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REVISÃO | REVIEW 949

Planejamento de grupos operativos no


cuidado de usuários de serviços de saúde:
integrando experiências
Planning of operative groups in the care of health services users:
integrating experiences

Kellem Regina Rosendo Vincha1, Amanda de Farias Santos2, Ana Maria Cervato-Mancuso3

RESUMO O objetivo deste estudo foi apresentar um panorama do planejamento de grupos


operativos realizados com usuários de serviços de saúde. Realizou-se uma revisão na base de
dados Scientific Electronic Library Online (SciELO). Nos 12 estudos analisados, a teoria de
grupo operativo teve como base cinco autores diferentes. Os grupos pretenderam prevenir
doenças/agravos e tratar doenças, porém o processo destacou a promoção da saúde associada
à educação em saúde e à educação alimentar e nutricional. A observação foi o método de
avaliação mais aplicado, entretanto, poucos estudos usaram indicadores de avaliação. O pa-
norama construído poderá auxiliar profissionais no momento de planejar e desenvolver seus
grupos.

PALAVRAS-CHAVE Revisão. Planejamento em saúde. Promoção da saúde. Processos grupais.

ABSTRACT The objective of this study was to present a panorama of the planning of operative
groups carried out with health services users. A review was conducted in the Scientific Electronic
Library Online (SciELO) database. In the 12 studies analyzed, the operative group theory was
based on five different authors. The group aimed to prevent diseases/grievances and treat dis-
eases, but the process highlighted the promotion of health associated with health education and
food and nutrition education. The most common method of used evaluation was observation,
however, few studies used evaluation indicators. The built panorama can help professionals in
the planning and development of their own groups.
1 Universidade de São Paulo
(USP), Faculdade de Saúde
Pública (FSP) – São Paulo KEYWORDS Review. Health planning. Health promotion. Group processes.
(SP), Brasil.
kincha@yahoo.com.br

2 Universidade de São

Paulo (USP), Faculdade de


Saúde Pública (FSP) – São
Paulo (SP), Brasil.
amandafarias_23@hotmail.
com

3 Universidade de São
Paulo (USP), Faculdade de
Saúde Pública (FSP) – São
Paulo (SP), Brasil.
cervato@usp.br

DOI: 10.1590/0103-1104201711422 SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 41, N. 114, P. 949-962, JUL-SET 2017
950 VINCHA, K. R. R.; SANTOS, A. F.; CERVATO-MANCUSO, A. M.

Introdução decisão e a autonomia, de indivíduos e cole-


tividades, por meio do desenvolvimento de
O grupo, como modalidade de cuidado coletivo habilidades pessoais e de competências em
à população, tem se tornado frequente nos ser- promoção e defesa da saúde e da vida (BRASIL,
viços de saúde, devido ao seu reconhecimento 2014C), o que vai ao encontro da teoria do
enquanto prática de educação em saúde. O GO. Neste sentido, de acordo com a Política
cuidado em grupo envolve, a partir de relações Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2014C),
interpessoais, a constituição de subjetividade e essas ações buscam proporcionar a equidade
do psiquismo, a elaboração do conhecimento e e a melhoria das condições e dos modos de
a aprendizagem em saúde (AFONSO; COUTINHO, 2010; viver, reduzindo vulnerabilidades e riscos à
FERREIRA NETO; KIND, 2010). saúde decorrentes de determinantes sociais,
Uma teoria de grupo legitimada na área econômicos, políticos, culturais e ambientais.
da saúde é o Grupo Operativo (GO), que foi O desenvolvimento do GO depende de um
elaborada por Pichon-Rivière, psiquiatra clima particular, logo, os profissionais plane-
e psicanalista, na década de 1940 (MENEZES; jam a intervenção com o intuito de transfor-
AVELINO, 2016). O objetivo do GO é promover mar uma situação em um campo propício de
um processo de aprendizagem para os par- aprendizagem (PICHON-RIVIÈRE, 2009). Ao com-
ticipantes, o qual é compreendido como uma preender o GO como prática de educação
leitura crítica da realidade, uma atitude in- em saúde, o planejamento, realizado de
vestigadora, uma abertura para as dúvidas forma sistematizada ou não, pode ser consi-
e para as novas inquietações. Este processo derado uma ferramenta de intervenção dos
coloca em evidência a possibilidade de uma profissionais da saúde (CERVATO-MANCUSO, 2011).
nova elaboração de conhecimento, de inte- Neste sentido, o planejamento do GO, assim
gração e de questionamentos acerca de si e como ações educativas e oficinas de grupo
dos outros (AFONSO; COUTINHO, 2010). na área da saúde, é composto pelos seguintes
Desse modo, o GO na área da saúde visa elementos: definição do referencial teórico;
não apenas conceber as condições de saúde/ análise das demandas de saúde da população
doença por meio da transmissão de conheci- atendida; elaboração do objetivo do grupo;
mento – abordagem utilizada por muitos pro- identificação da tarefa; análise de temas per-
fissionais da saúde (MELO, 2013; VINCHA ET AL., 2014) –, tinentes; escolha de estratégias educativas;
mas também transformar o conhecimento em e avaliação (AFONSO, 2010; CERVATO-MANCUSO, 2011).
atitude, a partir das necessidades e da realidade O referencial teórico é a fundamentação
dos participantes. Esta transformação ocorre teórica do grupo, na qual os profissionais da
por meio do vínculo, da comunicação e do saúde se apoiam para conduzir a interven-
protagonismo de todos. Por isso, significados, ção. Ela pode ser fundamentada em um ou
sentimentos, relações, expectativas e experiên- mais autores de GO. A análise das demandas
cias individuais são implicados na ação (AFONSO; de saúde visa identificar os problemas de
COUTINHO, 2010; PICHON-RIVIÈRE, 2009). saúde da população e seus fatores causais,
O GO, como processo de aprendizagem, os quais fornecem suporte para a elaboração
pode ser utilizado na prevenção de doenças do objetivo. Com o objetivo elaborado, dado
e no tratamento de cuidados específicos, que ele é fixo, tem-se um guia para o desen-
porém ele está cada vez mais presente na volvimento do grupo (CERVATO-MANCUSO, 2011),
promoção da saúde (DUTRA; CORRÊA, 2015; MENEZES; bem como se podem estabelecer regras de
AVELINO, 2016). Esta mudança de perspectiva organização, como: local de encontro; dias e
decorre de as ações promotoras da saúde horário; frequência dos encontros; número
possuírem como objetivo o estímulo do em- de participantes; e profissionais coordena-
poderamento, a capacidade para a tomada de dores da ação (AFONSO, 2010).

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Planejamento de grupos operativos no cuidado de usuários de serviços de saúde: integrando experiências 951

Para a concretização do objetivo, o GO por objetivo apresentar um panorama do


centra-se na tarefa, que é o fazer conjunto planejamento de GO realizados com usuá-
dos participantes, a partir de um esquema rios de serviços de saúde.
referencial comum. É por meio da tarefa, e
pela tarefa, que os participantes estabele-
cem redes de comunicação e processos de Métodos
aprendizagem, que ocorrem por objetivos
conscientes e por relações internas, incons- Este estudo constitui uma medição de pro-
cientes, no grupo e do grupo (CASTANHO, 2012; duções científicas na área da saúde sobre
PICHON-RIVIÈRE, 2009). Na área da saúde, o GO GO. Esta medição denomina-se bibliometria,
que objetiva a aprendizagem tem como dis- estudo que quantifica a comunicação escrita,
positivos para a realização da tarefa os temas que visa ao tratamento quantitativo e à or-
de discussão, pois apoiado neles, suscitam- ganização, à classificação e à avaliação das
-se e mobilizam-se sentimentos, pensamen- características das publicações (BUFREM; PRATES,
tos e ações nos participantes (CASTANHO, 2012). 2005).
Os temas podem ser identificados antes do Realizou-se uma busca na base de
início do grupo, na análise das demandas de dados Scientific Electronic Library Online
saúde, o que oportuniza a existência de um (SciELO), com o uso das palavras-chave
cronograma definido, ou podem ser identifi- ‘grupo’ e ‘operativo’. Inicialmente, foram in-
cados a partir das necessidades emergidas no cluídos todos os artigos que se encontravam
decorrer do grupo. Eles podem ser trabalha- disponíveis durante o período da busca: se-
dos com o uso de estratégias educativas, ou tembro a dezembro de 2015. Para a seleção,
seja, palestras, vídeos, jogos, fotos, músicas e foram utilizados os seguintes critérios de
dinâmicas, entre outras (AFONSO, 2010). inclusão: artigos publicados nos idiomas
A avaliação do grupo, último elemento português, espanhol e inglês; e artigos publi-
do planejamento, deve conter uma análise cados entre os anos 2005 e 2015.
dos participantes e uma análise do processo Nessa seleção, 51 artigos foram elegi-
grupal. Desta forma, associam-se indicado- dos, sendo que, a partir da leitura desses
res individuais, comumente conhecidos na na íntegra, realizaram-se as exclusões, de
área da saúde, e coletivos, sendo que, em acordo com os critérios apresentados na
ambos, as abordagens quantitativas e qua- figura 1: estudo que não utilizou o GO como
litativas podem ser exploradas (FERREIRA NETO; intervenção; estudo não realizado em ser-
KIND, 2011; GAYOTTO, 2003). O processo grupal viços de saúde; e estudo que não envolveu
pode ser avaliado por seis vetores de avalia- exclusivamente usuários como participantes
ção, formulados por Pichon-Rivière (2009), do grupo. Assim, foram excluídos 29 pelo
que são: pertença; pertinência; comunica- uso da palavra ‘operativo’, com significados
ção; cooperação; aprendizagem; e tele. diferentes da teoria; sete pela utilização da
Dado o reconhecimento do GO na área teoria na área do ensino; e três pelo envolvi-
da saúde como uma teoria que favorece o mento de profissionais da saúde como parti-
cuidado integral dos participantes e que via- cipantes do grupo. Portanto, os estudos que
biliza a efetivação de grupos como espaços utilizaram o GO no cuidado de usuários da
educativos em saúde, o presente estudo teve saúde totalizaram-se em 12.

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Figura1. Fluxograma de inclusão e exclusão de estudos sobre grupo operativo aplicado com usuários de serviços de saúde.
São Paulo (SP), 2016

Busca inicial:
Grupo + Operativo
N = 51 estudos

Uso da teoria para a


intervenção
(exclusão de 29)

Total de estudos
N = 22

Estudos da área da
saúde (exclusão de 7)

Total de estudos
N = 15

Estudo de intervenção
aplicado com usuários
(exclusão de 3)

Total de estudos
N = 12

Fonte: Elaboração própria.

A bibliometria no presente estudo foi Resultados


aplicada com o propósito de construir um
panorama do planejamento dos GO. Para Os estudos analisados apresentaram as se-
isso, buscou-se identificar os elementos do guintes características, como se vê no quadro
planejamento descritos nos estudos, quer 1: publicados entre os anos 2007 e 2015; 10 na
dizer, os referenciais teóricos de GO, os língua portuguesa e dois em espanhol; 11 con-
objetivos dos grupos, os temas abordados, duzidos no Brasil e um no México. No Brasil,
as estratégias educativas utilizadas e as destacou-se o estado do Rio Grande do Sul,
avaliações. Quanto aos referenciais teóri- seguido por Minas Gerais. Em relação ao tipo
cos, houve a sistematização e a hierarqui- de estudo, identificaram-se 11 qualitativos,
zação dos autores, conforme o número de sendo cinco do tipo estudo de caso/relato de
vezes em que foram referenciados, sendo experiência; quatro descritivos, exploratórios
que foram considerados aqueles citados ou analíticos; dois etnográficos; e um estudo
ao menos em dois estudos. O objetivo do quali-quantitativo de intervenção controlada.
grupo foi classificado, de acordo com a As populações investigadas foram, sobretudo,
intencionalidade, em: promoção da saúde; usuários de álcool e outras drogas, e portadores
prevenção de riscos e doenças; e trata- de doenças crônicas, como diabetes mellitus,
mento de cuidados específicos. E para a hipertensão arterial e obesidade. Nos contex-
avaliação buscou-se identificar o método tos das investigações, incluíram-se hospitais,
e o indicador empregados. Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de
Apoio Psicossocial.

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Planejamento de grupos operativos no cuidado de usuários de serviços de saúde: integrando experiências 953

Quadro 1. Características dos estudos analisados, São Paulo (SP), 2016


Autores e ano Local Tipo de estudo População Contexto do estudo
Jardim et al. (2007) Rio Grande do Sul/Brasil Qualitativo, estudo de caso Pais e filhos Hospital
Soares e Ferraz (2007) Minas Gerais/Brasil Qualitativo, estudo de caso Portadores de diabetes Hospital
mellitus
Pereira et al. (2007) Rio Grande do Sul/Brasil Qualitativo, relato de expe- Mulheres Unidade Básica de Saúde
riência
Colosio et al. (2007) São Paulo/Brasil Quali-quantitativo, inter- Homens que fazem sexo Centro de Testagem e
venção controlada com homens Aconselhamento
Favoreto e Cabral (2009) Rio de Janeiro/Brasil Qualitativo com análise da Portadores de doenças Hospital
narrativa crônicas
Almeida e Soares (2010) Minas Gerais/Brasil Qualitativo, etnográfico Portadores de diabetes Unidade Básica de Saúde
mellitus
Figueroa, Guerra e Gallegos Jalisco/México Qualitativo, etnográfico Mulheres Comunidade
(2010)
Cassol et al. (2012) Rio Grande do Sul/Brasil Qualitativo, descritivo Usuários de álcool e outras Hospital
drogas
Jorge et al. (2012) Goiás/Brasil Qualitativo Usuários de álcool e outras Centro de Apoio Psicos-
drogas social
Rotoli et al. (2012) Rio Grande do Sul/Brasil Qualitativo, relato de expe- Usuários de álcool e outras Centro de Apoio Psicos-
riência drogas social
Lucchese et al. (2013) Ceará/Brasil Qualitativo, descritivo e Usuários de tabaco Unidade Básica de Saúde
exploratório
Dutra e Correa (2015) Minas Gerais/Brasil Qualitativo, relato de expe- Cuidadores de idosos Unidade Básica de Saúde
riência
Fonte: Elaboração própria.

A partir dos elementos do planejamento apresentado na figura 2, que mostra as possibi-


dos GO constatados nos estudos, referenciais lidades existentes para este conjunto de ações,
teóricos, objetivos, temas, estratégias educati- que oportunizam o cuidado em grupos de usu-
vas e avaliações, foi construído um panorama, ários por profissionais da saúde.

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954 VINCHA, K. R. R.; SANTOS, A. F.; CERVATO-MANCUSO, A. M.

Figura 2. Panorama do planejamento de grupo operativo para o cuidado de usuários de serviços de saúde, São Paulo (SP), 2016

Grupo Operativo

Referencial
teórico Gayotto Zimerman Pichon-Rivière Osório Mello-Filho

Desenvolvimento do grupo

Intencionalidade Promoção da saúde Prevenção de riscos e doenças Tratamento de doenças

Troca de experiência, Ressignificação das Discussão de possibilidades e


identificação e comunicação; representações envolvidas na desenvolvimento de estratégias;
Objetivo Resolução dos conflitos e decisão de proteger-se; Construção de rede de cuidado;
do grupo mobilização; Diminuir o início do hábito de Ressignificação do tratamento;
Aumento da conscientização; fumar, os riscos do tabagismo e Reabilitação e manutenção;
Processo educativo. ampliar o abandono deste. Autocuidado e autonomia.

Uso de tema Definido por Acordado


Definição A partir das previamente A partir das
de temas gerador necessidades programa necessidades
entre todos

Círculo, dinâmica, festa comemorativa, oficina,


painel, folder, cartilha, atividade de alongamento,
jogo e vídeo.
Estratégias
educativas

Avaliação do grupo

Intencionalidade Promoção da saúde Prevenção de riscos e doenças Tratamento de doenças

Método de Observação Observação Questionário Observação Grupo Observação Entrevista


avaliação individual do grupo pré e pós do grupo focal do grupo pós grupo

Narrativa Narrativa
grupal individual

Indicador de Grau de Atitude e Indicadores de


avaliação dependência conhecimento grupo operativo

Fonte: Elaboração própria.

Em relação ao referencial teórico de GO, apareceram em três estudos; e Mello Filho


verificou-se a menção de cinco autores di- (2011),em dois (CASSOL ET AL., 2012; FAVORETO; CABRAL,
ferentes. O autor Pichon-Rivière (2009) foi 2012). Observou-se que os estudos que usaram
referenciado nove vezes em sete estudos Zimerman denominaram os grupos como
(ALMEIDA; SOARES, 2010; COLOSIO ET AL., 2007; DUTRA; ‘grupo operativo de ensino-aprendizagem’ e
CORRÊA, 2015; FIGUEROA; GUERRA; GALLEGOS, 2010; ‘grupo operativo de reflexão’. Osório e Mello
LUCCHESE ET AL., 2013; ROTOLI ET AL., 2012; SOARES; Filho foram utilizados nos estudos que de-
FERRAZ, 2007); Osório (1986), três vezes em dois senvolveram grupos para o tratamento de
estudos (ALMEIDA; SOARES, 2010; SOARES; FERRAZ, 2007); doenças, especialmente o diabetes mellitus.
Zimerman (2000) (CASSOL ET AL., 2012; JARDIM ET AL., Já Gayotto foi referência para a conceituali-
2007; PEREIRA ET AL., 2007) e Gayotto (2003) (ALMEIDA; zação e a avaliação dos GO.
SOARES, 2010; LUCCHESE ET AL., 2013; SOARES; FERRAZ, 2007) De acordo com os objetivos propostos

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Planejamento de grupos operativos no cuidado de usuários de serviços de saúde: integrando experiências 955

para os grupos, dos 12 estudos analisados, foi Controle do Tabagismo (LUCCHESE ET AL., 2013).
observado que quatro tinham por intenção a Destaca-se que, em todos os estudos de pro-
promoção da saúde (DUTRA; CORRÊA, 2015; FIGUEROA; moção da saúde, os temas foram construídos
GUERRA; GALLEGOS, 2010; JARDIM ET AL., 2007; PEREIRA ET no decorrer da intervenção.
AL., 2007), sendo três deles do tipo estudo de Um tema que se sobressaiu nos estudos
caso/relato de experiência; dois, a prevenção foi a ‘alimentação’. No estudo de Figueroa,
de riscos e doenças (COLOSIO ET AL., 2007; LUCCHESE Guerra e Gallegos (2010), ela era o centro da
ET AL., 2013); e seis, o tratamento de cuidados discussão, dado que a tarefa do grupo era
específicos (ALMEIDA; SOARES, 2010; CASSOL ET AL., trabalhar o consumo da alfafa, mas, devido
2012; FAVORETO; CABRAL, 2009; JORGE ET AL., 2012; ROTOLI à complexidade do tema, outras discus-
ET AL., 2012; SOARES; FERRAZ, 2007). Destaca-se, nos sões foram incorporadas. Já nos estudos de
objetivos dos grupos de prevenção e de tra- Almeida e Soares (2010), Favoretto e Cabral
tamento, a presença da ressignificação, da (2009) e Lucchese et al., (2013), que tinham
possibilidade, do encontro de soluções, da outros temas centrais, a ‘alimentação’ emergiu
construção de rede de cuidado e do fortale- a partir dos participantes, sobretudo a dificul-
cimento do autocuidado e da autonomia. dade da mudança de hábito alimentar.
Sobre as regras de organização para Para a discussão dos temas, cinco estudos
o alcance dos objetivos dos grupos, dos mencionaram o emprego de estratégias
estudos que as apresentaram, o número de educativas (ALMEIDA; SOARES, 2010; JARDIM ET AL.,
participantes por encontro variou de 5 a 25; 2007; PEREIRA ET AL., 2007; ROTOLI ET AL., 2012; SOARES;
o número de encontros por grupo, de 5 a 24; FERRAZ, 2007),como círculo, dinâmica, festa
e a frequência dos encontros, entre semanal comemorativa, oficina, painel, folder, carti-
e mensal. Os profissionais coordenadores lha, atividade de alongamento, jogo e vídeo.
foram, na sua maioria, enfermeiros (LUCCHESE Aponta-se que poucos estudos as descreve-
ET AL., 2013; ROTOLI ET AL., 2012; SOARES; FERRAZ), segui- ram, sendo que dos cinco estudos, quatro
dos por psicólogos (COLOSIO ET AL., 2007; DUTRA; eram do tipo estudo de caso/relato de ex-
CORRÊA, 2015), equipes multiprofissionais (in- periência, porém essa descrição foi feita de
cluindo enfermeiros, médicos, psicólogos forma generalizada. Uma exceção a isso foi o
e agentes comunitários de saúde) (FAVORETO; estudo de Rotoli et al. (2012), que apresentou
CABRAL, 2009; PEREIRA ET AL., 2007) e profissionais de as particularidades dos encontros, os temas
saúde mental (JORGE ET AL., 2012), com ou sem a e as estratégias educativas detalhadamente.
presença de profissional observador. Em relação à avaliação dos grupos, de
Para a concretização dos objetivos dos acordo com a intencionalidade, a observação
grupos, os profissionais da saúde e os parti- do profissional da saúde foi o método mais
cipantes discutiram temas específicos, sendo aplicado. A observação do processo grupal
que em cinco estudos esses foram definidos foi realizada em oito estudos (ALMEIDA; SOARES,
no decorrer dos encontros, de acordo com as 2010; CASSOL ET AL., 2012; DUTRA; CORRÊA, 2015; FIGUEROA;
necessidades dos participantes (DUTRA; CORRÊA, GUERRA; GALLEGOS, 2010; LUCCHESE ET AL., 2013; PEREIRA
2015; FAVORETO; CABRAL, 2009; FIGUEROA; GUERRA; ET AL., 2007; ROTOLI ET AL., 2012; SOARES; FERRAZ, 2007) e
GALLEGOS, 2010; JARDIM ET AL., 2007; PEREIRA ET AL., a observação individual (mãe-filha) em um
2007); um deles, com o uso de tema gerador. (JARDIM ET AL., 2007). Entrevista com os parti-
Em três estudos, a definição dos temas foi cipantes pós-grupo foi realizada em três
anterior ao início do grupo, com o acordo estudos (ALMEIDA; SOARES, 2010; CASSOL ET AL., 2012;
entre todos (ALMEIDA; SOARES, 2010; ROTOLI ET AL., FAVORETO; CABRAL, 2009); aplicação de questio-
2012; SOARES; FERRAZ, 2007). E em um, os temas nário pré e pós-grupo, em dois (COLOSIO ET AL.,
foram recomendados pelo programa ao qual 2007; LUCCHESE ET AL., 2013); e grupo focal, em um
o grupo pertencia, Programa Nacional de (JORGE ET AL., 2012). Salienta-se que os estudos de

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promoção da saúde empregaram a observação; saúde adquirem a possibilidade de reproduzir


e os de prevenção e de tratamento, os outros a intervenção ou de respaldar seus grupos, di-
métodos ou a associação entre eles. Para apoiar ferentemente do que acontece com os outros
a avaliação do grupo, no sentido de registrar o estudos aqui analisados.
acontecimento e analisar a intervenção, obser- A proeminência do cuidado de usuários
vou-se que três estudos utilizaram a elaboração portadores de doenças mentais, particu-
de narrativa, seja individual ou grupal. Quando larmente de usuários de álcool e outras
individual, o ponto de partida foi a entrevista drogas, dentro de serviços especializados é
(FAVORETO; CABRAL, 2009); e quando grupal, foi a decorrência de a teoria ter sido elaborada por
observação (LUCCHESE ET AL., 2013) ou o grupo focal um psiquiatra e psicanalista, que a aplicou em
(JORGE ET AL., 2012). grupos de pacientes de hospitais psiquiátri-
Apesar de pouco presentes, averiguaram- cos. Por outro lado, como o GO é flexível para
-se indicadores quantitativos e qualitativos grupos que possuem vínculo e objetivo comum
de avaliação. O primeiro, por meio da ava- (PICHON-RIVIÈRE, 2009), percebe-se a ampliação de
liação de grau de dependência, de atitude e seu uso em relação à população e ao contexto,
de conhecimento, provida pela aplicação de sendo que atualmente há um incentivo a este
questionário pré e pós-grupo (COLOSIO ET AL., uso dentro dos serviços de saúde de atenção
2007; LUCCHESE ET AL., 2013). E o segundo, por meio básica (BRASIL, 2014A, 2014B), o que tem contribuído
de vetores de avaliação do GO aplicados a para a ampliação aqui constatada.
partir da observação do processo grupal O panorama do planejamento de GO eviden-
(LUCCHESE ET AL., 2013; SOARES; FERRAZ, 2007). Foi pos- cia que o autor criador da teoria é usado como
sível perceber que, quando o foco é o indi- referencial teórico, mas também mostra a pre-
víduo, a avaliação tende a ser realizada por sença de outros autores mais contemporâneos,
abordagens quantitativas, e quando o foco é talvez pelo fato de estes proverem uma leitura
o processo grupal, o uso de abordagens qua- mais criativa e apresentarem a teoria direcio-
litativas é necessário. nada para públicos específicos, como se vê no
caso dos portadores de doenças crônicas. A
configuração de grupos homogêneos é defen-
Discussão dida, por exemplo, pelos autores Mello Filho
(2007) e Osório (1986), que referem que a condição
A teoria do GO, quando introduzida no comum entre os participantes provoca identi-
Brasil, na década de 1970, foi majoritaria- ficação, união, suporte social e afirmação da
mente instituída em três estados: Bahia, individualidade, o que resulta em melhorias na
São Paulo e Rio Grande do Sul. O destaque saúde. Pichon-Rivière (2009) também argumen-
do último estado, no presente estudo, pode ta esta vantagem em grupos homogêneos, mas,
ser consequência da existência de institutos age da mesma forma em relação a grupos hete-
de pesquisas sobre o autor Enrique Pichon- rogêneos, aludindo que a diferença é enrique-
Rivière, até os dias atuais, diferentemente do cedora para os participantes, pois eles podem
que ocorre com os dois primeiros estados. ser com os outros sem terem que ser como os
Verificou-se a relevância dos estudos do outros para serem aceitos.
tipo estudo de caso/relato de experiência, que Chamam a atenção os grupos denominados
consistem em pesquisas profundas e exausti- ‘grupo operativo de ensino-aprendizagem’ e
vas de um ou poucos objetos, de maneira que ‘grupo operativo de reflexão’. Zimerman (2000)
permitam seu amplo e detalhado conheci- justifica tal classificação pela importância da
mento (GIL, 2007). Pode-se dizer que, com esses presença de reflexão dentro dos grupos, que
estudos, mesmo que descritos de forma gene- possuem o propósito da informação e da forma-
ralizada, pesquisadores e/ou profissionais da ção. Por outro lado, percebe-se que a reflexão e

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Planejamento de grupos operativos no cuidado de usuários de serviços de saúde: integrando experiências 957

a aprendizagem são intrínsecas ao GO (PICHON- tratar doenças (FAVORETO; CABRAL, 2009; JORGE ET AL.,
RIVIÈRE, 2009), não necessitando de ênfase. 2012), como as doenças crônicas ou a depen-
Observou-se que os estudos que referenciaram dência de álcool e outras drogas, e de prevenir
Gayotto (2003) foram os únicos que utilizaram os riscos, como o tabagismo.
vetores de avaliação do GO, talvez pelo fato de a Vale ressaltar, ainda, que a Educação
autora apresentar a teoria de maneira ampliada Alimentar e Nutricional (EAN), na tentativa de
para contexto e população, diferentemente dos se prevenir e controlar os problemas alimen-
outros três autores, que enfatizaram o aspecto tares e nutricionais contemporâneos, tem sido
terapêutico da intervenção. renomada como estratégia fundamental para a
Sugere-se que o uso dos novos referenciais promoção da alimentação adequada e saudável
teóricos pode gerar mudanças positivas ou ne- e, portanto, da saúde (BRASIL, 2012). Ademais, a
gativas na intervenção, a depender do objetivo EAN vem se destacando nas políticas públicas
do grupo. Porém, constatou-se que a teoria de de saúde (BRASIL, 2012, 2014A, 2014B) e nas pesqui-
Pichon-Rivière (2009) é favorável quando o sas que visam à promoção da saúde (BOTELHO
grupo tem por intenção a transformação de co- ET AL., 2016; ESTEVES; BENTO, 2015). Como exemplo
nhecimentos, relações e identidades, tornando disto, cita-se o estudo de Esteves e Bento (2015),
o autor um referencial teórico primordial no que usou o GO para promover a alimentação
planejamento de grupos que buscam o cuidado materno infantil de um grupo de gestantes, em
integral, principalmente a promoção da saúde uma UBS, e notou aumento da segurança das
dos participantes. participantes em suas escolhas alimentares,
Constatou-se, nos estudos analisados, que o demostrando o êxito do GO nas questões que
GO pode ser utilizado na prevenção de riscos envolvem a EAN. O estudo citado não foi iden-
e doenças e no tratamento de cuidados especí- tificado na base de dados aqui utilizada, mas
ficos, em particular, nas doenças crônicas, que reforça os dados encontrados.
requerem mudanças de hábitos de vida e de Em relação às regras de organização dos
cuidados contínuos. Logo, o GO é uma teoria grupos, foi observada a existência de distintas
que instiga mudanças, autocuidado e melhor possiblidades, sendo que essas dependerão do
convivência com a doença (ALMEIDA; SOARES, 2010; objetivo do grupo. No entanto, compreende-se
FAVORETO; CABRAL, 2009). Entretanto, destacou- que grupos pequenos, de 5 a 12 participantes,
-se, nos estudos, o uso do GO na promoção são os privilegiados com o uso da teoria, pois
da saúde associada à educação em saúde e à favorecem a reflexão e a criatividade (AFONSO,
educação alimentar e nutricional, visto que, na 2010). Realça-se a presença dos enfermeiros
área da saúde, essa associação é atual, apesar como coordenadores da ação, o que pode ser
de o GO ter sido elaborado na década de 1940. resultado da vivência deles como participantes
Recentemente, Oliveira et al. (2016), em um de GO na formação acadêmica, conforme veri-
grupo de promoção da saúde de cuidadores de ficado por Correa, Melo e Souza e Saeki (2005),
crianças deficientes, em uma UBS, confirma- Moura e Caliri (2013) e Oliveira e Ciampone
ram que a teoria é favorável para a educação (2008), sendo a vivência um disparador de in-
em saúde, em virtude de estimular o processo teresse em reproduzi-la nos serviços de saúde.
de aprendizagem. Esta vivência pode ser inspiradora para a for-
A promoção da saúde tem, entre seus ob- mação de outros profissionais, visto que a coor-
jetivos, o estímulo da autonomia em saúde, denação de GO também é atribuída a equipes
transversalizada nas experiências cotidianas, multiprofissionais. Outra possibilidade é que
singulares e subjetivas, que são potencializadas a divulgação do conhecimento no âmbito
no conviver e no aprender com o outro. Assim, da análise das práticas no campo da saúde
o GO é declarado como uma teoria promotora mental ainda ocorra, preferencialmente, por
da saúde, mesmo quando se tem a intenção de meio de livros e de contatos pessoais, como

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grupos de estudos e cursos de difusão, ou desenvolvimento de GO, ao contrário do que


seja, não aconteça na base de dados adotada acontece nos grupos educativos encontrados
ou por meio de ensaios teóricos, excluídos nos serviços de saúde, nos quais profissio-
neste estudo. nais preocupam-se mais com as estratégias
Na definição dos temas a serem discuti- educativas do que com a teoria grupal, per-
dos nos grupos, verificam-se três possibili- fazendo, muitas vezes, uma participação li-
dades: definição a partir das necessidades, mitada dos usuários (BOTELHO ET AL., 2016).
incluindo o uso de tema gerador; cronogra- Na avaliação dos grupos, a observação dos
ma definido anteriormente, em relação ao profissionais como método de avaliação da
início do grupo; e definição externa. Todavia, intervenção foi o mais empregado. A obser-
independentemente do caminho tomado, vação é uma análise do coordenador ou do
considera-se a inclusão das necessidades observador, a partir das ações dos participan-
dos participantes um fator primordial no tes, fundamentada nos referenciais teóricos
GO. Desta forma, mesmo na existência de do avaliador. Já a entrevista ou a aplicação de
um cronograma definido externamente ao questionário ou o grupo focal são métodos de
serviço de saúde, é o profissional que levará análise dos participantes sobre a vivência no
tal inclusão no momento da ação, uma vez grupo. Todos são propícios para a avaliação
que a demanda das necessidades de saúde, de um GO, mas adquirem maior magnitude
dependente da percepção e da interpreta- quando realizados em conjunto, pois expres-
ção de todos os envolvidos, não segue uma sam o olhar do profissional e a vivência do
lógica linear (AFONSO, 2010). Distingue-se o participante. Além disto, a relação entre, por
uso de tema gerador, conceito operacional exemplo, observação e entrevista permite
da educação dialógica elaborada por Paulo analisar não somente o processo grupal,
Freire, que é um tema escolhido democrati- mas também o acompanhamento individu-
camente entre todos e é condutor da refle- al, uma vez que, segundo Pichon-Rivière
xão (DUTRA; CORRÊA, 2015). Indica-se uma fusão (2009), dentro de um grupo, os participantes
positiva entre o GO e a educação dialógica, possuem um duplo investimento: buscam o
posto que haja entre eles uma reciprocidade reconhecimento pela igualdade grupal e o
e uma complementaridade do aprender e do prestígio como indivíduo.
ensinar (AFONSO; VIEIRA-SILVA; ABADE, 2009). Notou-se uma lógica entre os métodos
A ‘alimentação’ foi tema recorrente nos e indicadores utilizados e os objetivos dos
estudos, porém apareceu como um obstáculo grupos: os que tinham a intencionalidade
para as mudanças de hábitos. Dado que tra- de prevenir riscos e doenças foram avalia-
balhar a alimentação envolve dimensões no dos por indicadores individuais de atitudes
campo da cognição, da percepção, do afeto, e de conhecimentos, enquanto os de trata-
das relações e das habilidades pessoais (BOOG, mento utilizaram narrativas – individuais
2013), relacionar a EAN e o GO dentro de um ou grupais – para avaliar a ressignificação
grupo específico de alimentação e nutrição do cuidado. Entretanto, o fato de poucos
pode ser propício para superar tal obstáculo. estudos utilizarem indicadores de avalia-
Os temas, em alguns dos estudos, foram ção permite afirmar que há uma fragilidade
tratados com o emprego de estratégias edu- na avaliação dos GO dentro dos serviços de
cativas, as quais são técnicas que favorecem saúde. Isto é consequência, possivelmente,
a sensibilização, a expressão e a comuni- da incorporação de indicadores quantita-
cação, consideradas táticas eficientes de tivos na prática dos profissionais da saúde,
aprendizagem (AFONSO, 2010). Contudo, poucos os quais são insuficientes para delinear a
estudos as descrevem, ou por elas não serem avaliação do processo de aprendizagem
necessárias ou por não serem valorizadas no dos GO. Em alternativa, essa avaliação tem

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Planejamento de grupos operativos no cuidado de usuários de serviços de saúde: integrando experiências 959

sido retratada por pesquisas de aborda- que não se limitam aos serviços e profissio-
gem qualitativa, nas quais profissionais e, nais da saúde, o que dificulta planejar suas
principalmente, usuários expressam seus ações. Nesta lógica, sugere-se aos profis-
sentimentos, pensamentos e opiniões, que sionais, coordenadores de GO promotores
podem fomentar o planejamento dos GO, da saúde, que planejem seus grupos com
substancializando os indicadores qualita- base nas necessidades de saúde, a partir de
tivos. Assinala-se que esses indicadores, no um diagnóstico de saúde dos participantes
que se refere aos indivíduos, podem ser re- ou do território de atuação, reforçado pela
presentados pelos níveis de empoderamento discussão com outros profissionais e pelos
e de autonomia em saúde, que envolvem, de conhecimentos e experiências prévios,
acordo com Bravo et al. (2016), conhecimen- avaliando-os constantemente por meio dos
to, atitude, habilidade, autopercepção, auto- vetores de avaliação do GO e dos níveis de
cuidado, decisão compartilhada, qualidade empoderamento e autonomia em saúde.
de vida, bem-estar/satisfação com a vida etc. Por fim, espera-se que este estudo possa
ser um estímulo, juntamente com a imple-
mentação da Política Nacional da Promoção
Conclusões da Saúde, ao desenvolvimento e à publicação
de outros estudos para a consolidação da
A revisão possibilitou a construção de um pa- teoria do GO no âmbito das políticas públi-
norama de planejamento de GO, que poderá cas atuais de saúde, com ênfase na promoção
auxiliar os profissionais da saúde na tomada da saúde.
de decisões quanto ao planejamento de seus
grupos. A escolha do uso da teoria pelo pro-
fissional ou pelo serviço requer a adoção de Colaboradores
referenciais teóricos. Nesse sentido, apurou-
-se o uso de referenciais mais contemporâne- VINCHA, K. R. R. contribui na concepção
os do que os de Pichon-Rivière, o que poderá da pesquisa, na análise e interpretação dos
viabilizar uma flexibilização do uso do GO. dados e na redação do manuscrito. SANTOS,
Em contrapartida, o uso desses referenciais A. de F. contribuiu na coleta de dados, na
também pode distanciar a intervenção da análise dos dados e na redação do manuscri-
essência da teoria, dado que apenas dois to. CERVATO-MANCUSO, A. M. contribuiu
estudos utilizaram seus vetores de avaliação. na concepção da pesquisa, na análise e inter-
A transformação do conhecimento é frutífera, pretação dos dados e na aprovação da versão
mas compreende-se que a combinação entre final do manuscrito.
o originário e a variação é essencial para o
desenvolvimento de grupos que almejam a
construção do vínculo, do protagonismo e da Agradecimentos
autonomia em saúde dos participantes.
Os elementos do planejamento dos GO À Coordenação de Aperfeiçoamento de
foram identificados nos estudos analisados, Pessoal de Nível Superior (Capes) pela con-
e foi nos grupos de prevenção e de tratamen- cessão de bolsa de doutorado à autora Vincha,
to que eles apresentaram melhor estrutura, K. R. R. E ao Programa Unificado de Bolsas
pois se trata de uma atenção consolidada na de Estudo para Estudantes de Graduação
área da saúde. A promoção da saúde vem ga- (PUB) da Universidade de São Paulo pela
nhando destaque mais recentemente, além concessão de bolsa à autora Santos, A. F. s
de envolver uma multiplicidade de fatores

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960 VINCHA, K. R. R.; SANTOS, A. F.; CERVATO-MANCUSO, A. M.

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