RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 56.405 - SC (2015/0025240-2)
RELATOR : MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK
RECORRENTE : CARLOS ALBERTO DE ALMEIDA ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
DECISÃO
Cuida-se de recurso ordinário em habeas corpus interposto por
CARLOS ALBERTO DE ALMEIDA contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região no julgamento do HC n. 5030657-94.2014.404.0000/SC. Infere-se dos autos que o paciente foi denunciado pela prática em tese do delito descrito no art. 34, caput , da Lei nº 9.605/98 (pesca em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão de controle) porque teria realizado a extração de berbigões no Banco 'B', no interior da Reserva Marinha do Pirajubaé, Baía Sul da Ilha de Santa Catarina, no período em que a atividade era expressamente proibida no local, conforme Instrução Normativa nº 81/2005-IBAMA. A denúncia foi recebida em 6/6/2014. Irresignada, a defesa pleiteou a aplicação do princípio da insignificância e consequente absolvição sumária do réu. Contudo, o pleito foi indeferido pelo Juízo de primeiro grau sob o fundamento de que haveria necessidade de aprofundamento de provas em audiência para apreciação da tese defensiva. Inconformada, a defesa impetrou o 5030657-94.2014.404.0000/SC perante o Tribunal a quo, objetivando o trancamento da ação penal, sem lograr êxito, conforme acórdão que restou assim ementado:
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL.
TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. INVIABILIDADE. PESCA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NÃO ACOLHIDO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. OBEDIÊNCIA. CAUSAS EXCLUDENTES. REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INVIABILIDADE EM SEDE HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO COMPROVADA. 1. Segundo entendimento consolidado na jurisprudência pátria, a utilização do habeas corpus como o fim de obter exclusivamente o trancamento da ação penal somente é admissível quando o fato narrado na denúncia não configura, nem mesmo em tese, conduta delitiva, ou seja, o comportamento do réu é atípico ou não há certeza sobre a materialidade do crime; quando resta evidenciada a ilegitimidade ativa ou passiva das partes (podendo ser Documento: 69665840 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 01/03/2017 Página 1 de 3 Superior Tribunal de Justiça representada pela própria inocência do acusado) e, finalmente, se incidir qualquer causa extintiva da punibilidade do agente. 2. No caso, trata-se de crime formal e de perigo abstrato, no qual o risco de lesão ao equilíbrio e à harmonia do meio ambiente, em especial à fauna aquática, presume-se pela própria conduta descrita no tipo penal. Portanto, independentemente da quantidade de espécimes apreendidos, não há se falar em aplicação do preceito da bagatela. 3. As norma penais em brando, ainda que complementadas por normas infralegais, não desrespeitam o princípio da legalidade penal. 4. O reconhecimento de eventuais causas excludentes, como inexigibilidade de conduta diversa ou estado de necessidade dependeria, no caso, de aprofundado revolvimento de matéria fático-probatória, o que de mostra incompatível com o rito célere e de cognição sumária inerente ao caráter do habeas corpus, Desnecessidade de juntada de prova emprestada. (fl. 127)
No presente recurso alega-se, inicialmente, a atipicidade material do
crime previsto no art. 34, caput, da Lei nº 9.605/98, invocando a o caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal, bem como o princípio da insignificância. Ressalta que os servidores do Instituto Chico Mendes (ICMBio) – na ocasião faziam a fiscalização da Reserva Extrativista Marinha do Pirajubé – não apreenderam qualquer pescado em poder do ora recorrente, de tal forma que sua conduta não tem o condão de afetar o equilíbrio ecológico. Frisa-se, ainda, que, conforme Inquérito Policial nº 5005864-59.2013.404.7200, o agente de fiscalização "classificou a gravidade do dano como leve, informou que o dano causado é passível de recuperação e que a área atingida tem boa resiliência, bem como informou possuir o paciente baixa escolaridade." (fls. 145) Assim, o recorrente alega que a conduta imputada ao paciente não é de grande ofensividade ou dotada de periculosidade, sendo desproporcional a imposição de sanção penal no caso, diante do resultado jurídico irrelevante, colacionando jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. Pugna, então, a desconstituição do acórdão recorrido e o trancamento da Ação Penal n. 5017778-86.2014.404.7200/SC. O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso no parecer de fls. 170/176. É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça O recurso encontra-se prejudicado. Em contato telefônico com a 6ª Vara Federal de Florianópolis/SC, a serventia verificou que o Juízo de primeiro grau aplicou na espécie o princípio da insignificância, em face da ausência de lesão ao bem jurídico tutelado, e absolveu o ora paciente com fundamento no art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal. Verificou-se, ainda, que os autos se encontram arquivados em razão do trânsito em julgado da sentença. Assim, não há como negar a perda superveniente do objeto da presente impetração, porquanto não subsiste violação ou ameaça de violação ao direito ambulatorial do paciente decorrente da ação penal objeto do presente mandamus. Ante o exposto, com base no art. 34, XX, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, julgo prejudicado o presente recurso em habeas corpus. Determino a juntada de e-mail encominhado à secretaria da 6ª Vara Federal de Florianópolis/SC, bem como de cópia da sentença absolutória. Brasília, 22 de fevereiro de 2017.
MINISTRO JOEL ILAN PACIORNIK
Relator
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