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A Comuna de Paris, 1871: rememorando uma luta.

Ms. Francisco Ramon de Matos Maciel

O historiador John Merriman (2015) descreve que no dia 18 de março de 1871,


“parisienses que moravam em montmartre despertaram ao som de tropas francesas tentando se
apoderar dos canhões da Guarda Nacional. As tropas estavam, sob ordens, de Adolphe Thiers,
conservador que era o chefe de um governo provisório recentemente instalado em Versalhes,
antes residência dos Bourbon, monarcas do Antigo Regime”. Thiers, temendo a mobilização de
parisienses irados e radicais, queria desarmar Paris e sua Guarda Nacional. Os postos da Guarda
eram preenchidos, em sua maior parte, por trabalhadores que queriam uma república forte e
estavam enfurecidos com a capitulação do governo provisório na desastrosa guerra contra a
Prússia, que começara em julho anterior e causara a queda do Segundo Império. Apesar dos
esforços do exército francês, os homens e as mulheres de Montmartre, Belleville e Buttes-
Chaumont impediram corajosamente que as tropas tomassem os canhões. Ao verem a chegada a
Montmartre de cerca de 4 mil soldados, que pararam para esperar os cavalos necessários para
conduzir as armas morro abaixo, mulheres soaram o alarme. Trabalhadores que moravam na
colina com vista para a capital francesa impediram que as tropas fortemente armadas amarrassem
os canhões aos cavalos e, mantendo a tradição dos embates revolucionários, iniciaram a
construção de barricadas. Os soldados começaram a fraternizar com o povo de Montmartre. Os 6
mil soldados enviados a Belleville, La Villette e Ménilmontant não se saíram melhor. Os
parisienses manteriam seus canhões. Frustrado, Thiers retirou suas forças de Paris para
Versalhes, onde planejou reagrupá-las e, mais adiante, retomar a cidade. Milhares de parisienses
ricos se juntaram a ele naquele momento. Em Paris, enquanto isso, militantes de esquerda
proclamaram a “Comuna”, um governo autônomo e progressista que trouxesse liberdade para os
parisienses, entre os quais muitos acreditavam ser “donos de suas próprias vidas” pela primeira
vez. Famílias de bairros proletários passeavam pelos beaux quartiers da capital, imaginando uma
sociedade mais justa, e se preparavam para tomar medidas a fim de tornar isso realidade. A
Comuna progressista deles duraria meras dez semanas antes de ser aniquilada durante a última e
sangrenta semana de maio. (2015, p. 8)

A história dos trabalhadores e, sobretudo de seus movimentos revolucionários está


submetida em escala mundial a uma “conspiração do silêncio” (BARSOTTI, 2002) pela
chamada história oficial, ou, ainda mais, por uma prosa contrainsurgente que tenta obscurecer as
experiências de luta, organização e resistência dos sujeitos subalternos em episódios de
insurreições e revoltos populares (GUHA, 2002). Esses aspectos ainda pairam nos dias de hoje
sobre as classes trabalhadoras pela grande mídia e literatura conservadora, mas, especialmente,
sobre sua memória e tradições de luta. Assim, não foi diferente com a chamada “Comuna de
Paris” de 1871, e é sobre ela que escrevemos essas linhas.

Iniciada a partir da derrota da França pela Prússia na guerra franco-prussiana (1870-1871),


da qual a última saiu vitoriosa e impôs uma série de obrigações aos franceses, como cessão de
parte de seu território, indenizações e ocupação militar a cidades, a Comuna de Paris tinha esses
antecedentes dramáticos. Nesse contexto o gabinete conservador nacional governa à revelia das
necessidades da população citadina, ocasionando revoltas populares em março de 1871. Sua
tentativa de desmilitarizar a Guarda Nacional, já que o exército regular estava dissolvido, pelo
ministro Thiers, foi malogrado, pois seus integrantes e o povo armado resistiram ás ordens do
ministro, chegando a fazer uma ofensiva ao Hotel de Ville, sede do governo provisório. As
classes dirigentes e burguesas fugiram para Versalhes.

A Comuna de Paris era influenciada pelas diversas correntes socialistas do período


(anarquistas, comunistas...) que se organizaram, principalmente, através da Associação
Internacional de Operários em 1864. Essa entidade realizava congressos por toda Europa, onde
trabalhadores discutiam questões sociais, políticas e econômicas do capitalismo, como também
os caminhos para uma revolução social internacional. Logo, com a fuga do governo provisório
foi instaurado pelos trabalhadores um governo proletário, através de uma série de eleições
democráticas, com ampla participação popular. Suas primeiras ações foram à abolição do
trabalho noturno, a redução da jornada de trabalho, reforma escolar com ensino laico e
obrigatório, a concessão de pensão a viúvas e órfãos, e a substituição dos antigos ministérios por
comissões eletivas, entre algumas delas estavam do trabalho, indústria, comércio, educação,
justiça, serviços públicos e militares. O trabalho das comissões era coordenado por uma
Comissão Executiva, que incluía todos os presidentes das comissões existentes. Assim foi
desmembrado o antigo aparato estatal, expulsando os burocratas e funcionários de altos cargos,
além da demolição dos monumentos do militarismo do Estado-nação francês.

A experiência da Comuna de Paris veio ao fim no dia 28 de Maio, após uma semana
sangrenta de guerra civil. O restante das tropas do governo provisório do ministro Thiers, e com
apoio militar da Prússia, saíram de Versalhes para reconquistar a cidade governada pelos
trabalhadores insurgentes. Um grande massacre aconteceu durante e após o cerco a Paris,
deixando um saldo de 15 a 20 mil mortos, entre as camadas populares e proletárias, além da
perseguição, prisão e deportação dos membros dirigentes da comuna para as colônias francesas,
destino reservado a anarquista e professora Louise Michel (1830-1905) na Nova Caledônia.

Para o filósofo Karl Marx, contemporâneo ao evento, a Comuna era;

[...] essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta da classe


produtora contra a apropriadora, a forma política, finalmente descoberta, com a
qual se realiza a emancipação econômica do trabalho. (...) uma alavanca para
extirpar os fundamentos econômicos sobre os quais assenta a existência de
classes e, por conseguinte, a dominação de classe. (...) Ela aspirava à
expropriação dos expropriadores. Queria fazer da propriedade individual uma
realidade transformando os meios de produção, terra e capital, agora
principalmente meios de escravizar e explorar o trabalho, em meros
instrumentos de trabalho livre e associado. (MARX, 1983, p. 243-244).

O anarquista Piotr Kropotkin teceu comentário analítico sobre o episódio;

Assim, a Comuna de Paris, fruto de um período de transição, nascida sob a mira


das armas prussianas, estava destinada a desaparecer. Mas pelo seu caráter
eminentemente popular, ela deu origem a uma nova série de revoluções e pelas
ideias que lançou tornou-se a precursora de todas as revoluções sociais. O povo
aprendeu a lição e, quando surgirem mais uma vez na França os protestos das
comunas revoltadas, ele já não esperara que o governo tomasse atitudes
revolucionárias. Quando tiverem se libertado dos parasitas que os devoram,
tomarão posse de toda a riqueza social disponível de acordo com os princípios
do comunismo anarquista. E quando tiverem abolido totalmente a propriedade
privada, o governo e o estado, irão se organizar livremente, de acordo com as
necessidades indicadas pela própria vida. Rompendo as correntes, derrubando
seus ídolos, a humanidade marchará em direção a um futuro melhor,
desconhecendo senhores e escravos e venerando ainda os mártires que pagaram
com seu sofrimento e o seu sangue naquelas primeiras tentativas de
emancipação que iluminaram a nossa marcha pela conquista da liberdade.
(WOODCOCK, 1997, SP.)

Os sujeitos históricos da Comuna de Paris eram homens, mulheres, velhos e crianças, todos
trabalhadores e trabalhadoras, explorados e marginalizados pelo Estado francês e burguesia mundial. Suas
memórias de luta e organização são importantes para uma escrita da história a contrapelo, redentora e
messiânica como nos faz lembrar o filósofo Walter Benjamin em suas “Teses Sobre o Conceito de
História”, principalmente nos dias atuais, do qual a sociedade brasileira vem sofrendo os ataques aos
direitos trabalhistas, à seguridade social e previdenciária, ao meio ambiente, e o projeto de desmonte da
educação básica e superior pelo atual governo Bolsonaro. Isso revela que historicamente, a figura do
Estado, aliado aos interesses dos sujeitos do capital, também vêm reprimindo, exterminando e cerceando
trabalhadores do campo e da cidade, além de outros grupos subalternos das sociedades. Assim, se o
episódio da Comuna de Paris nos ensinou os primeiros ensaios de um governo de trabalhadores na busca
pela igualdade, democracia e liberdade, também revelou um Estado-Nação disposto a massacrar seus
cidadãos, em nome de uma ordem política e econômica burguesa. Mesmo assim, diante de nosso cenário
aterrador, não esquecemo-nos de rememorar os mártires trabalhadores da comuna e do mundo que
tombaram: Do luto a luta!

Referências

BARSOTTI, Paulo. “Estamos aqui pela humanidade!” Viva a Comuna de Paris de 1871!
Revista Brasil Revolucionário, n. 29, 2001.

GUHA. La Prosa de la contrainsurgencia. Acesso <


http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/Mexico/ceaa-colmex/20100410113135/guha.pdf>.

MARX, Karl. “A guerra civil na França”. In: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Obras
escolhidas. Tomo II. Lisboa: Avante, 1983a, p. 207-266.

MERRIMAN, John. A comuna de Paris [recurso eletrônico] : 1871: origens e massacre / John
Merriman ; tradução Bruno Casotti. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2015.

WOODCOCK, George (org.) Grandes Escritos Anarquistas. Porto Alegre, LP&M, 1977.

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