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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
qualitativas sobre o comportamento do solo em Das et al., 1995; Favaretti, 1995). Este ensaio
condições não saturadas. Como já afirmavam consiste em comprimir amostras de solo que se
Kakehi et al (2005), as técnicas para rompem ao longo do seu diâmetro, conforme
determinações experimentais com solos não Figura 01. Na Figura 02 está mostrado como
saturados são complexas e demandam tempos seria a distribuição de tensões atuantes no
razoavelmente longos para sua implementação, material quando submetido ao ensaio de
sendo comum a busca de alternativas para compressão diametral.
estimar propriedades a partir de certas
características do solo de mais fácil obtenção,
como, por exemplo, utilizar a curva de retenção
de umidade para prever a condutividade
hidráulica (Van Genutchen, 1980) ou a
resistência ao cisalhamento de solos não
h
saturados (Oberg & Salfors, 1997; Vanapalli et
al., 1996). Estes mesmos autores propuseram
uma relação para estimar a resistência de solos
não saturados a partir dos ensaios de
compressão simples e da medida da sucção do
solo em cada condição de ensaio.
Segundo Villar et al (2007), pouca atenção
tem sido dada ao estudo do comportamento de Figura 1. Ilustração do ensaio de compressão diametral.
um solo em relação a esforços de tração por ser Fonte: Cai & Kaiser (2004).
usualmente admitido que o solo não resista à
tração ou que este valor de resistência é muito
baixo se comparado com a resistência à
compressão ou ao cisalhamento. Porém, com o
crescimento do estudo do comportamento dos
solos não saturados, tem sido reconhecido que
para o completo entendimento de todo o
processo de secagem de um solo, que culmina
invariavelmente no seu trincamento, seria
necessário estudar a sua resistência à tração e
sua relação com os teores de umidade e grau de
saturação, bem como com a sucção.
De uma maneira geral, os ensaios de Figura 2. Tensões atuantes no material quando submetido
ao ensaio de compressão diametral. Fonte: Rocco,
laboratório para determinação da resistência a Guinea et al (1999).
tração em solos se dividem em dois tipos: os
diretos e os indiretos. Os diretos são aqueles A avaliação da resistência à tração pode ser
que efetivamente submetem o solo à tração, feita de uma maneira simples pela fórmula (1)
medindo diretamente o valor durante o ensaio. (Das et al., 1995; Krishnayya & Eisenstein,
Os métodos indiretos usam da aplicação de 1974):
outros tipos de esforços que não os de tração,
obtendo indiretamente o valor desejado. Neste 2P
grupo está o ensaio de compressão diametral ou σt = (1)
πdh
o ensaio brasileiro. Ele foi desenvolvido
inicialmente para avaliar a resistência à tração sendo: σt a resistência à tração no centro da
de concreto (Carneiro & Barcellos, 1953) e só amostra, em kPa; “P” é a força máxima no
mais tarde o mesmo aparato foi usado em momento da ruptura no centro do corpo de
rochas e solos cimentados ou compactos prova; “D” é o diâmetro da amostra; “h” é a
(Krishnayya & Eisenstein, 1974; Maciel, 1991; altura da amostra. Maiores detalhes sobre a
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amostras para o caso deste ensaio foram de 2% continuaram a apresentar índice de vazios
(umidade higroscópica de 0,8%), 60% (teor de menor que o índice de vazios médio de
umidade de 17,4%), 80% e 100%, obtido pelo compactação, aumentando sua resistência à
método de gotejamento. Os ensaios foram tração e à compressão.
realizados na condição drenada e com amostras Particularmente para o ensaio de compressão
pré-adensadas, com tensões normais iguais a diametral, foram selecionados somente os
20, 50 e 100 kPa. O ensaio foi realizado com resultados dos corpos de prova que romperam
deformação controlada, sendo utilizada a na direção do seu diâmetro, com a ruptura
velocidade de 0,02 mm/min, o que iniciando em seu centro, para que a equação (1)
proporcionou carregamentos drenados. Os pudesse ser utilizada. esta definição foi feita
ensaios na condição não saturada foram feitos com auxílio das filmagens realizadas ao longo
sem controle de sucção. Porém, nesta dos ensaios. Portanto, todos os ensaios cujas
velocidade de cisalhamento utilizada, foi amostras apresentaram plano de ruptura que não
verificado que o teor de umidade gravimétrico iniciaram no centro foram descartados.
das amostras variou no máximo 0,5% desde o
início da fase de adensamento até o final do 3.2 Ensaio de Compressão Diametral
cisalhamento.
A Figura 03 apresenta a relação obtida entre os
valores de resistência a tração calculados pela
3 RESULTADOS OBTIDOS fórmula 01 e o grau de saturação das amostras
ensaiadas. A amostra com teor de umidade
3.1 Critérios de Aceitação das Amostras higroscópico apresentou uma resistência à
tração de aproximadamente 33 kPa, enquanto
Os resultados obtidos de todos os ensaios foram que a amostra saturada apresentou uma
analisados e verificados com base no grau de resistência à tração em torno de 3 kPa,
compactação e índice de vazios das amostras aproximadamente onze vezes menor. A equação
utilizadas. Foi observado que tanto o grau de que melhor descreve a curva obtida é:
compactação na moldagem quanto o índice de
vazios dos corpos de prova das amostras no σt = - 0,0027.[S]² - 0,0423.[S] + 32,635 (2)
início dos ensaios influenciaram diretamente
nos resultados de resistência do solo. Por isto, sendo:
após a fase de moldagem, foram consideradas σt : resistência à tração no centro do disco em
como amostras aprovadas somente aquelas que kPa;
estavam no intervalo de grau de compactação S: grau de saturação da amostra em %.
de 98 a 102%. Após a fase de mudança do grau
de saturação, durante a qual a amostra pode 40
expandir ou contrair, foram consideradas 35
aprovadas para a realização dos ensaios 30
somente aquelas amostras que tiveram índice de
σt (kPa)
25
vazios variando entre 0,75 a 0,85, o que 20
correspondeu a mais ou menos 10% de variação 15
em relação ao índice de vazios de moldagem. 10
Foi constatado que amostras abaixo desse 5
intervalo de grau de compactação selecionado, 0
quando saturadas, expandiram e tenderam a
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
apresentar índice de vazios muito maior que o
índice de vazios médio de compactação, Grau de saturação (%)
resistindo menos à tração e à compressão. Por Figura 3. Relação obtida entre a resistência à tração e
outro lado, amostras moldadas acima deste grau de saturação. R² = 0,98.
intervalo de compactação, quando saturadas,
3.3 Ensaio de Compressão Simples
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T. cisalhante (kPa)
torno de 85% de saturação. Pelo processo de 120
saturação utilizado não foi possível conseguir
amostras com grau de saturação acima deste 80
valor. Os resultados obtidos na compressão
40 y = 1.1483x + 35.797
simples foram menos precisos que os resultados
do ensaio de compressão diametral já que neste
0
último foi utilizado sistema de aquisição de
0 20 40 60 80 100 120
dados automatizado, ao passo que na
compressão simples, as leituras foram feitas T. normal (kPa)
diretamente. A função que melhor representou Figura 5. Envoltória de resistência para as amostras com
esta relação entre a resistência não drenada e o teor de umidade higroscópico. R² = 0,99.
grau de saturação foi do tipo logarítmica:
160
T. cisalhante (kPa)
40
160
T. cisalhante (kPa)
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 120
5
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sendo:
c’: intercepto de coesão efetivo em kPa; 60
φ' (º)
80 30
T. cisalhante (kPa)
20
60
10
40 0
0 20 40 60 80 100
20
y = 0.4391x + 23.352 Grau de Saturação (%)
0
Figura 10. Relação do grau de saturação com o ângulo de
0 20 40 60 80 100 120 atrito φ’ obtido das envoltórias de resistência. R² = 0,98.
T. normal (kPa)
Figura 8. Envoltória de resistência para as amostras
Os resultados das envoltórias obtidas do
saturadas. R² = 0,84. ensaio de cisalhamento direto foram
considerados satisfatórios na medida em que se
obteve coeficientes de correlação R² muito
Tabela 1. Resumo dos valores dos parâmetros próximos de 1,0. A envoltória das amostras
geotécnicos de acordo com as envoltórias obtidas.
saturadas obteve menor precisão, com
Intercepto
Grau de Ângulo de atrito coeficiente de correlação R² igual a
coesivo c’
saturação (%) φ' (º) aproximadamente 0,84. As relações das figuras
(kPa)
0 35.8 49 09 e 10 foram consideradas boas na medida em
60 33.4 49.6 que o os coeficientes de correlação R² ficou
80 28.4 43 muito próximo da unidade.
100 23.4 23.7
40
4 CORRELAÇÕES EMPÍRICAS ENTRE
OS RESULTADOS DOS ENSAIOS
30
c' (kPa)
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c' (kPa)
(resistência a tração acima de aproximadamente
30
25kPa).
A equação que melhor descreveu a relação 25
obtida entre a resistência ao cisalhamento não
drenado e a resistência á tração (ver Figura 11) 20
foi: 0 5 10 15 20 25 30 35
Resistência à tração (kPa)
Su = - (0,0008).[σt]4 - (0,0462).[σt]3 + Figura 12. Correlação obtida entre a resistência à tração e
+ (0,8521).[σt]2 - (4,4517).[σt] + (41,096) (6) intercepto de coesão c’. R² = 0,96.
sendo: 60
Su: resistência ao cisalhamento não drenado em
50
kPa;
σt: resistência à tração em kPa. 40
φ' (º)
30
150
20
125
100
10
Su (kPa)
0 5 10 15 20 25 30 35
75
A figura 12 apresenta a relação obtida entre φ' = - 0,0423.[σt]2 + 2,2646.[σt] + 21,212 (8)
resistência à tração σt e o intercepto de coesão
c’, obtido das envoltórias de resistência dos sendo:
ensaios de cisalhamento direto. Já a figura 13 φ’: ângulo de atrito em graus (º);
mostra a relação entre a resistência à tração e o σt: resistência à tração em kPa.
ângulo de inclinação φ’ destas envoltórias. Para
estes dois casos, a correlação ficou um pouco
5 CONCLUSÕES
prejudicada pelos poucos valores de c’ e φ’
obtidos.
Este artigo teve como proposta mostrar que
Uma equação que descreveu bem a relação
pode haver uma correlação entre os resultados
obtida entre resistência a tração e o intercepto
do ensaio de compressão diametral ou ensaio
de coesão (ver a Figura 12) foi:
brasileiro com resultados obtidos de ensaios
típicos para determinação da resistência ao
c’= 0,413.[σt] + 23,448 (7)
cisalhamento. Este ensaio (compressão
diametral) foi escolhido devido a sua facilidade
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REFERÊNCIAS