriel – O que você quer dizer com isso?
Pastor 1 – O que valerá o nosso testemunho se ninguém confia na gente. Se Deus quisesse que tivesse
valor uma mensagem dessa tão importante, escolheria como ouvintes dessa mensagem outros membros
da sociedade, com bastante crédito na praça, e não nós, pastores tão simples.
Pastor 2 – É, de certa forma ele tem razão.
Pastor 3 – Também acho.
Gabriel – Não confundam as coisas. O reino do Senhor Jesus vem para os humildes e necessitados, e
não para os auto-suficientes e abastados. Deus os escolheu como primeiras testemunhas do nascimento
de Jesus pra representar todos os que precisam dele. Além disso, ele será o sumo pastor das ovelhas
perdidas. Ninguém mais adequado para escutar tal mensagem senão vocês, pastores e humildes. E se
apressem, pois isso lhes será por sinal. Vocês vão encontrar uma criança envolta em faixas e deitada em
manjedoura.
Pastor 3 – Um rei deitado em manjedoura?!
Pastor 2- Chega de intriga, ô homem. Não vê que esse que o anjo está dizendo será rei dos humildes.
Pastor 1 –É verdade! Seu anjo, o senhor tem algo mais para nos dizer?
Gabriel – Tenho sim. Eu não vim sozinho. Olhem para o céu.
Os pastores se deslumbram com a quantidade de anjos que veem no céu. Ao fundo, a canção Glória a
Deus nas Alturas. Os refletores farão o efeito dos anjos no céu. O anjo e os pastores saem de cena.
Escritora – Pronto! Agora falta a cena do Rei Herodes tentando convencer os magos. Vou manter a
mesma linha. E vou descrever um Rei Herodes bem parecido com alguns figurões de hoje em dia, que
tentam convencer o povo a caírem na sua lábia desonesta. Legal...
Herodes – Podem entrar, meus magos queridos! Podem entrar no meu suntuoso palácio. Eu, Herodes, o
grande rei da Judeia faço questão de tê-los comigo aqui. Estou sabendo da fama de astrólogo que vocês
têm, trazendo do Oriente bastante conhecimento sobre essa área do saber.
Mago 1 – É o que dizem. O que nós sabemos perceber de verdade é o sinal dado por Deus.
Mago 2 – É certo que conhecemos as estrelas e buscamos o Deus que as criou.
Mago 3 – Mas não somos astrólogos. Nem muito menos somos feiticeiros praticantes de magia que
pretende entender o que os astros podem nos dizer.
Herodes – Bom, seja como for, é de meu conhecimento que vocês estão à espera de uma estrela que os
conduzirá ao caminho do local de nascimento de um novo rei, ou eu estou errado?
Mago 2 – Claro que não.
Magos 3 – Nós até mesmo já vimos a estrela do Oriente indicando que o rei dos Judeus já nasceu. E
queremos adorá-lo, mas não sabemos ao certo o lugar onde ele está.
Herodes – Bom, eu os estimulo a continuarem procurando. Eu também estou ansioso por encontrar tal
lugar e tal rei. Como já perceberam, também sou rei. E nada melhor do que um rei para homenagear
outro rei, mesmo que ainda seja um reizinho, pequenininho e tão engraçadinho...(ainda). E, quando vocês
encontrarem, não esqueçam de me chamar também. Além disso, quero dar a esse rei uma oferta
generosa.
Mago 1 – Não será preciso. Já temos presentes, mesmo sem saber o significado. Eu trago comigo ouro.
Mago 2 – Eu, incenso.
Mago 3 – E eu, Mirra. No futuro, saberemos o porque de Deus ter nos indicado esses presentes para
oferta-lo, com toda a certeza.
Herodes – Ora, meus caros magos. Vocês também são reis, ou não são?
Magos – Não! Somos apenas magos.
Herodes – Então deve ser por isso que vocês não sabem que quanto mais reis num recinto, melhor.
Posso fazer com que suas ofertas, além de um potinho de ouro e uma quantidade mínima de incenso e
mirra, sejam transformadas num baú de tesouro com toda sorte de pedras preciosas, além de uma
perfumaria e de um incensário de fazer inveja a qualquer negociante de substâncias odoríferas que exista
por aí. Fiquem tranquilos Eu sou convosco (risos). Bom, podem ficar nas dependências do meu palácio o
quanto quiser. Vão decidindo aí o que é melhor. Enquanto isso, eu vou ali no meu quarto fazer uma
oração ao Deus dos Judeus, pois além de gentio, também sou judeu. Vou orar para que ele me mostre
logo onde é que está esse reizinho, pequenininho e tão engraçadinho.
Herodes sai de cena.
Mago 1 – Esse Herodes tem uma fala tão agradável.
Mago 3 – Hummm... Eu não achei o mesmo. Sei que ainda não entendemos o significado desses
presentes, mas tratam-se de ofertas simples. E de simples, esse Herodes não tem nada.
Mago 2 – Concordo. Bem, magos amigos. Vamos embora daqui em busca da indicação do caminho.
(pausa) E me parece que, pra cá, nós não voltaremos. Vamos.
Saem de cena

Cena 5
Escritora – Ai, Senhor, está chegando o grande momento. O nascimento do Senhor! O que farei para
descreve-lo na minha peça. Posso escrever novamente a encenação de um presépio lindo, cheiroso e
vistoso. Não, acho que aí estarei indo um pouco contra ao que a bíblia diz. (pega a Bíblia) Vamos lá,
segundo o evangelho de Lucas, no capítulo 2, versículos 6 e 7, Cumpriu-se o dia que Maria havia de dar
à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou numa manjedoura. Bom
(levanta-se) manjedoura é o tabuleiro onde, nas estrebarias dos cavalos, se põe a comida para eles. Ah,
Senhor, eu preciso de inspiração. Acho que eu penso melhor fazendo desse lugar aqui o próprio cenário
da peça. Então eu primeiro preciso de muita palha.
A menina traz um saco cheio de palha (objetos cênicos) e espalha por todo o cenário.
Escritora – Não reparem não, pois escritora de peça é um pouco doida. Agora, o que eu preciso para
compor mais ainda esse cenário. Ah, de animais. Vou encher de animais esse lugar, para melhorar minha
inspiração.
A menina introduz no cenário animais (objetos cênicos).
Escritora – Agora só preciso descobrir como eu vou descrever a cena. (pausa) É claro! Por que não!
Quase não vemos peças de Natal encenando... o próprio parto de Maria. Excelente ideia! Obrigada,
Senhor, pela inspiração!
Maria entra em cena carregada por José, que a deita, com carinho, na palha. Maria entra em trabalho de
parto, bradando gritos de louvor. José a ajuda. Quando ela tem o filho, ele se emociona. Quando Maria
dá à luz a Jesus a música instrumental “Quão grande és tu” é executada ao fundo. Os três magos e os
três pastores entram em cena, cada um tendo a oportunidade de embalar a criança, sendo observados
por José e Maria, que estão exibindo um sorriso largo de satisfação. A criança é devolvida para Maria.
Ela, embalando a criança, e José percorrem a Igreja como estivessem apresentando a criança no templo,
enquanto a menina, durante o trajeto, lê em voz alta sua concepção sobre a cena.
Escritora – E o mundo finalmente viu se concretizar a profecia de Isaías. Não houve naquele momento
só alegria, mas muita magia! Não aquela magia que engana, finge ou ludibria. Magia que não significa
bruxaria, mas significa encanto. Um encanto universal, que vem de Deus. O começo da libertação da
humanidade. O fim de um pessimismo que permitiu que novamente trouxéssemos à memória aquilo que
nos dá esperança. Ele será maravilhoso-conselheiro, uma maravilha que não é beleza aparente, e sim
uma beleza diferente. Ele será Deus-forte, não um deus falso, fraco e morto. Pai da eternidade, sendo o
único caminho para a vida eterna. Príncipe da paz! Da paz! Não a que o mundo nos dá, mas uma paz
repleta de amor verdadeiro, pois ele nos amou primeiro. E por que não terminar essa peça com o cântico
de Simeão, que tomou em seus braços o salvador para depois morrer em paz.
Simeão entra em cena, esperando que Maria e José entregassem o menino em seus braços após
percorrerem a Igreja.
Simeão – (recitando como poesia, com o menino em seus braços).
Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra.
Pois já os meus olhos viram a tua salvação,
A qual tu preparaste perante a face de todos os povos;
Luz para alumiar as nações e para a glória de teu povo Israel.
Simeão, Maria, José e o menino Jesus saem de cena.

Cena final
Escritora – Pronto! Fim de peça! Agora eu vou reunir os papéis e ver como ficou. Vamos lá, a cena
convencional, a pantomima, a musical... Ai meu Deus. Estou preocupada. Será que uma peça assim,
toda cheia de estilos, não vai escandalizar os irmãos. Ah, sei lá. Eu estou achando que a peça está mais
parecendo uma colcha de retalhos. Uma verdadeira farofa. Ai, Senhor! O que a Ministra do Teatro vai
dizer? Ai, meu pai, me deu um abatimento de repente. Daqui a pouco ela está aí, e eu não sei o que eu
vou dizer. Ah quer saber? Vou amassar tudo e começar tudo de novo!
A campainha toca.
Escritora – Ai... Deve ser ela!
Escritora atende à porta, percebendo que se trata da Ministra do Teatro.
Ministra – Oi, tudo bem. Como você está, minha amiga?
Escritora – Estou bem, mas...
Ministra – Como é, já preparou o texto?
Escritora – Bom, na verdade preparei, mas...Amassei tudo! Tudo, tudo!
Ministra – Por que, menina? O que houve?
Escritora – É que na verdade fiquei preocupada em escandalizar os irmãos, pois a peça estava muito
eclética, sei lá, cheia de estilos variados. Aí resolvi amassar e começar tudo de novo.
Ministra – Bom, será que eu posso ver os papéis amassados.
Escritora – Claro, Ministra. Estão aqui. Toma! Uma cena, eu fiz bem convencional, a outra, somente
gestual. Tem uma musical, aqui... Outra que parece uma comédia. Aí eu fiquei desanimada com o
resultado e resolvi amassar tudo.
Ministra – Mas por que, menina. Está ótimo!
Escritora – Você gostou, Ministra!
Ministra – Não só gostei como achei bastante apropriada. Já está na hora da gente fazer alguma coisa
diferente. E o que são os evangelhos senão livros de óticas de pessoas diferentes. Você sabe o que
significa “Evangelhos Sinóticos”, que são os livros de Mateus, Marcos e Lucas?
Escritora – Não!
Ministra – Significa ver em conjunto. Com essa peça, você vai abranger vários tipos de ponto de vista
sobre o nascimento de Jesus, sem é claro alterar a verdadeira mensagem, que é a única coisa que não
pode ser alterada: Jesus Cristo nasceu para ser o Salvador da humanidade. Sabe, menina? Gostei da
criatividade! A gente tem que ser assim, renovada a cada dia, assim como as bênçãos do Senhor.
Escritora – Acho que eu já ouvi isso antes.
Ministra – Então pronto. Olhe, eu trouxe uma surpresa. O elenco todo veio aqui comigo para te dar uma
força. E eles vão ficar super felizes quando souberem que você já escreveu a peça. Entra pessoal.
Entrem! Entrem!
A menina escritora fica felicíssima com a chegada do elenco, já sem maquiagem e figurino. Todos
sentam de costas para o público, um do lado do outro, observando as folhas do texto e papeando,
vestidos com camisetas que trazem, nas costas, letras impressas que trazem a mensagem descrita
abaixo. Pode se fazer o feito com luz negra (camisas pretas com letras brancas – detalhe, o efeito só é
possível se as letras coladas na camisa forem de papel)
UMFELIZNATAL
Fim

NA RAMPA DA VIDA A BÍBLIA É MEU SKATE

Cena 1
Alexandre está sentado, com seu skate, esperando alguém. Chega um jovem de terno.
Alexandre – (arredio)O que foi, meu irmão?! Fala de longe.
Vinícius – Calma, jovem. Desarme o seu coração.
Alexandre – Pensa que me engana. Tu deve ser um desses crentes que quer de qualquer jeito levar a
gente para Igreja. Sai voado! Vaza!
Vinícius – Você está enganado meu jovem. Só queria fazer uma pergunta a vc. Você sabe para onde vai
sua alma depois que você morrer?
Alexandre – Sei sim. Vai ficar guardando o meu caixão para ninguém mexer nele.
Vinícius – Não, meu jovem, ela vai para o ...
Alexandre – Olha só, quem sabe mais da minha alma sou eu!
Vinícius – Mas meu jovem...
Alexandre – Presta atenção! Estou aqui querendo ficar de bobeira e sem ninguém ficar me perturbando.
Decide, se você quer ficar aqui, saio eu.
Vinícius – Não. Pode ficar.
Vinícius, à parte, medita em voz alta.
Vinícius – Caramba! Bem que me disseram que seria difícil eu convidar ele para o culto de hoje! Tenho
que arranjar uma tática para levar esse jovem lá na Igreja. Deixa-me ver...Já sei.
Vinícius sai de cena, volta com um bermudão e skate.
Vinícius – Fala aê, brother!
Alexandre – Pô, meu irmão! Já não te disse que quero ficar de bobeira!
Vinícius – Pô, num fica de bobeira não, tá ligado?! Olha só...Tu tem “zap”?
Alexandre – Tenho, por quê?
Vinícius – Então vou te adicionar no meu grupo: “Adoradores radicais”. É um projeto que só tem crente
que anda de skate. A gente monta rampa no pátio da Igreja, faz grafite com versículos bíblicos na parede,
e o pastor canta hip-hop...
Alexandre – Está pensando que eu sou otário! Não tá percebendo que eu te conheço e sei que você se
fantasiou de skatista para me levar para tua Igreja.
Vinícius – Fala sério, show! Os fins justificam os meios! Já disse Paulo, “fiz me fraco para com os fracos,
a fim de ganhar...”
Alexandre – Chega, rapá! Já falei, some daqui! É cada um na sua! Eu não vou lá na sua parada, então
não vem na minha.
Vinícius, desanimado mais uma vez, tenta arrumar uma idéia para levar Alexandre para programação da
sua Igreja.
Vinícius – Pôxa, não deu certo essa tática de novo. Tenho que arrumar outra estratégia para levar essa
cara para a programação. Deixa eu ver...Ah, já sei!
Vinícius volta com uma barba postiça, entregando um panfleto para o jovem.
Vinícius – Oi, tudo bem com você?
Alexandre – Claro, claro. Fora um chato aí que está me perturbando hoje, está tudo bem.
Vinícius – Aí, vai ter uma festa maneira aí, está a fim de um convite.
Alexandre – Pô, estou sim! Festa é comigo mesmo! Onde vai ser?
Vinícius – Olha, está aqui o endereço!
Alexandre – E tem mulher lá?
Vinícius – Tem sim! Muita mulher!
Alexandre – Tem bebida?
Vinícius – Ah, tem sim, água, guaraná...
Alexandre – Não, véi, estou falando de cerveja?
Vinícius – Não, mas tem vinho...
Alexandre – Vinho! Beleza, quantos copos não temos direito nessa festa?
Vinícius – Olha só um cálice desse tamanhinho aqui, para não embriagar, e isso depois que você fica
sócio de vez do clube.
Alexandre – Está maluco? Eu bebo muito, rapá!
Graziela e Luana entram em cena.
Graziela – Ih, olha lá, Luana. É o Vinícius. Oi Vinícius!
Luana – Que barba postiça é essa?
Alexandre – Ih, eu conheço essas minas. Elas são lá da Igreja. Ah...É você de novo...Vem cá, meu irmão,
que cara é essa de ficar botando barba para me enganar.
Vinícius – (bota a barba postiça dentro da boca e fala) Não é barba não! É que eu chupei manga e estou
cheio de fiapo na boca.
Alexandre – Que chupou manga o quê! Já falei meu irmão, me deixa em paz! Me deixa em paz! Me deixa
em paz!
Alexandre sai de cena.
Vinícius – É, meninas, acho que como Presidente da União de Jovens, eu vou ser um fracasso. Na
primeira programação que eu faço, acontece isso!
Luana – Você está usando a tática errada, Vinícius.
Graziela – Claro! O nosso papel não é convencer! É convidar! Quem convence as pessoas a se tornarem
cristãs é o Espírito Santo.
Luana – Olha só, eu tive uma idéia, vem cá...
Os três ficam reunidos, e resolvem usar a idéia de Luana. Os três saem de cena.

Cena 2
Alexandre entra em cena de novo.
Alexandre – Pô, ainda bem que aquele chato foi embora.
Luana entra em cena.
Alexandre – Ih, olha lá uma daquelas crentes.
Luana entra em cena e fica parada perto de Alexandre
Alexandre – Pô, até que essa mina é bonitinha! Já sei, meu brother! Vou nessa confraternização deles,
dando uma de cara que quer se converter, para me dar bem em cima dessas minas lá da Igreja.
Alexandre se aproxima de Luana.
Alexandre – Aí, gata! Gata não...Aí, irmã! Estou querendo mesmo entrar numa Igreja para mudar de vida.
Sabe como é, nunca é tarde para se regenerar.
Luana – Ah, que bom. Faz o seguinte, vai ter um culto lá na Rua Filgueiras lima. Vai lá. Te espero lá, ta
bem. Vai ter uma palavra abençoada. Aparece lá.
Alexandre – Claro. E depois a gente pode sair para um lugar.
Luana – Vamos sim. Tchau! Até mais tarde.
Alexandre – (à parte) Beleza, véi. Vou pegar uma irmãzinha dessa, depois rapo fora.
Vinícius senta cabisbaixo ao lado de Alexandre.
Alexandre – Fala aí, irmão! Vou lá no encontro de vocês, héin?
Vinícius – Ah, legal. Pode ir lá, vai com Deus.
Alexandre – O que isso, véi? Que desânimo é esse?! Pó, brother, levanta esse astral! Não quero ver o
cara que me abriu os olhos assim, desse jeito!
Vinícius – Ué, engraçado, agora você está interessado.
Alexandre – É, digamos que eu esteja sendo atraído lá por amor. É isso, estou sendo atraído para lá por
amor.
Vinícius – Pôxa, até me animei de novo! Um cara que eu tentei de tudo para ir, de repente que ir de
qualquer jeito lá! Gostei.
Alexandre – Então tá tranqüilo! E valeu pelo convite! A gente se esbarra lá, valeu!
Alexandre – Vem cá! Deixa eu fazer uma oração contigo, rapidinho.
Vinícius – Oração? O que isso? Vai me benzer?
Alexandre – Oração é o privilégio que temos para enviar pedidos e agradecimentos a Deus através da
nossa fala e do nosso pensamento. E podemos também fazer em grupo. Vem cá!
Alexandre – (irreverente) Ah...Ta legal. Falar com Deus. Gostei! Ah, moleque! Vamos falar com Deus!
Vamos sim!
Vinícius – Qual é o seu nome?
Alexandre – Alexandre.
Vinícius, abraçado a Alexandre, começa a orar.
Vinícius – Senhor Deus. Estamos aqui para agradecer pela vida do Alexandre, pai. Muito obrigado porque
até aqui o Senhor preservou a vida dele, não deixando que ele morresse por causa das suas brigas em
torcidas organizadas, quedas na rampa de skate, overdose de drogas, doenças venéreas por causa de
sexo descartável, dando tantas chances para ele, Pai. Isso significa que você tem um propósito na vida
dele, e não quer que ele vá para o inferno. E muito obrigado por o Senhor ter enviado Jesus Cristo para
morrer no nosso lugar, de modo que não precisamos fazer obras para sermos salvos, pois Jesus já
apagou todas as nossas ofensas contra Ti. Nós te louvamos, Pai, porque tu és maravilhoso. Em nome de
Jesus, amém.
Alexandre fica pensativo depois da oração
Vinícius – Tchau, Alexandre. Até mais tarde!
Alexandre fica sentado no seu skate, sozinho em cena, pensativo. Depois, começa a chorar.

Cena final
Vinícius, Luana e Graziela estão em cena. Os três vão entoar um louvor.
Graziela – E aí, Vinícius?
Vinícius – Bom, fiz uma oração com ele em forma de pregação pura do evangelho. Se ele não vier hoje,
pelo menos ele ouviu a verdade. Se ele vier, com certeza não vai ser por interesse, e sim porque ele está
de fato zelando por sua vida.
Graziela, Luana e Vinícius entoam um louvor. Enquanto vão entoando, Alexandre chega, no meio do
público, sobe ao palco, abraça Graziela, Luana e Vinícius.
Graziela – (ao público) Hoje, foi a vez de Alexandre aceitar Jesus. E você? Vai ficar deixando para depois
essa oportunidade. Tem gente que diz o seguinte: “Ah, eu estou muito novo para ficar em Igreja! Quando
eu ficar mais velho eu vou!” Conscientizem-se de que é melhor entregar o vigor de suas vidas para obra
de Deus! Se você é um escolhido por Deus, você virá a ele! No dia certo, você virá! Ninguém pode resistir
ao chamado de Deus! Só que hoje, eu quero te perguntar: você sabe o dia que você vai morrer? Então,
não deixe para depois, pois depois pode ser tarde demais. Outra coisa que eu vou falar: Igreja nenhuma
salva! Na igreja, você tem comunhão com os irmãos e aprende sobre a palavra de Deus que é a Bíblia.
Mas quem salva, o único que salva, é Jesus Cristo! Que Deus abençoe vocês!

Fim

O QUARTO SÁBIO

O QUARTO SABIO, BASEADO NA OBRA DE TOM FONTANA DIRIGIDA POR MICHAEL RAY RHODES.

O filho do rei da Persia, é um sabio que ouve falar da estrela de Belém, passa a procurar por Jesus.

Segue o caminho dos magos que vieram do oriente, sofre durante longo tempo.

Sai do palacio, passa pelo deserto, chega na estrebaria (atrasado), vai para a vila dos leprosos, assite a
crucificação. Jesus ressurreto fala com o 4º sábio, o filho do rei da Persia.

Cena 1

(Palácio do Rei da Pérsia)

Artaban entra em cena, com uma luneta.

Artaban – Pai! Pai! Eu consegui, pai!

Rei da Pérsia (pai de Artaban) – Conseguiu o que, meu filho.

Artaban – Eu consegui avistar a estrela com o meu equipamento. Aquela estrela especial, meu Pai, que
eu via procurando há muito tempo, que Baltazer, Belquior e Gaspar já haviam avistado.
Pai – Que bom, meu filho. Eu não falei que você a sua sabedoria não é nada menor do que as dos três
sábios. Continue assim. E prossiga em seus estudos.

Artaban – Ah, pai. Também é sobre isso que eu queria lhe falar. Eu...

O ministro do Rei da Pérsia entra em cena.

Ministro – Ora, ora. Se não é o jovem Artaban, entendido em toda sorte de conhecimento. Desde
medicina até a astronomia. A mente brilhante que irá da continuidade a dinastia de reis sábios de nosso
país, a Pérsia.

Pai – Pois é, Sheridan. Esse meu filho, cada dia que passa, me dá mais orgulho. Saiba você que ele, com
seu equipamento, conseguiu avistar a estrela. Aquela mesma estrela que os três sábios conseguiram.
Não é um portento o meu filho.

Ministro – E com certeza não vai achar que essa estrela não é um sinal indicando o nascimento de um
rei, como assim conceberam aqueles três sábios, que a meu ver não são lá muito sábios, por isso.

Artaban – É justamente isso que eu vim lhe falar, pai. Eu... eu... eu também pretendo partir em busca
desse rei.

Ministro e Rei se espantam.

Artaban – É verdade, meu pai. Não é uma estrela qualquer. Os pesquisadores consideram todos os
astros iguais. Até o momento que, pela fé, notam algumas diferenças entre eles.

Ministro – Fé? O que isso. Será que seus estudos não mostram que fé e ciência não andam juntas?

Artaban – E aí que você se engana. Muitos pensam que o estudo afasta da fé, mas aproxima.

Ministro – O que é isso? Bom, majestade. Acho que nos precipitamos em considerar Artaban como o
próximo do Trono. Os estudos, ao invés de ajudarem-no, enlouqueceram-no.

Ministro sai de cena.

Rei – Meu filho. Tem certeza que é isso que você quer.

Artaban – Nunca estive tão certo de alguma coisa, Pai.

Rei – Bom, se é assim, vou convocar um escravo para lhe acompanhe durante toda a viagem até que
volte. Orantes! Orantes!

Orantes entra em cena.

Orantes – Chamou-me, majestade?

Rei – Sim. Orantes. Artaban vai fazer uma longa viagem. Acompanhe-o.

Orantes – Mas temos tanto o que fazer aqui, majestade.

Artaban – Vá e não conteste as minhas ordens. Mas fique sossegado que, em troca, você ganhará a sua
liberdade.
Cena 2

(Deserto)

Orantes – Alteza. Estamos há meses procurando esses sábios e não encontramos nem vestígios deles.

Artaban – Não se desespere Orantes. Estamos bem próximos de encontrá-lo.

Orantes – Será que eles não morreram pelo caminho.

Artaban – Orantes. Se tivessem morrido pelo caminho, com certeza encontraríamos vestígios de seus
corpos. Pode confiar, pois minhas coordenadas segundo eles próprios me deram tem uma margem de
erro mínima. Não se esqueça de que somos astrônomos. Orantes, olha que beleza.

Artaban mostra três lindas pedras preciosas para Artaban que estavam num saquitel.

Orantes – Que pedras lindas, majestade. Por que as trouxe consigo?

Artaban – Para presentear o Rei que está para nascer.

Orantes – O rei.

Orantes – É, o rei de Israel. Ele será o que demarcará a plenitude dos tempos. Foi esse o sinal que a
estrela me indicou.

Orantes – Mas você acha que será fácil, alteza, já que Israel é um povo disperso.

Artaban – Todavia, segundo o que me disseram Baltazar, Belquior e Gaspar, devo me dirigir para uma
cidade específica. Belém da Judéia.

Orantes – Belém da Judéia? Mas a critica sobre os três sábios foi justamente que essa cidade jamais
seria um local de nascimento de um Rei, alteza. Não é melhor alterarmos o caminho.

Artaban – Não, Orantes. Se o sinal do Deus de Israel indicou para Belém, é para Belém que nós vamos.

Orantes – O senhor é quem sabe, alteza.

Cena 3

(Estrebaria de Belém)
Mulher (com um neném do braço) – Foi aqui. Bem aqui, nessa manjedoura que ele nasceu. Dissem que o
casal fugiu para o Egito com a criança.

Artaban – Nasceu? Então quer dizer que chegamos atrasados?

Orantes – Está vendo alteza. Não o encontramos. Por isso podemos retornar à Pérsia.

Artaban – Nada disso, Orantes. Não encontramos Gaspar, Belquior e Baltazar. Mas a nossa busca não é
pelos sábios, e sim pela sabedoria.

Orantes – Que sabedoria?

Artaban – Sabedoria é encontrar o sentido da vida. E para mim, encontrar esse rei significa o sentido da
vida.(à mulher) E essa linda criança.

Mulher – É meu filho. Mas tenho que escondê-lo. Herodes mandou matar todos os bebês.

(Fora de cena, um soldado grita).

Soldado – Tem alguém aí?

Mulher – São eles!

Artaban – Venha, vamos escondê-la.

Artaban e Orantes escondem-na. O soldado entra em cena.

Soldado – Onde está? Onde está a criança? O grande Rei Herodes disse que toda a criança abaixo de
dois anos deveria morrer, pois estão dizendo que um pretenso rei nasceu nesse período de tempo. Onde
está?

Artaban – Não há nenhuma criança aqui?

Soldado – Ah, é. Então por que parecíamos ouvir choro de criança?

Artaban – Você deve ter se confundido. Talvez tenha ouvido os animais e pensado que se tratava de uma
criança.

Soldado – Não quero saber. Não saio daqui enquanto não encontrar essa criança.

Artaban – É... Soldado. Não quer aceitar um presente e em troca ir embora?

Soldado – Que presente?

Artaban – Tenho aqui uma pedra preciosa que vale uma fortuna.

Orantes – Alteza, não faça isso.

Artaban – Pegue.

O soldado examina a pedra preciosa, se apodera dela e vai embora.


Orantes – Alteza, você deu para aquele soldado uma fortuna.

Artaban – Nada mais valioso que preservar uma vida, ou melhor, duas vidas.

Artaban tira a mulher do esconderijo.

Artaban – (à mulher) Venha conosco. Fique tranqüila que o perigo já passou. Vamos deixá-la num lugar
bem seguro.

Artaban, Orantes e a mulher com o bebê saem de cena.

Cena 4

(Vila de leprosos)

Artaban, Orantes, um cego e um leproso em cena.

Orantes – Alteza. Tem certeza mesmo de que quer ir para o Egito.

O cego dá um encontrão em Orantes.

Orantes – O que é isso? Não olha por onde anda.

Cego – Não.

Artaban e Orantes – Não?!

Cego – Senhores. Eu sou cego.

Artaban – E por que caminha por aí como se enxergasse.

Cego – Senhores, estou em busca de ajuda. Meu irmão, aquele que está naquela distância de um tiro de
pedra.

Artaban – Sim, estamos vendo. O que ele tem?

Cego – Ele é leproso. Minha família toda tem esse mal. Menos eu. Em compensação, fiquei cego bem
pequenino. Talvez pelo trauma de enxergar toda a minha família com essa mal.

Artaban – Não se preocupe. Eu sou médico. Vou cuidar do seu irmão. De seu irmão e de você.

Orantes – Mestre, não temos tempo a perder. Vamos logo para o Egito. Melhor ir para o Egito do que
ficar numa vila de leprosos.

Artaban – Chega, Orantes. Pare com essa mesquinharia. Temos todo o tempo para encontrar o Rei de
Israel. Agora essas vidas precisam dos meus conhecimentos em medicina urgentemente. (dá a mão para
o cego).Venha.

Se aproxima do leproso e vai cuidando de suas feridas.


Cena 5

(Vila dos Leprosos)

Passagem de tempo. Para exprimir essa passagem, talco no cabelo dos personagens e barbas brancas
postiças.

Orantes – (levantando-se com dificuldade) Alteza, já se passaram trinta e três anos! Será que você não
vê que seu país precisa de você. Será que é tão cego?

Artaban – Você é o pior cego, pois não quer enxergar que sou muito mais útil nessa vila do que em meu
país, que é cercado de entendidos de todos os assuntos.

Orantes – Mas alteza?

O personagem que era cego, entra em cena, curado ( e também envelhecido).

Cego – Artaban! Artaban! Estou curado! Estou curado!

Orantes – Não é possível. Quem nessa redondeza tem mais conhecimento em medicina que Artaban?
Quem?

Cego – (ao público) Jesus! Jesus de Nazaré!

Orantes – Quem é esse tal de Jesus de Nazaré?

Cego – Uns dizem que ele é um profeta, outros dizem que ele é um Rei, mas para mim, como um dos
discípulos dele diz, é o filho do Deus vivo.

Artaban – É ele.

Orantes – Alteza, não é melhor verificar.

Artaban – Orantes. Você é o pior cego mesmo, que além de não querer enxergar, não quer nem mesmo
a cura. Venha, Orantes. A propósito, pegue uma daquelas pedras no meu saquitel e deixe para esses
habitantes da vila. Vão precisar de dinheiro para os curativos.

Cego – (se aproxima de Artaban) Obrigado por tudo, Artaban.

Artaban sai de cena, caminhando com dificuldade, devido à velhice.

Cena 6
(Crucificação)

Jesus está em cena, crucuficado.

Jesus – Está consumado!

Artaban, vendo a cena de braços dados com Orantes, respirando com dificuldade.

Artaban – Viu, Orantes. Está consumado.

Apaga a luz.

Cruz Vazia

Apaga luz

Jesus ressureto se aproxima de Artaban.

Jesus – Artaban. Você já me encontrou há muito tempo.

Artaban – Como assim, Senhor.

Jesus - Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e
hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.
Artaban – Quando, Senhor?

Jesus - Quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.


Artaban morre, nas mãos de Orantes. Jesus sai de cena.

Orantes – (chorando e olhando para o público) E agora? Para onde eu irei? Para Pérsia? Não (enxuga as
lágrimas e sorri, olhando para Artaban)

Orantes – Para a Vila dos Leprosos.

Acaricia o cabelo de Artaban.

Fim

RÁDIO GOSPEL

Peça em forma de programa de rádio(ou tv) que apresenta atrações e um debate sobre o natal, ancorado
por um comunicador...
O locutor da Rádio Gospel Mania abre o programa anunciando as atrações.
Evângelo – Oooooiiii gente! Aqui é o Evângelo, Ângelo, Ângelo, falando para vocês diretamente da Rádio
Gospel Mania com mais um programa Debate sem Embate. Solta o louvor aí, DJ Levita! É isso aí! Temos
convicção dos fatos que se não vêem e certeza tanto das coisas que se esperam como de que você está
ligadinho no nosso programa. E hoje é o programa especial de Natal! (o sonoplasta executa uma música
natalina) É isso aí! Teremos várias atrações! Teremos aqui conosco a ......... da Igreja ........... que vai
cantar uma belíssima canção de Natal em louvor ao Senhor (aplausos) e a irmã ........ do Ministério Jovem
também da Igreja Batista da Barra que vai recitar a poesia ........ do nosso irmão em Cristo ...............
(aplausos). Depois teremos um debate com três pastores que se prontificaram a vir no programa. Vou
anunciar aos prezados ouvintes o nome de cada um: Pastor Roberval Crítico, da Comunidade Evangélica
“Meu Prazer é a lei de Deus”, Pastor Moderaldo Lengrúber, da Igreja Evangélica do Avivamento do
Espírito Santo que Veio para Consolar o Povo de Deus, e o Pastor Passílvio Ribeiro da Comunidade
Evangélica “Abresalão”. Então, para o programa começar, nos convidamos aqui a irmã ............... para
entoar o abençoado cântico de Natal em louvor ao nosso Senhor.
A irmã entoa o cântico.
Evângelo – Amém, irmã. Obrigado pela participação aqui em nosso programa e que o Senhor continue
abençoando sua voz para o louvor Dele. E agora, a irmã ......., recitando a poesia “..............”.
(...)
Evângelo – Obrigado pela participação, irmã ...... Deus a abençoe. Bom, e agora, conforme o combinado,
vamos começar o Debate sem Embate de hoje, com o seguinte tema: “Natal: celebrar ou não celebrar?”
E aqui vai a primeira pergunta, e é direcionada ao Pastor Roberval Crítico. Pastor, o povo de Deus quer
saber se é correto o costume de ter em casa Árvore de Natal. O senhor já armou a sua?
Roberval Crítico – Não armei e estou completamente incomodado com essa Árvore de Natal aqui do meu
lado. Ora, meu caro, antes de mais nada gostaria de abrir a Bíblia, já que desde o início do programa
estou aguardando você fazer e nada. Prezados irmãos, abram por favor a Bíblia no primeiro livro de Reis,
capítulo 14, versículo 23, que diz assim"Porque também os de Judá edificaram altos, estátuas, colunas e
postes-ídolos no alto de todos os elevados outeiros, e debaixo de todas as árvores verdes". E agora em
Deuteronômio 16:21, que diz o seguinte"Não estabelecerás poste-ídolo, plantando qualquer árvore junto
ao altar do Senhor teu Deus que fizeres para ti”. Ora, a regra é clara. Armar árvore de Natal é idolatria
pura! Sem contar da homenagem a Ninrode, filho de Cã, neto de Noé, fundador do Sistema Babilônico.
Sua mãe acreditava na reencarnação dele, e recomendou ao povo que essa reencarnação de Ninrode
gostava de receber presentes debaixo de uma árvore. E só ler, meu caro, que você vai aprender.
Evângelo – É pastor! Já deu para os ouvintes perceberem seu estilo durão. Mas vou passar a bola para
outro pastor convidado, nosso amigo Passílvio Ribeiro. Pastor Passílvio, você é da mesma opinião do
Pastor Roberval ou acha que não tem nada a ver o povo de Deus manter o costume de armar árvore de
Natal?
Passílvio Ribeiro – Olha aqui, Evângelo, em primeiro lugar gostaria de mandar um alô para o pessoal da
Comunidade Evangélica Abresalão! Que vocês aí continuem com a fé no nosso Deus, pois ele mesmo,
em Salmos 165 diz o seguinte “Faça por ti que eu te ajudarei”.
Evângelo – Bom, pastor, pelo que me consta, o livro dos Salmos só tem 150 capítulos, e eu acho que
esse versículo que o senhor falou aí não tem na Bíblia não!
Passílvio Ribeiro – Mas é mermo? Ah, eu sou humano e posso falhar, pois perfeito é somente Deus.
Bom, em respeito da Árvore, eu acho que não tem problema nenhum não, meus ouvintes. A árvore de
Natal até que é bonitinha. Cheia de bolinhas coloridas, e dá a impressão que a natureza está dentro da
casa da gente. Outra, coisa, o Tadeu não subiu numa árvore para ver Jesus melhor?
Evângelo – Pastor, o nome dele era Zaqueu.
Passílvio Ribeiro – É, Zaqueu, Tadeu, é tudo EU. O que importa é que ele subiu na Árvore, porque na
verdade estava mostrando para Jesus que iria colocar em sua casa uma cópia daquela Árvore dentro da
casa dele, para comemorar o Natal, e Jesus quando disse “Desce da Árvore, Zaqueu” queria apressa-lo
para que os dois terminassem logo de fazer as compras do Natal, pois Zaqueu tinha ficado muito
deslumbrado com aquela árvore. Por isso que eu aprovo essa idéia. Show de bola.
Evângelo – Ai, meu Deus. É cada figurinha... Bom, vamos continuar com o programa. Pastor Moderaldo,
qual a sua opinião sobre esse assunto?
Moderaldo Lengrúber – Bom, acho que não é necessário que sejamos tão radicais. Se é para fazer
comparação com a Árvore de Natal, por que tem que ser necessariamente a Árvore de Ninrode ou a de
Zaqueu. Tantas árvores para se comparar, como a Árvore da Vida, por exemplo. Sem falar que há
estudiosos que dizem que o surgimento da árvore de Natal deve-se a Lutero, ao passar por um bosque,
teria observado a maravilhosa beleza das estrelas no céu, que brilhavam por entre os ramos dos
pinheiros, e, impressionado com essa extraordinária visão, ele tentou duplica-la em sua casa, acendendo
velas entre os ramos de sempre-vivas. Acho que esse assunto é irrelevante. Quando o povo de Deus não
está adorando a Árvore, ela não é objeto de idolatria, e simplesmente um enfeite como outro qualquer.
Evângelo – É, o nosso Debate sem Embate está ficando bom! E agora, mais uma dúvida, sendo essa
uma das mais comentadas pelos nossos ouvintes. Pastor Roberval Crítico. Foi de fato no dia 25 de
dezembro que Jesus nasceu?
Roberval Crítico - Meu caro Evângelo, é só ler que você vai ver. Mas parece que você não se preparou
para fazer um programa como esse! Onde já se viu?! Bom, o Natal é uma festa pagã, vocês estão me
ouvindo bem, uma festa pagã! Dia vinte e cinco é dia da festa do Sol Invictus, celebração feita pelos
druidas, que eram sacerdotes celtas, povo original da região sudoeste da Alemanha. Já no Império
Romano, a festa do Sol invicto era comemorada pelos adeptos do Mitraísmo, uma religião pagã de
mistério. Os cristãos, entre aspas, vendo a alegria dessa celebração decidiram adotar aquela data, mas
comemorando o nascimento de Jesus Cristo, permitindo que a cultura influenciasse a Igreja. Sabemos
que é a Igreja que deve influenciar a cultura, e ao pesquisar a Bíblia, concluímos que o nascimento de
Jesus foi em setembro, já que os rebanhos estavam ainda no campo durante a noite. E houve
recenseamento, e é pouco provável que o recenseamento fosse convocado para época de frio e chuvas.
E para finalizar, o nascimento de Jesus ocorreu na festa dos Tabernáculos, para que se tivesse relação
entre Lv 23:39-44; Ne 8:13-18, que dizem que Deus habitou entre os homens em tabernáculo, e o
Evangelho de João capítulo 1 , vers. 14, que diz "Cristo ... habitou entre nós". Esta palavra em grego é
skenoo ou tabernaculou; isto é, a festa dos tabernáculos, que era realizada no mês de Etenim do
calendário judaico, que é o mês de Setembro.
Evângelo – É, meus ouvintes. O nível desse debate está mesmo bom. Mas como é um debate bem
democrático, vamos ouvir o Pastor Passílvio Ribeiro. E aí, pastor, o que o senhor acha?
Passílvio Ribeiro – Poxa, o pessoal aqui é estudado, héin? Bom, eu prefiro ser orientado só pelo Espírito
Santo mesmo. Eu acho que a gente deve continuar comemorando no dia 25 de dezembro mesmo, é
perto do Ano Novo, a gente faz na Igreja logo dois cultos cheios, tanto para o Natal como o ano novo! Se
colocar o Natal para setembro, vai estar mais longe do ano novo e mais frio, e a Igreja fica mais vazia.
Deixa como tá mesmo! Pra que mudar?! Sem contar que tem amigo oculto, ou seja, mais distribuição de
presente!
Roberval Crítico – Ora, Pastor Passílvio! Quem disse que tem de haver costume de dar presentes no
meio do povo de Deus? Os magos presentearam Jesus por serem de um povo do Oriente, e eles não
costumavam chegar de mãos vazias em outros povos. Sem contar que já vi o senhor, Pastor Passílvio
Ribeiro, pregando na Igreja vestido de Papai Noel!
Passílvio Ribeiro – Isso é uma mentira! Isso é calúnia. Apesar da fantasia ter sido vermelha, a barba
branca e o patrocínio daquele congresso ter sido da Coca-cola, o personagem da minha fantasia não era
o Papai Noel!
Evênagelo – Gente, vamos manter a calma. Vamos manter o domínio próprio, que a palavra branda
desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira! Pastor Moderaldo, modera aí, por que a moderação em
tudo é boa.
Moderaldo Lengrúber – (suspira) Bom, Evângelo, eu poderia aqui citar o livro de Ester 9:22, mostrando
que os israelitas davam presentes uns aos outros em tempos de celebração. Poderia mostrar que não é
para julgarmos as pessoas quanto a festas que participem, citando (Cl 2:16) que diz o seguinte “Portanto
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos
sábados”. Ou então (Cl 3:17) que diz que “quando fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome
do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”, mas prefiro dizer o seguinte: descansa no Senhor,
Roberval! Estuda, Passílvio! Em vez de ficarmos debatendo se foi no dia tal que Jesus nasceu, ou se
trocar presentes e armar árvore é pecado, por que não pensamos no mais importante: Jesus nasceu! Isso
é o que importa. Será que ao deixarmos de comemorar, vamos contribuir para a diminuição do
consumismo exagerado? Pensem bem, meus caros ouvintes! Ao deixar de comemorar, abrimos mais
espaço para as celebrações pagãs, que são maioria no nosso calendário brasileiro. Comemorar no dia 25
de dezembro é uma forma também de sufocar essa celebração pagã ao Sol invictus. E aí, Pastor
Roberval, você me diria o seguinte. Se o mundo troca presentes é porque se esquece de presentear o
dono da festa, ou então, se o mundo celebra essa festa, é porque essa festa não é cristã. E eu pergunto
ao Senhor: será que devemos deixar de amar porque o mundo, quando quer fazer sexo descartável, usa
a expressão “fazer amor”. Não! Temos que continuar amando como o Senhor nos ensinou e nunca
deixando de falar a palavra amor! Se eles dão presentes uns aos outros, que não é uma coisa ruim,
façamos isso, pois as virtudes devem ser cultivadas, somadas ao nosso ato de presentear ao Senhor
com nosso louvor! Será um acréscimo, e não uma substituição!
Roberval Crítico – Olha só, Pastor Moderaldo Lengrúber, a Bíblia diz para comemorar a morte e a
ressurreição de Cristo. Em nenhum lugar está escrito para comemorarmos o nascimento. Pior do que não
fazer aquilo que Deus mandou fazer é fazer aquilo que Deus não mandou fazer!
Moderaldo Lengrúber – Como é que é?
Roberval Crítico - Pior do que não fazer aquilo que Deus mandou fazer é fazer aquilo que Deus não
mandou fazer!
Moderaldo Lengrúber – Não concordo com o senhor não, Pastor Roberval Crítico. Por exemplo. Deus te
mandou colocar esse blazer horrível? E você colocou, certo?! Logo, você fez o que ele não mandou
fazer!
Passílvio Ribeiro – Oh, glória!
Moderaldo Lengrúber – Olha só! Tenho dois versículos para terminar minha participação! Uma é para o
Pastor Roberval Crítico! Não fazer não é sinônimo de santidade, pois essa atitude de nada vale para a
sensualidade (Colossenses 2.20-23). E para você, Passilvio Ribeiro, pecas por não conhecer a escritura!
Mt 22:29
Passílvio Ribeiro e Roberval Crítico começam uma discussão, sendo interrompido por Evângelo.
Evângelo – Pastores, pastores, se é que eu posso chamar os senhores de pastores. Pastores e ouvintes!
Acaba de chegar nos estúdios da nossa rádio o Pastor ..., que vai transmitir uma mensagem no nosso
programa “Debate sem Embate” na minha, na sua, na nossa Rádio Gooooooospel Mania!
O Pastor da Igreja assume o microfone e dá início a mensagem.

Fim

O VERDADEIRO PRESENTE

Política, programa de TV, Noel, drama familiar, pobreza, bom humor... Ingredientes que fazem parte
desta peça, chamada para missões, evangelismo, compaixão...

Euclides chega cansado em casa com uma enxada na mão. Seca o suor e procura água na geladeira.
Percebe que não tem água no pote na garrafa. Reclama com sua mãe.
EUCLIDES: Mãe, ninguém foi pegar água!
D. SEBASTIANA: Ah, Euclides. Seus irmãos foram embora de novo. Apareceu trabalho lá na fazenda do
Seu Onofre e vão ter que ficar um bom tempo lá! Saíram tudo apressado e não tiveram tempo de pegar
água para nós!
EUCLIDES: (emburrado) Então eu vou lá pegar! (à parte) Diacho! Tenho que fazer tudo nessa casa!
Agora que meus irmãos foram embora é que eu vou ter fazer tudo mesmo!
Euclides ia saindo de casa quando um sujeito bem vestido (um político) chega.
POLÍTICO: Boa tarde, Euclides!
EUCLIDES: Ué! Quem é o senhor? Por acaso o senhor me conhece?
POLÍTICO: Eu vi você pequenino, carreguei no colo! Conheço toda a sua família, seus irmãos, sua mãe
e fui muito amigo do seu falecido pai.
EUCLIDES: Se veio cobrar as dívidas dele como muita gente que diz que foi amigo dele cobra, fica
sabendo que a gente não tem um tostão furado!
POLÍTICO: Nada disso, meu rapaz! A única coisa que vim cobrar de você é a confiança em alguém que
conhece esse povo daqui da região e pode fazer muito por ela! Saiba você que a política é o meio de
ajudar os necessitados! Sei que as pessoas acham que político é tudo a mesma coisa, mas não é.
EUCLIDES: Se não fosse, não aparecia só em época de eleição. Olha aqui, seu doutor, eu tenho muita
coisa para fazer. Tenho que pegar água no poço para minha mãe e...
D. Sebastiana entra em cena.
D. SEBASTIANA: Me chamou, Euclides.
EUCLIDES: Mãe, a senhora está muito ocupada.
POLÍTICO: (interrompendo-o) O que é isso, Euclides? Deixe a Dona Sebastiana aqui conversar conosco.
A voz da experiência é a voz de Deus.
D. SEBASTIANA: Ué! Como o senhor doutor sabe meu nome? Vixe Maria!
POLÍTICO: Ora, conheço vocês há bastante tempo e jamais esqueço o nome de pessoas que eu estimo.
Sei o nome do vosso falecido marido – que Deus o tenha – o seu Salustiano, o nome de seus oito filhos,
Antônio, Pedro, Adilson, Graciliano e...
O político pega um papel no bolso que está a lista de nomes e o lê.
POLÍTICO: ...Gaspar, Adelson, Teotônio e o simpático caçula Euclides.
EUCLIDES: Quer me enganar?! Decorou esses nomes todos só para a gente receber o senhor aqui em
casa!
D. SEBASTIANA: Não trate o doutor dessa maneira, Euclides!
POLÍTICO: É, obrigado, senhora. Obrigado. Bom, eu tenho uma coisa aqui para vocês que vai ajudar
muito nas compras do mês. O cheque salário! Um cheque assinado por mim para que vocês comprem o
que vocês quiserem.
EUCLIDES: Não, obrigado. Todo mundo aqui em casa trabalha. “Nós não precisa” de ajuda desse tipo
não. Quer resolver as coisas para nós, vê se não some quando o senhor for eleito na próxima eleição.
D. SEBASTIANA: Euclides. Não faça desfeita para o senhor doutor. Claro que a gente aceita o cheque.
POLÍTICO: Parabéns dona Sebastiana! Parabéns! Você está demonstrando que é muito inteligente. E a
senhora sabe que gente inteligente vota em gente competente. Esse é meu lema. Ah, essa juventude...
Bem, uma boa tarde para vocês. Euclides, escute a sua mãe, rapaz.
EUCLIDES: Agora que o senhor já fez o que o senhor queria, pode dar licença que a gente tem muito
que fazer.
POLÍTICO: Claro, claro. Passar bem.
Euclides o conduz até a porta de saída.
EUCLIDES: É, mãe. Estou vendo que a senhora não consegue esperar o nosso dinheiro do nosso
trabalho. Esse pessoal só que se aproveitar da gente. Será que a senhora nunca vai perceber isso? Mais
vale o pouco ganho com honestidade!
D. SEBASTIANA: Você está me chamando de desonesta, é, Euclides?
EUCLIDES: Não, mãe, não foi isso que eu quis dizer.
D. SEBASTIANA: Vai pegar água, Euclides! Anda! Antes que eu, com esse dinheiro, além de comida,
compre um chicote para tirar o seu coro. Vai, vai, vai...
D. Sebastiana conduz Euclides até a porta que sai e vai embora.
D. SEBASTIANA: (mostra o cheque para o público) Olha só, gente! Que beleza de cheque! Trezentos
reais! Vou comprar muita coisa! Roupinha, comida, um radinho para mim. Euclides é meu filho, mas é tão
esquisito! Ô menino bobo! Não sei como ele não disse pro senhor doutor aquela frase que ele sempre
repete quando vêm esses moços de terno para ajudar a gente. Um dia ele ficou perguntando para um
outro deputado boa gente, que veio também ajudar, se o dinheiro dava para comprar uma tal de
“dignidade”. Eu sei lá o que é isso! Só sei o que é roupinha, comida e um radinho pra mim! O resto, a
gente dispensa, né gente?
Alguém grita a porta da casa.
NOEL: Ô de casa!
D. SEBASTIANA: Oi! Vixe Maria. Nunca recebi tanta visita num só dia?
NOEL: Hôu, hôu, hôu! Abre a porta e terá uma surpresa.
D. SEBASTIANA: Claro que deixo entrar quem veio para nos ajudar.
Entra em cena uma pessoa vestida de Papai Noel.
D. SEBASTIANA: Ai, minha santíssima. Que engraçado. Um cabra vestido de Papai Noel fora de época!
NOEL: Tudo bem, minha senhora. Eu sou da Fundação Carismática Caridosa Noel do Céu. Nós
aparecemos na casa dos mais necessitados para ajudar as pessoas “sem interesse”. Olha o que eu
trouxe para a senhora.
O “Papai Noel” pega três coisas em seu saco.
D. SEBASTIANA: Que maravilha! Comida...Roupinha...e um radinho pra mim! Como vocês adivinharam?
NOEL: Hôu, hôu, hôu! Nós perguntamos para os seus vizinhos, minha senhora! E eles disseram-nos que
a senhora estava querendo um radinho.
D. SEBASTIANA: Ô, meu Deus! Como ainda tem gente boa nesse mundo!
NOEL: Hôu, hôu, hôu! Não precisa agradecer! Mas precisa fazer uma coisinha! Apenas uma coisinha!
Hôu, hôu, hôu!
D. SEBASTIANA: O quê, seu papai Noel!
O “Papai Noel” tira seu gorro vermelho e modifica o seu tom de voz, falando seriamente.
NOEL: Sabe o que é, Dona. Eu tenho que levar comigo um de seus filhos, que seja o mais novo, para
poder mostrar o quanto é carente essa região. Só assim o pessoal lá da Fundação que eu faço parte vai
acreditar e continuar contribuindo com essa ajuda para outras regiões como essa. Sabe o que é? Eu
esqueci a máquina fotográfica.
D. SEBASTIANA: Não carece não seu moço. “Nós tem foto” antiga aqui da gente. O senhor leva as
fotos.
NOEL: Obrigado, dona. Mas, mesmo assim, eu precisava também de levar uma criança dessa
comunidade para lá. Para eu ter de novo o patrocínio dessa viagem novamente, é preciso que eles vejam
a realidade desse local com muitos detalhes. Se eu não sensibilizar o pessoal lá da fundação, eles não
me deixam viajar de novo para ajudar outras pessoas como a senhora. É só por uma semana. A senhora
é da mesma religião que eu, eu sei disso. Sei que a senhora não vai me negar um favor desse, não é,
dona? Hôu, hôu, hôu!
D. SEBASTIANA: Ih, seu moço! O problema não é esse. Eu até que deixo meu filho mais novo viajar
com o senhor. Já estou acostumada de ver meus filhos longe. Mas é que o senhor não conhece meu filho
mais novo! Ele muito turrão! Ih, tão turrão como o pai. Olha, ele está chegando. Conversa com ele. Eu
vou lá pra dentro.
NOEL: Claro, claro. Deixa eu me fantasiar, porque com criança é melhor conversar fantasiado. Hôu, hôu,
hôu!
Euclides entra em cena.
EUCLIDES: Mãe, eu já trouxe a água!
Euclides estranha a presença de um indivíduo fantasiado de Papai Noel dentro de sua própria casa.
EUCLIDES: D. Sebastiana, quem é esse velhinho vestido de vermelho aqui em casa. É algum dono de
plantação de tomate?
NOEL: Hôu, hôu, hôu! Que menino mais bonito! (segura Euclides e dá um beijo no rosto)
EUCLIDES: Eu hein! Pára de me beijar, seu cabra! Eu sou é homem!
NOEL: Oh, que beleza! E já que você é um homem, pode muito bem viajar comigo para um lugar muito
legal, e ficar lá uma semana! Que tal?
EUCLIDES: Que viajar nada! Tenho que ficar para trabalhar a ajudar minha mãe.
NOEL: Hôu, hôu, hôu! Mas sua mãe autorizou você viajar comigo! E você vai ficar bem no lugar aonde a
gente vai. Vai ganhar muitos brinquedos.
EUCLIDES: É, parece legal. E além de brinquedos, o senhor pode me ajudar nos meus estudos. Eu
estou precisando de caderno, livro, caneta e de um bom professor, pois nem ler direito eu sei, já que os
professores do meu colégio não ensinam bem.
NOEL: Olha, meu menino, eu não sei se interessa para a Fundação da qual eu faço parte vocês ficarem
inteligentes. Eu acho que só interessa para a fundação um tipo de ajuda bem rapidinha, porque se vocês
ficarem muito inteligentes, vocês saem dessa situação que vocês estão e eu não vou poder sensibilizar
as pessoas mostrando o quanto vocês são carentes. Mas brinquedinho também é bom. Porque você não
gosta de brinquedos?
EUCLIDES: Eu gosto sim, mas...
Alguém bate à porta.
DUDU: Ô de casa!
EUCLIDES: Quem bate?
DUDU: É da Televisão!
EUCLIDES: Ah, já sei! Ô mãe! Chegou o moço para consertar a nossa televisão!
Entra em cena um apresentador de programa de TV(Dudu) com um câmera man.
DUDU: Oi! Aqui é o Dudu, o apresentador de TV mais solidário desse Brasil, com mais um
programa...Show do Dudu, com o quadro “A sua Casa é a nossa Casa”!
EUCLIDES: (amedrontado) Mããããããeeeeeee!
DUDU: Não fique com medo, meu bom menino! Não fique com medo! É apenas um programa de
Televisão ao vivo. E você é felizardo. Você vai ganhar vários prêmios.
D. Sebastiana e Euclides vem abraçados. Euclides com cara de espanto e D. Sebastiana, com cara de
alegria.
EUCLIDES: Ai, minha nossa senhora! Não é que a sorte grande bateu na nossa porta.
DUDU: Olha só! Mesmo que essa família passe por vários problemas, eu vejo que ela é muito feliz. Vejo
que já está até comemorando o Natal.
NOEL: (à parte) Hummm! Vou aproveitar para fazer meu comercial! (tom) É isso aí, Dudu! Eu sou da
Fundação Carismática Caridosa Noel do Céu! Damos presentes para pessoas carentes! E vamos levar o
menino daqui dessa casa para passar uma semana na nossa fundação, para brincar, se alegrar, se
mostrar...
DUDU: Só se for depois da vigem que eu vou fazer com a família inteira, meu caro. Essa casa aqui foi
escolhida para, além de viajar conosco, ganhar muito mais presente do que você pode imaginar. E a
viagem será no HELICÓPTERO DO DUDU!
EUCLIDES: O quê! Mãe, eu não quero viajar nesse negócio não! Eu tenho medo de altura!
D. SEBASTIANA: Ah, qual é o problema, meu filho! É só uma voltinha!
NOEL: Olha aqui, seu Dudu! Eu sei que o seu programa é muito rico, que vocês podem ajudar essa
família muito mais que a nossa humilde Fundação, mas eu cheguei primeiro!
DUDU: Eu não tenho culpa de você ser um Papai Noel que não sabe que Natal é dia 25 de dezembro. E
dá licença que eu tenho que filmar o resto da casa para mostrar o quanto eles são carentes para
impressionar os espectadores. Vem Zé.
NOEL: Ah é? Então você vai ver como que um Papai Noel presenteia com galo na cabeça os
apresentadores metidos a espertos que atravessa o caminho dele!
Papai Noel começa a bater na cabeça de Dudu com seu saco.
DUDU: Ai, ui! Eu não sabia que o Papai Noel era tá mau! Socorro! Socorro!
ZÉ: (câmera man) Continua filmando, seu Dudu?
DUDU: Continua, Zé! Continua! Isso também dá audiência! Ai, ui! Socorro! Socorro!
Papai Noel, Dudu e Zé saem de cena.
EUCLIDES: Meu Deus! Parece que passou um furacão por aqui!
D. SEBASTIANA: Ara! Você é mesmo uma besta, heín, Euclides?! Perdeu a oportunidade de ficar
famoso, ganhar um monte de brinquedo...
EUCLIDES: Ô mãe, para de querer viver de ilusão!
D. SEBASTIANA: Vou viver de ilusão sim! Me deixa! Só assim é que se pode ter esperança dentro da
gente! A esperança não bate na porta da gente assim sem mais nem menos! Se a gente não alimentar
ilusão dentro de nós, a gente não tem esperança!
EUCLIDES: Ah, mãe! Eu acredito sim que a esperança pode bater na porta da gente. E quando ela
bater, ela não vai vir fantasiada de ilusão não, mãe.
D. SEBASTIANA: Ah, meu filho. Você diz isso porque você é muito novo! Vai esperando.
Som de alguém batendo na porta.
EUCLIDES: Ó, mãe! Tem alguém batendo na porta.
D. SEBASTIANA: Vai atender, Euclides. Vai ver que é a esperança que você está aguardando!
EUCLIDES: Ai, espero que não seja um daqueles cabras metidos a esperto.
Euclides atende a porta. Uma menina com uma Bíblia na mão se identifica a Euclides.
MENINA: Boa tarde. Eu vim de longe para falar de alguém para você.
EUCLIDES: Ai, espero que esse alguém não seja mais um que queira se aproveitar da nossa condição
humilde para se dar bem.
MENINA: Não! Ele foi humilde como você. Ele sempre foi perseguido por não se conformar com
injustiças. Mataram-no baseados em acusações injustas.
EUCLIDES: E o que eu tenho com isso, menina. Já estou cansado de gente de longe que só vem aqui
com um monte de papo furado e no final eu vejo que é só para dar uma ajudinha rápida e vai embora
logo. A verdade é que essas ajudinhas não em melhoram nada a nossa vida. Quanto mais o tempo
passa, mas a gente trabalha que nem um condenado. É muito difícil de eu ter que trabalhar e estudar
com fome. Minha mãe, a cada dia que passa, fica mais ignorante. E os culpados são pessoas como
vocês que só aparecem para dar uma ajudinha mixuruca. Eu queria uma ajuda que ficasse para sempre.
MENINA: Só que esse alguém quer ajudá-lo para sempre.
EUCLIDES: Mas ele não morreu? Como é que ele vai me ajudar? Parece até minha mãe, que fica
rezando na frente de umas estátuas de um monte de gente que morreu.
MENINA: Só que essas estátuas de gente que morreu que a sua mãe reza, apesar de muitas dela terem
sido pessoas boas quando estavam vivas, não ressuscitaram.
EUCLIDES: Não o quê?!
MENINA: Não ressuscitaram. Eu vou te explicar. Esse alguém morreu e depois viveu de novo. O nome
dele é Jesus. Ele viveu de novo porque ele é Deus. Deus veio um dia aqui na Terra para salvar os
homens.
EUCLIDES: Na minha terra ele não veio.
MENINA: Mas me enviou para te dizer que ele, ao contrário de todos que vieram aqui, gosta de você e
não quer nada em troca. Só o seu amor.
EUCLIDES: Ué. A senhora não quer tirar uma foto da gente, ou filmar a nossa casa para mostrar para os
seus amigos lá da cidade grande, ou presentear a gente para “nós fazer” alguma coisa em troca.
MENINA: Não. Eu só vim falar desse alguém. O nome dele é Jesus Cristo! Ele te ama muito, e morreu na
cruz para te salvar!
EUCLIDES: Engraçado... Nunca alguém apareceu aqui em casa para ajudar sem pedir alguma coisa em
troca. Só alguém amigo desse tal de...(pausa) Como é o nome dele mesmo?
MENINA: Jesus Cristo.
EUCLIDES: Vou correndo falar desse Jesus Cristo, que faz bondade sem querer nada em troca, para
minha mãe. Onde tem escrito a história dele. Em algum jornal, ou revista?
MENINA: Você até encontra a história dele em jornal e em revista. Mas a verdade sobre ele você
encontra aqui nesse livro, que eu vou te dar de presente. (entrega uma Bíblia ao menino) O nome desse
livro, que na verdade é um conjunto de vários livros, é Bíblia Sagrada. Aqui tem a história verdadeira de
Jesus Cristo. Você sabe ler?
EUCLIDES: Não muito...E eu estou com fome, moça.
MENINA: (se aproxima de Euclides) Preste atenção. Mesmo que você não saiba ler direito, esse livro
será muito útil. Deus já está enviando pessoas, mesmo que não sejam tão boas, para ajudá-los com
comidas, roupas e todo tipo de ajuda. Essas pessoas estão pensando que elas estão vindo aqui por elas
mesmas, mas é Deus que está enviando. Só que vocês não devem deixar eles seduzirem vocês com
essa ajuda,. Vocês não devem se deixar vender nem emprestar a imagem de vocês para que eles os
usem para fins interesseiros, eleitoreiros e sensacionalistas. Eu também quero te ajudar com comida,
roupas e assistência básica, como um kit de primeiros socorros, noções de higiene e até mesmo com
umas dicas de alfabetização. Mas o alimento espiritual é mais importante. E você só vai ter esse alimento
se ler esse livro, ou se alguém lê-lo para você.
EUCLIDES: Olha, moça, eu não entendi nada. Mas...eu gostei de ganhar esse presente. Moça, a única
coisa que eu posso dar pra senhora é um pouco de água. Acabei de buscar. Você quer?
MENINA: Aceito.
Euclides dá um copo de água para menina.
MENINA: Obrigado. Por esse gesto, você já pode ser considerado amigo de Jesus.
EUCLIDES: É mesmo?
MENINA: Sim. Está escrito no livro. Quando você ler você vai ver. Um beijo no seu coração.
A menina sai de cena.
EUCLIDES: Mãe! Mãe!
D. Sebastiana vem lá de dentro.
D. SEBASTIANA: O que foi, meu filho?
EUCLIDES: Finalmente ganhei um presente que eu gostei!
D. Sebastiana olha e vê que é uma Bíblia. Olha para ela e depois olha para o filho.
D. SEBASTIANA: (admirada com a pureza do seu filho) Que bom meu filho! Que bom!
Os dois se abraçam.
Fim
Glória a Deus

O MUNDO ENCANTADO DOS DESENHOS ANIMADOS

Ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.
Provérbios 22:6

Os desenhos animados distraem e envolvem as crianças por longos períodos.


As histórias trazem filosofias no meio do entretenimento.
O desafio aos pais é “conhecer” o que está sendo ensinado às crianças. Conhecendo estes ensinos o
dever é confrontá-los com os ensinos bíblicos.

(Peter Pan entra em cena, saltitando e cantando).


PETER PAN: Eu sou o Peter Pan! Eu sou o Peter Pan!
Quem for como eu, não ficar velho não!
Eu sou o Peter Pan! Eu sou o Peter Pan!
Quem for como eu não ficará velho não!
Tudo bem, amiguinhos?
Vocês me conhecem, não é?
Não me conhecem?!
Ah, mas com certeza os papais e as mamães de vocês me conhecem!
Eu sou o Peter Pan! Eu sou um menino diferente dos outros!
Vocês sabiam que, além dessa roupa verde que eu tenho, outra coisa me faz um menino diferente dos
outros!
Eu nuuuuuuuuunca fico velho! Pois é!
Eu não envelheço!
E quero convidar vocês a ficarem como eu!
Vocês querem ou não querem nunca envelhecer? Imagina, ficar criança para sempre.
Nós vamos ficar brincando até quando tivermos cinquenta, sessenta, setenta, cem anos de idade!
Que tal?
É, meus amiguinhos! Na maioria dos contos de fadas é assim.
Vocês vê tudo de bom nesses contos! É só se inspirar neles que vocês vão ser umas pessoas felizes
para sempre!
E olha que continua essa ideia, mesmo nos desenhos de hoje?
Querem ver?
Quem já viu Frozen aí?
Vocês gostam desse desenho?
Ah, claro que gostam!
Vou até cantar aquela música, e eu tenho certeza que todos vão cantar comigo, quer ver?
"Livre estou, livre estou, não posso mais segurar..."
(Todos começam a cantar a música, quando entra em cena a menininha do desenho Divertidamente.)
ALEGRIA: Oooooooooiiii!!!!
PETER PAN: Ei! Quem é você!
ALEGRIA: Ué, Peter Pan? Não está me reconhecendo?
Você tem que se atualizar mais, hein?
Não é só o desenho da Frozen que é atual não.
Há outros desenhos fazendo sucesso por aí com a criançada!
Eu aposto que os nossos amiguinhos que estão me vendo me reconhecem.
PETER PAN: Ah, agora eu estou reconhecendo. Esse vestidinho verde... Esse cabelinho azul...
Já sei! Você é a "Alegria" do desenho Divertidamente.
Um desenho bem lindinho que mostra o pensamento de uma adolescente. Acertei?
ALEGRIA: Acertou, Peter Pan! Cuidado, hein?! Você tem que se atualizar sempre, porque senão te
passam pra trás!
PETER PAN: Ô! Eu que sei! Tinker Bell está pra provar isso, pois agora a antigamente chamada Sininho
passou a ser personagem principal!
A criançada nem mais fala de mim como antigamente!
ALEGRIA: Pois é! Mas nós temos muito em comum, não é mesmo, Peter Pan?
Somos a alegria da garotada!
PETER PAN: Isso aí! Afinal, qual criança que não gostaria de ficar criança pra sempre!
ALEGRIA: Por isso temos que mostrar pra ela que a vida é...
PETER PAN e ALEGRIA: SÓ ALEGRIA!!!!
PETER PAN: Mas eu tenho algumas dúvidas sobre você, "Alegria" do desenho Divertidamente.
ALEGRIA: Ah é! Pois fique sabendo que eu também tenho dúvidas sobre se uma criança pode mesmo
ficar sendo criança pra sempre, Peter Pan!
PETER PAN: Ah, mas isso é explicado claramente no meu desenho. Não é como algumas coisas que
tem no desenho animado que você faz parte que a gente não sabe o significado.
ALEGRIA: Como por exemplo o que, Peter Pan?
PETER PAN: Esse seu cabelo azul. Por que desse cabelo azul?
Você está querendo influenciar as meninas a pintarem cabelo de azul para estarem parecido com algum
filme que passa alguma mensagem que está em desacordo com o que Deus ensina às crianças?
ALEGRIA: Ah, isso eu não posso contar, Peter Pan!
Deixa elas pintarem o cabelo de azul, ué?
Elas não estão alegres assim?
O que importa é que elas estejam alegres. Além do mais... elas só vão saber a razão disso quando elas
tiverem numa situação bem influenciada pelas mensagens dos nossos filmes.
Mas é só essa a dúvida?
PETER PAN: Não. Tenho mais uma dúvida. Eu queria saber porque você numa hora faz 'argh'! quando
aparece um...
(De repente entra em cena um personagem com uma cabeça grande. É o MEGAMENTE).
MEGAMENTE: Tcharãn!
PETER PAN: Ai, meu Deus, que susto!
ALEGRIA: Ôu! Assim você acaba com a minha alegria!
MEGAMENTE: Ora,ora! Não estão me reconhecendo?
ALEGRIA: Não! Mas que todo mundo que te conhece te reconhece de longe, disso eu tenho certeza!
PETER PAN: Ah! Acho que eu estou te reconhecendo!
MEGAMENTE: Então diga logo quem eu sou!
PETER PAN: Você é um anti-herói que derrota, ou ao menos parece derrotar, um herói que anda sobre
as águas numa cena, e em outra dar entender que morreu, mas que está vivo em algum lugar, como se
estivesse sugerindo que ele se escondeu para dar lugar ao seu reinado!
MEGAMENTE: Opa! Espera aí! Vai devagar, porque senão as crianças vão pensar que o meu desenho
e o meu governo, que você chama de reinado, é uma propaganda do governo do anticristo.
PETER PAN: Mas não é isso que tem no seu desenho animado, meu caro MEGAMENTE!
MEGAMENTE: Puxa! Finalmente falou o meu nome! Ê Ô Ê Ô, Megamente é o terror!Ê Ô Ê Ô,
Megamente é o terror!
Estou aí na área! Para mostrar para meninada que todo o mal tem um pouco de bem, e que todo bem
tem um pouco de mal!
ALEGRIA: Mas será que isso é verdade?
MEGAMENTE: Se é verdade eu não sei, mas, segundo a filosofia dos criadores do meu desenho, isso é
uma boa.
PETER PAN: "Filo" o que?
MEGAMENTE: Filosofia! Estão vendo, meus amiguinhos! Fica vendo toda hora desenho animado e
esquece de estudar.
PETER PAN: Ah, Megamente! Eu não preciso ser tão cabeçudo! Você bem sabe que eu sou o Peter
Pan, e não envelheço nunca. Por isso, não preciso ter preocupações tais como estudar, trabalhar etc.
Não vou envelhecer mesmo. Mas tenho uma dúvida sobre você e seu desenho. Você pode me
esclarecer?
ALEGRIA: Peter Pan: o rei das dúvidas.
PETER PAN: Ô alegria de cabelo azul. Pára de cansar a minha beleza, hein?!
Meu caro Megamente. Por acaso você veio do céu ou veio do espaço sideral.
No seu desenho, tanto o seu rival como você vieram do espaço.
Por acaso o criador do desenho animado que você faz parte queria dizer que vocês vieram do mesmo
lugar, ou seja, do céu?
MEGAMENTE: Olha aqui, seu Pede Pão!
PETER PAN: (zangado) O meu nome é Peter Pan!
MEGAMENTE: Isso! Peter Pan! Bom, isso não é assunto pra a gente tratar agora! As mensagens
contidas nos desenhos que fazemos parte só irá fazer efeito depois!
ALEGRIA: Foi isso que eu tentei explicar para essa criança boba!
PETER PAN: Ei, quem é você pra chamar de bobo, sua alegria falsa.
MEGAMENTE: Estão vendo, crianças. Um que se diz ser criança pra sempre agindo como um reclamão
e duvidoso, e uma alegria que tem cabelo azul mais ridícula que nem parece alegria.
(Os três começam a discutir. Eis que entra em cena a Coelhinha Judy, do desenho Zootopia, fazendo a
discussão parar. Ela entra saltitando).
JUDY: Enquanto vocês ficam discutindo, estou aqui dando meus pulos para que em um só desenho
possamos reunir o máximo de personagens para a criançada ser influenciada de verdade pelos nossos
valores que parecem tão fofinhos como eu. Não perco meu tempo com discussões bobas como vocês.
PETER PAN: Mas você é uma coelhinha muito fofinha mesmo.
ALEGRIA: (suspira) Ah... Essa coelhinha linda fez minha alegria voltar!
MEGAMENTE: (intrigado) Mas ela tem uma personalidade muito forte! E por que todos nós precisamos
nos reunir num só lugar? Não somos todos personagens de desenhos diferentes?
PETER PAN: Sabe que eu também não entendi porque que nós todos estamos nos encontrando!
ALEGRIA: Novidade você não entender as coisas, Peter Pan, que estão acontecendo! Mas... está aí
uma dúvida que eu também estou tendo que está acabando com minha alegria.
JUDY: Só vocês que não entenderam!
PETER PAN: Ora, coelhinha bonitinha! Então nos explique!
JUDY: Então parem de discussões bobas e vamos nos unir! É só vocês pensarem! Todos os nossos
desenhos estão formando os valores da criançada! Desde o seu tempo, caro Peter Pan!
PETER PAN: (alegre) Ela me conhece!
JUDY: Claro que eu te conheço! Sou uma policial! Uma policial investigativa! Tive investigando todos os
desenhos animados!
Há muitos personagens para chegar nessa reunião que os autores de desenhos animados marcaram.
Estão pra chegar todos os personagens: desde a Branca de Neve até as irmãs do desenho Frozen.
Todos! Mas se ficar nessa desunião, o plano deles (e meu) não vai dar certo!
Se apenas com quatro personagens já está essa brigalhada toda!
PETER PAN: Bom, coelhinha. E qual o plano? E qual é o seu nome mesmo?
JUDY: Meu nome é Judy. Você deve ter visto no meu desenho Zootopia e tudo que o autor deste
desenho astutamente fez para confundir a cabeça da criançada, misturando alguns valores bons com
ruins.
Ao mesmo tempo que o desenho fala de igualdade, que é um valor bom, ele mostra essa igualdade para
fazer propaganda do gosto por uma vida de pecado.
Por exemplo: sugere que quem gosta de um tipo de droga aí não fica com problema de memória.
Mostra alguns animais que são machos agindo como fêmeas.
Sem contar que fica mostrando arco íris onde não é pra mostrar além de colocar como vilão uma ovelha
para tentar mostrar que ovelha é um bicho falso.
PETER PAN: Eu vi tudo isso. Mas essa camuflagem é a característica de todos os nossos desenhos!
ALEGRIA: E isso tem que continuar para que alegria das crianças continuem!
MEGAMENTE: Nem que seja uma alegria ridícula de cabelo azul como se o azul fosse a cor mais forte.
ALEGRIA: Ora, Megamente! Você também tem a pele azul!
PETER PAN: Chega dessa briga vocês dois! Vamos ouvir a proposta da Coelhinha Judy do Zootopia!
JUDY: Então ouçam! Vocês sabiam que existem um grupo de adultos participativos na educação das
crianças, adultos corajosos que não tem medo de quem quer proibir a total independência das crianças,
que não deixam essas crianças sozinhas assistindo aos nossos desenhos livremente, fazendo o tempo
todo comentários para explicar cada significdo escondido dos desenhos que nós estrelamos!
MEGAMENTE: Existe um grupo que não deixa as crianças ver os desenhos livremente?
JUDY: Claro que sim, seu Megamente! Ficou tanto tempo combatendo o Metro Man que não se atentou
a isso!
Você não quer que seus rocks do seu desenho animado, mesmo que tenha letras do mal, entrem na
cabeça da meninada sem o blá-blá-blá desses adultos chatos!
MEGAMENTE: Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim! Nã-nã-nã-nã-nã-nã, é o Crazy Train!
JUDY: Então! Vamos nos unir!
Vamos nos unir num só desenho e fazer com que os nossos nomes sejam, DE UMA VEZ SÓ E COM
MUITO MAIS FORÇA, conhecidos na mente das crianças!
PETER PAN: Que legal! Só assim as crianças serão de uma vez independentes dos adultos.
E finalmente serão como eu: crianças para sempre!
E nesse desenho, todas as crianças vão assistir, já que nele terão todos os personagens!
JUDY: Todos não! Só os personagens que servem pra fazer lavagem cerebral nas crianças, com muito
Liberalismo, muito Panteísmo, divertindo a mente para que ela fique uma megamente, como nós quatro!
ALEGRIA: Ah, então eu também posso estar nesse plano, porque eu não sou uma alegria verdadeira!
Eu sou uma alegria de cabelo azul!
JUDY: Claro que pode entrar!
E para começar esse plano, vamos fazer uma ciranda para chamar a atenção de todos os outros
personagens que eu citei!
Vamos girar!
Girar e cantar bem alto, até que todos esses personagens se unam com a gente para que possamos nos
reunir para a produção desse desenho!
MEGAMENTE: E qual será o nome desse desenho?
JUDY: O nome será: BABEL PARA CRIANÇAS!
PETER PAN, ALEGREIA e MEGAMENTE: BABEL PARA CRIANÇAS!
JUDY: Sim! BABEL PARA CRIANÇAS!
(Peter Pan, Alegria, Megamente e Judy cantam três vezes a seguinte paródia, com base na melodia da
cantiga de roda "ciranda cirandinha":
CIRANDA, CIRANDINHA, VAMOS TODOS CIRANDAR, A BABEL PARA AS CRIANÇAS VAI MESMO
ARREBENTAR!".
Os três estão cirandando de mãos dadas, até que entra um personagem, a saber, Jesus Cristo, após a
ciranda de fato "arrebentar", com cada um dos quatro personagens caindo).
JESUS CRISTO: É. Essa ciranda de fato arrebentou!
Vocês viram?
Cada personagem desses desenhos caiu.
Passou.
Mas uma coisa não passa.
A Palavra de Deus!
Esta não é desenho animado!
É a VERDADE! É a PALAVRA do meu e do seu PAI, que criou todas as coisas!
Só que pra deixar de ver desenhos animados?
Não! Mas é pra vê-los só depois de conhecer a Palavra do Papai do céu, pra vocês saberem o que é
certo e o que é errado nesses desenhos!
Senão, vocês vão pensar que tudo que tem nesses desenhos, que são muito bem feitos, é certo!
Mas nem tudo é certo!
Pergunta só pro papai e pra mamãe!
Mas antes, fala para eles também conhecerem a bíblia, que é a Palavra de Deus!
E vamos orar para que os moços que fazem os desenhos também leiam e gostem de Deus, o nosso
Papai do Céu.
Se eles gostarem, os desenhos que a gente gosta tanto, vão passar mensagens boas pra gente, e até
cantarem assim.
(Peter Pan, Alegria, Megamente e Judy [que se levantaram], junto com Jesus, cantando outra paródia da
música Ciranda Cirandinha, dessa vez com a seguinte letra):
TODOS: CIRANDA, CIRANDINHA, VAMOS TODOS CIRANDAR, SEM ESQUECER DE LER A BÍBLIA
PRA ENTÃO PODER OLHAR OS DESENHOS ANIMADOS DO CINEMA E DA TV. A MENSAGEM BOA
EU QUERO E A RUIM VOU ESQUECER!

FIM

Glória a Deus

DOS CRAVOS AO TRIUNFO

Jesus momentos antes de ser traido. Orando...

Os guardas e Judas se aproximam...

Os dissípulos: Um traiu e vive a dor de ter entregado o mestre pra ser morto.O outro nega conhecê-lo.

Jesus entre dois ladrões...

ELE RESSUCITOU!!!!!!!

(atualizado)
1ª PARTE

Em cena, Jesus e três apóstolos. Um violino ao fundo. Jesus ora incessantemente. Os três apóstolos,
que no início estão orando, caem de cansaço e adormecem.
JESUS - (ajoelhado) Pai! Afasta de mim esse cálice, Pai! Mas que seja feita a tua vontade , Pai!
Narrador seráo narrador itinerante, fará monólogos no decorrer da apresentação, concomitante com a
peça e SEMPRE andando no meio da cena(mesmo que esteja atuando com discrição sobretudo quando
não estiver narrando), observando o que se passa, agindo como um apresentador de um documentário.
NARRADOR - Nunca deixe de perceber esse sono dos discípulos no Getsêmani como o nosso sono!
Nunca deixe de entender que viramos para o outro lado e fruímos o sono do pecado para ignorar aquele
que se fez pecado por nós.
Viramos o olho para esquecer, deixamos morosamente a nossa alma padecer no sono da inércia, no
sono da preguiça, no sono do descaso. E de caso a caso, desprezamos o Rei dos Reis no nosso egoísta
adormecer...
JESUS - (percebendo o sono dos discípulos) Basta! É chegada a hora do filho do homem ser entregue.
Um grupo de coreografia, representando os guardas, entram em cena. Param a dança performática e
caem, juntamente com os três discípulos.
JUDAS (ator A) – Salve, Mestre.
Congela a cena. Solo de Cantor e Cantora.
CANTOR – Salvação...
CANTORA – Saudação...
JESUS - A que vieste, amigo?
CANTORA e CANTOR– Amigo... Amigo...Amigo... Amigo...
A cena estáem andamento, com os guardas (elenco imaginário) fazendo uma performance em volta de
Jesus, que olha com serenidade, enquanto que os demais discípulos estão apreensivos.
PEDRO (ator B), de súbito, se apodera de uma espada e corta a orelha de um dos guardas. Mais uma
vez, os demais ficam congelados.
JESUS - Ah, Pedro... Mais uma vez, você não entendeu. Ouça, Pedro. Os que lançam a mão da espada
à espada perecerão. Mete a espada na bainha. Não beberei eu, porventura, o cálice que o Pai me deu?
Jesus cura a orelha de Malco. Logo depois, os guardas conduzem Jesus.
NARRADOR - Submeter-se à vontade de Deus Pai. Meter a espada na bainha. Negue-se, homem!
Negue-se! Haverá trevas sobre a terra. Nas trevas, resplandece a luz. Eis a luz do mundo. A rosa de
saron! Será jogada ao chão. Como ovelha muda, está indo para o matadouro. Por nós. Por nós? Sim, por
nós...
Narrador se retira. Judas estásozinho em cena.
Judas e Pedro estão em cena.
JUDAS (ator A)– Trinta moedas... Pelo mestre. Pelo meu mestre. Preço de sangue. Vendi. Sim, o vendi.
Por que estão olhando assim pra mim? Não o vendem sempre? Não o traem sempre? E olha ela aqui na
minha mão. A recompensa. Imediata, como a humanidade gosta. Um saquitel repleto de moedas que
trazem em si a efígie do Imperador de Roma, sim, aquele mesmo imperador que eu pensei que seria
destronado pelo Mestre. Mas o mestre me decepcionou. Estou vendo o tempo passar, e não vislumbro
nenhuma atitude de Jesus... Reino composto pelos ...que choram? Por mansos? Por humildes? Isso é
impossível!
PEDRO (ator B)– Se eu conheço Jesus? Não sei de que vocês estão falando. Estou apenas aqui,
próximo ao acontecimento. Não, não sei o que dizem? Será que dava para ser mais clara essa pergunta?
JUDAS (ator A)– Será possível um reino assim? Composto por humildes, por mansos, por fracos?! Creio
que não. Por todo o tempo que andei com o mestre, jamais perdi a compostura. Tanto que fui escolhido
para ser o tesoureiro do grupo. Jesus disse que quem o trairia seria aquele que colocasse a mão com ele
no prato.
Cena estática com Jesus. do lado de Judas (ator A) colocando a mão no prato.
JUDAS (ator A) – Viram só? Eu coloquei a mão no prato junto com o Mestre e ninguém desconfiou de
mim. Ninguém! Influenciei os demais apóstolos no caso do assentimento de Jesus com aquele
desperdício do nardo puríssimo, raríssimo e caríssimo derramado pela mulher sobre Jesus. Não, não é
possível. Será mesmo que eu ouvi direito o mestre dizer que era para o seu próprio sepultamento! O
mestre só podia estar mesmo é delirando. Se contentar em caminhar mudo, manso, humilde, para a
morte. Isso não é mesmo que destronar os poderosos! Isso é delírio!
PEDRO (ator B)– Não conheço tal homem! Como eu estaria com um homem que, mesmo sendo
pacificador, confronta e amedronta todo esse sistema político e religioso. Não... Sou apenas um humilde
pescador. Não sei como vocês suspeitaram de que eu estaria junto com esse homem que prenderam.
JUDAS (ator A) – Esse saquitel parece estar mais pesado do que o normal. Minha consciência também
está pesada. Ai... Não adianta ficar tentando me enganar. Pequei, traindo sangue inocente.
VÁRIAS VOZES EM OFF - Que nos importa! Isso é contigo.
Enquanto Pedro profere o último monólogo. Judas joga ao público o saquitel, e prepara uma corda para
se enforcar. Só se enforcaráquando Pedro estiver chorando.
PEDRO (ator B)– Não conheço tal homem! Será que é preciso praguejar, gritar e me transtornar para
vocês entenderem!
O galo canta. Pedro, agora sim, chora. Judas já está enforcado.
Narrador– Somos nós! Somos nós! Somos... Nós…
Narrador pega uma moeda no saquitel lançado por Judas, junto ao público. Judas está morto no chão,
enforcado. Pedro, ajoelhado no chão, chorando.
NARRADOR - (apontando, em cena, tanto Judas enforcado como Judas chorando) Os dois lados da
moeda. De qual lado você quer está? Dos que lastimam sua condição humana (o narrador aponta para
Pedro), mas que buscam mudança, ou dos que apenas lastimam a condição humana(o narrador aponta
para Judas)? O que você quer ser? Quem você quer ser? Quem você quer?
Pedro, Narrador e Judas saem de cena (pela frente). Agora, em cena estão Jesus, Pilatos e Barrabás,
sendo que estes entraram em cena para ficarem respectivamente na mesma marcação que estavam
Judas e Pedro.
VÁRIAS VOZES EM OFF - Queremos Barrabás! Queremos Barrabás! Queremos Barrabás!
VÁRIAS VOZES EM OFF - E disse Pilatos:
Pilatos (ator A) – Portanto, lavo minhas mãos!
Enquanto Pilatos, agora se posicionando atrás de Jesus, lava suas mãos, numa baixela trazida por um
figurante. Cantor profere as seguintes frases cantadas:
CANTOR - A voz do povo não é a voz de Deus, porque um dia a voz do povo gritou:
VÁRIAS VOZES EM OFF - Crucifica-o! Crucifica-o! Crucifica-o.

2ª PARTE

Entrada do 2ºelenco. Guardas (atores A e C) se apoderam de Jesus, açoitam-no, colocam em Jesus uma
coroa de espinhos e o crucificam. As pessoas que gritavam de fora “crucifica-o” acompanham o cortejo
de Jesus.

CANTOR – Palavras da Cruz. Palavras da cruz. Palavras da cruz.


Dois personagens (ator A e ator B), depois de retirarem os elmos das cabeças, se posicionam do lado de
Jesus, com as mãos estendidas para o lado, como se estivessem crucificados.
LADRÃO DA CRUZ 1 (ator A) – Desce daí! Não é o filho de Deus.
LADRÃO DA CRUZ 2(ator B)– Desce logo. Dá um espetáculo aos nossos olhos, e com certeza todos
crerão!
JESUS - Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem.
LADRÃO 2(ator B) – Se fosse mesmo o filho de Deus, já teria descido.
NARRADOR - Sempre há momento de se perceber o verdadeiro sentido das situações. O verdadeiro
sentido da vida.
LADRÃO 1 (ator A)– Não percebe o equívoco nem mesmo estando sob igual sentença? Lembra-te...
Lembra-te de mim quando estiveres no teu reino.
JESUS - Em verdade te digo que ainda hoje estará comigo no paraíso.
A cena se congela, estando apenas em movimento Narrador e Satanás.
SATANÁS - (olhando para o LADRÃO 1) Que fraco! Que fraco! Não preservas suas convicções até o fim.
Isso é sinal de fraqueza!
NARRADOR - (contracenando com Satanás) Teimosia não é o mesmo que perseverança. E não se deve
ter vergonha de mudar de opinião, pois não se deve ter vergonha de pensar.
SATANÁS - Ora, pensar é o que me fascina. Eu sou o ser que pensa, racionaliza e confia que há uma
possibilidade para Jesus cair. Ainda não chegou o fim. Estou aqui até o último suspiro. Também sou um
ser confiante.
NARRADOR - Confiante não. Relutante!
SATANÁS - Ah, cale-se! Cale-se e me deixe distorcer toda a verdade!
Satanás e Narrador se posicionam em ambas as extremidades opostas do palco. Descongela-se a cena,
mais uma vez com o grito dos que estavam deitados (“Se é o filho de Deus”). Já não há mais os dois
ladrões ao lado de Jesus, que retornam junto aos que estão deitados. Maria e João entram em cena, se
aproximando de Jesus. Também são dois personagens que estavam no meio do público que seguia
Jesus.
JESUS - Mulher, eis aí seu filho. Filho, eis aí tua mãe.
Nesta cena, o ator B está abraçado com uma atriz figurante e ambos se posicionam em frente a Jesus
crucificado. Esta cena se congela.
Satanás– Atenção! Atenção para essa palavra! Esqueça a profundidade é atente-se apenas para a
literalidade.
NARRADOR - Concordo. Mas não podemos desprezar também o que foi dito antes pelo próprio Jesus.
Ele disse que sua mãe, seus irmãos, seus parentes são aqueles que fazem a vontade de Deus. Decerto
que bem-aventurada aquela que o concebeu e os seios que te amamentaram! Entretanto, bem-
aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam. As palavras da cruz não podem ser
apartadas de todas as palavras do Ministério de Jesus.
SATANÁS - (indo para o seu canto do palco) Ninguém vai se lembrar disso.
NARRADOR - (indo para o seu canto do palco) Ele está aqui para nos lembrar.
Ator B sai de cena. A cena se descongela. Jesus está esgotado, respirando e profere o seguinte:
JESUS - Deus meu... Deus meu... Por que me desamparaste?
Satanás (ator A caracterizado) – AAAAAAHHHHHH! Venci! Venci! Vocês viram. Não fui só eu quem
ouviu. Vocês também ouviram! Ele reclamou! Ele reclamou! Eu venci! Eu venci!
Satanás sai de cena.
NARRADOR - (ao diabo) Todos os pecados de todos os homens de todos os tempos estavam em Jesus!
Não há harmonia entre os nossos pecados e Deus! Todos os nossos pecados estavam em Jesus, mas
tudo isso sem ter tido Jesus cometido pecado. Paradoxal? Pode até ser. Mas inevitável seria, naquele
momento, o Pai não ter virado o rosto para o Filho. Mas ainda não acabou. Não podemos avaliar o todo
julgando apenas uma parte desse todo. Esperem até o fim.
JESUS - (ofegante) Tenho sede.
NARRADOR - A sede de Jesus. A humanidade de Jesus. Homem como nós, mas sem pecado. Sujeito a
angústias e aflições. Sujeito às nossas mesmas paixões. Mas não cedeu a nenhuma delas consolidando-
as em transgressões.
JESUS - (ofegante) Está consumado!
NARRADOR - A autoridade de Jesus. A divindade de Jesus. Deus conosco, mas desamparado.
Desamparado para se esvaziar e assumir totalmente a forma de servo. Entretanto, somente Deus pode
ser desamparado por ele próprio. Nós homens, apenas homens, não podemos ser desamparados por
Deus. Por isso que de fato ele é Deus.
JESUS - Pai... Oh, Pai... Nas tuas mãos entrego meu espírito.
NARRADOR - Deus, o próprio Deus, veio aqui na terra para redimir os homens, e agora ao mesmo tempo
recebe e entrega o seu espírito. Deus vindo à Terra assumindo a forma de servo. Seu advento entre nós
se compara a uma gota de um enorme oceano chamado divindade usando como canal o nascimento
humano, e o fluir dessa gota foi o suficiente para lavar e purificar a humanidade de seus pecados
desembocando finalmente na sua própria origem, ou seja, a glória, após o seu curso aqui na terra através
dos meandros percorridos em meio à vida terrena, dando-nos a ideia de quão grandiosa é essa divindade
triúna. Fascinante, não?! Eis o dinamismo da Trindade, admirável por ser insondável, mas perceptível por
ser infalível: Pai, Filho e Espírito Santo: o nosso Deus! Não há mais nada o que dizer. Jesus não precisa
de defesa. E para finalizar essa história de vitória, nada como um brado de vitória. Um brado que só
poderia ser proferido por Ele, pois mesmo sentindo a maior dor de todos os tempos, misturou em sua
demonstração de sofrimento o regozijo por estar consumada a vitória sobre a morte e o pecado.
JESUS - AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!
Durante uma música ao fundo, os que estavam deitados saem de cena, tristes. No final da música, um
dos figurantes diz, mesmo com a música sendo entoada: “verdadeiramente esse era o filho de Deus”.
Outros personagens, representando José de Arimateia e seu ajudante, retiram o corpo de Jesus da cruz
e o carregam para fora de cena. Narrador está sozinho em cena.
NARRADOR - Depois de todas essas evidências, de toda a prova real da confirmação das profecias na
vida e obra de Jesus, temos que reconhecer que não podemos afirmar que a voz do povo é a voz de
Deus, mas às vezes, provérbios populares parecem simbolizar a voz de Deus, sim, como por exemplo,
aquele provérbio popular que diz o seguinte: “pior cego é aquele que não quer ver”.
Maria Madalena entra em cena, com uma venda nos olhos por um lado. Jesus entra em cena por outro.
MARIA MADALENA - Seu Jardineiro! Seu Jardineiro! Posso lhe fazer uma pergunta. Onde colocaram o
corpo do Senhor Jesus?
A cena se congela.
Narrador retira morosamente as vendas dos olhos de Maria.
JESUS - Maria.
MARIA MADALENA - Mestre!
A cena se congela.

NARRADOR - No sepulcro de todos os grandes homens que compuseram e escreveram a história da


humanidade, quando falecem e são sepultados, é de praxe escrever-se o seguinte: “aqui, jaz”. No
sepulcro de Jesus está escrito: “O corpo de Jesus não está aqui, porque Jesus ressuscitou”!
Todos atores, com coreografia, entram cantando a música “Ó morte! Onde está ó morte a sua vitória?!
Jesus ressuscitou!”.
Fim

Glória a Deus

NA REDE

UM ATOR, CINCO REDES.

A rede de dormir;

A Rede de pescar;

A Rede do gol;

A Rede www...

Cena 1
Na rede (de dormir)
O ator está deitado na rede. Medita por uns instantes, se balançando.
Ator – Já disseram que o ócio permite uma melhor reflexão. Já disseram que é preciso que uma casta de
pensadores esteja sempre em constante meditação para as soluções dos problemas do mundo. Será um
mero eufemismo para legalizar ou justificar a vagabundagem? Será mesmo que a natureza precisa ser
fiscalizada? Mesmo que eu não obtenha resposta, assim de imediato, sigo a filosofia “baiânica”. Não olho
a natureza, assim como quem olha um outdoor ou um carro bonito. Olho para ela como quem contempla
um quadro, aliás, como quem frui uma obra de arte. Preciso de tempo. Ah, o tempo. É nesse momento
que o faço ele. Não vou deixar que ele me enleie. Vejo, não tão longe, a vida daquele que dizem ser meu
próximo. Esse alguém é que não pára. Não repousa! Quer trabalhar mais do que o relógio, girando,
girando, labutando, labutando, mas não chega a algum lugar. Por eu ter chegado a algum lugar que parei.
Mas...será que parei no tempo? Ou não deixei o tempo me parar? Bom, eu na rede me permito
momentos de higiene mental. Eu na rede, posso sim calcular o porquê de existirem porquês? O porquê
de existirem questionamentos? Ah, posso até mesmo inventar alguns questionamentos, como esse que
eu inventei. É, mas não vejo que há alguma utilidade nisso tudo. Se bem que dizem que arte é
justamente arte por não precisar ter uma utilidade. Se viver é uma arte, estou vivendo. Mas existe a arte
de pintores como a de Van Gogh, buliçosa... a de Palatinik, bem cinética...Bom, não seja por isso. Eu dou
uma balançada na rede e pronto! (fica um tempo balançando até que a rede pára) Só que tem uma hora
que tudo pára. Nada é um moto contínuo! Tudo tem fim. Por isso que é necessário que eu saia dessa
rede. Não quero ficar restrito. Quero trasvalorar seu conceito. Senão ela será pra mim cilada ou
armadilha!.
Cena 2
Na rede (de pescar)
Sonoplastia de marulho. O ator vem com uma rede de pesca.
Ator – Ah, agora sim! Que a rede seja o laço que me arraste para outro pólo mais ativo, diferente do outro
lado da vida, no qual nada é vivo, tudo é passivo. Entretanto, devo ter o cuidado para ser apenas ativo,
sem cair no ativismo. E nada mais ativo que os peixes. Ao divisar um cardume, noto de modo claro a
explicação não etimológica, apenas lógica, do vocábulo sinergia: união dos órgãos em função do corpo.
Vejam só! Um bando de peixinhos nadando juntos, se é que os ladrões me permitem pegar emprestado o
seu coletivo. Sim, um bando. Uma cambada. Uma galera, pra ser mais contemporâneo. As pessoas
pensam que é a calmaria do mar o verdadeiro convite que a natureza faz para os humanos virem pescar.
Eu penso diferente. O verdadeiro chamariz é os peixes, os autênticos artistas. O mar, apenas o cenário.
Opto por ser o coadjuvante, ou quem sabe, o antagonista, com meu objeto cênico chamado rede de
pesca. É...parece que sou o vilão dessa história. Jogo a rede e acabo com o projeto de vida de vários
arenques, robalos, namorados. Dou termo aos artistas do mar, dando início a uma história que começa
com a morte deles e termina numa mesa de jantar. Ah, que besteira me lamentar pela morte de seres
irracionais que, de tão tolos, caem na rede. Creio que me difiro deles por jamais ter caído nela. Por isso
que sou supremo, sou graúdo, em comparação a esses miúdos peixes. Nem para agonizar eles servem.
Não ouço nada quando eu os capturo. Antes de mim, ainda há um bando, uma cambada, uma galera de
classes à sua frente para prevalecer. Répteis, aves, anfíbios e, claro, nós mamíferos. Todos podemos
respirar aqui fora! Todos nós, classes superiores a de reles peixes! Ah, mas eu daria tudo para dar uma
só respiradinha aí dentro desse mar. Gostaria de chegar ao nível mais abissal do mar e ver aquelas
horrendas criaturas que lá existem. Quem sabe, uma espiada no Leviatã. Iria suportar com mais
conformidade as feiúras tão brandas aqui da superfície, mas que me impressionam tanto. Sabe...Eu até
que admiro a classe dos peixes. Entretanto, permiti-me que a admiração crescesse em mim de forma
exagerada, transformando-se em inveja. Se eu não posso chegar aos níveis abissais como alguns deles,
trarei alguns representantes dessa classe para a nossa superfície. Verão com seus próprios olhos
arregalados e esbugalhados a fealdade desse nível de vida! E para isso...(pega a rede de pesca) Usarei
a rede!

Cena 3
Na rede (é gol)
Atrás do autor, uma baliza de futebol, com uma rede. Ele está vestido com um uniforme de goleiro.
Autor – Um ciclo que se fecha, outro que se abre. Largo os mares para tentar outros ares. Esporte, quem
sabe seja a minha praia. Chega de redes na minha frente! Só não pensei que ia ter que conviver com
uma bem atrás de mim. E daí! Agora sim tenho-na como companheira, pois antes, a usufruía para fins de
puro interesse egoísta. Agora, não a exploro. Eu agora não apenas convivo, coexisto, como também me
identifico com ela. Somos a prova de vida (no que concerne a mim) ou prova de existência (no que
concerne a ela) de puro altruísmo. Está complicado de entender? Ora, evito o gol. E ela, evita o além gol!
Embora as funções possam parecer distintas, têm o mesmo teor: evitar a tristeza de alguns dando alegria
para outros. Claro que ela não pode evitar a minha solidão! Mas ninguém pode evitar. Se você opta por
ser goleiro, não só terá que resolver sozinho alguns lances da partida como também ficar só, enquanto
todos os jogadores estão lá na frente tentando complicar a vida de meu adverso colega de trabalho. No
máximo, você pode se comunicar com aqueles dois zagueiros, mas que nem seus caracteres não se
comparam ao caráter da rede que, enfim, teve a humildade de se posicionar atrás. Eles estão sempre à
frente. Confio nela. As bolas que eu não posso pegar, ela pega. Volta e meia ela simula está furada para
que os juízes venham a se confundir. Será que foi gol ou foi pra fora? Será que essa rede é apenas
companhia ou cúmplice? Nem uma coisa nem outra! Ela é minha companheira. Só espero que ela possa
sempre estar, em relação a mim, na frente ou atrás, mas jamais à frente ou por detrás!

Cena 4
Na world wide web
O ator diante de um computador.
Ator – (teclando, desesperado, dialoga com o computador, aludindo o papear com a www) Não! Não!
Não me venha com esse papo de teia de alcance mundial. Você me garantiu que não iria ficar à frente.
Você me garantiu que, no máximo, serviria para enlear, envolver, abarcar e capturar corpos físicos, e não
pensamentos. Não se contenta com o pouco! Sempre defendi a sua humildade, a sua integridade, agora
tenho que justificar o porquê de ter se tornado tão, tão...Tão cibernética! Tão iconográfica! É óbvio que eu
fui o culpado. Agente dá oportunidade para os neófitos não acreditando que o sucesso deles, no futuro,
possam vir a nos incomodar tanto. Deve está se jactando à toa! Era uma substância tão inofensiva. Não
oferecia perigo nenhum. Agora é a rede! Era apenas um conceito solto no campo platônico das idéias.
Agora, forma opiniões. Faz da necessidade coletiva um anseio por informação, e não por
conhecimento. (escabreado)Todavia eu a conheço! E conheço bem! Sei de suas limitações! Sei que pode
ser à frente, mas de uma coisa eu tenho certeza! Jamais estará por detrás! Jamais será teia inconsútil!
Jamais me capturará por completo!
Por detrás do ciclorama, dois contra-regras, com uma enorme rede, envolvem o ator, simulando uma
enorme onda que o envolve. Nela, ele grita.
Ator – Socorro! Socorro! Fui pescado! Socorro! Socorro!
O ator fica fora de cena por uns instantes.
Voz em off – Não fique nervoso. Pesquei você, mas devolvê-lo-ei já, já.
Ator – (fora de cena) Como assim me pescou? E eu lá sou peixe para ser pescado.
Voz em off – Mas você vem caindo freqüentemente em várias redes. Hoje, você caiu na minha,que é uma
rede que não aprisiona, mas transforma o que foi pescado. E eu o devolvendo ao imenso mar chamado
mundo para transformá-lo, e não para poluí-lo. Vá, e faça o mesmo. Seja pescador de homens. Mostre
para eles tomarem cuidado para não caírem nas redes que enleiam, mas na rede que liberta, que é a
rede do sumo pescador.

O ator é devolvido à cena, jogado ao palco. Ele vem com uma rede na mão. Pára uns instantes, reflete,
olha para o público e, num “insight”, joga a rede no público, como se estivesse pescando homens.

Fim
Glória a Deus

PORTAL VIRTUAL

Os vícios da tecnologia acabam sugando os personagens. O Leko não entrou na onda de super
conectado e será a pessoa que ajudará as demais a saírem do portal que às sugou.

Dramatis personae – Leko, Teko, Neko, Bia e Lia.


Leko curtidor entra em cena.

LEKO CURTIDOR: Olá amiguinhos. Vocês não me conhecem, não é? Mas eu vou me apresentar. Meu
nome é Leko Curtidor. Gosto muito de curtir, de compartilhar, de brincar, enfim, de viver. Pois, é
amiguinhos! Gosto muito de viver. Mas não estou conseguindo mais viver brincando como antes.
Gostaria de não só de brincar ao simular, mas brincar ao suar. Não gostaria só de curtir e compartilhar,
mas também de criar e tatear. Mas olho ao redor, e os meus outros amiguinhos só estão digitando,
assistindo, conectados, vidrados. E então, amiguinhos, num dia lindo, eu saí para encontrar esses meus
amiguinhos para brincar, e vocês não sabem o que aconteceu. Simplesmente eu não os encontrei! É
verdade! Não encontrei ninguém. E a dúvida que eu tenho é a seguinte: será que eles foram engolidos
por alguma coisa? E então, meus amiguinhos, eu procurei, procurei, procurei, até que encontrei. Não os
meus amiguinhos, mas uma entrada chamada PORTAL VIRTUAL. Me disseram que eles foram parar lá.
Então, eu convido vocês a visitarem essa dimensão que vocês vão conhecer hoje! Venham com o Leko
nesse treco chamado PORTAL VIRTUAL!

As cortinas se abrem. O Cenário é construído por engenhocas que parecem colunas gigantes que
apoiam um enorme retângulo com cantos arredondados, mas que dão a sensação de que estamos
dentro de um enorme tablet ou i-phone.

LEKO: Olhem só, amiguinhos! Encontrei todos os meus amiguinhos que eu estava procurando. O Teko, o
Neco, a Bia e a Lia. (aos companheiros dele) Fala aí, gente! A nossa turma voltou a atacar!!!

MENINOS: (falando juntos) Leko-Teko-Neco!

MENINAS: (falando juntas) Bia e Lia!

MENINOS: (falando juntos) Leko-Teko-Neco!

MENINAS: (falando juntas) Bia e Lia!

LEKO: Puxa! Estava procurando vocês por toda a parte e não conseguia encontrar. Como vocês vieram
parar aqui nesse Portal Virtual?

TEKO: Leko Curtidor. Cada um tem uma história. Eu vim parar aqui pois estava jogando o meu PSP, e
estava passando de fase, passando de fase, e não havia mais fase para eu passar, mas eu queria
romper com todas as barreiras do meu desempenho, e então vi um foco de luz no meu quarto, mas não
caminhei até ele, pois não conseguia me apartar do meu desejo de permanecer no mesmo lugar e
continuar jogando, sentado, o meu PSP. Foi então que ao invés de caminhar até o foco de luz, cliquei em
NEXT, e de repente me vi sendo arrastado para o tal portal. E cheguei aqui. Ah, e é bom que fique bem
claro que fui o primeiro a chegar!

LEKO: Caramba, Teko. Que história. E você, Neco. Foi assim também.

NECO: Claro que não. O meu caso foi o seguinte. Estava numa festa de aniversário. E nessa festa, o
pessoal da animação estava realizando umas brincadeiras. Eu não estava nem um pouco a fim de
participar, e fiz de tudo para ficar de fora. Mas estava com vontade de apenas ficar filmando com o meu
celular as brincadeiras. Não perdi um detalhe, apesar de não ter brincado em nenhum momento.
Registrei tudo no meu celular. E não queria mais deixar de filmar os momentos da festa. Só filmava! Até
que filmei até mesmo o momento em que cantavam o “parabéns” para o aniversariante. Enquanto
cantavam, também vi um foco de luz, mas esse foco me impedia de ficar filmando, pois a cena estava
muito clara. Fui tentar achar onde era a fonte dessa forte luz para desligá-la, e então ao me aproximar
dela também fui puxado, e parei de ficar filmando e vim também parar aqui. E sem celular para filmar.

TEKO: Ah, eu também vim parar sem o meu PSP.


TEKO: Meu Deus! Que coisa mais estranha. E vocês duas, Lia e Bia!

LIA: Nós viemos parar as duas juntas aqui.

BIA: Pois é. Estávamos conversando na rede social e fomos atraídas para esse portal.

LEKO: E como foi?

LIA: Bom, primeiro é bom te contar o trato que eu e a Bia fizemos. Entramos no seguinte acordo:
seríamos amigas para conversar não somente pessoalmente, mas o tempo todo pelo celular, na rede
social.

BIA: É verdade. Até mesmo quando estávamos dentro da mesma casa, não conversávamos, mas
papeávamos teclando no celular.

LIA: Aí, teve um dia que a mãe da Bia me chamou para ir num passeio, e eu e a Bia estávamos no banco
de trás do carro. Fazendo o que?

BIA e LIA: Teclando uma com a outra no celular.

LEKO: Mas porque vocês não conversaram oralmente se vocês estavam uma do lado da outra?

LIA: O som do carro estava alto demais.

BIA: E também não queríamos que a minha mãe ouvisse o que estávamos falando.

LEKO: Ah. Devia ser coisas realmente muito legais o que vocês estavam conversando.

LIA: Fica quieto, Leko, e ouve. De repente, a mãe da Bia entrou num túnel. Mas era um túnel diferente.
Ao invés de um pouco escuro, era muito, mas muito claro mesmo, né, Bia?

BIA: Era. Parecia mesmo um foco de luz. Um foco não! Um facho de luz!

LIA: E viemos parar aqui dentro desse lugar estranho.

TEKO: É. Mas parece um PSP gigante.

NECO: Ou um tablet gigante.

Bia e LIA: Ou um i-phone gigante (risos).

TEKO: E você, Leko. Como veio parar aqui?

LEKO: Olha, gente. Vim parar aqui por um motivo diferente do de vocês.

TEKO: Como foi? Jogando algum game?

NECO: Gravando alguma coisa.

LIA: Compartilhando, curtindo?

LEKO: Nada disso. Vim parar aqui simplesmente porque estava procurando por vocês.
BIA: Procurando por nós? E como você sabia que estávamos todos aqui nesse portal.

LEKO: Não sabia. Só fui perceber que vocês aí estavam quando cheguei. Só teve uma pequena
diferença. Entrei segundo a minha vontade, e não porque fui sugado.

TEKO: É. De fato nós quatro fomos sugados. Mas qual a diferença. Estamos todos presos. Até você.

LEKO: É aí que você se engana. Eu não estou preso. Vocês sim estão.

NEKO: Como assim? Você sabe como se sai daqui.

TEKO: Claro. Não só sei como eu saio a hora que eu quiser. Vocês não. Querem ver. Fechem os olhos.

Todos fecham os olhos. B. O. Leko sai de cena, como se de fato tivesse conseguido sair do portal. A luz
acende.

LIA: Deus do céu. O Leko de fato conseguiu sair.

NECO: Danado! Eu sabia que se não ficássemos viciados em tecnologia iríamos ser espertos e safos
como ele.

TEKO: Ah, mas pelo menos a gente não fica todo machucado com contusões de futebol, cortados com
cerol de pipa...

BIA: Olha, gente. O Teko deixou um bilhete. Está escrito assim: “Para eu voltar, é só gritar bem alto:
TUDO QUE VICIA NÃO ABENÇOA! AMIGO SEM VÍCIO TÁ DE BOA!”

LIA: Bom, então vamos gritar bem alto, porque acho que todos nós queremos sair daqui, porque é um
lugar que, apesar de HIGH TECH, é bem chato.

TEKO: Além disso é um lugar que não tem nenhum aparelho tecnológico para a gente manusear.

NECO: Vamos gritar então!

Todos - TUDO QUE VICIA NÃO ABENÇOA! AMIGO SEM VÍCIO TÁ DE BOA!

Leko reaparece.

LEKO: Viram só?!

TEKO: Que legal! Como você consegue.

LEKO: Ah, isso é simples. É que eu ainda não estou tecnólo-guiado. Mas esse estado que vocês se
encontram vai acabar.

BIA: Como?! Só se agente virar Leko curtidor também.

LEKO: Mais ou menos isso!

LIA: Como assim.

LEKO: Na verdade vocês não vão virar um Leko Curtidor, que no caso sou eu. Mas vocês vão passar por
um processo para eu e vocês sermos novamente UM.
NECO: Que piada. Sermos UM. Como isso pode ser possível?

LEKO: Fica tranquilo. É só vocês me ouvirem que todo mundo vai se dar bem.

LIA: Eu quero ver qual vai ser a solução genial!

LEKO: É simples. São quatro recomendações minhas e uma só das vozes coletivas.

TEKO, NECO, BIA e LIA: Vozes coletivas????

BIA: Que vozes são essas?

LEKO: Depois das quatro etapas vocês vão saber!

NECO: Ai. Estou muito curioso para saber que etapas complexas são essas.

LEKO: Já falei que não são etapas complexas, mas bem simples.

TEKO: Essas peças gigantes aqui que parecem mais uns suportes de um aparelho tecnológico com um
design sofisticado e amigável não parecem tão simples.

LEKO: Pois elas vão ser peças fundamentais nas nossas operações!

NECO: Operações? Hã, não falei que era algo complexo.

LEKO: Fiquem quietos e escutem. Vamos fazer a primeira a primeira operação para sair desse
confinamento tecnológico. E nome dela é OPERAÇÃO...

LEKO: OPERAÇÃO...

BIA: Fala logo, Leko.

LEKO: OPERAÇÃO PIQUE ESCONDE!!!

TODOS: O que?

NECO: Está delirando, Leko?

LIA: A gente querendo sair dessa prisão e você querendo brincar numa hora dessas?

LEKO: Não é só brincadeira. É um treinamento para a vida. Vocês não estão procurando algo. Para que a
inteligência de vocês para encontrar algo fique aguçada, nada melhor do que uma brincadeira de pique
esconde.

LIA: Mas... mas é que eu me esqueci de como se brinca de pique esconde.

BIA: Meu Deus, como você pode esquecer essa brincadeira tão boba, Lia. É tão fácil. É assim, ó. (fica por
um momento pensando) Bom, é assim ó!

LIA: Ué, Bia? Também se esqueceu.


BIA: Claro que não. Olha só. Olha o nome da brincadeira. Pique e esconde. É assim, ó. Pique um objeto,
como um picapau, e se esconda. Não é isso, Leko?

LEKO: Claro que não, Bia. Deixe que eu lhes refresque a memória. Vou contar até o número vinte, com o
rosto escondido, e esperarei que vocês se escondam atrás de um dessas geringonças, e vou achá-los. E
tem mais! Vou conseguir achar a todos vocês, sem errar!

TEKO: Ah, essa eu quero ver. Já estava mesmo com saudade de brincar desse jeito. Mas quero ver se
você vai conseguir achar, sem errar, todos nós.

LEKO: Ah é. Então vocês vão ver.

Há quatro geringonças tecnológicas no cenário. Na verdade, são umas espécies de colunas, que
suportam um enorme artefato retangular (com cantos arredondados), formando uma “gaiola” em forma de
tablet ou i-phone na qual os personagens estão dentro. As colunas são das seguintes cores: verde,
amarela, vermelha e azul.

LEKO: Ahá! Agora eu vou falar quem está atrás de qual coluna, ok? Bom. Vou começar. Teko está atrás
do suporte verde. Neco, atrás do suporte amarelo. Bia, atrás do suporte vermelho e a Lia, atrás do
suporte azul.

Todos saem das respectivas colunas, extremamente surpresos.

TEKO: Meu Deus do céu!

LIA: Não é possível!

BIA: Como você conseguiu acertar?

NECO: Fácil. Ele tem todo o controle da situação.

LEKO: Não, Neco. Não que eu tenha o controle de toda situação. Vocês que perderam o controle da
situação de vocês só aficionados a controles de personagens de games, a registros de cenas por meio de
gravações com câmera de celular e a contatos por meio de redes sociais de internet, esquecendo de
olhar ao redor. Quando éramos menores, nós conversávamos bastante, e brincávamos de tantas outras
coisas quando não havia todo esse vício de tecnologia. Nós brincamos de piques, de esportes e de algo
que não sei se vocês lembram, chamado jogo da verdade?

BIA: Ah, lembro sim. A gente ficava em roda e você girava uma garrafa ou um chinelo, e nós tínhamos
que responder algo a nosso respeito.

LEKO: Pois é. E em umas dessas perguntas, cada um me revelou a sua cor favorita. E eu tenho tudo
registrado.

TEKO: No computador.

LEKO: Não, na minha memória mesmo. Por eu não ficar viciado e só colher informação em banco de
dados informatizado, na hora da necessidade eu posso contar com a minha memória. Então, memorizei
em minha mente as cores favoritas de cada um dos meus melhores amigos. A cor favorita do Teko é
verde. A cor favorita do Neco é amarelo. Da Bia, vermelho. E da Lia, azul.

TEKO: Caramba. Não é que essas brincadeiras não tecnológicas nos fazem mesmo desenvolver. Então
continua, Leko. Continua nos convocando a essas operações lúdicas para nos treinar a sair logo daqui.
LEKO: Então lá vai a próxima operação. A próxima é a operação é ... CABO DE GUERRA!

BIA: Ah, dessa brincadeira eu lembro.

LIA: Então fala qual é, Bia.

BIA: Ora, é simples. A gente chama um cabo de guerra, um soldado de guerra, desses fortes que servem
as forças armadas, do tipo Exército, e ele pega uma bomba, coloca ali perto da parede e
BUUUUUUUUUUUUM! Abra logo um buraco para gente sair dessa prisão do portal virtual!

NECO: Nada disso! Cabo de guerra é a brincadeira mais conhecida que existe, que uma jogo que um
grupo puxa a corda de um lado e outro grupo a puxa de outro lado. E você, Bia, por só ficar conectada
num cabo de ociosidade e bitolação, se esqueceu.

BIA: Há! E você que não faz nada a não ser filmar.

LEKO: Calma, gente. Vamos nos concentrar de novo aqui no treinamento. Primeiro a gente brincou de
algo que vai nos treinar a encontrar as coisas com base em investigações. Agora, essa brincadeira super
maneira vai fazer com que nossa força física retorne, uma vez que ela foi tão sabotada já que a gente, ou
melhor, vocês, se dedicaram tanto à tecnologia, e não aos esforços físicos. Para tal, vamos fazer uma
disputa bem proporcional!

TEKO: (com tom irônico) Meninos contra meninas.

Teko e Neko riem.

LEKO: Não. Todos contra mim!

Agora quem ri são todos, menos Leko.

LEKO: Quem ri por último, ri de verdade. Vamos fazer a disputa, e vocês mesmos vão verificar o que eu
estou querendo demonstrar.

Eles fazem a disputa de cabo de guerra, com uma corda. De um lado, Teko, Neco, Bia e Lia, caçoando
muito de Leko. De outro, Leko, que sozinho, surpreendentemente vence a disputa.

TEKO: Não é possível!

NECO: Foi mais humilhante que o vexame dado pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo.

BIA: Ah, gente! Vamos disputar de novo.

LIA: É mas antes vamos fazer uns exercícios físicos para derrotar esse tal de Leko Curtidor!

Os “exercícios físicos” que os quatro fazem são com os dedos da mão, como se tivessem digitando ou
teclando ao telefone celular, ou ao tablet ou ao game.

LIA: Estamos prontos.

LEKO: Vamos lá novamente então. É 1, é 2, é 3...

Mais uma vez Leko vence sozinho a disputa contra os quatro.


TEKO: Gente. Não é preciso ser gênio para saber que o Leko está ganhando sempre a disputa porque o
vício exagerado pela tecnologia nos deixou sem vigor físico nenhum.

NECO: Pois é. Estamos totalmente enfraquecidos, impotentes.

BIA: Eu não sabia que ia dá nisso o querer estar conectado sempre.

LIA: Vai, Teko. Passa a próxima operação Brincadeira para a gente ficar bem treinado para sair de dentro
desse tablet ou i-phone gigante, sei lá, e voltar para a vida saudável!

TEKO: É isso aí, Leko. Manda ver, que estamos no pique para voltar a viver!

LEKO: Ora, fiquem tranquilos, amigos. Agora vocês vão fazer algo bem mais simples ainda.

TEKO, NECO, LIA e BIA: Mais simples ainda? Então qual é a brincadeira?

LEKO: ESTÁTUA!!!

Todos os quatro, menos leko, estão parados.

LEKO: (ao público) Pois é, meus amiguinhos! Brincadeira de estátua. Não fazer nada. Quem disse que
organismo foi criado para fazer longas atividades seguidas, de 20, 22, 25 horas, como essa novas
tecnologias exigem. São partidas de game. São conversas longuíssimas nas redes sócias e o afã de ter
que filmar tudo, e não viver o momento. Agora, a brincadeira é fazer como que vocês vençam a batalha
contra o vício de tecnologia como o Rei Josafá, descrito na Bíblia, ficando parado! E reconhecendo que
só irão conseguir vencer esse inimigo que é esse vício não com suas próprias forças, mas com a ação
única e exclusiva de Deus. Jesus nos chamou para a vida! E ele vai nos devolver para ela. Podem voltar
a viver(estala os dedos).

Todos os quatro, depois que Leko estalou os dedos, correm estonteantes em cena, até se cansar. Após
se cansarem, ofegantes, caem todos juntos.

TEKO: Puxa. Nunca pensei que uma corrida ia me fazer tão bem.

NECO: Nem eu. São coisas tão simples da vida que estamos perdendo porque estamos vidrados em
tecnologia.

BIA: É verdade. Nunca pensei que ia deixar de fazer tantas coisas legais para o convívio, como conversar
falando diretamente a uma pessoa olho no olho.

LIA: Eu também. Para você ver a que ponto nós chegamos por causa do vício da tecnologia. Leko
curtidor! Ensina-nos a curtir de verdade.

LEKO: Claro, Lia! Curtir de verdade é muito mais do que ficar digitando, teclando ou visualizando o
mundo virtual. É mexer o corpo por inteiro. É criar brincadeiras novas e reviver as velhas. Se a tecnologia
se resumir a vício, nunca será uma boa.

BIA: (triste) Então eu tenho que me apartar do meu i-phone, do meu tablet e do meu...

LEKO: Claro que não, Bia. Mas não deixe que eles substituam aspectos fundamentais para o nosso
desenvolvimento, como, por exemplo, uma boa brincadeira usando o corpo, a inteligência, o vigor físico...
NECO: Pode deixar com a gente, Leko curtidor! Agora eu aprendi o que é de fato curtir. E esse ideia, eu
vou compartilhar.

LEKO: Não necessariamente só pela rede social da internet, mas também pela transmissão por meio da
fala, hein?!

TEKO: O Teko. Você disse que a última operação viria de vozes coletivas. Que vozes são essas?

LEKO: Ah, isso é apenas uma brincadeira que eu e os pais de vocês fizeram. Na verdade, quem trouxe
vocês para dentro desse tablet ou i-phone gigante foram eles, e contaram com a minha amizade por
vocês para mostrarem que vocês, que pensam que têm liberdade por estarem o tempo todo conectados
ou lindando com tecnologia, podem mesmo é estar presos. E eles mandaram para mim uma frase para
que vocês se libertem de vez dessa prisão.

TEKO: Que frase é essa?

LEKO: Bom, é uma frase que é o contrário da usada pelos pais de antigamente quando colocavam as
crianças de castigo, sem diversão.

LIA: Fala logo que frase é essa, Leko, para gente poder falar e sair logo daqui.

LEKO: É essa daqui. Vamos ler juntos para a voltar a viver de verdade.

NECO: Vamos.

TODOS: VÃO BRINCAR, CRIANÇAS!!!!

FIM

Glória a Deus

PONTE DA ALEGRIA

Um programa de auditório, gospel.

GLENDA MARVIM: apresentadora do programa


CÉZAR: Diretor
VERA: Assistente de Palco
Dois “seguranças” (que podem ser os dois paramédicos)
Cinco dançarinos (de ambos os sexos)
Câmera Man
FREDIATRIZ: atriz interpretando uma mulher comum do auditório
REXMAN: Um homem fantasiado de cachorro com coleira.

Objetos Cênicos
Moldura de papelão
Bola
Bicicleta
Estetoscópio
Pompons
Câmera
2 Microfones

Música animada ao fundo. Dançarinos no palco entram em cena, animados e com pompons. O
apresentador Glenda Marvim pede para o público se levante e, com palmas, acompanhe a música.
VOZ EM OFF: E com vocês, Glenda Marvim!
GLENDA MARVIM: Oi gente! É muito abençoador estar com vocês aqui diante do Trono! Não, diante do
trono não, pois esse slogan já está registrado! É bom estar com vocês perante o altar! Vamos levantar!
Levantar e se animar, pois está começando mais um programa...
Os dançarinos se posicionam na frente do Glenda Marvim e gritam:
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
GLENDA MARVIM: E por ela é que vamos passar para chegar ao alvejado lugar. E durante esse trajeto,
teremos várias TRIBULAÇÕES (...) EMOÇÕES (...) e PROVAÇÕES (...)! Mas vamos nos manter firmes,
porque do outro lado da Ponte da Alegria tem algo especial para você! E para começar o programa,
traremos a nossa atração musical ou, porque não dizer, atração principal! Vocês não sabem o custo que
tivemos para trazer esse artista, ou melhor, esse homem consagrado à causa do Senhor para o nosso
programa Pont...
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
Entra o diretor do programa
DIRETOR: Gente, já falei que só é pra falar o nome do programa no início, na abertura! Não é toda hora
que o Glenda falar a palavra “programa” que vocês têm que gritar “Ponte da Alegria” e ficar na frente
dele! E só no início!
GLENDA MARVIM: É por isso que eu não gosto de trabalhar com amador! Vera, retoca minha
maquiagem aqui, pois quando eu me estresso, e fico com a maquiagem toda borrada! Aiii!.
Vera (assistente de Produção) – Tá legal. (grita) Cláudia! (esbraveja) Trás a base e o rímel!
Vera vai até lá fora pegar o suco.
GLENDA MARVIM: (ao diretor) E você ainda queria fazer o programa ao vivo.
Vera maquia Glenda, que se sacode e se mostra preparada para mais um take.
DIRETOR: Tudo pronto, gente! Vamos gravar! Tudo certo aí, Glenda?
GLENDA MARVIM: Comigo ta tudo sempre certo, né, Cezar.
DIRETOR: Então vamos gravar. Vai lá, gravando!
GLENDA MARVIM: E para começar o programa, traremos a nossa atração musical ou, porque não dizer,
atração principal! Vocês não sabem o custo que tivemos para trazer esse artista, ou melhor, esse homem
consagrado à causa do Senhor para o nosso programa...
Os dançarinos fazer uma força descomunal para evitar que gritem de novo o nome do programa.
GLENDA MARVIM: ...Ponte da Alegria! E é com imensa satisfação que eu chamo, para que seja nossa
companhia de hoje à tarde, o jovem talento Moisés Richard!
Patrik Richard entra em cena, já cantando a música. Na metade da música, Glenda interrompe a
performance do artista.
GLENDA MARVIM: Para tudo! Para tudo!
MOISÉS RICHARD: Mas Glenda, eu vim aqui no seu programa pra divulgar meu trabalho.
GLENDA MARVIM: Moisés Richard, mas do que seu trabalho será divulgado hoje, pois está começando
o quadro mais que surpreendente do nosso programa. O quadro...O quadro...O quadro...
Um dançarino cutuca o outro, para que todos falem...
DANÇARINOS: Assim foi a sua vida!!!
GLENDA MARVIM: (olhando insatisfeito para os dançarinos) É isso mesmo...Assim foi a sua vida, Moisés
Richard!
MOISÉS RICHARD: Mas...assim como?
GLENDA MARVIM: Assim, ó!
Algumas meninas pertencentes ao grupo de dançarinos trazem uma “moldura de tela” na mão, simulando
um data show. Elas mesmo ligam o aparelho e, na moldura, haverá depoimentos de parentes de Richard
Moisés(depoimentos cênicos, só para satirizar, pois não se trata de imagens gravadas, mas dos próprios
atores interpretando o depoimento ao vivo atrás das “moldura da tela”).
PAI DE MOISÉS RICHARD: Ah, o Moisés Richard sempre foi um bom garoto!
MOISÉS RICHARD: Papai?!
PAI DE MOISÉS RICHARD: Sempre foi um garoto educado, disciplinado!
MOISÉS RICHARD: Ai, meu pai! Quanto tempo que eu não o vejo! E agora, bem na hora do meu
sucesso, ele aparece assim! Ai, que emoção!
MOISÉS RICHARD: O único defeito dele é querer cantar o tempo todo! Já falei pra ele! Homem que é
homem tem que jogar bola! Cantar não é coisa de homem!
MOISÉS RICHARD: Que isso, gente! Ô Glenda, vocês gravaram essa loucura do meu pai?!
Pai de Richard – É isso mesmo! Vai jogar bola! Homem que é homem tem que jogar bola!
MOISÉS RICHARD: Mas eu gosto de cantar!
O pai sai de dentro da moldura, pega o microfone e joga longe, trazendo uma bola para que o filho a
pegue.
PAI DE MOISÉS RICHARD: Vai jogar bola! Homem que é homem joga bola! Larga esse microfone! Toma
aqui a bola!
GLENDA: Seguranças! Seguranças!
Os seguranças pegam o pai de Moisés Richard, colocam dentro do “monitor” e expulsam-no de cena. O
“pai de Moisés Richard” sai por trás.
MOISÉS RICHARD: Posso continuar a cantar, Glenda?
GLENDA MARVIM: Não, nós vamos mostrar mais depoimentos de gente que te ama! Olha só!
No “monitor”(moldura), o melhor amigo de Moisés Richard.
TICO: E aí, tá gravando? E aí, Moisés Richard! Como é que tá rapaz! Quanto tempo!
MOISÉS RICHARD: Hã, olha! È o Tico, meu amigo de infância!
TICO: Ta vendo aí?! Ficou famoso, esqueceu dos amigos. Mas eu sabia que um dia, iam saber que eu fui
seu melhor amigo e iam me procurar! Pois é, estou aqui agora! Mas pode deixar que eu não estou
magoado por você ter sumido e nem ajudado a sua comunidade carente, por você nem ter dardo uma
ajuda à minha mãe que sempre te deu almoço por você ser muito pobre, por você nem ter se despedido
do pessoal quando se mudou do nosso bairro para morar numa casa grande com piscina e tudo, nem
chamado a gente... Pode deixar que eu não vou me vingar não!
MOISÉS RICHARD: Ufa!
TICO: Só vou falar o seu apelido de infância.
MOISÉS RICHARD: Não, meu apelido de infância não!
AMIGO: Né, Paçoquinha Mole?
GLENDA MARVIM: (rindo) Paçoquinha Mole. Porque Paçoquinha Mole?
TICO: Gente, o Moisés Richard, quando era pobre vendia paçoca no sinal gritando assim: Olha a
Paçoquinha Mole! Olha a Paçoquinha Mole!
Glenda Marvim gargalha. Moisés Richard corre raivosamente atrás da “imagem” do “monitor”, mas é
interpelado por Glenda Marvim. “Tico” sai por trás.
GLENDA MARVIM: Calma, calma Moisés Richard. Não vai embora não que ainda falta mais um
depoimento emocionante.
Aparece no monitor Jaqueline, a primeira namorada do Moisés Richard.
MOISÉS RICHARD: Não! Não acredito que vocês encontraram a Jaqueline!
JAQUELINE: Oi, Moisés Richard! Lembra de mim, não é! Mas parece que não lembra! Pois a pensão
está atrasada há mais de três meses.
GLENDA MARVIM: Ué? Por que você tem que pagar pensão para a primeira namorada?
JAQUELINE: Porque ele tem um filho comigo, Alípio. Só por isso!
A “imagem” sai do monitor e vai embora.
MOISÉS RICHARD: Ai, meu Senhor. Agora que meus CD´s vão cair de vendagem! Mesmo que a minha
esposa tenha me perdoado, o público evangélico não costuma perdoar essas coisas.
Moises Richard chora.
GLENDA MARVIM: Olha como o Moisés Richard chora de emoção, gente!
MOISÉS RICHARD: Olha aqui, Glenda. Se você colocar isso no ar, eu te processo, hein?! Eu te
processo.
Moisés Richard sai de cena.
GLENDA MARVIM: Processa nada! Isso que o público não perdoa, não é, gente? Pois “a vingança...
TODOS: ...pertence ao Senhor”.
GLENDA MARVIM: E vamos continuar na mesma alegria, pois a vida é uma festa!
Os dançarinos e os ajudantes de palco pedem palmas para o público, no compasso da música.
GLENDA MARVIM: E é nessa animação que vou chamar três pessoas do meu simpático auditório para
mais um quadro do nosso programa, chamado:
Os dançarinos se posicionam rapidamente à frente de Glenda Marvim e gritam:
DANÇARINOS: Louvai com Adufes e Danças!!!
As ajudantes de palco vão até a plateia e trazem três senhoras e uma atriz do pessoal do Teatro.
GLENDA MARVIM: Como você se chama?
As duas primeiras respondem o próprio nome. Somente a atriz dá um nome fictício.
ATRIZ: Frediatriz!
GLENDA: O quê?!
ATRIZ: Frediatriz. É a mistura de Frederico, que é o meu pai (oi pai! [olhando para a “câmera”]) com a
Beatriz que é a minha mãe! (oi mãe! [olhando par “câmera”]).
GLENDA MARVIM: Ah, sei! Bom, posso te chamar de Fred!
ATRIZ: Não! Pode me chamar de atriz! Ou melhor, futura atriz!
GLENDA MARVIM: É, mas o negócio hoje é dançar! Dançar pra Deus! O DJ Levita vai soltar o louvor e
vocês terão que se soltar, porque a vida é uma festa! Solta aí, Levita,
Frediatriz dança bem espalhafatosa. As demais, presumidamente, estarão tímidas. Quando acabar a
performance, Glenda pede palmas para que, supostamente, eleja a vencedora por aclamação do público.
GLENDA MARVIM: Palmas para a primeira! Palmas para a segunda! Palmas para a terceira! (Glenda
Marvim se comunica através do ponto com Cezar, o diretor) E aí Cezar. Claro. Acho Justo! Mais do que
Justo, assim como o nosso Senhor! Bom, já escolhemos a vencedora!
Dona Fulana! E a segunda colocada, dona Sicrana!
ATRIZ: Mas... e eu?!
GLENDA MARVIM: Não é só porque o povo te aplaudiu que você vai ganhar, minha filha! Toda
unanimidade é burra! E a voz do povo não é a voz de Deus, porque um dia ela gritou “crucifica-o!
crucifica-o!”
ATRIZ: Isso é uma injustiça! Uma injustiça e uma deturpação!
GLENDA MARVIM: Assistentes robustos de palco, por favor, que eu odeio usar a força física nessas
horas, até porque eu sou uma apresentadora renomada, e estudei nos melhores colégios.... Vai, vi, tira
logo o baixo nível do meu programa! Meu programa é DE NÍVEL! DE NÍVEL!
Entram os dois seguranças.
ATRIZ: Assistentes robustos?! Eles mais parecem leões de chácara do que assistentes.
GLENDA MARVIM: Minha filha, o show tem que continuar! Lembre-se que a Bíblia fala que seja tudo feito
com ordem e decência. Isso aqui é programa de auditório, porém evangélico! E dá licença para eu
continuar meu programa. Saiba perder.
Os seguranças retiram Frediatriz de cena.
ATRIZ: Me solta! Me solta!
GLENDA MARVIM: Obrigado Fulana! Obrigado Sicrana! E vamos continuar o programa Ponte da Alegria,
a única ponte que só cai se não tiver ninguém para passar por ela! Anotou aí, Cezar?! Dá para a gente
usar isso como jargão do programa!
DIRETOR: (da cabine) Anotei, Glenda! Anotei!
GLENDA MARVIM: E não percam, que no final do programa... (desce do palco e vai a uma senhora
qualquer que esteja sentada no “auditório”) Estão vendo essa senhora aqui?!
O “câmera man” “focaliza” a senhora.
GLENDA MARVIM: Esta senhora vai trazer aqui no programa um homem que foi criado como cachorro,
se alimenta como cachorro e até...até... foi batizado com nome de cachorro. O nome dele é ... REXMAN!
Não percam no final do programa! Mas antes dessa atração, vamos para o quadro bem divertido
chamado:
DANÇARINOS: SE VIRA NOS SESSENTA!
GLENDA MARVIM: É isso aí, vamos chamar o Juvenal Joaquim. Uma salva de palmas para o Juvenal
Joaquim!
Juvenal entra em cena com uma bicicleta e uma bola.
Glenda JUVENAL: E aí, Juvenal, vai conseguir comer mesmo uma dúzia de banana em sessenta
segundos?
JUVENAL: Não, dona Glenda, eu vim aqui fazer embaixadinha com a bola andando de skate ao mesmo
tempo.
GLENDA MARVIM: Olha só, meu filho, você sabe ler?
JUVENAL: Um pouco.
GLENDA MARVIM: Então lê o que está escrito aqui.
Glenda Marvim mostra a ficha para Juvenal.
JUVENAL: Que a pró-xi-ma a-tra-ção é um co-me-dor de ba-na-nas. Bananas.
GLENDA MARVIM: Então você vai comer bananas.
JUVENAL: Mas não sou eu...
GLENDA MARVIM: (interrompe-o)Meu filho, a minha produção nunca errou. Nós nunca erramos! Nosso
programa é de muita credibilidade!
Vera traz um cacho de Bananas para Glenda Marvim.
GLENDA MARVIM: E hoje não será o dia do nosso primeiro erro.
Glenda Marvim entrega o cacho para Juvenal.
GLENDA MARVIM: Aí, Levita! Solta a música de comedor instantâneo de bananas.
Juvenal Joaquim começa a comer as bananas. Ao deglutir umas quatro bananas, começa a passar mal e
botar para fora o que tinha na boca.
GLENDA MARVIM: Olha, eu queria avisar que é de total responsabilidade dos participantes qualquer
coisa que aconteça no palco. Qualquer coisa! O programa não se responsabiliza por nada que venha a
ocorrer no palco. Nada! Gente, gente, cadê os paramédicos.
Os paramédicos entram em cena. Examinam Juvenal com um estetoscópio e fazem sinal de negativo.
GLENDA MARVIM: Isso é que é, meus amados! Isso é que é! Tem gente que dá vida pela arte. E em
homenagem a esse tipo de gente, que se vira num minuto, eu peço um minuto de silêncio.
Glenda Marvim fica de cabeça baixa durante uns míseros segundos, depois volta à animação. Os
paramédicos carregam Juvenal para fora de cena.
GLENDA MARVIM: É isso aí, meus simpático auditório! O show tem que continuar. Talentos não são para
serem enterrados, mas expostos ao grande público. E conforme o prometido...
Sonoplastia de suspense.
GLENDA MARVIM: ...eu vou chamar aqui o homem que vive como cachorro, se alimenta como cachorro
e além disso tem nome de cachorro. O sensacional ...REXMAN!
Ninguém entra em cena. Isso faz com que Glenda Marvim fique alguns segundos esperando. Depois, ele
vai àquela senhora e cobra algumas atitudes por parte dela para que o programa tenha continuidade.
GLENDA MARVIM: E aí, minha senhora. Cadê ele?
SENHORA: (...)
GLENDA: Ora, cadê o homem que se comporta como cachorro, que a senhora disse que ia trazer. Como
é o nome da senhora?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: Pois é, Dona Ciclana Cadê o REXMAN?
Entra em cena um ator do pessoal do Teatro como um cachorro, com uma coleira no pescoço, andando
como tal, e se posiciona ao lado da senhora, fazendo festa para ela.
GLENDA MARVIM: Ah, que gracinha. Olha ele aí! Que bonitinho.
REXMAN se põe sentado como um cão adestrado.
GLENDA: Oh, que lindo. Ainda por cima é adestrado. E eu creio que ele sabe fazer mais truques do que
esses, não é dona Ciclana? Por isso eu chamo a Dona Ciclana e o Seu simpático REXMAN para virem
aqui no palco para mais demonstrações de habilidade canina! Uma salva de palmas para Dona Ciclana e
REXMAN!
REXMAN exagera na performance, pulando no colo de algumas pessoas do palco, abraçado o
apresentador e o jogando no chão etc.
GLENDA MARVIM: Calma, REXMAN! Calma! E aí, Dona Ciclana? Há quanto tempo a senhora está com
o REXMAN?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: E a senhora dá banho nele com sabonete normal ou sabão anti-pulga?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: (olha com desdém para REXMAN)Como é que pode, meus amados? Como é que
pode? O que essa gentinha está fazendo hoje para ter moleza, para ter uma casa para morar, para ter
comida de graça.
REXMAN se sente um pouco humilhado.
GLENDA MARVIM: Estão vendo, meus amados. É o cúmulo! É o cúmulo! Trocar aquele vaso sanitário
tão confortável por postes tão feios e desconfortáveis para urinar! Trocar aquela comidinha tão gostosa
por ossos duros, meus amados! Duros de roer! Aceitar tapinha na cabeça como carinho! Aceitar ser
levado para passear numa...
REXMAN rosna e ataca Glenda Marvim, mordendo sua.
GLENDA MARVIM: Rex, calma! Calma Rex! Calma! Socorro! Cadê os seguranças! Eu pago vocês para
me darem segurança para qualquer tipo de ataque! Seguranças! Calma Rex! Minha senhora, segura ele!
Calma! Calma Rex. Meu Deus, eu vou ficar despida na frente do meu público! Socorro! Já sei! Já sei o
que eu vou fazer! (ao público)É isso aí, meus amados! Até semana que vem com mais um programa...
com mais um programa...
Glenda Marvim olha para os dançarinos, que permanecem parados.
GLENDA MARVIM: Ô, seus dançarinos de araque, não escutaram eu falar ‘programa” não?! É para
vocês se posicionarem aqui na minha frente e gritar o nome do programa quando eu falar a palavra
“programa”, lembram?!
UM DANÇARINO: É, mais o diretor disse que era só pra gente fazer isso no início do programa.
GLENDA MARVIM: Mas agora eu tô mandando, sua anta! (disfarça, com um sorriso amarelo, ainda
sendo atacada por REXMAN) Até semana que vem, meus amados, com mais um programa...
Os dançarinos, agora se posicionam
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
Só que retornam às suas posições, atrás de Glenda Marvim. Esta fica repetindo o tempo todo a
expressão “com mais um programa” para que os dançarinos permaneçam por algum tempo à sua frente e
o público não veja sua degradante imagem ao ser atacada por REXMAN, que não para de atacá-la ao
morder sua roupa.

Fim

Glória a Deus

RUMO AO NOVO LAR

1º Capítulo

Justino está em casa vendo televisão, estatelado em frente ao aparelho de TV. Péricles e Vanessa
chegam em casa, discutindo. Estes dois são os filhos de Justino e Dona Graça.
PÉRICLES: Não adianta, Vanessa! Depois que o Evandro sair de casa, eu é que vou ficar com o quarto
dele, você está entendendo? Eu!
VANESSA: Nada disso! Você sabe que eu sempre sonhei em ter um quarto só meu! Sempre dividi aquele
muquifo com você! Ô quartinho pequeno! Eu sou menina. Preciso de mais espaço!
PÉRICLES: Só se for para fazer bagunça! E falando nisso, apesar de eu ser menino, eu sou mais
organizado. E eu vou ficar com aquele quarto do Evandro!
VANESSA: Eu que vou!
PÉRICLES: Eu que vou!
VANESSA: Eu que vou!
Graça entra em cena, dando fim à contenda dos filhos.
D. GRAÇA: Crianças! Silêncio! Parem de brigar! Não estão vendo que o pai de vocês está vendo
televisão!
VANESSA: Hã! Se formos parar de fazer alguma coisa porque meu pai está vendo televisão, só vamos
poder conversar de madrugada, que é o único horário que ele não está de frente para essa droga!
PÉRICLES: Deixa o meu pai ver a televisão dele! Pelo menos ele não perturba a gente como a minha
mãe.
D. GRAÇA: Eu não perturbo vocês! Eu apenas educo vocês. Está vendo, Justino! Isso é que dá ter filho
fora do tempo! Nós dois já velhos, com filho de trinta e cinco anos, ter dois pirralhos para criar.
VANESSA: (zombando)Deixa o pai ver TV, mamãe!
D. GRAÇA: Ainda mais gêmeos!
Vanessa e PÉRICLES: Mas de placentas diferentes!
D. GRAÇA: Chega! Os dois para o quarto!
VANESSA: Ah, mãe! É sobre isso que nós queremos conversar com você!
PÉRICLES: É, mãe! Já que o Evandro vai casar, quem vai ficar com o quarto dele? Eu ou a relapsa, quer
dizer, eu ou a Vanessa?
VANESSA: Eu ou o que pensa que a nossa casa é um albergue, pois vive trazendo dezenas de amigos
para dentro de casa quando você está ausente. Se meu pai não estivesse hipnotizado por essa TV aí,
brigaria com ele o tempo todo!
D. GRAÇA: O irmão de vocês ainda nem saiu de casa! Esperem as coisas acontecerem! E vocês estão
muito “donos da decisão” para o meu gosto! Nem sei se vou deixar o quarto deles para vocês! Talvez eu
alugue!
VANESSA: Alugar o quarto dele?!
PÉRICLES: Quê isso, mãe?!
D. GRAÇA: Isso mesmo! E eu já falei para os dois irem para o quarto! Andem! Andem! Não vou falar de
novo. (pausa) E não batam a porta do quarto, hein?!
Barulho de porta batendo forte.(faixa 1)
D. GRAÇA: Justino, eu preciso falar com você!
Justino não dá atenção. D. Graça vai para frente da TV e fica pulando, para chamar a atenção de Justino.
D. GRAÇA: Justino, eu preciso falar com você!
D. Graça senta do lado dele, desanimada por não ter conseguido atrair a atenção de Justino, mas tem
uma ideia que a reanima.
D. GRAÇA: Puxa vida! Puxa vida! Vai haver um apagão na cidade inteira, e tudo que está dentro da
geladeira vai estragar! Toda a cidade vai ficar sem luz. Eu disse TODA A CIDADE VAI FICAR SEM LUZ
BEM NA HORA DO JOGO BARCELONA E REAL MADRID.
JUSTINO: O quê?! O que foi que você disse?!
D. GRAÇA: Caramba! Só assim para chamar a sua atenção Justino! Olha só! Dá para você desligar a
televisão que eu tenho uma coisa importante para falar com você!
JUSTINO: Um minuto?
D. GRAÇA: Três minutos, Justino! Três minutos!
JUSTINO: Vamos negociar! Nem eu nem você!
D. GRAÇA: Está bem, Justino! Dois minutos!
JUSTINO: Espera um pouquinho.
Justino se prepara para cronometrar o tempo que ficará com a televisão desligada.
D. GRAÇA: O que você vai fazer com esse relógio, Justino?
JUSTINO: Ué, vou cronometrar o tempo que a televisão vai ficar desligada.
D. GRAÇA: Ai Justino, você está pior do que eu pensava!
JUSTINO: Você é que está pior. Depois que entrou para Igreja, por influência do nosso filho mais velho,
não vê nenhum programa de televisão junto comigo.
D. GRAÇA: Isso é mentira! Apenas não sou mais escravo dela! Mas isso é outro assunto! O que eu quero
falar com você, Justino, é justamente sobre o nosso filho mais velho.
JUSTINO: Ah, não quero papo com esse sujeito.
D. GRAÇA: Justino, ele é nosso filho. O fato de ele estar muito radical com as coisas da Igreja não é
motivo de você ficar sem falar com ele. E ele vai trazer a noiva dele aqui pela primeira vez para a gente
conhecer. E eu vou preparar um almoço para eles.
JUSTINO: Só mesmo o maluco do meu filho mesmo! Trazer a noiva para os pais conhecerem uma
semana antes de casar.
D. GRAÇA: Não importa, Justino! Ele acha que o momento da noiva dele se chegar à família é apenas
quando tiver próximo ao casamento. Ele é da opinião que não adianta à família se apegar à noiva antes.
Ele acha que pode não dar certo o relacionamento e a família está apegada à moça e...
JUSTINO: (interrompendo) Está bem, Graça, está bem! Seu tempo acabou, ó! (mostra o relógio) Já
passaram dois minutos! Deixa eu voltar para a minha alegria televisiva!
D. GRAÇA: (resmunga)Alegria televisiva... Deus vai libertar você dessa escravidão, assim como ele me
libertou!
Graça sai de cena.
JUSTINO: (em voz alta) Vai nada. Além disso, Deus gosta muito da sessão da tarde!
Da galeria, alguém joga uma bola bem em cima da TV, espatifando-a no chão. Justino fica congelado em
cena.(faixa 2)
NARRADOR: (faixa 3)– Será que Justino vai suportar o fato de ficar sem Televisão bem no dia do
clássico Real Madri e Barcelona? Será que os filhos de Justino terão dinheiro para comprar outra
televisão? Não percam o próximo capítulo da minha, da sua, da nossa novela “Rumo ao novo Lar”.

2º Capítulo
Justino congelado em frente à Televisão. Péricles e Vanessa entram na “sala”, discutindo.
PÉRICLES: Ô pai, não fui eu não! Foi ela que jogou a bola na televisão, para você pensar que fui eu que
joguei!
VANESSA: E eu lá jogo bola?
PÉRICLES: Para de mentir, Vanessa! Foi você que jogou a bola!
VANESSA: Tá bem, tá bem! Eu confesso que fui eu! Mas quem mandou você deixar essa bola toda cheia
de lama bem em cima da minha cama! Eu fiquei com raiva e taquei ela longe! Agora, se eu quebrei a
televisão, azar. Pelo menos o meu pai vai se libertar dessa escravidão!
PÉRICLES: Vanessa! Olha para o nosso Pai!
VANESSA: Ué, não tem nada de diferente nessa cena. Ele estatelado em frente à televisão.
PÉRICLES: É, mas agora ela está quebrada. Não tem porque dele ficar hipnotizado em frente aos
destroços.
VANESSA: Vai ver que ele está tão vidrado nela que se apaixonou pelo próprio aparelho, e não apenas
pela programação. Mas não vamos perder tempo com isso não. Deixa ele aí parado. Vai ver que ele está
pensando no que fazer. E do jeito que meu pai é, deve ter um estoque de televisão guardado, caso
aconteça um acidente com esse que aconteceu. Vamos conversar sobre o nosso plano de assustar a
noiva do meu irmão.
PÉRICLES: Shhhhh! Fala baixo! Vai que meu pai escuta e fala para minha mãe e pro Evandro!
VANESSA: Fala nada! Não está vendo que ele está em transe, em estado alfa? Ele não está ouvindo
nada não, ó!
Vanessa dá um grito bem perto do ouvido de Justino.
VANESSA: Viu? Presta atenção. Já que minha mãe vai alugar o quarto, é melhor o Evandro continuar
aqui, do que a gente ter que dividir a nossa casa com algum estranho.
PÉRICLES: É, além disso, com o Evandro longe, quem vai me ajudar no dever de casa?
VANESSA: Pois é, o plano é o seguinte: estou sabendo que a tal da noiva do meu irmão vai conhecer os
nossos pais pela primeira vez. O meu pai não gostar dela é fato esperado, pois ele e o Evandro não estão
bem um com o outro. Agora, se a minha mãe tiver antipatia da futura nora, já viu, né Péricles? (sorri)
PÉRICLES: Ainda não vi não, Vanessa.
VANESSA: Ô, seu burro! Você não sabe que o primeiro passo para um casal se dá bem é a mãe ser
amiga da noiva do filho.
PÉRICLES: Puxa, eu pensei que o primeiro passo pro casal se dar bem é o cara ter dinheiro.
VANESSA: Está bem, Péricles, está bem. Digamos então que esse seja o segundo passo. Então, eu e
você temos que fazer a caveira da Brida.
PÉRICLES: Brida? E isso é nome de gente?
VANESSA: Olha só quem fala. Brida é o nome de uma personagem do livro de um cara aí. Essa
personagem é aprendiz de magia e de bruxaria.
PÉRICLES: Taí, Vanessa! A gente pode falar que a Brida mexe com bruxaria e outras coisas mais. O que
você acha?
VANESSA: Não, Péricles. Ela é crente.
PÉRICLES: Ah é? Não tinha pensado nisso. Ah...Mas os pais dela não. E eu fiquei sabendo que eles têm
uns envolvimentos com essas coisas. Olha só o nome que eles botaram nela. A gente pode convencer à
minha mãe que eles fizeram um feitiço para que o homem que casar com ela sofra algum mal. O que
você acha?
VANESSA: É, faz sentido. Legal, Péricles. Mas só isso.
PÉRICLES: Não. O resto deixa comigo. Você fica responsável por fazer a cabeça da minha mãe, depois
que eu colher algumas informações sobre a Brida com o nosso irmão.
VANESSA: Hummm! Vai ser legal!
Evandro entra em cena.
EVANDRO: O que vocês dois estão aprontando aí, hein, Dona Vanessa e Seu Péricles?
VANESSA: Nada não. Só estou dizendo que vou pegar da minha mesada o dinheiro para concertar a
televisão do nosso pai, já que fui eu que quebrei! Com licença!
Vanessa sai de cena. Justino continua estatelado em frente aos destroços da televisão.
EVANDRO: Caramba, Péricles. Vocês quebraram a televisão do papai?
PÉRICLES: Vocês, não! A Vanessa quebrou.
EVANDRO: Não, Péricles. Aprenda uma coisa! (entonação de pregador) Todos nós somos culpados.
PÉRICLES: Ai, Péricles. Depois que você entrou para igreja você ficou todo certinho.
EVANDRO: E ser certinho é por acaso algum defeito? Tem mais, vou levar vocês para lá. Não só vocês
como os pais da Brida.
PÉRICLES: Aí meu irmãozão! Vai casar com ela, hein! Meus parabéns!
EVANDRO: Obrigado, Péricles. Obrigado! O homem, quando casa, sai da sua casa para formar com a
mulher uma só carne.
PÉRICLES: Vocês vão montar algum açougue juntos?
EVANDRO: Não, Péricles. (...) Depois eu explico isso para você! Agora eu tenho que cuidar dos
preparativos do almoço com minha mãe. A Brida vem almoçar hoje com a gente.
PÉRICLES: É, Péricles, eu posso fazer algumas perguntas sobre ela para você?
EVANDRO: Claro, meu irmãozinho.
PÉRICLES: A Brida cozinha bem?.
EVANDRO: Por que você está querendo saber isso?
PÉRICLES: Sabe o que é, Evandro? A minha mãe está preocupada se você vai ser bem tratado pela
Brida, mas está com vergonha de perguntar essas coisas e fica comentando o tempo todo isso com a
gente.
EVANDRO: É mesmo. A mamãe nem toca nesse assunto comigo. A Brida cozinha bem sim, Péricles. E
aprendeu com a mãe dela.
PÉRICLES: Como é que é?
EVANDRO: Ela aprendeu com a mãe dela!
PÉRICLES: (maquiavélico) Obrigado, Evandro.
EVANDRO: Hã... (sem entender muito bem) De nada!
PÉRICLES: Ah, ô Evandro. Eu sei que aliança você já deu para a Brida. Mas você não acha melhor, hoje
que uma ocasião especial, você comprar uma flor tanto para a Brida quanto para a mamãe, já que você
precisa mostrar que você ama as duas, e não vai deixar de amar a nossa mãe porque vai casar, nem vai
querer que a Brida seja sua segunda mãe, e sim sua esposa.
EVANDRO: Boa ideia, Péricles. Puxa vida. Você está se saindo um superdotado de inteligência, hein,
irmãozinho. Tchau.
Evandro sai de cena. Justino continua estatelado em frente à TV. Péricles, maquiavélico, vai bolando um
plano, “pensando em voz alta”. (faixa 4)
PÉRICLES: Que beleza. Aí a gente vai induzir a maior confusão entre os dois. Entre os dois não, entre os
três. Duas mentes pensando o mal pensam melhor e...
VANESSA: (entra em cena) E aí, Péricles.
PÉRICLES: Ai, que susto, Vanessa...
VANESSA: Aiii! Desculpe.
PÉRICLES: (respira fundo) Ai...Ta bom! Se liga na ideia, Vanessa. Fiquei sabendo que a Brida aprendeu
a cozinhar com a mãe dela.
VANESSA: E daí?
PÉRICLES: Daí que temos que induzir à Brida a falar, bem na hora do almoço que a seguinte frase: “Eu
fui aprendiz da minha mãe”.Essa frase vai ser a deixa para que minha mãe faça alguma coisa que
assuste a Brida para afastá-la de vez do Evandro.
VANESSA: Mas o que vai levar à nossa mãe a fazer isso.
PÉRICLES: Aí que entra você na história. Você tem que tentar convencer a minha mãe que, mesmo a
Brida sendo crente, tem alguma coisa em comum com mãe dela em relação à feitiçaria.
VANESSA: Ai, Péricles...Será que ela vai acreditar nisso. Você sabe que agora ela está indo naquela
igrejinha evangélica que meu irmão mandou ela ir. E esse povo não acredita nessas coisas não.
PÉRICLES: Mas tem uma coisa supersticiosa que esse povo acredita.
VANESSA: O que, Péricles.
PÉRICLES: Maldição hereditária! (faixa 5)
VANESSA: É mesmo! Então eu tenho que convencer ela dentro desse assunto.
PÉRICLES: Isso aí, Vanessa. Capricha! Quando você quer, você consegue!
VANESSA: Deixa comigo!
Péricles e Vanessa saem de cena. Justino, assobiando tranquilamente tira os “destroços do aparelho de
televisão quebrado” de cena e volta carregando outro ENORME, de 52 polegadas. Liga o novo aparelho e
senta em frente a ele, tranquilamente (faixa 6 em “repeat” até que Justino substitua a TV quebrada pela
TV nova)
NARRADOR: (faixa 7) Será que Péricles e Vanessa vão conseguir convencer a mãe deles a acabar com
o casamento de Evandro? Será que Justino vai conseguir sair da frente da televisão? Será que a D.
Graça vai deixar o feijão queimar? Não percam o próximo capítulo da nossa eletrizante novela “Rumo ao
novo Lar”.

3º Capítulo
NARRADOR: (faixa 8)– No capítulo anterior, Péricles e Vanessa fizeram o plano para espantar Brida, a
moça que será, em nome de Jesus, a futura esposa de Evandro. Vanessa vai tentar convencer sua mãe
a espantar Brida, pois sabe que tudo começa mal num casal quando a mãe do noivo não se dá bem com
a nora, e vice-versa. Justino estreou sua nova televisão de 52 polegadas. E Evandro não sabe se volta,
pois é metódico até na hora de comprar flores. Fiquem com mais um capítulo da novela cristã “Rumo ao
novo Lar”.
Em cena, Vanessa, D. Graça e Justino em frente à sua Super TV.
D. GRAÇA: Justino! O quê é isso, homem de Deus?
JUSTINO: Ué, mulher. Lembra daquela enorme caixa que eu guardava a sete chaves e não deixava
ninguém mexer? É a Antonieta. (apresenta a televisão para a mulher) Antonieta, Graça, Graça, Antonieta.
VANESSA: Só mesmo o meu pai para botar nome numa televisão.
D. GRAÇA: E porque você não ligou ela logo?
JUSTINO: Estava esperando a velha Gordofreda dá os últimos suspiros de vida.
VANESSA: Mãe, deixa o pai, que ele é um caso perdido. Eu quero falar com a senhora sobre a vinda da
Brida aqui, a noiva do meu irmão. A senhora sabia que o pai dela é envolvido com feitiçaria e bruxaria?
D. GRAÇA: Ah, minha filha. Agora eu sou crente. Não acredito mais nessas coisas não.
VANESSA: Ah é! Pois fique sabendo que crente acredita em maldição hereditária!
D. GRAÇA: É mesmo?
VANESSA: É mesmo! Pode perguntar a qualquer um aí! (aponta para o público)
D. GRAÇA: Não sabia que os crentes acreditavam nisso aí não. E... como é que você sabe disso,
Vanessa.
VANESSA: (sem ação) Ora...Ora...É...é só ver nos dez mandamentos.
D. GRAÇA: (desconfiada) Nos dez mandamentos?
VANESSA: (para ganhar tempo e pensar numa ideia) É, nos dez mandamentos! Lê ele para mim na
Bíblia. A senhora sabe onde está?
VANESSA: O seu irmão mais velho marcou aqui para mim. Vamos ver. (pega uma bíblia e abre em
Êxodo 20:1) Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da
terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem
esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo
da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus
zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me
odeiam, e faço misericórdia com até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos.
VANESSA: Aí, tá vendo?!
D. GRAÇA: Aí o quê, Vanessa?
VANESSA: Aí, mãe! Não prestou atenção no que você leu? Ele, Deus, visita a iniquidade dos pais nos
filhos até a terceira e quarta geração! Isso á maldição hereditária, mãe! (suspira aliviada).
D. GRAÇA: É mesmo, minha filha. Eu pensei que você estivesse com ciúmes da noiva do seu irmão. Que
mãe desnaturada que eu sou! (pausa) Meu Deus! Meu filho vai ser amaldiçoado por tabela e eu não
posso fazer nada!
VANESSA: Pode sim, mãe! Claro que pode! Fique sabendo que o primeiro passo para uma relação ir por
água abaixo é a mãe se dá mal com a nora.
D. GRAÇA: O que você quer dizer com isso?
VANESSA: Ora, mãe, faça algo para espantar a Brida hoje, na hora do almoço.
D. GRAÇA: Ai, não posso fazer isso não, Vanessa. Apesar de não conhecer a menina, fiquei sabendo
que ela é uma boa moça. Além disso, ela não tem culpa nenhuma de os pais dela serem envolvidos com
essas coisas.
VANESSA: E se ela disser para senhora que um dia (se aproxima da mãe dela, com ar de maquiavélica)
Ela já foi uma aprendiz de bruxa.
D. GRAÇA: Ai, Vanessa, assim você me assusta. (pausa) Tá bem, Vanessa. Se a Brida confessar hoje
que já foi aprendiz de bruxa, eu prometo que faço algo para espantá-la. Com muita dor no coração, mas
faço.
VANESSA: É isso aí, mãe! (abraça-a) Vamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para livrar o meu
irmão dessa maldição por tabela.
Vanessa sai de cena, vibrando.
D. GRAÇA: Ai, meu Deus. O que eu faço? Já sei! Vou ligar para a irmã Dindinha, que é especialista em
sessão de descarrego.
Pega o telefone.
D. GRAÇA: (faixa 9)Oi, irmã Dindinha! É a Graça que está falando. Tudo bom? (faixa 10)Olha só, eu
estou com um problemão. Meu filho vai casar com uma moça que tem uma maldição hereditária e eu
estou com medo dessa maldição passar par o meu filho. (faixa 11) A minha filha disse para eu fazer
alguma coisa para espantar ela. (faixa 12) Ah, o que eu tenho que espantar é o demônio que está dentro
dela. Entendi. E então eu tenho que fazer o quê? (faixa 13) O quê. Irmã Dindinha? Mas isso vai espantar
inclusive a minha família. (faixa 14) Então está bem! Tchau, irmã! (faixa 15) Até mais tarde na igreja no na
corrente dos desesperados. (faixa 16)
Desliga o telefone.
D. GRAÇA: Ai, não acredito que eu tenho que fazer isso. Bom, vale tudo para a felicidade do meu filho.
Deixa-me ver a comida, que está quase pronta.
D. Graça sai de cena. Justino continua estatelado em frente à TV. Péricles e Vanessa entram em cena.
PÉRICLES: Como foi a conversa com a mamãe, Vanessa?
VANESSA: Meu irmão! Dei um tiro no escuro e acertei na mosca. Mas está tudo certo. Só temos que
fazer a Brida dizer que foi aprendiz da mãe dela.
PÉRICLES: É isso aí!
Evandro entra em cena com Brida.
EVANDRO: Gente, gente! Olha só! Saí para comprar flores e encontrei no caminho a minha flor.
Péricles e VANESSA: Ai que lindo!
EVANDRO: Olha, Brida, esses são os meus dois irmãos mais novos.
BRIDA: Ai, que gracinha! São gêmeos?
Péricles e VANESSA: Mas de placentas diferentes.
EVANDRO: Eles sempre respondem assim quando fazem essa pergunta. Vem aqui, Brida, que vou
apresentar meu Pai. Olha pai, essa é Brida, minha noiva. Brida, esse é o Justino, meu pai.
BRIDA: Prazer, seu Justino.
Seu Justino só dá um grunhido.
JUSTINO: Hummm!
Evandro fica um pouco constrangido com a frieza do pai e disfarça.
JUSTINO: Vem Brida, vem conhecer minha mãe.
D. Graça entra em cena trazendo a comida pronta em tigelas.
D. GRAÇA: Oi, Brida. Tudo bom. Prazer!
BRIDA: O prazer é todo meu.
D. GRAÇA: Andem, crianças, me ajudem a botar a mesa.
Vanessa e Péricles saem de cena.
EVANDRO: Vem, pai, almoçar.
Justino caminha de costas, de modo a não ficar nenhum momento sem olhar para a televisão. Senta na
cabeceira da mesa de frente para a televisão. (Justino caminhando ao som da faixa 17)
Vanessa e Péricles chegam com pratos nas mãos, colocando-os sobre a mesa.
VANESSA: Diga-me, Brida. Você sabe cozinhar?
BRIDA: Sei sim. Bom, não deve ser igual à comida da mãe de vocês, pois o Evandro não cansa de falar
bem dela.
VANESSA: Dela quem?
BRIDA: Ora, da comida da mãe de vocês. Eu fui aprendiz da minha mãe.
(faixa 18)
PÉRICLES: O quê?
BRIDA: Eu fui aprendiz da minha mãe.
PÉRICLES: Brida, repete isso quando a minha mãe chegar, pois ela vai ficar feliz em saber que o filho
dela vai se casar com uma moça que sabe cozinhar.
D. Graça entra em cena com mais uma tigela de comida.
VANESSA: Fala para minha mãe, Brida, o que você nos disse.
BRIDA: Ô, Dona Graça, eu fui aprendiz da minha mãe. Pode deixar que eu sei preparar tudo, tudo!
VANESSA: Entendeu mãe?
D. GRAÇA: Claro, minha filha! Claro!
D. Graça sai de cena.
EVANDRO: Olha aqui, Brida, não repare não, mas a minha mãe faz questão de que você prove logo a
comida dela. Ela é um pouco assim, ansiosa. Mas Deus vai libertar ela disso também.
D. Graça chega com uma tigela cheia de um creme e joga tudo em cima de Brida. A cena se congela.
NARRADOR (faixa 19) Será que Brida vai resistir a essa provação? Será que ela vai compreender que foi
um acidente ou vai acusar a família de Evandro de uma conspiração contra ela? Não percam o último
capítulo da nossa novela “ Rumo ao novo Lar”. Ou quem sabe, “Rumo à delegacia”.

Último Capítulo
NARRADOR: Hoje é o último capítulo da nossa novelinha “Rumo ao Novo Lar”. O que será que vai
acontecer? Faremos um breve resumo, para recordamos dos primeiros capítulos. Evandro quer se casar
com Brida. Ele preferiu apresentá-la à família apenas alguns dias antes do casamento, para que a família
não apegasse a ela em vão, caso alguma coisa desse errado antes do casamento. Parece que não foi
uma boa ideia de Pedro, pois seus irmãos, Péricles e Vanessa, aprontaram uma traquinagem exatamente
no dia que Evandro apresentou Brida à família. Os dois pestinhas ainda envolveram a sua mãe, Dona
Graça. Se Justino não está nem aí. Só está mesmo ligado no jogão de bola Barcelona versus Real Madri,
transmitido ao vivo pela televisão, bem na hora do almoço solene. Dona Graça deixa de propósito seu
creme de Espinafre com doce de leite cair sobre a pobre Brida. Nós vamos repetir essa cena, para que
você, meu caro espectador, não perca nenhum detalhe dessa novelinha, e também pelo prazer de ver a
FULANA, nossa atriz do Ministério de Teatro da Igreja Batista da Barra do Imbuí, se sujar de novo. Mas
ela faz isso com prazer.
Todos posicionados como a cena final do capítulo anterior, congelados.
D. Graça deixa o creme cair sobre Brida. Todos ficam surpresos, olhando a cena. Ela, cambaleante e
sem enxergar, caminha em direção à TV de 52 polegadas e a joga no chão. (faixa 20)
VANESSA: (espantada) Gente, acho que a Brida foi enviada por Deus para libertar o meu pai da
escravidão da televisão.
PÉRICLES: Ih, acho que agora o meu pai explode! Ele está guardando essa explosão há anos.
Justino, numa calma que lhe é peculiar, pega um radinho de pilha, sintoniza-o e permanece alheio aos
acontecimentos ao seu redor. (faixa 21)
Brida, mesmo cheia de creme na cara, se aproxima de Justino.
BRIDA: Seu Justino! O que o senhor está escutando aí?
JUSTINO: Ah, minha filha...Os bastidores do jogo do Flamengo.
BRIDA: Puxa, o senhor torce para o Flamengo? Eu também;
JUSTINO: Que legal, minha filha! Temos algo em comum.
BRIDA: O seu filho nunca falou do senhor para mim. Só falou da sua mãe.
Péricles, sussurrando à Vanessa.
PÉRICLES: Ela está conseguindo estabelecer contato com o meu pai.
VANESSA: Shhhhhhhhh! Vamos escutar.
PÉRICLES: É, minha filha. Depois que ele entrou para igreja, ele não liga mais para mim não. Só porque
eu não penso da mesma maneira que ele pensa e não sei debater esses assuntos de igreja.
EVANDRO: Não é verdade!
BRIDA: Evandro! Depois nós conversamos. (tom) Seu Justino. Você também deve ter um pouco de
culpa! O senhor só dá atenção para a televisão! Talvez seja por isso que a sua família não lhe dá mais
atenção. A televisão é boa só quando ela não nos escraviza. Olha só, eu tive uma ideia Estou com meu
carro aí fora e estou com vontade de ir ao jogo do mengão.
JUSTINO: Você gosta de jogo?! Puxa, o Evandro nunca me falou nada!
EVANDRO: Eu ia falar mas o senhor...
BRIDA: Shhhh! Evandro! Depois! (pausa) Vamos, seu Justino.
JUSTINO: Não quer se lavar, minha filha?
BRIDA: Eu me lavo lá em casa, pois eu tenho que passar lá para comer alguma coisa. Aí eu aproveito
para apresentar o senhor para os meus pais.
Brida e Justino saem de cena.
PÉRICLES: Poxa! Estou começando a admirar a minha cunhadinha. Ela conseguiu tirar o papai de casa.
Tá vendo, Vanessa, como a Brida é legal, e não tinha nenhuma necessidade de fazer isso?
VANESSA: Shhhhhhhh!
EVANDRO: Fazer isso o quê?
PÉRICLES: Ué, convencer a minha mãe a jogar a comida dela em cima da Brida de propósito.
VANESSA: (a Péricles) Foi você que deu a ideia!
PÉRICLES: Foi você!
VANESSA: Foi você seu mentiroso.
EVANDRO: (aos berros) Saem os dois daqui agora!!!!!!!!
Evandro caminha devagar para perto da mãe, decepcionado.
EVANDRO: Mãe! É verdade essa história que o Péricles contou?
D. GRAÇA: Eu explico, meu filho! Eu explico! Olha só, a sua irmã, não sei como, conseguiu me provar na
Bíblia que existe maldição hereditária.
EVANDRO: Como? Ela nem conhece a Bíblia.
D. GRAÇA: Eu sei! Mas ela me mandou abrir nos dez mandamentos e estava lá, quer ver?
D. Graça apanha a Bíblia.
D. GRAÇA: Olha aqui. Êxodo 20, versículos 5 e 6. “...porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso,
que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, e
faço misericórdia com até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.
Poxa, eu fiquei sabendo que ela tem pais metidos com bruxaria e pensei que você ia ser amaldiçoado por
tabela. Além disso, ela falou na mesa que era aprendiz da mãe dela.
EVANDRO: Ela aprendeu a cozinhar com a mãe dela, mãe! Outra coisa! Lê o fim dessa passagem: “e
faço misericórdia com até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”. A
Brida passou a amar a Deus, mãe. Logo, ela terá até mil gerações abençoadas.
D. GRAÇA: É, só que esse mandamento só diz que as gerações da pessoa será abençoada, e não a
própria pessoa. Além disso, os pais dela ainda estão vivos e cheios de envolvimentos com bruxaria.
EVANDRO: Tá bem, mãe! Te mostro outro versículo! Deuteronômio 24, versículo 16. “Os pais não serão
mortos em lugar dos filhos, nem os filhos, em lugar dos pais; cada qual será morto pelo seu pecado”.
Mãe, esse negócio de maldição hereditária e superstição. Deixa isso para lá! Vai ficar dando ouvidos a
minha irmã de quinze anos, mãe?
D. GRAÇA: (faixa 22)Mas não é só isso. (pausa) Eu confesso que estou um pouco abalada com a sua
saída. Hã.(suspira) Meu filho agora vai ter outra mulher para cuidar dele. Eu confesso que fiquei um
pouco abalada.
EVANDRO: Ô, mãe. Você está com ciúme?
D. GRAÇA: Não é ciúme, meu filho. Já é saudade de você. Só isso!
EVANDRO: Que isso, mãe. Eu não vou morrer, só vou morar em outra casa. Olha aqui. Estou com essas
duas flores que eu comprei, uma para dar para você e outra eu ia dar para a Brida. Mas eu vou dar para
você as duas. Uma para minha mãe chamada Graça e outra para a minha amiga chamada Graça.
D. GRAÇA: Obrigado, meu filho.
Os dois se abraçam.
EVANDRO: Mãe, nós temos que dar uma bronca no Péricles e na Vanessa!
D. GRAÇA: Ah, claro meu filho! Eu vou chamar os dois. Péricles! Vanessa! Venham já aqui!
Péricles e Vanessa entram em cena.
D. GRAÇA: Olha aqui, seus pestinhas. Eu só vou perguntar uma vez. De quem foi a ideia de fazer isso
com a Brida?
Ambos se acusam. Durante a mútua acusação, Justino e Brida entram em cena.
EVANDRO: Ué! Vocês já voltaram?
D. GRAÇA: E o jogo.
JUSTINO: Meu filho! Parabéns pela sua noiva. Ela falou de Jesus para mim do jeito que eu nunca escutei
na minha vida! Você tem uma noiva muito sábia! Parabéns!
Justino aperta com força a mão de Evandro. Depois, se dirige a Péricles e Vanessa.
JUSTINO: E quanto a vocês dois, nós vamos ter uma conversinha. Já para o quarto! Vamos lá, um, dois,
um, dois, um, dois...
Justino, Péricles e Vanessa saem de cena.
EVANDRO: Brida, eu estou espantado! Como você consegui fazer meu pai mudar os seus conceitos
assim tão rapidamente?
BRIDA: Evandro, eu só usei aproveitei para falar das coisas de Deus usando o mundinho que ele vive,
que é a Televisão e o Flamengo, com termos bíblicos como “a moderação em tudo é boa”, “todas as
coisas são lícitas, mas não nos deixemos nos dominar por nenhuma delas”, além de falar que existem
também os atletas de Cristo. Fiz me fraca para com os fracos, e acabei ganhando o Seu Justino para
Cristo.
D. GRAÇA: Mas porque vocês voltaram? Vocês não estavam indo ao jogo.
BRIDA: Bom, na verdade, viemos buscar vocês para irem ao jogo conosco, não é, seu Justino?
Justino, Péricles e Vanessa entram em cena.
JUSTINO: É isso aí, minha filha! Toda a família hoje vai ao jogo, contendo os excessos e retendo só o
que for bom nesse tipo de diversão. Somos uma família flamenguista, sim, mas acima de tudo...
TODOS: Unidas no Senhor!
Todos saem de cena, cantando.
Fim

O CONVITE

Peça teatral que contém mensagens subentendidas sobre verdadeiro sentido do Natal (o dono da Festa é
o filho, não a mãe; um lugar cujo aspecto causa aversão aos olhos dos homens onde há uma criança que
simboliza a esperança; a “parábola dos convidados das bodas” da Bíblia numa perspectiva atual, etc.).

Não há nenhum personagem cristão, mas suas relações transmitem uma mensagem cristã.

Dramatis Personae
Abelardo – Um menino de quinze anos
Gêmeo Dita
Gêmeo Lento
Guinga – Um mendigo
Valério – Um pivete
Profeta Jarbas – Um senhor com longa barba.
Daila – Uma prostituta de 30 anos.
Dr. Alonso – Um empresário falido de 50 anos.
Maíra – Jovem de quinze anos.
Mãe – Voz e off.
Bombeiro
Bombeira
Neném

Cenário 1: Uma casa com duas árvores gigantescas ao seu lado


Cenário 2: Rua

CENA 1
Voz em off – (Mat 22) A parábola dos convidados para as bodas: “Então Jesus tornou a falar-lhes por
parábolas, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Enviou
os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir. Depois enviou outros
servos, ordenando: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado; os meus bois e cevados
já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o
seu campo, outro para o seu negócio; e os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
Mas o rei encolerizou-se; e enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua
cidade. Então disse aos seus servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não
eram dignos. Ide, pois, pelas encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os para as
bodas. E saíram aqueles servos pelos caminhos, e ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus
como bons; e encheu-se de convivas a sala nupcial“.
Abelardo está em casa com sua mãe (voz em off). Esta trava com o filho uma discussão sobre o fato de
Abelardo poder trazer os amigos para a festa de Natal. A População de rua posicionada perto do público.
Abelardo – Hoje é Natal, mãe!
Mãe (voz em off) – E daí, Abelardo?
Abelardo – Lembra que a Senhora disse que eu poderia convidar os meus amigos do colégio que não
tem onde passar o Natal?
Mãe – Lembro, mas o seu pai bebeu de novo e está terrível. Ele não vai gostar nem um pouco de ver um
monte de garoto aqui dentro! Ainda mais no natal!
Abelardo – Ah, mãe. Você sempre dá um jeito de colocar o meu pai para dormir, quando ele está
agressivo, com aquele chá misterioso. Será que a senhora não podia fazer o mesmo hoje, já que eu
chamei a rapaziada lá do colégio para passar o Natal comigo.
Mãe –Você observa tudo, hein, Abelardo?!
Toda a ‘população da rua’, em uma só voz:
População da Rua – Observe, mas não procure entender!
Abelardo – Tudo bem, mãe! Não precisa dar o chazinho dorminhoco! Mas deixa eu trazer os moleques!
Os cara são maneiro!
Profeta – Hoje, tudo para essa geração é maneiro! Tudo! Se ao menos soubessem o que significa essa
expressão, não diriam que tudo é maneiro!
Mãe – Cambada de baderneiro! Já falei que não! Esse pessoal que tu anda, meu filho, não vai ser nada
na vida!
Gêmeo Dita – Meu irmãozinho! Tô sentindo que o próximo ano vai ser o nosso ano!
Gêmeo Lento – Também estou sentindo cheiro de sucesso no ar! Vamos aproveitar o máximo a rua,
pois...
Gêmeo Dita e Lento – O sucesso nos prepara lugar!
Abelardo – Mas pelo menos os caras são amigos um dos outros! E o mais importante: eles são meus
amigos.
Guinga(mendigo) – Não sei o que tu fica me olhando tanto, Valério!
Valério(pivete) – Pô meu irmão! E tem outra coisa para olhar que não seja para você aqui nessa rua
deserta?
Mãe – Bota uma coisa na sua cabeça, meu filho! Nesse mundo, não existe amigo não!
Daila – (a Alonso) Fica assim não meu lindinho! Existem várias formas de amor!
Dr. Alonso – Ué?! Será que existem várias formas de amor?
Daila – Será?
Profeta – (com tom engajado) Será?
Guinga (mendigo) – Será?
Gêmeos Dita Lento – (cantarolando, arrastando todos os outros personagens para fora de cena com sua
cantoria) Será? Será? Será? Será?
Abelardo – Será que não, mãe! Será que eles não são meus amigos? Você nem viu ainda os garotos
para falar assim! Você precisa conhecer para falar mau!
Mãe – Ta legal, garoto! Vai chamar esses moleques! Não precisa ficar me dando lição de moral não! Só
me faltava essa, ficar recebendo lição de moral de um garoto de quinze anos! Vai, vai, que estou ocupada
e, pelo jeito, vou ficar mais ocupada ainda...

CENA 2
Abelardo sai da casa.
Abelardo – Eu e meus amigos vamos dar uma lição de amizade no meu pai e na minha mãe! Depois
desse Natal, eles vão até mesmo passar a se relacionarem melhor.
Maíra, de mochila, encontra com seu amigo Abelardo.
Abelardo – Fala Maíra!
Maíra – E aí, Abelardo! Tranquilo?!
Abelardo – Beleza! Tá sabendo que minha mãe deixou a galera passar o Natal lá em casa!
Maíra – Poxa... Você demorou muito para falar se sua mãe ia deixar ou não!
Abelardo – Claro que falei que ela iria deixar, Maíra! Só disse que o tempo todo eu tenho que ficar
lembrando a ela da promessa feita por ela! É que um dia ela diz que deixa, outro ela diz que não deixa.
Mas que no final ela iria deixar!
Maíra – Abelardo, muita incerteza! Muita incerteza! Aí, a galera decidiu viajar! Todo mundo que não tem
casa tranquila para passar o Natal vai!
Abelardo – Para minha casa?
Maíra – Não, Abelardo! Vai viajar! Viajar para outro lugar!
Abelardo – Poxa, Maíra! Vocês me deram a palavra de vocês.
Maíra – Só lamento, Abelardo! Você demorou muito para deixar o pessoal tranquilo sobre a decisão da
sua mãe!
Abelardo – Que vacilo!
Maíra – É a vida.
Maíra sai de cena. Abelardo fica em cena, chateado e refletindo. Ao fundo escuta um cantarolar diferente.
Ele se sente atraído por esse canto e vai atrás dos cantores. São os gêmeos Dita e Lento. Abelardo se
aproxima dos dois.
Dita – Márcio, tu não tá cantando direito!
Lento – Já falei para você ter paciência comigo!
Dita – Paciência?! Márcio, o tempo urge! Eu nunca vi um início de carreira tão lento como o nosso!
Lento – Já falei para você que o sucesso é questão de tempo. Apressar um início de carreira pode ser
fatal para a própria!
Dita – Nada disso, Marcos. Melhora logo essa sua performance, harmonia, afinação, impostação de voz,
noção de ritmo...
Lento – Caramba, Marcos, então eu tenho que melhorar tudo, né?
Dita e Lento reparam a chegada de Abelardo.
Dita – Olha! Chegou o nosso público. Prepara a canção!
Lento – Calma, Marcos! Vamos esperar o menino solicitar a nossa performance!
Dita – Que calma nada! Nos palcos das ruas, qualquer um que passa é público! Vai lá, um, dois, três...
Dita e Lento começam a cantarolar a música de apresentação. Ao terminarem de cantar, o menino fica
satisfeito com o que ouviu, embora não tenha sido uma apresentação, aos olhos dos homens, de fato
boa.
Abelardo – Que maneiro! Muito boa apresentação de vocês.
Dita – Nós somos os gêmeos Dita e Lento!
Abelardo – De Talento?!
Dita – É isso aí! Eu sou o Dita, e ele é o Lento!
Lento – Ele que resolveu me chamar de Lento! Estamos aí, morando na rua por causa dele, que acredita
nessa ilusão de virar artista, e que o começo de carreira se dá nas ruas, e eu é que sou o Lento!
Dita – Ai, ai! Como você viu, garoto, além de Lento, ele é o resmunguento!
Lento – E você sabe porque ele se chama Dita? Porque ele é um Ditador!
Dita –Não dê atenção para a reclamação dele, meu público! Você sabia que nós somos versáteis!
Fazemos peça teatral, malabarismo, pintamos e bordamos.
Abelardo – Que máximo! Então façam outras coisas aí para eu ver!
Dita – Na verdade, estamos direcionando agora o nosso talento apenas para a área musical! O próximo
ano será o ano musical dos irmãos...
Dita e Lento - ...Dita e Lento.
Lento – Bom, se você quiser saber a verdade verdadeira, é a seguinte: em 2002, tentamos ser atores e
não conseguimos. Em 2003, tentamos ser malabaristas e não conseguimos. Em 2004, mesmo fracasso,
só que na área da pintura. E em 2005, foi a vez do fiasco da bordadura.
Dita – Não estrague o ponto de vista positivo e otimista do menino, Lento.
Lento – Ah, Marcos...
Dita – Não me chame pelo o meu nome verdadeiro na frente do meu público! Meu nome artístico é Dita!
Dita! Bom, meu público, você quer ouvir mais uma música?
Abelardo – Cara, quero sim! Mas...Olha só! O que vocês acham de fazer, digamos, o primeiro show de
vocês lá em casa? Hoje é noite da Natal e um dueto tão engraçado como o de vocês ia animar a noite da
minha família que, como o lento, também é resmunguenta!
Lento – Está bem, quanto você vai pagar a gente?
Dita – Lento! Você é lento para tantas outras coisas, e para isso você quer ser rápido?! Lembre-se do
que nós combinamos!
Lento – Acho que eu estou lento para lembrar das coisas! Dá para você refrescar minha memória! Falta
de alimentação dá nisso!
Dita – (suspira) Nós combinamos que não iríamos cobrar nada do nosso primeiro contratante. E esse
menino é o primeiro e, olhando bem para ele, vemos que ele não tem condições de pagar um preço tão
alto, compatível com o nosso talento!
Lento – É mesmo. Eu tinha me esquecido disso.
Abelardo – E vocês também nem tem a carteira da Ordem de Músicos para ficarem fazendo shows por
aí e ganhando por isso.
Dita – É mesmo! Mas vamos tirar, né Lento!
Lento – Sem pressa!
Pausa. Um gêmeo olha para o outro gêmeo e ambos comemoram.
Dita e Lento – O primeiro show dos gêmeos Dita e Lento!
Dita, Lento e Abelardo vão caminhando cantarolando a música de “trabalho” dos gêmeos, quando se
deparam com uma cena de violência. Valério ameaçando Guinga com uma arma na cabeça dele.

CENA 3
Valério – Eu sei que você tem dinheiro! Eu sei!
Guinga – Eu não tenho nada!
Abelardo – Ai meu Deus, o que é isso?!
Lento – O Valério está ameaçando o Guinga com uma arma!
Dita – Mas eles sempre se deram bem morando debaixo do viaduto.
Abelardo – Eles se conhecem?
Dita e Lento fazem sinal de positivo.
Valério – Eu sei que tu tem dinheiro, Guinga! Me dá logo essa grana!
Guinga – Mas tu tá cansado de saber que eu sou mendigo!
Valério – O mendigo que mais pediu esmola por aqui! Cadê essa grana rapá?!
Abelardo – Não entendo! O cara é mendigo e está sendo assaltado?!
Dita – Ih, menino! Diz a lenda que o Guinga tem muita grana! Eu não acredito.
Lento – Muita gente diz isso! Já até viram ele entrar em carro.
Abelardo – Então esse que tá assaltando o mendigo é outro infeliz que acredita em lenda.
Dita – É, mas se a lenda tiver certa, ele vai ser o único que vai se dar bem, justamente por acreditar!
Valério – Vou contar até cinco, Guinga! Um, dois, três, quatro...
Abelardo – Posso falar com você, moço?
Valério – Quem é você, moleque?
Guinga – Vai embora, menino. O Valério tá doidão! Daqui a pouco passa o efeito da droga, ele volta ao
normal.
Abelardo – Queria fazer uma pergunta para o senhor. Porque o senhor acha que ele tem dinheiro?
Valério – Porque todo mundo fala! O que todo mundo fala eu acredito.
Abelardo – Mas todo mundo já falava que ele tem dinheiro há muito mais tempo. Porque você não deu
um tiro há mais tempo nele?
Valério – Não sei, menino! E vai embora logo, antes que eu também te dê um tiro.
Abelardo – Mas eu sei o porquê! Tchau! Vamos embora, Dita e Lento!
Valério – Não... Não...
Valério solta Guinga e fica perto de Abelardo.
Valério – Não vai embora não! Me diz logo, porque eu sofro de curiosidade aguda!
Abelardo – Só vou contar se você me der essa arma.
Valério – Que te dar a arma o quê? Como é que vou obrigar o Guinga a me dar a grana sem a arma? Já
viu o tamanho dele?
Abelardo – Então não conto!
Valério – Tá bem, tá bem! Toma! Ai, ai! Tchau, Língua de fogo! (dá um beijinho na arma)
Guinga – O Valério tá doidão mesmo!
Abelardo – Toma, Dita! Some com isso, pois o meu pai, apesar de ser um bêbado, votou a favor do
desarmamento.
Dita joga a arma fora.
Valério – Agora fala, rapá! Fala o que você sabe.
Abelardo – Simples! Você não precisa mais do Guinga do teu lado! Você deve ter arrumado outra
pessoa para dividir o viaduto. O Guinga para você só tinha valor quando ele lhe interessava. Na verdade
você não quer grana do Guinga, porque, no fundo no fundo, você sabe que o cara não tem dinheiro.
Lento – É mesmo, Valério! E você sabe que quem espalhou essa lenda do Guinga ser rico? Foi o Profeta
Jarbas! Ele se diz profeta mas é um garganta! Só parou de falar mentira quando deram um livro preto
para ele.
Valério – Tá bem! Tá bem! Eu confesso que ia passar o Guinga porque tava querendo trazer um pessoal
pra cá! Mas eu não ia conseguir atirar não! Eu gosto dessa cara pra caraca. (abraça Guinga, chorando)
Só que eu queria mesmo uma grana, em noite de Natal, essa rua fica vazia e não dá para assaltar
ninguém!
Lento – O Valério, você não sabe que em Natal é a única época do ano que as pessoas ficam boazinhas!
Dita – É mesmo! Por exemplo, nós estamos indo para a casa desse menino fazer um show. (tom)
Abelardo é o seu nome, né? (tom) Vem com a gente! O nosso público tem que ser maior. Você deixa,
Abelardo?
Abelardo – Claro, eu ia levar dez caras para passar o Natal lá! Os caras não vai mais! Logo, sobrou vaga
para quem quiser ir! Vambora! Vem Guinga também!
Guinga – Pô, vou sim!
Valério – Olha só! Vamos apresentar esse menino pro Profeta Jarbas! O moleque é inteligente! O Profeta
gosta de cara inteligente como ele!
Guinga – Só que o Profeta usa a inteligência dele para ficar espalhando boato e lenda! O cara é maior
fanfarrão!
Valério – Ah, vamos lá! Quem sabe o Profeta deixa de ser esse “um sete um” que ele é quando conhecer
o guri!
Dita – Só que ele não é mais mentiroso não! Depois que deram para ele o livro preto, o Jarbas deixou de
falar mentira.
Valério – É isso! Ô moleque, tu num falou que ainda tem vaga para passar o Natal lá na sua casa? De
repente, o profeta vai nesse bonde!
Dita – É isso aí! Vamos lá! Vai ser um show e tanto, hein, Lento!
Lento – Só se a gente chegar a tempo!
Todos vão no caminho da casa do Abelardo, mas antes vão passar no ponto onde fica Profeta Jarbas. No
caminho, depara-se com duas pessoas. Uma mulher consola um homem.

CENA 4
Guinga – Olha só! Estou vendo que eu não era o único triste no Natal!
Valério – E você acha que eu não estava triste em ameaçar você?! Me dá um abraço de novo, Guinga!
Os dois se abraçam rapidamente sendo interrompidos por Lento.
Lento – Tá bom, gente! Chega dessa melação.
Abelardo – Será que os dois são casados?
Guinga e Valério – Ih, qual é?! (apartando-se um do outro)
Abelardo – Não, eu estou falando deles dois ali. (aponta para Daila e Dr. Alonso)
Dita – É o que parece. Mas ele, tão bem arrumado, de terno, e ela com uma roupa de prostituta.
Lento – Ô Dita! Não tá vendo que é a Daila, a prostituta mais antiga aqui do bairro? Depois eu que sou o
Lento...
Dita – É mesmo!
Abelardo – Então eles não são casados?
Lento – Só se a Daila mudou de vida de ontem para hoje, pois até ontem, ela estava vivendo a mesma
difícil vida de sempre, que muitos dizem que é vida fácil.
Abelardo – Eu vou lá falar com ela.
Valério – Vê se convida eles para o Show dos Gêmeos Dita e Lento!
Dita – Ah, Valério! Pivete e Mendigo no meu show tudo bem. Agora, prostituta...
Abelardo – Que olhar preconceituoso é esse, Dita?Esqueceu que eu sou criança? Comigo não tem
essas coisas não. Se for para chamar ela, eu vou chamar!
Abelardo se aproxima dos dois.
Abelardo – Com licença.
Daila – O que foi, garoto? Não vê que o coroa aqui quase tentou o suicídio.
Abelardo – Ele quis se matar?
Daila – Só não se matou porque eu cheguei na hora, peguei a arma dele e joguei a arma longe. Ela caiu
perto do viaduto.
Abelardo – (olha para Valério) Ah sei...
Valério – Eu pensei que ela tinha caído do céu e que Deus votou contra o desarmamento.
Abelardo – O que aconteceu com ele?
Daila – Olha, eu não sei se ele vai falar não.
Dr Alonso – Estou arrasado!
Abelardo – O quê?
Dr. Alonso – Estou falido! Arruinado!
Daila – Garoto, ele era um empresário bem sucedido, e agora está na miséria, enrolado com um monte
de credores! Você sabe o que é isso?
Abelardo – Claro que sei! Essa raça é a que mais bate na minha porta. É, moça...
Daila – Meu nome de guerra é Daila.
Abelardo – É...Dona Daila. Eu posso falar um minuto com ele?
Daila – Fala, menino. Ai, essas crianças de hoje querem se meter em tudo! Parece até que não são mais
crianças.
Abelardo – (ao Dr. Alonso) Qual o nome do senhor?
Dr. Alonso – Meu nome é Dr. Alonso. Filho, meu erro foi confiar no homem. Já ouvi alguém falar que
‘maldito o homem que confia no homem’. Pois é! Estou aqui, maldito e mal pago. Nunca pensei que o
meu sócio ia passar a perna em mim.
Abelardo – E se eu falasse que o senhor está em melhor situação do que outros empresários falidos, o
senhor acreditaria em mim?
Dr. Alonso – Como assim, filho?
Abelardo – Estou vendo que o senhor não se entregou à bebida...
Dr. Alonso – Mas estou humilhado da mesma forma. Quem tem que sustentar a minha casa, que sempre
foi cheia de luxo, agora é a minha mulher, com um emprego para lá de humilde.
Abelardo – Dr. Alonso, isso é bom. Vai ajudar o senhor a olhar para sua esposa com mais carinho! E
agora é oportunidade de o senhor mostrar que é mais do que pai, mais também amigo das suas filhas,
pois o senhor vai ter uma coisa que os empresários dizem que nunca têm: tempo! Por incrível que
pareça, meu pai e minha mãe estão na mesma situação. Só que o caso do meu pai é diferente. Ele não
tinha um emprego tão bom quanto o senhor, mas o que arruinou ele não foi a falência, foi o álcool. O
senhor ainda pode se levantar de novo! Ele também, mas acho que vai demorar mais do que o senhor!
Dr. Alonso – Ninguém sabe, meu filho (pausa) (levantando-se) É...mas vejo que o conselho de tanto uma
mulher (levanta Daila)...e de uma criança (levanta Abelardo) serviram para me animar e dar valor ao que
eu ainda tenho!
Guinga – Vamos pro show, doutor!
Dr. Alonso – Vai ter um show por aqui?
Valério – Vai! Os gêmeos vão cantar lá na casa desse moleque! Vai ser legal! Vamos com agente!
Dr. Alonso – Claro! Só que eu queria levar uma pessoa!
Abelardo – Fique à vontade, Dr. Alonso!
Dr. Alonso – Levar uma nova amiga. Está vendo como não é preciso usar os recursos da prostituição
para satisfazer um homem? Vamos à festa de Natal na casa do menino, Daila?
Daila – (rejeitando o convite, contudo, sendo gentil) Vai o senhor, Doutor. Minha vida é essa! E ela não é
um show! É realidade.
Abelardo – Que isso?! Vamos com a gente!
Daila – Já falei que eu não vou, garoto. Me deixa em paz.
Abelardo – Vamos! Vamos!
Daila – Não!
Daila foge de Abelardo, que corre atrás dela e machuca o tornozelo.
Abelardo – Aiiiii!
Dita – Que foi Abelardo?
Abelardo – Eu acho que torci o tornozelo.
Guinga – Deixa que eu carrego ele nos ombros!
Guinga põe Abelardo nos ombros.
Guinga – Agora, vou sempre servir o Abelardo, já que ele salvou a minha vida.
Lento – Ô Guinga! Tu também gosta de uma fábula, hein?!
Dita – Chega de papo e vamos para a casa do Abelardo! Só falta essa! Eu e o Lento chegarmos
atrasados no nosso primeiro show!
Enquanto estão indo, cantarolando, encontram o Profeta Jarbas na esquina, profetizando em voz alta.

CENA 5
Profeta Jarbas – Meus irmãos, preparem-se para saber o que irá acontecer nos próximos dias!
Guinga – Olha gente! É o profeta Jarbas!
Dita – E hoje ele está empolgado.
Valério – Será que ele tá doidão?!
Lento – Que nada! O profeta Jarbas nunca precisou de drogas não, Valério!
Jarbas – Silêncio! (...) O fim não será em dilúvio, como muitos pensam, pelo menos de acordo com esse
livro preto que me deram e que eu li até a metade!
Guinga – Ih, deram um livro profético para o Jarbas.
Dita – Agora ele vai pensar que é profeta mesmo!
Jarbas – Shhhhh! (...) Mas haverá um menino! Um menino salvador! Um menino que nos levará para um
lugar bom!
Guinga – (com Abelardo nos ombros) Ih, Abelardo! Acho que ele está falando de você.
Todos riem, exceto Jarbas.
Jarbas – Cala boca, seu jumento. (...) Jumento? (Jarbas folheia o “livro preto” – Bíblia) Meu Deus! É ele!
É ele o menino que esse livro preto fala! Tá aqui! Tá aqui, olha! “Vê! O teu rei virá montado num jumento,
num jumentinho, filho de jumenta”! Ta aqui no profeta Zacarias desse livro preto.
Guinga – Vai ficar xingando a minha mãe, ô Jarbas!
Jarbas – Acabaram as minhas profecias! O menino chegou!
Dita – Ô Jarbas? Não é melhor você ler esse livro preto até o fim, para você ver quem é o menino
descrito nesse livro.
Jarbas – Não precisa! Todos sabem que o Guinga é um jumento...
Guinga – Eu vou bater nesse cara!
(todo seguram Guinga)
Guinga – Primeiro, o Jarbas espalhou o boato que eu era rico! Agora fala que eu sou um jumento.
Jarbas – Shhhh! E agora, meus irmãos, vamos para a redenção, seguindo esse menino que...que...(a
Abelardo) Qual é o seu nome mesmo?
Abelardo – Abelardo.
Jarbas – Que se chama Abelardo! Vamos cantar juntos! (na melodia de Aleluia de Handel)
Todos caminham em direção à casa de Abelardo, agora cantando o seu nome na melodia da musica
“Aleluia” de Handel.

CENA 6
Abelardo, mancando, desce do ombro de Guinga.
Abelardo – Pronto, gente! Chegamos! Agora vocês esperem um pouco, que eu vou falar com a minha
mãe lá dentro, para vocês entrarem para o melhor show desse bairro.
Todos comemoram, cada um ao seu jeito. De lá de dentro, ouve-se o diálogo de Abelardo com sua mãe.
Abelardo – Mãe, já trouxe o pessoal!
Mãe – Que pessoal, Abelardo?
Abelardo – Os meus amigos novos que eu trouxe para passar o Natal com a gente, já que os meus
amigos do colégio preferiram viajar.
Mãe – E quem são esses amigos novos?
Abelardo – Umas pessoas super legais que eu conheci na rua.
Mãe – Na rua?! Você trouxe gente de rua para passar o Natal com a gente?
Abelardo – O que tem de mais nisso? Eles são artistas, bandidos arrependidos, pobres e até mesmo
ricos! Sem contar com um profeta que disse que eu sou um menino escolhido!
Mãe – Como assim escolhido.
Abelardo – Ah, ele disse que eu sou um menino que vai salvar uns homens e que vim montado num
jumento...
Mãe – Ô seu jumento! Esse menino aí é Jesus!
Abelardo – Jesus?
Mãe – É, esse :Jesus que agente comemora o nascimento dele no Natal! Tu é um trouxa mesmo, hein,
Abelardo! Não notou que eles te chamaram de Jesus, ou menino escolhido, para se aproveitar e comer a
nossa ceia de Natal!
Abelardo – Isso não verdade, mãe, eles...
Mãe – (interrompe-no) Chega Abelardo! Não quero ninguém aqui! Ninguém!
Abelardo – Mas mãe...
Mãe – Já falei!
Todos lá fora, ouviram o diálogo e ficam tristes.
Abelardo – Gente, tenho uma péssima notícia para vocês!
Dita – Ouvimos tudo daqui de fora, Abelardo.
Lento – Mas queremos agradecer pela oportunidade.
Jarbas – É, tô vendo que vai demorar para eu encontrar esse menino escolhido para me levar para o
bem bom!
Jarbas é o primeiro a ir embora.
Guinga – Deixa o Jarbas para lá, Abelardo.
Valério – É...esse é pior do que eu. Fica doidão sem drogas. Mas muito obrigado por me fazer pensar,
Abelardo. Nunca mais boto uma droga na minha boca!
Abelardo – Tive uma ideia. Nós podíamos fazer uma festa de Natal na rua! Eu pegava umas comidas
escondidas da minha mãe e a gente montava uma mesa perto da esquina em que a Daila está, e aí a
gente aproveita para chamar ela...
Todos vão se retirando, meneando a cabeça. Dita é o único que fica.
Abelardo – Esperem! Esperem! Esperem, por favor!(chora)
Dita – Não fica assim não, Abelardo! Apesar de nós estarmos tristes, a gente sabe que você é um cara
legal. Foi você que nos convidou para a festa, e não sua mãe!
Abelardo – (chorando) Ô Dita, será que eu vou ter uma casa para receber quem eu quiser?
Dita – (se abaixando próximo a Abelardo) Você vai ter a sua própria casa para receber quem você quiser!
Só que, embora sua, nem você, nem sua mãe, nem ninguém daqui da Terra é o verdadeiro dono. O dono
é aquele que é o dono de tudo! Pede a Ele! (pisca o olho) Tchau, Abelardo! E Feliz Natal!
Abelardo, ainda chorando, olha para a casa, bem de frente. Vem uma tempestade, com vários trovões e
raios. A chuva cai sobre Abelardo e sobre sua casa. Dois raios atingem as duas árvores ao lado da casa
dele. Ao caírem sobre a casa, as árvores destroem-na. Abelardo fica estático e apático, sem poder fazer
nada. Somente olha o desastre. Os bombeiros vêm. É uma mulher e um homem. Eles sobem nos
destroços. Verificam que todos morreram nela, exceto um neném.

Voz feminina em off: “Acidente na casa da Rua Torres. Duas árvores desabam sobre a casa devido a
força de um raio que atingiu as árvores. O casal que ali residia morreu na hora. Os únicos sobreviventes
foram duas crianças”. Durante essa narração (notícia de rádio), a bombeira pega, no meio dos
escombros, o neném sobrevivente. Ela se posiciona como Maria embalando o menino Jesus. O bombeiro
se posiciona como José, observando feliz a cena. No “data show”, a imagem de um presépio. Um pouco
depois da narração, o início da poesia.
Voz em off - Nos destroços deixados pelo pecado na humanidade
Um menino nos nasceu...
A figura de presépio no “data show” é retirada. Os bombeiros entregam o neném para Abelardo segurar,
que ainda chora. Há uma medalha no pescoço do neném. Abelardo olha a medalha. Está escrito “você
está convidado para a minha festa” (essa frase será visível no “data show”, abaixo de uma figura que
amplia o pescoço do neném trazendo a medalha). Abelardo, mesmo que ainda chorando, olha para o
céu, sendo abraçado pelos bombeiros, que depois prosseguem seu trabalho nos destroços do acidente.
Durante essa cena, a poesia que ficou interrompida por um tempo. Ela prossegue sendo recitada.
Voz em off - ...as pedras já estão clamando
Os fenômenos da natureza já estão anunciando os próximos acontecimentos
E por incrível que pareça, pessoas que não são cristãs falam, entusiasticamente, do nome de Jesus.
Eu sei que é duro, duro para o povo escolhido
Ver hipócritas, pagãos e outros proclamando, mesmo que de maneira deturpada, o nome do Senhor.
Privilégio que é do povo de Deus.
Entretanto, nós mesmos estamos dispensando e rejeitando esse privilégio.
Mas ainda há algo
Que não é pedra clamando
Fenômeno da natureza
Ou outro sinal qualquer que nos alerte.
Novos nascimentos
Estes, além de nos alertarem, nos lembram
Que ainda temos uma nova chance
O Senhor Jesus também nasceu
Que estejamos nascendo
Não apenas uma vez, mas duas vezes.
E na segunda vez, sem precisar voltar ao ventre materno
Mas em espírito e em verdade, sentindo a única forma de amor existente
O amor que vem do Senhor, que é puro como o olhar de uma criança.
Só assim, entenderemos o verdadeiro sentido do Natal.
Fim

PONTE DA ALEGRIA

Um programa de auditório, gospel.

GLENDA MARVIM: apresentadora do programa


CÉZAR: Diretor
VERA: Assistente de Palco
Dois “seguranças” (que podem ser os dois paramédicos)
Cinco dançarinos (de ambos os sexos)
Câmera Man
FREDIATRIZ: atriz interpretando uma mulher comum do auditório
REXMAN: Um homem fantasiado de cachorro com coleira.

Objetos Cênicos
Moldura de papelão
Bola
Bicicleta
Estetoscópio
Pompons
Câmera
2 Microfones

Música animada ao fundo. Dançarinos no palco entram em cena, animados e com pompons. O
apresentador Glenda Marvim pede para o público se levante e, com palmas, acompanhe a música.
VOZ EM OFF: E com vocês, Glenda Marvim!
GLENDA MARVIM: Oi gente! É muito abençoador estar com vocês aqui diante do Trono! Não, diante do
trono não, pois esse slogan já está registrado! É bom estar com vocês perante o altar! Vamos levantar!
Levantar e se animar, pois está começando mais um programa...
Os dançarinos se posicionam na frente do Glenda Marvim e gritam:
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
GLENDA MARVIM: E por ela é que vamos passar para chegar ao alvejado lugar. E durante esse trajeto,
teremos várias TRIBULAÇÕES (...) EMOÇÕES (...) e PROVAÇÕES (...)! Mas vamos nos manter firmes,
porque do outro lado da Ponte da Alegria tem algo especial para você! E para começar o programa,
traremos a nossa atração musical ou, porque não dizer, atração principal! Vocês não sabem o custo que
tivemos para trazer esse artista, ou melhor, esse homem consagrado à causa do Senhor para o nosso
programa Pont...
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
Entra o diretor do programa
DIRETOR: Gente, já falei que só é pra falar o nome do programa no início, na abertura! Não é toda hora
que o Glenda falar a palavra “programa” que vocês têm que gritar “Ponte da Alegria” e ficar na frente
dele! E só no início!
GLENDA MARVIM: É por isso que eu não gosto de trabalhar com amador! Vera, retoca minha
maquiagem aqui, pois quando eu me estresso, e fico com a maquiagem toda borrada! Aiii!.
Vera (assistente de Produção) – Tá legal. (grita) Cláudia! (esbraveja) Trás a base e o rímel!
Vera vai até lá fora pegar o suco.
GLENDA MARVIM: (ao diretor) E você ainda queria fazer o programa ao vivo.
Vera maquia Glenda, que se sacode e se mostra preparada para mais um take.
DIRETOR: Tudo pronto, gente! Vamos gravar! Tudo certo aí, Glenda?
GLENDA MARVIM: Comigo ta tudo sempre certo, né, Cezar.
DIRETOR: Então vamos gravar. Vai lá, gravando!
GLENDA MARVIM: E para começar o programa, traremos a nossa atração musical ou, porque não dizer,
atração principal! Vocês não sabem o custo que tivemos para trazer esse artista, ou melhor, esse homem
consagrado à causa do Senhor para o nosso programa...
Os dançarinos fazer uma força descomunal para evitar que gritem de novo o nome do programa.
GLENDA MARVIM: ...Ponte da Alegria! E é com imensa satisfação que eu chamo, para que seja nossa
companhia de hoje à tarde, o jovem talento Moisés Richard!
Patrik Richard entra em cena, já cantando a música. Na metade da música, Glenda interrompe a
performance do artista.
GLENDA MARVIM: Para tudo! Para tudo!
MOISÉS RICHARD: Mas Glenda, eu vim aqui no seu programa pra divulgar meu trabalho.
GLENDA MARVIM: Moisés Richard, mas do que seu trabalho será divulgado hoje, pois está começando
o quadro mais que surpreendente do nosso programa. O quadro...O quadro...O quadro...
Um dançarino cutuca o outro, para que todos falem...
DANÇARINOS: Assim foi a sua vida!!!
GLENDA MARVIM: (olhando insatisfeito para os dançarinos) É isso mesmo...Assim foi a sua vida, Moisés
Richard!
MOISÉS RICHARD: Mas...assim como?
GLENDA MARVIM: Assim, ó!
Algumas meninas pertencentes ao grupo de dançarinos trazem uma “moldura de tela” na mão, simulando
um data show. Elas mesmo ligam o aparelho e, na moldura, haverá depoimentos de parentes de Richard
Moisés(depoimentos cênicos, só para satirizar, pois não se trata de imagens gravadas, mas dos próprios
atores interpretando o depoimento ao vivo atrás das “moldura da tela”).
PAI DE MOISÉS RICHARD: Ah, o Moisés Richard sempre foi um bom garoto!
MOISÉS RICHARD: Papai?!
PAI DE MOISÉS RICHARD: Sempre foi um garoto educado, disciplinado!
MOISÉS RICHARD: Ai, meu pai! Quanto tempo que eu não o vejo! E agora, bem na hora do meu
sucesso, ele aparece assim! Ai, que emoção!
MOISÉS RICHARD: O único defeito dele é querer cantar o tempo todo! Já falei pra ele! Homem que é
homem tem que jogar bola! Cantar não é coisa de homem!
MOISÉS RICHARD: Que isso, gente! Ô Glenda, vocês gravaram essa loucura do meu pai?!
Pai de Richard – É isso mesmo! Vai jogar bola! Homem que é homem tem que jogar bola!
MOISÉS RICHARD: Mas eu gosto de cantar!
O pai sai de dentro da moldura, pega o microfone e joga longe, trazendo uma bola para que o filho a
pegue.
PAI DE MOISÉS RICHARD: Vai jogar bola! Homem que é homem joga bola! Larga esse microfone! Toma
aqui a bola!
GLENDA: Seguranças! Seguranças!
Os seguranças pegam o pai de Moisés Richard, colocam dentro do “monitor” e expulsam-no de cena. O
“pai de Moisés Richard” sai por trás.
MOISÉS RICHARD: Posso continuar a cantar, Glenda?
GLENDA MARVIM: Não, nós vamos mostrar mais depoimentos de gente que te ama! Olha só!
No “monitor”(moldura), o melhor amigo de Moisés Richard.
TICO: E aí, tá gravando? E aí, Moisés Richard! Como é que tá rapaz! Quanto tempo!
MOISÉS RICHARD: Hã, olha! È o Tico, meu amigo de infância!
TICO: Ta vendo aí?! Ficou famoso, esqueceu dos amigos. Mas eu sabia que um dia, iam saber que eu fui
seu melhor amigo e iam me procurar! Pois é, estou aqui agora! Mas pode deixar que eu não estou
magoado por você ter sumido e nem ajudado a sua comunidade carente, por você nem ter dardo uma
ajuda à minha mãe que sempre te deu almoço por você ser muito pobre, por você nem ter se despedido
do pessoal quando se mudou do nosso bairro para morar numa casa grande com piscina e tudo, nem
chamado a gente... Pode deixar que eu não vou me vingar não!
MOISÉS RICHARD: Ufa!
TICO: Só vou falar o seu apelido de infância.
MOISÉS RICHARD: Não, meu apelido de infância não!
AMIGO: Né, Paçoquinha Mole?
GLENDA MARVIM: (rindo) Paçoquinha Mole. Porque Paçoquinha Mole?
TICO: Gente, o Moisés Richard, quando era pobre vendia paçoca no sinal gritando assim: Olha a
Paçoquinha Mole! Olha a Paçoquinha Mole!
Glenda Marvim gargalha. Moisés Richard corre raivosamente atrás da “imagem” do “monitor”, mas é
interpelado por Glenda Marvim. “Tico” sai por trás.
GLENDA MARVIM: Calma, calma Moisés Richard. Não vai embora não que ainda falta mais um
depoimento emocionante.
Aparece no monitor Jaqueline, a primeira namorada do Moisés Richard.
MOISÉS RICHARD: Não! Não acredito que vocês encontraram a Jaqueline!
JAQUELINE: Oi, Moisés Richard! Lembra de mim, não é! Mas parece que não lembra! Pois a pensão
está atrasada há mais de três meses.
GLENDA MARVIM: Ué? Por que você tem que pagar pensão para a primeira namorada?
JAQUELINE: Porque ele tem um filho comigo, Alípio. Só por isso!
A “imagem” sai do monitor e vai embora.
MOISÉS RICHARD: Ai, meu Senhor. Agora que meus CD´s vão cair de vendagem! Mesmo que a minha
esposa tenha me perdoado, o público evangélico não costuma perdoar essas coisas.
Moises Richard chora.
GLENDA MARVIM: Olha como o Moisés Richard chora de emoção, gente!
MOISÉS RICHARD: Olha aqui, Glenda. Se você colocar isso no ar, eu te processo, hein?! Eu te
processo.
Moisés Richard sai de cena.
GLENDA MARVIM: Processa nada! Isso que o público não perdoa, não é, gente? Pois “a vingança...
TODOS: ...pertence ao Senhor”.
GLENDA MARVIM: E vamos continuar na mesma alegria, pois a vida é uma festa!
Os dançarinos e os ajudantes de palco pedem palmas para o público, no compasso da música.
GLENDA MARVIM: E é nessa animação que vou chamar três pessoas do meu simpático auditório para
mais um quadro do nosso programa, chamado:
Os dançarinos se posicionam rapidamente à frente de Glenda Marvim e gritam:
DANÇARINOS: Louvai com Adufes e Danças!!!
As ajudantes de palco vão até a plateia e trazem três senhoras e uma atriz do pessoal do Teatro.
GLENDA MARVIM: Como você se chama?
As duas primeiras respondem o próprio nome. Somente a atriz dá um nome fictício.
ATRIZ: Frediatriz!
GLENDA: O quê?!
ATRIZ: Frediatriz. É a mistura de Frederico, que é o meu pai (oi pai! [olhando para a “câmera”]) com a
Beatriz que é a minha mãe! (oi mãe! [olhando par “câmera”]).
GLENDA MARVIM: Ah, sei! Bom, posso te chamar de Fred!
ATRIZ: Não! Pode me chamar de atriz! Ou melhor, futura atriz!
GLENDA MARVIM: É, mas o negócio hoje é dançar! Dançar pra Deus! O DJ Levita vai soltar o louvor e
vocês terão que se soltar, porque a vida é uma festa! Solta aí, Levita,
Frediatriz dança bem espalhafatosa. As demais, presumidamente, estarão tímidas. Quando acabar a
performance, Glenda pede palmas para que, supostamente, eleja a vencedora por aclamação do público.
GLENDA MARVIM: Palmas para a primeira! Palmas para a segunda! Palmas para a terceira! (Glenda
Marvim se comunica através do ponto com Cezar, o diretor) E aí Cezar. Claro. Acho Justo! Mais do que
Justo, assim como o nosso Senhor! Bom, já escolhemos a vencedora!
Dona Fulana! E a segunda colocada, dona Sicrana!
ATRIZ: Mas... e eu?!
GLENDA MARVIM: Não é só porque o povo te aplaudiu que você vai ganhar, minha filha! Toda
unanimidade é burra! E a voz do povo não é a voz de Deus, porque um dia ela gritou “crucifica-o!
crucifica-o!”
ATRIZ: Isso é uma injustiça! Uma injustiça e uma deturpação!
GLENDA MARVIM: Assistentes robustos de palco, por favor, que eu odeio usar a força física nessas
horas, até porque eu sou uma apresentadora renomada, e estudei nos melhores colégios.... Vai, vi, tira
logo o baixo nível do meu programa! Meu programa é DE NÍVEL! DE NÍVEL!
Entram os dois seguranças.
ATRIZ: Assistentes robustos?! Eles mais parecem leões de chácara do que assistentes.
GLENDA MARVIM: Minha filha, o show tem que continuar! Lembre-se que a Bíblia fala que seja tudo feito
com ordem e decência. Isso aqui é programa de auditório, porém evangélico! E dá licença para eu
continuar meu programa. Saiba perder.
Os seguranças retiram Frediatriz de cena.
ATRIZ: Me solta! Me solta!
GLENDA MARVIM: Obrigado Fulana! Obrigado Sicrana! E vamos continuar o programa Ponte da Alegria,
a única ponte que só cai se não tiver ninguém para passar por ela! Anotou aí, Cezar?! Dá para a gente
usar isso como jargão do programa!
DIRETOR: (da cabine) Anotei, Glenda! Anotei!
GLENDA MARVIM: E não percam, que no final do programa... (desce do palco e vai a uma senhora
qualquer que esteja sentada no “auditório”) Estão vendo essa senhora aqui?!
O “câmera man” “focaliza” a senhora.
GLENDA MARVIM: Esta senhora vai trazer aqui no programa um homem que foi criado como cachorro,
se alimenta como cachorro e até...até... foi batizado com nome de cachorro. O nome dele é ... REXMAN!
Não percam no final do programa! Mas antes dessa atração, vamos para o quadro bem divertido
chamado:
DANÇARINOS: SE VIRA NOS SESSENTA!
GLENDA MARVIM: É isso aí, vamos chamar o Juvenal Joaquim. Uma salva de palmas para o Juvenal
Joaquim!
Juvenal entra em cena com uma bicicleta e uma bola.
Glenda JUVENAL: E aí, Juvenal, vai conseguir comer mesmo uma dúzia de banana em sessenta
segundos?
JUVENAL: Não, dona Glenda, eu vim aqui fazer embaixadinha com a bola andando de skate ao mesmo
tempo.
GLENDA MARVIM: Olha só, meu filho, você sabe ler?
JUVENAL: Um pouco.
GLENDA MARVIM: Então lê o que está escrito aqui.
Glenda Marvim mostra a ficha para Juvenal.
JUVENAL: Que a pró-xi-ma a-tra-ção é um co-me-dor de ba-na-nas. Bananas.
GLENDA MARVIM: Então você vai comer bananas.
JUVENAL: Mas não sou eu...
GLENDA MARVIM: (interrompe-o)Meu filho, a minha produção nunca errou. Nós nunca erramos! Nosso
programa é de muita credibilidade!
Vera traz um cacho de Bananas para Glenda Marvim.
GLENDA MARVIM: E hoje não será o dia do nosso primeiro erro.
Glenda Marvim entrega o cacho para Juvenal.
GLENDA MARVIM: Aí, Levita! Solta a música de comedor instantâneo de bananas.
Juvenal Joaquim começa a comer as bananas. Ao deglutir umas quatro bananas, começa a passar mal e
botar para fora o que tinha na boca.
GLENDA MARVIM: Olha, eu queria avisar que é de total responsabilidade dos participantes qualquer
coisa que aconteça no palco. Qualquer coisa! O programa não se responsabiliza por nada que venha a
ocorrer no palco. Nada! Gente, gente, cadê os paramédicos.
Os paramédicos entram em cena. Examinam Juvenal com um estetoscópio e fazem sinal de negativo.
GLENDA MARVIM: Isso é que é, meus amados! Isso é que é! Tem gente que dá vida pela arte. E em
homenagem a esse tipo de gente, que se vira num minuto, eu peço um minuto de silêncio.
Glenda Marvim fica de cabeça baixa durante uns míseros segundos, depois volta à animação. Os
paramédicos carregam Juvenal para fora de cena.
GLENDA MARVIM: É isso aí, meus simpático auditório! O show tem que continuar. Talentos não são para
serem enterrados, mas expostos ao grande público. E conforme o prometido...
Sonoplastia de suspense.
GLENDA MARVIM: ...eu vou chamar aqui o homem que vive como cachorro, se alimenta como cachorro
e além disso tem nome de cachorro. O sensacional ...REXMAN!
Ninguém entra em cena. Isso faz com que Glenda Marvim fique alguns segundos esperando. Depois, ele
vai àquela senhora e cobra algumas atitudes por parte dela para que o programa tenha continuidade.
GLENDA MARVIM: E aí, minha senhora. Cadê ele?
SENHORA: (...)
GLENDA: Ora, cadê o homem que se comporta como cachorro, que a senhora disse que ia trazer. Como
é o nome da senhora?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: Pois é, Dona Ciclana Cadê o REXMAN?
Entra em cena um ator do pessoal do Teatro como um cachorro, com uma coleira no pescoço, andando
como tal, e se posiciona ao lado da senhora, fazendo festa para ela.
GLENDA MARVIM: Ah, que gracinha. Olha ele aí! Que bonitinho.
REXMAN se põe sentado como um cão adestrado.
GLENDA: Oh, que lindo. Ainda por cima é adestrado. E eu creio que ele sabe fazer mais truques do que
esses, não é dona Ciclana? Por isso eu chamo a Dona Ciclana e o Seu simpático REXMAN para virem
aqui no palco para mais demonstrações de habilidade canina! Uma salva de palmas para Dona Ciclana e
REXMAN!
REXMAN exagera na performance, pulando no colo de algumas pessoas do palco, abraçado o
apresentador e o jogando no chão etc.
GLENDA MARVIM: Calma, REXMAN! Calma! E aí, Dona Ciclana? Há quanto tempo a senhora está com
o REXMAN?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: E a senhora dá banho nele com sabonete normal ou sabão anti-pulga?
SENHORA: (...)
GLENDA MARVIM: (olha com desdém para REXMAN)Como é que pode, meus amados? Como é que
pode? O que essa gentinha está fazendo hoje para ter moleza, para ter uma casa para morar, para ter
comida de graça.
REXMAN se sente um pouco humilhado.
GLENDA MARVIM: Estão vendo, meus amados. É o cúmulo! É o cúmulo! Trocar aquele vaso sanitário
tão confortável por postes tão feios e desconfortáveis para urinar! Trocar aquela comidinha tão gostosa
por ossos duros, meus amados! Duros de roer! Aceitar tapinha na cabeça como carinho! Aceitar ser
levado para passear numa...
REXMAN rosna e ataca Glenda Marvim, mordendo sua.
GLENDA MARVIM: Rex, calma! Calma Rex! Calma! Socorro! Cadê os seguranças! Eu pago vocês para
me darem segurança para qualquer tipo de ataque! Seguranças! Calma Rex! Minha senhora, segura ele!
Calma! Calma Rex. Meu Deus, eu vou ficar despida na frente do meu público! Socorro! Já sei! Já sei o
que eu vou fazer! (ao público)É isso aí, meus amados! Até semana que vem com mais um programa...
com mais um programa...
Glenda Marvim olha para os dançarinos, que permanecem parados.
GLENDA MARVIM: Ô, seus dançarinos de araque, não escutaram eu falar ‘programa” não?! É para
vocês se posicionarem aqui na minha frente e gritar o nome do programa quando eu falar a palavra
“programa”, lembram?!
UM DANÇARINO: É, mais o diretor disse que era só pra gente fazer isso no início do programa.
GLENDA MARVIM: Mas agora eu tô mandando, sua anta! (disfarça, com um sorriso amarelo, ainda
sendo atacada por REXMAN) Até semana que vem, meus amados, com mais um programa...
Os dançarinos, agora se posicionam
DANÇARINOS: Ponte da Alegria!
Só que retornam às suas posições, atrás de Glenda Marvim. Esta fica repetindo o tempo todo a
expressão “com mais um programa” para que os dançarinos permaneçam por algum tempo à sua frente e
o público não veja sua degradante imagem ao ser atacada por REXMAN, que não para de atacá-la ao
morder sua roupa.

Fim

Glória a Deus

OVELHA FERIDA

Luiz está num balcão de bar bebendo.


LUIZ: Bota mais uma aí, Zé!
Um indivíduo vestido de “pastor de ovelhas”, com um cajado na mão, entra em cena.
"PASTOR": Você é uma ovelha!
Luiz o ignora
"PASTOR": Ei, não está me ouvindo?! Você é uma ovelha!
LUIZ: Mais um bêbado...
"PASTOR": É, você mesmo! E não se faça de desentendido!
LUIZ: Tanto bicho para você me comparar. Logo uma ovelha... Se ainda fosse um bode, porque eu estou
bebendo feito um...
"PASTOR": Ahhh! E ainda por cima está ferida! Eu conheço esse modo de berrar!
LUIZ: E eu lá estou berrando, ô velhote? Dá um tempo e me deixa aqui afogar minhas mágoas nessa
água que ovelha não bebe!
"PASTOR": Mais um berro de ovelha não tão alto quanto um rugido de leão. Nem tão grave como um urro
de um urso. Assim como esse seu berro. Poucos escutam. Talvez somente os pastores, como eu. Vem,
vou levá-lo de novo para o seu rebanho...
LUIZ: Ô velho, agora você está passando dos limites. Me deixa aqui. Eu lá tenho cara de ser adepto à
cultura de rebanho. Ainda mais de ovelha! Ô bichinho submisso! Adoram ficar com a cabecinha baixa,
sem jamais endurecer a cerviz!
"PASTOR": Ah, o seu jeito de falar te denuncia. Você sabe muito bem que você não é daqui e nem vai
conseguir sobreviver muito tempo fora do seu rebanho e longe do seu pastor.
LUIZ: Pastor? Meu velho, eu lá preciso de alguém para me guiar. Homens que se prezam se viram
sozinhos! Homens que se prezam estão mais para cobras do que para ovelhas. Você já viu que uma
cobra não fica nem duas horas perto de sua progenitora ao nascer. Logo, logo, as cobrinhas se
emancipam, se tornam independentes. Largam suas respectivas mães e vão à luta!
"PASTOR": Mas nessa luta, você está mais com cara de derrotado do que com cara de quem sabe
encarar a luta sozinho.
LUIZ: Ora, quer saber de uma coisa? Antes só do que mal acompanhado!
Luiz afasta o velho pastor caracterizado de sua companhia, o retirando do bar.
LUIZ: Dá licença, velho. Não estamos nem no carnaval para você ficar fantasiado assim pela rua. Quando
chegar essa época, você se veste assim que vai fazer o maior sucesso!
Luiz volta para o balcão do bar.
LUIZ: É mole, Zé?! Se ainda não bastasse a perturbação do meu trabalho, ainda tenho que aturar
maluco.
Luiz prossegue bebendo, quando entra uma jovem vestida de ovelha.
LUIZ: Opa! Agora sim eu quero ser ovelha. Mas ovelha macho! Olha só, rapaz. Será que está
acontecendo um baile à fantasia aqui perto e ninguém me avisou? Zé! Segura as pontas aí que eu já
volto!
LUIZ: (se aproximando) Bééééééé!
"OVELHA": Que isso? Um bode?
LUIZ: Poxa, estou querendo estabelecer uma comunicação e é assim que você me trata?
"OVELHA": Ah, moço! Me desculpe! Estou tão chateada! Sabe o que aconteceu. Eu faço teatro, sabe...
LUIZ: É... Acho que está dando para perceber.
"OVELHA": Pois é. Então o nosso carro quebrou devido a uma batida forte. Mas o pior é que estávamos
quase chegando no local da apresentação. O meu marido, sabe, é que iria fazer o papel da outra ovelha,
pois se trata de um diálogo e...
A ovelha tem um insight.
"OVELHA": Espere aí. Acho que o senhor pode me ajudar.
LUIZ: Eu? Como assim?
"OVELHA": Meu Deus, só pode ser coisa do Senhor. Olha só, o outro papel, como eu já disse, é de uma
outra ovelha. Só que essa outra ovelha é uma ovelha ferida, que conversa com outra que não está ferida.
E o senhor cabe muito bem no papel de ovelha ferida.
LUIZ: (constrangido) E por que você acha que eu caberia bem nesse papel de ovelha ferida.
"OVELHA": Ora, porque o seu rosto está tão abatido que parece que o senhor estar decepcionado com
tudo e com todos. Essa expressão encaixa perfeitamente nesse personagem. Ah, vai, por favor, meu
Senhor! É por uma boa causa. E olha só o seu estado. Parece estar longe de casa há mais de uma
semana. Está perfeito para o papel de ovelha ferida. Fora esse cheiro...
LUIZ: Olha aqui? Você está me chamando de gambá?
"OVELHA": Não, mas... é quase isso...
LUIZ: Quase isso como assim?
"OVELHA": É que quando uma ovelha se perde, geralmente ela fica perto de animais que têm um odor
diferente do dela, e aí ela se incomoda de tal maneira que berra ainda mais.
LUIZ: E eu por acaso pareço estar incomodado com o local onde eu estou?
"OVELHA": Bom, parece que sim...
LUIZ: Ah é? Pois veja bem. Eu vou te mostrar que eu não estou nem um pouco incomodado! Quer ver só!
Luiz vai até o balcão, enche seu copo com um traçado, se aproxima da “ovelha” e, num trago só, bebe
tudo para afrontar a jovem.
LUIZ: E aí?! Eu me pareço incomodado?
Ambos permanecem uns instantes em silêncio.
"OVELHA": Bom, se não está incomodado, por que essa lágrima acabou de sair dos seus olhos?
“Ovelha” sai de cena. Luiz permanece, voltando, agora entristecido, para o balcão, bebendo ainda mais..
“Lobo” entra em cena e se aproxima do balcão.
"LOBO": Ô meu filho! Vê se traz logo a bebida mais forte que você tem aí que eu estou uivando de raiva!
LUIZ: Ai meu Deus. Mais um...
"LOBO": (com raiva) Mais um o quê?
LUIZ: Bom... Não vai dizer que você também faz parte do elenco do grupo de teatro que vai fazer uma
peça...
"LOBO": Que peça?! Que peça, meu filho? Estava num baile à fantasia que está sendo realizado aqui
perto. Muita comida, muita mulherzinha, mas só estavam servindo cerveja. Sabe como é, não gosto de
bebida fraquinha...
LUIZ: Ah, eu também não. Olha só o que eu estou tomando. Cachaça da boa.
"LOBO": Ah! Esse é dos meus! Isso aí, meu filho! Isso aí! Só que eu vou pedir uma mais forte ainda. O
nome da bebida é PAU-PEREIRA. Conhece?
LUIZ: PAU-PEREIRA? Bom conheço, mais não aguento tomar não.
"LOBO": Ah, que lobo é você, meu filho.
LUIZ: Ai, meu Deus. Hoje é dia de me confundirem com animal. Já me chamaram de tudo, de bode, de
ovelha...
"LOBO": Ovelha... Ovelha... Te comparar com um bicho tão efeminado como uma ovelha parece até uma
ofensa. Olha pra você. Você tem cara de lobo. De lobo, meu filho!
LUIZ: É. Isso aí! Eu sou um lobo. Lobo parece mais viril.
"LOBO": É isso aí, lobão. É para provar que tu é lobo mesmo, bebe junto comigo, valeu?!
LUIZ: E por acaso eu preciso beber para provar alguma coisa?
"LOBO": Iiiiihhhhhhhhhh... Iiiiiiiihhhhhhh... O seu jeito de falar está te denunciando. Sabe o que você é
mesmo. Ovelhinha! Ovelhinha! E ovelhinha com feridinha na consciência.
LUIZ: Sou nada, rapaz! Eu sou é lobo.
"LOBO": Ah, você é lobo, é? Então tá! Deixa para lá esse negócio de PAU-PEREIRA. Vou te dar outra
prova, para ver se você é lobo mesmo.
LUIZ: Então fala.
"LOBO": Olha só. Você vai comigo nessa festa à fantasia.
LUIZ: Vou sim!
"LOBO": Então vamos!
LUIZ: Péra, péra, péra...
"LOBO": O que foi agora?
LUIZ: Sabe o que é, seu lobo, eu queria saber o que rola nessa festa?
"LOBO": Ah, meu irmão. Rola de tudo.
LUIZ: “Tudo” como?
"LOBO": Ora, tudo, meu chapa! Não sabe o que é tudo?
LUIZ: Seja mais claro.
"LOBO": Tudo, rapaz! Homem com homem, mulher com mulher, homem com homens, mulher com
mulheres, homem com animal, mulher com animal, tudo...
LUIZ: (pensativo e decepcionado) Então é tudo mesmo, né...
"LOBO": Bom, falta o tal do PAU-PEREIRA. Mas a gente leva daqui do bar! Vamos...
LUIZ: Bom, seu lobo. Não vou não. Tenho um compromisso com alguém. Na verdade eu sou um lobo em
cima do muro...
"LOBO": Meu chapa, não existe lobo em cima do muro. Você é ovelhinha. Ovelhinhaaaaaaaaaaaaaa!!!!
Sempre foi uma ovelhinhaaaaaaaaaaaaaaa...
Lobo sai de cena. Luiz, entristecido, vai até o balcão, olhando para o seu copo de cachaça.
LUIZ: Lá não é meu lugar. Nem lá, nem aqui.
Luiz vai para o centro do palco e, de frente para o público, grita.
LUIZ: Meu pastor! Eu quero voltar para o Senhor! Meu pastor! Eu quero voltar para o Senhor! Meu pastor!
Eu quero voltar para o Senhor!
O “pastor” com seu cajado entra em cena, derrama uma lata de óleo na cabeça de Luiz, que está em
prantos.
Voz em off – Os pastores, antigamente, usavam óleo para curar as ovelhas feridas. Ovelhas estas que
nunca deixaram de ser ovelhas por estarem feridas. E como paralelo, a unção de Deus, que permanece
nos humanos, também funciona com óleo curativo para as enfermidades espirituais. Óleo que cura as
ovelhas que sempre foram ovelhas e nunca deixarão de ser. Unção esta que permanece em nós para
nos revelar o dia que voltaremos de vez e sinceramente para junto do nosso pastor Jesus Cristo!
“Pastor” levanta Luiz e ambos saem de cena, seguidos bem atrás pela “ovelha” e pelo “lobo”.
"LOBO": Não falei que o Luiz não nos reconheceria assim disfarçados ao estar embriagado no bar.
"OVELHA": (pedindo silêncio) Shhhhhhhhh!!!

fim

Glória a Deus

O PALHAÇO CHICOTE E A BONECA CICUTA

O Palhaço chicote entra em cena, lambendo a sua gravata. A boneca Xicuta só está com seus pezinhos
em cena. Ela tem uma cordinha pendurada em suas costas.

CHICOTE: Ai, ai. Como é bom ter uma gravata de algodão doce só para mim. Só eu tenho uma gravata
de algodão doce. E vocês sabem o meu nome, meus amiguinhos. Vocês sabem quem sou eu? O meu
nome é Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... Xi! Esqueci meu nome. Ah, lembrei. O meu nome é
Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiicote! Pois é, Chicote. Sou um palhaço que faço, que faço, que faço, que faço e aconteço.
Mas posso levar uma bronca quando sei, quando sei, quando sei que mereço. E eu estou procurando a
minha amiguinha que está perdida por aí. Eu não sei onde eu a deixei (expressão de choro). Hmmmm!
Olha o meu biquinho de tristeza. Estão vendo só? Isso é o que acontece quando a gente deixa as coisas
todas espalhadas por aí. Meus amiguinhos, eu vou pedir uma ajuda a vocês. Vocês são crianças, e
crianças muitas vezes veem melhor as coisas. Os adultos veem maldade em tudo! Criança não! Criança
é pura. Então, com o seu olhar, vocês podem me ajudar a procurar? É, a procurar a Xicuta. Ah, Xicuta é
minha bonequinha. Eu ganhei ela ontem da minha mãe, e não sei onde eu deixei. Vocês estão aí de fora,
e quem vê de fora, vê melhor. Vamos, me ajudem. Quando eu for chegando perto vocês dizem que “tá
quente”, quando eu estiver longe, vocês dizem que “tá frio”. Está combinado assim? Então vamos lá!

O público infantil vai orientando o Palhaço Chicote na procura da boneca. Ele simula que está com
dificuldade de achar até que encontra.

CHICOTE: Ahá! Achei minha amiguinha. Com Deus o Chicote pode tudo! Com Deus o Chicote pode tudo!
Estão vendo só! Achei a Xicuta. É Xicuta é o nome dela. Vocês querem ver? Ela vai falar o nome dela.
Mas antes, nós temos que cantar uma musiquinha para ela poder brincar com a gente. É assim: “finge
que é gente, pra a gente brincar! Finge que é gente pra gente brincar!”

A boneca Xicuta vai fazendo uma performance dançante até que se levanta.

XICUTA: Oi amiguinhos! O meu nome é Cicuta.

O Palhaço Chicote faz cara de espanto.

CHICOTE: Cicuta? Cicuta não. O seu nome é Xicuta.

XICUTA: (a chicote) E o seu é Cicote.

CHICOTE: Não, o meu nome não é Cicote. É Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.... (ficando sem ar e, logo
depois, respira). ...cote. Chiiiiiiicote.
XICUTA: Calma, Cicote. Assim você vai morrer com falta de ar.

CHICOTE: Eu vou morrer é de raiva por ouvir você falar o meu nome e o seu nome errado. O meu nome
é Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....cote e o seu nome é Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...cuta. Xicuta, entendeu? E quer
saber? Acho que você veio da loja com defeito.

XICUTA: (expressão de choramingo) Defeito só porque eu tenho a língua presa?

CHICOTE: Não é só por isso! É que na televisão você fala o nome das pessoas direito e o seu nome
também direito.

XICUTA: Ah, mas eu falo o nome das crianças que estão nos assistindo direitinho, quer ver. Olha só,
aquele ali é Macarrão. Macarrão Cunha Azevedo. E aquela ali é a Cenoura. Cenoura da Silva Silveira. E
aquela ali se chama...

CHICOTE: (interrompendo) Chega, Xicuta. Não adianta! Não adianta que eu vou te levar para trocar por
outra lá na loja. Vem cá! Chicote agarra Xicuta que resiste.

XICUTA: Não! Por favor, Cicote!

CHICOTE: O meu nome é Chicote!

XICUTA: Por favor. Eu não quero voltar para aquela fábrica. Lá tem homens maus que me fabricaram.
Não me deixe voltar para lá!

CHICOTE: Maus? Como assim “maus”, Xicuta?

XICUTA: (chorando) Sabe o que é? Eu vou contar para você. Antes de eles fabricarem as bonecas
Cicuta...

CHICOTE: Xicuta.

XICUTA: Ah, você sabe. Pois é, quando eles estão fabricando a gente, eles falam umas coisas estranhas.

CHICOTE: Como assim “coisas estranhas?”

XICUTA: É, eles falam que não importa que as crianças vão ficar tristes, não importa que as crianças vão
ficar sem sono, não importa que as crianças vão ficar sem estudar. Só o que importa é vender, vender e
vender as bonecas.

CHICOTE: Ah, mas não é possível. Eles parecem tão bonzinhos no comercial da Televisão. Quer saber,
Xicuta? Acho que você está é mentindo, e fique sabendo você que mentir é muito feio. E por isso eu vou
trocar você por outra sim.

XICUTA: Não! Por favor. Olha imagine se a outra também estiver com esse defeito? Aí, você vai ficar
indo e voltando, indo e voltando, indo e voltando para a loja. Eles vão fazer você de palhaço.

CHICOTE: É mesmo. Então vamos pensar.

Chicote e Xicuta andam para lá e para cá.

CHICOTE: Peraí, Xicuta. Eu já sou um palhaço.


XICUTA: Eu quis dizer bobo. Bobo!

CHICOTE: Ah bom...

Chicote e Xicuta andam para cá e para lá.

CHICOTE: Ei, Xicuta. Então você está me dizendo que palhaço é mesma coisa que bobo?

XICUTA: Ai, ai, ai. Parece mesmo, pois você fica com essa bobeira e não pensa numa ideia para me
consertar, Cicote.

CHICOTE: O meu nome é Chicote.

XICUTA: Ah, você entendeu. E quer saber. Vai ver que você não gostou de mim desde início. Só pediu
para sua mamãe me comprar porque todos seus amiguinhos têm uma boneca igual a mim.

CHICOTE: E se isso for verdade, hein, Xicuta?

XICUTA: Ah, então quer dizer que se os seus amiguinhos se jogarem no meio da rua para serem
atropelados pelos carros você faz isso também. Hein, hein, hein, Cicote?

CHICOTE: (vociferando) O meu nome é...

Xicuta se encurva, com as duas mãos escondendo rosto, demonstrando medo. Chicote percebe e
modifica sua expressão.

CHICOTE: Está bem... Eu vou aguentar você falar meu nome errado, mas só enquanto a gente não
conserta você.

XICUTA: A gente?

CHICOTE: É. EU vou te consertar e VOCÊ vai se consertar também! Não é só os outros que têm que nos
concertar. Nós também temos que nos concertar. Já até tive uma ideia para isso.

XICUTA: Que bom! E qual seria essa ideia?

CHICOTE: Ora, a gente te desmontar.

XICUTA: (gagueja assustada) M-me desmontar? Mas vai doer muito.

CHICOTE: Xicuta, nem tudo que é bom para a gente é sem dor. Pelo contrário, as coisas que não são tão
agradáveis muitas vezes são melhores para a gente. Por exemplo, as injeções que os médicos dão na
gente são boas. As palmadinhas que os papais e as mamães dão na gente são boas para a gente não ter
que apanhar da polícia na rua, e por aí vai. E para a gente mudar de um erro para um acerto, é bom
deixar alguém nos desmontar e montar de novo, como por exemplo, Deus, que faz assim com os
homens.

XICUTA: Deus faz assim como os homens?

CHICOTE: Sim, mas só os homens se deixam ser desmontados para serem montados de novo.

XICUTA: Que legal. Então quero ser um brinquedo obediente também. Vai, me desmonta e monta logo.
CHICOTE: Deixa comigo. Deixa eu começar examinando as suas costas. Deixe-me ver. Lalalálálálalalálá.

XICUTA: Ô Cicote? Você tem experiência nesse desmonte de brinquedos mesmo?

CHICOTE: (examinando as costas de Xicuta) Claro!

XICUTA: Vê lá, hein, Cicote, porque é muito perigoso alguém que não sabe desmontar brinquedos
desmontar uma bonequinha frágil como eu.

CHICOTE: (examinando as costas da Xicuta) Ora, não se preocupe, Xicuta. Um dia eu desmontei um
radinho de brinquedo e ele ficou melhor ainda.

XICUTA: Como assim “melhor ainda”?

CHICOTE: (examinando as costas da Xicuta) Ele virou um telefone de brinquedo. (pausa) Caramba! Olha
o que eu achei nas suas costas? Uma cruz de cabeça para baixo. E por isso que quando eu te abraçava
eu ficava todo cheio de dor e não sabia o que era. Vou jogar essa cruz de cabeça para baixo fora, sabe.

XICUTA: Mas será que isso é o motivo de eu falar errado.

CHICOTE: Calma, Xicuta. Vou continuar examinando você. Talvez esse não seja o único defeito.

XICUTA: Você está me chamando de toda errada, é?

CHICOTE: Calma, Xicuta. Vai ficar tudo bem. Vamos examinar agora a sua barriguinha. Ela é tão
cheinha. Vamos ver de que ela está cheinha.

XICUTA: Olha só, eu não como nenhuma porcaria.

Chicote vai tirando muitos doces da barriga da Xicuta e jogando para a plateia

CHICOTE: (perplexo) Não come nenhuma porcaria, Xicuta? Não come nenhuma porcaria? Xicuta, eu não
encontrei sequer uma frutinha na sua barriga. Só doces. Você pode comer doce sim. Por exemplo, olha
só a minha gravata. Eu sou o único palhaço do mundo que tem uma gravata feita todinha de algodão
doce. Só que eu não fico lambendo a gravata toda hora. Você percebeu?

XICUTA: Você tem razão, Cicote.

CHICOTE: E você está muito gulosa para uma boneca tão pequenininha.

XICUTA: Eu não sou pequenininha, sou Cicuta! Cicuta!

CHICOTE: E eu não sou Cicote. Sou CHHHHHHHHHHHHHHHHHicote!

XICUTA: Mas é porque...

CHICOTE: Está bem, está bem! Eu percebi que você ainda está com esse defeito de falar o seu nome
errado e o nome das pessoas errado também. Mas me desculpe. Eu não resisti. Bom, e qual será esse
problema que faz com que você fale o seu nome e o nome dos outros errado? Qual será?

XICUTA: Para a falar a verdade, eu não sei?


CHICOTE: O que tinha de errado na sua barriguinha (dá uma examinada rápida na barriga de Xicuta) eu
consertei. E com as suas costas (coloca, sem as crianças perceberem, um cartaz adesivo com o seguinte
dizer: “PUXE A CORDA”, dando a entender para as crianças que estava de fato examinando-a) agora
também está tudo certinho.

XICUTA: O que será?

CHICOTE: Bom, talvez os nossos amiguinhos nos ajudem.

XICUTA: É. Quem sabe eles percebem alguma coisa que não percebemos, pois as crianças são muito
espertas para isso.

Chicote e Xicuta andam para lá e para cá, permitindo que as crianças percebam o que está escrito nas
costas da Xicuta. Certamente elas gritarão “puxe a corda” e também perceberão numa cordinha
dependurada desde o início nas costas da boneca Xicuta.

CHICOTE: (ao público) O quê?

XICUTA: (ao público) O quê, amiguinhos? Falem mais alto!

CHICOTE: (ao público) Não estou entendendo. O quê? Puxe a carta?

XICUTA: Não, Cicote. Eu acho que é para PUXAR A CORDA. A corda, Cicote. A corda que tem nas
minhas costas.

CHICOTE: Ai... É mesmo. Que distraído que eu sou. Estão vendo como é ruim ficar desligado,
amiguinhos. Nós temos que ficar o tempo todo ligado para não ser atropelado, para não ser enganado,
para não ser tapeado, para não ser esbofet...

XICUTA: Ai, Cicote. Está bom. Os nossos amiguinhos já entenderem que eles têm que ficar
completamente ligados. Só que quem ainda não está completamente ligada sou eu. Vai, me liga logo! Vai
ver que é por isso que eu ainda estou falando o meu nome e o nome dos outros de errado.

CHICOTE: Então ta legal. Lá vai. Contem comigo, amiguinhos. 1, 2, 3 e... já.

O palhaço chicote puxa a corda da boneca Xicuta.

XICUTA: SEU PORCO! VOCÊ É UM PORCO! EU TAMBÉM SOU PORCA! AHHHHHHHHHH! VOCÊ
NÃO VAI CONSEGUIR DORMIR PORQUE É LEGAL SER DA NOITE, QUE NEM VAMPIRO!
AHHHHHHHHHH! O BOM MESMO É FICAR SEM TOMAR BANHO! O BOM MESMO É DESRESPEITAR
O PAPAI E A MAMÃE! AHHHHHHHHHH! EU SOU A BONECA CICUTA! AHHHHHHHHHH

O Palhaço Chicote se assusta e fica bem longe, ouvindo essas frases proferidas pela boneca Xicuta
assustado. Ele se aproxima da boneca e, escondido, consegue desligá-la. Enquanto isso, ela está em pé
encurvada para frente, exprimindo estar desligada. O palhaço pega uma fita K7 que está no bolso da
boneca cicuta, joga no chão e coloca outra fita K7 no bolso da boneca e puxa novamente a corda, dando
a entender ao público que era esse o problema.

XICUTA: (despertando morosamente e falando mansamente) SEU... SEU... Cabelo está despenteado.
Você deve fazer boas amizades. Você tem que obedecer aos seus pais. Você pode brincar de qualquer
coisa que não te faça mal. O meu nome é Xicuta é o seu é... é...é....

Suspense.
XICUTA: (com um enorme sorriso) CHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIICOTE!

Todos vibram. Xicuta e Chicote se abraçam.

CHICOTE: Viram só, amiguinhos. Vocês podem brincar de qualquer coisa que não lhe façam mal, não é,
boneca Xicuta

XICUTA: É isso aí, palhaço Chicote. Mas se, mesmo assim, alguém insistir em dar para você alguma
coisa que lhe faça mal, entregue o brinquedo, a roupa ou esse objeto para um adulto inteligente e ele vai
lhe devolver o brinquedo, a roupa ou o objeto sem aquilo que venha te fazer mal.

CHICOTE: Só que SE esse brinquedo, roupa ou objeto só lhe faz mal, é melhor que ela desapareça por
completo! E só assim...

XICUTA e CHICOTE: ... VOCÊ VAI BRINCAR SEM SE PREJUDICAR!

Xicuta e Chicote cantam a música final.

Xicuta e CHICOTE: Se o mal vier habitar.

Dentro dos brinquedos.

É melhor escolher outra coisa pra brincar

Do que viver com medo.

REFRÃO

Vamos brincar, vamos brincar,

Para todo mundo se alegrar!

Vamos brincar, vamos brincar,

Para todo mundo se alegrar

Fim

Glória a Deus

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